sexta-feira, 2 de maio de 2014

O POVO DE DEUS


Cardeal Orani João Tempesta 
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O segundo livro do Código de Direito Canônico é o que mais diretamente retrata o Concílio Vaticano II. O próprio título “Povo de Deus” é extraído da Constituição Dogmática “Lumen Gentium”. Muitos cânones praticamente nada mais são que a transcrição do documento conciliar. A grande novidade, além de todo o conteúdo, é a inversão da elaboração do tema. Na base estão os fiéis e, entre estes, os leigos ocupam numericamente, o primeiro lugar.

Todo este livro pode ser sintetizado à luz de um duplo principio fundamental: 1) a comunhão eclesial e 2) a exigência da funcionalidade pastoral. Na luz destes princípios podemos entender os 542 cânones que compõem este livro.
A primeira noção que se encontra na base do Povo de Deus é a dos “fiéis católicos”. O Código a exprime com a palavra “christifideles”: fiéis cristãos. Vêm apresentados como aqueles que, incorporados em Cristo mediante o Batismo, são constituídos povo de Deus e, em consequência, participantes da missão sacerdotal, profética e régia de Cristo; assim são chamados a exercer a missão que Deus confiou à sua Igreja neste mundo. Alguém está em plena comunhão com a Igreja Católica quando está integrado em Cristo por mistério do tríplice vínculo: da profissão da mesma fé, dos sacramentos e do governo eclesiástico (cânones 204-205).
O Batismo, recebido na Igreja Católica, está na base desta nova situação. Contudo, o Código alarga também para os catecúmenos a mesma noção de fiéis. Eles já estão, de um modo particular, ligados à Igreja. Por isso já são por ela tidos como filhos, assumidos debaixo de seu amor e de seus cuidados (Cânon 206).
Antes de entrar na determinação das normas particulares, o Código distingue os fiéis em ministros sacros, que chama de clérigos, e os demais, que são os leigos. Outra realidade que compreende tanto clérigos como leigos é constituída pelos que professam os conselhos evangélicos. Trata-se de uma situação especial na Igreja, que não pertence à estrutura hierárquica, mas à sua vida e santidade: são as pessoas consagradas (cânon 207).
Os cânones 208 a 223 estabelecem a Carta dos direitos e deveres dos fiéis. Inicialmente se previa, ao lado do Código, a publicação de uma “Lei fundamental da Igreja”. Seria uma espécie de “Constituição da Igreja”, à semelhança das Constituições que caracterizam os Estados modernos, chamados, por isso, constitucionais. Fez-se, neste sentido, amplo estudo e se elaborou um anteprojeto, que foi enviado, para consulta, a todos os Bispos do mundo. Após muitas discussões, em 1980 ficou decidido que não se publicaria nenhuma “Lei Fundamental”, mas que as suas normas seriam incorporadas ao Código de Direito Canônico. Esta é a origem dos dezesseis cânones sobre os direitos e deveres fundamentais comuns a todos os fiéis.
A noção básica é a igualdade. Resulta do próprio desenvolvimento da noção do Povo de Deus e da condição batismal, tão característico do Concílio Vaticano II. O cânon 208 traduz a doutrina conciliar, estabelecendo que entre todos os fiéis existe uma verdadeira igualdade na dignidade e no agir; e que, por meio desta igualdade, todos cooperam na edificação do Corpo de Cristo, de acordo com a condição e as tarefas de cada um. Proclama-se, em outras palavras, uma igual dignidade, liberdade e responsabilidade de todos os fiéis.
Daí fluem os demais “direitos fundamentais do fiel”. Trata-se, pois, de um dos elementos mais importantes do atual Direito Canônico. Quanto aos demais direitos e deveres, que derivam deste princípio fundamental, basta enunciá-los brevemente: Comunhão com os Pastores da Igreja, de modo especial com a Igreja particular ou diocese; levar uma vida santa e colaborar no crescimento e santificação da Igreja; colaborar na ação missionária da Igreja; relacionar-se com os próprios pastores: obedecer-lhes e poder manifestar-lhes as próprias necessidades, desejos e pensamentos acerca da situação da Igreja; participar nos bens espirituais da Igreja, tais como a Palavra de Deus e os sacramentos; participar no culto, de acordo com o próprio rito e viver uma espiritualidade própria; fundar livremente associações com fins caritativos ou religiosos; exercer pessoalmente algum apostolado; dedicar-se à pesquisa teológica e publicar os resultados da mesma; escolher livremente o próprio estado de vida; reivindicar os próprios direitos e ser julgado de acordo com as normas do processo, e não ser punido a não ser de acordo com a lei; colaborar na manutenção material da Igreja, promover a Justiça e socorrer os pobres; ter presente, no exercício dos próprios direitos, o bem comum da Igreja e os direitos dos outros.
A posição do leigo na Igreja (cc. 224-231 ler)
O Código de Direito Canônico de 1983 procura dar um especial realce à posição dos leigos na Igreja.
Depois de declarar a igualdade fundamental de todos os fiéis, o Código passa à consideração dos leigos. Além da importância estatístico-sociológica – são indubitavelmente a larguíssima maioria da Igreja – os leigos se caracterizam também por uma condição constitucional própria, que está na origem de sua função específica na Igreja. Situando o tema do leigo na base do Povo de Deus, o Código visa a evitar uma perspectiva prevalentemente clerical, bem como precaver-se de uma interpretação exclusivamente secularizada. Serve-se, ao invés, de uma matriz de totalidade, dentro dos dados de que a Igreja dispõe acerca do caráter laical (cânon 224).
A teologia, já antes do Concílio Vaticano II, começou a dar os primeiros passos para definir a função do leigo na Igreja dentro da visão das realidades terrestres. O Concílio debateu ulteriormente este delicado tema e concentrou na índole secular a sua característica. É a partir dali que se há de elaborar sua espiritualidade própria e sua missão específica.
No cânon 225, o Código de Direito Canônico começa fundando o ministério do leigo nos sacramentos do batismo e da crisma. Deriva dali o dever de apostolado: anunciar Cristo onde ele tem acesso. Reconhece, porém, como encargo peculiar, o dever de permear toda a realidade temporal com o espírito do Evangelho e de dar testemunho de Cristo no exercício dos deveres seculares.
Aqui está o nó da questão: a construção do mundo segundo o espírito de Cristo. O leigo não só tem o direito de empenhar-se pelo bem comum temporal, mas tem também o respectivo dever. É seu ministério específico de cristão. Para isso, a Igreja lhe reconhece e reivindica para ele a devida liberdade, uma liberdade que compete a todo o cidadão, mas uma liberdade que deve ser utilizada pelo leigo para imbuir todas as suas ações com o espírito evangélico.
O bem comum temporal se promove através da política, da cultura, do trabalho profissional do comércio, da indústria, da agricultura etc. Este é, pois, o campo específico do leigo e é neste campo que ele tem direito de fazer livremente suas opções pessoais e associativas, sem, contudo, querer propor sua própria linha como sendo a posição da própria Igreja (Cânon 227).
A ausência da atuação do ministério específico dos leigos dá a impressão de uma Igreja desligada da realidade. Esta propõe os grandes princípios e faz pronunciamentos que depois não é capaz de atuar. Mas este, mormente no plano político, é o terreno específico dos leigos e não do clero. Onde o clero se pronuncia sobre assuntos que competem aos leigos, estes se omitem, escorando-se passivamente nos ombros clericais. Portanto, quando se pergunta sobre o que a Igreja faz no campo do bem comum, é preciso passar a questão aos leigos.
O ministério dos leigos radica-se no tríplice ministério de Cristo: 1) participam do caráter profético, como testemunhas de Cristo, 2) na união de sua vida cristã com a vida temporal participam da realeza de Cristo, empenhados como estão na extensão de seu reino 3) participam da santificação das coisas e das estruturas humanas, na integração da cultura na vida religiosa; participam do sacerdócio de Cristo, pela obrigação de levar uma vida santa, de consagrar o mundo pelo trabalho e, às vezes, em circunstâncias especiais, de substituir ministros sagrados. Numa palavra, o ministério dos leigos abrange a ordem espiritual, pelo dever de salvação e santificação do mundo; e a ordem temporal, para a sua restauração constante em Cristo.
Podemos notar que nesta perspectiva é ao leigo que cabe fazer a “consagração do mundo” através de sua cotidiana inserção na realidade, e de seu trabalho animado pelo espírito cristão.
O Código realça o “ministério conjugal” dos leigos. É na família que eles estão investidos de um encargo peculiar para a edificação do Povo de Deus, o ministério que é desenvolvido na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de João Paulo II (Cânon 226).
Além desses ministérios, que lhe são característicos, o leigo pode ser chamado a exercer algum cargo eclesiástico, exercer a função de conselheiro ou obter alguns ministérios instituídos, como o de leitor e de acólito (cânones 228 e 230).
É óbvio que, com ministérios tão amplos e de tanta responsabilidade, na ordem espiritual e na temporal e junto aos órgãos da Igreja, o leigo tem o direito e o dever de adquirir aquela formação religiosa necessária para o exercício dos mesmos. Abrem-se, pois, as portas de todos os cursos da ciência religiosa e teológica, inclusive de nível universitário, podendo igualmente receber o mandato de ensinar as ciências sagradas. O Código insiste na responsabilidade dos leigos em adquirir uma apta formação (cânones 229 e 231).
Além dos oito cânones específicos acerca dos leigos, dizem-lhes respeito todos os cânones dos fiéis em geral e grande parte dos que veem nos demais livros do Código. O trabalho dos leigos não se exaure, pois, com estas determinações específicas. Elas são apenas as grandes linhas e a indicação específica do lugar que lhes compete a Igreja.
Exceto quando trata dos ministérios instituídos, todas as normas do Código valem, sem alguma distinção, tanto para os homens como para as mulheres. O princípio já se estabelecera ao elaborar a Carta dos Direitos e deveres dos fiéis, com a igualdade de todos. Não há discriminação de espécie alguma, com execução do sacramento da Ordem reservado aos homens, segundo toda a Tradição e o próprio gesto de Cristo. Deve-se, inclusive, destacar o papel da mulher, ao longo da História, como evangelizadora não só da própria família, mas também dos povos.
Nestes dias em que debruçamos sobre este assunto em nossa Assembleia Geral dos Bispos, sempre é bom recordar aquilo que já está estabelecido e encontrar caminhos pastorais para que se exerça ainda melhor a vocação do cristão leigo na Igreja e no mundo.
via CNBB

