sábado, 16 de novembro de 2013

VIVER E CONVIVER




A comunidade cristã está inserida em uma realidade, por isso é necessário olhar a realidade que nos cerca. Estamos vivendo em um mundo cruel, onde a vida não tem valor. Onde o amor foi banalizado e como conseqüência a família está desestruturada. Um mundo com desigualdade social muito grave, com grande parcela da população sem ter onde morar, o que vestir, comento restos do lixo.
Somo seguidores de Jesus Cristo, e convivemos tranqüilamente com essa realidade. Lavamos as mãos, dizemos que o problema não é nosso, é do governo. Será?
Jesus sempre foi muito sensível diante das necessidades humanas. Ele tem compaixão, compartilha da dor do povo com fome, sofrido, oprimido e excluído. Vai além da fome física, quer saciar a fome da fé, da esperança, do amor, da paz e da justiça.
 Se pensarmos na cena da multiplicação dos pães,(Mc 8, 1-9) veremos que a partilha foi fundamental para aliviar a fome de tantos que ali estavam. Mostra que quando há partilha há o suficiente para todos saciar a sua fome e ainda sobra. Jesus ai da mostras da vivencia comunitária e hoje ante as dificuldades do povo, precisamos nos comprometer, estar atentos às necessidades da comunidade, sem paternalismo, mas com atitudes de ações solidárias
Precisamos lançar alicerces profundos nesta sociedade que vivemos hoje, a vida em comunidade é o jeito ensinado por Jesus. Precisamos resgatar a família, a menor comunidade, que   vem sofrendo abalos constantes.Se a família é a fonte de vida, deve ser a fonte do amor. A família é a base, o núcleo da sociedade. A família é a Igreja domestica, é ali que surge a vida, deve ser, portanto, o lugar privilegiado do amor, do relacionamento, da união, da comunhão.
 É na família que a criança cresce e se desenvolve física e emocionalmente, deve ter a educação pautada nos valores evangélicos, para que permaneçam para vida toda. E na família que surge o cristão. O bom cristão é conseqüência de um aprendizado do amor familiar, do amor comunitário onde há partilha, da vivencia cristã, para ser tornarem pessoas conscientes, equilibradas e comprometidas com a comunidade.  A comunhão vivida pela Sagrada Família precisa ser exemplo a ser seguido pela família hoje, com pai, mãe e filhos crescendo em estatura, graça e sabedoria. E como estão as nossas famílias hoje? Pais separados...Família só de mãe... Filhos que não conhecem seus pais.... A família é sagrada!
Deus é amor.  Jesus nos deixou o caminho do amor, do amor ao próximo. O amor ao próximo nos conduz a Deus, porque o amor a Deus e ao próximo são inseparáveis, constituem um único  mandamento , pois no próximo encontramos Jesus e em Jesus encontramos Deus. “Toda a vez que fizeres isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes.”(Mt25,40) Teremos Deus em nós quando nos amarmos uns aos outros.
Não podemos esquecer que a Igreja é a família de Deus no mundo, e que nesta família não deve ter quem sofra por falta do necessário, por falta de dignidade, por não ter acesso aos direitos fundamentais, ou seja, que não tenha direito a vida, a saúde, alimentação, a moradia, a educação. A Igreja tem uma riqueza, tem as Doutrinas Sociais, que é uma coleção de documentos de diferentes papa, que abordam com profundidade os problemas sociais, suas causas e conseqüências. Aponta caminhos a ser seguido. O primeiro documento foi escrito pelo Papa Leão XIII, em 1891 a Rérum Novarum. E desde ai os papas têm  dado seqüência na reflexão do problema social.
 A nossa tendência é apenas dar, fazer assistencialismo puro, mas desta forma não mudaremos a situação. “Se alguém está em um poço fundo e só alcançarmos alimento, ele não vai morrer, mas será preciso levar alimento todos os dias. Mas se eu alcançar uma corda e ajudá-lo a sair, ele mesmo terá condições de buscar seu próprio alimento.”
 É preciso conhecer a realidade, cuidar da promoção humana, criar caminhos com trabalhos alternativos, envolver as famílias e as crianças em atividades construtivas para que possam construir um ambiente saudável. Enfim dar condições para que possam caminhar com as próprias pernas. Ver, ter compaixão é colocar-se no lugar do outro. Jesus nos da mostras do que é compaixão na parábola do Bom Samaritano, que se abaixou tratou as feridas e depois o conduziu a hospedaria para que se recuperasse. Temos ai alguns passos que são necessários dar, abaixar-se para poder ajudar o irmão a levantar-se.
 Só com atitudes concretas de amor realizaremos a vontade de Deus. É preciso ir conhecer a periferia, a sua realidade, pois são os pés que ajudam a mudar a cabeça e o coração. Buscar inspiração em pessoas  como Madre Tereza de Calcutá, irmã Dulce, São Francisco de Assis conhecer a vida de tantos santos que fizeram da sua oração,  a opção pelos pobres, da sua vida a doação ao irmão.
  Devemos cuidar para que as comunidades cuidem para que todos possam participar, mesmo aquele que permanece  no interior precisa ter condições de bem viver a sua fé, é preciso tomar consciência de que a comunidade é o eixo central de toda a ação pastoral, de todo o serviço, a comunidade deve ser tudo para todos.
A luz do Espírito Santo a comunidade cristã anuncia a verdade revelada por Cristo, tem a Palavra como  ponto essencial e fundamental, e faz da  Eucaristia o centro e ápice da vida e cria meios de comunhão com Deus e com os irmãos, estabelece a justiça, a solidariedade e a fraternidade.Pois a comunidade cristã não tem outro caminho a não ser o da comunhão, com a tarefa de construir a fraternidade.
                                          Maria Ronety Canibal

Jerusalém e o desafio de evangelizar



 (Zenit.org) Rachel Lemos Abdalla 

Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar (Lucas 19,41-44). Ele chega, vindo do leste, passando pelos pequenos e humildes povoados de Betfagé e Betânia, montado num jumento, mostrando o tipo de realeza que exercia, da paz e da humildade, em oposição aos reis que iam para a guerra montados em cavalos. Esse exemplo de Jesus nos remete a pensar sobre os lugares que a catequese tem passado, como ela se apresenta e onde quer chegar.
A oportunidade de apontar o caminho a ser seguido não pode ser deixada para trás. Segundo o documento de Aparecida: “A nossa maior alegria é ser discípulos de Jesus! Ele chama cada um de nós pelo seu nome, conhecendo profundamente a nossa história (cf. Jo 10,3), para conviver com Ele e enviar-nos a continuar a sua missão (cf. Mc 3,14-15).”
Jesus tinha um propósito em Jerusalém: cumprir a missão que o Pai lhe deu, doar-se até o extremo por amor. Assim, todo discípulo missionário deve ser também, sem desanimar diante dos desafios que se apresentam continuamente, pois, a sua força vem da Palavra de Deus é o cajado que o sustenta de pé.
Pais, catequistas e todo o povo de Deus, que é chamado a ser discípulo missionário, têm o compromisso de ser testemunha da sua fé e do amor de Cristo pelos homens. Muito mais do que ensinar a doutrina, a prática cristã nos encontros de catequese e na vida é a melhor forma de educar e ensinar, pois ela é o espelho da nossa fé que reflete na comunidade, na sociedade e no mundo.
Ainda temos fiéis que batem à porta da nossa Igreja, pois Jesus prometeu que ela nunca seria destruída ao declarar para Pedro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16,16). E nós, como temos recebido esses irmãos que nos procuram? Nós somos os responsáveis por não deixar que as portas de Igreja se fechem! Cada dia mais, ela precisa de pessoas alegres e dispostas, com um sorriso no rosto e confiantes, felizes por conhecerem e caminharem ao lado de Jesus Cristo, acolhendo aqueles que dela se aproximam, e levando esse mesmo dinamismo por onde passam.
Jesus chorou porque Jerusalém não O reconheceu e seria destruída mais tarde. Hoje, também nós choramos pelo mesmo motivo! Quantas famílias, jovens e crianças se encontram à margem da espiritualidade cristã, sem nenhum tipo de orientação e formação que os sustentem no amor, tornando-se vítimas da aridez que o mundo passa! Jesus chorou assim como muitos choram a nossa dureza, a nossa falta de paciência, a nossa visão distorcida, a nossa falta de caridade e de amor.
Como você tem praticado o amor em sua vida e entre os seus? Somente no seu amor próprio? Ou se esforça e trabalha seus sentimentos e seu compromisso com Cristo, em prol do amor que Ele veio ensinar?
Evangelizar é fazer com que as pessoas conheçam Jesus, o Filho de Deus que se fez Homem entre os homens para ensinar o verdadeiro Amor. Foi assim que Jesus fez, se dando a conhecer por onde passava, entre pobres e ricos, sadios e doentes, demonstrando o seu Amor por todos, abrindo as portas do Reino de Deus. Essa evangelização se dá, hoje, a partir experiência do encontro pessoal que cada um tem com Cristo, refletindo, na vida do outro, a Luz que provém do próprio Deus, iluminando o Caminho que o próprio Cristo abriu e trilhou.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A curiosidade gera confusão e afasta da sabedoria e da paz de Deus



