"Estamos tão convencidos da validade não apenas moral e pastoral, mas também social da Carta dos Direitos da Família, que a colocamos como base do Fórum", afirma em comunicado Francesco Belletti, presidente do Fórum das Associações Familiares. "E é por isso que estamos na linha de frente, junto com o seu depositário, o Pontifício Conselho para a Família, nas comemorações pelos seus trinta anos, completados alguns dias atrás e agora celebrados na conferência ‘Novos horizontes antropológicos e os direitos da família’”.
Por que podemos falar em direitos da família? Lemos no documento pontifício: "Como comunidade de amor e de vida, a família é uma realidade social firmemente enraizada e, à sua maneira, uma sociedade soberana, ainda que condicionada em vários aspectos. A afirmação da soberania da instituição da família e o reconhecimento dos seus vários condicionamentos levam, naturalmente, a falar dos direitos da família".
"Direitos da família que estão intimamente relacionados com os direitos humanos, mas não são simplesmente a soma desses direitos, já que a família é mais do que a soma dos seus membros. É uma comunidade entre os sexos e entre as gerações e, por isso, a sua subjetividade fundamenta e exige direitos próprios e específicos. A família está intimamente ligada à nação em que está inserida, gera um povo e a ele pertence. Os pais geram os filhos, em certo sentido, também para a nação, porque somos membros dela e partícipes do seu patrimônio histórico e cultural".
A família, no entanto, disse o presidente, "também está ligada ao Estado em virtude do princípio da subsidiariedade, segundo o qual a família deve ser deixada livre para alcançar os seus fins respondendo de modo autônomo às próprias necessidades. Só quando ela realmente não basta a si mesma é que o Estado tem o direito e o dever de intervir". Uma sociedade verdadeiramente forte é sempre composta por famílias fortes, "conscientes da sua vocação e da sua missão na história. Uma responsabilidade por uma tarefa que vê a família no centro de um ciclo virtuoso de promoção e salvaguarda do humano e do criado".
"Não há Estado sem a família que precede o Estado e o fundamenta", conclui Belletti. "Daí o compromisso do Fórum com a exigência do respeito e da proteção para a família, para a sua identidade e para o seu papel, por parte do Estado que lhe é devedor. A família é protagonista e construtora do bem comum".
Afinal, como foi anunciado no FamilyDay, “o que é bom para a família, é bom para a sociedade”.
Em Santa Marta, o Papa alerta para a atitude do digo
que sou cristão, mas vivo como pagão " e exorta a levar adiante a santificação
realizada por Cristo em nós com obras de justiça
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 24 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Além da Igreja e da Cúria, se existe uma
"reforma" que o Papa Francisco está implementando é a da consciência do povo de
Deus, alertando, através das homilias diárias em Santa Marta, sobre as tentações
e clichês com os quais o cristão corre o risco de se afastar de Cristo.
Também na missa celebrada hoje, no Vaticano, o Santo Padre foi peremptório:
"Não é possível ser cristão de meio caminho". Há um antes e um depois de Jesus,
ou seja, um momento inicial, sujo pelo pecado e pela injustiça, e depois, a
"recriação" operada por Jesus. E nós, enquanto batizados, devemos "levar a
sério" a estrada traçada por Cristo com as gotas de seu sangue, e leva-la
adiante com obras de santidade.
São Paulo, na Carta aos Romanos, usa essa lógica do "antes e depois" de
Jesus, para explicar o mistério da nossa redenção. "Nós fomos refeitos em
Cristo!" -disse Francisco-. "O que Cristo fez por nós é uma recriação: o sangue
de Cristo nos recriou". Se antes "toda a nossa vida, nosso corpo, nossa alma,
nossos hábitos estavam na estrada do pecado, da iniquidade, após esta recriação
devemos fazer um esforço de caminhar na estrada da justiça, da
santificação".
No momento em que recebemos o Batismo -disse o Papa- "nossos pais em nosso
nome fizeram um Ato de fé: "Creio em Jesus Cristo, que nos perdoou os pecados".
Esta fé, portanto, devemos "levar adiante com o nosso modo de vida", realizando
"obras para a santificação” que renovam “a primeira santificação que todos nós
recebemos no Batismo".
"Realmente nós somos fracos e, muitas vezes, cometemos pecados, imperfeições”
–e observou o Santo Padre- "este é o caminho da santificação?". Depende. "Se
você se acostuma: 'Minha vida é um pouco assim, mas eu acredito em Jesus Cristo,
mas vivo como eu quero; isso não te santifica, e não está bem! É uma
contradição!" -advertiu o Papa-. Ao contrário, “se você disser: Eu sou mesmo um
pecador, eu sou fraco e vai dizer ao Senhor: "Mas Senhor, o Senhor tem a força,
dá-me a fé! O Senhor pode curar-me!" E, no Sacramento da Reconciliação se deixa
curar, até mesmo nossas imperfeições servem neste caminho de santificação”.
O verdadeiro problema - comentou Bergoglio - é que precisamos "levar a sério"
o caminho para a santidade que Cristo nos indicou. A primeira maneira é fazer
obras de justiça: nem milagres, nem atos heroicos, mas "obras simples" como
"adorar a Deus" e "ajudar os outros". Ou seja, as obras que “Jesus fez: obras de
justiça, obras de recriação". "Quando damos comida a quem tem fome" -acrescentou
o Papa- "recriamos nele a esperança". Se, ao invés, "aceitamos a fé e depois não
a vivemos, somos cristãos apenas na memória”.
"Sem esta consciência do antes e depois da qual Paulo nos fala, nosso
cristianismo não serve para ninguém!" -afirmou o Santo Padre-. Corre-se o risco
de desviar do caminho de santidade para o atalho da hipocrisia, do “me digo
cristão, mas vivo como pagão". Desta forma, “nos tornamos cristãos de meio
caminho”, cristãos “mornos" que não levam a sério o fato de que "somos santos,
justificados, santificados pelo sangue de Cristo”.
O Papa insistiu: "Devemos deixar tudo o que nos afasta de Jesus Cristo e
refazer tudo do início: Tudo é novidade em Cristo!”. Não é impossível – encoraja
o Papa- "é possível fazer": fez São Paulo e tantos outros santos, até mesmo
aqueles anônimos que vivem o cristianismo seriamente".
Francisco concluiu sua homilia com uma pergunta: "Queremos viver o
cristianismo seriamente? Queremos levar adiante esta recriação?". Se assim for
–exortou- “peçamos a São Paulo que nos dê a graça de viver seriamente como
cristãos, de acreditar que fomos realmente santificados pelo sangue de Jesus
Cristo”..
"Deus disse: 'Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: 'Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus disse: 'Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento'... E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom" (Gn 1, 26-30). Fecunda há de ser a vida humana nesta terra, fecunda, esperamos, seja a própria terra, portadora de vida e de alegria. Grávidas de realização e felicidade sejam todas as nossas atitudes e nossos gestos.
E por que muitas vezes nossos atos carecem da desejada fecundidade, com a qual esperávamos frutos e consequências para o nosso bem e o bem dos outros? A esterilidade de palavras e ações nos assusta e ao mesmo tempo nos provoca. Parece que não aprendemos com a própria terra, cujo húmus é matéria orgânica depositada no solo, resultante de decomposição de animais e plantas com a consequente liberação de nutrientes. Só pelo caminho da humildade se desencadeia o processo para a multiplicação de frutos na vida humana, tanto que a corrida desleal entre as pessoas ou grupos, quando se atropelam mutuamente, suscita a terrível sensação de tristeza e falta de sentido, infelizmente comum entre nós.