SACRALIDADE DO TRABALHO












Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
A celebração do Dia 1º de Maio, pela consideração reverente ao trabalhador, é oportunidade para reavivar a compreensão do trabalho como necessidade e dom de Deus. A concepção cristã do trabalho tem suas raízes numa articulada e clarividente compreensão antropológica e teológica. Deus, criador onipotente, Pai de todos, cria o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e lhes confia o cultivo da terra. O Pai sublinha a primazia da humanidade em relação às outras criaturas, que devem merecer cuidados e respeitos. Cultivar a terra, como ponto especial na narrativa da missão do homem e da mulher no conjunto da obra da criação, significa não abandoná-la. E exercer domínio sobre ela significa comprometimento com o seu cuidado e com sua guarda, como um pastor deve cuidar de seu rebanho. Esse horizonte inspirador é determinante nos rumos escolhidos para a dinâmica da economia com seus desdobramentos incisivos sobre a questão social e política.

Nesse sentido, no atual momento político e econômico, os construtores da sociedade pluralista devem superar a lógica perversa do lucro. Precisam buscar uma efetiva sustentabilidade, necessária para se alcançar o equilíbrio social. Imprescindível é deixar-se iluminar por um horizonte com princípios antropológicos inequívocos. Isto é um enorme desafio para quem se orienta por parâmetros de funcionamentos mecanicistas e, consequentemente, não consegue compreender o que se pode chamar de subjetividade do trabalho. O conjunto de recursos, atividades, instrumentos e técnicas que permite a cada pessoa o exercício adequado de suas tarefas não pode sobrepor-se ou minar a dimensão subjetiva do trabalho humano. O respeito a esta perspectiva é a consideração insubstituível de cada ser humano e de sua vocação pessoal. Assim, alcança-se a compreensão de que todo trabalho é imagem e extensão da ação criadora de Deus, de que o homem e a mulher, em suas muitas tarefas, participam da obra da criação.
A Doutrina Social da Igreja enfatiza, por isso mesmo, que o trabalho não somente procede da pessoa, mas também é ordenado a ela e a tem por finalidade. Assim sendo, todo ofício, mesmo aquele mais humilde, é caminho para que cada pessoa tenha preservada a sua dignidade. Consequentemente, o trabalho se torna uma necessidade e ao mesmo tempo um dever de todos. Trabalhar refere-se ao respeito moral ao próximo e, por desdobramento, é reverência à própria família e à sociedade. Abominável, pois, é o enquadramento do trabalhador na condição de escravo. Trata-se de um verdadeiro atentado contra a dignidade, ferida na cultura solidária e civilizada, com consequências nefastas também para escravocratas.
A sacralidade do trabalho implica compreendê-lo, na escala de valoração e prioridade, como superior a todo e qualquer fator de produção, inclusive o capital. No horizonte largo e diversificado sobre a sua abordagem como importante chave social, é prioritário considerá-lo como direito. A necessidade do trabalho não se refere apenas ao sustento familiar e pessoal, prioridade incontestável, mas, particularmente, ao bem que promove a cada pessoa. Trata-se de direito fundamental. Por isso, a Igreja considera o desemprego uma perversa calamidade social. E sublinha que uma sociedade orientada para o bem comum tem sua capacidade avaliada, também, com base nas perspectivas de trabalho que ela pode oferecer.
Com a oferta do trabalho, caminha a exigência de se promover a capacitação, já que a manutenção do emprego depende cada vez mais da competência profissional. O Estado, então, é chamado à responsabilidade, por seu dever de promover políticas ativas de trabalho, particularmente pela regulação do funcionamento econômico, convocando as corporações a cumprirem seu papel social. As empresas tem o dever de garantir a oferta adequada de emprego. O tratamento desse desafio não pode prescindir de uma correta visão antropológica e cristã, pelo respeito à sacralidade do trabalho.

