sábado, 3 de agosto de 2013

Legado de lições da JMJ



Esse testemunho do Papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo

BELO HORIZONTE, 02 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - A Jornada Mundial da Juventude 2013 (JMJ), festa da fé realizada no Rio de Janeiro, deixa um legado de lições a serem vivenciadas pela Igreja Católica e por toda a sociedade. Três delas se destacam. Em primeiro lugar e acima de tudo está a evidência da significação da presença e da centralidade de Deus na vida de cada pessoa e da sociedade. Destaca-se também o testemunho luminoso do Papa Francisco, configurado em simplicidade, ternura, transparência e proximidade, na sua primeira visita internacional, ainda bem no início de sua missão como sucessor do apóstolo Pedro. E no coração deste cenário, obviamente, a razão da Jornada Mundial da Juventude, a presença maciça e envolvente dos jovens procedentes do mundo inteiro. Essas lições se desdobram em muitas outras constituindo a Jornada Mundial da Juventude como fonte de referência.
A presença de Deus no coração de cada pessoa e no grandioso coração da multidão reunida nas ruas e praças, no aconchego das famílias, nas igrejas ou nos ambientes de trabalho e lazer, muda tudo. Abre caminhos na direção do bem e fortalece a convicção de que o amor conduz à fundamental afirmação da vida, lugar comum e inegociável do encontro de todos com suas afinidades e diferenças.
A análise simples do que ocorreu nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, particularmente nos eventos em Copacabana, especialmente a congregação de mais de três milhões de pessoas na Missa de envio, encerrando uma verdadeira “maratona da fé”, comprova o diferencial em razão da centralidade de Deus. Sua presença no coração de cada um configurou uma grande comunidade, pela fé e pelo amor, de irmãos e irmãs de diferentes raças, línguas, povos, culturas e procedências. Um nível de unidade e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus consegue articular e manter.
Particularmente, merece atenção o admirável silêncio ante o mistério ali celebrado. Silêncio amoroso e de reverência que, certamente, Copacabana jamais presenciou. Essa força de Deus é uma lição para uma nação laica, por suas razões constitucionais, mas com um povo que preza e se sustenta pelo tesouro de sua fé. Uma realidade que adverte e pede a atenção de governantes e construtores dessa sociedade pluralista. Que torna imprescindível considerar esse horizonte de lições se quiserem dar consistência a projetos sociais e políticos no atendimento das demandas do povo.
O testemunho do Papa Francisco, luminoso por seu caráter evangélico e pela proximidade do seu jeito de ser ao de nosso Mestre Jesus Cristo, ilumina o horizonte do caminho missionário da Igreja. Verdadeiro discípulo do Senhor, Francisco ajuda a sociedade a buscar, de modo imprescindível, a fraternidade e a solidariedade. A proximidade junto a todos, especialmente pobres, sofredores, crianças, sua palavra simples, direta e densa de interpelações, tudo cultivado com a alegria de ser servidor de todos, consolida um rumo novo no caminho evangelizador da Igreja. Oferece muito, ou quase tudo o que a sociedade necessita aprender para ser mais justa e solidária.
Por isso mesmo, o testemunho do Papa Francisco, na gravidade de sua responsabilidade e no peso da repercussão singular de seus gestos e palavras, reafirma o horizonte que deve sempre orientar o caminho da Igreja e de todos os discípulos de Jesus. É primordial essa sua missão como sucessor do apóstolo Pedro, o escolhido por Cristo para presidir o colégio dos primeiros apóstolos. Início do caminho bimilenar da Igreja Católica, que atravessa os tempos pela força de testemunhos como o do Papa Francisco.
Sua missão assim vivida aponta decisivamente o rumo e o rosto de nossa Igreja. Fortalece testemunhos, alarga o comprometimento com uma Igreja simples, pobre, próxima, hospitaleira, que testemunha o Evangelho de Jesus Cristo, nele alavancando crescimentos. Virtudes reafirmadas de maneira eloquente na 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos no Santuário de Aparecida, em 2007, com presença e decisiva contribuição do então cardeal Bergoglio. Esse testemunho do Papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida. Lições que indicam um lugar de escuta e de aprendizagem para introduzir todos no tempo novo da Igreja e da sociedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Francisco fala da pobreza com autoridade



O programa pastoral do Papa nos convida a considerar os mais necessitados como eles realmente são, nossos irmãos, filhos de um mesmo Pai amoros
SãO PAULO, 02 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir o testemunho enviado a ZENIT por José Caetano, fotógrafo que trabalhou como guia no grupo dos Vaticanistas que viajaram no avião do Papa nessa viagem ao Brasil, os chamados VAMP (Vatican Accredited Media Personal):
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Uma das maiores mensagens deixadas pelo Papa Francisco em sua primeira grande viagem fora da Itália, para a Jornada Mundial da Juventude no Brasil não foi somente dirigida aos jovens, mas a todos os homens, e não fez parte dos discurso, mas sim de suas ações.
Particularmente trabalhei como guia no grupo dos Vaticanistas que viajaram no avião do Papa nessa viagem, os chamados VAMP (Vatican Accredited Media Personal), e durante a viagem, logo antes do encontro do Pontífice com os representantes da Sociedade Civil no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos jornalistas brasileiros que estavam ali me perguntou o que eu achava que o Papa iria falar para os empresários e políticos ali reunidos.
Não respondi imediatamente porque prever o que o Papa Francisco vai falar ou fazer é uma atividade digna de profetas altamente ungidos por Deus, e eu só sei fazer uma análise da conjuntura e tentar prever algo.
Mas uma constante no que se refere ao pontificado de Bergoglio é seu cuidado para com os pobres. Cuidado esse que não nasce de uma pseudo-teologia latina, como poderia se pensar de um Papa vindo da Argentina. Também não nasce simplesmente do fato de ter ele escolhido ao “pobrezinho” de Assis para homenagear ao se tornar Papa.. Esse cuidado com os pobres, essa dedicação pela pobreza nasce de um método quase científico. Francisco experimenta a pobreza..
Em suas incansáveis visitas aos bairros pobres da capital portenha e sua visita à favela de Varginha, na comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, lhe conferem autoridade para tratar do tema da pobreza. Ele toca os pobres com seu coração e com suas mãos. Ele conhece e escuta os problemas das pessoas “descartadas” da sociedade. E identifica o que chama de “cultura do descartável”.
Em Manguinhos foi claro em dizer que “Nenhum esforço de ‘pacificação’ será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Não deixemos, não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável! Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos. Ninguém é descartável!
O Pontífice identifica a causa do problema das sociedades modernas e dá a solução: compreender os outros como nossos irmãos. E por esse mesmo motivo, coloca a Fraternidade como tema da próxima Jornada Mundial da Paz, que sera celebrada no primeiro dia de 2014.
“A fraternidade, fundamento e caminho para a paz” é justamente o tema que Francisco nos coloca para meditar, imediatamente concordante com o que propõe em Manguinhos.
Por outro lado, se podemos identificar uma preocupação constante em todos os discursos e homilias do Papa nessa viagem ao Brasil e em outras ocasiões de seu pontificado, é seu desejo de que deixemos nossa zona de conforto e que saiamos de casa ao encontro dos mais pobres. Não simplesmente para torná-los alvo de qualquer programa assistencialista ou de uma pastoral desprovida de alma, de espiritualidade.. O Papa nos manda colocar Cristo no centro de nossas vidas, e a partir daí, a partir da vivência do encontro com Cristo, ir ao encontro dos pobres como nossos irmãos.
A mensagem pastoral do Papa Francisco é exigente, pois não somente nos convida a sermos agentes de qualquer programa paliativo, que simplesmente alivie o sofrimento de algumas pessoas, mas o programa pastoral do Papa nos convida a considerar os mais necessitados como eles realmente são, nossos irmãos, filhos de um mesmo Pai amoroso, e como nossos irmãos, o nosso compromisso deve ser mais profundo, mais duradouro, e só consiguerimos atingir esse nível de autoridade para ajudar o próximo quando nos dedicarmos a tomar uma xícara de café com eles, como disse o próprio Francisco em seu discurso em Varginha.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O jornalismo à luz do dogma católico



"As boas notícias são notícias ótimas"
Por Nicola rosetti

ROMA, 01 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Como todos podemos facilmente verificar, o mundo da informação é regido pelas más notícias.
Basta ligar a televisão nos horários das refeições ou ler um jornal para perceber que 95% das notícias estão ali para nos lembrar que esta vida é mesmo um vale de lágrimas!
Se quiséssemos interpretar este modo de prestar informações à luz da visão cristã, poderíamos dizer que o jornalismo se baseia no dogma do pecado original: o homem, que, por resultado desse pecado, está inclinado para o mal, se interessa pelas notícias que descrevem melhor o mistério da iniquidade.
Daí que os jornalistas se esbaldem ao relatar crimes, escândalos e todo tipo de desgraças, recheando-os com todos os detalhes, de preferência os mais sensacionalistas e macabros.
O repórter sabe quais notícias “agradam” ao leitor, e, para vender bem o seu produto, prefere buscar o lado mais sombrio da realidade e publicá-lo. Olha para tudo, mas, de maneira utilitarista, prefere contar o que há de pior do mundo!
Na visão cristã, porém, o homem não está abandonado às suas culpas e às suas feiúras, nem faz somente coisas ruins.
O homem é alvo de um extraordinário amor de Deus, a ponto de o Pai ter enviado à terra o seu Filho, que morreu e ressuscitou. Junto com o dogma do pecado original, há também, portanto, os dogmas da Encarnação e da Morte e Ressurreição de Cristo..
Com a Encarnação, o divino habitou no humano e o elevou a uma dignidade superior, e, com a Morte e Ressurreição, Jesus alimentou nos crentes a esperança e os convidou a olhar para a realidade com maior confiança.
Motivados por esta fé, procuramos dar voz às muitas coisas boas que acontecem e que tantas vezes não encontram espaço na mídia.
Relatamos os esforços e a alegria de muitos trabalhadores, descrevemos o que acontece nas nossas paróquias, dando destaque para os movimentos e para as associações. Falamos da beleza que se manifesta através da arte.
Procuramos, enfim, dar um tipo diferente de informação, tentando descrever, como já disse muitas vezes, mais a floresta que cresce do que a árvore que cai.
Quisemos romper, com as nossas pequenas possibilidades, o dogma do jornalismo contemporâneo, que se baseia no axioma de que "más notícias são boas notícias", convictos que somos de que "as boas notícias são notícias ótimas"!
Estamos convencidos de que é melhor acender um fósforo do que lamentar a escuridão. E gostaríamos de continuar trilhando este caminho.
Que outro olhar devemos ter, afinal, se acreditamos que Cristo ressuscitou dos mortos? Como podemos ter outra visão se acreditamos no evangelho, que quer dizer, precisamente, “a boa nova”?
Agradecemos de coração a todos os nossos leitores, a todos aqueles que, nestes meses, nos apoiaram e nos incentivaram.
Um especial “muito obrigado” ao nosso bispo Gervasio Gestori, a todos os colaboradores e à redação de Zenit, com a qual começamos uma significativa parceria profissional e uma amizade baseada numa ideia comum sobre o bem.
Neste mês de agosto [época de férias no hemisfério Norte, ndr], não vamos parar: vamos, isto sim, continuar planejando o novo ano pastoral, procurando oferecer um serviço cada vez melhor e atualizando também a estrutura do jornal.
(Publicado pela Âncora Online, semanário da diocese italiana de San Benedetto del Tronto, parceira de Zenit para a difusão de boas notícias)

