sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Maria no diálogo ecumênico: um novo caminho



O que devemos lancetar definitivamente de nossa pastoral é o ecumenismo do tanto faz, que, na verdade, constitui um irenismo inoportuno, totalmente descartado pelo Concílio Vaticano II.
Por Edson Sampel

SãO PAULO, 05 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Ultimamente a Santa Sé resolveu adotar um novo caminho de diálogo com os irmãos separados, principalmente com os evangélicos.. Em vez de se tratar de temas comuns à Igreja e às comunidades eclesiais oriundas da chamada Reforma, exemplificativamente, a teologia trinitária, põe-se na mesa de discussão uma temática caracteristicamente católica, como, por exemplo, a mediação de Maria santíssima.
Esta nova forma de ecumenismo promete ótimos frutos, porquanto apresentamos aos irmãos separados o que possuímos de melhor, nosso tesouro inestimável. Em havendo boa vontade de ambos os lados, católico e protestante, decerto o entendimento doutrinário poderá mesmo avançar sobremaneira.
Não é impossível! Outro dia, assistindo a um programa de certa televisão evangélica, ouvi um pastor dizer que se Maria é mãe de Jesus e se Jesus é Deus, conclui-se que Maria é mãe de Deus. O indigitado pastor tirou essa conclusão espontaneamente, sem nenhum esforço ecumênico.
O que devemos lancetar definitivamente de nossa pastoral é o ecumenismo do “tanto faz”, que, na verdade, constitui um irenismo inoportuno, totalmente descartado pelo Concílio Vaticano II. Com efeito, a Congregação para a Doutrina da Fé, já em 1966, emitiu uma carta sobre opiniões errôneas na interpretação dos decretos conciliares, lamentando que “(...) não falte quem, interpretando a seu modo o decreto conciliar [Unitatis Redintegratio], exija uma ação ecumênica que vá contra a verdade, assim como contra a unidade da fé e da Igreja, fomentando um perigoso irenismo e indiferentismo, que é totalmente alheio à mente do Concílio.” (n. 10). Muitas vezes, ouvimos esta frase: “vamos nos focar no muito que nos une e não no pouco que nos separa”. Ora, temos de ser realistas, pois, do ponto de vista doutrinário, existe uma diferença colossal entre um católico e um evangélico. Não é pouco! É muito! Só para dar uma ideia: a denominada Reforma não aceita nenhum dos sete sacramentos, exceto o batismo e, mesmo assim, para algumas comunidades eclesiais, o mencionado sacramento não é indispensável à salvação.
O bem-aventurado João Paulo II nos dá uma pista do papel que santa Maria desempenha no ecumenismo. Fá-lo na encíclica Redemptoris Mater. Escreveu o papa: “(...) é preciso que os mesmos cristãos aprofundem em si próprios e em cada uma de suas comunidades aquela ‘obediência de fé’ de que Maria santíssima é o primeiro e o mais luminoso exemplo..” (n. 29b).
A união entre todos os cristãos é muito importante, desejada pelo próprio Cristo (Jo 17,21), mas só será factível à medida que nós soubermos dar as razões de nossa fé àqueles que nos indagarem (1Pd 3,15), tornando-nos, teologicamente falando, cem por cento católicos.
Edson Sampel é Teólogo e Doutor em Direito Canônico. Membro da Academia Marial de Aparecida (AMA).