O SALMO DA RESSURREIÇÃO

Dom José Maria Maimone

                                                                              Bispo emérito de Umuarama (PR)


Após a celebração da Páscoa, comecei a pensar qual o salmo que poderia expressar melhor a alegria e a vitória da Ressurreição, e presença do Cristo vivo entre nós. Ao rezar este salmo 18-A veio-me a inspiração e a sensação de encontrar o que desejava. Por isso quero participar esta experiência com meus irmãos e irmãs.

No início o salmo nos fala do poder infinito de Deus, criador do universo e de tudo o que nele existe. Mas, os versículos finais, 6 e 7, nos apresentam a luz do mundo, “o sol nascente que nos veio visitar” (Cf. Lc 1, 78-79).
Jesus, luz do mundo, nos tira das trevas da noite e nos dá o sol que ilumina o dia. “No firmamento Deus fez a morada do sol, como um esposo que sai do quarto nupcial, ou como um campeão que alegre vence uma corrida, ele aparece” (v. 6).
O sol simboliza Jesus. Esta figura é maravilhosa! O corpo glorioso de Jesus, o Filho de Deus feito homem, sobe glorioso ao céu. Jesus é o primogênito dentre os mortos e ressuscitados, e na linguagem comum do povo o céu e o firmamento têm o mesmo sentido.
A nossa natureza humana, assumida pelo Filho de Deus está no céu. Jesus ressuscitado, na felicidade da sua glória é comparado ao feliz esposo após a noite de núpcias, ou com um campeão no auge da alegria de uma vitória. Ele é o atleta por excelência que venceu a morte e o pecado.
O último versículo, lembrando o sistema solar, traz uma comparação ainda mais linda: “Como o sol reflete na terra seus raios luminosos, enviando vida e calor a toda criação”, Jesus redivivo distribui sobre toda a humanidade a vida nova da graça, e aquece nosso coração e ilumina nossa inteligência.
Glória e louvor a Cristo Ressuscitado que permanecerá com sua Igreja até o fim dos tempos. Aleluia!
VIA CNBB

Leigos participam de sessão da Assembleia dos Bispos


Leigos, membros do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, assistiram ontem à tarde, junto aos bispos da 52 Assembleia Geral da CNBB, a exposição da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, responsável pela produção do texto sobre os “Os cristãos leigos”. A Comissão é presidida pelo bispo de Caçador (SC), dom Severino Clasen, e tem como membros o bispo de Macapá (AP), dom Pedro Conti; o bispo de Tocantinópolis (TO), dom Giovani Pereira de Melo; e o bispo auxiliar de São Paulo, dom Milton Kenan Júnior. Também participam leigos especialistas em Teologia.
De acordo com dom Severino Clasen, a Comissão está realizando “um sonho” ao trazer novamente para a Assembleia a temática dos cristãos leigos e leigas, já abordada em outras ocasiões. “Queremos ter uma Igreja mais forte, com a participação de todos os batizados”, disse.
Antes da apresentação do texto, dois leigos foram convidados para falar sobre as expectativas com relação ao debate do tema pelos bispos brasileiros. “Ao trazer o tema do laicato para esta Assembleia, não sabem os senhores a alegria que gerou em nós. É como se fosse o sentimento de um filho que se convive no dia a dia, anos e anos, mas que quando tem um olhar especial dos pais para esse filho, a sensação é de que estamos sendo percebidos, estamos sendo vistos. É como a primeira chuva que cai no sertão. Este é o sentimento que gera em nós leigos que estamos atuando neste momento. É saber que quando a chuva cai precisamos correr e jogar as sementes para que possam germinar”, explicou a leiga Sônia Gomes, da arquidiocese de Montes Claros (MG). Sônia também apontou as inúmeras atividades realizadas pelos leigos na região, como a Escola de Fé e Política. “Dessa escola, conseguimos que saíssem candidatos. Foram seis vereadores, dois vice-prefeitos e dois prefeitos. Nós continuamos a acompanhar o trabalho desses políticos”, disse.

Para o professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, César Gusman, a CNBB, ao falar sobre os leigos, “reconhece aqueles e aquelas que estão em maior número no corpo eclesial e que não querem mais ser tratados de maneira passiva, como aqueles que sempre ouvem e recebem, ou como o povo conquistado”. Segundo o professor, "os leigos querem  ser verdadeiros discípulos missionários, querem ser sujeitos eclesiais”. César pela abordagem da temática na Assembleia. “Nos alegra e nos encoraja saber que os bispos do Brasil, em comunhão com toda a Igreja, estão decididos em seguir este caminho”, afirmou.
Após a apresentação da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, os bispos formaram grupos de estudos para discutir o texto. 
via CNBB

Choro pelos cristãos crucificados

Choro pelos cristãos crucificados, ainda há quem mate em nome de Deus – o Papa em Santa Marta






