sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Responsabilidade




Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


Ao aproximar-se o final do Ano Litúrgico, a Igreja nos brinda com a conhecida Parábola dos Talentos (Cf. Mt 25, 14-30). Aquele que é a Sabedoria de Deus (Cf. 1 Cor 1, 24) nos oferece o caminho para assumir com dignidade a vida que nos foi dada de presente. A partir da parábola, "talento" veio a significar um dom, habilidade ou qualidade. Ao tempo da redação do Evangelho, talento era uma unidade monetária equivalente a cinquenta quilos de prata, correspondente a cerca de seis mil denários, e um denário era a diária de um trabalhador do campo. O servo da parábola que recebeu um talento tinha muito em mãos e podia fazer tanto com o que lhe fora dado.

As parábolas são propostas pelo Senhor para provocar positivamente, suscitando uma resposta de vida. Do dinheiro passamos à nossa história. Os servos somos nós; os talentos são as condições oferecidas por Deus a cada um; o tempo de viagem do proprietário é a vida; a volta inesperada é a morte, nossa páscoa pessoal; a prestação de contas é o juízo e a entrada na festa, o banquete da alegria, oferecido pelo Senhor, o Paraíso. No final de tudo, quando a obra de nossa vida estiver concluída, no tempo certo conhecido pelo Senhor da História, haveremos de entregar os dons que nos foram concedidos não para nossa vaidade, mas para servir e amar a Deus e ao próximo.
Como Deus não impõe, mas propõe, à sua proposta cabe uma resposta. Temos consciência de não sermos proprietários da própria vida, mas administradores dos dons de Deus. Nenhuma pessoa inventou sua vida, nem a planejou por conta própria. Na maravilhosa criação de Deus, todas as pessoas sejam consideradas como obras primas, a serem aperfeiçoadas no correr dos anos, contando com a inspiração do Espírito Santo, que não abandona qualquer um dos filhos e filhas de Deus. É condição de felicidade identificar o projeto de Deus a respeito de sua própria vida e buscar todos os meios para realizá-lo. Cabe a cada pessoa abraçá-lo, na maravilhosa aventura da liberdade, com a qual todos foram feitos, ao assumir responsavelmente os rumos da existência.
Assumir responsabilidades! Tarefa exigente que pede formação e preparação adequada. O processo educativo na família, na escola e na Igreja pode contribuir para que as crianças, adolescentes e jovens sejam iniciados para ter nas mãos o rumo da própria existência. Para todas as idades, inclusive para nós, adultos, tudo começa com o reconhecimento de que todos têm valor aos olhos de Deus e diante dos outros. Discriminar, humilhar e condenar pessoas não corresponde ao plano do Senhor, que quer todos vivos e felizes. Ninguém seja visto como massa sobrante em qualquer campo da convivência humana.
Constitui-se uma personalidade responsável quando se leva em conta as condições de cada um, considerando idade, formação recebida, condições de saúde, temperamento, ambiente familiar e referências culturais e ambientais. Faz-se necessário muitas vezes exercer o papel de "caça-talentos", para descobrir uma quantidade considerável de tesouros escondidos. Nestes dias, um menino de dez anos me foi apresentado como um dos líderes do projeto de evangelização numa das Paróquias da Arquidiocese de Belém. Como foi significativo ver o brilho dos olhos daquele que se sabe missionário! Sem forçar e exigir mais do que pode oferecer, ele se torna sinal para muita gente crescida!
Responsabilidade se aprende e há de ser assumida pouco a pouco, quando alguém se arrisca, confia e lança o outro para voos mais ousados. Há muita gente aguardando este voto de confiança! O Senhor faz assim conosco, agindo "como a águia que incita a ninhada, esvoaçando sobre os filhotes, também ele estendeu as asas e o apanhou e sobre suas penas o carregou" (Dt 32, 11). Responsabilidade se consolida com dedicação, tempo, preparação das atividades, coragem para rever e recomeçar quando acontecem falhas, superação de julgamentos com os eventuais fracassos, idealismo cultivado com afinco.
Vale a pena até detalhar um caminho de revisão pessoal de vida, a esta altura do ano. Examinemos como aproveitamos o tempo, a pontualidade, a ordem, os deveres familiares, a dedicação ao trabalho. Como temos oferecido as qualidades e talentos recebidos para servir a Deus e ao próximo? Temos olhado ao redor para ver o que é possível fazer pelo bem comum na Paróquia, no bairro em que vivemos, ou, quem sabe, nas associações e organismos aos quais estamos ligados? Outro ponto para uma revisão corajosa da vida é "fazer bem feito". Basta olhar para Deus, que fez tudo e todos como obra de arte, para entender que nossa passagem por este mundo, por sinal, muito breve, pode deixar um rastro de dedicação e amor. Até para o equilíbrio pessoal é importante realizar por inteiro as tarefas! E dentre os dons oferecidos pelo Senhor, venha em relevo o presente da Palavra de Deus. Faz parte da responsabilidade do cristão não reter para si o conhecimento das coisas de Deus, mas oferecê-la aos demais.
A liturgia da Igreja, celebrada neste final de semana, faz preceder a Parábola dos Talentos com um esplêndido texto do livro dos Provérbios: "Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias. Seu marido confia nela plenamente, e não terá falta de recursos. Ela lhe dá só alegria e nenhum desgosto, todos os dias de sua vida. Procura lã e linho, e com habilidade trabalham as suas mãos. Estende a mão para a roca e seus dedos seguram o fuso. Abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre. O encanto é enganador e a beleza é passageira; a mulher que teme ao Senhor, essa sim, merece louvor. Proclamem o êxito de suas mãos, e na praça louvem-na as suas obras!" (Pr 31, 10-13. 19-20. 30-31). Fortaleza, confiança, capacidade para oferecer alegria aos outros, trabalho, habilidade, partilha, temor do Senhor. Tais valores continuam atuais e se tornam talentos preciosos a serem postos "em circulação" em nossos dias! Homens e mulheres de todas as idades os assumam com responsabilidade.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Filhos da Luz


 Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Uma das preocupações da primeira carta aos Tessalonicenses diz respeito à vinda do Senhor. Esse tema fez parte da pregação inicial de Paulo àquela comunidade. No início da carta, ele afirma que os cristãos da Acaia falam de como os tessalonicenses “se converteram, deixando os ídolos e voltando para Deus, a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro. Falam também de como vocês esperam que Jesus venha do céu, o Filho de Deus, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos. É Ele que nos liberta da ira futura.”

A partir disso, começou a especulação sobre a data em que o Senhor viria. E a comunidade de Tessalônica arriscava viver de discussões intermináveis e de teorias. Paulo começa reafirmando o que a comunidade já sabe: o dia do Senhor virá de modo imprevisto, da mesma forma que o ladrão. Naquele tempo, a noite era o momento propício para a ação de ladrões. Esse fato aponta para o modo de ser da comunidade, em atitude de constante vigilância, de modo a não ser surpreendida por esse Dia.
A comunidade precisa ter um modo próprio de ser, diferente dos “outros”, a sociedade que crê viver em paz e segurança. “Paz e segurança” era um dos lemas do império romano que mantinha as pessoas sob a aparência de “ordem social”, mas que, na verdade, era sinônimo de noite escura. Esse tipo de “segurança” não interessa à comunidade cuja função é ser filhos da luz e filhos do dia.
Como não se comprometer com esse tipo de sociedade? A alternativa que Paulo apresenta é esta: “Não vamos dormir, como os outros, mas vigiar e ficar sóbrios”. O significado disso nos é dado pela própria carta: vigiar é abandonar os ídolos que envolvem a sociedade na noite da injustiça, comprometendo-se no serviço ao Deus vivo e verdadeiro. É assim que se espera o dia do Senhor.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A tentação do poder ameaça o espírito de serviço cristão