A religião não é um problema pessoal



A bíblia, as orações, os sacramentos e os sacramentais não são recursos de autoajuda
Por Edson Sampel

SãO PAULO, Agosto de 2013 (Zenit.org) - A religião é, sem dúvida, uma escolha do indivíduo, conforme no-lo certifica o documento Dignitatis Humanae, do Concílio Vaticano II. No entanto, está longe de ser uma mera questão pessoal. São Tiago nos adverte: “A religião pura e sem mácula diante de Deus é assistir os órfãos e as viúvas nas suas atribulações”(Tg 1, 27). Se não levarmos em consideração esta verdade social da religião, corremos o sério risco de transformarmos nosso relacionamento com Deus numa espiritualidade supersticiosa, mágica. Aliás, são João, o evangelista, também nos admoesta: “Se não amo meu irmão, que vejo, como posso amar Deus, que não vejo?” (1 Jo, 4).
Não faz muito tempo, uma revista semanal do Brasil publicou uma reportagem, em que se mostrava quão benéfica é a espiritualidade na vida das pessoas. Segundo a aludida matéria jornalística, quem reza, acredita em Deus etc. goza de melhor saúde. Penso que a postura religiosa incremente mesmo a salubridade do crente. Mas, a religião não é um placebo médico, uma espécie de refrigério. A religião, na ótica cristã, não é nem sequer um liame Deus ↔ eu, mas uma religação (religião = religarereligatio) Deus ↔ meus semelhantes ↔ eu. O santo padre, em 28/7/2013, no Brasil, discursando aos dirigentes do CELAM, denunciou o erro da ideologização psicológica.  Eis as palavras do vigário de Cristo: “Trata-se de uma hermenêutica elitista que, em última análise, reduz o ‘encontro com Jesus Cristo’ e seu sucessivo desenvolvimento a uma dinâmica de autoconhecimento. Costuma verificar-se principalmente em cursos de espiritualidade, retiros espirituais etc. Acaba por resultar numa posição imanente auto-referencial. Não tem sabor de transcendência, nem, portanto, de missionariedade.”
Infelizmente, uma ideologia anticristã ameaça constantemente os filhos da Igreja católica. Refiro-me à mentalidade que tem ojeriza pela cruz, pelo sofrimento. Isto não tem nada a ver com o evangelho, onde Jesus nos alerta: “Quem quiser me seguir, carregue a sua cruz de cada dia”. Não existe religião cristã sem sofrimento ou sem compaixão pelas agruras que atormentam nossos irmãos, principalmente os mais necessitados.
Aprouve a Deus salvar-nos socialmente, enquanto povo, enfatiza a constituição pastoral Gaudium et Spes. Assim, o cume da prática religiosa ocorre na paróquia, nas celebrações litúrgicas e, eminentemente, na eucaristia santíssima. Não dá para privatizarmos o catolicismo que, por definição, é universal. Qualquer tentativa de fazer da religião pregada por Jesus um problema pessoal, a minha religião, implica o total aniquilamento do catolicismo. Já não estaremos mais diante de uma religião, mas do alienamento supersticioso. Explicitou o papa Francisco no discurso supramencionado: “O discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros.”
A bíblia, as orações, os sacramentos e os sacramentais não são recursos de autoajuda. São meios de santificação do povo de Deus. A religião cristã é, pois, um problema social para cada fiel. Da adesão individual e indelegável parte-se para o compromisso com todos os seres humanos. Destarte, o batismo desencadeia uma onda de amor, de sociabilidade, que não se compara à beneficência das o.n.g.’s ou a pseudo-caridade de certas seitas, porque a solidariedade cristã está embasada no amor a Deus e não no dó que o padecimento do próximo nos causa.
A religião genuína não se circunscreve apenas a determinado setor da vida, como equivocadamente revelaram os entrevistados da reportagem acima citada: o tempo em que se ora, a ida à missa, a participação em numa procissão ou em um retiro etc. A religião católica tem de estar presente em todos os momentos da existência humana ou não está presente nunca. Lembra-nos são Paulo: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer coisa, fazei-o para a glória de Deus”.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A ESPIRITUALIDADE SEGUNDO DOCUMENTO DE APARECIDA



O Papa Francisco nos seus discursos durante a JMJ2013Rio, citou varias vezes o Documento de Aparecida, dando ênfase ao seu conteúdo e sua vigência. Assim vamos refletir a luz de Aparecida a espiritualidade católica.
A Igreja preocupada com o povo Latino Americano fez um estudo sobre a sua realidade, e na  Conferência de Aparecida os Bispos analisaram, refletiram e apontaram para o desafio do tempo atual.
Num tempo de consumismo, quando as relações humanas estão sendo consideradas objetos de consumo, construindo  relações afetivas sem compromisso responsável e definitivo; quando a ciência e a tecnologia estão colocadas exclusivamente a serviço do mercado; quando a avidez do mercado descontrola o desejo de crianças, jovens e adultos; quando se verifica uma tendência para afirmação exasperada de direitos individuais; vemos que há uma reação ao materialismo, uma busca de espiritualidade, de oração e de mística que expressa fome e sede de Deus.
  “ Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas”.(44)
  O Documento de Aparecida nos orienta a cultivar a família cristã, tendo como base o sacramento do matrimônio e  a partir dessa aliança gerar os filhos num ambiente de amor, fraternidade e de compromisso de com uma sociedade melhor, mais justa e solidária.
  Lembra que a “ família é a imagem de Deus que em seu mistério mais intimo não é uma solidão, mas uma família. Na comunhão de amor das três pessoas divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu ultimo destino.”(434)   
  O Documento de Aparecida nos induz ao caminho da Luz, guiados pelo Espírito Santo para sermos discípulos e missionários de Cristo.
 Sermos discípulos e missionários para levar a boa nova da dignidade humana, a boa nova da vida da família e a boa nova na atividade humana, para sermos o Continente da esperança e do amor.
 Somos chamados à santidade pelo seguimento a Jesus Cristo, para sermos parecidos com o Mestre e enviados para anunciar o Reino da Vida.
Somos chamados a ser discípulos e missionários na Igreja para viver a comunhão na diocese, na paróquia, na comunidade, enfim para sermos Luz do mundo.
 Para tanto é necessária uma formação integral, querigmática e permanente.
Assim podemos assumir a missão de viver e comunicar a vida nova em Cristo a nossos povos. Uma vida nova no Reino de Deus onde há justiça social e caridade cristã, dignidade humana e opção preferencial pelos pobres e excluídos, para uma autêntica libertação cristã.
                                                                                                                      Crescer na vida espiritual, significa seguir os ensinamentos de Jesus Cristo.
A partir do nosso batismo passamos a condição de Filhos de Deus, e ai recebemos uma missão, que é seguir o Cristo, tornar-se seu discípulo. E a medida que vamos crescendo na fé, vamos nos aproximando de Jesus. Vamos conhecendo a sua mensagem e o seu Projeto do Reino de Deus, e buscando um relacionamento mais intimo, pessoal e vivencial como Mestre. E  tudo isso envolve nosso conhecimento, nossa inteligência, nosso amor, enfim envolve toda a nossa pessoa e gera uma adesão total a Cristo.
E convertidos passamos a tomar parte no seu projeto de salvação do mundo. Pois vamos ver a realidade com olhar e o sentimento do Mestre, vamos perceber  o sofrimento , as esperanças e as aspirações dos seres humanos.
  O Papa João Paulo II afirmou que: “...encontrar Jesus hoje, é um dom de Deus e não simplesmente resultados de nossos esforços. Na verdade é ele quem nos busca, que amou primeiro, ele bate a nossa porta e precisamos acolhê-lo alegremente.”
  Mas, então, onde Jesus  está?
 Jesus está presente na Palavra, na Liturgia, na Eucaristia, na Oração e principalmente nos pobres. Ele está presente no mundo é o mediador entre Deus e o ser humano.
Todo o batizado precisa ter um encontro pessoal com Cristo, pois é necessário conhecer e entrar em comunhão de intimidade com o seu mistério. E não encontrá-lo como líder que apenas preciso imitar, mas com  Deus que e permanece vivo por sua ressurreição, através da Palavra e de seu espírito, aquele que é o nosso salvador.
 Jesus se fez homem para realizar o projeto do Pai, assim vemos  que o Mistério da Encarnação é fruto do amor do Pai, que dessa maneira expôs a sua intimidade trinaria divina.
Dessa forma Jesus torna-se presente na humanidade, para ser caminho vivo que nos conduz ao coração do mistério de Deus, que por ser Pai, não permanece fechado em si mesmo, mas se abre em auto doação infinta, do qual procedem o Filho e o Espírito.(Dicionário Catequético 632/33)
  Os apóstolos de Jesus souberam perceber a profundeza desse mistério de sua pessoa, deixaram-se impressionar e  tiveram uma opção de seguimento radical. Eles perceberam que Jesus é o caminho, a verdade e a vida., que a salvação está no seguimento dessa Luz. Daí a necessidade de estar junto a Luz para poder receber a graça, o amor e a vida eterna. Buscar uma aproximação com o Pai através do Filho pela ação do Espírito Santo.
Jesus esta presente na Eucaristia, no Sacramento da Reconciliação, na comunidade de fé reunida no amor fraterno(Mt18,20), nos pastores que o representam, naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum.
 Jesus está presente no irmão, especialmente no pobre, no enfermo e nos aflitos. Também se faz presente na Palavra e na piedade popular, que se reflete em uma sede de Deus.
 As expressões de espiritualidade do catolicismo popular estão nas procissões, festas do padroeiro, novenas, rosários e vias-sacras, carinho aos santos e anjos, nas promessas e nas orações em família.  São maneiras simples de expressar a fé do povo, mas é preciso que se evangelize e se purifique essa piedade popular, ajudando o povo a crescer na fé e na espiritualidade.
 Em Maria, a Mãe de Deus, encontramos um caminho que é privilegiado pois nos conduz a Santíssima Trindade. Nela encontramos Cristo, com o Pai e o Espírito Santo e da mesma forma com os irmãos. Maria é a discípula mais perfeita do Senhor.
 Também os santos são lugares de encontro com Cristo, pois suas vidas foram marcadas por uma profunda espiritualidade.
 A Igreja Católica Apostólica Romana é casa de todo o discípulo de Jesus, nela estão reunidos todos aqueles que devem ser exemplo de vida e fé para todos nós.
                                                   Maria Ronety Canibal



ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

Estamos no mês de agosto, normalmente, denominado Mês das Vocações, no qual a Igreja deseja contemplar todos os estados de vida e os diversos ministérios que enriquecem sua unidade.
Desde o pontificado de Paulo VI, o papa costuma enviar uma mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, especialmente sacerdotais e religiosas, celebrado no IV Domingo de Páscoa. Em 2013, foi ainda Bento XVI que a enviou durante seu pontificado, com o título: As Vocações – Sinal da Esperança fundada na Fé. O objetivo principal da mesma é “implorar de Deus o dom de santas vocações e propor de novo à reflexão de todos a urgência da resposta à chamada divina”.
Como anuncia o título, a presente reflexão vocacional gira em torno da esperança, fundada na fé. A esperança é considerada como expectativa positiva em relação ao futuro, mas também ao presente, diante da fidelidade de Deus, força-motriz que perpassa a história da salvação. Afirma a mensagem: “Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada”. Ter esperança significa, portanto, confiar no Deus que é fiel, Aquele que mantém as promessas da aliança. Assim, fé e esperança estão intimamente unidas: a esperança se fundamenta na fé.
Em que consiste esta fidelidade de Deus na qual podemos confiar totalmente? Consiste no seu amor. Este amor foi manifestado de forma plena 
em Jesus Cristo e interpela também nossa existência, solicitando uma resposta sobre o que cada um deseja fazer da sua vida “e quanto está disposto a apostar para realizá-la plenamente”. Este amor sempre alcança os que se deixam encontrar. Ele é exigente e profundo, infunde-nos coragem, dá-nos esperança, no hoje e no amanhã. Faz com que confiemos na história, nos outros e em nós mesmos. “Que seria de nossa vida, sem este amor?”.
Jesus continua a passar pelos caminhos de nossa vida, imersos em atividades, com nossos desejos e necessidades. Ele dirige sua palavra, convidando-nos a realizar a vida com Ele, “o único capaz de saciar nossa sede de esperança”. Para acolher seu convite “é preciso deixar de escolher por si mesmo o próprio caminho. Segui-Lo significa entranhar a própria vontade na vontade de Jesus”. Então Ele terá a precedência em tudo o que faz parte da vida: família, trabalho, interesses pessoais, nós mesmos... Significa viver em sua intimidade e por Ele entrar em comunhão com a Trindade e entregar-se de forma incondicional aos irmãos e irmãs do Povo de Deus.
Bento XVI ainda afirma: “As vocações sacerdotais e religiosas nascem da experiência do encontro pessoal com Cristo, do diálogo sincero com Ele, para entrar na sua vontade. Por isso, é necessário crescer na experiência de fé, entendida como profunda relação com Jesus”. Esta resposta fiel é possível no ambiente de fé das comunidades cristãs: testemunho evangélico, ardor missionário, alimento sacramental e vida de oração. A oração constante faz crescer a fé da comunidade cristã e lhe dá a certeza de que Deus não deixará de providenciar vocações sacerdotais e religiosas para seu povo, “como sinais de esperança para o mundo”. A mensagem do 50º Dia Mundial de Oração pelas Vocações termina com palavras animadoras, convidando os jovens para cultivar os valores do serviço aos outros, seguindo os passos de Jesus: “Amados jovens, não tenhais medo de seguir Jesus e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a ‘dar a razão da vossa esperança’ (1Pd 3, 15)”. O Dia do Padre e dos Religiosos/as façam refletir esta mensagem papal.
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

Papa Francisco e os peregrinos alados: um pequeno ensaio de avaliação



Reflexão do Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior - depto. Ciência da Religião PUC-SP

SãO PAULO, 31 de Julho de 2013 (Zenit.org) - O papa Francisco bateu na porta de nosso coração e entrou de mansinho. Sereno e sempre de janelas abertas, se fez peregrino. E o povo carioca o amou de paixão! E Francisco lhes retribuiu com o sorriso que nasce no coração do Cristo Redentor. Quais os frutos a colher? A esperança em oito facetas evangélicas, nascida no amor de Deus, e transmitida de forma visceral por este querido argentino.
O futuro exigirá reabilitar a política, a fé e a esperança! Daí o pedido e o imperativo categórico do papa aos jovens na missa final em Copacabana: “Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”.
As felicidades de Francisco são as mesmas bem-aventuranças de Jesus e promovem a cultura do encontro e do diálogo.
A primeira felicidade vital do papa: “Felizes os pobres de espírito:  deles é o Reino dos céus (Mt 5,3)”.. Os pobres da comunidade de Varginha foram os interlocutores do encontro de Francisco com o povo brasileiro. Entrou em uma casa, abraçou e foi beijado, orou com os evangélicos, tocou e foi tocado. Ganhou a bandeira da pastoral de juventude e o anel de tucum. Faltou elogiar as CEBs e a Teologia da América Latina.O povo ficou encantado com o jeito de Jorge Mario Bergoglio, pois viu nele um compadre fiel de lutas e utopias. Não era mais estrangeiro, mas o amigo do peito, companheiro. Ele se fez um “papa cireneu”, que ajuda na peleja do viver a enfrentar as cruzes da injustiça.
A segunda felicidade do sucessor de Pedro: “Felizes os mansos: receberão a terra em herança (Mt 5,4)”. Os mansos são aqueles que o  são não tanto por temperamento, mas pela dura necessidade da sua condição social e política. O afago, o abraço de muitas crianças pelas ruas cariocas, chegou ao clímax naquele menino de doze anos, que aos  prantos o abraça repleto de felicidade cordial. Os mansos se exercitam na mansidão e se reconhecem. Mansos repletos da candura das crianças. E este pode ser o caminho de uma nova política: “ouvir o povo, dialogar com todos, respeitar as diferenças”, com serenidade e
mansidão, dando prioridade às crianças, aos anciãos e aos jovens.

A terceira felicidade de Jorge Mario Bergoglio: “Felizes os que choram: eles serão consolados (Mt 5,5).” Aquele que sofre e é  injustiçado, que perde a esperança. Ao ouvir o papa na Via-crúcis na praia de Copacabana, parecia-nos ouvir a ária “Una furtiva lacrima”,
último ato da ópera O elixir do amor, de Gaetano Donizetti, quando canta: “Uma lágrima furtiva irrompe de seus olhos. Jovens festivos parecem invejá-la. O que mais devo eu buscar” Me ama: eu o vejo! Um só  instante e o palpitar de seu coração posso sentir. Seus suspiros se confundem com os meus. Ó Céus, posso morrer! Mais eu não peço!” O papa
disse haver uma conexão misteriosa entre a cruz de Jesus e a cruz dos jovens. Jesus em sua cruz carrega todos os nossos medos mais profundos e o nosso choro mais doído!

A quarta felicidade de Francisco: “Felizes os que têm fome e sede de justiça: eles serão saciados (Mt 5,6)”. Ter fome de justiça é a atitude de quem é um eleito de Deus. Ter fome de justiça é parte fundamental da fé bíblica. O papa não veio para adormecer com discursos melosos e suaves.  Veio incomodar as elites e os grupos que oprimem o povo. Veio propor que os jovens caminhem alegres e rebeldes na estrada da justiça. Que façam barulho e mexam com as estruturas obsoletas da sociedade e das Igrejas. Afinal, o sentido ético é um
desafio sem precedentes, diz Francisco. O papa foi valente e quer cristãos valentes e sem arrogância. Lutadores e profetas, com memória história, pé no chão e projetos de transformação. Organizados, pois “Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos”.

A quinta felicidade do bispo de Roma: “Felizes os misericordiosos: eles alcançarão misericórdia (Mt 5,7)”. Esta é a felicidade central da vida e do programa de bispo de Francisco, pois ele sabe que quem possui compaixão assume o outro como irmão de verdade. A misericórdia é filha de Deus. E o amor misericordioso não é raquítico nem efêmero.  É amor abundante, generoso, forte, feliz, pleno e transbordante. Deus dá Deus. Como diz a bela melodia de padre Zezinho: “Por um pedaço de pão e um pouquinho de vinho, Deus se tornou refeição e se fez o caminho”. Francisco pediu, exigiu, conclamou bispos e padres a saírem das sacristias, a irem para as periferias, para serem impregnados do cheiro das ovelhas e do povo de Deus.