Quando nos deparamos com a Sagrada Escritura, não é difícil perceber que ela pretende persuadir-nos do bem da humildade e afastar-nos do mal do orgulho. Jesus pronunciou estas palavras: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11,25). Ele próprio não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. Humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, ao Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor (Cf. Fl 2, 6-11). E São Paulo introduz este belíssimo hino com palavras fortes: "Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus" (Fl 2,5).
Na parábola do Fariseu e do Publicano, o Senhor nos abre a compreensão dos frutos da humildade e da simplicidade de vida, expressos nada menos do que na vida e na oração de um pecador público, traidor de seus irmãos. No entanto, justamente pelo caminho do reconhecimento da própria fraqueza é que nasce a experiência da felicidade experimentada (Lc 18, 9-14). A virtude da humildade se expressa na verdade do confronto entre o ser humano, com suas fragilidades e limites, colocado diante do próprio Deus, que não o esmaga e destrói, mas o eleva. A iniciativa do amor vem de Deus, que dá o primeiro passo, ao criar-nos e enviar seu Filho para nossa salvação. Deus não exige primeiro, mas se entrega e assim provoca a resposta.
Diante de Deus, a sinceridade da oração suscitará, em primeiro lugar, a gratidão e o reconhecimento pelas suas obras. Olhar ao nosso redor para perceber que recebemos muito mais do que merecemos ou pedimos. Depois, ao confrontar-se com Deus, cada pessoa descobrirá a distância entre o que recebeu e o que efetivamente correspondeu! O publicano da parábola evangélica "ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!" (Lc 18, 13). Mas a humildade não para no reconhecimento das limitações. Quem se reconhece pequeno diante de Deus dá logo o salto para a gratidão! "A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz" (Lc 1,47-48). O humilde é agradecido, livre, não cultiva traumas ou complexos, mas se eleva pela capacidade de louvar e agradecer!
Diante do próximo, a humildade é capaz de admirar, sem ciúme ou inveja, o bem que existe no outro. Antes, é capaz de superar a percepção de seus erros e limites, aprende a defender e ajudar as pessoas a crescerem. Vale a recomendação da Carta aos Hebreus: "Estejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar ao amor fraterno e às boas obras. Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente – tanto mais que vedes o dia aproximar-se" (Hb 10, 24-25). Chega-se inclusive a gestos verdadeiramente fecundos: "Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si e não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros" (Fl 2, 3-14).
A prática da humildade pede que não sejamos maiores nem menores do que somos, mas do tamanho que somos! Vale a recomendação da Escritura: "Na medida em que fores grande, humilha-te em tudo e assim encontrarás graça diante de Deus. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela seus mistérios. Pois grande é o poder só de Deus, e pelos humildes ele é honrado. Não procures o que é mais alto do que tu nem investigues o que é mais forte; pensa sempre no que Deus te ordenou e não sejas curioso acerca de suas muitas obras (Eclo 3, 20-22). Só a prática cotidiana da escuta de Deus e o discernimento de sua vontade nos conduzirá a tal equilíbrio! Para tanto, há que suplicar: "Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis".
ROMA, 23 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Logo após a eleição do Papa Francisco
conversávamos entre os amigos sobre os comentários positivos que surgiram da sua
eleição, provenientes não só dos mais diversos ambientes eclesiais, como também
das mais díspares áreas do pensamento laico e laicista.
Certamente o mais interessante foi notar que a sua figura atraía muitas
pessoas até agora distantes de uma vida de fé regular ou de uma participação dos
ritos da comunidade cristã; ao mesmo tempo foi evidente um grande entusiasmo dos
pobres e dos pequenos, seja do sul do mundo que das nossas cidades, daqueles que
estão acostumados a expressar uma fé simples.
Se nos perguntarmos sobre o significado dessa manifestação de entusiasmo, que
podíamos chamar, por uma boa razão, de “universal”, nos encontramos com uma
pitada saudável de curiosidade, na espera de prováveis desapontamentos e de
certas críticas que logo chegariam.
Papa Francisco nos últimos meses continua a surpreender-nos e a suscitar
entusiasmo falando de pobreza, de periferias, de ovelhas e do seu fedor, mais do
que de ovelhas imaculadas de certa holografia. Simbolicamente escolheu morar em
um apartamento modesto, levar uma malinha para os seus traslados, quebrar as
normas de segurança, telefonar para casas de simples fieis que se dirigiam a ele
com as mais diversas súplicas. Mas junto com esses sinais retomados e
transmitidos pelos meios de comunicação, em tantas ocasiões, certamente menos
contado foi que nos recomendou a devoção a Maria, consagrando o Mundo inteiro à
Nossa Senhora de Fátima. Chama a nossa atenção com anedotas e experiências
pessoais da forma mais simples, tradicional, popular, de expressão do amor pelo
Senhor. Reafirmou a sacralidade da vida de todo homem, especialmente dos
não-nascidos, dos jovens e dos anciãos, que são o futuro e o passado, a
esperança e a memória de cada nação e de cada sociedade.
Depois concedeu algumas entrevistas, se ofereceu para falar com alguns
jornalistas, conservando também com eles o mesmo estilo imediato que não mede as
palavras, que quer aquecer o coração do seu interlocutor para prepará-lo para
receber a semente que ele lança, sem saber e sem perguntar-se se e quando
brotará: podem imaginar Scalfari emocionado por causa do telefonema do Papa (ele
mesmo disse), que não sabe quais palavras utilizar, que aceita o encontro,
lugar, dia e hora, proposto pelo Papa Francisco sem complicações por
compromissos anteriores? E chegaram as críticas.
As primeiras vieram de dentro mesmo da Igreja e isso em si não é ruim, é
sempre um sinal de atenção, por outro lado o Papa não é sempre infalível, na
verdade só raramente fala ex cathedra, comprometendo-nos aos seguimento sem
discussões, portanto, na maioria das vezes, especialmente quando o contexto é
informal, quase confidencial (e Francisco muitas vezes se move nestes espaços),
que é suficientemente formado e informado, suficientemente respeitável e
especializado, com as devidas formas e com toda a caridade que é capaz, pode
também fazer críticas, pedir esclarecimentos ou expressar perplexidades.
O que não é aceitável, e que é substancialmente risível, é acusar o Papa de
intenções cismáticas ou de subversivo com relação ao Magistério.
Acho que Francisco quer deixar claro que a sua atenção é realmente cada um de
nós, assim como a de Jesus, por isso interpreta o papel do Pontífice de modo
literal, procura contatos pessoais de uma forma incrível, correndo o risco da
simplificação, às vezes, até mesmo do equívoco, aproximando-se de cada um de
acordo com a lei da gradualidade que, como nos ensinaram, não é a gradualidade
da lei.
O próprio São Francisco foi ao Papa de joelhos, não fundou outra Igreja, mas
esperou que o Papa, com o seu discernimento e com a ajuda do Espírito
reconhecesse a extraordinária novidade da sua pregação, que o abençoasse e o
enviasse ao mundo. Realmente, algum de nós pensa ser mais inspirado?
De Paulo, de Apolo ou de Cefas, de João Paulo II, de Bento ou de Francisco:
"Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro: tudo é
vosso! Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 22-23). Jesus é o
fundamento, Ele é o Caminho, Ele escolheu Pedro, nós acreditamos que também
escolheu Francisco. Por outro lado, ou é assim e temos que cerrar fileiras em
torno a ele, ou não é assim e então tudo seria em vão, e até mesmo as nossas
considerações e esclarecimentos!
