sábado, 10 de maio de 2014

O Amor não é privilégio das mães, mas nelas se instalou de forma surpreendente

Reflexões de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 09 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 Jesus veio trazer a vida para todos, e a vida em abundância. As atividades pastorais da Igreja, assim como todas as ações realizadas com espírito de caridade, por quem quer que seja, poderão se espelhar sempre naquele que se ofereceu para a salvação da humanidade. Nenhum amor será maior e suscitará tamanho fruto para a vida dos homens e mulheres de todos os tempos.
Sua Ressurreição é a resposta à entrega total realizada em benefício da vida em plenitude, o que leva os cristãos a dedicarem anualmente um período significativo de sua vida ao aprofundamento do mistério pascal de Cristo, certos de que nunca se esgotará esta fonte, na qual todos podem se saciar continuamente.
A pregação dos Apóstolos de Jesus era muito direta e simples, pois anunciava que o mesmo Jesus que tinha sido morto havia ressuscitado, e ele é o Senhor e Salvador e um dia há de voltar. O anúncio foi suficiente para a conversão de uma multidão de pessoas, já no início da pregação do Evangelho. Depois da primeira pregação feita por Pedro, após a descida do Espírito Santo, ficaram compungidos os corações, suscitando a pergunta sobre os caminhos a serem percorridos a partir dali. A resposta é igualmente direta e provocadora: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38).
Os Atos dos Apóstolos contam os feitos e fatos das primeiras comunidades cristãs, nas quais resplandece, naqueles que acolhem o anúncio, um novo estilo de vida: comunhão na oração, perseverança na doutrina dos Apóstolos, que anunciavam a Palavra de Deus, partilha fraterna dos bens e a Fração do Pão, que foi o primeiro nome da celebração da Eucaristia. Nasceu a Comunidade viva, estendeu-se a grande rede da caridade, as pessoas se sentiram acolhidas e amadas. Na mesma fonte, continuam disponíveis as graças e as forças necessárias, para que a vida dada por Jesus a todos se multiplique e seja repartida no amor fraterno experimentado no cotidiano, até a volta do Senhor.
Desde os primeiros tempos, a doação de vida e o amor verdadeiro, testemunhado no dia a dia da humanidade, atraem e convocam as pessoas. Mais do que as palavras, vale o testemunho de vida. Multiplicam-se os exemplos de pessoas com grande criatividade no amor ao próximo, com o qual a vida em abundância (Cf. Jo 10,10) permanece a meta a ser alcançada. Sempre que a gratuidade do amor se faz visível, a partir da emoção e até chegar à profundidade do raciocínio dos mais sábios e inteligentes, ninguém resiste.
Basta pensar em dias significativos, como as comemorações das mães, dos pais, ou o dia dos professores, ou dos médicos e assim tantas outras celebrações que envolvem as famílias, a sociedade e a Igreja. Ao celebrar neste final de semana o dia das mães, esta imagem do amor gratuito e desinteressado, livre, forte e cheio de ternura, ocupa espaço na imaginação das pessoas e provoca gestos de carinho, presentes, flores e alegria. Vale meditar sobre este amor, conduzidos pelas mãos do Bom Pastor.
Que força é esta, capaz de dobrar os mais rígidos em seu temperamento? São João, em sua Primeira Carta, afirma de forma categórica: “Amemos-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é plenamente realizado” (1 Jo 4, 7-12).
O Amor não é privilégio das mães, mas nelas se instalou de forma surpreendente, justamente por ser tão semelhante ao amor de Deus. Parece-me possível encontrar a figura ímpar do Bom Pastor, Jesus, na festa que a Igreja celebra, na alma das mães que enaltecemos nas grandes figuras maternas que nos envolvem (Cf. Jo 10, 1-10).
O amor de mãe conduz os filhos e a família a escolherem os melhores caminhos. Mãe imprime rumo nas opções feitas pelos filhos gerados no seio da família. Mesmo se porventura se desviarem, será sempre possível voltar ao regaço acolhedor de um coração de mãe. As mães se cansam para levar a descansar esposo e filhos. Prados e campinas verdejantes, ou as águas repousantes que restauram, muitas vezes são sinalizadas pelas mães que velam pelos filhos pequenos ou grandes. E quem não sentiu restauradas as forças para a luta ao encontrar a solicitude de sua mãe?
A honra dos muitos nomes de tantas e generosas mães conduz por caminhos seguros, ainda que passem os filhos por vales tenebrosos pelos caminhos da vida. Quando o medo toma conta, a figura e o apelo à mãe se repetem mesmo nos filhos crescidos ou até envelhecidos. Ao por do sol da existência nesta terra, as pessoas acometidas por diminuição da lucidez, viram crianças, como costumamos dizer, e não é raro ouvir pessoas velhinhas que começam a chamar pela mãe, falecida há tanto tempo. Força e ternura, bastão e cajado, cabem bem nas mãos das mães.
E se queremos uma imagem bonita da força do amor que dá a vida, basta pensar em almoço de domingo, em que as mães preparam a mesa, perfumam com o óleo do carinho suas casas e fazem vir à festa da fartura, a abundância cantada pelo salmista.
Enfim, não faz mal algum pensar apenas na felicidade e no bem, desejado e edificado pelas mães, ao darem a vida pelos seus, no heroísmo cotidiano. E como queremos todos passar um dia da mesa da família para a Casa do Senhor, na qual habitaremos por toda a eternidade, as mães são aquelas que nos falam do Céu, que nos ensinam a rezar e nos abrem os horizontes do infinito (Cf. Sl 22).
A festa das mães acontece no segundo domingo de maio, mês dedicado àquela que foi escolhida para ser Mãe do Redentor, Mãe de Deus e Senhora nossa. A ela, nos vários e lindos títulos com os quais a homenageamos, Chegue ela a oração fervorosa, especialmente por nossas famílias, a fim de que sejam o lugar da doação recíproca da vida. Assim nos conduza o Cristo, Bom Pastor!

Brasil diz não retumbante à ideologia de gênero

Foi a primeira vez que a ideologia de gênero é barrada, em nível nacional, num país do mundo.
Por Prof. Hermes Rodrigues Nery
SãO PAULO, 09 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 Foi mais uma batalha bem sucedida em defesa da família no Congresso Nacional, em que diversos grupos atuaram no sentido de evitar a inclusão da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação.
Mesmo que muitos aspectos desta terrível ideologia antifamília já esteja disseminada nas escolas, o PT queria era constá-la no PNE, justamente para dar legalidade ao que já vendo sendo feito, de acordo com as diretrizes do Plano Nacional de Direitos Humanos, versão 3.
Mesmo assim, as feministas ficaram surpreendidas com a mobilização conservadora, e apesar da pressão que fizeram sobre os deputados da base governista, perderam nesta matéria. Foi a primeira vez que a ideologia de gênero é barrada, em nível nacional, num país do mundo.
O Brasil, mais uma vez, mostra aos ideólogos da cultura da morte, que aqui não está tão fácil como eles imaginaram, enfiar goela abaixo o pacote anárquico do feminismo radical, antivida, antifamília e anticristão. 
O fato é que houve conscientização e mobilização: tanto no Senado, quanto na Câmara, os deputados e senadores receberam informações e entenderam o que estava por trás dos eufemismos e retóricas, pois em nome da não-discriminação, o que se quer é garantir a ênfase no igualitarismo, para aí sim, discriminar os cristãos e todos aqueles que divergem do anarco-feminismo, Uma minoria que deseja impor à maioria, estilos de vida que atentam contra a dignidade da pessoa humana. Dignidade esta garantida pela Constituição Federal, e que por isso mesmo, de modo democrático, os grupos pró-família, procuraram assegurar. 
Aceitar a ideologia de gênero seria discriminar também as mulheres, no direito humano delas serem mães, pois tal ideologia - como afirma Francisco Javier Errázuris Ossa - "aprofunda tal discriminação, restringindo a missão da mulher na família e na sociedade e discriminando os filhos, os casais e a família do qual fazem parte".
Com a ideologia de gênero, a família é subestimada, diminuída, desvalorizada e desprotegida. E com isso, fica desamparada a pessoa humana, vulnerável à angústia, a violência e a solidão; pois estas são as conseqüências quando não se vive a família em sua estrutura natural, quando se distorce o sentido da família, buscando querer o mesmo significado (dando direitos iguais) a outras formas de família, que na verdade não são formas de família, mas contrárias à família, travestidas de simulacro, de falsa aparência, de escapismo e, portanto, de ilusão. 
Por isso, nos países desenvolvidos, em que o Estado se voltou contra a estrutura natural da família (fazendo apologia da idelogia de gênero), são mais perceptíveis as conseqüência dos danos sociais e as patologias decorrentes. O que se vê agora neste países é que cresce o número daqueles que querem revogar tais legislações, que deram legalidade a "estranhos morais" e abominações que aviltam o ser humano, em muitos aspectos. 
O Brasil, ao recusar a ideologia de gênero em seu Plano Nacional de Educação, deu mais um passo decisivo na afirmação da cultura da vida, para ser um país realmente desenvolvido, como nação pujante que é, mas como quem - gigante por natureza - quer se afirmar na vanguarda da cultura da vida. Por isso, a vitória pró-família no Congresso Nacional, inédita no mundo, foi altamente relevante.