Durante a missa em Santa Marta, Francisco advertiu contra a preguiça, a comodidade e o egoísmo que tornam a vida "triste" e "sem fecundidade"
Por Luca Marcolivio
ROMA, 11 de Novembro de 2014 (Zenit.org) -
 Como nos recorda o Evangelho de hoje (cfr. Lc 17,7-10), o cristão é um "servo inútil", ou seja, alguém que serve sem esperar nada em troca, nenhuma recompensa de prestígio ou de poder.
Na homilia desta manhã na Casa Santa Marta, o Papa ressaltou que, para Jesus, "o serviço é total". Ele se apresenta como o servo, aquele que veio para servir e não para ser servido: diz isso claramente. Assim, o Senhor mostra aos apóstolos o caminho daqueles que receberam a fé, aquela fé que realiza milagres. Sim, esta fé fará milagres no caminho do serviço", disse o Papa.
Se um cristão não leva adiante o dom da fé no Batismo com espírito de serviço, "torna-se um cristão sem força, sem fecundidade", que termina servindo a si mesmo e levando uma "vida triste", esquecendo "as coisas grandes do Senhor”. O Papa insistiu que é impossível servir a dois patrões: “ou a Deus, ou as riquezas”.
O que nos afasta do espírito de serviço? Primeiro, a "preguiça", que nos leva à "comodidade" e ao "egoísmo". Muitos cristãos apenas vão à missa, mas, como mencionado pelo Santo Padre, o espírito de serviço se realiza de muitas maneiras: no "serviço a Deus na adoração, na oração, no louvor, no serviço ao próximo". Jesus entende isso como "serviço até o fim" e "gratuito", daí a expressão: "servos inúteis".
No entanto, é possível perder o espírito de serviço de outras maneiras: muitas vezes os discípulos "tomavam posse do tempo do Senhor, tomavam posse do poder do Senhor: eles o queriam para o seu grupinho" e "afastavam as pessoas para que não perturbassem Jesus”, mas, na verdade, era para ser mais "confortável" para eles. Tomavam posse desta atitude de serviço, “transformando-a em uma estrutura de poder”.
Emblemático, nesse sentido, é a discussão entre os discípulos, quando perguntam quem era o melhor entre eles (cfr. Mc 09:34). Ou a atitude da mãe que "vai pedir ao Senhor que um de seus filhos seja o primeiro-ministro e outro ministro da economia, com todo o poder em suas mãos".
É, portanto, uma "tentação" recorrente na história dos cristãos de todos os tempos; querer se tornar "patrões da fé, patrões do Reino, patrões da Salvação", quando, ao invés, o Senhor nos pede um "serviço na humildade", um "serviço na esperança": esta é a verdadeira "alegria do serviço cristão."
Existe uma cadeia de tentações que afasta o homem do espírito de serviço: "a preguiça leva à comodidade", enquanto "o ter o controle da situação", que transforma o servo em patrão, leva "à soberba, ao orgulho, a tratar mal as pessoas, a se sentir importante"; a achar que tem a salvação nas próprias mãos.

"Que o Senhor nos dê duas grandes graças: a humildade no serviço, a fim de sermos capazes de dizer: 'Somos servos inúteis - mas servos - até o fim"; e a esperança na espera da manifestação, quando o Senhor virá até nós", concluiu o Papa Francisco.

Projeto de lei pretende introduzir a ideologia de gênero na sociedade brasileira.



Disque denúncia contra a ideologia do gênero

Por Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
BRASíLIA, 11 de Novembro de 2014 (Zenit.org) - A Deputada Iriny Lopes apresentou este ano o Projeto de Lei 7086/2014, que dispõe da igualdade nas condições de trabalho no serviço público. Excelente iniciativa, se não fosse que o projeto, assim como já foi tentado em diversos outros, introduz os conceitos de "gênero" e "orientação sexual" em seu texto e, com isto, se aprovado, também no sistema jurídico brasileiro.
O projeto afirma, em seus artigos 3 e 4: Art. 3º Os servidores públicos terão igualdade de oportunidades e de trato, independentemente de sua etnia, religião, opinião política, gênero e orientação sexual. Art. 4º A Administração Pública federal direta e indireta desenvolverá políticas destinadas a combater o preconceito de gênero, orientação sexual, [...]. Veja o link
O projeto não irá a Plenário. A votação nas Comissões será conclusiva. O projeto deverá passar por apenas três Comissões: [1] Direitos Humanos e Minorias [2] Trabalho, de Administração e Serviço Público e [3] Constituição e Justiça e de Cidadania. No momento o projeto está na Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Na quarta feira passada, dia 5 de novembro de 2014, o deputado Pastor Eurico apresentou um substitutivo propondo que as expressões "gênero e orientação sexual" sejam substituídas por "e quaisquer outras formas de discriminação". O substitutivo do Pastor Eurico, acompanhada de uma excelente justificativa explicando que a ideologia de gênero que está sendo introduzida pelo projeto na legislação brasileira é, na realidade, uma etapa da revolução socialista que está sendo promovida com o objetivo de abolir a instituição familiar do tecido social, pode ser encontrado na íntegra mais abaixo, ou neste link

