segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

FAMILIA NESTE CONTEXTO SOCIAL







           Estamos vivendo em uma sociedade capitalista, regida pelo dinheiro. O outro sempre é um concorrente, o qual eu preciso derrotar, de qualquer maneira para eu poder alcançar o sucesso.
          Estamos vivendo um tempo que a vida não tem valor, um tempo de corrupção e traição, um mundo egoísta e individualista.
           Um mundo violento, onde principalmente os jovens estão vivendo sem limites, e caindo nos vícios, tanto da bebida como da luxuria, quando não vão para as drogas mais pesadas.
 
          É isso que queremos para as nossas crianças?
          É esse o mundo que Deus quer para seus filhos?
          O que fazer?
        
          São Paulo nos diz que: “devemos viver no mundo sem ser do mundo”. Somos filhos de Deus, não filhos do mundo, o nosso caminho é para Deus. Jesus nos deixou um caminho para Deus. A Igreja.
           A Igreja é a família de Deus aqui no mundo. Todo o batizado faz parte desta grande família, que tem como meta viver o amor fraterno.
           A vivencia do amor inicia na família, que é constituída de pai, mãe e filhos. Jesus nasceu em uma família, cresceu em estatura, graça e sabedoria junto de seus pais.
          A família é sagrada, pois é o lugar privilegiado do amor, ali surge à vida e a vida é um dom de Deus. É na família que a criança vai crescer e deve, portanto, receber os primeiros ensinamentos cristãos, aprender os valores éticos e morais que vão permanecer por toda a sua vida, para tornar-se um adulto equilibrado, consciente e comprometido com a Verdade.
          Em 2Tm 3, 15-17, São Paulo afirma: “ E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz a salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito para toda boa obra.”
           A família é o menor grupo natural, a menor comunidade e tem a responsabilidade com a Igreja e a sociedade, de criar pessoas de bem, educadas para a vida e para o amor fraterno.
            Cabe a família educar para a fé, através da vivencia do amor, da oração e da participação na comunidade de fé. Precisa ser fiel aos ensinamentos de Cristo, pois os pais têm o dever de prover as necessidades físicas e espirituais de seus filhos.
            O Catecismo da Igreja no artigo 2685 diz: A  família cristã é o primeiro lugar da educação para a oração. Fundada sobre o sacramento do matrimonio, ele é a Igreja domestica, onde os filhos de Deus aprendem a orar na Igreja e perseverar na oração. Para as crianças , particularmente a oração familiar cotidiana é a primeira testemunha da memória viva da Igreja reavivada pacientemente pelo Espírito Santo.”
              A melhor maneira de ensinarmos nossas crianças é com exemplos, pois não podemos querer façam algo que nunca nos virar fazer. Somos para nossos filhos um referencial muito forte, por isso precisamos praticar o que queremos ensinar.
              Como posso querer que meu filho vá a missa se eu nunca vou?
              Como posso querer que meu filho seja amável se eu sou áspera ?
               Como posso querer que meu filho seja honesto se eu minto?
               Teríamos muitas perguntas fazer, precisamos nos conscientizar, de que como família não estamos de fato cumprindo o nosso dever.
              No corre-corre do dia a dia, não há mais tempo para dedicar as crianças. A mãe  também trabalha fora para poder sustentar a casa, para dar mais conforto e satisfazer os caprichos dos filhos.
             Hoje, substitui-se a falta de tempo para com as crianças com presentes. A mãe não cuida das crianças. E a família sem perceber esta delegando a outros o privilégio de ensinar os filhos.
               Já desde tenra idade as crianças estão na creche, sendo ensinados por estranhos. Depois os pais passam a responsabilidade para a escola. E na parte espiritual querem que a catequista transforme cada criança como que num passe de mágica.
                Mas responsabilidade é da família.
                 O Catecismo da Igreja afirma nos artigos 2224, 5,6 e 7 que:
O lar constitui um ambiente natural para a iniciação do ser humano na solidariedade e nas responsabilidades comunitárias. Os pais ensinarão os filhos a se precaverem dos comprometimentos e das desordens que ameaçam as sociedades humanas.”
“Pela graça do sacramento do matrimonio, os pais receberam a responsabilidade e o privilegio de evangelizar os filhos. Por isso os iniciarão desde a tenra idade nos mistérios da fé, da qual são para os filhos os primeiros arautos. Associá-los desde a primeira infância a vida da Igreja. A experiência da vida em família pode alimentar as disposições afetivas que por toda a vida constituirão autênticos preâmbulos e apoios de uma vida de fé.”
“A educação para a fé por parte dos pais deve começar desde a mais tenra infância. Ocorre já quando os membros da família se ajudam a crescer na fé pelo testemunho de uma vida cristã de acordo com o Evangelho. A catequese familiar precede, acompanha e enriquece as outras formas de ensinamentos da fé. Os pais têm a missão de ensinar os filhos a orar e a descobrir sua vocação de filhos de Deus. A paróquia é a comunidade eucarística e o centro da a vida litúrgica das famílias cristãs ; ela é um lugar privilegiado da catequese dos filhos e dos pais.”
“Os filhos, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade. Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansar o perdão mutuo pelas ofensas, as rixas, as injustiças e os abandonos. Sugere-o a mutua afeição. Exige-o a caridade de Cristo.”
                                                                    Maria Ronety Canibal
     