Penso eu que três palavras deveriam estar impressas na nossa mente e no nosso
coração depois destes primeiros meses de pontificado: ternura, custódia,
misericórdia. Sobre cada uma, sabendo fazê-lo, poder-se-ia escrever muito, mas
de forma essencial delineiam a fisionomia do “Homem Novo”, exposto às
intempéries do Mundo, parado na porta, mas acolhedor, guardião confiável porque
forte, embora suave, capaz de perdão porque conhece bem a debilidade, que não se
retira do encontro e do confronto porque “o Senhor é minha luz e minha salvação,
a quem temerei? O Senhor é a fortaleza da minha vida, de quem terei medo? " (Sl
26).
Cada Papa é o que tem que ser, porque, graças a Deus, não depende de nós.
*** Andrea Filoscia é Presidente da Associação Ciência e Vida de Viterbo,
na Itália
ROMA, 23 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Continuando as catequeses sobre a Igreja, hoje gostaria de olhar para Maria
como imagem e modelo da Igreja. Faço isso retomando uma expressão do Concílio
Vaticano II. Diz a Constituição Lumen gentium: “Como já ensinava Santo Ambrósio,
a Mãe de Deus é figura da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união
com Cristo” (n. 63).
1. Partamos do primeiro aspecto, Maria como modelo de fé. Em que sentido
Maria representa um modelo para a fé da Igreja? Pensemos em quem era a Virgem
Maria: uma moça judia, que esperava com todo o coração a redenção do seu povo.
Mas naquele coração de jovem filha de Israel havia um segredo que ela mesma
ainda não conhecia: no desígnio do amor de Deus estava destinada a tornar-se a
Mãe do Redentor. Na Anunciação, o Mensageiro de Deus chama-a “cheia de graça” e
lhe revela este projeto. Maria responde “sim” e daquele momento a fé de Maria
recebe uma luz nova: concentra-se em Jesus, o Filho de Deus que dela se fez
carne e no qual se cumprem as promessas de toda a história da salvação. A fé de
Maria é o cumprimento da fé de Israel, nela está justamente concentrado todo o
caminho, toda a estrada daquele povo que esperava a redenção, neste sentido é o
modelo da fé da Igreja que tem como centro Cristo, encarnação do amor infinito
de Deus.
Como Maria viveu esta fé? Viveu na simplicidade das mil ocupações e
preocupações cotidianas de toda mãe, como fornecer o alimento, a vestimenta,
cuidar da casa… Justamente esta existência normal de Maria foi terreno onde se
desenvolveu uma relação singular e um diálogo profundo entre ela e Deus, entre
ela e o seu Filho. O “sim” de Maria, já perfeito desde o início, cresceu até o
momento da Cruz. Ali a sua maternidade se espalhou abraçando cada um de nós, a
nossa vida, para nos guiar ao seu Filho. Maria viveu sempre imersa no mistério
de Deus feito homem, como sua primeira e perfeita discípula, meditando cada
coisa no seu coração à luz do Espírito Santo, para compreender e colocar em
prática toda a vontade de Deus.
Podemos fazer-nos uma pergunta: deixamo-nos iluminar pela fé de Maria, que é
nossa Mãe? Ou a pensamos distante, muito diferente de nós? Nos momentos de
dificuldade, de provação, de escuridão, olhamos para ela como modelo de
confiança em Deus, que quer sempre e somente o nosso bem? Pensemos nisso, talvez
nos fará bem encontrar Maria como modelo e figura da Igreja nesta fé que ela
tinha!
2. Vamos ao segundo aspecto: Maria modelo de caridade. De que modo Maria é
para a Igreja exemplo vivo de amor? Pensemos em sua disponibilidade para com a
prima Isabel. Visitando-a, a Virgem Maria não lhe levou somente uma ajuda
material, também isto, mas levou Jesus, que já vivia em seu ventre. Levar Jesus
àquela casa queria dizer levar a alegria, a alegria plena. Isabel e Zacarias
estavam felizes pela gravidez que parecia impossível em sua idade, mas é a jovem
Maria que leva a eles a alegria plena, aquela que vem de Jesus e do Espírito
Santo e se exprime na caridade gratuita, no partilhar, no ajudar, no
compreender.
Nossa Senhora quer trazer também a nós o grande presente que é Jesus e com
Ele nos traz o seu amor, a sua paz, a sua alegria. Assim é a Igreja, é como
Maria: a Igreja não é um negócio, não é uma agência humanitária, a Igreja não é
uma ONG, a Igreja é enviada a levar Cristo e o seu Evangelho a todos; não leva a
si mesma – se pequena, se grande, se forte, se frágil, a Igreja leva Jesus e
deve ser como Maria quando foi visitar Isabel. O que levava Maria? Jesus. A
Igreja leva Jesus: este é o centro da Igreja, levar Jesus! Se por hipótese, uma
vez acontecesse que a Igreja não levasse Jesus, aquela seria uma Igreja morta! A
Igreja deve levar a caridade de Jesus, o amor de Deus, a caridade de Jesus.
Falamos de Maria, de Jesus. E nós? Nós que somos a Igreja? Qual é o amor que
levamos aos outros? É o amor de Jesus, que partilha, que perdoa, que acompanha,
ou é um amor aguado, como se diluísse o vinho com água? É um amor forte ou
frágil, tanto que segue as simpatias, que procura um retorno, um amor
interessado? Outra pergunta: Jesus gosta do amor interessado? Não, não gosta,
porque o amor deve ser gratuito, como o seu. Como são as relações nas nossas
paróquias, nas nossas comunidades? Nós nos tratamos como irmãos e irmãs? Ou nos
julgamos, falamos mal uns dos outros, cuidamos de cada um como o próprio jardim,
ou cuidamos uns dos outros? São perguntas de caridade!
3. Brevemente um último aspecto: Maria modelo de união com Cristo. A vida da
Virgem Maria foi a vida de uma mulher do seu povo: Maria rezava, trabalhava, ia
à sinagoga… Mas cada ação era cumprida sempre em união perfeita com Jesus. Esta
união alcança o ponto alto no Calvário: aqui Maria se une ao Filho no martírio
do coração e na oferta da vida ao Pai pela salvação da humanidade. Nossa Senhora
fez sua a dor do Filho e aceitou com Ele a vontade do Pai, naquela obediência
que dá frutos, que dá a verdadeira vitória sobre o mal e sobre a morte.
É muito bonita esta realidade que Maria nos ensina: ser sempre mais unidos a
Jesus. Podemos perguntar-nos: nós nos lembramos de Jesus somente quando algo não
vai bem e temos necessidade ou a nossa relação é constante, uma amizade
profunda, mesmo quando se trata de segui-Lo no caminho da cruz?
Peçamos ao Senhor que nos doe a sua graça, a sua força, a fim de que na nossa
vida e na vida de cada comunidade eclesial reflita-se o modelo de Maria, Mãe da
Igreja. Assim seja!
Homilia na Casa Santa Marta: papa destaca que, para
entrar no mistério de Deus, também são necessárias a contemplação, a proximidade
e a abundância
Por Salvatore Cernuzio
CIDADE DO VATICANO, 22 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Partindo da primeira leitura de hoje (Rm
5,12.15b.17-19.20b-21), o Santo Padre afirmou que o mistério de Deus "é sempre
um mistério maravilhoso".
A compreensão desse mistério, que se refere "à nossa salvação e redenção", só
ocorre “quando nos ajoelhamos em contemplação”. Quando a inteligência pretende
explicar sozinha algo que é mistério, "ela se torna louca", completou o
papa.
A contemplação é, portanto, "a primeira palavra que talvez nos ajude" a
entrar no mistério, e o mistério deve absorver cada componente humano:
"inteligência, coração, joelhos, oração".