"Sair das próprias fronteiras, anunciar o Evangelho, edificar a Igreja

Em seu segundo discurso na reunião dos Bispos do Brasil, no Rio de Janeiro, o card. Filoni indica os três modos como a Igreja local pode participar da missio ad gentes
via internet
 - Sair das próprias fronteiras, anunciar o Evangelho, edificar a Igreja. Estes são os três princípios sobre os quais a Igreja deve orientar-se para participar da “missio ad gentes” e cumprir o seu mandato original. Quem disse isso foi o cardeal Fernando FIloni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos povos, durante a sua segunda conferência no curso de estudo que a cada ano reúne 97 Bispos brasileiros no Rio de Janeiro para aprofundar temas ligados ao Concílio Vaticano II.
Ontem, o cardeal tinha se fixado na visão conciliar da vocação missionária da Igreja como expressada pelo Decreto sobre a Atividade Missionária da Igreja ‘Ad Gentes’, no 1965. Na sua segunda conferência, informou a agência Fides, continuou a reflexão concentrando-se especialmente na participação das Igrejas locais na missio ad gentes.
"A Igreja que fala o Concílio é a comunidade eclesial que, enraizada na história, percorre os caminhos dos homens e das mulheres de todas as épocas, até o cumprimento da história mesma”, disse Filoni. O Vaticano II, acrescentou, “emoldura a identidade missionária da Igreja no mistério trinitário e naquele cristológico, intrinsecamente ligando-o com a salvação realizada em Cristo, da qual a Igreja é sinal e instrumento".
O Prefeito de Propaganda Fide destacou portanto o que a constituição Lumen Gentium afirma sobre a natureza missionária da Igreja, observando que "a afirmação da natureza eclesial essencialmente missionária refere-se à Igreja seja universal, seja local e/ou particular". A Igreja - disse - fiel ao mandato do Senhor e animada pelo Espírito, "continua a enviar arautos do Evangelho, até que as novas Igrejas estejam totalmente estabelecidas e continuem por sua vez a obra da evangelização".
Três, portanto, são as etapas entre si relacionadas que indicam como a Igreja local possa participar da missio ad gentes: "Sair das próprias fronteiras, anunciar o Evangelho, edificar a Igreja”.. “A expressão sair das próprias fronteiras’ – explicou Filoni – refere-se a um movimento que não equivale a apenas deixar um espaço geográfico para habitar outro.... implica também esse deslocamento de tipo cultural... tal deslocamento pode acontecer também dentro de um mesmo território ou em espaços vituais”.
A segunda referência é o mandato missionário: "Enviado pelo Pai, Cristo envia por sua vez os próprios apóstolos/discípulos, transmitindo-lhes aquele poder que ele mesmo recebeu do Pai e dando-lhes o seu Espírito. Trata-se de um envio que vincula a Igreja e os seus membros de uma forma não extrínseca, embora as fases, os tempos, os conteúdos e as finalidades da missão não dependam do enviado, mas daquele que envia”.
Portanto, o cardeal destacou a importância de duas áreas para a participação da igreja local na missio ad gentes: a atenção para as áreas e a implementação de processos dialógicos. Para desenvolver o tema da pregação do Evangelho, o cardeal, em seguida, usou como referência o Capítulo 2 do livro dos Atos dos Apóstolos, observando como um conceito essencial que "o anúncio kerygmático que cria a Igreja-comunhão interpela o ser humano na concretude seja da própria experiência pessoal, seja da própria pertença a um específico contexto cultural”, portanto corroborou “o compromisso da Igreja destinado à enculturação e à contextualização do anúncio evangélico”.
O conceito de edificar a Igreja, por fim, não deve ser entendido meramente do ponto de vista quantitativo, mas – esclareceu o purpurado – “a missio ad gentes requer hoje uma reflexão a mais sobre a figura da Igreja, identificando traços caracterizantes que mais adequadamente expressam a verdadeira natureza e missão no clima de hoje". Assim, indicando essas características, o Prefeito do Dicastério Missionário, em seguida, invocou uma Igreja que seja "responsável e acolhedora", "descentralizada e dinâmica" e "a serviço do Reino".(S.C./Trad.TS)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A celebração eucarística é mais do que um simples banquete, é o memorial da páscoa de Jesus, o mistério central da salvação



Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira

Por Redacao

ROMA, 05 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje falarei a vocês da Eucaristia. A Eucaristia coloca-se no coração da “iniciação cristã”, junto ao Batismo e à Confirmação, e constitui a fonte da própria vida da Igreja. Deste Sacramento de amor, de fato, nasce cada autêntico caminho de fé, de comunhão e de testemunho.
Aquilo que vemos quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos para viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se um altar, que é uma mesa, coberta por uma toalha e isto nos faz pensar em um banquete. Na mesa há uma cruz, a indicar que sobre aquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali se recebe, sob os sinais do pão e do vinho. Ao lado da mesa há o ambão, isso é, o lugar a partir do qual se proclama a Palavra de Deus: e isto indica que ali nós nos reunimos para escutar o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e então o alimento que se recebe é também a sua Palavra.
Palavra e Pão na Missa tornam-se um só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que havia feito, condensaram-se no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antes do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: “Tomai, comei, isto é o meu corpo…Tomai, bebei, isto é o seu sangue”.
O gesto de Jesus cumprido na Última Ceia é o extremo agradecimento ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. “Agradecimento” em grego se diz “Eucaristia”. E por isto o Sacramento se chama Eucaristia: é o supremo agradecimento ao Pai, que nos amou tanto a ponto de dar-nos o seu Filho por amor. Eis porque o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é gesto de Deus e do homem junto, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Então a Celebração Eucarística é bem mais que um simples banquete: é propriamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério central da salvação. “Memorial” não significa somente uma recordação, uma simples recordação, mas quer dizer que cada vez que celebramos este Sacramento participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.
 A Eucaristia é o ápice da ação da salvação de Deus: O Senhor Jesus, se fez pão partido por nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e seu amor, e assim renova o nosso coração, a nossa existência e a maneira como nos relacionamos com Ele e com os irmãos.
É por isto que sempre, quando nos aproximamos deste sacramento, se diz de: “Receber a Comunhão”, de “fazer a Comunhão”: isto significa que o poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística se conforma de modo profundo e único a Cristo, nos fazendo experimentar já a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste, onde com todos os Santos teremos a alegria de contemplar Deus face a face.
Queridos amigos, nunca conseguiremos agradecer ao Senhor pelo dom que nos fez com a Eucaristia! É um grande dom e por isto é tão importante ir à Missa aos domingos.
Ir à missa não somente para rezar, mas para receber a Comunhão, este pão que é o Corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa, nos une ao Pai. É muito bom fazer isto! E todos os domingos, vamos à Missa porque é o próprio dia da ressurreição do Senhor. Por isto, o domingo é tão importante para nós.
E com a Eucaristia sentimos esta pertença à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isto, pedimos que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai. E isto se faz durante toda a vida, mas tudo começa no dia da primeira comunhão.
É importante que as crianças se preparem bem para a primeira comunhão e que todas as crianças a façam, porque é o primeiro passo desta forte adesão a Cristo, depois do Batismo e da Crisma.

"Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza"



Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014

CIDADE DO VATICANO, 04 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014. Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9)
Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: « Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza » (2 Cor 8,9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?
1. A graça de Cristo
Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: « sendo rico, Se fez pobre por vós ». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, « esvaziou-Se », para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2,7; Heb 4,15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus « trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado » (ConC. ECum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).
A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – « para vos enriquecer com a sua pobreza ». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a « insondável riqueza de Cristo » (Ef 3,8), « herdeiro de todas as coisas » (Heb 1,2).
Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10,25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu « jugo suave » (cf. Mt 11,30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua « rica pobreza » e « pobre riqueza », a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8,29).
Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.
2. O nosso testemunho
Poderíamos pensar que este « caminho » da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.
À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.
Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.
O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.
Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser « tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo » (2 Cor 6,10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um mundo a ser transformado



Jesus anunciou a realidade do Reino de Deus, tão grande que foram necessárias comparações, as parábolas, para aproximar as pessoas de tal realidade e comprometê-las com seu crescimento. O Reino está presente no mundo e haverá de crescer cada dia mais, primeiro com a força da graça de Deus, mas também com nossa colaboração. A Igreja anuncia e faz presente este Reino de Deus, dando aos homens e mulheres que aderem ao Evangelho de Jesus a possibilidade de viver, desde já, as realidades da plenitude do tempo em que Deus será tudo em todos (Cf. 1 Cor 15,28). Até lá, “muita água deverá passar debaixo da ponte”, pelo que a tarefa assumida pelos cristãos se torna exigente e comprometedora.

Como estar presentes num mundo tão desafiador, com uma escandalosa inversão de valores, cujos efeitos de multiplicam e assustam tanto? Como mudar o rumo, quando vemos com clareza que se escorrega para crises cada vez mais profundas? Como se decidir de novo a sair do caos da violência e da desagregação social? Qual será a presença qualificada e efetiva dos cristãos no meio de tantos problemas? O Espírito Santo nos inspira e com docilidade desejamos seguir suas inspirações, sem omissões nem precipitações.

O Sermão da Montanha, cuja leitura acontece durante este período na Liturgia Dominical da Igreja, é chamado “Carta do Reino”, como a Constituição do Reino de Deus. Quem desejar entrar neste Reino e viver seus valores, pode começar com as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), para depois saborear as palavras que brotaram da boca do Senhor, treinando para que uma sadia avidez nos conduza a degustá-las e colocá-las em prática. 

Duas realidades da natureza se prestam ao anúncio do Reino de Deus e à prática do Evangelho em todos os tempos, a saber, o Sal e a Luz (Mt 5,13-16). As parábolas são breves e incisivas, portadoras de sabedoria, como só do Senhor Jesus podem vir. Sal da Terra e Luz do mundo, assim deve ser o discípulo do Reino, esta é a vocação do cristão.

O sal comparece muitas vezes na Escritura e nas palavras de Jesus. Sal remete a gosto, sabor, que, por sua vez, conduz à sabedoria. O sal, na medida certa, faz com que os alimentos ganhem seu próprio sabor. Ele faz vir à tona o que existe de melhor nos alimentos. O sal, posto com exagero na comida, acaba fazendo mal. Não se trata tanto de senti-lo, mas permitir que ele faça aparecer o gosto das coisas. Conheço pessoas discretas em seu modo de viver, mas profundas em palavras e atitudes, carregadas de sabedoria, sem as quais a vida ficaria insossa. Muitas delas sabem fazer as observações certas na hora certa, escutam bastante antes de tirar conclusões, medem com prudência suas intervenções e fazem o mundo ser melhor. Fazem lembrar a recomendação de São Paulo: “Tratai com sabedoria os que não são da comunidade, aproveitando bem o momento. Que vossa conversa seja sempre agradável, com uma pitada de sal, de modo que saibais responder a cada um como convém” (Cl 4,5-6). Carecemos de mais gente “com sal”! 

O excesso de tempero, passado à vida cotidiana, pode alertar-nos para o risco dos muitos fanatismos presentes em nosso tempo. Um protagonismo que pretenda fazer dos cristãos os proprietários do mundo é fadado ao fracasso. Somos chamados a ser servidores, homens e mulheres qualificados e ao mesmo tempo cheios de simplicidade.