Homilia na Casa Santa Marta: papa Francisco nos lembra que "o reino de Deus não vem de modo chamativo", mas "na sabedoria"
Por Luca Marcolivio

ROMA, 14 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - A curiosidade, manifestação humana que em geral é considerada "louvável" pela cultura moderna e caracterizada por um excesso de comunicação e de sociabilidade (muitas vezes com pouca substância), é uma qualidade que tem seus lados escuros.
O papa Francisco, na homilia da missa desta manhã, definiu o “espírito de curiosidade” como uma atitude que gera confusão e afasta da sabedoria e da paz de Deus.
A primeira leitura de hoje (Sab 7,22-30.8,1) descreve "o estado de ânimo do homem e da mulher espiritual" que vivem "na sabedoria do Espírito Santo", que ajuda "a julgar e tomar decisões de acordo com o coração de Deus", infundindo sempre "a paz".
A santidade é "o que Deus pede a Abraão: caminha na minha presença e sê perfeito". Os homens e mulheres que seguem essa estrada são sábios "porque caminham sob a moção da paciência de Deus", explicou o papa.
A atitude oposta é a da curiosidade vã, que, no Evangelho de hoje (Lc 17,20-25 ), encontramos nos fariseus que cercavam Jesus: "Quando virá o Reino de Deus?", indagavam eles. Essa pergunta era provocada por um mero espírito de curiosidade, que "nos afasta do Espírito da sabedoria porque só está interessado nas miudezas, nos boatos, nas pequenas notícias de todos os dias".
A curiosidade não apenas nos leva para longe de Deus como também nos faz "falar demais". É uma atitude "mundana", que "conduz à confusão" e que nos leva a querer ouvir histórias como "o Senhor está aqui ou está ali", ou "Eu sei de um tal vidente, um visionário, que recebe cartas de Nossa Senhora, mensagens de Nossa Senhora". O papa adverte: "Nossa Senhora é Mãe e não uma gerente dos Correios que fica despachando mensagens todo dia".
O espírito de curiosidade, em suma, afasta "do Evangelho, do Espírito Santo, da paz e da sabedoria e glória de Deus, da beleza de Deus".
Jesus, por outro lado, nos lembra que "o reino de Deus não vem de modo chamativo, mas sim na sabedoria", e não "na confusão". É emblemático que “Deus não falou com o profeta Elias no vendaval, na tempestade, mas na brisa suave, na brisa da sabedoria”.
Santa Teresinha do Menino Jesus dizia a si mesma para "sempre parar diante do espírito de curiosidade". Quando ouvia histórias dos outros, mesmo desejosa de ouvi-las até o fim, ela reconhecia que "este não é o espírito de Deus, porque é um espírito de dispersão, de curiosidade vã".
O Reino de Deus está "no meio de nós", acrescentou o Santo Padre, e por isso não há necessidade de olhar para "coisas estranhas" ou "novidades" com mera "curiosidade mundana". É o Espírito Santo que deve nos levar para frente, "com a sabedoria que é uma brisa suave", concluiu.

Temos de ser impulsionados a abrir novas frentes de ação"



Dom Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro, reflete sobre o encerramento do "Ano da fé"
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 14 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas” (Jo 12, 46). Com esta citação da Escritura Sagrada, o Papa Francisco iniciou a sua primeira encíclica, Lumen Fidei, que trata do tema da “fé”. Nesta passagem de São João percebemos que o próprio Cristo se apresenta como luz, luz que vem para iluminar o caminho dos homens, a fim de que estes não permaneçam nas trevas, mas enxergando o caminho da vida, que também é o próprio Cristo, possam se deixar conduzir por Ele. Há mais de dois anos, em outubro de 2011, o grande predecessor do Papa Francisco, o Papa Emérito Bento XVI, com a Carta Apostólica Porta Fidei proclamou a abertura do Ano da Fé para outubro de 2012, declarando que a fé é uma “porta” que “está sempre aberta” para todos aqueles que por ela desejarem entrar (cf. Porta Fidei, 1).
É significativo que o encerramento de um pontificado e o início de outro se tenham dado nesse contexto do Ano da Fé. A continuidade do ministério petrino, sinal de unidade da Santa Igreja na mesma fé, nos mostra como a mesma fé não é algo que se cria, nem se inventa, mas é como um rio de água pura e salutar que nos é transmitido geração a geração. A nossa função na Igreja é beber desse rio, a fim de termos também uma fé pura e salutar; e conservar incólume as águas desse rio, a fim de que as gerações futuras possam também dele beber recebendo a fé verdadeira, não maculada por desejos carnais de manipulação da mesma fé.
Muitas atividades foram realizadas neste Ano da Fé, cumprindo-se o desejo da Igreja de que este fosse um tempo de aprofundamento, de reflexão e de crescimento na ciência sagrada. Todavia, devemos destacar que o encerramento do Ano da Fé não pode ser também o encerramento destas mesmas atividades. O Ano da Fé é uma espécie de “provocação”, a fim de que possam crescer na Igreja iniciativas cada vez mais amplas de crescimento no conhecimento do conteúdo da fé. Agora, é justamente o momento de seguirem frente. Temos de ser impulsionados a abrir novas frentes de ação, para que aqueles que não conhecem a fé, e aqueles que dela comungam sem a conhecer em profundidade, possam ter a chance de conhecer a beleza do seu conteúdo e, assim, iluminados por Cristo, seguir por este caminho, que é o único que conduz à verdadeira vida e à bem-aventurança eterna.
Já foi anunciado que para nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como está proposto no Plano de Pastoral, o ano de 2014 será o “Ano Arquidioces ano da Caridade”. Este ano da caridade que estamos preparando está em conexão íntima com o Ano da Fé. Não só por que se trata também de uma das três virtudes teologais, mas porque o próprio Papa Emérito Bento XVI nos recordou na Porta Fidei n. 14 que: “A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho.” A caridade, virtude sumamente elogiada por São Paulo em 1Cor 13 e colocada pelo mesmo apóstolo como sendo a medida dos carismas, deve ser entendida em seu sentido amplo. Ela é como a alma de toda ação verdadeiramente cristã, desde aquelas de assistência social até as de ensino, uma vez que corrigir os ignorantes é também uma ação verdadeiramente “caritativa”. Começaremos a viver ainda mais intensamente o Ano da Fé movidos pela reflexão e pelo exercício concreto da virtude da caridade no ano de 2014. Ela nos ajudará a realizar todas as nossas ações unicamente por amor a Cristo e aos irmãos.
O Ano da Fé será encerradoem nossa Arquidiocese no próximo dia 23 de novembro, com a Primeira Festa Arquidiocesana da Unidade,em nossa Catedral de São Sebastião a partir das 13h30min.
Desejamos vivamente que o encerramento do Ano da Fé não seja ocasião para a simples passagem de uma reflexão a outra, ou de um ano temático ao outro. Desejamos que as sementes plantadas no Ano da Fé possam, sim, dar frutos, regadas pela água viva da caridade, a fim de que, de virtude em virtude possamos crescer sempre mais, até atingirmos o estado de “homens perfeitos”, homens e mulheres à estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13).
                                                                     † Orani João Tempesta, O.. Cist.
                                Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