sábado, 27 de dezembro de 2014

VIVER COM COERÊNCIA



Na festa de Santo Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, o Papa Francisco rezou a oração do Angelus da janela do seu escritório no Palácio Apostólico, diante de uma multidão que o esperava na Praça de São Pedro.
Dirigindo-se aos fieis e peregrinos vindos de todo o mundo, que o acolheram com um demorado e caloroso aplauso, o Pontífice argentino lhes disse:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje a liturgia recorda o testemunho de Santo Estêvão. Escolhido dos apóstolos, junto a outros seis, para a diaconia da caridade, isso é, para ajudar os pobres, os órfãos, as viúvas na comunidade de Jerusalém, ele se torna o primeiro mártir da Igreja. Com o seu martírio, Estêvão honra a vinda no mundo do Rei dos reis, dá testemunho Dele e oferece em doação a sua própria vida, como fazia no serviço aos mais necessitados. E assim nos mostra como viver em plenitude este mistério do Natal.
O Evangelho desta festa reporta uma parte do discurso de Jesus aos seus discípulos no momento em que os envia em missão. Diz entre outros: “Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10, 22). Estas palavras do Senhor não perturbam a celebração do Natal, mas a despojam daquele falso revestimento adocicado que não lhe pertence. Fazem-nos compreender que nas provas aceitas por causa da fé, a violência é derrotada pelo amor, a morte pela vida. E para acolher verdadeiramente Jesus na nossa existência e prolongar a alegria da Noite Santa, o caminho é justamente aquele indicado por esse Evangelho, isso é, dar testemunho de Jesus na humildade, no serviço silencioso, sem medo de ir contracorrente e de pagar pessoalmente. E se não todos são chamados, como Santo Estêvão, a derramar o próprio sangue, a cada cristão, porém, é pedido ser coerente em cada circunstância com a fé que professa. E a coerência cristã é uma graça que devemos pedir ao Senhor. Ser coerentes, viver como cristãos e não dizer: “sou cristão” e viver como pagão. A coerência é uma graça a pedir hoje.
Seguir o Evangelho é, de certo modo, um caminho exigente, mas belo, belíssimo, e quem o percorre com fidelidade e coragem recebe o presente prometido pelo Senhor aos homens e às mulheres de boa vontade. Como cantavam os anjos no dia do Natal: “Paz! Paz!”. Esta paz dada por Deus é capaz de tranquilizar a consciência daqueles que, através das provações da vida, sabem acolher a Palavra de Deus e se empenham em observá-la com perseverança até o fim (cfr Mt 10, 22).
Hoje, irmãos e irmãs, rezemos de modo particular por quantos são discriminados, perseguidos e mortos pelo testemunho dado de Cristo. Gostaria de dizer a cada um deles: se vocês levam esta cruz com amor, entram no mistério do Natal, estão no coração de Cristo e da Igreja.
Rezemos, além disso, para que, graças também ao sacrifício destes mártires de hoje – são tantos, tantíssimos! – se reforce em cada parte do mundo o empenho para reconhecer e assegurar concretamente a liberdade religiosa, que é um direito inalienável de cada pessoa humana.
Queridos irmãos e irmãs, desejo-vos transcorrer serenamente as festas natalícias. Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir, nos apoie no nosso caminho cotidiano, que esperamos coroar, no fim, na festiva assembleia dos santos no Paraíso.
VIA ZENIT

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

ELE CHEGOU









D. José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

Deus cumpriu a promessa e mandou seu Filho. Ele chegou. Está entre nós, como um de nós, para nos ensinar a viver como Ele. Assim consertamos o convívio, com a prática de seus ensinamentos.