 No centro da homilia desta sexta-feira na Missa celebrada pelo Santo Padre na Capela da Casa de Santa Marta, esteve o Evangelho da multiplicação dos pães e dos peixes e a leitura dos Atos dos Apóstolos em que os discípulos de Jesus são flagelados por ordem do Sinédrio.
O Papa Francisco desenvolveu a sua meditação utilizando três imagens figurativas, três ícones para descrever a Palavra de Deus neste dia: o primeiro é o amor de Jesus pela gente, a sua atenção aos problemas, o seu acompanhamento manso e humilde; um segundo ícone em que o Santo Padre coloca em relevo os ciúmes das autoridades religiosas da época que não toleravam Jesus e que se deixavam dominar pela inveja; num terceiro ícone o Papa coloca a alegria do testemunho dos que foram flagelados. 
Neste particular o Santo Padre revelou ter chorado quando viu nos orgãos de comunicação social a notícia de cristãos que foram crucificados em certos países não cristãos. Também hoje – sublinhou o Papa – há tanta gente que em nome de Deus mata e persegue. E hoje em dia, ainda vemos tantos que, como os apóstolos se sentem felizes por serem ultrajados em nome de Jesus, colocando assim em ação o terceiro ícone da alegria do testemunho.
No final da homilia, o Papa Francisco recordou as três imagens retiradas da Palavra de Deus nesta sexta-feira para a reflexão pessoal de cada um de nós:

“Primeiro ícone: Jesus com a gente, o amor, o caminho que Ele nos ensinou, no qual devemos andar. Segundo ícone: a hipocrisia destes dirigentes religiosos, que tinham aprisionado o povo com todos estes mandamentos, com esta legalidade fria, dura e que pagaram para esconderem a verdade. Terceiro ícone: a alegria dos mártires cristãos, a alegria de tantos irmãos e irmãs nossos que na história sentiram esta alegria, este agrado de serem julgados dignos de suportarem ultrajes em nome de Jesus. E hoje há tantos! Pensai que em alguns países, apenas por levar o Evangelho, vais para a prisão. Tu não podes levar uma cruz: fazem-te pagar uma multa. Mas o coração está feliz. Os três ícones: olhemo-los, hoje. É parte da nossa história da salvação.” (RS)


DIGNIDADE E BEM COMUM

No Dia do Trabalhador, o Papa Francisco pede que nunca se esqueça a dignidade humana e o bem comum



Fiquem certos da minha solidariedade e oração; não se desencorajem. Abraço-vos fraternalmente e a todos os responsáveis peço que realizem o máximo esforço de criatividade e generosidade para reacender a esperança nos corações desses nossos irmãos e de todos os desempregados. Por favor, abram os olhos e não fiquem de braços cruzados!” :
Palavras do Papa Francisco na Audiência Geral de 24 de abril, em resposta a um vídeo que recebeu de operários de uma siderúrgica que está para fechar. Tratou-se de mais um apelo do Papa em prol dos trabalhadores neste primeiro ano de pontificado. A preocupação do Pontífice reflecte toda a tradição da Igreja Católica neste campo, e que a Doutrina Social expressa com as seguintes palavras: "O trabalho representa uma dimensão fundamental da existência humana como participação não só na obra da criação, como também da redenção."
E ontem mesmo, 1 de Maio, Dia do Trabalhador, na mensagem tweet, Papa Francisco insistia, no seu estilo conciso: "Peço a quantos têm responsabilidades políticas que não se esqueçam de duas coisas: a dignidade humana e o bem comum."

quinta-feira, 1 de maio de 2014

SÃO JOSÉ OPERÁRIO


São José Operário
Século I
Padroeiro dos trabalhadores

01 de Maio - São José Operário


Basta traçar um paralelo entre a vida cheia de sacrifícios de são José, que trabalhou a vida toda para ver Nosso Senhor Jesus Cristo dar a vida pela humanidade, e a luta dos trabalhadores do mundo todo, pleiteando respeito a seus direitos mínimos, para entender os motivos que levaram o papa Pio XII a instituir a festa de "São José Trabalhador", em 1955, na mesma data em que se comemora o dia do trabalho em quase todo o planeta.


Foi no dia 1o de maio de 1886, em Chicago, maior parque industrial dos Estados Unidos na época, que os operários de uma fábrica se revoltaram com a situação desumana a que eram submetidos e pelo total desrespeito à pessoa que os patrões demonstravam. Eram trezentos e quarenta em greve e a polícia, a serviço dos poderosos, massacrou-os sem piedade. Mais de cinqüenta ficaram gravemente feridos e seis deles foram assassinados num confronto desigual. Em homenagem a eles é que se consagrou este dia.



São José é o modelo ideal do operário. Sustentou sua família durante toda a vida com o trabalho de suas próprias mãos, cumpriu sempre seus deveres para com a comunidade, ensinou ao Filho de Deus a profissão de carpinteiro e, dessa maneira suada e laboriosa, permitiu que as profecias se cumprissem e seu povo fosse salvo, assim como toda a humanidade.



Proclamando são José protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar que está ao lado deles, os mais oprimidos, dando-lhes como patrono o mais exemplar dos seres humanos, aquele que aceitou ser o pai adotivo de Deus feito homem, mesmo sabendo o que poderia acontecer à sua família. José lutou pelos direitos da vida do ser humano e, agora, coloca-se ombro a ombro na luta pelos direitos humanos dos trabalhadores do mundo, por meio dos membros da Igreja que aumentam as fileiras dos que defendem os operários e seu direito a uma vida digna.



Muito acertada mais esta celebração ao homem "justo" do Evangelho, que tradicional e particularmente também é festejado no dia 19 de março, onde sua história pessoal é relatada.