União Europeia: quase dois milhões de assinaturas para combater a destruição de embriões humanos



Grande sucesso do abaixo-assinado Um de nós em defesa da vida nascente:

 Pontifício Conselho para a Família destaca apoio transversal obtido pela campanha

Roma,  (Zenit.org) | 49 visitas

O processo de coleta de assinaturas para o abaixo-assinado popular europeu “Um de Nós” foi encerrado com grande sucesso. Vinte países superaram o mínimo de assinaturas necessárias e mais de 1.800.000 foram conseguidas em toda a Europa. Os países com o maior número de adesões são a Itália, a Polônia, a Alemanha, a Romênia, a França e a Espanha.
A partir de agora, as autoridades nacionais competentes têm três meses para validar as assinaturas. A Comissão Europeia e o Parlamento se reunirão depois com os organizadores para discutir as questões levantadas por esta Iniciativa Cidadã Europeia (ICE).
Os promotores da iniciativa agradeceram "calorosamente" a todas as organizações que promoveram o projeto Um de Nós em toda a Europa, "conseguindo este sucesso cívico extraordinário".
Graças aos apoios recebidos, será possível apresentar "uma proposta de reforma legislativa para a defesa da vida humana desde as primeiras etapas do seu desenvolvimento", reconhecer "a personalidade jurídica do embrião humano" e acabar "com o financiamento europeu às atividades que acarretam a destruição de embriões humanos".
Os organizadores definiram como "fonte de alegria e de esperança o fato de ver as Igrejas católica, ortodoxa e protestantes unidas na promoção do bem comum". Em todos os momentos houve "apoio" e "parceria" entre essas Igrejas.
Dom Piotr Mazurkiewicz, oficial do Pontifício Conselho para a Família, também destaca o caráter ecumênico e inter-religioso da iniciativa. "A cooperação entre os movimentos pró-vida em toda a Europa e entre os cidadãos europeus que se mobilizaram para a campanha Um de Nós é ecumênica em si mesma", afirma Mazurkiewicz. "Ela reuniu católicos, protestantes e ortodoxos e também os muçulmanos e organizações não vinculadas a nenhuma religião".
Para o oficial do Pontifício Conselho para a Família, esta ação de democracia participativa dos cidadãos europeus "estabelece uma nova identidade de uma Europa unida: uma Europa a favor da vida concreta e na defensa dos seres humanos sem discriminação".
Com esta Iniciativa Cidadã Europeia, os cidadãos participantes pedem que a União Europeia "assegure o respeito à dignidade do embrião humano desde o momento da concepção" e "modifique determinados atos legislativos da União para acabar com o financiamento de atividades que acarretam a destruição de embriões humanos, em particular nos âmbitos de pesquisa, de ajuda ao desenvolvimento e de saúde pública".
O alcance da reivindicação Um de Nós se limita aos âmbitos de competência da União Europeia, dos quais está excluído o aborto, cuja regulamentação permanece como competência exclusiva de cada país membro.

O fogo e o sol



Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará, convida a refletir sobre o dia do Senhor

Belém do Pará,  (Zenit.orgDom Alberto Taveira Corrêa | 

"Eis que o Dia há de chegar, como forno aceso a queimar. Os atrevidos, os que praticam injustiças, o Dia que há de vir, como palha, vai incendiar – diz o Senhor dos exércitos –, sem deixar-lhes sobrar nem raízes nem ramos. Mas para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas” (Ml 3, 19-20). O céu e a terra de hoje estão sendo reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e da perdição dos ímpios. “Ora, uma coisa não podeis desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se. O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com um estrondo espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com todas as obras que nela se encontrarem. Se é deste modo que tudo vai desintegrar-se, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais e apressais a vinda do Dia de Deus, quando os céus em chama vão se derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? O que esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2 Pd 3, 8-13).
Palavras assustadoras? Faz parte de nossa fé cristã a certeza de que o Senhor virá em sua glória no final dos tempos. Deus será tudo em todos (1 Cor 15, 28)! Palavras consoladoras, que nos estimulam na caminhada, fazendo toda a nossa parte para esperar e apressar a vinda do dia de Deus. Esperá-lo nos faz clamar cada dia com a Igreja "Vinde, Senhor Jesus"! Esperá-lo nos conduz à mesa Eucarística, pois todas as vezes que se celebra a Santa Missa o Único e Eterno Sacrifício de Cristo se faz presente e sua plenitude vem até nós. O Céu vem até nós! A Eucaristia de cada dia resume a história da humanidade e nos faz presente o seu sentido de encontro com Deus e uns com os outros. Levar em conta o dia do Senhor é aproveitar todas as oportunidades para viver as realidades da eternidade, amando a Deus e ao próximo, com intensidade. Não vivemos no medo, mas na confiança e na certeza dos últimos tempos, inaugurados com a morte e ressurreição de Cristo. Não há, pois tempo a perder. Quem nasce hoje seja conduzido a viver olhando para o alto e para frente, sem rastejar na poeira do pecado. Ao invés de ficar preocupado com o fim do mundo, trazer depressa para cá as realidades da eternidade, pois sabemos que só o amor de caridade ultrapassará os umbrais da eternidade! O que pode assustar torna-se convite a viver bem! Nenhum receio de repetir: "Vinde, Senhor Jesus"!
O fogo queima e purifica. A esta altura do ano, quando a Igreja nos fala das últimas e definitivas realidades, é hora de rever a nossa vida e fazer a faxina nos recantos mais íntimos de nossa casa interior. Há muita velharia a ser queimada! Há sentimentos de ódio, inveja ou ciúme a serem absolutamente descartados, jogados fora, mesmo. A proposta da Igreja é uma corajosa revisão de vida, sem medo de encarar os recônditos de nosso coração, onde se aninham maldades que nos corroem por dentro. Os soberbos e os ímpios a serem queimados estão dentro de nós. Não é o caso de buscar eventuais pessoas que praticam o mal para condená-las, mas condenar a impiedade que está em nosso íntimo, deixando florescer o que é bom! Primeira decisão: corajosa revisão de vida e fogueira interior na qual se queime o que não presta!
O sol da justiça brilhe para nós! Toda palavra que sai da boca de Deus, todas as experiências de sua graça que age em nós e em torno a nós, toda a força do Evangelho proclamado, o testemunho das pessoas que nos edificam! Deixar-se iluminar pelo sol da justiça é ato de inteligência, pura sabedoria! A salvação de Deus quer entrar pelas frestas abertas nas janelas de nossas almas, como o sol da manhã que irrompe glorioso! Quando fazemos um balanço de nossa vida e dos contatos que temos com as pessoas, não é difícil perceber que a luz é maior do que as trevas. Estamos diante de uma luta desigual, na qual o amor de Deus e sua salvação valem mais do que a iniquidade! Na vida cristã, não cabe o pessimismo derrotista, que vê maldade e más intenções em cada gesto e cada olhar, mas a capacidade de ver e valorizar o bem. Nasce daí uma nova disposição para espalhar este bem. Brilhe o sol da justiça no cumprimento alegre às pessoas que encontramos ou na valorização dos pequenos gestos de quem nos cerca. Ilumine os ambientes a luz que se acende quando espalhamos boas notícias e falamos bem dos outros, o que serve para esconjurar os defeitos e vícios eventualmente existentes!
“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16). Comentando esta palavra do Evangelho, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, assim se expressava: "A luz se manifesta nas boas obras. Ela brilha através das boas obras praticadas pelos cristãos. Você me dirá: mas não são apenas os cristãos os que praticam boas obras. Muita gente colabora com o progresso, constrói casas, promove a justiça. Tem razão. Inclusive o cristão certamente faz, e deve fazer tudo isso, mas não é unicamente esta a sua função específica. Ele deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito que faz com que não seja mais ele a viver, mas Cristo nele. Com efeito, o evangelista Mateus não se refere apenas a atos de caridade isolados, como visitar os presos, vestir os nus ou cumprir todas as outras obras de misericórdia, atualizadas de acordo com as exigências de hoje, mas refere-se à adesão total do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer de toda a sua vida uma boa obra. Se o cristão age assim, ele é transparente e os elogios que receber por suas ações não serão atribuídos a ele, mas a Cristo nele; assim Deus se fará presente no mundo por meio dele. A tarefa do cristão, portanto, é deixar transparecer essa luz que habita nele, é ser o sinal da presença de Deus entre os homens" (Chiara Lubich, Palavra de Vida de Agosto de 1979).