A segunda palavra que nos ajuda a entrar no mistério é "proximidade", que se
substancia na natureza de Jesus Cristo: como ser humano, ele faz um "trabalho de
artesão, de operário". Se um homem, Adão, cometeu o primeiro pecado, também um
homem, Jesus, nos redimiu. E Deus sempre "caminhou junto com o seu povo", desde
os tempos de Abraão.
Como um "enfermeiro" no hospital, "Deus vai curando as feridas". Ele "se
envolve nas nossas misérias, fica mais perto das nossas feridas e as cura com a
mão, e, para ter mãos, ele se tornou homem".
Deus vem essencialmente para nos curar do pecado e não nos salva "por
decreto", mas com "ternura"; nos salva "com carícias" e "com a vida".
A terceira palavra-chave é "abundância". São Paulo diz: "Onde o pecado
abundou, a graça superabundou". Cada um de nós sabe dos seus pecados e da sua
miséria, mas "o desafio que Deus nos faz é vencer, curar essas feridas", e,
acima de tudo, "doar superabundantemente o seu amor, a sua graça". Assim,
entendemos a "preferência de Jesus pelos pecadores".
Se no coração das pessoas "abundava o pecado", ele se aproximava com "a
superabundância da graça e do amor". A graça de Deus sempre vence, "porque é ele
mesmo quem se dá, quem se achega, quem nos acaricia, quem nos cura".
Embora algumas pessoas possam não gostar muito de reconhecer, “aqueles que
estão mais próximos do coração de Jesus são os mais pecadores”. Ele mesmo diz:
"Quem tem boa saúde não precisa de médico. Eu vim para curar, para salvar"..
Um dos “pecados mais feios”, continuou o Santo Padre, é a desconfiança,
especialmente em relação a Deus. Como é possível "desconfiar de um Deus tão
próximo, tão bom, que prefere o coração pecador?". É um mistério difícil de
entender, especialmente se nos obstinamos em tentar entendê-lo apenas "com a
inteligência".
De muito mais ajuda, disse Francisco, serão as três palavras mencionadas:
contemplação, proximidade e abundância. E Deus sempre vence "com a
superabundância da sua graça, com a sua ternura", "com a sua riqueza de
misericórdia", encerrou o papa.
Caros diocesanos. Estamos para celebrar a 22ª Romaria Diocesana de Nossa Senhora Conquistadora, a realizar-se no dia 27 de outubro próximo. Em 2012 tivemos dia chuvoso e seguimos o “plano b”, celebrando nas quatro Igrejas Matrizes da cidade, o que também foi avaliado como muito positivo. Em 2013, esperamos poder novamente formar a grande família diocesana, como irmãos e irmãs, reunidos por Maria, caminhando para o Santuário, local do momento alto, quando celebraremos a Eucaristia, precedida pela recepção da réplica da cruz da JMJ, levada pelos jovens, e da bênção do novo mosaico de nossa Mãe Conquistadora. De ano para ano, temos algo novo que nos surpreende ao nos aproximarmos do local do Santuário. Nesta 22ª romaria pretendemos caminhar pelas ruas de nossa cidade e igualmente inaugurar com nossos próprios passos o asfalto da, agora chamada, Rua Dom Augusto Petró, ao longo do Santuário. Os caminheiros são profundamente gratos ao poder executivo da cidade por este gesto de apoio e serviço ao santuário. À medida que formos chegando ao Altar Monumento, nós veremos Nossa Senhora Conquistadora, apresentada em grande e colorido mosaico de cerâmica, que identifica a quem estamos dedicando esse local sagrado. O quadro evoca também sua origem missioneira, a partir da representação dos três Mártires das Missões: Santos Roque Gonzáles, Afonso Rodrigues e João de Castilhos, primeiros portadores da imagem de Nossa Senhora, já em 1626, afim de conquistar para Jesus os nativos desta terra. O belo quadro não possui moldura, porque, ora o céu azul ou nublado a representa; ora o verde da natureza o circunda; ora somos nós diocesanos que formamos um contorno vivo e cheio de fé, como nos momentos de romaria. Sem nossa presença e do mundo criado, o quadro permanecerá inacabado. Sim, Maria não quer ficar sozinha; ela quer junto a si os filhos e filhas, reunindo-os em família para conduzi-los ao encontro de Jesus Cristo. Que ela continue a nos cativar, a nos atrair, a nos conquistar, como nos primórdios da difusão do cristianismo nestas Terras da Fronteira Oeste. Novamente haveremos de cantar com convicção e alegria: “Neste Pampa abençoado, desde outrora,Conquistando os nativos desta terra,Com carinho cuida hoje, ó Senhora,Deste povo que Te ama e em Deus espera. /:Salve, Salve, ó Mãe! Salve, Conquistadora!:/ Neste Ano da Fé, guiados pelo lema: “Com a Mãe Conquistadora anunciamos a Boa Nova em nossa Terra Santa”, a Virgem Maria nos anime na missão de evangelizar em nossas comunidades, pastorais, serviços, movimentos, associações, escolas, cidades, campos e demais ambientes. Ela foi a primeira e mais fiel discípula missionária de seu Filho Jesus, tornando-se nosso modelo de fé e nossa intercessora. Está chegando o grande momento mariano da Diocese de Uruguaiana. Motivemo-nos uns aos outros, convidemos nossos familiares, amigos e vizinhos para caminharmos juntos com a Mãe Conquistadora, ao encontro de seu Santuário. Neste local sagrado escutaremos a Palavra de seu Filho e celebraremos a Eucaristia, momento alto de nosso peregrinar ao encontro do Senhor. Ao término da celebração da 22ª romaria, será lançada especial campanha para construção da Capela de Nossa Senhora Conquistadora, no local do Santuário. Com a gentil colaboração da Família militar, teremos novamente disponível o espaço, junto ao 22º GAC, para sombra, alimentação, show musical e Bênção do Envio. Aos colaboradores, gratidão e bênçãos! No dia 27 de outubro, às 08h e 30 min, em frente à catedral, guiados pela réplica da Cruz Peregrina da JMJ, venham caminhar conosco e com a Mãe Conquistadora para o local do Santuário, sempre mais lindo, porque sempre mais de Maria e nosso!
Dom Filippo Santoro, arcebispo de Taranto, atualiza o Documento de Aparecida na linha do Concílio Vaticano II. O arcebispo foi colaborador do então cardeal Jorge Mario Bergoglio que guiou a comissão encarregada de escrever o documento final de Aparecida
O Magistério e a ação pastoral do papa Francisco são o fruto maduro da Conferência Geral do episcopado latino americano, realizada no Brasil, no santuário mariano nacional de Aparecida em maio de 2007 da qual o cardeal Jorge Mario Bergoglio foi protagonista e figura de destaque. A Conferência de Aparecida indicou no "discípulo missionário" o sujeito da presença da Igreja na sociedade para que os povos latino-americanos tenham vida plena. O sujeito é quem tem consciência de si mesmo, de sua originalidade e missão. O novo sujeito que está na origem da libertação cristã nasce de algo diferente do puro dinamismo natural, não é fruto do esforço humano e nem mesmo do planejamento pastoral. A originalidade é dada pela irrupção do Espírito na história. Daqui procede a força profética da Igreja na América Latina, que assume a missão proclamada por Jesus na sinagoga de Nazaré: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu e me enviou para levar aos pobres a boa notícia "(Lc 4, 18). Daí a vigorosa afirmação da evangélica opção preferencial pelos pobres. Trata-se exatamente e simplesmente da pobreza evangélica e do testemunho de vida em meio às pessoas como vemos no ser e no agir do Papa Francisco.