Luz do Mundo! Jesus é a Luz do Mundo (Jo 8,12) e quem o segue não anda nas trevas. Quando fomos batizados, uma vela acesa foi entregue para significar uma missão confiada a cada cristão, chamado a iluminar as estradas da vida. Os que foram iluminados por Cristo na graça batismal são chamados a uma missão semelhante àquela do Senhor, para que a luz se espalhe. O bom exemplo edifica e arrasta as pessoas, atraindo-as irresistivelmente. O testemunho cristão atrai e transforma. 

Mas também aqui se faz necessário observar que não fomos feitos para ofuscar quem quer que seja. Cristão não é feito para aparecer, a modo de desequilibrado vedetismo, mas chamado a conduzir, pelo seu comportamento, as pessoas ao próprio Deus. “Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Testemunho bom é aquele que conduz à fonte! Duas tarefas desafiadoras a serem assumidas pelos cristãos.

A Palavra de Deus, no Profeta Isaías, pode abrir-nos uma das formas bem concretas para ajudarmos o mundo a ser melhor: “Se tirares do teu meio toda espécie de opressão, o dedo que acusa e a conversa maligna, se entregares ao faminto o que mais gostarias de comer, matando a fome de um humilhado, então a tua luz brilhará nas trevas, o teu escuro será igual ao meio-dia” (Is 58, 9-10). O escândalo cotidiano da opressão dos mais fracos tem exigido da Igreja, e Papa Francisco, em primeira linha, tem alertado a todos, uma nova atenção e criatividade da caridade.

O apelo se dirige a todos, pois há muita falta de gosto e de sentido para a existência, assim como tanta escuridão, bem perto de nós. Referindo-se à situação econômica do mundo, diz o Papa: “Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras». Os excluídos continuam a esperar. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma (Evangelii gaudium 53-54). É para começar já!

Dom Alberto Taveira Corrêa
VIA INTERNET

LAICIDADE OU LAICISMO?


 
          Nos últimos tempos assistimos a manifestações, muitas vezes de grupos minoritários, em que é usada, indistintamente, uma linguagem que confunde laicidade e laicismo para justificar qualquer forma ou atitude de vida, criando confusões e perplexidade em muitas pessoas, sobretudo para quem segue por caminhos de inspiração religiosa. A Congregação para a Doutrina da fé nos ajuda a esclarecer a questão: “A laicidade entendida como autonomia da esfera civil e política em relação à esfera religiosa e eclesiástica, nunca na esfera moral, é um valor adquirido e reconhecido pela Igreja” (As Razões da Fé na Ação Evangelizadora – CNBB – Subsídios Doutrinais 7, p. 80). Portanto, a Igreja reconhece a laicidade com sua autonomia de expressão, porém não se anulam com isso as responsabilidades morais. E é provado também que a ética, sendo acompanhada por valores como a fé e a caridade, possui bem mais condições de responder eficazmente aos problemas da vida humana. Neste contexto da chamada laicidade, surgem facilmente afirmações e comportamentos que, a pretexto de laicidade, podem ser identificados claramente como laicismo, entendido este, habitualmente, como atitude hostil à religião, a qualquer manifestação religiosa, como a presença de símbolos religiosos em espaços públicos. O que nos faz lembrar a recente movimentação contra a presença da cruz em repartições públicas. Estas pessoas ou grupos desejarão tirar o Cristo do Corcovado ou mudar o nome dos Estados de São Paulo, Santa Catarina e do Espírito Santo? O laicismo não somente demonstra antipatia pela religião, mas quer erradicá-la da vida pública, por vezes com atitudes radicais e agressivas que até contradizem as bandeiras minoritárias que defendem.
          Da parte da Igreja há o reconhecimento da autonomia do Estado em relação a todas as religiões. Mas o Estado democrático, mesmo sendo multicultural, eleito legitimamente, não pode ser considerado ateu, pois os cidadãos que representa, professam credos religiosos e merecem respeito e não podem ser influenciados ou manipulados por minorias, pois referir-se a Deus não significa priorizar alguma religião, mas se trata de defender o direito das religiões professarem sua crença e celebrarem seus ritos. Não basta, portanto, a simples liberdade religiosa para garantir a plena liberdade de todos os cidadãos, que está baseada em valores universais comuns a todo gênero humano. Dessa forma a religião deixa de ser tratada exclusivamente no mundo do privado e do subjetivo, como tantas vezes se pretende difundir e generalizar, sobretudo, através da grande mídia.
          A laicidade deve ser compreendida hoje como busca de uma interação equilibrada entre pensamento religioso e secular. Pelo fato de ser democrático, o Estado não pode excluir a religião das grandes questões que envolvem a vida da sociedade como, por exemplo, a bioética, a natureza humana, a família, a educação, a secularização, inclusive a finalidade da própria política, como serviço ao bem comum.
          Como afirmou Bento XVI: “Não impomos a fé a ninguém. Um semelhante gênero de proselitismo é contrário ao cristianismo. A fé pode desenvolver-se unicamente na liberdade. Mas é à liberdade dos homens que apelamos para que se abram a Deus, o procurem, o ouçam” (Idem, p. 80). A Igreja recebeu a graça e o dever de tornar a fé em Jesus Cristo acessível a todos os que estão à procura de Deus, ou estão abertos para o diálogo a respeito da fé. E lembremo-nos sempre que o cristianismo se difunde, não por proselitismo, mas pelo testemunho de vida no amor.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Uruguaiana