O Prof. Hermes Rodrigues Nery é coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté, especialista em Bioética (pela PUC-RJ), membro da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família e da Associação Guadalupe.


sexta-feira, 9 de maio de 2014

ANJOS

Escrito por Dom Estevão Bettencourt   
Em nossos dias, os anjos estão muito em foco. Não somente a piedade cristã os reconhece, mas também o esoterismo e a literatura fantasiosa. Há, porém, aqueles que negam a existência dos anjos bons e maus, como se fossem figuras mitológicas. Que dizer a propósito?


A existência dos anjos



Afirma o Catecismo da Igreja Católica: "A existência dos seres espirituais, não-corpórea, que a Sagrada Escritura chama habitualmente anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição" (nº 328). Vejamos então o que nos diz a Escritura.



Nos livros mais antigos da Bíblia aparece uma figura um tanto misteriosa chamada em hebraico mal’ak Yahveh - mensageiro do Senhor; ver Gn 16,7-14; 18,2s; 21,17-19; 22,11 -14; 31,11-13; Ex 2,2-6... Trata-se de um mensageiro investido por Deus com determinada missão e plenos poderes, de modo que é o próprio Deus quem intervém por meio do seu emissário. Com o tempo, os israelitas tendiam a distanciar Deus dos homens, acentuando a transcendência do Eterno; isto os levou a desenvolver a noção de intermediários entre o Senhor Deus e os homens; assim foi tomando vulto a doutrina relativa aos anjos. Nos tempos mais remotos da história de Israel, o povo ameaçava cair no politeísmo; daí a sobriedade dos livros mais antigos sobre o assunto. Todavia no decorrer dos séculos, essa ameaça foi cedendo a uma noção, cada vez mais profunda, da transcendência de Deus, de modo que os escritores bíblicos e extrabíblicos (apócrifos) foram mais e mais falando de anjos; tenhamos em vista Tb 3,17; 12,15 (o anjo Rafael); Dn 10,13.20 (o anjo tutor de cada povo).



Aparece também no Antigo Testamento a noção do anjo mau, adversário dos homens. Em Sb 2,23s lê-se o seguinte: "Deus criou o homem imortal e o fez à sua imagem e semelhança. Mas, por inveja do diabo, entrou no mundo a morte; os que a ela pertencem, sofrem-na". Há aí uma alusão a Gn 3,1-5, onde a serpente aparece como imagem do diabo tentador. Este é um ser inteligente, astuto e mentiroso, e não uma força neutra instintiva do homem; todavia é sujeito a Deus, só age contra o homem por permissão do Senhor e o homem é capaz de resistir-lhe (ver o caso de Jó).



Nos escritos do Novo Testamento ainda é mais patente a presença dos anjos, que de certo modo fazem as vezes de cortesãos e arautos do reino de Deus, trazidos à Terra por Jesus Cristo. O Evangelho fala do "exército celeste" (Lc 2,13). Acompanham a mensagem da Boa Nova na família de João Batista, junto a Maria e José..., servem ao Cristo na sua natividade (Lc 2,13), após as tentações (Mc 1,13), na agonia (Lc 22,43), na ressurreição (Mt 28,2-6), na ascensão (At 1,19); alegram-se pela conversão dos pecadores (Lc 15,7.10)...



Os anjos maus também ocorrem freqüentemente no Novo Testamento com nomes diversos: Satanás = Adversário (Mc 1,13), Demônio (Mt 4,12; Lc 4,2), Belzebu (Mt 10,25), Belial (2Cor 6,15)... Jesus diz que ele "é homicida desde o princípio e que não permaneceu na verdade" (Jo 8,44; cf 1Jo 3,8). O Maligno pediu os Apóstolos para os joeirar como trigo, mas Jesus rogou por eles ao Pai (Lc 22,31) - o que mostra que o demônio só age com autorização de Deus.

O teólogo grego Dionísio Areopagita, no século VI, recolheu na Sagrada Escritura os nomes dos anjos mencionados no Antigo e no Novo Testamentos e distribuiu-os numa hierarquia de novos coros: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos, Anjos (em sentido estrito). Essa classificação partiria dos anjos mais perfeitos aos menos perfeitos no plano ontológico; nada tem de dogmático.



Os anjos são criaturas que Deus fez boas (Deus nada pode fazer intrinsecamente mau), mas que abusaram de sua liberdade e se afastaram de Deus pelo pecado. Que tipo de pecado terá sido esse?



Há poucos dados na Revelação para responder. Julga-se, porém, que depois de ter criado os anjos, Deus os elevou à graça sobrenatural (à semelhança do que se deu com os homens) e os submeteu a uma prova. Uma parte dos anjos se terá rebelado contra Deus por soberba (este é o pecado típico dos espíritos). Conforme alguns teólogos, a rebelião ocorreu quando Deus anunciou aos anjos a encarnação do Filho (teriam de adorar Deus feito homem).

As decisões dos anjos, dotados de inteligência mais aguda, são irrevogáveis. Não lhes resta margem para a conversão. Em conseqüência, são avessos a Deus e ao seu plano de salvação. É preciso, porém, que nos mantenhamos sóbrios ao falar dos anjos maus; não lhes podemos atribuir figura corpórea (chifres, asas, tridentes, garras...). Sabemos que Deus é sumamente bom e justo, de modo que o estado de perdição dos anjos maus é plenamente compatível com tais predicados de Deus.





A atividade dos anjos no mundo


Os anjos bons são ministros de Deus para a glória do Criador e a salvação dos homens. Desde os primeiros séculos, os cristãos crêem que cada ser humano tem seu anjo da guarda; isto estaria insinuado em Mt 18,10. Tornou-se comum esta crença, que a Igreja soleniza mediante a festa dos Santos Anjos da Guarda (dia 2 de outubro).


Quanto aos anjos maus, Deus lhes concede a autorização de tentar os homens; cf Lc 22,31; Ap 12,12, para que se fortaleça a virtude dos bons, portanto, em vista de um fim providencial. Satanás não é todo-poderoso; Santo Agostinho o compara a um cão acorrentado, que pode ladrar muito, mas não pode morder senão a quem se lhe chega perto. São Paulo nos diz que Deus não permite que sejamos tentados acima das nossas forças, mas, com a tentação, nos dá meios de sair dela vitoriosos (cf 1Coe 10,13).


Além das tentações, a Sagrada Escritura menciona a possessão diabólica. Esta é um estado em que o demônio se serve do corpo da pessoa, falando por este e movendo-o à blasfêmia e a atitudes convulsivas, sem que o possesso consiga resistir-lhe; a vontade, porém, do possesso fica isenta de pecado. Pergunta-se: é possível tal estado de coisas?