A sexta felicidade do papa argentino: “Felizes os corações puros: eles verão a Deus (Mt 5, 8)”. A limpeza e pureza de coração é o coração sincero. Francisco falou para a presidente da Republica, aos indígenas, ao prefeito do Rio, para a elite e para os milhões nas
ruas. Aos 500 mil jovens da Jornada e aos 1500 clérigos e religiosas na Catedral. Não foi jogo de marketing, nem teologia da prosperidade. Não propôs proselitismo e muito menos confronto com os irmãos evangélicos. Apresentou o Evangelho de Cristo, como testemunho pessoal e qualitativo de um cristão e pastor engajado pela fé e na fé. Francisco quis estar na verdade mais do que afirmar-se dono ou possuidor exclusivo dos tesouros da revelação.

A sétima felicidade do filho de imigrantes: “Felizes os que agem em prol da paz: eles serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9)”.
O papa Francisco não proclamou a paz covarde ou uma ausência de conflitos. Não rezou por uma paz de cemitério ou pela covarde e resignada religião de subserviência ou de preces fundamentalistas. Propôs uma  paz inquieta, rebelde, criativa, sonhadora. Paz onde a pessoa humana é o método, a chave e a meta. A dignidade humana como critério divino: a
glória de Deus é que o pobre tenha vida! Gritou a cada momento nesta semana no Brasil, contra a corrupção das elites e das instituições e clamou por uma justa distribuição das riquezas no mundo. E disse ao clero brasileiro: tenham a coragem de ir contra a corrente que transforma pessoas em objetos descartáveis. A idolatria é fruto da  injustiça social e um maldito sinal que nega vida ao povo negro, aos  moradores das periferias e aos camponeses, mulheres, idosos e às crianças.
A oitava felicidade do devoto de Maria: “Felizes os perseguidos por causa da justiça: deles é o Reino dos Céus (Mt 5, 10)”. Na sua primeira visita internacional nos lembrou do vigor profético de dom Helder Camara e do amor preferencial de Luciano Mendes de Almeida.Hoje o papa Francisco fortalece a fé de quem ficou ao lado dos  empobrecidos, ao lado do Cristo crucificado pelo regime ditatorial. Falou da teimosia evangélica. Celebrou a vida dos que deram a vida: vidas pela vida. Faltou recordar a entrega de tantos mártires de nossa Igreja latino-americana como dom Oscar Arnulfo Romero y Gadamez, Frei Tito Alencar Lima, padre Henrique Pereira Neto, irmã Dorothy Stang, Santo Dias da Silva e o jovem torturado Alexandre Vannucchi Leme, entre centenas que entregaram a vida pelos pobres. Será preciso viver obedientes no amor e na fidelidade sem olvidar as testemunhas. Amor verdadeiro é memória celebrada do sangue derramado, como Cristo na cruz.
Santa Teresinha de Lisieux escrevia para sua irmã Léonie: “A única felicidade na terra é aplicar-se em achar deliciosa a parte que Jesus nos dá (12.08.1897)”. O papa Francisco abriu o nosso imenso apetite para degustar os deliciosos quitutes de Deus. Ao tocar nossa carne, nossa pele, nossa vida, nossa praia ele mexeu com o nosso coração. Ao andar pelas ruas no meio de inverno glacial esquentou a nossa esperança. Nunca mais o Brasil será o mesmo. Os cristãos puderam degustar um gostoso aperitivo da fé. Façamos agora a nossa feijoada. Os ingredientes já temos. Basta botar fogo na panela e água no feijão, para que ninguém fique excluído! Ninguém mais fora da vida pública! Ninguém fora da mesa da cidadania. Cada qual tornando a fé livre e libertadora, com jeitinho franciscano e sotaque carioca.
Ouvimos um convite quente: seguir a Jesus. De forma convicta e apaixonada! O
coração da mensagem do papa: sair do centro para a margem, rompendo casulos, para alçar vôo de peregrino destemido, envolto no mistério de Deus. Como cantava o poema musical de Ednardo:
“Pavão misterioso/ Pássaro formoso/ Tudo é mistério/ Nesse teu voar/ Ai se eu corresse
assim/ Tantos céus assim/ Muita história/ Eu tinha pra contar...”. Vai com Deus papa Francisco, te cuida! Volta logo, pois sentiremos muitas saudades de Tu, “mermão Chico”! Tu és sangue-bom! Por enquanto, até Cracóvia, em 2016.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Santo Inácio de Loyola



Seduzido pela leitura de livros piedosos, o futuro fundador da Companhia de Jesus deixou armas e ideais cavalheirescos e realizou grandes façanhas para a maior glória de Deus
Por Isabel Orellana Vilches

MADRI, 31 de Julho de 2013 (Zenit.org) - “Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, todo o meu ser e o meu possuir; vós o destes a mim: a vós, Senhor, eu o devolvo; tudo é vosso, de tudo disponde à vossa vontade; dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta”.
Esta profunda oração encerra os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, pequeno de altura física, grandioso no coração e na proverbial obediência, nascido no castelo de Loyola, em Guipúzcoa, na Espanha, em 1491, numa família da nobreza. Caçula de oito irmãos, foi educado na casa de Juan Velázquez, contador-mor dos Reis Católicos. Seu contato com a corte marcou e encerrou uma etapa em sua vida de dispersão e de afãs de glória.
Em 1517, depois da morte de Juan, entrou na carreira militar. Mas em 1521, possivelmente em 20 de maio, no transcurso de uma batalha contra os franceses em Pamplona, uma bala de canhão atingiu a sua perna direita, logo abaixo do joelho. Enquanto convalescia de uma das operações cirúrgicas que sofreu e que o deixou manco para o resto da vida, pediu livros de cavalaria para se distrair. Não havia. Ofereceram-lhe o relato da vida de Cristo e um santoral.
Eles modificaram a sua perspectiva existencial: “Eu imaginava que tinha de competir com um tal santo em jejuns, com outro tal na paciência, com aquele outro nas peregrinações”. As façanhas dos valorosos seguidores de Cristo, que em nada se assemelhavam às que conhecia o aguerrido soldado, o seduziram e ele se converteu. Arrependeu-se do seu passado e decidiu viver com a radicalidade evangélica à qual se sentiu chamado.
Em seu entorno, não passou despercebida a mudança do combativo militar, que, de repente, falava só de assuntos religiosos. E embora desconhecesse que passos tinha que dar, era claro, para Inácio, que seriam passos rumo à consagração. Ele se recluiu em Montserrat. Com o espírito de um cavalheiro, depositou suas armas aos pés de Maria, depois de ter velado toda a noite perante a sua imagem, com seus novos companheiros de caminho: as vestes do peregrino.
Sonhava já com Jerusalém. Queria se ver na terra de Jesus, a quem desejava “conhecer melhor, para imitá-lo e segui-lo”. Foi então para Manresa, fazer oração e penitência, e ali, fundamentados na sua experiência pessoal, redigiu os exercícios espirituais.
Uma noite, a Virgem Maria lhe apareceu com o Menino Jesus e ele sentiu-se invadido pela sua doçura. Quando abandonou o lugar, levou consigo um patrimônio espiritual que o deixou marcado para sempre.
Em 1523, viajou para a Terra Santa. Sua vontade era permanecer nos Santos Lugares, mas, diante dos muitos perigos que atocaiavam os peregrinos, foi dissuadido pelos franciscanos, que praticamente o obrigaram a retornar à Espanha. Sem saber ainda que caminho seguir, decidiu estudar quando chegou a Barcelona por volta de 1524, a fim de “ajudar as almas”. Completou os estudos em Alcalá de Henares e em Salamanca.
A difusão dos exercícios lhe acarretou muitos sofrimentos: processo, proibição de pregar, açoites, prisão. Atrás dele estava a Inquisição, mas Inácio aceitou todo o sofrimento com alegria, por amor a Cristo.
Em Paris, onde estudou Artes com um grupo de sete companheiros, entre os quais Francisco Xavier e Pedro Fabro, deu início à fundação da Companhia de Jesus com o lema “Ad maiorem Dei gloriam”. Compartilhou com eles a sua experiência em Manresa, o que aprendera da leitura de vidas dos santos e, principalmente, o evangelho. Concordaram todos em ir para a Palestina evangelizar. E colocaram-se todos à disposição do pontífice. Em 1534, emitiram seus votos na capela de Montmartre.
Conforme tinham combinado, encontraram-se depois em Veneza. Mas em 1535, novos problemas de saúde obrigaram Inácio a voltar para a Espanha. O sonho de todos continuava sendo estabelecer-se na Palestina, mas a guerra contra os turcos o tornou inviável. Em Veneza, em 1537, já com Inácio à frente, o grupo, que crescera em número, se transferiu para Roma e se pôs sob o amparo de Paulo III. O papa os acolheu e ordenou sacerdotes no mesmo ano aqueles que ainda não tinham recebido o sacramento da ordem. Na capela Storta, a alguns quilômetros de Roma, Cristo disse a Inácio, em uma visão trinitária: “Quero que tu nos sirvas”.
Com a aprovação do papa em 1540, a Companhia de Jesus se tornou uma realidade eclesial e canônica, embora a redação das constituições se prolongasse até 1551. Aos votos de castidade e de pobreza, acrescentaram o de obediência ao máximo superior, que estaria, por sua vez, submetido ao pontífice. Era um dos sinais do espírito militar que fazia parte da educação e da vida do seu fundador, e que ele quis transmitir à Companhia com novo sentido espiritual.
Com esta fundação, os jesuítas se dispuseram a lutar para conter o protestantismo e outras deficiências sociais, propagando a fé católica. Constatou-se logo o formidável trabalho desses religiosos. As vias de apostolado fundamentalmente eram o cuidado dos doentes e o ensino, que os primeiros integrantes realizavam estimulados pela fortaleza e pelo entusiasmo de Inácio.
Unanimemente, Inácio foi eleito superior geral da Companhia em 1541. A atração dos jovens pelo carisma crescia; foram chegando alguns de excepcionais qualidades. Limitado por graves problemas de saúde, o fundador permaneceu em Roma, dedicado ao retiro e à oração. Tinha encarnado o seu propósito: “Em tudo, amar e servir”. Manteve-se à frente da Companhia, que se estendeu pela Europa, América e Ásia. Enquanto isso, escrevia obras formativas e criava prestigiosos centros acadêmicos, tudo para a maior glória de Cristo e da sua Igreja.
Em 1551, quis renunciar como superior geral, mas não lhe permitiram. No início de julho de 1556, uma forte febre o atacou, mas seu ânimo apostólico permanecia invicto. No dia 31 daquele mês, morreu serena e inesperadamente. Paulo V o beatificou em 3 de dezembro de 1609. Gregório XV o canonizou em 12 de março de 1622.