É preciso entender porquê, como, para que e para quem Ele veio. Sua presença entre nós, além de salutar, é educativa e transformadora, mesmo não sendo conhecido e até não aceito por muitos. A incidência de sua missão tem efeito saneador para toda a humanidade, em sentido contrário ao estrago feito por nossos primeiros ancestrais e continuado pela humanidade no decorrer dos tempos.
Ele chegou como criança. Sem a malícia danosa do adulto que julga, peca, estraga o convívio, torna-se muito injusto, usa a inteligência e a ciência para privilegiar alguns em detrimento da maioria, discrimina, diminui o valor da família, explora os mais frágeis, faz guerra e armas para ganhar dinheiro e domínio sobre outros, desperdiça alimento enquanto grande parte passa fome... O Deus feito criança nos ensina as virtudes da verdade, do bem, da pureza de intenção, da doação de si pelo bem do outro, da simplicidade, da atitude de servir e não ser servido, da disponibilidade para ajudar a convivência fraterna e amiga. Ensina o tornar-se criança para se alcançar o Reino do céu...
Ele chegou porque nos criou à sua imagem e semelhança. O ser humano desqualificou a habitação de Deus em si e se endeusou. Quando isso acontece, um explora o outro, julga-se com o poder divino deturpado. Nenhum ser humano é Deus. Sem Deus ele se auto-destrói e arrasa o convívio com o semelhante e com a natureza. O Emanuel veio implantar uma nova ordem social. O instrumento necessário por Ele usado e ensinado é o amor. Só o verdadeiro amor, provindo de Deus, constrói.
Sua chegada se dá para dar força à relação salvadora do divino com o humano. Uma vez desfeita essa relação com o pecado da autossuficiência humana, só a vinda do alto pode pontificar a passagem do relativo humano ao absoluto divino. A religião puramente humana não é capaz de fazer isso. O humano, contando só com suas forças, não é capaz de fazer a transposição do natural ao sobrenatural. Foi preciso Deus vir até nós para o entrecruzamento do liame indelével das duas naturezas do Filho de Deus para unir o divino com o humano. A própria fé religiosa, para ter seu efeito de benefício pleno a nós, precisa fazer a ligação das hastes vertical e horizontal, ou seja, de nossa relação com Deus e com o semelhante, na prática da justiça e do amor.
Ele veio para quem é carente, caído, deserdado, pobre, desesperançoso, incapaz de encontrar sozinho o sentido da vida e da solução para seus problemas e limites, para quem se sente e é desumano, buscando socorro para seus limites... Ele é quem precisamos: um de nós com o poder de nos tornar verdadeiramente humanos, cumulando-nos com sua realidade divina! É o Deus-conosco!


FELIZ NATAL 2014

A TODOS DESEJO QUE O MENINO JESUS NASÇA EM CADA CORAÇÃO. . .
E QUE A SUA PAZ SE ESPALHE POR TODA A HUMANIDADE.
FELIZ NATAL!
SAÚDE
AMOR
PAZ