A disputa aberta na teologia latino-americana não era tanto sobre o uso da análise marxista (amplamente admitida em certos pontos da galáxia da Teologia da Libertação) e menos ainda sobre a necessidade de mediação das ciências sociais, mas sobre a origem da novidade cristã e sobre o seu impacto específico na sociedade dominada pela injustiça, pela exploração do capitalismo neo-liberal e pela pobreza escandalosa do continente latino-americano. O longo item que levou às duas instruções da Congregação para a Doutrina da Fé, em 1984 (Libertatis Nuntius) e em 1986 (Libertatis conscientia), e que seguiu-se a elas, resultou no maravilhoso evento de graça que foi a Conferência de Aparecida , da qual pude participar.
O seu ponto de partida não foi a análise social, mas a fé de um povo feito na sua grande maioria de pobres, fazendo uso do método ver, julgar e agir , “a partir dos olhos e do coração dos discípulos missionários”. Diz o n. 19 do Documento final: “Em continuidade com as Conferências Gerais anteriores do Episcopado Latino-americano, este documento faz uso do método “ver, julgar e agir”. Este método implica em contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos Sacramentos, a fim de que, na vida cotidiana, vejamos a realidade que nos circunda à luz de sua providência e a julguemos segundo Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos a partir da Igreja, Corpo Místico de Cristo e Sacramento universal de salvação, na propagação do Reino de Deus, que se semeia nesta terra e que frutifica plenamente no Céu”.
O documento começa com uma solene "ação de graças a Deus", e tem como perspectiva, "a alegria de ser discípulos e missionários de Jesus Cristo". A introdução e o primeiro capítulo indicam a perspectiva de fé em que se move o texto no seu olhar analítico da realidade, no desenvolvimento dos critérios de juízo e nas perspectivas de ação. Sabe-se que o Presidente da Comissão para a elaboração do documento final de Aparecida era o arcebispo de Buenos Aires, cardeal Bergoglio. Com um estilo sapiencial, o Documento de Aparecida na introdução afirma: “O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo” (n. 14). Esta referência inicial à Santíssima Trindade foi positivamente solicitada por causa de uma intervenção decisiva do Cardeal Bergoglio, da qual também fala, com um certo pesar, um comunicado da agência Adista (no n. 46 de 23-06-2007, escrito por Marcello Barros). “Um dos delegados brasileiros, o bispo de Jales, dom Demétrio Valentini, comentou que a Conferência ‘concretizou um dos seus maiores objetivos, o de retomar o caminho da Igreja na América Latina, fortalecendo a identidade e superando perplexidades que impediam a sua ação’. Pena que, uma vez estabelecido, o método não foi depois aplicado com rigor, pois a análise da realidade - o "ver" – foi precedida por um capítulo introdutório sobre “os discípulos missionários”. Como conta o teólogo argentino de Ameríndia, Eduardo de la Serna, o pedido para colocar este capítulo no início da segunda parte foi rejeitado na votação, apesar de ter sido apresentado por 16 presidentes de Conferências Episcopais. Quem se manifestou contrariamente, antes da votação, foi o cardeal Jorge Mario Bergoglio, presidente da Conferência Episcopal da Argentina e da Comissão de Redação, argumentando que com relação à dureza da realidade, era melhor começar com uma espécie de doxologia (hino de louvor a Deus )”.
Assim, o esquema do documento valoriza a tradição da teologia e da pastoral latino-americana, mas, ao mesmo tempo, coloca em evidência a perspectiva da fé. Certamente ela não estava ausente, mas em certos desenvolvimentos tinha sido dada como descontado, devendo preocupar-se, sobretudo, com a gravidade de uma situação social cheia de conflitos e, especialmente, com o “clamor dos pobres”. Neste sentido, ajuda a entender toda a problemática a posição de Clodovis Boff a partir de um artigo da Revista Eclesiástica Brasileira sobre a questão do pobre como princípio epistemológico da Teologia da Libertação.“Quando se questiona o pobre como princípio e se pergunta se não è antes o Deus de Jesus Cristo, a TdL costuma recuar e não nega. E nem poderia, pois Deus está em primeiro lugar, por definição. […] O que faz problema è a sua indefinição sobre uma questão que é capital na esfera do método” . O dado da fè “representa umdado pressuposto, que ficou para atrás, e não um princípio operante que continua sempre ativo. […] Pois o primado da fé, como não pode ser dado por descontado do ponto de vista existencial, também não pode sê-lo do ponto de vista epistemológico”. ”.(Teologia da Libertação e volta ao fondamento, in: REB, fasc. 268, out/2007, passim pp. 1002-1004).
Esta ambiguidade é superada pela Conferência de Aparecida, tanto na estrutura geral do documento quanto na presença viva da fé em cada momento de seu desenvolvimento, desde o olhar para a dura realidade até o seu julgamento e a prática consequente. Trata-se, porém, de uma ambiguidade sempre presente. Por isso, o Papa Francisco, em sua recente viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, no encontro com o presidência do CELAM, voltava sobre o assunto no ponto 4, quando, ao apresentar algumas tentações contra o discipulado missionário, falou da “ideologização da mensagem evangélica”, e afirmou: “É uma tentação que se verificou na Igreja desde o início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica fora da própria mensagem do Evangelho e fora da Igreja. Um exemplo: a dado momento, Aparecida sofreu essa tentação sob a forma de “ assepsia ” . Foi usado, e está bem, o método de “ver, julgar, agir” (cf. n.º 19). A tentação se encontraria em optar por um "ver" totalmente asséptico, um “ver” neutro, o que não é viável. O ver é sempre influenciado pelo olhar. Não há uma hermenêutica asséptica. Então a pergunta era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respondeu: Com o olhar de discípulo. Assim se entendem os números 20 a 32. Existem outras maneiras de ideologização da mensagem e, atualmente, aparecem na América Latina e no Caribe propostas desta índole. Menciono apenas algumas: a) O reducionismo socializante. É a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até às categorizações marxistas...”
Se o Papa fala disso significa que ainda podem subsistir as tentações e as ambiguidades. Certamente Aparecida deu uma contribuição significativa e marcou uma mudança de posição que é válida não só para a América Latina, mas para toda a Igreja. Isso se tornou possível graças ao magistério e ao testemunho do Papa Francisco que quer "uma Igreja pobre para os pobres".
Antes de sua eleição, Aparecida foi praticamente ignorada na Itália e na Europa e em outras partes do mundo, apesar das várias intervenções dos bispos latino-americanos nos últimos dois sínodos. Aparecida, numa fase não mais eurocêntrica, coloca-se hoje como um magistério não só regional, mas oferecido a toda a Igreja em suas escolhas específicas, que constituem o desenvolvimento do Concílio Vaticano II. A começar pela opção pelos pobres à inculturação da fé, Ao protagonismo dos leigos na luta pela justiça contra as estruturas sociais e econômicas injustas, passando pelas comunidades eclesiais de base até chegar às pequenas comunidades, etc. Tudo é valorizado: a vida, a família, o renascimento vigoroso da religiosidade popular, a liturgia, a arte, a cultura, as vocações, os jovens, os movimentos e as novas comunidades, etc. O tema dominante, no entanto, continua sendo a missão, especialmente na terceira parte do documento com o título sugestivo "A vida de Jesus Cristo para nossos povos".
Da experiência latino-americana e de Aparecida deriva esse contato direto com as pessoas, esse assumir os problemas das pessoas levando a esperança de Cristo. Tudo é abraçado a partir da fé. Esta clara posição evangélica é um dom do Espírito e do seu poder que age no povo fiel e que culmina na Conferência de Aparecida. Agora papa Francesco a estende para toda a Igreja. Não se trata de uma teologia particular (como também se pode notar na entrevista concedida pelo Papa à "Civiltà Cattolica"), mas do coração evangélico da libertação cristã. Assim se projeta não apenas uma "Missão Continental", como está acontecendo na América Latina, mas uma verdadeira "Conversão Pastoral" e uma "Missão Permanente", em diálogo com as várias religiões e com as expectativas mais verdadeiras do mundo contemporâneo.