O substitutivo do Pastor Eurico será votado na quarta feira que vem, dia 12 de novembro de 2014, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Ligue agora para o disque câmara 0800 619 619 (tecle 9) Desejo enviar uma mensagem para os deputados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias: Solicito a Vossa Excelência quecompareça na sessão do dia 12 de novembro da CDH e vote com o substitutivo do Pastor Eurico ao Projeto de Lei7086/2014, da deputada Iriny Lopes. A deputada pretende introduzir a ideologia de gênero na sociedade brasileira, uma perigosa doutrina que anula a complementaridade sexual homem-mulher, faz apologia do homossexualismo, do incesto e da pedofilia, destroi a instituição familiar e transforma o ser humano em uma massa amorfa, apta a ser manipulada por regimes totalitários.Conto com a presença e participação de Vossa Excelência. 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

São Leão Magno

São Leão Magno abandonou-se ao auxílio divino, que nunca falta ao esforço dos justos, e o êxito coroou sua fé.
Por Fabiano Farias de Medeiros
HORIZONTE, 10 de Novembro de 2014 (Zenit.org) -
 "Num tempo em que a Igreja enfrentava os maiores obstáculos para seu progresso, em consequência da rápida desintegração do Império Romano do Ocidente, enquanto o Oriente estava profundamente agitado por controvérsias dogmáticas, esse grande Papa, com uma sagacidade sem precedentes e poderosa mão guiou o destino da Igreja Romana e Universal", narra a história acerca deste grande Santo e Papa que nasceu entre os anos 390 e 400 em Roma. Desde sua juventude dedicou-se aos estudos aprofundados da fé. Logo foi ordenado diácono na diocese de Roma. Serviu com esmero aos Papas São Celestino I e São Sixto III sendo formidável na administração das causas eclesiásticas e também nas conciliações e relações humanas às quais foi enviado em missão.
No dia 29 de setembro de 440, com a morte do Papa Sixto III, Leão foi escolhido para sucedê-lo na missão pontifícia. Foi muito bem aceito pelo povo que o admirava e obedecia devido ao seu veemente testemunho de caridade e firmeza na fé. Estruturou e solidificou a disciplina eclesiástica e combateu com destemor as heresias dos pelagianos, maniqueus, nestorianos e de modo especial os monofisistas através da Carta dogmática que escreveu ao Patriarca Flaviano de Constantinopla em 451, um marco teológico em sua época. Outro grande desafio foi enfrentado por Leão Magno quando Átila, rei dos hunos, conhecido como “Flagelo de Deus”, impôs saques, morte e destruição naquela região. Leão marchou devidamente paramentado contra o grande exército de Átila e este ao se deparar com Leão, recuou de seus objetivos. Enfrentou ainda o vândalo Genserico não permitindo que ele queimasse a cidade e matasse os cidadãos, mas não evitou o saque. A estes males disse Leão ao povo: “Queira Deus que estes males sirvam para a emenda dos que sobrevivem, e que, cessando as desgraças, cessem também as ofensas”.

Continuou firmemente a defender a fé com sua vida e suas palavras ditas e escritas. Foram 96 sermões e 173 cartas. Leão foi o consolo e ação vigorosa de Deus em meio aos tempos desafiantes vividos pela Igreja. Faleceu em Roma no dia 10 de novembro de 461 e foi declarado Doutor da Igreja em 1754. São Próspero da Aquitânia assim o definia: "abandonou-se ao auxílio divino, que nunca falta ao esforço dos justos, e o êxito coroou sua fé".