Distinguimos. Os Evangelhos nos dizem que Jesus encontrou possessos e os exorcizou, confirmando em todos os observadores a impressão de que existe possessão diabólica. Ora, se não havia possessão, Jesus não somente terá realizado uma farsa teatral (para se adaptar a uma crença dos judeus), mas terá confirmado os homens no erro; isto, porém, é inaceitável, pois Jesus mesmo declarou: "Para isto nasci e vim ao mundo: para dar testemunho da verdade" (Jo 18,37). Por conseguinte, é de crer que nos tempos de Jesus havia possessos. 

Na história da Igreja foram, e são até hoje, apontados casos de possessão diabólica. A Igreja admite a possibilidade de tal fenômeno; por isto tem um ritual de exorcismo. Todavia, os progressos da psicologia e da medicina revelam que muitos dos sintomas outrora atribuídos à ação direta do demônio, não são senão efeitos patológicos, nervosos ou parapsicológicos. Em conseqüência, devemos ser sóbrios diante de notícias de possessão diabólica; principalmente no Brasil, a grande maioria dos casos apresentados como de possessão não são senão estados mórbidos; todavia, a presença dos cultos afro-brasileiros e espíritas entre nós sugere facilmente às pessoas impressionáveis a idéia de que uma doença nervosa, renitente e feia é resultado de possessão diabólica. Quanto mais os pacientes admitem isto, tanto mais se sugestionam, apavoram e prejudicam. Daí a necessidade de esclarecimento do povo de Deus: existe, sim, o demônio, mas a sua ação visa mais a introduzir ao pecado do que às doenças ou desgraças físicas. Que o cristão viva santamente, confiando em Deus, e nada terá a temer por parte do Maligno: "Se Deus está conosco, quem estará contra nós?..." (Rm 8,31).

Notemos ainda que não se devem identificar os exus e orixás das religiões afro-brasileiras com os anjos maus. Estes são meras criaturas de Deus, ao passo que as entidades cultuadas naqueles centros religiosos são tidas como semideuses.



*Teólogo e Monge Beneditino
 VIA INTERNET

quinta-feira, 8 de maio de 2014

PESSOAS E LUGARES



Dom Genival Saraiva
Administrador Apostólico da Diocese de Palmares


Após a ressurreição, Jesus aparece a pessoas diferentes, em lugares diferentes. Conforme os relatos dos Evangelistas, as mulheres são as primeiras testemunhas da ressurreição, quando foram ao lugar onde se encontrava o túmulo de Jesus, em Jerusalém. Dois discípulos, por sua vez, estavam a caminho de Emaús, experimentando o vazio deixado pela morte de seu mestre, quando, irreconhecível, ele aparece e participa da conversa, em torno do “que lá aconteceu nestes dias”. Dez apóstolos encontravam-se reunidos, em Jerusalém, a portas fechadas, com medo dos judeus, quando Jesus lhes aparece; numa segunda vez, “oito dias depois”, e nas mesmas circunstâncias, presente o incrédulo Tomé, Jesus aparece para que reconheçam e testemunhem que ele está vivo. (cf. Jo 20,29) Posteriormente, Jesus aparece aos discípulos, em diversas ocasiões, na Galileia, ora pedindo “alguma coisa para comer”, ora, depois do insucesso de uma noite de pescaria, orientando-os a lançar as redes, “à direita do barco”, cujo resultado foi uma pesca abundante.

Ao aparecer a seus discípulos, mulheres e homens, Jesus quis confirmá-los na condição de testemunhas da ressurreição; com efeito, eles deveriam propagar ao mundo que ele ressuscitou dos mortos. (cf. Mt 28,1-8) O próprio Jesus quis que seus discípulos o vissem, na condição de ressuscitado. “Trata-se, de fato, de dar o testemunho daquilo que conheceram da forma mais direta: ver.” De fato, o verbo “ver” aparece, em vários tempos, nas narrações dos Evangelhos: ver, vede, vendo, vereis, verão. Mais ainda, Jesus exige que constatem: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. (Lc 24,39) Para que alguém seja testemunha, é preciso que tenha visto pessoas e acontecimentos envolvidos em determinada causa. Jesus tinha plena consciência da importância da necessidade de constatação do fenômento da ressurreição, por parte de seus discípulos, daí porque não exigiu deles um “ato de fé na ressurreição”, como hoje a Igreja exige dos católicos, por ser um dogma de fé. Na verdade, os apóstolos tiveram consciência dessa condição de testemunhas: “Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disto nós somos testemunhas.” (At 3,15)
No aspecto histórico, a veracidade de um fato exige a comprovação de testemunhas identificadas; no plano judicial, o testemunho de uma testemunha fidedigna é um requisito indispensável para o juiz exarar uma sentença justa, num julgamento simples ou complexo; na dimensão pastoral, o fruto da evangelização está relacionado com o testemunho dos cristãos que, à luz da fé, se tornam testemunhas continuadas da ressurreição de Jesus, ao longo dos tempos e em todos os lugares. Jesus não dispensou na era apostólica, nem dispensa hoje, seus discípulos de serem testemunhas de sua ressurreição.

Senhor, ajuda-me, aconselha-me, o que devo fazer agora?



Papa Francisco falou sobre o dom do conselho na catequese desta quarta-feira

ROMA, 07 de Maio de 2014 (Zenit.org) - 
O Papa Francisco falou sobre o dom do conselho na catequese desta quarta-feira, 7, durante a tradicional Audiência Geral, na Praça de São Pedro. Eis o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Ouvimos na leitura do trecho do livro dos Salmos “O Senhor me deu conselho, mesmo de noite o meu coração me exorta” (Sal 16, 7). E este é um outro dom do Espírito Santo: o dom do conselho. Sabemos quanto é importante, nos momentos mais delicados, poder contar com sugestões de pessoas sábias e que nos querem bem. Ora, através do dom do conselho, é o próprio Deus, com o seu Espírito, a iluminar o nosso coração, de forma a nos fazer compreender o modo correto de falar e de se comportar e o caminho a seguir. Mas como esse dom age em nós?
1. No momento em que o acolhemos e o hospedamos no nosso coração, o Espírito Santo logo começa a nos tornar sensíveis à sua voz e a orientar os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e as nossas intenções segundo o coração de Deus. Ao mesmo tempo, leva-nos sempre mais a dirigir o olhar interior para Jesus, como modelo do nosso modo de agir e de nos relacionarmos com Deus Pai e com os irmãos. O conselho, então, é o dom com que o Espírito Santo torna a nossa consciência capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus, segundo a lógica de Jesus e do seu Evangelho. Deste modo, o Espírito nos faz crescer interiormente, faz-nos crescer positivamente, faz-nos crescer na comunidade e nos ajuda a não ficar à mercê do egoísmo e do próprio modo de ver as coisas. Assim, o Espírito nos ajuda a crescer e também a viver em comunidade. A condição essencial para conservar este dom é a oração. Sempre voltamos ao mesmo tema: a oração! Mas é tão importante a oração. Rezar com as orações que todos nós sabemos desde criança, mas também rezar com as nossas palavras. Rezar ao Senhor: “Senhor, ajuda-me, aconselha-me, o que devo fazer agora?”. E com a oração abrimos espaço, a fim de que o Espírito venha e nos ajude naquele momento, aconselhe-nos sobre o que nós devemos fazer. A oração! Nunca esquecer a oração. Nunca! Ninguém, ninguém percebe quando nós rezamos no ônibus, na estrada: rezamos em silêncio com o coração. Aproveitemos esses momentos para rezar, rezar para que o Espírito nos dê o dom do conselho.
2. Na intimidade com Deus e na escuta da sua Palavra, gradualmente colocamos de lado a nossa lógica pessoal, ditada nas maiorias das vezes pelos nossos fechamentos, pelos nossos preconceitos e pelas nossas ambições, e aprendemos, em vez disso, a perguntar ao Senhor: qual é o teu desejo, qual é a tua vontade, o que te agrada? Deste modo amadurece em nós uma sintonia profunda, quase inata no Espírito e se experimenta quanto são verdadeiras as palavras de Jesus reportadas no Evangelho de Mateus: “Não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar nem com que haveis de dizer: naquele momento, ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós” (Mt 10, 19-20).  É o Espírito que nos aconselha, mas nós devemos abrir espaço ao Espírito, para que possa nos aconselhar. E abrir espaço é rezar, rezar para que Ele venha e nos ajude sempre.
3. Como todos os outros dons do Espírito, então, também o conselho constitui um tesouro para toda a comunidade cristã. O Senhor não nos fala somente na intimidade do coração, fala-nos sim, mas não somente ali, mas nos fala também através da voz e do testemunho dos irmãos. É realmente um grande dom poder encontrar homens e mulheres de fé, que, sobretudo nos momentos mais complicados e importantes da nossa vida, ajudam-nos a fazer luz no nosso coração, a reconhecer a vontade do Senhor!