"O ecumenismo não é política, nasce da fé


Francisco Ecumênico

via zenit

"Estamos aqui com o desejo de dar mais um passo no necessário caminho em direção à unificação plena de todos os cristãos. Esta unidade, somos bem conscientes, só pode ser o fruto superabundante da graça do Ressuscitado. É Ele que sempre toma a iniciativa”. Com estas palavras o Arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola cumprimentou hoje em Istambul o Fanar, sede do Patriarcado Ortodoxo, o patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. A reunião retribui a visita de Bartolomeu a Milão, acontecida em 14 e 15 de maio de 2013, durante as comemorações dos 1700 anos desde da assinatura do Édito de Milão, pelo qual o imperador Constantino , fundador da cidade no Bósforo, reconheceu a liberdade religiosa.
"Queremos expressar a nossa solidariedade e nosso apoio para que se restaure plenamente a liberdade da Igreja nas vossas terras”, continuou o cardeal Scola referindo-se à difícil situação dos cristãos na Turquia. "Não existe, de fato, liberdade religiosa onde ela não é reconhecida a todos e a cada um. Embora as situações no Oriente e no Ocidente sejam diferentes – e diferentes, portanto, também os problemas a serem enfrentados - a ação em favor da plena liberdade religiosa nos encontra unidos firmemente. Uma mistura importante de etnias, culturas e religiões caracteriza a vida diária de nossas cidades. Os povos e as nações são, portanto, chamados a aprender e a aprofundar a boa prática de estarem juntos. A esta tarefa, comum a toda a família humana, nossas igrejas podem dar uma contribuição valiosa. A esse compromisso em favor da liberdade religiosa e da busca do bem comum em nossas sociedades pertencem plenamente as atividades de colaboração entre o Patriarcado Ecumênico, as Igrejas Ortodoxas e a Igreja Católica".
Daí o compromisso real anunciado em Istambul pelo Cardeal Scola: "Neste contexto queremos humildemente introduzir a contribuição da Igreja milanesa, que tem em Santo Ambrósio o seu padroeiro. Penso na boa cooperação, na atenção pastoral aos fieis ortodoxos presentes na nossa diocese. Refiro-me também ao apoio para formação e divulgação do pensamento teológico. Não deixaremos, Santidade, de incrementar tal colaboração e abrir a nossa porta para novas iniciativas”.
Após esta primeira reunião, o cardeal Scola e Bartolomeu falaram na apresentação do livro "Papa XVI Benedikt, Aziz Pavlus" (edição Fondazione Internazionale Oasis) tradução turca de 20 catequeses que Bento XVI dedicou a São Paulo durante o ano paulino 2008-2009).
A iniciativa foi organizada pela Fundação Internacional Oasis e pela Conferência Episcopal turca e contou com a presença também de Monsenhor Louis Pelâtre (vigário apostólico de Istambul), Niyazi Öktem (professor de Filosofia do direito na Universidade Dogus e Fatih de Istambul) e Erendiz Özbayoglu (professor emérito de Línguas e Literatura Latina na Universidade de Istambul).
"A primeira preocupação do ecumenismo não é política, sintonizar as vozes para fazer-se escutar melhor, mas teológica: a busca da unidade dos cristãos vem da mesma fé", disse Scola em seu discurso. O caminho pleno de unificação entre todos os cristãos “é uma troca de dons, não a busca de uma aliança estratégica”, ou um modo “de reivindicar melhor e com mais força alguns direitos”, explicou o Cardeal reiterando que “destacar isso tira também toda sombra de dúvidas que os não cristãos – no nosso caso os nossos amigos muçulmanos - poderiam alimentar sobre a finalidade da nossa atividade”.
Referindo-se à figura de São Paulo, o cardeal destacou que "os cristãos de todas as denominações (mais de um bilhão de fieis) concordam em reconhecer em Paulo uma figura central para a sua fé", de tal forma que, “qualquer um que queira conhecer o Cristianismo terá que lidar com os seus escritos". Mas São Paulo não é essencial só para os cristãos. Não se pode ignorar São Paulo “até mesmo se quero compreender a filosofia ocidental, a história ocidental, a arte ocidental ou até mesmo a política”, explicou o Cardeal.
No entanto, "se a figura de São Paulo é uma fonte permanente de inspiração à qual todos os cristãos, católicos, ortodoxos e evangélicos, podem continuamente chegar, devemos reconhecer também com realismo – disse o Cardeal que “ela é, pelo contrário, um motivo de divergência na relação com os muçulmanos. Muitos deles olham com suspeita para a obra de Saulo, não raro acusado de uma radical distorção do primitivo anúncio cristão”.
Porém, “um confronto sério” com Paulo “poderia ser muito útil para o debate em curso no Islã”. “Paulo foi o primeiro grande teórico da distinção entre letra e espírito de um texto” e justamente “uma cópia análoga de conceitos foi desenvolvida também pela exegese islâmica do Alcorão e de acordo com muitos pensadores muçulmanos contemporâneos , ela é essencial para ser capaz de combinar profundamente o Islã com a modernidade".
O encontro desta tarde é o primeiro compromisso da visita do cardeal Scola na Turquia, que secunda as iniciativas da diocese de Milão para a Semana de Oração pela Unidade dos cristãos do 18 ao 25 de janeiro. Os próximos compromissos serão amanhã, sábado, 1 fevereiro, com a visita à Faculdade teológica na ilha de Calchi, e domingo, 2 de Fevereiro com a participação do purpurado na Divina Liturgia da Apresentação no Templo.
Tradução Thácio Siqueira