Por Dom Filippo Santoro
D. Filippo Santoro foi nomeado arcebispo de Taranto por Bento XVI a 21 de novembro de 2011. Originário de Bari-Carbonara, 65 anos, é um profundo conhecedor da América Latina e das suas problemáticas eclesiais, inclusive da teologia da libertação. Depois de ter obtido o doutorado em teologia dogmática na Gregoriana e em filosofia na Católica de Milão e ser ordenado padre em 1972, no ano de 1984 foi enviado como padre fidei donum da arquidiocese de Bari para o Rio de Janeiro, no Brasil. De 1988 a 1996 foi responsável por Comunhão e Libertação na América Latina e em 1992 participou como teólogo-perito na IV Conferência Geral do CELAM de Santo Domingo. João Paulo II o nomeou, em 1996, bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro e em 2004, bispo de Petrópolis. Participou em 2007 na V Conferência Geral do episcopado latino-americano celebrada em Aparecida, no Brasil, onde foi colaborador do então cardeal Jorge Mario Bergoglio que guiou a comissão encarregada de escrever o documento final de Aparecida.
ROMA, 21 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Nesta semana que estamos começando, o foco
é a missão da Igreja no mundo, com a Jornada Mundial pela Evangelização dos
Povos (Domund) e seu tema “Fé + Caridade = Missão”. O ponto de partida vem de
duas constatações da Palavra de Deus: a necessidade de orar sempre (Lc 18,1-8 e
Ex 17,8-13) e de proclamar a palavra, insistindo e exortando com toda a
magnanimidade e de acordo com a doutrina (2 Tim 3,14-4,2).
Diz o papa Francisco, no nº 46 da encíclica Lumen Fidei, que os quatro
elementos que contêm o tesouro de memória transmitido a nós pela Igreja são a
confissão da fé, a celebração dos sacramentos, o caminho do decálogo e a oração.
Sobre a oração do Senhor, o pai-nosso, ele destaca que o cristão aprende,
através dela, a compartilhar a mesma experiência espiritual de Cristo e a ver
com os olhos de Cristo. A partir daquele que é luz da luz, o Filho Unigênito do
Pai, também nós conhecemos a Deus e podemos acender nos outros o desejo de
aproximar-se dele. O número 51 nos diz que as mãos da fé se alçam ao céu, mas,
ao mesmo tempo, edificam na caridade uma cidade construída sobre relações que
têm como fundamento o amor de Deus.
A nossa experiência, o nosso modo de presença no mundo, de cada dia, em
qualquer circunstância, está de acordo com Jesus Cristo? Somos sustentados pela
comoção perante o Seu olhar e a Sua voz que tanto nos correspondem, abraçam e
renovam?
Na assembleia plenária do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova
Evangelização, dizia também o papa Francisco que temos que “despertar no coração
e na mente dos nossos coetâneos a vida da fé. A fé é um dom de Deus, mas é
importante que nós, cristãos, mostremos que vivemos a fé de modo concreto,
através do amor, da concórdia, da alegria, do sofrimento, porque isto suscita
perguntas, como acontecia no começo da vida da Igreja: por que eles vivem assim?
O que os impulsiona? São interrogações que apontam para o coração da
evangelização, que é o testemunho da fé e da caridade”.
Nesta semana também contamos com uma pessoa excepcional que ilumina esse
caminho da nossa tarefa missionária no mundo: o bispo Santo Antônio Maria Claret
(1807-1870), cuja memória celebramos na quinta-feira, dia 24. No número 264 da
sua Autobiografia, ele nos fala da oração como meio do seu apostolado: “O
primeiro meio de que sempre me vali e me valho é a oração. Este é o meio máximo
que considero necessário… Não só orava eu, mas pedia ainda que orassem os
outros”. Assim orava o sacerdote, contemplativo na ação, com a consciência plena
de um autêntico missionário apostólico, ungido pelo Espírito, para falar aos
pobres anunciando a eles a Boa Nova. O pe. Claret, missionário apostólico, nos
mostra hoje que nós, ao ser ungidos como Cristo, devemos agir como ele, sanando,
curando, consolando, sendo anúncios vivos da urgência da caridade do Senhor para
cada um.
Assim, temos de aproveitar qualquer circunstância para comunicar o evangelho
aos homens de hoje, com as nossas palavras e gestos, partindo das categorias que
sejam inteligíveis, singelas, claras, de forma significativa, que tenham a ver
com as preocupações, interesses e necessidades reais das pessoas. Porque só com
a caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível conseguir objetivos
de desenvolvimento com um carácter mais humano e humanizador (Caritas in
veritate, 9). Identificando-nos com Jesus Cristo, é preciso levar hoje, a todos,
a Sua presença, de uma experiência nova de afeto, apego real, a Ele, realizando
a comunhão urgente em caridade com Ele e entre nós. Esta é a nossa
missão.
Na missa em Santa Marta, o Papa afirma que a riqueza
é um dom de Deus que deve ser usado para ajudar os outros e não para ser
acumulado com ganância
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 21 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - O dinheiro destrói tudo: famílias,
relações com os outros, você mesmo. Para os pastores e padres a reflexão do Papa
Francisco nesta manhã em Santa Marta será um novo ponto de partida para as
catequeses e homilias: “O Papa disse que não devemos ser atacados ao dinheiro".
Para alguns críticos será outra banalidade dita por Bergoglio, o "Papa –
pauperista" que pensa apenas nos pobres.
A homilia do Santo Padre não é uma 'pílula matutina do bom humor', mas uma
denúncia do que pode ser um veneno para a alma do homem: a ganância.
Papa Francisco reiterou isso muito bem: o apego ao dinheiro "leva à
idolatria, destrói as relações com os outros". E quando falta um relacionamento
de amor com o outro, é difícil ter um relacionamento com Deus. Bergoglio, no
entanto, não quis simplesmente condenar a riqueza: essa “pode ser um instrumento
de salvação e redenção, se você a considerar como dom de Deus e colocar à
disposição daqueles que necessitam – afirmou.
O Papa fala por fatos, através das coisas que viveu e experimentou durante
décadas de ministério pastoral no meio do povo: "Quantas famílias destruídas
vemos pelo problema do dinheiro: irmão contra irmão, pai contra filho...". Bem
como mostra o Evangelho, na liturgia de hoje (Lc 12, 13-21) que conta a história
de um homem que corre o risco de separar-se de um irmão de carne por questão de
herança e pede a Jesus para intervir.
"Essa é a primeira consequencia da atitude de estar apegado ao dinheiro:
destrói" - disse o Papa - "Quando uma pessoa é apegada ao dinheiro, destrói a si
mesma, destrói a família! O dinheiro destrói!É assim ou não?”
"O dinheiro - melhor explica o Santo Padre - serve para levar avante muitas
coisas boas, muitos projetos para desenvolver a humanidade, mas quando o seu
coração está apegado, destrói a pessoa". Jesus narra a parábola do homem rico
que "acumula tesouros para si e não é rico para Deus".
"Isso é o que dói -acrescenta Francisco- a cupidez na minha relação com o
dinheiro. Ter mais, ter mais, ter mais... ". O problema não é ser rico -diz o
Papa- "mas a atitude, que se chama ganância” e que "provoca doença, porque leva
você a pensar tudo em função do dinheiro".