Eu me lembro uma vez no santuário de Luján, estava no confessionário, diante o qual havia uma fila longa. Havia um rapaz todo moderno, com piercings e tatuagens, todas estas coisas… E veio para me dizer algo que acontecia com ele. Era um problema grande, difícil. E me disse: eu contei tudo isso à minha mãe e ela me disse: vá à Nossa Senhora e ela te dirá o que você deve fazer. Eis uma mulher que tinha o dom do conselho. Não sabia encontrar uma saída para o problema do filho, mas indicou o caminho justo: Vá a Nossa Senhora e ela lhe dirá. Este é o dom do conselho. Aquela mulher humilde, simples, deu ao filho o conselho mais verdadeiro. De fato, este rapaz me disse: olhei para Nossa Senhora e senti que devia fazer isto, isto e isto… Eu não precisei falar, já tinham dito tudo sua mãe e o próprio rapaz. Este é o dom do conselho. Vocês, mães, que têm este dom, peçam – no para os seus filhos. O dom de aconselhar os filhos é um dom de Deus.
Queridos amigos, o Salmo 16, que ouvimos, convida-nos a rezar com estas palavras: “Bendigo o Senhor porque me deu conselho, porque mesmo de noite o coração me exorta. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita, não vacilarei” (vv. 7-8). Que o Espírito possa sempre infundir no nosso coração esta certeza e nos encher assim com o seu consolo e a sua paz! Peçam sempre o dom do conselho.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

CNBB



Dom Pedro Luiz Stringhini
Bispo de Mogi das Cruzes (SP)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, foi fundada em 1952, por inspiração de Dom Hélder Câmara, então bispo auxiliar no Rio de Janeiro, onde se instalou a sede, transferida mais tarde para Brasília. A primeira assembleia geral da entidade foi realizada em 1953, em Belém do Pará. Após alguns anos, passou a ser anual e realizada no Distrito de Itaici, Indaiatuba, na aprazível casa de retiro dos jesuítas. A partir de 2011, acontece na cidade de Aparecida.

Em sua história, a CNBB participou ativa e decididamente dos rumos da nação brasileira. Durante a ditadura militar (1964-1984), com marcante liderança de dirigentes como Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheiter e Dom Luciano Mendes de Almeida, a CNBB se apresentou, na sociedade brasileira, como voz catalizadora dos esforços de retorno à democracia, na defesa dos direitos humanos e das liberdades políticas.
Desde a primeira assembleia, a conferência tratou da questão fundiária do Brasil, com destaque para a reforma agrária. Permeando pronunciamentos e atuação da conferência, o problema da terra mereceu importante documento em 1980 e, na 52ª assembleia geral anual de 2014, volta à tona a partir do documento, ainda a ser aprovado, A Igreja e a questão agrária brasileira no início do século XXI.
A CNBB produziu, até agora, noventa e nove documentos oficiais. O último, recém-publicado, é o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. Produziu mais de cem documentos de estudo, cinquenta edições anuais da campanha da fraternidade e uma infinidade de notas e mensagens. A cada quadriênio, publica as Diretrizes para a ação evangelizadora da Igreja no Brasil.
As conferências episcopais são canal de integração, unidade, colegialidade e comunhão entre os bispos e desses com o sumo pontífice e o magistério universal da Igreja, de onde emanam as orientações para as dioceses. O episcopado brasileiro tornou-se numeroso; são cerca de trezentos bispos, arcebispos e cardeais, na ativa, e outros cento e cinquenta bispos eméritos, com mais de 75 anos. O núncio apostólico, representante diplomático do Papa no País, também participa da assembleia.
Tendo como horizonte a justiça social, a defesa dos pobres, a solidariedade para com a causa dos povos indígenas e dos excluídos do campo e das periferias urbanas, a conferência e suas assembleias tratam também de temas ligados à defesa da vida e da família, questões de bioética e a preservação do meio ambiente.
Iniciativas populares contra a corrupção e por eleições limpas se somam, atualmente, a uma campanha pela paz e superação da violência, que incide de forma alarmante na sociedade brasileira. Vislumbra-se assim a necessidade de novo paradigma civilizatório em relação ao planeta terra e ao ser humano.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Bispos do Brasil discutem o papel dos leigos na sociedade e na Igreja



Missão jovem. O papel dos leigos na sociedade. 17° Congresso Eucarístico Nacional
Por Thácio Siqueira

BRASíLIA, 05 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
Depois de um final de semana de retiro e recolhimento os bispos do Brasil reunidos em Aparecida retomaram hoje as atividades da 52ª Assembleia dos bispos da CNBB.
A Assembléia geral deste ano, que começou no dia 30 de Abril e vai até o dia 9 de maio, no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho, em Aparecida (SP), nessa segunda-feira, discutiu e votou os textos sobre liturgia, questão agrária e renovação paroquial “comunidade de comunidades uma nova paróquia”.
Missão jovem
Durante a coletiva de imprensa dessa tarde Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (SP) e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, anunciou que estão abertas as inscrições para a primeira missão jovem da Amazônia.
“O candidato poderá se inscrever até o dia 31 de maio”. O projeto está sendo encabeçado por 5 comissões da CNBB, incluindo as Pontifícias Obras Missionárias. Aproximadamente 60 jovens de 18 a 35 anos se dividirão em 4 grupos. O cardeal destacou que a iniciativa nasceu na preparação da semana missionária da JMJ 2013, “onde surgiu o desejo da juventude presente de fazer uma missão especialmente na Amazônia”. Tal inspiração – disse Dom Cláudio - foi reforçada pelo convite do Papa Francisco na JMJRio 2013 quando disse aos jovens: Ide, sem medo, para servir. Os jovens selecionados vão receber uma formação online e participarão de 10 dias de missão e ao final redigirão uma carta dirigida à toda a Igreja do Brasil.
O papel dos leigos na sociedade
O Papel dos leigos e leigas na sociedade foi tratado na coletiva pelo bispo de Caçador (SC) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB, dom Severino Clasen. “A Assembleia tem como tema central os leigos e o seu papel na sociedade e na Igreja”, disse Dom Clasen, explicando que o documento, que está sendo votado, primeiramente dá uma visão geral da nossa sociedade, de como ela está deteriorada, também “pela falta de coesão das religiões”. Em segundo lugar analisa e critica as formas de pastorais que existem e, por fim, conclui com a proposta de algumas ações, como ser um cidadão participante da sociedade: na economia, no setor produtivo... buscando, principalmente, “essa reflexão sobre o sentido da vida, da existência”. Até mesmo – diz o prelado – “já saiu uma cartilha de orientação para as eleições”. “Os cristãos leigos tem um papel decisivo também na Igreja”, afirmou. Finalmente Dom Clasen falou que o documento voltará voltar novamente às bases para receber a contribuição do povo de Deus.
17° Congresso Eucarístico Nacional
Por fim, o arcebispo de Belém (PA), dom Alberto Taveira Côrrea discorreu sobre os preparativos para o 17° Congresso Eucarístico Nacional que acontecerá em 2016 na cidade de Belém do Pará. “A escolha desse ano é significativa porque em 2016 se celebra o quarto centenário da evangelização da Amazônia e da fundação de Belém e 110 anos da arquidiocese de Belém”, disse Dom Alberto. O Tema será: “Eucaristia e Partilha na Amazonia misisonária” e o lema escolhida é: “Eles o reconheceram no partir do pão”. Um dos objetivos será mostrar que a “região também tem um grande potencial missionário”, sublinhou o prelado. O evento acontecerá do 15 ao 21 agosto com Simpósios teológicos, missa com a juventude, jornada da misericórdia, atendendo em confissões nas 80 paróquias, noites de vigília e oração, adoração eucarística, expo católica e eventos organizados pelas pastorais e movimentos eclesiais.