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Milhares se manifestam na França a favor da família tradicional



500 mil pessoas contrárias ao casamento homossexual, à lei ABCD e à lei de reprodução assistida
Por Sergio Mora

ROMA, 03 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Milhares de pessoas se manifestaram neste domingo, na França, contra uma série de medidas contrárias à família adotadas pelo governo socialista do presidente François Hollande. Entre elas, a aprovação da lei que autoriza o casamento e a possibilidade de adoção de filhos por parte de casais homossexuais. Em número que oscila entre 80 mil, segundo a polícia, e 500 mil, segundo os organizadores, os franceses marcharam com o lema “Família, educação, solidariedade, dignidade”.
Os manifestantes foram reunidos pelo movimento “La manif pour tous” (A manifestação para todos), que, no ano passado, levou às ruas aproximadamente um milhão de pessoas para protestar contra os projetos dessas mesma leis, hoje agrupados na “lei Taubira”..
Entre os manifestantes há desde setores conservadores católicos até muçulmanos, judeus, associações laicas e até mesmo associações homossexuais que não concordam nem com o casamento nem com as adoções por parte de homossexuais.
Em grande número, os pais e mães franceses se uniram à marcha. Nos últimos dias, eles não levaram os filhos à escola porque decidiram boicotar uma matéria experimental sobre a “teoria de gênero”, denominada “ABCD da Igualdade” e imposta pelo Ministério da Educação do país.
O boicote às escolas teve grande adesão. Segundo a mídia local, alguns colégios viram um terço dos alunos ficarem em casa e outros tiveram até 50% dos alunos ausentes das aulas.
O ministro francês da Educação, Vincent Peillon, se viu obrigado na última terça-feira a declarar que “as escolas francesas não ensinam a homossexualidade às crianças”.
Os manifestantes lamentam também a aprovação do aborto pela Câmara de Deputados e destacam o perigo de que o próximo passo seja a reprodução assistida para lésbicas e o uso de “barrigas de aluguel”, projetos que devem ser propostos ao parlamento em abril.
Esta marcha acontece uma semana depois dos protestos contra o governo de Hollande que deixaram 19 policiais feridos e mais de 200 cidadãos presos. O ministro do Interior, Manuel Valls, declarou: “Não toleraremos nenhum excesso violento, nenhum ataque contra a polícia”.
“Não houve violência nenhuma”, disseram os porta-vozes de “La Manif pour Tous”, reiterando que não se trata de uma questão política, mas de princípios universais

"Missio ad gentes": dispostos a dar a vida por gratidão a Cristo



Os testemunhos das famílias enviadas pelo papa a pregar o Evangelho em todas as partes do mundo
Por Salvatore Cernuzio, Junno Arocho