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aprofunda sobre o sacramento do Batismo: a "porta" da fé e a fonte da vida cristã



Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira 

Por Redacao

ROMA, 13 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs, bom dia,
No “Credo” nós dizemos “Creio na Igreja, una”, professamos, isso é, que a Igreja é única e esta Igreja é em si mesma unidade. Mas se olhamos para a Igreja Católica no mundo descobrimos que essa compreende quase 3000 dioceses espalhadas em todos os Continentes: tantas línguas, tantas culturas! Aqui há tantos bispos de tantas culturas diferentes, de tantos países. Há o bispo de Sri Lanka, o bispo do Sul da África, um bispo da Índia, há tantos aqui… Bispos da América Latina. A Igreja está espalhada em todo o mundo! No entanto, as milhares de comunidades católicas formam uma unidade. Como pode acontecer isto?
1. Uma resposta sintética encontramos no Catecismo da Igreja Católica, que afirma: a Igreja Católica espalhada no mundo “tem uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma comum esperança, a própria caridade” (n. 161). É uma bela definição, clara, orienta-nos bem. Unidade na fé, na esperança, na caridade, na unidade nos Sacramentos, no Ministério: são como pilastras que sustentam e têm juntos o único grande edifício da Igreja. Aonde quer que vamos, mesmo na menor paróquia, na esquina mais perdida desta terra, há a única Igreja; nós estamos em casa, estamos em família, estamos entre irmãos e irmãs. E este é um grande dom de Deus! A Igreja é uma só para todos. Não há uma Igreja para os europeus, uma para os africanos, uma para os americanos, uma para os asiáticos, uma para os que vivem na Oceania, não, é a mesma em qualquer lugar. É como em uma família: se pode estar distante, espalhado pelo mundo, mas as ligações profundas que unem todos os membros da família permanecem firmes qualquer que seja a distância. Penso, por exemplo, na experiência da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: naquela vasta multidão de jovens na praia de Copacabana, ouvia-se falar tantas línguas, viam-se traços da face muito diversificada deles, encontravam-se culturas diferentes, no entanto havia uma profunda unidade, se formava a única Igreja, estava-se unido e se sentia isso. Perguntemo-nos todos: eu, como católico, sinto esta unidade? Eu como católico vivo esta unidade da Igreja? Ou não me interessa, porque estou fechado no meu pequeno grupo ou em mim mesmo? Sou daqueles que “privatizam” a Igreja pelo próprio grupo, a própria nação, os próprios amigos? É triste encontrar uma Igreja “privatizada” pelo egoísmo e pela falta de fé. É triste! Quando ouço que tantos cristãos no mundo sofrem, sou indiferente ou é como se sofresse um da minha família? Quando penso ou ouço dizer que tantos cristãos são perseguidos e dão mesmo a própria vida pela própria fé, isto toca o meu coração ou não chega até mim? Sou aberto àquele irmão ou àquela irmã da minha família que está dando a vida por Jesus Cristo? Rezamos uns pelos outros? Faço uma pergunta a vocês, mas não respondam em voz alta, somente no coração: quantos de vocês rezam pelos cristãos que são perseguidos? Quantos? Cada um responda no coração. Eu rezo por aquele irmão, por aquela irmã que está em dificuldade, para confessar ou defender a sua fé? É importante olhar para fora do próprio recinto, sentir-se Igreja, única família de Deus!
2. Demos um outro passo e perguntemo-nos: há feridas a esta unidade? Podemos ferir esta unidade? Infelizmente, nós vemos que no caminho da história, mesmo agora, nem sempre vivemos a unidade. Às vezes surgem incompreensões, conflitos, tensões, divisões, que a ferem, e então a Igreja não tem a face que queremos, não manifesta a caridade, aquilo que Deus quer. Somos nós que criamos lacerações! E se olhamos para as divisões que ainda existem entre os cristãos, católicos, ortodoxos, protestantes… sentimos o esforço de tornar plenamente visível esta unidade. Deus nos doa a unidade, mas nós mesmos façamos esforço para vivê-la. É preciso procurar, construir a comunhão, educar-nos à comunhão, a superar incompreensões e divisões, começando pela família, pela realidade eclesial, no diálogo ecumênico também. O nosso mundo precisa de unidade, está em uma época na qual todos temos necessidade de unidade, precisamos de reconciliação, de comunhão e a Igreja é Casa de comunhão. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: “Exorto-vos, pois – prisioneiro que sou pela causa do Senhor – que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (4, 1-3). Humildade, doçura, magnanimidade, amor para conservar a unidade! Estes, estes são os caminhos, os verdadeiros caminhos da Igreja. Ouçamos uma vez mais. Humildade contra a vaidade, contra a soberba, humildade, doçura, magnanimidade, amor para conservar a unidade. E continuava Paulo: um só corpo, aquele de Cristo que recebemos na Eucaristia; um só Espírito, o Espírito Santo que anima e continuamente recria a Igreja; uma só esperança, a vida eterna; uma só fé, um só Batismo, um só Deus, Pai de todos (cfr vv. 4-6). A riqueza daquilo que nos une! E esta é uma verdadeira riqueza: aquilo que nos une, não aquilo que nos divide. Esta é a riqueza da Igreja! Cada um se pergunte: faço crescer a unidade em família, na paróquia, na comunidade, ou sou um fofoqueiro, uma fofoqueira. Sou motivo de divisão, de desconforto? Mas vocês não sabem o mal que fazem à Igreja, às paróquias, às comunidades, as fofocas! Fazem mal! As fofocas ferem. Um cristão antes de fofocar deve morder a língua! Sim ou não? Morder a língua: isto nos fará bem, para que a língua inche e não possa falar e não possa fofocar.  Tenho a humildade de reconstruir com paciência, com sacrifício, as feridas da comunhão?
3. Enfim, o último passo mais em profundidade. E esta é uma bela pergunta: quem é o motor desta unidade da Igreja? É o Espírito Santo que todos nós recebemos no Batismo e também no Sacramento da Crisma. É o Espírito Santo. A nossa unidade não é primeiramente fruto do nosso consenso, ou da democracia dentro da Igreja, ou do nosso esforço de concordar, mas vem Dele que faz a unidade na diversidade, porque o Espírito Santo é harmonia, sempre faz a harmonia na Igreja. É uma unidade harmônica em tanta diversidade de culturas, de línguas e de pensamentos. É o Espírito Santo o motor. Por isto é importante a oração, que é a alma do nosso compromisso de homens e mulheres de comunhão, de unidade. A oração ao Espírito Santo, para que venha e faça a unidade na Igreja.
Peçamos ao Senhor: Senhor, dai-nos sermos sempre mais unidos, não sermos nunca instrumentos de divisão; faz com que nos empenhemos, como diz uma bela oração franciscana, a levar o amor onde há o ódio, a levar o perdão onde há ofensa, a levar a união onde há a discórdia. Assim seja.
(Tradução Canção Nova / Jéssica Marçal )

Eliminar o símbolo religioso dos espaços públicos é cair numa submissão incondicional ao príncipe