A relação e a opressão no diálogo político contemporâneo



Nós cristãos não nos identificamos completamente nem com a esquerda, nem com a direita contemporâneas, na exata medida em que queiram construir uma sociedade humana sem Deus
Por Paulo Vasconcelos Jacobina

 (Zenit.org) -
Há um pessimismo antropológico oculto no pensamento político e jurídico contemporâneo, que é fruto do pessimismo antropológico ínsito à própria modernidade: trata-se de compreender a categoria da “relação” como essencialmente equiparável à categoria da “opressão”.. Vale dizer, quando o pensamento contemporâneo se defronta com uma relação, seja ela qual for, busca imediatamente desvendá-la em termos de opressão. Pensar criticamente, para essa contemporaneidade pessimista, é desvendar a “opressão” que se ocultaria por trás de cada “relação”.
Não é simples encontrar as raízes deste modo de pensar. É claro que a dúvida sistemática de Descartes lhe levou a estabelecer, como ponto de partida para encontrar a verdade, o seu cogito, a famosa frase “penso, logo sou” que é o seu conhecido ponto de partida. A dúvida sistemática de Descartes, portanto, é, no fundo, uma dúvida quanto à possibilidade de verdade no outro, ou seja, quanto à verdade ínsita em cada relação. Para ele, o ponto de partida da verdade é estritamente individual, está no pensamento individual que se reconhece claro e separado em si mesmo.
Neste sentido, pode-se dizer que Hobbes foi um discípulo de Descartes, quando estabeleceu seu mito político do indivíduo solitário e todo-poderoso do “estado de natureza” pré-social. O indivíduo hobbesiano, nesse seu “Éden” individualista imaginário, é o lobo do outro indivíduo, porque cada indivíduo hobbesiano tem direito a tudo, inclusive ao ser e ao corpo do outro indivíduo. Se nos deixamos conduzir pelo imaginário de Hobbes, esses lobos individualistas somente seriam realizados se todos os outros indivíduos se submetessem plena e incondicionalmente à sua própria vontade individual plenipotenciária. Cada relação, para Hobbes,seria, concretamente, um choque de indivíduos com direitos igualmente absolutos com relação ao outro, em que necessariamente o resultado seria a opressão de um pela satisfaçãodo outro.
Uma vez que esta conta não fecha, já que não é possível que cada indivíduo seja ao mesmo tempo um deus todo-poderoso com todos os direitos, e um objeto do direito de outro deus igualmente todo-poderoso, Hobbes imagina que o contrato social consistiria na abdicação, de cada indivíduo, de todos os seus direitos em favor do Estado, cuja contrapartida consistiria apenas em garantir a vida desses indivíduos. O Estado hobbesiano seria, a um só tempo, o detentor de todos os direitos por cessão dos indivíduos, e ao mesmo tempo o mais ilegítimo de todos os entes - já que concentraria em si todas as relações e, portanto, todas as opressões. E seu fim seria impedir que os indivíduos gozassem plenamente dos seus direitos naturais, de sua liberdade plena natural, pela promessa da garantia da própria sobrevivência ou da sobrevivência do outro.
Assim, a categoria “direitos humanos” passou a ser vista, contemporaneamente, como a categoria de resistência dos lobos hobbesianos contra o Leviatã, o Estado visto sempre como fundamentalmente ilegítimo, porque destituído de direitos originários. E a contemporaneidade dividiu-se em duas alas, de “direita” e de “esquerda”.
Os primeiros acreditam que, diante da impossibilidade de corrigir o irremediável egoísmo humano, o Estado deve ser reduzido ao mínimo possível, e mais poder deve ser dado aos indivíduos – para que o “choque dos egoísmos” produza o bem comum por um processo de seleção natural, em que a eliminação dos fracassados será inevitável no caminho de um equilíbrio instável que conduzirá a uma humanidade mais forte e, portanto, mais perfeita. Não conseguem, porém, explicar por que todas as vezes em que a sociedade se aproximou desse suposto ideal, ou reduziu os mais fracos ao estado lastimável dos operários dos séculos XVIII e XIX, ou foi colhida por crises econômicas, morais e políticas como a de 1929 ou a de 2008.
Os segundos, por outro lado, acreditam pelagianamente na perfectibilidade humana, e que o Estado deve ser conquistado e usado como indutor irresistível do bem comum, compreendido como a cura do egoísmo infinito dos lobos hobbesianos. A missão do Estado seria redentora, transformando os lobos hobbesianos em anjos altruístas a partir da redenção imposta coercitivamente pela minoria vanguardista e iluminada através da “educação” ou “reeducação” dos renitentes. Esta esquerda reivindica poder total no domínio do Estado em nome da “desconstrução” de todas as relações humanas atuais, que enxerga como essencialmente opressoras, para reconstruí-las em bases “libertadoras”, sem explicar exatamente como esta cura se daria sem construir-se outras relações ainda mais opressivas do que as que se visa destruir, dados os mesmos pressupostos. Esta foi a realidade em todos os Estados em que esta “esquerda” conseguiu o poder estatal que reivindicava.
Ambas as correntes políticas contemporâneas, que descrevi um tanto esquematicamente acima, partem, pois, da mesma visão antropológica que têm a expressão mais pura em Hobbes, e encontra-se, em seu próprio ponto de partida, em oposição à visão cristã (e verdadeira) de que a relação, sendo da essência mesma do Deus uno e trino, é boa em si mesma, embora eventualmente se corrompa por força do limite humano que a teologia cristã chamou de “pecado original”. O pecado, para o cristão, não é uma realidade positiva, mas uma carência estrutural no ser humano que optou originalmente contra o bemPois o mal, pensam os cristãos, não é um ser, mas a ausência,a recusa de um bem devido que não está no ser humano nem lhe pertence.
A nenhum cristão ocorreria que um marido violento ou uma mãe desnaturada levasse à necessidade de destruir as famílias, ou que um mau empresário negasse a necessidade do empreendedorismo, nem que um mau sindicalista implicasse a necessidade de destruir qualquer organização operária, ou que um menino com crise de identidade sexual levasse à necessidade de destruir a heterossexualidade. Ou a de que um velhinho doente e improdutivo, ou um embrião de mãe pobre, devesse ser eliminado em “eutanásia” em nome da sua incapacidade de ajustar-se ao mercado.
Assim, a opressão, para o cristão, é um desvio acidental do bem essencial da relação, devido a um acidente chamado hamartia, que os cristãos traduzimos como “pecado”, mas que em sua acepção grega original significa fracasso, distância do alvo, impossibilidade de alcançar por si mesmo os próprios fins. Para o cristão, a relação é boa por essência, porque reflete a própria essência íntima do Deus trinitário, sob cuja imagem fomos constituídos. O pecado macula as relações, mas não as invalida: “abusus non tollit usus”, dizia um velho ditado latino. Mas não é possível redimir este pecado pelos esforços humanos: é preciso deixar espaço, nas imperfeições da cidade dos homens, para que aqueles que quiserem possam abrir-se à graça de Deus.
Neste sentido, nós cristãos não nos identificamos completamente nem com a esquerda, nem com a direita contemporâneas, na exata medida em que queiram construir uma sociedade humana sem Deus, ou mais especificamente, sem levar em conta o Deus trinitário cuja essência não é o poder prepotente que oprime, mas a relação amorosa que liberta. Não estamos impedidos de conversar com eles, de concordar e discordar, e até de nos aliar com aqueles que parecem, a cada momento, mais aptos a construir uma cidade dos homens menos injusta. Mas devemos sempre lembrar-nos e lembrá-los que seus mitos fundantes não passam de atos de fé, aliás muito menos razoáveis que a nossa – e que a nossa lealdade fundamental de cristãos, mesmo quando separados por cores políticas, se encontra num plano infinitamente mais elevado.