AS VIRTUDES CRISTÃS


Quando pensamos nas virtudes cristãs nos voltamos para a vida exemplar dos santos e santas que povoam o céu. Parece-nos algo fora de nosso alcance. O termo “virtude” significa literalmente força. Sim, força, dinâmica, iniciativa, risco. Experiência interior que nos transfigura e nos dá rosto, palavras e gestos proféticos.
  Se vivermos uma vida próxima de Deus, temos a condição de bem viver as virtudes cristãs, porque o Senhor nos fortalece com sua graça. Todo cristão deve estabelecer com Deus uma relação amorosa de Pai. Buscar uma nova vida, a partir de uma experiência profunda de Deus, através de um encontro pessoal. A comunidade cristã é espaço de encontro com o Senhor que nos fala pela Palavra, a Bíblia e se faz presente na Liturgia e nos irmãos de fé.
 São três as virtudes que vem de Deus: Fé, Esperança e Amor. . É o tripé da nossa força renovada, da dinâmica profética da nossa vida que brota das experiências fundamentais da nossa relação com Deus, em Jesus Cristo
A Fé, é dom de Deus que nos transforma e nos molda ao seu jeito  Estabelece uma relação de confiança, segurança e entrega. Surge ai uma nova pessoa cheia de graça e entusiasmo pelas coisas do alto. Assim tornamo-nos discípulos do Senhor  que alimentados pela palavra e dinamizados pelo Espírito Santo  ficamos verdadeiramente fortalecidos na Esperança.
A Esperança, dom de Deus nos dá a certeza da vida eterna, na Salvação que veio por meio de Jesus Cristo.  É muito mais que um “otimismo religioso” de salvação depois da morte. É viver a certeza experimentada de que Deus é absolutamente fiel. Fiel é o Seu Nome, verdadeira é a sua Palavra, invencível é o seu Amor..
 O Amor  brota da experiência de Deus, Deus é amor e ama profundamente a cada um de nós, cheio desse amor,  amamos o irmão como Jesus amou. Pois o amor divino torna cada pessoa mais generosa, gratuita, solidária, piedosa e temente a Deus. O Amor de Deus faz-nos explodir em Amor como resposta de gratidão, ao darmos nos conta de que é possível vencer todas as formas de pecado, sobretudo do egoísmo.
Portanto, viver as virtudes cristãs está ao nosso alcance, basta voltar-se para Deus e deixar-se conduzir por sua Palavra por seu imenso amor. Está sobretudo ao alcance da juventude, as nossas comunidades precisam de santos que usam jeans. 
  Como São Paulo diz: “ Se eu falasse as línguas do homens e as dos anjos, mas não tivesse o amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas se não tivesse o amor eu nada seria...”  São Paulo nos ensina em seu Hino ao Amor, que a maior das virtudes é o Amor. (Cor 13, 1-13)..

                                Maria Ronety Canibal

Números da JMJ Rio 2013 superaram as expectativas



COL divulga os resultados alcançados pela Jornada Mundial da Juventude no Rio
Por Redacao

RIO DE JANEIRO, 30 de Julho de 2013 (Zenit.org) - Durante uma coletiva de imprensa realizada nesta terça feira, 30 de julho, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta e presidente do Comitê Organizador Local da JMJ Rio 2013 avaliou o evento e apresentou os resultados que “superaram as expectativas”..
Conforme notícia publicada no site oficial da JMJ Rio 2013 os números são:
O público presente na  Missa de Envio chegou a 3,7 milhões de pessoas, seis vezes maior que o número de presentes ao primeiro Ato Central, a Missa de Abertura (600 mil). O impacto econômico foi expressivo. Os visitantes desembolsaram R$ 1,8 bilhões, segundo números do Ministério do Turismo.  Os dados foram divulgados em coletiva à imprensa nesta terça-feira, 30.
No total, mais de 3,5 milhões de pessoas participaram da JMJ Rio2013, que contou com eventos em Copacabana, Quinta da Boa Vista, Rio Centro e em diversas paróquias da cidade. A cerimônia de acolhida do Santo Padre, na quinta-feira, 25, reuniu 1,2 milhões de pessoas em Copacabana, enquanto a Via-Sacra chegou a 2 milhões na sexta-feira, 26. Na vigília, cerca de 3,5 milhões de jovens estiveram na praia de Copacabana.
Foram 427 mil inscrições, de 175 países. Peregrinos inscritos com hospedagens alcançaram 356.400, enquanto o número de vagas disponibilizadas para hospedagem em casas de família e instituições chegaram a 356,4 mil.
Perfil dos inscritos
A JMJ Rio2013 contou com uma presença massiva de latinos. Os países com o maior número de inscritos foram, respectivamente, Brasil, Argentina, Estados Unidos, Chile, Itália, Venezuela, França, Paraguai, Peru e México. Do total dos inscritos internacionais, 72,7% estiveram no Brasil pela primeira vez e 86,9% nunca haviam participado da JMJ Rio2013.
Foram mais de 70 mil downloads no site oficial da JMJ Rio2013 e mais de 200 mil acessos. O facebook recebeu mais de 1,1 milhão de curtidas e o flickr superou 10 mil downloads.
Entre os peregrinos inscritos, 55% são do sexo feminino; 60% do público tem entre 19 e 34 anos. Foram 644 Bispos inscritos, dos quais 28 são Cardeais. Além disso, foram 7814 sacerdotes inscritos e 632 diáconos. Para cobrir a JMJ Rio2013 em 57 países, foram credenciados 6,4 mil jornalistas.
O evento também contou com 264 locais de catequese, em 25 idiomas.. Foram 60 mil voluntários, mais de 800 artistas participantes dos Atos Centrais. Um total de 100 confessionários foram expostos na Feira Vocacional e no Largo da Carioca e 4 milhões de hóstias produzidas, 800 mil para Missa de Envio.
A geração de lixo foi inferior a outros eventos que acontecem em Copacabana, como o Réveillon. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) removeu 345 toneladas de resíduos orgânicos e 45 toneladas de materiais recicláveis, durante a JMJ Rio2013. O número representa cerca de 10% a menos do registrado na noite do último Ano Novo.  

O Papa foi embora e disse um até breve com saudades



O Papa foi embora e disse um até breve com saudades
Discurso do Papa na cerimônia de despedida

RIO DE JANEIRO,  Julho de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos na íntegra o discurso do Papa na cerimônia de despedida no aeroporto do Rio de Janeiro.
Senhor Vice-Presidente da República,
Distintas Autoridade Nacionais, Estaduais e Locais,
Senhor Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado,
Queridos Amigos!

Dentro de alguns instantes, deixarei sua Pátria para regressar a Roma. Parto com a alma cheia de recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração; este povo tão amoroso.. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha. Tenho a certeza de que Cristo vive e está realmente presente no agir de tantos e tantas jovens e demais pessoas que encontrei nesta inesquecível semana. Obrigado pelo acolhimento e o calor da amizade que me foram demonstrados. Também disso começo a sentir saudades.
De modo particular agradeço à Senhora Presidenta, aqui representada por seu Vice-Presidente, por ter-se feito intérprete dos sentimentos de todo o povo do Brasil para com o Sucessor de Pedro. Cordialmente agradeço a meus Irmãos Bispos e seus inúmeros colaboradores por terem tornado estes dias uma celebração estupenda da nossa fé fecunda e jubilosa em Jesus Cristo. Agradeço, em especial, a Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, seus Bispos Auxiliares, e Dom Raymundo Damasceno, Presidente da Conferência Episcopal.. Agradeço a todos os que tomaram parte nas celebrações da Eucaristia e nos restantes eventos, àqueles que os organizaram, a quantos trabalharam para difundi-los através da mídia. Agradeço, enfim, a todas as pessoas que, de um modo ou outro, souberam acudir às necessidades de acolhida e gestão de uma multidão imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no silêncio e na simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude fosse uma verdadeira experiência de crescimento na fé. Que Deus recompense a todos, como só Ele sabe fazer!
Neste clima de gratidão e saudades, penso nos jovens, protagonistas desse grande encontro: Deus lhes abençoe por tão belo testemunho de participação viva, profunda e alegre nestes dias! Muitos de vocês vieram como discípulos nesta peregrinação; não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do amor. Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita!
O meu pensamento final, minha última expressão das saudades, dirige-se a Nossa Senhora Aparecida. Naquele amado Santuário, ajoelhei-me em prece pela humanidade inteira e, de modo especial, por todos os brasileiros. Pedi a Maria que robusteça em vocês a fé cristã, que é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros países, tesouro de sua cultura, alento e força para construírem uma nova humanidade na concórdia e na solidariedade.
O Papa vai embora e lhes diz “até breve”, um “até breve” com saudades, e lhes pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele. Este Papa precisa da oração de todos vocês. Um abraço para todos. Que Deus lhes abençoe!

terça-feira, 30 de julho de 2013

Confira na íntegra a entrevista que Papa Francisco concedeu aos jornalistas dentro do avião no retorno a Roma