Considerações sobre o Estado Laico
Por Paulo Vasconcelos Jacobina

BRASíLIA, 13 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - O problema do confronto entre poder político e poder religioso é tão velho quanto a própria humanidade. Reportemo-nos, por exemplo, à luta bíblica entre Caim e Abel: este, descrito como o pastor que agradava a Deus, é morto por Caim, o agricultor territorialista e guerreiro, que resolve os problemas de um modo bem prático e secular: usa a força para eliminar o desafeto, e ainda responde de modo petulante a Deus quando este lhe pede contas do irmão morto: “não sei do meu irmão, serei eu o guardador dele?”
O conflito entre o xamã ou pajé e o cacique está bem documentada nos estudos antropológicos mais sérios: trata-se do eterno conflito entre a capacidade administrativa, representada pela habilidade em gerir a economia, a máquina pública e os assuntos de guerra e paz, de um lado, e a capacidade especial de profetizar, de intermediar os assuntos entre os homens e Deus de modo ostensivo, por outro. A prevalência de um dos dois também sempre foi registrada, ao lado dos raros períodos – como aquele registrado entre o êxodo e a Monarquia, na história bíblica – em que houve alguma harmonia entre estas dimensões, no que diz respeito aos titulares do poder que emana dessas atitudes.
A história do ocidente cristão tem sido marcada, de igual modo, por esta tensão. As perseguições religiosas do império romano (para o qual a religião era parte da estrutura de legitimação do poder político) são sucedidas pela resistência ao cesaropapismo que sempre foi a ambição dos grandes governantes desde Constantino, e atingiu um certo equilíbrio tendente a favorecer o braço religioso durante a chamada Alta Idade Média, na qual as invasões bárbaras impediram qualquer tentativa consistente de centralização do poder político. Este, de certa forma, passou a depender da estrutura mais consistente da Igreja que sobrevivera à queda do império Romano.
A Baixa Idade Média traz a reorganização dos poderes políticos e o retorno da tensão de legitimidade: compare-se, por exemplo, a estrutura teocêntrica (embora nunca teocrática) do pensamento de Tomás de Aquino com a desconfiança que Marsílio de Pádua levanta sobre as divergências religiosas como potenciais ameaças à paz. Marsílio constrói, sobre tal desconfiança, toda uma teoria da ameaça à paz supostamente implícita nas atitudes religiosas, designando os detentores do poder político como árbitros da religião – os governantes, para Marcílio, seriam os “defensores da paz” sempre ameaçada pelos conflitos religiosos dos não confiáveis sacerdotes. Como se as guerras não fossem, desde sempre, assunto de príncipes, mesmo quando sob pretextos religiosos.
As cruzadas e as guerras religiosas do final da idade média e começo da idade moderna pareceram dar razão a Marcílio, e foram seguidos pelo Iluminismo e pela Reforma. Os grandes descobrimentos e a centralização dos impérios abriram caminho para as pretensões estatais totalitárias e o discurso da desconfiança quanto à religião sacerdotal e a tendência à sobrevalorização do príncipe em detrimento do sacerdote; não é de espantar que Lutero tenha buscado eliminar a ideia de um sacerdócio ordenado e institucional em favor de um sacerdócio comum a todos cujo exercício, quando envolvesse liderança (mesmo religiosa) deveria passar por algum grau de legitimação social e reconhecimento político, e Maquiavel, Locke, Hobbes, Espinosa, Feuerbach, Kant, Hegel, Marx e Sartre, somente para citar os mais conhecidos, nunca tenham relutado em avançar, com seus sistemas filosóficos, no campo teológico e na hermenêutica bíblica, sempre para reforçar a deslegitimação do sacerdote sobre o príncipe. Esta tendência é tão hegemônica nas Academias contemporâneas que parece não haver memória de que há outras posições possíveis e eventualmente mais razoáveis.
Este fenômeno vem sendo marcado, em nossos dias, por uma busca frenética e muitas vezes até bem intencionada de eliminação de determinados símbolos religiosos dos espaços públicos. Não de quaisquer símbolos religioso, porque isto, ademais de impossível, sequer é demandado: imagine-se arrancar cada estátua de Têmis dos fóruns, ou cada estátua de Minerva, Semíramis ou Marianne, a deusa positivista, das praças, notas de dinheiro ou universidades públicas. Imagine-se eliminar cada “praça dos Orixás” existente no país, ou mesmo as pequenas imagens de budas gordinhos, elefantinhos e deusas indianas de muitos braços, adornados com incenso barato e pequenas moedas, ou mesmo só quadros de “Yin/Yang” existentes em muitos espaços públicos e repartições por aí. Nem se mencionam estas coisas como de alguma forma agressivas a uma pretensa neutralidade religiosa nos espaços políticos, porque sabe-se que são deuses de fancaria, metáforas hipostatizadas de ambições estritamente humanas, ou de poderes já domesticados e desinfluentes .
Esta luta contra símbolos religiosos é, portanto, seletiva: trata-se de um combate relacionado a uma pretensa resistência à teocratização dos espaços públicos, os símbolos das três grandes religiões: a estrela de Davi, o Crescente muçulmano e o crucifixo cristão; é claro que a palavra “Deus” também se insere entre estes símbolos controvertidos.
Ressalte-se que a estrela de Davi hoje está associada ao Estado de Israel – um povo reunido em torno de sua origem teonômica, embora governado de forma declaradamente laica – e o Crescente associa-se aos países muçulmanos, para os quais a teocracia não é fato controvertido, mas ideal religioso. Sua relação com o poder político é, destarte, explícita, e a significação de sua utilização em espaços públicos nunca se divorcia desta relação.
Quanto aos crucifixos, tanto as Cortes Judiciais brasileiras quanto a Corte da União Europeia recentemente decidiram que é um objeto cultural, que representa uma identidade histórica e religiosa não violadora da neutralidade estatal. Trata-se, dizem as Cortes, de abertura à expressão pública de uma característica constitutiva da população; não de uma potencial agressão à liberdade religiosa.
A Palavra Deus também tem sido objeto de longas discussões no Judiciário. Citem-se ações judiciais como a que visa retirá-la das notas de dinheiro, por um lado, e a que visava incluí-la no preâmbulo da Constituição do Acre, por outro (esta última sob o fundamento de que deixar de reproduzir na Constituição local as disposições da Constituição Federal seria inconstitucional, e os Estados-Membros estariam obrigados a constar, no seu preâmbulo, a fórmula deísta). O Judiciário brasileiro julgou improcedentes as duas pretensões, considerando a questão do mero uso da palavra Deus como estritamente política e, portanto, não somente infensa ao controle judicial quanto não violadora da autonomia das esferas.
Embora Marx tenha chegado a vaticinar o próprio desaparecimento desta palavra – qualquer que seja o símbolo que a veicule num determinado momento- quando a humanidade ingressasse num pretenso momento redimido de comunismo pleno e ausente de Estado, a realidade que esta palavra traz, mesmo como simples questionamento pelo fundamento último da totalidade da existência a que se pode responder negativamente, é inafastável da própria condição humana. Uma humanidade que já não se colocasse esta palavra, mesmo para negar o que ela evoca, qualquer que seja a grafia ou expressão concreta com que ela se exprima num determinado momento histórico, já não seria mais humanidade, mas, como diz K. Rahner, uma mera comunidade sofisticada de animais gregários, ou de robôs de carne e osso, submissos a poderes que nem ousariam questionar.
Assim, o uso da palavra “Deus” e do crucifixo em instâncias oficiais, em nosso contexto cultural, não representa nenhuma instância de agressão à autonomia da esfera estatal perante a esfera religiosa e vice-versa.
Caso eliminasse completamente as menções públicas aos símbolos que falam de Deus, a humanidade não somente teria esquecido de si mesma como, mais ainda, teria se esquecido mesmo de que houvesse algo para lembrar além de uma submissão incondicional ao príncipe, qualquer que fosse a origem da sua proclamada legitimidade.

O Ano da Fé e o Catecismo da Igreja


O Beato João Paulo II promulgou no dia 11 de outubro de 1992 o Catecismo da Igreja Católica. Estamos comemorando os 20 anos desta promulgação junto com os 50 anos do Concílio Vaticano II dentro do Ano da Fé, que está para findar. Em nossa Arquidiocese, no próximo dia 23 de novembro, sábado, a partir das 14hs, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Avenida Chile, iremos celebrar a conclusão do Ano da Fé e comemorar estes eventos, iniciando assim a Festa da Unidade Arquidiocesana do Rio de Janeiro. Você é nosso convidado especial para participar deste momento de oração, adoração, reflexão, louvor, testemunhos, bandas católicas, reflexões, pregações e com a Santa Missa da Unidade.