MUSICA SACRA


"Música sacra, 50 anos depois do Concílio": os requisitos específicos da música litúrgica e a beleza como elemento não só decorativo, mas constitutivo
Por Sergio Mora
CIDADE DO VATICANO, 30 de Abril de 2014 (Zenit.org) - 
A Congregação para o Culto Divino e o Pontifício Conselho para a Cultura enviaram um questionário às conferências episcopais, institutos religiosos maiores e faculdades de teologia para conhecer melhor, em perspectiva pastoral, o panorama da música sacra nas diversas comunidades.
Com o título "Música sacra, 50 anos depois do Concílio", o amplo questionário faz perguntas que vão desde os encarregados da música sacra até os instrumentos utilizados, passando pelos conhecimentos dos músicos sobre a liturgia e pelo uso ou não do canto gregoriano na liturgia dominical. Sobre a enculturação com a música local, o texto recorda o equilíbrio necessário e indica a importância da sacralidade e a correspondência com o rito que se celebra. Criticam-se as músicas ambientais de tipo “new age”, que criam estados artificiosos, e destaca-se que a música litúrgica deve “predispor a alma ao acolhimento do silêncio sacro”, porque ela “guia o indivíduo e a comunidade inteira à plena intimidade com Cristo, na qual a oração se torna adoração e canto de louvor”.
“O objetivo primário de todo caminho sério de formação deverá ser o de mostrar aos colaboradores da Igreja a missão universal a que ela está consagrada”, para, assim, anunciar o Cristo “através da humilde oferta do próprio talento”. Recorda-se também que “o patrimônio universal da música sacra guarda, para o bem de toda a Igreja, uma riquíssima herança teológica, litúrgica e pastoral”.
“O espírito de fidelidade, que conhece também a sadia audácia, deverá oferecer à Igreja contemporânea um repertório musical vivo e atual, que mostre os múltiplos percursos da arte cristã empreendidos ao longo de dois milênios e que, ao mesmo tempo, se mostre capaz de uma autêntica renovação”.
O questionário indaga como se vive o encontro com uma tradição musical proveniente de outras culturas, em tempos de globalização e de novos movimentos eclesiais, e pergunta se há um equilíbrio são entre enculturação, acolhimento e amadurecimento da própria identidade cultural.
“Eventuais concertos deverão respeitar as claras indicações do magistério”, além de “manifestarem um caráter espiritual que os reoriente, inequivocamente, ao contexto sacro”.
O documento reconhece que “a evolução das linguagens musicais impôs à sensibilidade das novas gerações, particularmente sob os impulsos da globalização, novos critérios para a escuta, participação e interpretação”, embora tais linguagens tenham, conforme indicado por Bento XVI, “a finalidade de transmitir a Mensagem da Salvação em lugares e modos concordes com o novo areópago cultural”.
O documento convida a “uma redescoberta global do sentido da música e a um aprofundamento no valor da música sacra no contexto da liturgia”, recordando, também, que “a participação plena da assembleia litúrgica requer dois animadores de toda a assembleia para se chegar à mais alta expressão de solenidade”.
“O canto e a música adquirem, no contexto ritual, um valor sacramental, já que ambos oferecem uma válida contribuição na comunicação da realidade divina cuja presença se realiza pela ação litúrgica". Por isso, “a música litúrgica deve responder aos seus requisitos específicos: a plena adesão aos textos que apresenta, a consonância com o tempo e com o momento litúrgico a que está destinada e a adequada correspondência aos gestos que o rito propõe”.










quarta-feira, 30 de abril de 2014

O Espírito nos torna partícipes do desígnio de Deus




Francisco na audiência geral: o Espírito nos torna partícipes do desígnio de Deus
Grande multidão participa da catequese na Praça São Pedro sobre os dons do Espírito Santo
Por Rocio Lancho García

CIDADE DO VATICANO, 30 de Abril de 2014 (Zenit.org) - O tempo de primavera adornou uma Praça de São Pedro repleta de peregrinos que, às 9h45 desta manhã, no horário de Roma, receberam com entusiasmo o papamóvel com Francisco a bordo.
Durante os 20 minutos em que percorreu a praça, o papa saudou os fiéis que gritavam e o aplaudiam. Muitas bandeiras da Polônia ainda denunciavam, entre a multidão, os peregrinos que foram a Roma para a canonização do compatriota São João Paulo II.
A eles, no fim da catequese, Francisco disse, em polonês, que "o testemunho da fé" de João Paulo II, bem como "de esperança, caridade e confiança na Divina Misericórdia, permanece particularmente vivo em nós durante estes dias. Que a intercessão dele sustente a vida e as boas intenções de cada um de vocês, as preocupações e as alegrias dos seus entes queridos, o desenvolvimento e o futuro sereno da Igreja na Polônia e o de toda a sua Pátria".
Como já é habitual, as crianças são as absolutas protagonistas do percurso de Francisco a bordo do papamóvel. Os pequenos são levados até o papa e recebem uma bênção especial.
Quanto ao tema do dia, o Santo Padre continuou hoje a série de catequeses sobre os dons do Espírito Santo. Desta vez, ele abordou o dom da inteligência e, no resumo, declarou:
"Queridos irmãos e irmãs, nesta catequese falei do dom do entendimento (intelecto). Não se trata de uma qualidade intelectual natural, mas de uma graça que o Espírito Santo infunde em nós e que nos torna capazes de perscrutar o pensamento de Deus e o seu plano de salvação. São Paulo nos diz que, por meio do Espírito Santo, Deus nos revela o que preparou para quem o ama. O que significa isto? Não é que se tenha conhecimento pleno de Deus, mas que o Espírito vai nos introduzindo na sua intimidade, nos tornando partícipes do desígnio de amor com que Ele tece a nossa história. Em perfeita união com a virtude da fé, o entendimento nos permite compreender cada vez mais as palavras e ações do Senhor e perceber todas as coisas como um dom do seu amor para a nossa salvação. Como fez Jesus aos discípulos de Emaús, o Espírito Santo, com este dom, abre os nossos olhos, incapazes, por si sós, de reconhecê-lo, dando, deste modo, uma nova luz de esperança para a nossa existência".
Francisco saudou os peregrinos latino-americanos dizendo: “Convido todos vocês a deixarem que o Espírito Santo rasgue o véu de escuridão que cega a nossa mente e o nosso coração, para fazer de nós verdadeiros crentes, capazes de apreciar tudo o que nosso Senhor nos revela em sua Palavra e de nos alegrar com o seu desígnio de amor em nossa vida. Que Jesus abençoe vocês e Nossa Senhora cuide de cada um. Muito obrigado".
Como sempre, o Santo Padre voltou seu pensamento especial, depois das saudações em vários idiomas, "aos jovens, enfermos e recém-casados". O pontífice recordou a festa litúrgica de ontem, de Santa Catarina de Sena, padroeira da Itália e da Europa, e pediu: "Queridos jovens, aprendam [do exemplo dela] a viver com a consciência reta de quem não cede aos compromissos humanos". Aos doentes, pediu que se "inspirem no exemplo dela de fortaleza nas horas de maior sofrimento". Aos recém-casados, Francisco exortou a imitar "a força da fé de quem se confia a Deus".