“A cupidez é um instrumento da idolatria pois vai na direção contrária àquela
que Deus traçou para nós”. O Papa recordou São Paulo quando diz: "Jesus Cristo,
que era rico, se fez pobre para nos enriquecer". O caminho de Deus é, portanto,
"a humildade, o abaixar-se para servir". A cupidez, ao invés, leva o cristão a
percorrer uma estrada contrária: "Você, que é um pobre homem, se faz Deus por
vaidade"- disse o Santo Padre.
O caminho que Deus nos ensina "não é o caminho da pobreza pela pobreza" -
destacou Bergoglio- é "o caminho da pobreza como instrumento, para que Deus seja
Deus, para que Ele seja o único Senhor”. Por isso, "todos os bens que temos, o
Senhor nos dá para que levemos adiante o mundo, adiante a humanidade, para
ajudar os outros".
Jesus -recordou o Papa- "nos diz que não devemos nos preocupar, pois o Senhor
sabe do que precisamos", e convida-nos ao “abandono confiante no Pai, que faz
florir os lírios do campo e alimenta as aves”. Então - concluiu o Papa- devemos
“esculpir hoje, no coração, a Palavra de Deus:‘Cuidado e mantenham distância de
toda cupidez, porque mesmo que alguém viva na abundância, a sua vida não depende
daquilo que possui”.
Entendemos que a oração seja um
impulso do coração, um olhar para o céu, um reconhecimento, uma alegria, uma
suplica...
Mas oração é um dom de Deus, um mistério de fé, um diálogo com o Deus vivo
e verdadeiro. A oração é a elevação da alma a Deus. Ela brota do mais intimo do
ser, num desejo de buscar um relacionamento mais forte com o Senhor, por isso
vem de um coração humilde e contrito.
O coração é o
nosso centro escondido, inatingível pela razão e por qualquer outra pessoa, é a
morada de Deus, e só o Senhor o conhece, e nada se pode esconder Dele.
O Catecismo de Igreja Católica
ressalta que a oração “É uma relação de
Aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; brota do
Espírito Santo e de nós, dirigida ao Pai, em união com a vontade humana do
Filho de Deus feito homem.”(2564)
Portanto podemos afirmar que a
oração é a comunhão dos filhos de Deus com seu Pai , com Jesus Cristo e o
Espírito Santo.
A humanidade sempre buscou na oração
a força e o discernimento para seguir na caminhada. Se olharmos o Antigo
Testamento veremos que os lideres do povo, os profetas dirigiam-se ao Senhor, através da oração, antes de tomar
decisões.
Os salmos são orações que se
estendem em todas as dimensões da historia, seja comemorando as promessas de
Deus, seja esperando a vinda do Messias.
Apresenta dois componentes inseparáveis, a oração pessoal e a oração comunitária.
Rei Davi orava a Deus em diferentes momentos, na alegria, através do louvor, na
angustia, através da suplica....
Jesus Cristo também costumava orar
ao Pai. Aprendeu com sua mãe Maria. Jesus se retirava para montanha, na solidão
para orar, de preferência na madrugada. ( Mc 1, 35)
Jesus em sua oração tinha consigo
todos os homens, pois ao se “encarnar”
assumiu toda humanidade. Em sua oração humana
a Deus, Jesus se compadece e oferece todas as fraquezas humanas, para
livrar os homens do pecado. Jesus convida seus discípulos a cooperar com o
plano divino pela oração, pois a oração de fé não é apenas dizer “
Senhor...Senhor” mas está em querer fazer a vontade de Deus.
Toda a pessoa que quer de fato orar
tem o coração determinado a mudar, a converter-se, e por isso busca na oração
uma intimidade com Deus, uma familiaridade de filho, que quer agradar o Pai.
O papa Francisco tem pedido aos
cristão uma oração fervorosa, para que
o mundo possa ser transformado pelos corações contritos e seja um lugar de paz.
Papa Francisco recorda o Dia das Missões comemorado neste domingo. Expressa sua proximidade às populações das Filipinas atingidas por um forte terremoto
CIDADE DO VATICANO, 20 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs,
No Evangelho de hoje, Jesus conta uma parábola sobre a necessidade de rezar sempre, sem se cansar. O personagem principal é uma viúva que, suplica ajuda a um juiz desonesto, para que lhe faça justiça. E Jesus conclui: se a viúva conseguiu convencer aquele juiz, vocês acham que Deus não nos ouve, se pedirmos com insistência? A expressão de Jesus é muito forte: ?Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite?(Lc 18,7).
?Clamar dia e noite" a Deus! Nos impressiona esta imagem da oração. Mas perguntemo-nos: por que Deus quer isso? Ele já não conhece as nossas necessidades? Que sentido tem "insistir" com Deus?
Esta é uma boa pergunta, que nos faz aprofundar um aspecto muito importante da fé: Deus nos convida a rezar com insistência não porque não sabe do que precisamos, ou porque não nos ouve. Pelo contrário, Ele ouve sempre e sabe tudo sobre nós, com amor. Em nossa caminhada diária, especialmente nas dificuldades, na luta contra o mal dentro e fora de nós, o Senhor não está longe, está do nosso lado; nós lutamos com Ele ao nosso lado, e a nossa arma é precisamente a oração, que nos faz sentir sua presença ao nosso lado, a sua misericórdia, a sua ajuda. Entretanto, a luta contra o mal é difícil e longa, exige paciência e resistência - como Moisés, que tinha que levantar os braços para fazer vencer o seu povo (cf. Ex 17,8-13). É assim: há uma luta para levar adiante todos os dias; mas Deus é nosso aliado, a fé nEle é a nossa força, e a oração é a expressão dessa fé. Por isso, Jesus nos garante a vitória, mas no final pergunta: " O Filho do homem quando vier, encontrará fé sobre a terra?" (Lc 18,08). Se apaga fé, a oração se apaga, e caminhamos nas trevas, nos perdemos no caminho da vida.
E assim, devemos aprender da viúva do Evangelho a rezar sempre, sem se cansar. Era notável esta viúva! Sabia lutar por seus filhos! E penso em tantas mulheres que lutam por sua família, que rezam, que não se cansam jamais. Uma recordação, hoje, todos nós, a essas mulheres que com o seu comportamtento nos dão um verdadeiro testemunho de fé, de coragem, um modelo de oração. Uma recordação a elas! Rezar sempre, mas não para convencer o Senhor com a força da palavras! Ele sabe melhor do que nós do que precisamos! A oração perseverante é ao invés a expressão de fé em um Deus que nos chama a lutar com ele, cada dia, cada momento, para vencer o mal com o bem.
(Depois do Angelus)
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje ocorre o Dia Mundial das Missões. Qual é a missão da Igreja? Difundir em todo o mundo a chama da fé, que Jesus acendeu no mundo: a fé em Deus, que é Pai, Amor, Misericórdia. O método da missão cristã não é fazer proselitismo, mas o da chama compartilhada que aquece a alma.
Agradeço a todos aqueles que, através da oração e da ajuda concreta apoiam o trabalho missionário, em especial, a preocupação do Bispo de Roma pela difusão do Evangelho. Neste dia estamos próximos a todos os missionários e missionárias que trabalham tanto sem fazer barulho, e dão a vida. Como a italiana Afra Martinelli, que trabalhou por muitos anos na Nigéria: há alguns dias foi assassinada, em um assalto; todos choraram, cristãos e muçulmanos. Gostavam dela. Ela proclamou o Evangelho com a vida, com o trabalho realizado de um centro de educação; assim difundiu a chama da fé, combateu o bom combate! Pensemos nesta nossa irmã, e a saudemos com aplausos, todos!