Os cristãos diante do perigo do neoautoritarismo

Lamentavelmente o início do século XXI não é marcado pelo aprofundamento da democracia e da cidadania, mas pelo retorno do velho modelo de Estado forte, de perseguição às liberdades individuais e de ameaças a liberdade religiosa.
Por Ivanaldo Santos
SãO PAULO, 10 de Novembro de 2014 (Zenit.org) -
 No início do mês de novembro de 2014 vários veículos da grande mídia divulgaram uma notícia, no mínimo, estranha. Essa notícia dizia que o atual partido político governista no Brasil tem um projeto de extinguir o Senado brasileiro. Para isso, foi utilizado o argumento que o Senado trata, em essência, de questões federativas e que, tal função, poderia ser exercida pela câmara de deputados ou por uma comissão dessa câmara.
Essa notícia, se for tomada de forma isolada, poderia ser vista como apenas um jogo político ou como um processo saudável de renovação da vida política. No entanto, se ela for colocada dentro do cenário internacional, ganha proporções bem diferentes e até mesmo catastróficas. De um lado, no nível da macro política internacional, temos visto o perigoso renascimento de projetos imperialistas e militaristas. Esse perigo é representado, por exemplo, pela Rússia de Putin, pelo discurso expansionista da China e da Turquia e pelo recém criado e fundamentalista Estado Islâmico. Do outro lado, a América Latina vive uma onda de governos populistas, com forte tendência ao autoritarismo, governos que são liderados por Cuba e pela Venezuela.
Lamentavelmente o início do século XXI não é marcado pelo aprofundamento da democracia e da cidadania, mas pelo retorno do velho modelo de Estado forte, de perseguição às liberdades individuais e de ameaças a liberdade religiosa. Parece que o mundo não aprendeu com os horrores causados por regimes totalitários, como o nazismo e o socialismo.  Parece que, mais uma vez, a humanidade vai enfrentar guerras por colônias, a implantação de um regime político único, com partido único, a perseguição aos jornalistas, aos intelectuais e a forte perseguição aos cristãos. Nesse caso, a história, como diria Paul Valéry, se repete. Os horrores da primeira metade do século XX parecem que estão vivos dentro do século XXI, sendo que dessa vez é na versão Neo, ou seja, o neoautoritarismo.
É nesse contexto, de repetição triste da história, de retorno do terror e do neoautoritarismo, que deve ser pensado o projeto do partido governante no Brasil de extinguir o Senado. Isso é apenas uma pequena, mas fiel, engrenagem do neoautoritarismo. Em grande medida, é um governo que está voltado para colocar em prática as orientações que emanam de Cuba e da Venezuela e não exatamente com o desenvolvimento nacional.  

Tudo isso é muito preocupante. Os países cristãos da América Latina desfrutam de grande liberdade religiosa e não experimentaram, de forma direta, os horrores dos regimes totalitários implantados na Europa (nazismo, socialismo) na primeira metade do século XX. Tanto Stalin (socialismo) como Hitler (nazismo) viam a América Latina como uma região pacifica que, justamente por esse motivo, aceitariam de bom grado suas ideias autoritárias. Parece que o início do século XXI está vivendo, como um pesadelo, os sonhos de implantação na América Latina de um regime totalitário. Atualmente governos e multidões de cidadãos, em países latino-americanos, são iludidos com políticas assistencialistas, com belas propagandas nas mídias e com a visível deterioração do padrão de vida.