Futilidades na vida


Dom Paulo Mendes Peixoto 
Arcebispo de Uberaba (MG)
As pessoas são envolvidas por tantas necessidades fúteis que as dificultam a uma vida feliz. Nas palavras do Papa Francisco, “quem tem menos em que se apegar, tem mais facilidade para amar”. Entendemos isto quando nos damos conta de que o amor verdadeiro depende de desapego, de sair da gente mesmo, indo ao encontro do outro, que deve ser um “outro eu”.
 As futilidades revelam a primazia da cultura consumista. Tudo passa, mas não podemos perder o sentido de viver. Nisto está a essência da Páscoa, da passagem da vida temporal para a eternidade e ao encontro definitivo com Deus. Todos nós vamos morrer para o que é passageiro, deixando para trás tudo, menos aquilo que conquistamos com a prática da honestidade e do amor sem limites.
Estou falando destas coisas por causa da sensibilidade do momento. Cristo ressuscitou a partir de um caminho de morte, a partir daquilo que vai acontecer com todos os mortais. A morte, aos nossos olhos, é sempre uma perda e todos nós fazemos essa experiência. Mas é triste morrer com as mãos vazias, sem a prática da caridade e do respeito pela vida do irmão.
Em Uberaba, sentimos a morte de Dom Aloísio Roque Oppermann, acontecida neste dia 27 de abril, nosso bispo emérito. Louvamos a Deus pelo bem que ele fez à Igreja; no mesmo dia senti a morte de Dom José Moreira Bastos Neto, 61 anos de idade, bispo de Três Lagoas e meu ex-colega de Seminário e de ordenação sacerdotal. Também prestou relevantes trabalhos para o bem do povo.
Falar de futilidade na vida é acenar para um mundo mágico, sensacionalista e insaciável. É o mundo da tecnologia, do avanço da modernidade, mas que não consegue trazer plena felicidade. No dizer popular, “faz a cabeça das pessoas” e ficamos vulneráveis, perdendo a riqueza trazida pelo Cristo ressuscitado.
O Papa Francisco fica admirado com uma ciência e tecnologia avançadas, mas que não conseguem diminuir a pobreza e a marginalização no mundo. Sinal de que o progresso não está a favor da amplitude da vida.

Mudar pela alegria


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Alegrai-vos! Este é o impactante convite de Jesus Ressuscitado a cada discípulo. Mais que isso, é uma intimação que o Mestre faz ao coração dos homens, que foi feito para hospedar a alegria. A humanidade procura a felicidade e sem ela não dá conta de viver. Mas, tantas vezes, busca ser feliz de modo desarvorado, comprometendo situações sociais e humanas. É importante compreender que a verdadeira felicidade é o bem supremo. Por isso, o Mestre Ressuscitado, vencedor da morte, faz o convite para que todos se alegrem diante dos dons e bênçãos, tesouro inesgotável do amor de Deus.
O tempo pascal é, pois, na força pedagógica da liturgia da Igreja Católica, a oportunidade rica de exercitar o coração na procura do bem supremo, a verdadeira felicidade. Essa tarefa deve ser vivida fixando o olhar no Ressuscitado, a vitória perfeita e completa na história da humanidade, vida que venceu a morte, amor que venceu o ódio. Há de se ter presente o que Aristóteles sublinhava quanto às diferentes concepções de felicidade, identificada com a conquista de bens diversos, desde virtudes, sabedoria prática, sabedoria filosófica, acompanhada ou não por prazer, ou como posse de bens matérias. Nem mesmo ele, admirável nas raízes da sabedoria filosófica, conseguiu articular uma conclusão que pudesse fazer entender o significado da felicidade.
Santo Agostinho a definia como a posse do verdadeiro absoluto, isto é, a posse de Deus, fonte de todas as outras felicidades. Nesta mesma direção, São Boaventura a compreende como ponto final do itinerário que leva a alma ao Criador. Essas reflexões concluem que a felicidade não é, então, a conquista de patrimônios nem de poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Assim, ela não é um simples estado de alma, mas algo recebido de fora, que se relaciona a um bem maior e verdadeiro.
Essas ponderações apontam para o enorme desafio existencial vivido atualmente, quando a experiência da felicidade é confundida com a conquista de bens materiais e prazeres efêmeros. Um entendimento inadequado que sustenta a dinâmica perversa de se buscar conquistas a qualquer preço. Deste modo, cresce o egoísmo, a mesquinhez, e a humanidade se distancia da vivência da solidariedade, o que acaba com qualquer perspectiva de alegria verdadeira. A solidariedade é o que pode curar os males da convivência humana, tão deteriorada em um tempo de tantas possibilidades. A razão crucial dessa crise, indiscutivelmente, está na identificação da felicidade como acúmulo, sem limites, de bens materiais e poder, o que resulta na efemeridade dos bens da criação e no distanciamento do Criador.
São vários os entendimentos a respeito da felicidade no pensamento filosófico. Em comum, a anuência de que ela não é um bem em si mesmo, já que para ser felicidade é indispensável o conhecimento dos bens que são a sua fonte. Assim, pode-se afirmar que sua conquista, com simplicidade, é a experiência do encontro com Deus, o bem supremo, tão próximo de nós. Sua experiência existencial tornou-se possível pela encarnação do Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus que morre e ressuscita para resgate e salvação da humanidade. Ele é o Salvador do mundo, o bem supremo, próximo de cada pessoa.
A conquista da felicidade é o encontro pessoal com Deus, que produz a efusão da alegria. Trata-se de uma felicidade que não é passageira ou periódica e tem a força que possibilita grandes transformações. É exemplar para a história da humanidade a força da alegria produzindo a radical mudança dos discípulos de Jesus. A presença amorosa de Cristo Ressuscitado faz dos discípulos ignorantes homens sábios. O medo cede lugar à audácia amorosa. Essa alegria experimentada é fruto da ação do Espírito de Deus, que tira Jesus da morte, vencida definitivamente pela vida. Uma felicidade autêntica e duradoura, fonte da força dos discípulos de Jesus, origem da sabedoria necessária para transformar tudo o que precisa ser mudado, pela alegria.

Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia


Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia / Arqrio
A 51ª Assembleia Geral Ordinária da CNBB, em Aparecida, tem como tema central a questão paroquial. Depois de examinarmos a realidade religiosa em nosso país, na análise da conjuntura, nós nos debruçamos sobre a necessidade de encontrar meios de fazer com que as paróquias sejam comunidade de comunidades, ou rede de comunidades, como dizemos. O documento ainda não sairá nesta Assembleia, pois o texto, depois de corrigido, discutido e aprovado, irá para reflexão nas comunidades, para, depois, em outra Assembleia, ser aprovado como documento de nossa Conferência Episcopal.
A paróquia é a casa, por excelência, de todos os fiéis, onde eles devem encontrar o Cristo Ressuscitado. A paróquia é lugar de acolhida, de orientação, de ajuda espiritual e material. É a partir da paróquia que se podem descobrir os espaços não evangelizados de um território ou as situações que demandam atenção especial: escolas, hospitais, prisões, invasões, migrantes, favelas. A paróquia deve atingir o meio cultural e proporcionar ação pastoral que alcance o mundo da cultura e das artes.
A partir das paróquias pode acontecer uma renovada evangelização. Assim sendo, nossas paróquias devem ser acolhedoras, missionárias, fomentando redes de comunidades vivas e atuantes, que sejam irradiadoras de vida e, portanto, evangelizadoras. Acolhimento e missão formando discípulos de Cristo Ressuscitado, que vivam na unidade.
Devemos apostar na presença da Igreja, em forma de pequenas comunidades, em todos os cantos e recantos do território paroquial, naquilo que se chama capilaridade. As pequenas comunidades bem orientadas e unidas na caminhada de Igreja podem ser um bom caminho de renovação da paróquia, porque possibilitam responder à vocação cristã que se realiza sempre em comum.
A renovação da paróquia é fundamental para a Igreja enfrentar os desafios pastorais, a missão, enfim, evangelizar, levar a boa-nova de Jesus Cristo a todas as pessoas, formando pequenos núcleos pastorais, como células vivas da grande mãe, chamada de Paróquia. As migrações arrancaram as pessoas de suas raízes e trouxeram-nas para as cidades. Hoje a nossa vida em geral é urbana.
Na paróquia temos três compromissos fundamentais, que provêm da essência da Igreja e do ministério sacerdotal. O primeiro é o serviço sacramental. Entre os sacramentos, o que se destaca, é claro, é a Eucaristia, que é centro e fonte de nossa vida cristã. Porém, temos dois sacramentos que merecem uma atenção especial devido às atuais circunstâncias. Um deles é o Sacramento do Batismo, a sua preparação e o compromisso de dar continuidade às recomendações batismais, e que já nos colocam também em contato com quantos não são muito crentes. Temos nesse trabalho a importante iniciação cristã. O compromisso de preparar o Batismo, de abrir as almas dos pais, dos parentes, dos padrinhos e das madrinhas à realidade do mesmo, já pode e deveria ser um compromisso missionário, que vai muito além dos confins das pessoas já "fiéis". Ao preparar o Batismo, procuramos fazer compreender que este Sacramento é inserção na família de Deus, que Deus vive, que Ele se preocupa por nós. Esse sacramento nos faz aprofundar toda a vida cristã.
Outra preocupação paroquial a ser considerada diz respeito ao Sacramento do Matrimônio: também ele se apresenta como uma grande ocasião missionária, porque hoje, graças a Deus, temos muitos que desejam se casar na Igreja, inclusive tantos que, mesmo batizados, não a frequentam muito. É uma ocasião para levar estes jovens a confrontar-se com a realidade que é o matrimônio cristão, o matrimônio sacramental. A preparação para o matrimônio é uma ocasião de grandíssima importância, de missionariedade, para anunciar de novo no Sacramento do Matrimônio, o Sacramento de Cristo. Aqui se insere toda a questão da vida e família.
O segundo compromisso fundamental da Paróquia é o anúncio da Palavra, com os dois elementos essenciais: a homilia e a catequese. Urge redescobrirmos que a homilia deve ser a "ponte" entre a Palavra de Deus, que é atual e deve chegar ao coração das pessoas. Devo dizer que a exegese histórico-crítica com frequência não é suficiente para nos ajudar na preparação da homilia. Observemos que o próprio Papa Francisco, na sua celebração cotidiana na Capela da Casa Santa Marta, onde está residindo, de maneira muito atual para a vida da Igreja e de todos os batizados, está atualizando a Palavra de Deus para vivermos a nossa vocação batismal. Ele assim também se expressou à comissão bíblica internacional nestes dias.
O terceiro compromisso fundamental da Paróquia é a questão social: a “charitas”, a “diakonia”. “Somos sempre responsáveis pelos que sofrem, pelos doentes, pelos marginalizados e pelos pobres”. Pelo retrato da Diocese, vejo que são numerosos os que têm necessidade da nossa diakonia e esta também é uma ocasião sempre missionária. Assim, tenho a impressão de que a ‘clássica’ pastoral paroquial se autotranscenda nos três setores e se torne pastoral missionária.
Por isso, não podemos nos descurar do respeito que devemos dar aos nossos agentes de pastoral. O pároco não tem como fazer tudo! É impossível! Hoje, quer nos Movimentos, quer nas Pastorais, nas Associações, nas novas Comunidades que existem, temos agentes que podem ser colaboradores na paróquia para a constituição de uma verdadeira rede de comunidades, para que a Paróquia atinja a todos os que não são tocados pela nossa pastoral clássica.
O trabalho paroquial será enriquecido com as ideias que o documento de nossa Assembleia Geral traz para ser aprofundado e colocado em prática. É um tema necessário e atual. Tenho certeza de que nos ajudará a dinamizarmos ainda mais nossa missão de discípulos de Jesus Cristo nestes tempos de tantas necessidades.

Dom Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
* Foto: CNBB 

João XXIII: “O Papa do Concílio”