A Igreja não pode julgar os gays por sua opção sexual e nem marginalizá-los. O alerta é do papa Francisco que, quebrando um verdadeiro tabu, deixa claro que estende sua mão a esse segmento da sociedade. “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu pra julgá-lo”, declarou. “O catecismo da Igreja explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser marginalizados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade”, insistiu
As declarações foram dadas em uma entrevista concedida pelo papa aos jornalistas que o acompanharam no avião entre o Rio e Roma, entre eles a reportagem do Estado. Na conversa, a garantia do argentino de que o Vaticano tem como papa uma “pessoa normal”, um “pecador” e que vive junto com os demais religiosos porque morar no Palácio Apostólico o geraria problemas psicológicos. Trinta minutos depois de o voo decolar do Rio, o papa deixou sua primeira classe e cumpriu uma promessa que havia feito no voo de ida de Roma ao Brasil: responderia perguntas dos jornalistas. Mas poucos imaginaram que a conversa duraria quase uma hora e meia.
Relembre, dia a dia, como foi a Jornada no Brasil
Para o papa, o problema não é a existência do “lobby gay” dentro da Igreja, mas de qualquer lobby. “O problema não é ter essa tendência. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessas tendências de pessoas gananciosas, lobby político, mações e tantos outros lobbies. Esse é o principal problema”, disse.
Pela primeira vez, Francisco ainda deixou claro que, para ele, abusos sexuais contra menores por parte de religiosos não são apenas pecados, mas crimes que devem ser julgados.
Mas se a posição sobre os gays e sobre o abuso sexual pode representar uma mudança, Francisco deixou claro que não haverá uma nova opinião do Vaticano sobre a presença das mulheres na Igreja, sobre o aborto ou sobre o casamento homossexual.
O papa aproveitou a conversa para anunciar que vai exigir transparência e honestidade no Vaticano e garantiu que sua reforma vai continuar. “Esses escândalos fazem muito mal”, disse.
Antes de responder às perguntas, ele elogiou o “grande coração dos brasileiros”, disse que a viagem “fez bem para sua espiritualidade” e ainda disse que a organização do evento foi excelente. “Parecia um cronômetro”. Eis os principais trechos da entrevista:
Nestes quatro meses de pontificado, o senhor criou várias comissões. Que tipo de reforma do Vaticano o sr. tem em mente? O sr. quer suprimir o Banco do Vaticano?
Papa Francisco – Os passos que eu fui dando nestes quatro meses e meio vão em duas vertentes. O conteúdo do que quero fazer vem da congregação dos cardeais. Me lembro que os cardeais pediam muitas coisas para o novo papa, antes do conclave. Lembro-me que tinha muita coisa. Por exemplo, a comissão de oito cardeais, a importância de ter uma consulta de alguém de fora, e não uma consulta apenas interna. Isso vai na linha do amadurecimento da sinonalidade e do primado. Os vários episcopados do mundo vão se expressando e muitas propostas foram feitas, como a reforma da secretaria dos sínodos, para que a comissão sinodal tenha característica consultativa, como o consistório cardinalício com temáticas específicas, como a canonização. A vertente dos conteúdos vem dai.
A segunda é a oportunidade. A formação da primeira comissão não me custou mais de um mês. Já A parte econômica, eu pensava em tratar no ano que vem, porque não é a mais importante. Mas a agenda mudou devido a circunstâncias que vocês conhecem que é domínio público. O primeiro é o problema do Ior (Banco do Vaticano), como encaminhá-lo, como reformá-lo, como sanear o que há de ser sanado. E essa foi então a primeira comissão. Depois tivemos a comissão dos 15 cardeais que se ocupam dos assuntos econômicos da Santa Sé. E por isso decidimos fazer uma comissão para toda a economia da Santa Sé, uma única comissão de referência. Se notou que o problema econômico estava fora da agenda. Mas estas coisas acontecem. Quando estamos no governo, vamos por um lado, mas se chutam e fazem um golaço por outro lado, temos que atacar. A vida é assim. Eu não sei como o Ior vai ficar. Alguns acham melhor que seja um banco, outros acham que deveria ser um fundo, uma instituição de ajuda. Eu não sei. Eu confio no trabalho das pessoas que estão trabalhando sobre isso. O presidente do Ior permanece, o tesoureiro também, enquanto o diretor e o vice-diretor pediram demissão. Não sei como vai terminar essa história. E isso é bom. Não somos máquinas. Temos que achar o melhor. Mas o fato é que, seja o que for, tem que ser feita com transparência e honestidade.
Uma fotografia do sr. deu a volta ao mundo, quando o sr. desceu as escadas do helicóptero em Roma para embarcar para o Brasil carregando sua mala preta. Reportagens levantaram hipóteses também sobre o conteúdo da mala. Porque o sr. saiu carregando a maleta preta e não um de seus colaboradores? E o sr. poderia dizer o que tinha dentro?
Papa Francisco – Não tinha a chave da bomba atômica. Eu sempre fiz isso, Quando viajo, levo minhas coisas. E dentro o que tem? Um barbeador, um breviário (livro de liturgia), uma agenda, tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Sou devoto de Santa Terezinha. Eu sempre levei eu mesmo minha maleta. É normal. Nós temos que ser normais. É um pouco estranho isso que você me diz que a foto deu a volta ao mundo. Mas temos de nos habituar a sermos normais, à normalidade da vida.
Por que o senhor pede tanto para que rezem pelo senhor? Não é habitual ouvir de um papa que peça que rezem por ele.
Papa Francisco – Sempre pedi isso. Quanto era padre pedia, mas nem tanto e nem tão frequentemente. Comecei a pedir mais frequentemente quando passei a ser bispo. Porque eu sinto que se o senhor não ajuda nesse trabalho de ajudar aos outros, não se pode realizá-lo. Preciso da ajuda do senhor. Eu de verdade me sinto com tantos limites, tantos problemas, e também pecador. Peço a Nossa Senhora que reze por mim. É um hábito, mas que vem da necessidade. Eu sinto que devo pedir. Não sei…
Na busca de fazer as mudanças no Vaticano, o sr. disse que existem muitos santos que trabalham e outros um pouco menos santos. O sr. enfrenta resistências a essa sua vontade de mudar as coisas no Vaticano? O sr. vive num ambiente muito austero, de Santa Marta. Os seus colaboradores também vivem essa austeridade? Isso é algo apenas do sr. ou da comunidade?
Papa Francisco – As mudanças vem de duas vertentes: do que pediram os cardeais e também o que vem da minha personalidade. Você falou que eu fico na Santa Marta. Eu não poderia viver sozinho do Palácio, que não é luxuoso. O apartamento pontifício é grande, mas não é luxuoso. Mas eu não posso viver sozinho. Preciso de gente, falar com gente, trabalhar com as pessoas. Porque é que quando os meninos da escola jesuíta me perguntaram se eu estava aqui pela austeridade e pobreza, eu respondi: não, não. Psicologicamente, não posso. Cada um deve levar adiante sua vida, seguir seu modo de vida. Os cardeais que trabalham na Cúria não vivem como ricos. Tem apartamentos pequenos. São austeros. Os que eu conheço tem apartamentos pequenos. Cada um tem que viver como o senhor disse que tem que viver. A austeridade é necessária para todos. Trabalhamos à serviço da Igreja. É verdade que há sacerdotes e padres santos, gente que prega, que trabalha tanto, que trabalha e vai aos pobres, se preocupam garantir que os pobres comam. Tem santos na Cúria. Também tem alguns que não são muito santos. E são estes que fazem mais barulho. Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que nasce. Isso me dói. Porque são alguns que causam escândalos. Temos o monsenhor que foi para a cadeia (por lavagem de dinheiro). São escândalos que fazem mal. Uma coisa que nunca disse : a Cúria deveria ter o nível que tinham os velhos padres, pessoas que trabalham. Os velhos membros da Cúria. Precisamos deles. Precisamos do perfil do velho da Cúria. Sobre a resistência, se tem, eu ainda não vi. É verdade que aconteceram muitas coisas. Mas eu preciso dizer: eu encontrei ajuda, encontrei pessoas leais. Por exemplo, eu gosto quando alguém me diz: “eu não estou de acordo”. Esse é um verdadeiro colaborador. Mas quando vejo alguém que diz: “ah, que belo, que belo”, e depois dizem o contrario por trás, isso não ajuda.
O mundo mudou, os jovens mudaram. Temos no Brasil muitos jovens, mas o senhor não falou de aborto, sobre a posição do Vaticano sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil foram aprovadas leis que ampliam os direitos para estes casamentos em relação ao aborto. Por que o senhor não falou sobre isso?
Papa Francisco – A Igreja já se expressou perfeitamente sobre isso. Eu não queria voltar sobre isso. Não era necessário, como também não falei sobre outros assuntos. Eu também não falei sobre o roubo, sobre a mentira. Para isso, a Igreja tem um doutrina clara. Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual a posição da igreja.
E qual é a do Papa?
Papa Francisco – É a da Igreja, eu sou filho da Igreja.
Qual o sentido mais profundo de se apresentar como o bispo de Roma?
Papa Francisco – Não se deve andar mais adiante do que o que se fala. O papa é bispo de Roma e por isso é papa, que é o sucessor de Pedro. Pensar que isso quer dizer que é o primeiro, não é o caso. Não é esse o sentido. O primeiro sentido do papa é ser o bispo de Roma.
O sr. teve sua primeira experiência de massas no Rio. Como o sr. se sente como papa? É muito trabalho?
Papa Francisco – Ser bispo é lindo. O problema é quando um pessoa busca ter esse trabalho. Assim não é tão belo. Mas quando um senhor chama para ser bispo, isso é belo. Tem sempre o perigo e pecado de pensar com superioridade, como ser um príncipe. Mas o trabalho é belo. Ajudar o irmão a ir adiante. Tem o filtro da estrada. O bispo tem que indicar o caminho. Eu gosto de ser bispo. Em Buenos Aires, eu era tão feliz. Como padre eu era feliz. Como bispo, eu era feliz e isso me faz bem.
E como papa?
Papa Francisco – Se você faz o que o Senhor quer, é feliz. Isso é meu sentimento.
Vimos o sr. cheio de energia e, agora, enquanto o avião se mexe muito, vemos agora com muita tranquilidade de pé. Fala-se muito das próximas viagens. O sr. já tem um calendário?
Papa Francisco – Definido, definido não há nada. Mas posso dizer algumas coisas que estamos pensando. No dia 22 de setembro, Cagliari. Depois, no 4 de outubro, para Assis. Tenho em mente, dentro da Itália, ir ver minha família. Pegar um avião pela manhã e voltar com outro pela noite. Meus familiares, pobres, me ligam. Temos uma boa relação com eles. Fora da Itália o patriarca Bartolomeu I quer fazer um encontro para comemorar os 50 anos do encontro Atenágoras e Paulo VI em Jerusalém. O governo israelense nos fez um convite especial. O governo da Autoridade Palestina acredito que fez o mesmo. Isso está sendo pensado. Na América Latina, acredito que há possibilidades de voltar, porque o papa latino-americano, que acaba de fazer sua primeira viagem à América Latina….Adeus! Devemos esperar um pouco. Acredito que se possa ir à Ásia, mas está tudo no ar. Tive convites para ir ao Sri Lanka e Filipinas. Para a Ásia precisamos ir. Bento XVI não teve tempo.