"Ler todo dia um trecho do Evangelho"


(Zenit.org) -
De volta ao Vaticano, após celebrar missa para a Comunidade Polaca de Roma na Igreja de San Stanislao, Papa Francisco recitou o Regina Caeli com os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. O Santo Padre dirigiu as seguintes palavras aos fiéis:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo, que é o terceiro domingo de Páscoa, é aquele dos discípulos de Emaús (cfr Lc 24, 13-35). Estes eram dois discípulos de Jesus, os quais, depois da sua morte e passado o sábado, deixam Jerusalém e retornam, tristes e desanimados, para o seu vilarejo, chamado Emaús. Ao longo do caminho, Jesus ressuscitado aproximou-se deles, mas eles não O reconheceram. Vendo-os tão tristes, Ele primeiro ajudou-os a entender que a paixão e a morte do Messias estavam previstas no projeto de Deus e preanunciadas nas Sagradas Escrituras; e assim reacende um fogo de esperança no coração deles.
Naquele momento, os dois discípulos sentiram uma atração extraordinária por aquele homem misterioso, e o convidaram para permanecer com eles naquela noite. Jesus aceitou e entrou com eles na casa. E quando, na mesa, abençoou o pão e o partilhou, eles o reconheceram, mas Ele desapareceu da vista deles, deixando-os cheios de estupor.. Depois de serem iluminados pela Palavra, tinham reconhecido Jesus ressuscitado no partilhar o pão, novo sinal da sua presença. E logo sentiram a necessidade de retornar a Jerusalém, para contar aos outros discípulos esta sua experiência, que tinham encontrado Jesus vivo e o tinham reconhecido neste gesto da fração do pão.
O caminho de Emaús torna-se assim símbolo do nosso caminho de fé: as Escrituras e a Eucaristia são os elementos indispensáveis para o encontro com o Senhor. Também nós, muitas vezes, chegamos à Missa dominical com as nossas preocupações, as nossas dificuldades e desilusões… A vida às vezes nos fere e nós seguimos tristes, rumo à nossa “Emaús”, virando as costas ao projeto de Deus. Afastamo-nos de Deus. Mas nos acolhe a Liturgia da Palavra: Jesus nos explica as Escrituras e reacende nos nossos corações o calor da fé e da esperança, e na Comunhão nos dá força. Palavra de Deus, Eucaristia. Ler todo dia um trecho do Evangelho. Recordem bem isso: ler todos os dias um trecho do Evangelho e aos domingos ir fazer a Comunhão, receber Jesus. Assim aconteceu com os discípulos de Emaús: acolheram a Palavra; partilharam a fração do pão e de tristes e derrotados que se sentiam tornaram-se alegres. Sempre, queridos irmãos e irmãs, a Palavra de Deus e a Eucaristia nos enchem de alegria. Lembrem-se bem disso! Quando você está triste, pegue a Palavra de Deus.. Quando você está para baixo, pegue a Palavra de Deus e vá à Missa no domingo fazer a Comunhão, participar do mistério de Jesus. Palavra de Deus, Eucaristia: enchem-nos de alegria.
Por intercessão de Maria Santíssima, rezemos a fim de que cada cristão, revivendo a experiência dos discípulos de Emaús, especialmente na Missa dominical, redescubra a graça do encontro transformante com o Senhor, com o Senhor ressuscitado, que está conosco sempre. Há sempre uma Palavra de Deus que nos dá orientação depois dos nossos escorregos e através dos nossos cansaços e desilusões, há sempre um Pão partilhado que nos faz seguir adiante no caminho.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Só 14% da população mundial dispõe de imprensa livre



Cuba, Venezuela e Honduras são os países latino-americanos mais problemáticos, segundo relatório da ONG Freedom House
Por Ivan de Vargas

MADRI, 05 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 A ONG Freedom House divulgou na última semana um relatório que aponta Cuba, a Venezuela, Honduras, o Equador e o México como os cinco países latino-americanos em que a imprensa não é livre. A ilha governada por Raúl Castro, além disso, está entre os dez piores do mundo todo. Na outra ponta, Costa Rica e Uruguai são os únicos países plenamente livres na região, e, mesmo assim, ocupam respectivamente o 22º e o 47º lugares entre os 197 países avaliados, o que evidencia o atraso em que a região se encontra.
Honduras, Panamá e Venezuela se destacaram negativamente como os países que mais retrocederam desde o último informe. O Paraguai é o que mais progrediu, passando de não livre a parcialmente livre.
A Argentina, que ocupa a posição 106, "continua gerando preocupação por ter um ambiente midiático altamente polarizado e funcionários de governo que insistem numa retórica negativa e em ataques verbais contra os jornais críticos", diz o informe.
De acordo com a Freedom House, a situação no continente americano se deteriorou a ponto de chegar ao nível mais baixo dos últimos cinco anos. Apenas 2% da população na América Latina vive em países que têm liberdade de imprensa.
A ONG com sede em Washington atribui uma pontuação às condições em que o jornalismo é exercido em cada país. Os países que obtêm de 0 a 30 pontos são considerados livres; de 31 a 60, parcialmente livres; de 61 a 100 pontos, sem liberdade.
A lista mundial de nações com liberdade de informação é encabeçada pela Holanda, pela Noruega e pela Suécia, que somam 10 pontos cada. Completam a lista dos dez países com mais liberdade jornalística a Bélgica e a Finlândia, com 11 pontos; Luxemburgo, Suíça, Islândia e Dinamarca, com 12; e Andorra, com 13.
O país em que a imprensa sofre mais restrições é a Coreia do Norte, que atinge 97 pontos, seguida pelo Turcomenistão e pelo Uzbequistão, com 95. A Eritreia soma 94, a Bielorrússia tem 93 e Cuba, o Irã e a Guiné Equatorial têm 90 pontos cada um.
No resto da América Latina, todos os países são considerados parcialmente livres. A melhor posição é a do Chile, que, com 31 pontos, está quase no grupo dos países com imprensa livre. Seguem El Salvador (39), República Dominicana (41), Peru (44), Brasil (45), Bolívia (48), Panamá (50), Haiti (50), Argentina (51), Nicarágua (52), Colômbia (54), Paraguai (59) e Guatemala (60).
"Vemos um retrocesso na liberdade de imprensa em nível global, como resultado dos esforços dos governos para controlar a mensagem e castigar o mensageiro. Em todas as regiões, encontramos tanto governos quanto agentes privados atacando jornalistas, limitando o acesso a eventos noticiosos, censurando e ordenando a demissão de jornalistas por motivações políticas", lamentou Karin Karlekar, responsável pelo informe, durante a apresentação do documento.
O estudo indica que a liberdade de imprensa em âmbito global caiu para o nível mais baixo em uma década. Só 14% da população mundial vive em países em que a imprensa é plenamente livre. 42% vive em regiões parcialmente livres e 44% em lugares sem liberdade de imprensa.
Dos 197 países avaliados quanto ao ambiente legal, político e econômico em que vivem, 63 foram posicionados na lista dos que possuem liberdade de imprensa, 68 no grupo da liberdade parcial e 66 no grupo de países sem liberdade informativa.