Em 25 de janeiro de 1985, o Papa João Paulo II convocou uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para tratar dos frutos do Concílio Vaticano II na vida da Igreja. Muitos bispos manifestaram o desejo da promulgação de um novo Catecismo. Lembra o Papa João Paulo II que: "O 'Catecismo da Igreja Católica' é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor. Em 1986, confiei a uma comissão de doze cardeais e bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos padres do Sínodo. Uma comissão de redação, composta por sete bispos diocesanos, peritos em teologia e em catequese, coadjuvou a Comissão no seu trabalho". 

O Catecismo da Igreja Católica foi dividido em quatro partes que estão ligadas entre si: na primeira parte é tratado o mistério cristão, que é o objeto da fé, com A Profissão da Fé. Na segunda parte é celebrado e comunicado nos atos litúrgicos o que professamos com a Celebração do Mistério Cristão. Na terceira parte está presente, para iluminar e amparar os filhos de Deus no seu agir cristão, com A Vida em Cristo. Por último, na quarta parte, fundada a nossa oração, cuja expressão privilegiada é o "Pai-Nosso", e constitui o objeto da nossa súplica, do nosso louvor e da nossa intercessão, ou seja, o que de mais precisamos para o seguimento do Senhor: A Oração Cristã, que deve ser o alimento da nossa vida espiritual.

Ensina o Papa João Paulo II que: "a Liturgia é ela própria oração; a confissão da fé encontra o seu justo lugar na celebração do culto. A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, essa está morta (cf. Tg 2,14-16) e não pode dar frutos de vida eterna.

Por isso, em 11 de outubro de 1992, o Papa João Paulo II, na Constituição Apostólica FIDEI DEPOSITUM promulgou e publicou O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, redigido depois do concílio vaticano II. Este Catecismo, transcorridos trinta anos do encerramento do Concílio Vaticano II, é apresentado como o coroamento das deliberações do Concílio.

Todos nós, por ocasião do Ano da Fé, agora sendo encerrado pelo Papa Francisco, sabemos da importância de reler, estudar e aprofundar o Catecismo da Igreja Católica. O Catecismo contém o compêndio das verdades da fé católica, e, segundo o Papa João Paulo II: "A catequese encontrará nesta genuína e sistemática apresentação da fé e da doutrina católica uma via plenamente segura para apresentar, com renovado impulso, ao homem de hoje, a mensagem cristã em todas e em cada uma das suas partes. Deste texto, cada agente de catequese poderá receber uma válida ajuda para mediar, a nível local, o único e perene depósito da fé, procurando conjugar contemporaneamente, com a ajuda do Espírito Santo, a maravilhosa unidade do mistério cristão com a multiplicidade das exigências e das situações dos destinatários do seu anúncio. A inteira atividade catequética poderá conhecer um novo e difundido impulso junto do Povo de Deus, se souber usar e valorizar de maneira adequada este Catecismo pós-conciliar".

Em 28 de junho de 2005, o Papa Bento XVI, transcorridos os vinte anos da elaboração do Catecismo da Igreja Católica, pedido pela já aludida Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, promulga o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. O Papa Bento XVI ensina, com a clarividência de quem foi o principal redator do Catecismo, que: "O Compêndio, que agora apresento à Igreja universal, é uma síntese fiel e segura do Catecismo da Igreja Católica. Ele contém, de maneira concisa, todos os elementos essenciais e fundamentais da fé da Igreja, de forma a constituir, como desejara o meu predecessor, uma espécie de vademecum, que permita às pessoas, aos crentes e não crentes, abraçar, numa visão de conjunto, todo o panorama da fé católica. Ele espelha fielmente na estrutura, nos conteúdos e na linguagem o Catecismo da Igreja Católica, que encontrará nesta síntese uma ajuda e um estímulo para ser mais conhecido e aprofundado". O Papa Bento XVI aludia, particularmente, que o compêndio, como o Catecismo, é um instrumento fundamental na nova Evangelização: "Em primeiro lugar, confio esperançoso este Compêndio a toda a Igreja e a cada cristão para que, graças a ele, se encontre, neste terceiro milênio, novo impulso no renovado empenhamento de evangelização e de educação na fé, que deve caracterizar cada comunidade eclesial e cada crente em Cristo, em qualquer idade e nação. Mas este Compêndio, pela sua brevidade, clareza e integridade, dirige-se a todas as pessoas, que, num mundo caracterizado pela dispersão e pelas múltiplas mensagens, desejam conhecer o Caminho da Vida, a Verdade, confiada por Deus à Igreja do Seu Filho."

O Catecismo é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição Apostólica e pelo Magistério da Igreja. O Catecismo é, sobretudo, um instrumento válido e legítimo da comunhão eclesial e serve como uma norma segura para o ensino da fé, do qual todos os batizados são convocados a transmitir às novas gerações. A divulgação do Catecismo da Igreja Católica foi um trabalho importante do meu venerado predecessor Cardeal Eugênio de Araújo Salles que, durante anos, comentou-o pelas ondas da Rádio Catedral, além das atualizações através de seus artigos semanais. Vamos continuar a aprofundar o texto do nosso Catecismo ou o seu Compêndio e, em nossas comunidades, paróquias e grupos eclesiais estudá-lo e transmiti-lo aos irmãos e irmãs. O Catecismo é o texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica. Por isso, é oferecido a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis da salvação (cf. Jo 8,32).

Convido a todos, portanto, enquanto Igreja Arquidiocesana, para, no dia 23 de novembro, celebrar e agradecer a Deus pelo Ano da Fé, comprometendo-nos a continuar a aprofundar o Catecismo da Igreja Católica dentro das comemorações dos 50 anos do Concílio Vaticano II neste tempo de mudança de época e de nova evangelização dos discípulos missionários.

Dom Orani João Tempesta
Colunista do Portal Ecclesia.
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ). Realizou seus estudos em São Paulo (SP), na Faculdade de Filosofia no Mosteiro de São Bento e no Instituto Teológico Pio XI, dos religiosos salesianos.

Da redação do Portal Ecclesia.

“O Batismo é a porta da fé”

– na audiência geral o Papa rezou pelas crianças vítimas de atentado na Síria e pelas vítimas do tufão nas Filipinas


 

Fé, alegria, entusiasmo e esperança são alguns dos sentimentos que as multidões trazem à Praça de São Pedro nas audiências gerais de quarta-feira:

“no Credo, através do qual em cada domingo fazemos a nossa profissão de fé, nós afirmamos: ‘Professo um só batismo para o perdão dos pecados’. Trata-se da única referência explícita a um Sacramento no interior do Credo. Efetivamente o Batismo é a porta da fé e da vida cristã.”

A porta da fé e da vida cristã é o Batismo e este é o único Sacramento referido no Credo. O Papa Francisco apontou três elementos fundamentais: Professo; um só batismo; e remissão dos pecados. O primeiro elemento é – diz-nos o Papa Francisco – professo. Quando no Credo dizemos que “professo um só Batismo para a remissão dos pecados”, afirmamos que este sacramento é, em certo sentido, o bilhete de identidade do cristão: um novo nascimento, o ponto de partida de um caminho de conversão, que se estende por toda a vida. 

“Neste sentido o dia do nosso Batismo é o ponto de partida de um caminho de conversão que dura toda a vida e que é continuamente sustentado pelo Sacramento da Penitência.”

O Santo Padre apresentou, então, o segundo elemento: um só batismo:
“Segundo elemento: ‘um só batismo’. Esta expressão recorda-nos aquela de S. Paulo: Um só Senhor, uma só fé, um só batismo. A palavra batismo significa literalmente ‘imersão’ e, com efeito, este sacramento constitui uma verdadeira imersão espiritual na morte de Cristo, da qual se ressuscita com Ele como novas criaturas.”

Este novo nascimento – afirmou o Santo Padre - dá-se através de uma verdadeira imersão espiritual na morte de Cristo, pois, batismo significa imersão, para que possamos ressuscitar com Ele para uma vida nova. 