O Santo Concílio Vaticano II

Ao canonizar João XXIII e João Paulo II, e ao beatificar Paulo VI, Francisco homologou o concílio
Por Edson Sampel
SãO PAULO, 10 de Novembro de 2014 (Zenit.org)
Quem, por infelicidade, não aceita o Concílio Vaticano II geralmente não leu direito os documentos emanados da referida assembleia e se ateve a um vago “espírito do concílio”. Os tradicionalistas permanecem ancorados no passado e não conseguem dar um passo à frente.  De outra banda, encontram-se os progressistas, os quais  também não leram profundamente os textos conciliares e, igualmente embasados nesse fluido “espírito do concílio”, forjaram teologias da libertação de viés marxista. Asseveram que o Concílio Vaticano II propiciou o surgimento de uma “nova Igreja”. Em suma, os tradicionalistas e os progressistas de variegados matizes creem numa “ruptura” eclesial. Os primeiros advogam que a ruptura ou cisão constituiu algo catastrófico; os segundos postulam que com a ruptura se deu uma coisa ótima, um “novo pentecostes”.
O vigário de Cristo acaba de homologar o Concílio Vaticano II! Com efeito, sua santidade canonizou o papa que deflagrou o concílio, são João XXIII e o papa que executou o concílio, são João Paulo II. Só faltava mesmo o papa que coordenou os trabalhos do Concílio Vaticano II, declarado beato em outubro, Paulo VI (Reflexões de um Católico, Edson Luiz Sampel).

Na esteira do ensinamento de Bento XVI, corroborado por Francisco, a hermenêutica ou a interpretação do concílio deve ser na linha da reforma ou da continuidade, ou seja, temos de levar em conta os textos do Concílio Vaticano II e não qualquer espírito ideológico. Quem lê, com olhos de ver, as constituições, os decretos e as declarações conciliares logo verifica que o Concílio Vaticano II não causou nenhuma ruptura, muito pelo contrário, ele está em plena sintonia com os outros 20 concílios ecumênicos.  Além disso, percebe-se que o Concílio Vaticano II deve ser interpretado em estreito liame com o Concílio Vaticano I, do qual é continuidade e com o Concílio de Trento, donde hauriu toda substância teológica.

domingo, 9 de novembro de 2014

EDIFICAR A IGREJA

 

 

 

  

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

A Liturgia da Igreja tem um rito altamente significativo, a Dedicação do Templo e do Altar, com o qual os edifícios destinados ao uso do culto são "separados", "consagrados". Na ocasião, a celebração se inicia com a entrega do templo ao Bispo, que faz a Dedicação e o devolve ao uso da Comunidade a que se destina. Anualmente celebra-se a festa alusiva a este gesto sagrado, para que cresça a consciência da vocação cristã e o sentido de pertença à Igreja. Dentre todos os templos edificados pelo mundo afora, ganha destaque a Basílica do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, também chamada de Catedral de Roma, a Sede que preside à caridade, onde o Papa toma posse de sua missão como "Bispo de Roma". Porque é Bispo de Roma é que lhe cabe o primado na Igreja. Anualmente, no dia nove de novembro, a Dedicação da Basílica do Latrão é comemorada solenemente e oferece bela oportunidade para um conhecimento maior da própria Igreja.