Cristãos sem vaidade e sem sede de poder e dinheiro



Francisco afirma que é preciso seguir o Senhor com retidão de intenção

Há pessoas na Igreja que seguem Jesus por vaidade ou por sede de poder e dinheiro. Que nosso Senhor nos dê a graça de segui-lo só por amor. Esta foi a mensagem do papa Francisco extraída das leituras de hoje e explicada na homilia da missa celebrada na capela da Casa Santa Marta.
No evangelho do dia, Jesus repreende a multidão que o procura porque tinha se saciado depois da multiplicação dos pães e dos peixes. O Santo Padre nos convidou a perguntar se seguimos o Senhor por amor ou para ter alguma vantagem. “Porque nós somos todos pecadores e sempre existe algo de interesse que tem que ser purificado no seguimento de Jesus. Temos que trabalhar interiormente para segui-lo por causa dele mesmo, por amor. Jesus alude a três atitudes que não são boas para segui-lo ou para buscar a Deus. A primeira é a vaidade”. Em particular, explicou o pontífice, ela aparece nos dirigentes religiosos que dão esmola ou jejuam para aparecer.
“Eles gostavam de se exibir e se comportavam como verdadeiros pavões! Eram assim. E Jesus diz: ‘Não, não pode ser assim. Não pode. A vaidade não faz bem’. E, algumas vezes, nós fazemos as coisas tentando nos mostrar um pouco, procurando a vaidade. A vaidade é perigosa, porque nos faz cair imediatamente no orgulho, na soberba, e, depois, tudo termina nisso. Eu me pergunto: Como é que eu sigo Jesus? As coisas boas que eu faço, faço escondidas ou gosto que todo o mundo me veja?”.
“E também penso em nós, os pastores, porque um pastor que é vaidoso não faz bem ao povo de Deus”. Pode ser um sacerdote, um bispo, mas, se ele “gosta da vaidade”, então “não segue Jesus”.
“A outra coisa que Jesus repreende em quem o segue é o poder. Alguns seguem Jesus, mas ‘só um pouco’, não com plena consciência, um pouco inconscientemente. Porque eles procuram o poder. O caso mais claro é o de João e Tiago, os filhos de Zebedeu, que pediam a Jesus a graça de ser o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro quando chegasse o Reino. E na Igreja há muitos ‘arrivistas’! Há muitos que usam a Igreja para subir… Se é isso que você quer, faça alpinismo: é mais saudável! Mas não venha à Igreja tentar subir! E Jesus repreende esses arrivistas que procuram o poder”.
“Só quando vem o Espírito Santo é que os discípulos mudam. Mas o pecado em nossa vida cristã permanece e seria bom nos perguntarmos: Como é que eu sigo Jesus? Só por Ele, até a cruz, ou procuro o poder e uso um pouco a Igreja, a comunidade cristã, a paróquia, a diocese para ter um pouco de poder?”.
“A terceira coisa que nos afasta da retidão de intenções é o dinheiro”.
“Quem segue Jesus por dinheiro tenta se aproveitar economicamente da paróquia, da diocese, da comunidade cristã, do hospital, do colégio… Pensemos na primeira comunidade cristã, que teve essa tentação: Simão, Ananias e Safira… Essa tentação existiu desde o começo e nós conhecemos tantos bons católicos, bons cristãos, amigos, benfeitores da Igreja, inclusive com condecorações várias… Muitos! Mas, depois, descobrimos que eles fizeram negócios um pouco obscuros: eram verdadeiros especuladores e ganharam muito dinheiro! Eles se apresentavam como benfeitores da Igreja, mas recebiam muito dinheiro e nem sempre era dinheiro limpo”.
“Peçamos ao Senhor a graça do Espírito Santo de ir atrás dele com retidão de intenção: só por Ele. Sem vaidade, sem desejos de poder e sem desejos de dinheiro”.

domingo, 4 de maio de 2014

O CAMINHO DE EMAÚS



Somos cristãos, mas em nossa vida não resplandece a alegria e a esperança. Não conseguimos comunicar aos outros a presença de Jesus no meio de nós.

Participamos frequentemente da Celebração Eucarística e comungamos, pedimos perdão, rezamos pedindo a Deus que nosso dia possa dar bons frutos. Talvez até leiamos algum texto bíblico para alimentar nosso espírito, porém, estes momentos não são capazes de nos transformar.

Facilmente nos desiludimos com as pessoas, e a decepção nos faz abandonar a caminhada, quantos vão buscar outros caminhos...
Por quê?

Naquele mesmo dia...” Assim começa o episódio narrado por São Lucas (24, 13-35) em que apresenta a triste situação de dois seguidores de Jesus que se encontram agora decepcionados com os acontecimentos dos últimos dias.

Sua tristeza é comovente; o próprio Jesus a pôde perceber  em suas palavras e na sua fisionomia abatida. Há uma visível frustração, pois uma nova vida havia vislumbrado e desejado e de repente esvazia-se sem deixar esperanças.

Estes dois homens conheceram Jesus, conviveram com ele e talvez a mais de dois anos e foram deixando-se apaixonar por seus ensinamentos. Suas palavras, suas pregações os seduziram; seus milagres os convenceram. Jesus era maravilhoso. Por Ele deixaram tudo para segui-lo. O mestre havia ensinado: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo...” Quantas renúncias tiveram que fazer?
Colocaram toda a sua esperança naquele homem.

Mas de repente aquele que curava enfermos, que ressuscitou mortos, que multiplicou pães fora morto, pregado em uma cruz. Quanta desilusão! Que tristeza na alma! O que faremos agora? Nada resta senão voltar a nossa vida de antes e recomeçar.

O trajeto de Jerusalém a Emaús, para além de um caminho físico, representa um itinerário espiritual, uma via interior por onde passam todos aqueles que têm qualquer desilusão com o Mestre, com a Igreja, com a comunidade.

Em Jerusalém estava o templo, ali estava Deus, então ir para Emaús significa afastar-se de Deus.

Eles decepcionaram-se com o Mestre. Mas Jesus não!

Jesus os ama deu todo o seu sangue por eles e não quer que eles simplesmente vão embora. Jesus, então põe-se a caminhar com eles. Jesus está sempre ao nosso lado, caminha conosco, está presente em todos os momentos de nossa vida. Ele deseja fazer-se notar. Se não sentimos sua presença é porque nos fechamos em nossa dor e ficamos cegos.

Se formos dóceis em acolher a sua Palavra, aos poucos nossos olhos se abrem e tudo começa a ter sentido. A Palavra do Senhor é apaixonante. Só os corações cativados por Ele se deixam tocar pela eficácia de sua Palavra. Faz “arder” o coração, pois é Palavra viva e infunde amor aos corações daqueles que se entregam.

Já era tarde e a noite vinha chegando e eles pediram ao companheiro de caminhada: FICA CONOSCO, SENHOR!

Mas no momento a refeição “eles o reconheceram ao partir o pão.”

Eles caminharam juntos o dia inteiro, foi uma longa conversa, e não o reconheceram. Os que crêem na Palavra do Senhor, sabem muito bem o que estas palavras não são circunstanciais. Jesus repetiu o gesto da Ultima Ceia, quando todos estavam reunidos. Ele celebrou a Eucaristia com ele e para eles. Mais do que lembrarem-se deste gesto de Jesus, eles reconheceram Jesus no pão: “Isto é meu corpo..”

ELE VIVE!

Tudo mudou. Os dois caminhantes que tinham iniciado o dia com o rosto abatido, agora estão com os olhos iluminados por uma nova luz. Uma nova vida e uma nova missão. Jesus deu-lhes um novo espírito, um espírito de alegria, de paz, de fortaleza, de esperança e amor.