PAPA FRANCISCO - MENSAGEM DE NATAL 2014





«O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles» (Is 9, 1). «Um anjo do Senhor apareceu [aos pastores], e a glória do Senhor refulgiu em volta deles» (Lc 2, 9). É assim que a Liturgia desta santa noite de Natal nos apresenta o nascimento do Salvador: como luz que penetra e dissolve a mais densa escuridão. A presença do Senhor no meio do seu povo cancela o peso da derrota e a tristeza da escravidão e restabelece o júbilo e a alegria.
Também nós, nesta noite abençoada, viemos à casa de Deus atravessando as trevas que envolvem a terra, mas guiados pela chama da fé que ilumina os nossos passos e animados pela esperança de encontrar a «grande luz». Abrindo o nosso coração, temos, também nós, a possibilidade de contemplar o milagre daquele menino-sol que, surgindo do alto, ilumina o horizonte.
A origem das trevas que envolvem o mundo perde-se na noite dos tempos. Pensemos no obscuro momento em que foi cometido o primeiro crime da humanidade, quando a mão de Caim, cego pela inveja, feriu de morte o irmão Abel (cf. Gn 4, 8). Assim, o curso dos séculos tem sido marcado por violências, guerras, ódio, prepotência. Mas Deus, que havia posto suas expectativas no homem feito à sua imagem e semelhança, esperava. Deus esperava. O tempo de espera fez-se tão longo que a certo momento, quiçá, deveria renunciar; mas Ele não podia renunciar, não podia negar-Se a Si mesmo (cf. 2 Tm 2, 13). Por isso, continuou a esperar pacientemente face à corrupção de homens e povos. A paciência de Deus... Como é difícil compreender isto: a paciência de Deus para connosco!
Ao longo do caminho da história, a luz que rasga a escuridão revela-nos que Deus é Pai e que a sua paciente fidelidade é mais forte do que as trevas e do que a corrupção. Nisto consiste o anúncio da noite de Natal. Deus não conhece a explosão de ira nem a impaciência; permanece lá, como o pai da parábola do filho pródigo, à espera de vislumbrar ao longe o regresso do filho perdido; e todos os dias, com paciência. A paciência de Deus!
A profecia de Isaías anuncia a aurora duma luz imensa que rasga a escuridão. Ela nasce em Belém e é acolhida pelas mãos amorosas de Maria, pelo afecto de José, pela maravilha dos pastores. Quando os anjos anunciaram aos pastores o nascimento do Redentor, fizeram-no com estas palavras: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). O «sinal» é precisamente a humildade de Deus, a humildade de Deus levada ao extremo; é o amor com que Ele, naquela noite, assumiu a nossa fragilidade, o nosso sofrimento, as nossas angústias, os nossos desejos e as nossas limitações. A mensagem que todos esperavam, que todos procuravam nas profundezas da própria alma, mais não era que a ternura de Deus: Deus que nos fixa com olhos cheios de afecto, que aceita a nossa miséria, Deus enamorado da nossa pequenez.
Nesta noite santa, ao mesmo tempo que contemplamos o Menino Jesus recém-nascido e reclinado numa manjedoura, somos convidados a reflectir. Como acolhemos a ternura de Deus? Deixo-me alcançar por Ele, deixo-me abraçar, ou impeço-Lhe de aproximar-Se? «Oh não, eu procuro o Senhor!» – poderíamos replicar. Porém a coisa mais importante não é procurá-Lo, mas deixar que seja Ele a procurar-me, a encontrar-me e a cobrir-me amorosamente das suas carícias. Esta é a pergunta que o Menino nos coloca com a sua mera presença: permito a Deus que me queira bem?
E ainda: temos a coragem de acolher, com ternura, as situações difíceis e os problemas de quem vive ao nosso lado, ou preferimos as soluções impessoais, talvez eficientes mas desprovidas do calor do Evangelho? Quão grande é a necessidade que o mundo tem hoje de ternura! Paciência de Deus, proximidade de Deus, ternura de Deus.
A resposta do cristão não pode ser diferente da que Deus dá à nossa pequenez. A vida deve ser enfrentada com bondade, com mansidão. Quando nos damos conta de que Deus Se enamorou da nossa pequenez, de que Ele mesmo Se faz pequeno para melhor nos encontrar, não podemos deixar de Lhe abrir o nosso coração pedindo-Lhe: «Senhor, ajudai-me a ser como Vós, concedei-me a graça da ternura nas circunstâncias mais duras da vida, dai-me a graça de me aproximar ao ver qualquer necessidade, a graça da mansidão em qualquer conflito».
Queridos irmãos e irmãs, nesta noite santa, contemplamos o presépio: nele, «o povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1). Viram-na as pessoas simples, as pessoas dispostas a acolher o dom de Deus. Pelo contrário, não a viram os arrogantes, os soberbos, aqueles que estabelecem as leis segundo os próprios critérios pessoais, aqueles que assumem atitudes de fechamento. Contemplemos o presépio e façamos este pedido à Virgem Mãe: «Ó Maria, mostrai-nos Jesus!»