ROMA, 03 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - "Evangelizem com amor, sejam missionários zelosos e alegres, não percam a alegria". Este é o mandamento do papa Francisco para as mais de 400 famílias do Caminho Neocatecumenal, enviadas neste fim de semana para anunciar o Evangelho de Cristo ressuscitado em todos os cantos da terra. Palavras, as do Santo Padre, que entraram para o tesouro de todas as 174 famílias que participarão das novas quarenta “missiones ad gentes” nas áreas mais descristianizadas da Europa, das Américas e da Ásia.
Estas missões "ad gentes" são uma forte ferramenta que o Caminho oferece aos bispos, que confiam nos testemunhos de amor e de perfeita unidade das famílias cristãs para reaproximar a Igreja das pessoas afastadas dela. São mães e pais que, junto com os filhos, respondem a esse chamado deixando de lado a casa, o trabalho, as amizades, na certeza de que o maior dom que o homem de hoje pode receber é conhecer o amor de Jesus Cristo.
É o mesmo amor que eles próprios experimentaram em primeira mão, como relatam Pedro e Carmen, um casal de Nova Jersey, pais de seis filhos, um dos quais no seminário em Dallas. Eles foram enviados pelo Santo Padre para a missão na Filadélfia. "Deus realmente me tirou de uma situação de morte", diz Pedro a ZENIT: "Eu morava na rua, no meio das gangues, imerso nas drogas. Deus me fez um homem novo, me deu uma esposa, me deu filhos e, acima de tudo, me deu uma família cristã. Ouvimos este chamado a ir pelo mundo anunciando o amor que Deus tem por nós".
“É claro, existe medo, mas, como eu disse, eu já tive a experiência de que Deus abriu um caminho para mim, para escapar da morte, e me deu a felicidade... Indo além das dificuldades, que com certeza vamos ter, eu confio nele”.
“Estou com mais medo pelos meus pecados do que pela missão", diz a mulher, "mas eu me lembro de onde Deus me tirou e das graças reais que Ele me deu: um casamento de 18 anos, seis filhos... E que eu não mereço". Quando perguntamos se os filhos estão felizes com a escolha dos pais, as próprias crianças respondem diretamente e em uníssono: "Siiiiiim! Estamos muito felizes!". Carmen termina: "Estamos muito felizes em fazer essa missão e eu mal posso esperar para me jogar nela e ver o que o Senhor preparou para nós".
O Santo Padre disse em seu discurso: "O Senhor sempre nos precede" e prepara um caminho mesmo "nos lugares mais remotos" e “nas mais diversas culturas”. Certos disso, Miguel e Beatriz, uma família com quatro filhos e sete "no céu", saiu da Espanha no ano passado rumo a Manchester. “Inicialmente foi bem difícil”, conta Miguel a ZENIT. “A língua, os costumes, a comida... Ficamos um ano ‘em estado de humildade’, sem conseguir nos comunicar, entender... Mas Deus nunca deixou de ajudar nem de fortalecer a nossa fé, dando-nos até as coisas concretas, como a casa, o trabalho...".
"O que mais nos impressionou foi ver como os nossos filhos se adaptaram rápido! Eles estavam felizes logo na chegada e aprenderam um inglês excelente". Esta missão, conclui o pai de família, é "a nossa maneira de dizer obrigado a Deus por tudo o que Ele fez, pela vida que Ele deu para nós e para os nossos filhos".
Também por gratidão, Cedric, Cristine e os quatro filhos decidiram partir em missão para Rajkot, na Índia. Um ato de fé extraordinário, considerando que o país é conhecido pela perseguição contínua contra os cristãos. "Os riscos são muitos", diz o indiano, falando em um tímido italiano; "a maioria da população é hinduísta, alguns até fanáticos. É tudo difícil. Mesmo na Índia, temos que aprender outra língua, outra cultura, é tudo diferente". Então, por quê? "Porque a gratidão a Deus é mais forte. Temos visto milagres e amor demais para não sermos capazes de compartilhar isso tudo com os outros". Um exemplo, conta ele, "foram as gravidezes difíceis da minha esposa. Ela arriscou muito, mas tínhamos fé, oramos e Deus nos deu quatro filhos. Um verdadeiro milagre: cada criança foi um presente! As nossas crianças são conscientes de que a vida foi um presente de Deus. E por isso estão felizes".
Outro belo testemunho é o de Paolo e Anna, um jovem casal italiano de Trieste, ele com 28 e ela com 25 anos, pais de duas crianças pequenas. Estão entre as famílias enviadas para a Ásia. "Encontramos Jesus Cristo, nos sentimos amados e estamos dispostos a levar esse amor para qualquer lugar", conta Paolo. "Nem sempre é fácil, a vida às vezes pesa, mas nós confiamos no Espírito Santo.. Sem Ele, nós não fazemos nada".
"É realmente um milagre ver todas essas pessoas partindo para evangelizar, saindo de casa, da sua segurança", disse a ZENIT dom Anthony Sablan Apuron, arcebispo na ilha de Guam. "Eu fiquei especialmente impressionado com as famílias enviadas para a China, dispostas a aprender uma nova língua, uma cultura totalmente diferente, dispostas a perder a vida. Estou certo de que o Senhor vai ajudá-los".
Dom John McIntyre, bispo auxiliar de Filadélfia, para onde vão 12 famílias enviadas na missão “ad gentes”, concorda. "Foi um encontro muito bonito e comovente, especialmente por ver a preocupação do Santo Padre com as famílias e o interesse dele pelos seus filhos, mas também a generosidade dessas pessoas que se oferecem tão maravilhosamente para a missão da Igreja. Nós somos muito gratos a essas famílias, a esses sacerdotes e seminaristas, especialmente pela coragem de enfrentar os desafios humanos que vão surgir, não só a língua e as novas culturas, mas também para encontrar emprego, encontrar uma escola para os filhos. Mas eu tenho certeza de que eles vão conseguir, sustentados em tudo pela fé em Cristo e na sua vitória sobre os problemas, sobre o pecado e a morte".