Terceiro e último elemento: a remissão dos pecados:

“Finalmente, um breve apontamento sobre o terceiro elemento: para a remissão dos pecados. No sacramento do Batismo são remidos todos os pecados, o pecado original e todos os pecados pessoais, como também todas as penas do pecado.”

Assim, o Batismo – continuou o Santo Padre - representa uma poderosa intervenção da misericórdia divina na nossa vida, que nos garante o perdão de todos os pecados: do pecado original e de todos os pecados pessoais. E como se fosse um novo batismo.

O Papa Francisco dirigiu nesta audiência uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente a uma delegação de Moçambique e a diversos grupos de brasileiros.

No final da audiência o Papa Francisco lançou um apelo pelas crianças mortas na Síria devido a tiros de morteiro que atingiram o autocarro que as transportava. O Papa pediu: Por favor, que estas tragédias não voltem a acontecer, rezemos fortemente.

O Santo Padre recordou ainda as vítimas do tufão nas Filipinas. E afirmou serem estas as batalhas a combater: pela vida e nunca pela morte! (RS)
Fonte: News.va

Da redação do Portal Ecclesia.

"Pecadores, sim. Corruptos, não"



Pelos muros da capela da Domus Sanctae Marthae, ressoou nesta segunda-feira (11) as palavras do Papa Francisco contra a corrupção
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 12 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Pelos muros da capela da Domus Sanctae Marthae, ressoou nesta segunda-feira (11) uma crítica contundente de Francisco, já manifestada em páginas escritas em 2005, quando Bergoglio ainda era o arcebispo de Buenos Aires, e recolhidas no livro "A cura da corrupção".
O cardeal Bergoglio falava então de uma corrupção que é "o joio do nosso tempo", que "se alimenta de aparência e de aceitação social, se ergue como medida da ação moral e pode consumir a partir de dentro", até causar uma "esclerose do coração" do homem ou da própria Igreja. Se as palavras do arcebispo de Buenos Aires já tinham abalado muitas consciências, sua reproposição, agora, na sua qualidade de Sumo Pontífice da Igreja Universal, assume um valor diferente: o valor de uma denúncia, alta e clara, contra uma atitude que é mais ínfima e desprezível do que o próprio pecado.
De fato, diz o papa, é quase melhor definir a nós próprios como pecadores do que como corruptos. Porque "aquele que peca e se arrepende pede perdão, se sente frágil, se sente filho de Deus, se humilha e pede a salvação de Jesus". Mas quem é corrupto "escandaliza" não pelas suas culpas, diz o Santo Padre, mas porque "não se arrepende", "continua a pecar, e, mesmo assim, finge que é cristão". É alguém que leva, enfim, uma "vida dupla". E isso "faz muito mal" para a Igreja, para a sociedade e para o próprio homem.
“É inútil que alguém diga ‘Eu sou um benfeitor da Igreja! Eu coloco a mão no bolso e ajudo a Igreja’, se depois, com a outra mão, rouba do Estado, rouba dos pobres [...] É injusto", diz Bergoglio, recordando o que diz Jesus no Evangelho de hoje sobre quem é causa de escândalo: "Mais vale a esse que lhe pendurem uma pedra de moinho ao pescoço e seja lançado ao mar!".
"Aqui não se fala de perdão", observa o papa, o que esclarece ainda mais a diferença entre corrupção e pecado. Jesus "não se cansa de perdoar", explica Francisco, e nos exorta a perdoar até sete vezes por dia o irmão que se arrepende. No mesmo Evangelho, porém, Cristo adverte: "Ai daquele que provoca escândalos!". Jesus "não está falando de pecado, mas de escândalo, que é outra coisa", ressalta o papa, "e acrescenta que é melhor que lhe coloquem no pescoço uma pedra de moinho e o joguem no mar do que causar escândalo a um só destes pequeninos".
Quem escandaliza engana, e "onde há engano não há o Espírito de Deus [...] Esta é a diferença entre o pecador e o corrupto": quem leva "vida dupla é corrupto"; quem "peca, mas gostaria de não pecar", é apenas "fraco": este "recorre ao Senhor" e pede perdão. "Deus o ama, o acompanha, está com ele".
Todos nós “devemos nos reconhecer pecadores. Todos nós". Mas "o corrupto está amarrado a um estado de suficiência, não sabe o que é a humildade". Jesus chamava esses corruptos de "hipócritas", ou, pior ainda, de "sepulcros caiados", que parecem "bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão".
Bergoglio vai fundo e afirma: "Uma podridão vernizada: esta é a vida dos corruptos. E um cristão que se gaba de ser cristão, mas que não leva vida de cristão, é um desses corruptos", acrescenta.
"Nós todos conhecemos alguém que está nesta situação: cristãos corruptos, padres corruptos... Quanto mal eles causam à Igreja, porque não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade". Mundanidade que é um perigo a respeito do qual São Paulo já alertava os cristãos de Roma, escrevendo: "Não se conformem com a mentalidade deste mundo". Comenta o Santo Padre: "Na verdade, o texto original é mais forte, porque nos diz para não entrarmos nos esquemas deste mundo, nos parâmetros deste mundo, ou no mundanismo espiritual".
As homilias do papa Francisco na Casa Santa Marta já não se limitam a usar metáforas simpáticas para aguçar as consciências embaçadas dos fiéis. Depois da dura homilia de hoje e do alerta feito na última sexta-feira aos devotos da "deusa tangente", as suas críticas se tornaram implacáveis, porque o que está em jogo é a vida e a alma das pessoas.
Como bom pastor, o papa tem o dever de guiar o seu rebanho pelo caminho que leva até Deus. Por isso, no final de um sermão que foi mais forte que o habitual até aqui, ele ressaltou a esperança e recordou que Cristo "não se cansa nunca de perdoar, mas com a condição de não querermos levar uma vida dupla, de irmos até Ele arrependidos: ‘perdoa-me, Senhor, eu sou um pecador’".. E conclui: "Peçamos hoje a graça do Espírito Santo, que foge de todo engano, a graça de nos reconhecermos pecadores: somos pecadores. Pecadores, sim. Corruptos, não".

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Quando Ele nos repreende, o faz com uma carícia




Papa Francisco em Santa Marta: Quando Ele nos repreende, o faz com uma carícia
Homilia desta terça-feira: "Confiemo-nos em Deus como uma criança confia nas mãos de seu pai
Por Redacao

ROMA, 12 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Confiemo-nos em Deus como uma criança confia nas mãos de seu pai. Esta é a mensagem proposta por Papa Francisco em sua homilia desta terça-feira, na Casa Santa Marta. O Santo Padre reiterou que o Senhor nunca nos abandona e ressaltou que também quando nos condena, Deus não nos dá um tapa, mas nos acaricia.
"Deus criou o homem para a incorruptibilidade", mas "pela inveja do diabo a morte entrou no mundo". Em sua reflexão, o Papa deteve-se na primeira leitura, retirada do Livro da Sabedoria que recorda a nossa criação. A inveja do diabo, disse o papa, tornou possível o início dessa guerra: "este caminho que termina com a morte". Esta, disse o papa, "entrou no mundo”. É uma experiência que todos nós fazemos:
"Todos nós devemos passar pela morte, mas uma coisa é passar por esta experiência com uma pertença ao diabo e outra coisa é passar por esta experiência nas mãos de Deus. E eu gosto de ouvir isto: "Estamos nas mãos de Deus desde o princípio.” A Bíblia nos explica a Criação usando uma bela imagem: Deus, com as suas mãos, nos faz do barro, da terra, à sua imagem e semelhança. Foram as mãos de Deus que nos criaram: o Deus artesão, hein? Como um artesão fez-nos. Estas mãos do Senhor ... mãos de Deus, que não nos abandona".
A Bíblia, continua o papa, conta como o Senhor diz ao seu povo: "Eu caminho contigo, como um pai com seu filho, tomando-o pela mão". São as mãos de Deus, ele acrescentou, “que nos acompanham ao longo do caminho".
"Nosso Pai, como um pai ao próprio filho, ensina-nos a caminhar. Ele nos ensina a seguir pelo caminho da vida e da salvação. São as mãos de Deus que nos acariciam nos momentos de tristeza, confortam-nos. Ele é o nosso Pai que nos acaricia! Nos quer ‘muito bem’. E nestas carícias, muitas vezes, está o perdão. Uma coisa que me ajuda é pensar nisso. Jesus, Deus, trouxe consigo as chagas: mostra-as ao Pai. Este é o preço: as mãos de Deus são mãos chagadas por amor! E isto nos consola muito".
Muitas vezes, continuou o papa, ouvimos as pessoas dizerem que não sabem em quem confiar: “Confiem nas mãos de Deus". Isto “é lindo" porque "ali estamos seguros”: é segurança máxima, porque é a segurança do nosso Pai, que nos quer `muito bem´". "As mãos de Deus, ele insistiu, também nos curam das nossas doenças espirituais".
"Pensemos nas mãos de Jesus quando tocava os enfermos e os curava ... são as mãos de Deus: Nos curam! Eu não posso imaginar Deus nos dando uma bofetada! Eu não posso imaginar. A repreender-nos sim, eu imagino. Mas nunca, nunca nos fere. Nunca! Fá-lo com uma carícia.
“Também quando Ele nos repreende, o faz com uma carícia, porque é Pai”. As almas dos justos estão nas mãos de Deus. “Pensemos nas mãos de Deus, que nos criou como um artesão, que nos deu a salvação eterna. São mãos chagadas e nos acompanham no caminho da vida. Confiemo-nos nas mãos de Deus, como uma criança confia nas mãos de seu pai. São mãos seguras".
(RED / Trad.:MEM)