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

JESUS É O CAMINHO

Caros diocesanos. No retiro do Presbitério, em 2014, nosso assessor, Pe Flávio Martinez, da Arquidiocese de Pelotas/RS, foi convidado a orientar-nos sobre o tema pastoral do ano: Iniciação à Vida Cristã, junto com o texto bíblico referencial dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), destacando a frase: “O que andam conversando pelo caminho?” (Lc 24, 17).

Quando um retirante acolhe a luz do Espírito Santo e participa com empenho generoso dos diversos momentos de um retiro, certamente, abre-se o caminho para um frutuoso exercício espiritual. Não foi diferente, em Vale Vêneto – São João do Polesine/RS. Uma das palavras mais destacadas nas exposições, desde o começo, foi “Caminho”, motivada pelo texto bíblico referencial, em que Jesus aparece aos discípulos de Emaús e caminha com eles, revelando-se aos poucos como o Ressuscitado. Nas reflexões pessoais fui percebendo o quanto esse termo é importante na vida de Jesus e, conseqüentemente, na vida dos seus discípulos, da sua Igreja e de cada um de nós. Não é por nada que Jesus é apresentado no Evangelho de São João como Aquele que se identifica com “o Caminho”. Quando o apóstolo Tomé pergunta: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 5-6). O mesmo sentido é usado por Lucas nos Atos dos Apóstolos, quando ele narra a perseguição de Saulo nas comunidades cristãs: “Saulo apresentou-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de trazer presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse, adeptos do Caminho” (At 9, 1-2). Os primeiros cristãos já consideravam Jesus como o Caminho, aquele que conduz à comunhão com Deus, ou seja, Jesus Cristo é o caminho do divino que vem ao encontro do humano e que possibilita ao humano encontrar-se com o divino. É o sentido teológico da festa natalina. A liturgia fala em troca de dons entre o céu e a terra.

Poderíamos usar ainda outros textos bíblicos que apresentam essa dinâmica peregrina, presente em toda vida de Jesus, que pode ser resumida num longo Caminho, desde Belém até Jerusalém, convidando permanentemente discípulos missionários e discípulas missionárias, em todos os tempos, para segui-lo. Agora chegou a nossa vez. O Papa Francisco fala em “Igreja em saída”, isto é, uma Igreja a caminho missionário!

Estamos no tempo do Natal e ainda desejo apresentar o que São Francisco de Assis, o criador do presépio, em Greggio – Itália - escreveu sobre o nascimento de Jesus que, segundo ele aconteceu a caminho: “Um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós (cf. Is 9, 6) no caminho e foi colocado no presépio (cf. Lc 2, 7) porque ele não tinha um lugar na hospedaria (cf. Lc 2, 7)” (Ofício da Paixão do Senhor, 5ª parte – No Tempo do Natal do Senhor, 7). Sim, Jesus nasceu no caminho, na realidade dos pequenos de sua época, numa gruta de animais, nos arredores de Belém, recebendo a visita de humildes pastores.

No Natal de 2014 o Senhor quer nascer no caminho de nossa vida, em nossa realidade concreta: nosso coração, família, comunidade, pastoral, escola, serviço, movimento, associação, trabalho, convivência social... Ele quer estar junto a nós, e com todos, pois veio para ser o Emanuel: Deus conosco (Is 7, 14). Há lugar para Ele no caminho de nossa vida? Caso tivermos, convidemo-lo e Ele caminhará conosco. Feliz Natal, com Sua presença, e Abençoado Ano Novo - Ano da Animação Bíblica da Vida e da Pastoral - em nossa Diocese! Que Ele torne-se sempre mais ‘tenda da Palavra’ entre nós, pois Ele é a Palavra que se fez carne (cf Jo 1, 14). Feliz Natal para todos!

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

domingo, 30 de novembro de 2014

Ano da paz, novo advento


Dom Walmor Oliveira de Azevedo 
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A Igreja Católica decidiu, durante a Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promover um Ano da Paz. Essa decisão importante fundamenta-se na urgência de unir esforços para transformar a realidade e lutar, incansavelmente, na promoção da paz, que é um dom de Deus, entregue aos homens e mulheres de boa vontade pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Salvador e Redentor.