E para a Argentina?
Papa Francisco – Isso pode esperar um pouco. As outras viagens tem prioridade.
No encontro com os argentinos, o sr. disse que se sentia enjaulado. Por quê?
Papa Francisco – Vocês sabem que eu tenho vontade de passear pelas ruas de Roma? Adoro andar pelas ruas. E por isso me sinto um pouco enjaulado. Mas tenho que dizer que a Gendarmeria vaticana é boa. Agora me deixam fazer algumas coisas mais. Mas seu dever é garantir minha segurança. Enjaulado nesse sentido, de que gostaria de estar nas ruas. Mas entendo que não é possível. Em Buenos Aires, eu era um sacerdote das ruas.
A igreja no Brasil está perdendo fiéis. A Renovação Carismática é uma possibilidade para evitar que eles sigam para as igrejas pentecostais?
Papa Francisco – É verdade, as estatísticas mostram. Falamos sobre isso ontem com os bispos brasileiros. E isso é um problema que incomoda os bispos brasileiros. Eu vou dizer uma coisa: nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez, falando sobre eles, disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma escola de samba. Eu me arrependi. Vi que os movimentos bem assessorados trilharam um bom caminho. Agora, vejo que esse movimento faz muito bem à igreja em geral. Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano, na catedral. Vi o bem que eles faziam. Neste momento da igreja, creio que os movimentos são necessários. Esses movimentos são um graça para a igreja. A Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais. Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova.
O senhor disse que está cansado. Há algum tratamento especial neste voo?
Papa Francisco – Sim, estou cansado. Não há nenhum tratamento especial neste voo. Na frente, tem uma bela poltrona. Escrevi para dizer que não queria tratamento especial.
A igreja sem a mulher perde a fecundidade? Quais as medidas concretas?
Papa Francisco – Uma igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papal da mulher na igreja não é só maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a igreja a crescer. E pensar que a Nossa Senhora é mais importante do que os apóstolos! A igreja é feminina, esposa, mãe. O papel da mulher na igreja não deve ser só o de mãe e com um trabalho limitado. Não, tem outra coisa. O papa Paulo XI escreveu uma coisa belíssima sobre as mulheres. Creio que se deva ir adiante com esse papel. Não se pode entender uma igreja sem uma mulher ativa. Um exemplo histórico: para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da América Latina. Sobraram, depois da guerra (1864-1870), oito mulheres para cada homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua. Na igreja, se deve pensar nas mulheres sob essa perspectiva. Escolhas de risco, mas como mulher. Acredito que, até agora, não fizemos uma profunda teologia sobre a mulher. Somente um pouco aqui, um pouco lá. Tem a que faz a leitura, a presidente da Cáritas, mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. Isso é o que eu penso.
O que sr. pensa sobre a ordenação das mulheres?
Papa Francisco – Sobre a ordenação, a Igreja já falou e disse que não. João Paulo II disse com uma formulação definitiva. Essa porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais importante que os apóstolos. A mulher na igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falte uma especificação teológica.
Queremos saber qual a sua relação de trabalho com Bento XVI, não a amistosa, a de colaboração. Não houve antes uma circunstância assim. Os contatos são frequentes?
Papa Francisco – A última vez que houve dois ou três papa, eles não se falavam. Estavam brigando entre si, para ver quem era o verdadeiro. Eu fiquei muito feliz quando se tornou papa. Também, quando renunciou, foi, pra mim, um exemplo muito grande. É um homem de Deus, de reza. Hoje, ele mora no Vaticano. Alguns me perguntam: como dois papas podem viver no Vaticano? Eu achei uma frase para explicar isso. É como ter um avô em casa. Um avô sábio. Na família, um avô é amado, admirado. Ele é um homem com prudência. Eu o convidei para vir comigo em algumas ocasiões. Ele prefere ficar reservado. Se eu tenho alguma dificuldade, não entendo alguma coisa, posso ir até ele. Sobre o problema grave do Vatileaks [vazamento de documentos secretos], ele me disse tudo com simplicidade. Tem uma coisa que não sei se vocês sabem: em 8 de fevereiro, no discurso, ele falou: “Entre vocês está o próximo papa. Eu prometo obediência”. Isso é grande.
Nesta viagem, o sr. falou de misericórdia. Sobre o acesso aos sacramentos dos divorciados, existe a possibilidade de mudar alguma coisa na disciplina da igreja?
Papa Francisco – Essa é uma pergunta que sempre se faz. A misericórdia é maior do que o exemplo que você deu. Essa mudança de época e também tantos problemas na igreja, como alguns testemunhos de alguns padres, problemas de corrupção, do clericalismo… A igreja é mãe. Ela cura os feridos. Ela não se cansa de perdoar. Os divorciados podem fazer a comunhão. Não podem quando estão na segunda união. Esse problema deve ser estudado pela pastoral matrimonial. Há 15 dias, esteve comigo o secretário do sínodo dos bispos, para discutir o tema do próximo sínodo. E posso dizer que estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda. O cardeal Guarantino disse ao meu antecessor que a metade dos matrimônios é nula. Porque as pessoas se casam sem maturidade ou porque socialmente devem se casar. Isso também entra na Pastoral do Matrimônio. A questão da anulação do casamento deve ser revisada. Também é preciso analisar os problemas judiciais de anular um matrimônio. Porque os…eclesiástico não bastam para isso. É complexo o problema da anulação do matrimônio.
Como Papa, o senhor ainda pensa como um jesuíta?
Papa Francisco – É uma pergunta teológica. Os jesuítas fazem votos de obedecer ao Papa. Mas se o Papa se torna um jesuíta, talvez devem fazer votos gerais dos jesuítas. Eu me sinto jesuíta na minha espiritualidade, a que tenho no coração. Não mudei de espiritualidade. Sou Francisco franciscano. Me sinto jesuíta e penso como jesuíta.
Em quatro meses de Pontificado, pode nos fazer um pequeno balanço e dizer o que foi o pior e o melhor de ser Papa? O que mais o surpreendeu neste período?
Papa Francisco – Não sei como responder isso, de verdade. Coisas ruins, ruins, não aconteceram. Coisas belas, sim. Por exemplo, o encontro com os bispos italianos, que foi tão bonito. Como bispo da capital da Itália, me senti em casa com eles. Uma coisa dolorosa foi a visita a Lampedusa, me fez chorar. Mas me fez bem. Quando chegam estes barcos (com imigrantes), e que os deixam a algumas milhas de distância da costa e eles têm que chegar (à costa) sozinhos, isso me dói porque penso que estas pessoas são vítimas do sistema sócio-econômico mundial. Mas a coisa pior é um dor ciática, é verdade, tive isso no primeiro mês. É verdade! Para uma entrevista, tive que me acomodar numa poltrona e isso me fez mal, doía muito, não desejo isso a ninguém. O encontro com os seminaristas religiosos foi belíssimo. Também o encontro com os alunos do colégio jesuíta foi belíssimo. As pessoas…conheci tantas pessoas boas no Vaticano. Isso é verdade, eu faço justiça. Tantas pessoas boas, mas boas, boas, boas.
O senhor se assustou quando viu o informe sobre o Vatileaks?
Papa Francisco – Não. Vou contar uma anedota sobre o informe do Vatileaks. Quando fui ver o Papa Bento, ele disse: aqui está uma caixa com tudo o que disseram as testemunhas. Havia ainda um envelope com o resumo. E ele sabia tudo de memória. Mas não, não me assustei. São problemas grandes, mas não me assustei.
O sr. tem a esperança de que esta viagem ao Brasil contribua para trazer de volta os fiéis?
Papa Francisco – Uma viagem Papa sempre faz bem. E creio que a viagem ao Brasil fará bem, não apenas a presença do Papa. Esta Jornada da Juventude, eles (os brasileiros) se mobilizaram e vão ajudar muito a Igreja. Tantos fiéis que foram se sentem felizes (por terem ido). Acho que vai ser positivo não só pela viagem, mas pela Jornada, que foi um evento maravilhoso.
Os argentinos se perguntam: o sr. não sente falta de estar em Buenos Aires, pegar um ônibus?
Papa Francisco – Buenos Aires, sim, sinto falta. Mas é uma saudade serena.
Hoje os ortodoxos festejam mil anos do cristianismo. Seu comentário.
Papa Francisco – As igrejas ortodoxas conservaram a liturgia tão bem, no sentido da adoração. Eles louvam Deus, adoram Deus, cantam Deus. O tempo não conta. O centro é Deus e isso é uma riqueza. Luz é oriente. E o ocidente, luxo. O consumismo nos faz tão mal. Quando se lê Dostoievski, que acho que todos nós devemos ler, precisamos deste ar fresco do oriente, desta luz do oriente.
O que o senhor pretende fazer em relação ao monsenhor Ricca (acusado de ter amantes) e como o sr. pretende enfrentar toda esta questão do lobby gay?
Papa Francisco – Sobre monsenhor Ricca, fiz o que o direito canônico manda fazer, que é a investigação prévia. E nesta investigação, não tem nada do que o acusam. Não achamos nada. É a minha resposta. Mas eu gostaria de dizer outra coisa sobre isso. Vejo que muitas vezes na Igreja se busca os pecados de juventude, por exemplo. Abuso de menores é diferente. Mas, se uma pessoa, seja laica ou padre ou freira, pecou e esconde, o Senhor perdoa. Quando o senhor perdoa, o senhor esquece. E isso é importante para a nossa vida. Quando vamos confessar e nós dizemos que pecamos, o senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer. Isso é um perigo. O que é importante é uma teologia do pecado. Tantas vezes penso em São Pedro, que cometeu tantos pecados e venerava Cristo. E este pecador foi transformado em Papa. Neste caso, nós tivemos uma rápida investigação e não encontramos nada.
Vocês vêm muita coisa escrita sobre o gay lobby. Eu ainda não vi ninguém no Vaticano com uma carteira de identidade do Vaticano dizendo que é gay. Dizem que há alguns. Acho que quando alguém se vê com uma pessoa assim deve distinguir entre o fato de que uma pessoa é gay e fazer um lobby gay, porque todos os lobbys não são bons. Isso é o que é ruim. Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, pra julgá-la? O catecismo da Igreja católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos. O problema é fazer lobby, o lobby dos avaros, o lobby dos políticos, tantos lobbys. Esse é o pior problema.
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"Abraçados por Francisco"