Recordo também Stefano Sándor, que foi beatificado ontem em Budapeste. Ele era um salesiano leigo, exemplar no serviço aos jovens, no oratório e na educação profissional. Quando o regime comunista fechou todas as obras católicas, ele enfrentou a perseguição com coragem, e foi morto aos 39 anos. Nos unimos à ação de graças da Família Salesiana e da Igreja húngara.
Desejo expressar minha proximidade às populações das Filipinas atingidas por um forte terremoto, e convido-vos a rezar por aquela querida nação, que passou recentemente por diversas calamidades.
Saúdo com afeto os peregrinos presentes, a começar pelos jovens que deram vida ao evento 100 metros de corrida e de fé", promovida pelo Pontifício Conselho para a Cultura. Obrigado por nos lembrar que o crente é um atleta do Espírito! Muito obrigado!
Acolho com alegria os fiéis da Diocese de Bolonha e Cesena Sarsina, guiados pelo Cardeal Cafarra e pelo Bispo Regattieri; bem como os de Corrientes, na Argentina, e os de Maracaibo e Barinas, na Venezuela. E hoje na Argentina é comemorado Dia das Mães, dirijo uma saudação afetuosa para as mães da minha terra!
Saúdo o grupo de oração "Raio de Luz", do Brasil, e a Fraternidade da Ordem Secular Trinitária.
As paróquias e associações italianas são muitas, não posso nomeá-las, mas eu saúdo e agradeço a todos com afeto!
Bom domingo! Adeus e bom almoço!
O ser humano criado por Deus é composto
de corpo e alma e deve haver unidade harmoniosa nesta composição para a pessoa
ter equilíbrio. O mundo moderno tem se preocupado muito com o corpo, com o
exterior, busca-se a beleza, procura-se perfeição do corpo. Quantas pessoas,
homens e mulheres se sujeitam a cirurgias difíceis só para se sentirem bonitos.
E a alma, o nosso interior quem
lembra?
Hoje, não vemos mais o corpo humano
como uma obra-prima de Deus, não o consideramos mais como coisa sagrada de
Deus, e esquecemos que somos feitos de matéria e espírito. Hoje,“ perdeu-se a
unidade sagrada do ser humano vivo, que é a convivência dinâmica da matéria e
de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.(Boff)
A pessoa humana é um ser
fundamentalmente espiritual, e a espiritualidade faz parte de sua vida, do seu
ser e de sua identidade, podemos dizer “que é a essência, a origem e o
principio” .(Fassini)
A espiritualidade deve fazer
parte da personalidade de cada um, porque se não for assim não é
espiritualidade, deve abranger todas as dimensões do ser humano, corpo e alma,
pensamento e vontade, palavra e ação, interioridade e comunicação... enfim ou a
espiritualidade é minha, faz parte do meu ser , ou não me realizo como pessoa.
A espiritualidade é um modo de ser,
são atitudes vividas a cada momento , em cada situação ou circunstância, mesmo
nas simples tarefas diárias, nos afazeres domésticos, nos trabalhos, nos estudos, na
intimidade do casal...
Quem cultiva a espiritualidade é uma
pessoa centrada, serena, que irradia paz, vitalidade e entusiasmo, porque
carrega Deus dentro de si.
Portanto, se a espiritualidade é
uma dimensão do ser humano, ela
não é privilégio de uma só religião. Cada religião tem a sua forma de cultivar
a espiritualidade.
Nós católicos vivemos a nossa
espiritualidade a partir da ação do Espírito Santo, somos guiados para Cristo
em comunhão de amor com a comunidade cristã e com o serviço prestado aos
pobres. Deus chama e escolhe e nos dá condições para viver de acordo com a sua
vontade.
São Pedro na segunda carta
capitulo primeiro nos diz:“
Por isso façam todo o possível para juntar bondade a fé que vocês têm, a bondade juntem o conhecimento e ao
conhecimento, o domínio próprio. Ao domínio próprio juntem a perseverança e a
perseverança, a devoção a Deus. A essa devoção juntem amizade cristã e a
amizade cristã juntem o amor.” “ ...as Sagradas Escrituras dizem: Sejam santos
porque eu sou Santo.” Portanto, a espiritualidade deve
provocar uma mudança interior e aos católicos o seguimento a Jesus Cristo.
O Papa Francisco, durante entrevista, sublinhou a importância e necessidade de se buscar novos modos de participação da mulher na vida da Igreja. Uma sinalização esperançosa que pode fazer grande diferença no contexto eclesial, mas também uma indicação que deve desencadear um processo mais abrangente de mudança, com incidências em toda a sociedade. É preciso superar, sobretudo, um grave problema social, que infelizmente ocorre com muita frequência no contexto das famílias: a violência contra a mulher. É triste saber que a Lei Maria da Penha, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não reduziu os índices de morte de mulheres agredidas. Diante de todos, está essa chaga terrível, que aflige pessoas e atormenta ambientes familiares, com impactos incalculáveis, tanto na vida das vítimas quanto no contexto social mais amplo.
Os crimes contra mulheres são praticados quase sempre por parceiros e ex-parceiros. O estudo sobre “Violência contra a mulher, feminicídios no Brasil”, publicação do Ipea, serve de grande alerta e estímulo a ações corretivas mais incidentes para transformar essa abominável realidade. Feminicídio é o homicídio da mulher por questão de gênero, simplesmente porque é mulher. São geralmente abusos familiares, com consequentes prejuízos na consistência do tecido social. Ora, incontestável, hoje, é a convicção de que a família é célula vital da sociedade, e a agressão contra a mulher é também violência contra esta instituição.
Comprometidos os vínculos naturais de afeto, todos sofrem com prejuízos sem proporção. As consequências são muitas e de variados tipos, atingindo todos os membros de uma família. Instala-se um clima de irresponsabilidade geral, abrindo espaço para vícios como o alcoolismo, outras dependências químicas e o consequente comprometimento do sentido de cidadania. Aqueles que agridem as mulheres são, pois, perigosos no contexto familiar, mas também oferecem riscos para toda a sociedade.
Assim, o equilíbrio familiar deve se tornar meta a ser alcançada permanentemente. Reconhecendo a centralidade da família, é preciso encontrar caminhos para reverter esse quadro abominável de violência. Mostra a pesquisa publicada que a Lei Maria da Penha não tem sido eficaz no propósito de alcançar metas de superação da violência doméstica. Vale refletir que é preciso conquistar algo além de uma legislação ou mais peso a normas e sanções. Estas têm sua importância pedagógica e corretiva. Há, contudo, uma perspectiva talvez não muito valorizada, em razão da mentalidade vigente na sociedade contemporânea. Trata-se daquela que indica ser a espiritualidade um caminho eficaz para mudar ambientes familiares, pela transformação mais profunda dos homens.
Recentemente, surgiu um movimento espiritual chamado Terço dos Homens. É o cultivo da devoção a Nossa Senhora pela oração reverente, partilhada e meditada do Terço, uma vez por semana. Igrejas recebem um grande número de homens, acompanhados de jovens e de crianças, filhos ou netos. Os testemunhos têm sublinhado caminhos de grandes mudanças, como o abandono da bebida, a retomada da competência do homem exercida no lar pelo afeto e carinho, mais presença junto aos filhos, resgate da fidelidade ao matrimônio e a conquista de sensibilidades indispensáveis para se viver de modo adequado.
Vale conhecer e indicar o Terço dos Homens. Não são poucos os relatos de mulheres sobre as mudanças em suas casas. Um santo e eficaz remédio, a espiritualidade gerada e cultivada pela experiência simples da reza do Terço produz grandes mudanças. É um valioso caminho para acabar com a triste realidade da violência contra a mulher.