Ao investir na promoção do Ano da Paz, a Igreja, a partir de sua tarefa missionária de anunciar Jesus Cristo e seu Reino, empenha-se e busca sensibilizar outros segmentos da sociedade para enfrentar a violência, que atinge de modo arrasador a vida, a dignidade humana e as culturas. Uma fonte de sofrimento que ameaça o futuro da humanidade, com graves consequências para diferentes povos e sociedades. Ao promover o Ano da Paz, a CNBB aciona a grande rede de comunidades de fé que forma a Igreja no Brasil para que, em parceria com outras instituições, seja cultivada uma consciência cidadã indispensável na construção de uma sociedade sem violência. Para isso, conforme ensina Jesus no Sermão da Montanha, é necessária a vivência de uma espiritualidade que capacite melhor os filhos de Deus, tornando-os construtores e promotores da paz.
Trata-se de um percurso longo a ser trilhado, uma dinâmica complexa a ser vivida, para que o coração humano torne-se coração da paz. O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, sublinha que, enquanto não se eliminarem a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível erradicar a violência que, venenosamente, consome vidas, mata sonhos e atrasa avanços.
A vivência do Ano da Paz é uma tarefa que deve ser assumida pelos homens e mulheres de boa vontade, empenhados no trabalho de contribuir para que cada pessoa se reconheça como um coração da paz. Esse serviço deve ser vivido de modo criativo, sem enrijecimentos ou complicações, valendo-se de estruturas, instituições, especialmente as educativas e os meios de comunicação. No exercício dessa tarefa, é preciso cultivar uma espiritualidade que determina rumos. Ao mesmo tempo, torna-se imprescindível exercitar a intrínseca dimensão política de nossa cidadania, lutar pelo estabelecimento de dinâmicas e processos que ajudem a avançar na erradicação dessa assombrosa e crescente onda de violência que se abate sobre nossa sociedade, provocada, de certo modo, pela mesquinhez que caracteriza o mundo atual.
A vivência do Ano da Paz, ainda que sem impactantes eventos, é a esperança de que as ações simples e cotidianas, de cada pessoa, podem provocar grandes mudanças, especialmente as culturais, que contribuem para a manutenção da violência. No Brasil, por exemplo, as estatísticas mostram que, anualmente, o número de homicídios é equivalente ao de guerras pelo mundo afora. Não se pode abrir mão de análises profundas com força sensibilizadora, capaz de despertar certa indignação sagrada e cidadã. Também são importantes os debates em congressos, seminários e outras modalidades, aproveitando oportunidades variadas para se falar do tema da violência e suas consequências, que acabam com tudo – inclusive com a possibilidade de se partilhar ocasiões festivas.
A ausência da paz inviabiliza, por exemplo, que os diferentes partilhem momentos de festa nos estádios de futebol, de modo saudável, alegre e fraterno. Infelizmente, prevalecem situações de selvageria nos estádios e nas ruas. A violência se faz presente também no ambiente das empresas, escritórios e, abominávelmente, no sacrossanto território da família, pela agressividade contra as mulheres. A ausência da paz nos lares, o desrespeito às mulheres, impede que crianças e jovens desfrutem do direito insubstituível de ter uma família, escola do amor e humanização.
Que o Ano da Paz comece sempre pelo exercício eficaz de se silenciar, em comunhão com os membros da própria família, nos escritórios, salas de aulas, nas igrejas, nas reuniões e em outros grupos. Um minuto de silêncio pode fazer diferença no cultivo da paz no próprio coração, tornando-o um coração da paz. Nesse caminho, cada pessoa se qualifica para atuações mais comprometidas na mudança de cenários, valorizando os pequenos gestos e as pequenas mudanças na construção da grande e urgente transformação cultural, um “passo a passo” para vencer a violência. Do tempo do Advento - preparação para o Natal deste ano - até a celebração do Natal em 2015, vamos vivenciar o Ano da Paz, oportunidade para cultivar uma densidade interior. Essa experiência permitirá a todos, no dia a dia, em diferentes oportunidades, com gestos e ações, contribuir para o novo advento, a paz entre nós.