São Brás





Neste dia lembramos a vida santa de Brás, venerado tanto no Oriente como no Ocidente e muito conhecido pelo testemunho e sua proteção das doenças da garganta. São Brás nasceu na Armênia no século III, foi médico e bispo em Sebaste. Como profissional na medicina usava dos seus conhecimentos médicos para resgatar a saúde do corpo, mas também a da alma, pois se ocupava de evangelizar os pacientes. No tempo de Brás aconteceu uma forte perseguição religiosa, por isto como Santo bispo procurou exortar seus fiéis à firmeza da fé. Por sua vez, o santo de hoje, que era testemunho de segurança em Deus, retirou-se para um lugar solitário a fim de continuar governando aquela Igreja, porém ao ser descoberto por soldados disse: "Sede benditos, vós me trazeis uma boa-nova: que Jesus Cristo quer que o meu corpo seja imolado como hóstia de louvor".

São Brás é conhecido como protetor da garganta, justamente porque ao se dirigir para o martírio lhe foi apresentado uma mãe desesperada com seu filho que estava sufocado por uma espinha de peixe entalada na garganta, diante desta situação o Santo em Deus curou milagrosamente a criança. Já processado e condenado, São Brás enfrentou muitas torturas sem trair a fé em Jesus, até mesmo a de arrancarem com dentes de ferro pedaços de sua carne até ser degolado em 316.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

As pessoas consagradas são sinal de Deus nos diversos ambientes da vida

Hoje celebramos a festa da Apresentação de Jesus no templo. Nesta data, ocorre também o Dia da Vida Consagrada, que sublinha a importância para a Igreja de quantos acolheram a vocação a seguir Jesus de perto no caminho dos conselhos evangélicos. O Evangelho do dia conta que, quarenta dias depois do nascimento de Jesus, Maria e José levaram o Menino ao templo para oferecê-lo e consagrá-lo a Deus, como prescrito pela lei judaica.  Este episódio evangélico constitui também um ícone da doação da própria vida por parte daqueles que, por um dom de Deus, assumem os traços típicos de Jesus casto, pobre e obediente.
Esta oferta de si mesmo a Deus diz respeito a cada cristão, porque todos somos consagrados a Ele mediante o Batismo. Todos somos chamados a oferecer-nos ao pai com Jesus e como Jesus, fazendo da nossa vida um dom generoso, na família, no trabalho, no serviço à Igreja, nas obras de misericórdia. Todavia, tal consagração é vivida de modo particular pelos religiosos, pelos monges, pelos leigos consagrados, que com a profissão dos votos pertencem a Deus de modo pleno e exclusivo. Esta pertença ao Senhor permite a quantos a vivem de modo autêntico oferecer um testemunho especial ao Evangelho do Reino de Deus. Totalmente consagrados a Deus, são totalmente entregues aos irmãos, para levar a luz de Cristo lá onde mais densas são as escuridões e para difundir a sua esperança nos corações desanimados.
As pessoas consagradas são sinal de Deus nos diversos ambientes da vida, são fermento para o crescimento de uma sociedade mais justa e fraterna, são profecia de partilha com os pequenos e os pobres. Assim entendida e vivida, a vida consagrada nos parece propriamente como ela realmente é: é um dom de Deus, um dom de Deus à Igreja, um dom de Deus ao seu Povo! Cada pessoa consagrada é um dom para o Povo de Deus em caminho. Há tanta necessidade destas presenças, que reforçam e renovam o empenho da difusão do Evangelho, da educação cristã, da caridade para com os mais necessitados, da oração contemplativa; o empenho na formação humana, na formação espiritual dos jovens, das famílias; o empenho pela justiça e a paz na família humana. Mas pensemos um pouco o que seria se não fossem as irmãs nos hospitais, as irmãs nas missões, as irmãs nas escolas. Mas pensem em uma Igreja sem as irmãs! Não se pode pensar: estes são esse dom, esse fermento que leva adiante o Povo de Deus. São grandes estas mulheres que consagram a sua vida a Deus, que levam adiante a mensagem de Jesus.
A Igreja e o mundo precisam deste testemunho de amor e da misericórdia de Deus. Os consagrados, os religiosos, as religiosas são o testemunho de que Deus é bom e misericordioso. Por isso é necessário valorizar com gratidão as experiências de vida consagrada e aprofundar o conhecimento dos diversos carismas e espiritualidade. É preciso rezar para que tantos jovens respondam “sim” ao Senhor que os chama a consagrar-se totalmente a Ele para um serviço desinteressado aos irmãos; consagrar a vida para servir Deus e os irmãos.
Por todos esses motivos, como já foi anunciado, o próximo ano será dedicado de modo especial à vida consagrada. Confiemos desde já esta iniciativa à intercessão da Virgem Maria e de São José que, como pais de Jesus, foram os primeiros a serem consagrados por Ele e a consagrar as suas vidas a Ele.