Cheios de entusiasmos retornaram a Jerusalém para contar a todos: O SENHOR JESUS ESTÁ VIVO!

Confiar em Jesus é a diferença entre a fé e a duvida; o desespero e a esperança; o medo e o amor. Porque ELE VIVE!

                                                                      Maria Ronety Canibal


"Escrituras e Eucaristia indispensáveis no encontro com o Senhor"




Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco rezou a Oração do Regina Coeli na manhã deste 3º Domingo de Páscoa, junto a milhares de peregrinos que lotavam a Praça São Pedro e adjacências. Da janela do apartamento Pontifício, o Santo Padre refletiu sobre a passagem dos discípulos de Emaús, da Liturgia do dia, onde o “partir o pão torna-se o novo sinal da presença de Jesus”. “Palavra de Deus e Eucaristia, nos enchem de alegria”, afirmou. Após a reflexão e a oração do Regina Coeli, o Papa recordou a “grave” situação vivida na Ucrânia e as milhares de vítimas de um deslizamento de terra no Afeganistão.

A reflexão de Francisco foi inspirada no Evangelho do dia, onde “dois discípulos de Jesus, após a sua morte e passado o sábado, deixam Jerusalém e retornam tristes e abatidos, em direção ao povoado, chamado Emaús”. Eles não reconhecem Jesus ao longo do caminho, que inicialmente, então, os ajudam a entender que “a paixão e a morte do Messias estava prevista no plano de Deus e eram pré-anunciadas nas Sagradas Escrituras”. E assim “reascende um fogo de esperança nos seus corações”.

Movidos por uma extraordinária atração por Jesus, os discípulos o convidam para permanecer com eles naquela noite. E quando Jesus está à mesa, “abençoa o pão e o parte, eles o reconhecem, mas ele desaparece de suas vistas, deixando-os plenos de estupor. Após terem sido iluminados pela Palavra, haviam reconhecido Jesus ressuscitado no partir o pão, novo sinal de sua presença”:

“O caminho de Emaús torna-se assim o símbolo do nosso caminho de fé: as Escrituras e a Eucaristia são os elementos indispensáveis no encontro com o Senhor. Também nós vamos frequentemente à Missa dominical com nossas preocupações, as nossas dificuldades e desilusões .... A vida, às vezes, nos fere e nós vamos embora tristes, em direção à nossa ‘Emaús”, virando as costas ao plano de Deus. Mas nos acolhe a Liturgia da palavra: Jesus nos explica as Escrituras e reacende nos nossos corações o calor da fé e da esperança”. 
Após, Francisco reiterou a importância da Palavra e Deus e da Eucaristia:


“Palavra de Deus-Eucaristia. Ler cada dia 1 trecho do Evangelho. Recordem bem! Cada dia um trecho do Evangelho. E no domingo comungar, receber Jesus. Assim aconteceu com os discípulos de Emaús. Acolheram a palavra, partilharam o pão e de tristes e derrotados – e assim se sentiam -, tornaram-se alegres. Sempre, caros irmãos e irmãs, a Palavra de Deus e a Eucaristia nos alegram”.


O Santo Padre observou que “na Liturgia Eucarística, Jesus se dá a nós, no Pão da vida eterna. A Missa, presença viva de Jesus ressuscitado – uma presença que se expressa na Palavra e na Liturgia – nos ilumina e nos conduz em direção à Jerusalém, isto é, em direção à comunidade de irmãos e a comunidade dos homens, onde se vive a partilha e a missão”.

Ao concluir, o Santo Padre pede, por intercessão de Maria santíssima, que rezemos para que cada cristão, revivendo a experiência dos discípulos de Emaús, especialmente na Missa dominical, redescubra a graça do encontro transformante com o Senhor ressuscitado. Existe sempre uma Palavra de Deus que nos dá a orientação após as nossas debandadas; e através as nossas fadigas e desilusões existe sempre um Pão partido que nos faz seguir em frente no caminho”.

Ao final do tradicional encontro dominical, o Papa saudou os presentes, em especial a Associação Meter - a quem conclamou a continuar a luta contra todo o tipo de abuso a menores, dizendo um "Obrigado pelo trabalho de vocês!" -, os participantes da Caminhada pela Vida, que "neste ano tem um caráter internacional e ecumênico".

Ele recordou ainda o 90° Dia Nacional para a Universidade do Sagrado Coração. "Rezo por esta grande Universidade, para que seja fiel à sua missão original, e adaptada ao mundo atual. Se Deus quiser, em breve visitarei a Faculdade de Medicina e Cirurgia e o Policlínico Gemelli, que cumpre 50 anos", afirmou.

E por fim, o já tradicional "Bom almoço e até logo!".

(JE)




“O matrimônio não pode ser tratado com a lógica de mercado, mas como um dom”, afirma dom Petrini


A reflexão sobre os desafios da evangelização da família proposto pelo papa Francisco para o próximo Sínodo dos Bispos foi abordada no terceiro dia da 52ª Assembleia Geral da CNBB. O tema, apresentado por membros da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, trouxe indicativos e caminhos para evangelizar as família no contexto atual da sociedade.
 A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família acontecerá de 5 a 19 de outubro de 2014, no Vaticano. Em carta, o papa Francisco convida as famílias a rezarem pela reunião, cujo tema será Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Diversas dioceses de todo o mundo responderam a um questionário enviado pelo papa sobre questões relacionadas à vida em família. A Igreja no Brasil participou da pesquisa, com significativa representatividade das circunscrições eclesiásticas. Este trabalho contou com colaboração ativa da Pastoral Familiar, movimentos e serviços familiares, outras pastorais, e trabalho conjunto entre membros do clero e leigos. Houve inúmeras contribuições de paróquias, coordenações regionais e respostas individuais.
O bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, dom João Carlos Petrini, explicou que após a coleta das respostas enviadas pelas dioceses, será elaborado um documento de trabalho pela Secretaria do Sínodo. Para dom Petrini, o Sínodo convocado pelo papa Francisco  chega em momento oportuno. “Os desafios pelos quais a família enfrenta estão relacionados às mudanças na vida em sociedade e devem ser enfrentados por meio de mobilizações e também da formação”, comenta.
Evangelizar a família
A Pastoral Familiar presente nas dioceses, paróquias e comunidades vem realizando um trabalho importante de formação das famílias. Mas, de acordo com dom Petrini, é necessário que essa pastoral supere a condição jurídica, para uma compreensão da vida conjugal, da família, da paternidade e maternidade como caminhos da realização humana. “A Pastoral Familiar tem a missão de ajudar os casais a compreender toda a beleza e humanidade de uma família como fonte de alegria”, disse.
Recordando os ensinamentos de São João Paulo II, o bispo recorda que o papa deixou um legado valioso e grandes contribuições para a formação das famílias por meio de suas mensagens, exortações, catequeses  etc. “São João Paulo II aprofundou a temática do amor humano como caminho de felicidade e de realização”, lembrou.
Diante dos desafios apresentados a vida em família, dom Petrini disse ser necessário que as famílias retornem ao desígnio de Deus e que os casais compreendam que a família é o espaço da vida em totalidade. Para o bispo, existe um equívoco em relação a felicidade e que a “a vida não pode ocorrer em parcialidade, mas na totalidade do ser de cada pessoa”.
O próximo Sínodo dos Bispos buscará refletir também sobre a vida conjugal e os valores dos relacionamentos. Os bispos estudarão caminhos para a evangelização das família na sociedade moderna. Dom Petrini comenta um dos desafios será debater a vivência do matrimônio fora da visão mercadológica e de lucros que hoje tem sido incentivada.
“Nossas intimidades estão cada vez mais expostas. Utilizamos uma linguagem mercadológica para falar de relacionamentos, dos afetos e sentimentos. Hoje tudo resume-se em investimentos. O matrimônio não pode ser tratado com a lógica de mercado, mas como um dom, para o bem e a felicidade do outro”, ressaltou.