São João XXIII / Arqrio
Angelo Giuseppe Roncalli, nascido em Sotto il Monte, em 1881, de família pobre e numerosa, teve, graças ao seu talento, a oportunidade de estudar. Concluiu seus estudos em Roma, com doutorado em teologia. Em 10 de agosto do mesmo ano de 1904, foi ordenado presbítero, em Roma. O Bispo de Bérgamo, sua diocese de incumbência de lecionar, no seminário diocesano, as disciplinas de história da Igreja, patrística e apologética. Na primeira Guerra Mundial serviu, primeiro como soldado do corpo de saúde, mais tarde como capelão militar.
Em 1921, foi convocado para trabalhar na Congregação de propagação da Fé, em Roma, lecionando simultaneamente, patrística no Seminário romano. Em 1925, Pio XII nomeou-o visitador apostólico na Bulgária, sendo, na oportunidade, ordenado Bispo. Após nove anos de atividade em Sofia, tornou-se delegado para a Grécia e a Turquia, primeiro em Istambul, desde 1937, e posteriormente em Atenas. Em 23 de dezembro de 1944, Pio XII nomeou-o núncio na França. O novo núncio conseguiu com suas atividades mitigar as tensões internas existentes na França.
Em 1951 foram confiadas a Roncalli simultaneamente, as atribuições de observador efetivo do papa junto à UNESCO, em Paris. Em 12 de janeiro de 1953, tornou-se arcebispo (patriarca) de Veneza e Cardeal. Assim como no exercício das funções anteriormente desempenhadas, também aqui considerava sua tarefa primordial colocar-se a serviço da cura de almas.
Sua eleição se deu no dia 28 de outubro de 1958, era ele de um modo geral desconhecido pelo mundo. Também “só” fora eleito para ser papa de transição. Isto se comprovou correto quanto à duração do seu pontificado (ele mesmo sabia que, tendo 77 anos de idade, não seria de se esperar um longo pontificado). João XXIII abriu para a Igreja novos e importantes caminhos em direção ao futuro.
João XXIII já no início do seu pontificado três coisas foram destacadas: A realização de um sínodo para a cidade de Roma (realizado entre os dias 24 e 31 de janeiro de 1960).  Também o novo Código de Direito Canônico. Do qual começou a ser elaborado em seu pontificado e foi concluído em 1983 e por fim a convocação do Concílio Vaticano II.
Quanto o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII surpreendeu o mundo com tal plano, ao propô-lo, em 25 de janeiro de 1959, na presença dos cardeais.  A convocação do Concílio Vaticano II, segundo João XXIII era que a Igreja deveria atualizar-se para bem evangelizar o mundo. Em 14 de junho de 1959, usou pela primeira vez a palavra “aggiornamento”, abertura da Igreja.
Na sessão de abertura do Vaticano II, em 11 de outubro, estavam presentes mais de 2.500 padres conciliares em Roma. Pela primeira vez na história, haviam acolhido o convite do papa também 18 igrejas não católicas, no sentido de enviarem observadores para o Concílio. O primeiro período de sessões durou até 8 de dezembro de 1962. A parte final desse primeiro período ficou marcada por tristeza, por ter o papa adoecido gravemente e veio falecer antes do segundo período de sessões.
João XXIII em Roma sempre se considerou um cura de almas. Por isso visitava as igrejas, presídios e hospitais. Estabelecia rapidamente bons contatos com as pessoas. Sua afabilidade e bondade irradiavam paz e alegria.
O interesse pastoral de João XXIII impregnava também suas alocuções aos peregrinos, bem como as manifestações do magistério eclesiástico, por ele publicadas: “Ad Petri Cathedram” foi sua primeira encíclica (29 de junho de 1959). Em comemoração ao primeiro centenário da morte do Santo Cura d’ Ars, escreveu a sua segunda encíclica, em que manifesta a sua preocupação pelos sacerdotes (1º de agosto de 1959). Em 26 de setembro de 1959, apareceu uma encíclica sobre a oração do rosário. A quarta encíclica ocupa-se da questão missionária (26 de novembro de 1959). Em 15 de maio de 1961 a encíclica social: “Mater et Magistra”. A sexta encíclica é com motivação na memória dos 1500 anos da morte do papa Leão Magno - consagrada à unidade da Igreja. Em 1º de junho de 1962, apareceu uma encíclica que teve por tema a penitência. A última encíclica foi “Pacem in terris de (11 de abril de 1963) sobre a paz entre todas as nações, em liberdade e justiça, teve grande repercussão.
O termo “aggiornamento”, ou seja, “abertura para o mundo”, não significava para João XXIII ruptura com o passado. Ele era completamente apegado à tradição. Disso dão prova suas instruções sobre a interpretação da Bíblia, sua insistência no uso do latim como língua apropriada aos estudos teológicos e a regulamentação dos padres operários franceses. Também a piedade e a profunda religiosidade do papa eram impregnadas pela tradição, como mostram o seu “Diário Espiritual” e o seu “Testamento Espiritual”.
Nessa atitude de religiosidade profunda passou o papa também os seus últimos meses de vida, ao saber da doença incurável de que sofria. Em princípios de 1963, agravou-se mais seu estado de saúde. Na segunda-feira de Pentecostes, em 3 de junho de 1963, morreu ele. João XXIII foi declarado Beato no dia 03 de setembro de 2000 pelo Papa João Paulo II. Neste domingo dia 27 de Abril, domingo da misericórdia, foi canonizado juntamente com o Beato João Paulo II.

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

Santa Catarina de Sena



Foi no seio da Igreja hierárquica que o Senhor depositou o seu mais precioso tesouro. Assim bradava a jovem Catarina de Sena, Doutora da Igreja
Por Fabiano Farias de Medeiros

HORIZONTE, 29 de Abril de 2014 (Zenit.org) -
 Catarina nasceu no dia 25 de março do ano 1347 Catarina na cidade de Siena na Itália. Foi a vigésima-quarta filha da família. Seus pais eram Giacomo di Benincasa e Lapa Piagenti, uma família burguesa e muito católica. Desde cedo elevava o pensamento para as coisas de Deus, mesmo sem poder estudar e de frágil estatura, seu oração almejava com coragem a vivência dos santos.
Ao completar sete anos de idade, fez o voto de castidade, mesmo diante do desejo de sua mãe que se casasse ela se manteve firme no propósito e ia alimentando sua alma de orações, jejuns e penitências. Aos quinze anos decidiu ingressar na Ordem Terceira de São Domingos onde permaneceu enclausurada por muitos anos, vindo a deixar esta condição somente no ano 1374 quando pôs-se a cuidar e acolher os pobres e enfermos, vítimas de uma tenebrosa peste que assolou a região. No ano seguinte na cidade de Pisa, Catarina recebe em seu corpo os estigmas de Jesus Cristo.
O Senhor confirma no coração de Catarina o impulso missionário e ela continua o forte trabalho junto aos mais necessitados e agora tendo de enfrentar o grande desafio de uma ruptura que surgia no coração da Igreja. Conhecido com o Cisma do Ocidente, este episódio de disputa política entre os membros do clero findou por chegar ao papado que foi assolado por grandes disputas, renúncias e divisões. Catarina soube do exílio do Papa em Avinhão e partiu em sua defesa escrevendo e ditando cartas, documentos e realizando diversas viagens que resultaram na segurança do retorno do Papa à Roma que ainda passaria por outro grande abalo semelhante o qual exigiu de Catarina nova e enérgica atuação. Findou por restabelecer a paz em 1377 e ver a sua amada Igreja e clero tomarem o caminho determinado por Deus.
Após estes acontecimentos, Catarina veio a falecer em Roma no dia 29 de abril de 1380. Antes de sua morte pronunciou: “Se morrer, sabeis que morro de paixão pela Igreja”. Foi sepultada na Igreja de Santa Maria da Minerva. Foi beatificada pelo Papa Pio II em 29 de Junho de 1461 e canonizada em 04 de Outubro de 1970 pelo Papa Paulo VI que a proclamou Doutora da Igreja. Em 2000 o Papa João Paulo II proclamou Santa Catarina de Sena co-padroeira da Europa.