Nossas grandes cidades assistem ao crescimento urbano desafiador, que exige uma atenção especial de todas as pessoas que se sentem responsáveis pela Igreja. Impressiona fortemente a dedicação de homens e mulheres que se organizam, conduzidos pela liderança de tantos dedicados sacerdotes, para a construção das igrejas e Capelas. Edifica-me ver as muitas ofertas semelhantes às duas moedas da viúva pobre elogiada por Jesus no Evangelho (Cf. Mc 12, 42-43). De vez em quando escuto observações de pessoas sobre as construções de nossos templos: "Obra de Igreja não termina nunca!" E é verdade, pois os muitos mutirões, coletas, campanhas de todo tipo, tudo é feito com boa vontade, especialmente dos mais pobres! Prolongado o tempo para a construção, magnífico aprendizado que se realiza!
E aqui está a primeira das muitas lições: a edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste. Quem entra na Igreja, chega para participar de uma imensa tarefa, que envolve a todos, pois Igreja é missão! As portas que desejamos abertas, de todas as igrejas e capelas, sejam o sinal daquele que é a porta das ovelhas, o próprio Senhor Jesus Cristo (Cf. Jo 10, 7). Para que todos os homens e mulheres venham a passar por ele, o olhar dos cristãos que já o encontraram deverá ampliar-se para alcançar a todos. Certamente os cristãos leigos e leigas têm à disposição um imenso leque aberto de contatos, oportunidades de diálogo e evangelização direta, muito mais do que os Bispos e Padres. É que seu campo de ação e seu desafio é o imenso mundo das profissões, do relacionamento social de todo tipo, o corpo a corpo do diálogo com as diversas estruturas do mundo. Igreja é convocação, chamado universal à salvação.
O fundamento da missão da Igreja se encontra no Sacramento do Batismo, no qual todos recebemos uma tríplice tarefa: profetas, para anunciar a Palavra da verdade; sacerdotes, com a graça para oferecer tudo a Deus, como sacrifício agradável; reis e pastores do reinado de Cristo, para edificar na caridade o relacionamento fraterno em todo lugar. Daqui nasce a igualdade fundamental na dignidade e na responsabilidade, com a qual todos se sentem membros vivos da Igreja de Cristo. Não dá para imaginar um cristão de verdade que se acomode na passividade diante dos problemas de nosso tempo. Quem vai à missa aos domingos, ali escuta a Palavra de Deus e se alimenta da Eucaristia, sai da Igreja-templo para construir a Igreja-Corpo de Cristo, vivendo o ensinamento do Apóstolo: "Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito. A outro é dada a fé, pelo mesmo Espírito. A outro são dados dons de cura, pelo mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, a profecia. A outro, o discernimento dos espíritos. A outro, a diversidade de línguas. A outro, o dom de as interpretar. Todas essas coisas as realiza um mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer" (1 Cor 12, 4-11).
Acolhendo a missão, prontos a edificar a Igreja, os cristãos abrem braços e corações para todos. Como numa família, saberão dar atenção a cada pessoa, levando em conta sua história. Na Igreja encontrem seu lugar os que se aproximam da fé, tocados pela Palavra de Deus e pelo testemunho dos fiéis. Não é discriminação oferecer-lhes o alimento espiritual que são capazes de absorver. Sejam amados e acompanhados os catecúmenos, admitidos ao processo de iniciação cristã. O tempo que lhes é dado para a formação, antes dos Sacramentos da Iniciação cristã, é fecundo da graça de Deus. Não faz bem precipitar os passos a serem dados, inclusive para respeitar seu amadurecimento pessoal. Cabem na Comunidade Eclesial as pessoas que estão num processo de conversão e penitência, quem sabe depois de estradas nem sempre bonitas, percorridas pelo mistério da liberdade humana. Acolhê-los e acompanhá-los com paciência, valorizando as descobertas da graça do Senhor, da prática dos mandamentos e os frutos de uma escuta amorosa da Palavra de Deus, é o caminho pedagógico suscitado pelo amor de Cristo por eles. Trabalhe-se fervorosamente para que encontrem decididamente a estada da vida nova!
Que dizer das famílias, Igreja Doméstica, na graça de ser esposo e esposa, pai, mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Deus seja louvado por estas porções preciosas do Corpo de Cristo, presentes no recesso do lar, estrelas que brilham e apontam a todos o caminho do amor. É olhando para elas que os cristãos se animam a acompanhar com caridade ao mesmo tempo forte e cheia de ternura misericordiosa, as famílias em situação particular, tantas delas sem a graça do Sacramento do Matrimônio, mas lares a serem amados e valorizados, a fim de encontrarem o espaço de carinho e dedicação da Igreja. A verdade sobre o ideal da família santificada pela graça sacramental não as desanime, mas as conduza aos caminhos possíveis a cada situação.
E a Igreja se edifica com a contribuição das várias gerações. Igreja e sociedade sem crianças são privadas de vitalidade. Os casais que se abrem ao dom do filho, e filho e bênção (Cf. Sl 127, 1-5) constroem a Igreja do futuro! E mais dois polos da vida social e da Igreja encontrem seu lugar. Com a palavra o Papa Francisco: "Olhem! Eu penso que, neste momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do 'deus' dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percentagem que temos de jovens sem trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a palavra, os idosos devem tomar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam a sabedoria dos povos!" (Cf. Encontro com os jovens argentinos, na Jornada Mundial da Juventude).
Igreja, Povo de Deus! Venham todos a ajudarem na edificação da Igreja, Corpo de Cristo. Há lugar para todos no regaço amoroso do amor do Pai, na força do Espírito Santo que conduz a Igreja pelos caminhos do mundo, rumo à eternidade.