Professor Evandro Gussi
Da Redação



Papa Francisco deixou muito claro que não tem medo de navegar contra a correnteza

Papa Francisco, à primeira vista, é apenas um daqueles casos raros em que, mesmo conhecendo-se alguém a tão pouco tempo, temos a impressão de uma amizade antiga. Esse pensamento, que certamente penetrou os corações de milhões de brasileiros, tem sentido, pois conhecemos Francisco há dois mil anos, desde que Nosso Senhor, perguntando a São Pedro se ele O amava, ouviu aquele sincero “Sim, Senhor, tu sabes tudo. Tu sabes que te amo!”.

Foi ali que Pedro, e também Francisco, ganharam nossos corações, pois receberam de Jesus o mandato de apascentarem cada um de nós, Suas ovelhas. Conhecemos Francisco, pois a ovelha conhece a voz do Pastor. Foi assim que milhões delas acorreram ao Rio de Janeiro e tantas outras acompanharam pelos meios de comunicação.

Esse foi justamente o cartão de visitas do Papa, que pediu aos brasileiros licença para entrar em seus corações. Francisco deixou bem claro que vinha em nome de Jesus – o Cristo integral – o mesmo de Pedro, que ele trazia, agora, a cada um de nós! Sua mensagem foi sólida como deve ser a rocha sobre a qual se constrói a Igreja, contrariando as expectativas daqueles que, como já nos advertia Leão XIII, têm uma “sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril” (Rerum Novarum, n. 1).

Reunido com os jovens argentinos, o Papa foi mais longe: disse que podemos espremer uma laranja ou uma maçã, mas não a Fé: “A fé é integral, não se espreme. É a fé em Jesus. É a fé no Filho de Deus feito homem, que me amou e morreu por mim”. Assim, o Papa Francisco conseguiu a síntese perseguida pelo Concílio Vaticano II: comunicar a Fé de sempre com a linguagem própria dos tempos atuais.

Para fazer isso, Papa Francisco deixou muito claro que não tem medo de navegar contra a correnteza, ou seja, que não devemos abandonar a fé para parecermos agradáveis às pessoas ou ao modo de ser do nosso tempo. Na missa celebrada com os bispos, padres e seminaristas, pediu que “tivessem o valor de ir contracorrente dessa cultura”. Francisco não demonstrou apenas ter coragem de falar e agir contra esse modo corrente de pensar; pediu que cada um de nós fizesse o mesmo, levando, de modo especial, os valores incondicionais da vida e da família.

Com isso, o Papa recorda que, na verdade, a Fé sempre contribuiu para a elevação cultural dos povos, pois ela parte de uma concepção plena da pessoa humana, revelada em Nosso Senhor, fato que o Santo Padre lembrou como próprio também da cultura brasileira, “que recebeu também a seiva do Evangelho, a fé em Jesus Cristo, o amor a Deus e a fraternidade com o próximo” . Segundo Francisco, é justamente o resgate desse traço tão importante da nossa cultura que pode ser “um processo construtor de um futuro melhor para todos”.

O Papa nos trouxe também os aspectos característicos da autêntica caridade evangélica em palavras e atos. Sua opção pelos pobres não é de ordem materialista ou revolucionária: longe disso, ela é pessoal. Diante da pobreza e da marginalização, o Papa não nos pediu discursos ou análises conjunturais, mas as Obras da Misericórdia (o Papa recomendou que se lesse o Capítulo 25 de São Mateus), pois, do contrário, alertou o Papa, a Igreja se transformaria em uma ONG. Nada contra as ONG’s, mas, definitivamente, o Papa deixa claro que o papel central da Igreja é apresentar a redenção da humanidade, conquistada pelo Sangue precioso de Nosso Senhor.

Ocorre que aquele que tem um encontro com a Pessoa de Nosso Senhor não suporta mais a indiferença em relação aos que sofrem. No entanto, agem assim, pois veem nos sofredores, “a Carne de Cristo”, como lembrou o Santo Padre na Visita ao Hospital São Francisco de Assis. Agem assim, pois estão alicerçados na Esperança Cristã – de longe a palavra mais utilizada pelo Santo Padre, 38 vezes, no total – segundo a qual temos uma certeza expectante de uma vida eterna no céu, o que nos permite gastar esta vida terrena servindo a Deus na pessoa do próximo, daqueles que mais precisam.

Foi seguindo esse caminho que, nos últimos dois mil anos, tantos e tantos católicos gastaram a vida construindo a maior obra de caridade que a história já viu ou verá. Fizeram assim, pois estão alicerçados em uma Fé, que lhes dá Esperança e lhes impulsiona para o Amor. Francisco também não se esqueceu de uma das mais altas formas de caridade, quando advertiu que somos responsáveis por formar uma geração de pessoas capazes de “reabilitar a política” e de “trazer uma visão mais humanista à economia”. Como prometera em seu primeiro discurso, o Papa Francisco realmente nos abraçou e abraçou também, com seus gestos e palavras, todas as mais profundas esferas da existência humana.


Evandro Gussi - formou-se em Direito pela Toledo de Presidente Prudente, é Mestre em Direito do Estado e Teoria do Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutor em Direito do Estado pela USP. É professor nas áreas de Direito, Filosofia, Política e Doutrina Social da Igreja.
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Conheça a Jornada Mundial da Juventude que a mídia secular não mostrou


Quem não pôde participar da Jornada Mundial da Juventude e teve de se contentar com as análises da mídia perdeu aspectos fundamentais desse evento que movimentou o país. É bem verdade que as lentes das câmeras conseguiram alcançar pontos importantes e, muitas vezes, belos da Jornada, mas nenhuma delas foi capaz de atingir o coração da JMJ Rio 2013. Não obstante o clima de festa ocasionado pelo encontro, o que, de fato, marcou a alma dos jovens foi muito mais que a sensação simplista de uma viagem, mas o toque concreto com todos os artigos da fé que compõem o corpo da Igreja que é o próprio Corpo de Cristo.

A começar pela chegada dos peregrinos ao Rio de Janeiro, o Brasil e as demais partes do planeta puderam experimentar a universalidade da Igreja, desde os alegres cantos africanos à acolhida fraternal do povo carioca. Cada bandeira hasteada na praia de Copacabana revelava a dimensão da Noiva de Cristo que a acolhia e a vigiava de braços abertos de cima do Corcovado. Uma cena que deixou a Cidade Maravilhosa ainda mais... maravilhosa. Dos confins do mundo, aonde chegaram os profetas missionários de outrora, vieram as novas gerações de adoradores do Senhor, cuja única missão, concedida pelo Santo Padre, é ir novamente pelo mundo e anunciar o Evangelho a toda criatura.

O Rio de Janeiro que amargava tristes depredações e padecia sob um clima de guerra civil sem precedentes semanas atrás se convergiu num mar de pessoas que cantava louvores a Deus e pedia a intercessão da Mãe Aparecida. Imagem suficiente para arrancar lágrimas de policiais e sorrisos de bebês que, mesmo sem compreender concretamente o que lá acontecia, sabiam que era algo santo. O ódio dos protestos dos indignados foi afogado pela amor de Cristo. As profanações de meia-dúzia de coitados foram ofuscadas pela sacralidade de 3,5 milhões de batizados. De filhos do Altíssimo. De pessoas que, como pediu o Santo Padre na cerimônia de sua acolhida, botaram fé na verdade, no caminho e na vida que só se encontram em Jesus.

A Jornada Mundial da Juventude apresentou novamente às nações a pujança da Igreja e a sua capacidade de se renovar. Não, a Igreja não está morta. Pelo contrário, vive e se multiplica para além daqueles que profetizaram seu enterro e que, aliás, já estão enterrados. A história se repete e mais uma vez é a Igreja quem sai vitoriosa. Se em Madrid foram dias em que Deus parecia existir, como confessou o jornalista agnóstico Vargas Llosa, no Rio foram dias em que Ele confirmou sua existência. Diferente do que se viu dias atrás, dessa vez os jovens não saíram às ruas para depredar, mas para construir. E construir em cima da Rocha. E por isso gritavam: Esta é a juventude do Papa! Melhor, dos Papas. De Bento e de Francisco, pois a única ruptura proposta por eles é a ruptura com o pecado, não com a fé de dois mil anos como sugerem alguns teólogos mal intencionados por aí.

Os cantos que tomaram as ruas do Rio de Janeiro ainda encontrarão eco em muitos corações. Naquela praia, onde se celebrou a missa de envio dos peregrinos, novamente exortou Jesus pela boca do Santo Padre: "Ide pelo mundo e fazei discípulos de todas as nações". E neste momento, em que muitos jovens ainda se encontram em ônibus ou aviões voltando para suas casas, também a cruz de Cristo vai com eles para indicar o caminho da Luz da Fé, a única capaz de conduzir o homem para a salvação eterna, onde as portas do inferno não prevalecerão.

Fonte: padrepauloricardo.org

Da redação do Portal Ecclesia.