O homem não é uma ilha



UNESCO: Mons. Francesco Follo afirma que homens e mulheres são feitos para "viver humanamente juntos" e para criar as condições que tornem esse viver juntos o mais feliz possível
Por Antonio Gaspari

ROMA, 11 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - "A primeira tarefa que liga o ser humano ao seu próximo é a de querer o bem comum. Esta verdade é uma verdade capital". Com estas palavras, mons. Francesco Follo, chefe da delegação da Santa Sé, abriu nesta manhã o seu discurso na 37ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em Paris.
Falando da educação e da sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, o prelado sublinhou a importância da partilha e explicou que "rico" não é aquele que possui, mas aquele que transmite e compartilha, enfatizando que todos "somos convidados a compartilhar".
A partilha material e espiritual não implica empobrecimento: "é um enriquecimento mútuo". E como disse o papa Francisco, "é só quando somos capazes de compartilhar que nos enriquecemos de verdade".
Mons. Follo abordou depois o reconhecimento da contribuição dos jovens. "Toda voz humana deve ser ouvida. Os jovens e os idosos constroem o futuro dos povos. Os jovens, porque levarão a história adiante; os idosos, porque transmitem a experiência e a sabedoria de vida. A voz dos jovens sempre nos lembrará do que nós precisamos dar a eles, mas também, e isso é igualmente importante, do que eles podem dar a nós [...] Os jovens são capazes de viver no amor e de ser solidários com todos os seus irmãos na humanidade, sem qualquer discriminação".
Follo afirmou que a Santa Sé apoia os objetivos da UNESCO, especialmente os de desenvolvimento social inclusivo e a sua articulação com o diálogo intercultural e a reconciliação das culturas.
O chefe da delegação da Santa Sé tratou em seguida do papel e da contribuição para o desenvolvimento social, explicando que "a educação, a vida na cidade, a paz e tantas outras realidades não podem dar fruto se as nossas preocupações não forem propriamente espirituais".
O monsenhor citou o magistério pontifício, o cardeal Jean Daniélou e o filósofo Jürgen Habermas para reiterar a dimensão social da vida espiritual e o "papel público que o cristianismo (e todas as religiões) podem desempenhar na promoção do ser humano e no bem comum de toda a humanidade, no respeito e na promoção das liberdades religiosas e civis de todos e de cada indivíduo".
Segundo o prelado, a capacidade de moldar o futuro de sociedades pacíficas cresce onde é permitida a experiência da transcendência. "Quando os homens compreendem que o mundo é muito mais do que a terra que eles trabalham com seus conceitos técnicos e econômicos, os seus horizontes estreitos se alargam para além das questões que os preocupam".
Mons. Follo concluiu a fala convidando a assembleia a "colocar a pessoa, o seu desenvolvimento integral e o bem comum no coração dos nossos pensamentos e das nossas ações". Só assim "a UNESCO será fiel à sua definição, à sua vocação e à sua missão no serviço da humanidade do homem".

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

50 ANOS DA SACROSANCTUM CONCILIUM - I




Há 50 anos estava acontecendo o maior evento da Igreja no século XX: o Concílio Ecumênico Vaticano II. Mais de 2.500 bispos do mundo inteiro estavam reunidos em Roma para buscar novos caminhos para que a Igreja continuasse a ser, com maior evidência, sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-16). Os caminhos da reforma iniciaram pela liturgia. A partir do início do século XX, alimentava-se na Igreja visível desejo de renovação teológica, espiritual e pastoral no campo da liturgia, pois esta continuava a sofrer o danoso fixismo e rubricismo de quatro séculos tridentinos, somados à forte influência das tendências litúrgicas de todo o IIº milênio, com seus acentuados “deslocamentos de eixo” na compreensão e vivência da liturgia.
A centralidade da liturgia, como celebração do mistério pascal, cedera lugar às devoções (Santíssimo Sacramento: ver e adorar; santos intercessores; novenas; promessas...). As devoções ocupavam o lugar central. Os sacramentos eram vistos muito como remédio para curar, para satisfazer outras necessidades e para livrar de castigos divinos. A dimensão eclesial e comunitária da liturgia cedera lugar ao individualismo religioso, pois o padre era considerado único celebrante: um especialista realizava a ação sagrada por todos. O povo já não era mais considerado assembléia orante, sujeito da celebração; não participava diretamente e por isso ocupava-se com devoções (assistia, sem entender a língua: perdera-se o valor da Palavra);o uso da língua e dos costumes dos povos na celebração dos mistérios da liturgia cedera lugar ao centralismo romano que obrigava a adotar os moldes medievais e pós-tridentinos de celebrar. O gênio romano puro (simplicidade, sobriedade e praticidade) fora substituído pela pompa barroca, triunfalista e luxuosa, com destaque exagerado aos elementos externos do culto, como afirma o liturgista Frei José Ariovaldo da Silva: passou-se “do essencial para aspectos acidentais, do teologal para o devocional, do eclesial-comunitário para o individualismo religioso, do mistério celebrado para o cumprimento meramente exterior dos ritos, da adaptação às culturas para a uniformidade rígida e obrigatória para todos”.
Desde o final do séc. XIX surgiram tentativas de mudança, as quais se fortaleceram durante o Movimento Litúrgico clássico do séc. XX. O Papa Pio XII chegou a afirmar no Congresso Eucarístico Internacional de Assis (1956): “O movimento litúrgico apareceu como um sinal das providenciais disposições divinas em nosso tempo, como uma passagem do Espírito Santo sobre sua Igreja, para aproximar muito mais os homens dos mistérios da fé e das riquezas de graça que provêm da participação ativa dos fiéis na vida litúrgica”.
Mesmo com algumas resistências, foi de todos os documentos o que causou menos dificuldades. Uma comissão pré-conciliar apresentou texto inicial, já em outubro de 1962, o qual, depois de emendado mais vezes e votado pelos Padres conciliares, foi aprovado e promulgado em sessão solene presidida pelo Papa Paulo VI, em 04 de dezembro de 1963, como primeiro documento do Concílio Ecumênico Vaticano II. Estava, assim, aberto o caminho do Concílio e da reforma (renovação) litúrgica na vida da Igreja. A Liturgia resgatara novamente a centralidade do Mistério pascal, em todas as suas formas celebrativas, como momento histórico da salvação, a fonte mais excelente de espiritualidade cristã. O desvio dos eixos acabara de ser identificado e ratificado.
No início de dezembro estaremos celebrando o cinqüentenário da aprovação da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, que trouxe e ainda deverá trazer tantos benefícios à Igreja, à medida que entendermos o seu verdadeiro espírito.