quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Muitas idosas falam sobre Deus melhor do que os teólogos

Na homilia em Santa Marta, Francisco destaca que a identidade cristã vem do Espírito Santo, e não da licenciatura em teologia, cursos na Lateranense, Gregoriana...
Por Federico Cenci

ROMA,  Setembro de 2014 (Zenit.org) -
 Você pode passar a vida inteira mergulhado em textos teológicos e não ser capaz de encontrar respostas. Não é a sabedoria humana que dá autoridade e identidade a um cristão, mas o Espírito Santo. Excluir o recurso do Espírito Santo significa escorregar no espírito do mundo, que se utiliza dos títulos e não chega ao coração do povo.
Na homilia da Missa celebrada esta manhã na Casa Santa Marta, o Papa Francisco explica que é Jesus quem primeiro, através do seu próprio exemplo, nos oferece um modelo de pregador fora do comum, porque a sua "autoridade" vem da "unção especial do Espírito Santo". Uma característica que deixava as pessoas espantadas, causando até escândalo.
Na primeira leitura de hoje, São Paulo diz: "pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana” (1 Cor 2, 13). O Santo Padre usa esta frase como prova do estilo de Jesus, e diz: "A pregação de Paulo não é porque ele fez um curso na Lateranense ou na Gregoriana... Não, não, não! A sabedoria humana, não! Mas ensinado pelo Espírito: Paulo pregava com a unção do Espírito, exprimindo coisas espirituais do Espírito em termos espirituais”. Além disso, acrescentou o Bispo de Roma, "o homem deixado às suas próprias forças não compreende as coisas do Espírito de Deus, o homem sozinho não pode entender isto".
Portanto, "se nós, cristãos, não entendermos bem as coisas do Espírito, não daremos e não ofereceremos testemunho, não teremos identidade", continuou ele.“O homem movido pelo Espírito julga as coisas, é livre e não pode ser julgado por ninguém”. Ser cristão, ressaltou o Papa, significa ter o "Espírito Santo" e não "o espírito do mundo, essa maneira de pensar, essa maneira de julgar ...". Por conseguinte, deve ficar claro que você pode ter "cinco diplomas em teologia e não ter o Espírito de Deus".
Ser um "grande teólogo" de fato "não corresponde automaticamente a ser cristão. A principal característica do cristão é o Espírito de Deus e não o conhecimento teórico ou acadêmico. Por isso, no tempo de Jesus "o povo não gostava daqueles pregadores, doutores da lei, porque eles falavam sobre teologia, mas não chegavam ao coração, não davam a liberdade". Estes, acrescentou o Papa, "não eram capazes de fazer com que o povo encontrassem sua própria identidade, porque não eram ungidos pelo Espírito Santo."
Unção que Jesus tinha. Mensagem claramente compreendida pelas pessoas mais simples. O Papa destacou que "tantas vezes, tantas vezes encontramos entre os nossos fiéis, idosas simples que talvez não tenham terminado o ensino fundamental, mas que falam as coisas melhor do que um teólogo, porque têm o Espírito de Cristo". O mesmo Espírito "que São Paulo possuia". Por fim, o Papa pediu aos fiéis que rezassem ao Senhor pelo dom da "identidade cristã" e do Seu Espírito. "Concedei-nos - concluiu - Sua maneira de pensar, de sentir, de falar: que o Senhor nos dê a unção do Espírito Santo."

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A força poderosa do perdão

Dom Anuar Battisti

Arcebispo de Maringá (PR)
Recordo aqui uma Palavra de Jesus, como caminho necessário para celebrar a festa do banquete. “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta” (Mt 5,23-26).

Estar de bem com os irmãos, viver em paz é condição para ser feliz e viver livre e liberto das consequências maléficas dos rancores e ressentimentos guardados no coração. O grande humanista Gandhi disse: “O fraco jamais perdoa: o perdão é uma das características do forte.” Em qualquer situação de conflito, a tendência é sempre buscar um culpado. Neste caminho teremos sempre vítimas e não pessoas a serem amadas e acolhidas, principalmente os inimigos.
O Papa Francisco hoje é um dos homens mais fortes do mundo, porque sempre soube perdoar. No mês de julho esteve no sul da Itália na cidade de Caserta, para pedir perdão a um amigo pastor protestante. A visita já é vista como histórica, pois foi a primeira vez que um pontífice católico sai do Vaticano para se encontrar com um pastor da Igreja Evangélica Protestante.
No seu discurso de unidade entre cristãos, Francisco pediu perdão aos evangélicos por conta da perseguição feita contra eles por muitos católicos: “Entre as pessoas que perseguiram os pentecostais também houve católicos. Eu sou o pastor dos católicos e peço perdão por aqueles irmãos e irmãs católicos que não compreenderam e foram tentados pelo diabo”, afirmou o Papa.
Esse testemunho do Papa, que não é o primeiro a pedir perdão publicamente pelos erros do passado e de se reconciliar de maneira sincera com os grandes e pequenos inimigos históricos, faz com que se liberte de uma bola de ferro amarrada aos pés que se chama ontem. Perdoar os outros e saber se perdoar dos erros e pecados do passado é condição para ser um verdadeiro líder. 
Não existe peso maior na consciência do ser humano do que ficar carregando culpa. A única saída honrosa é ter a coragem de recomeçar. A capacidade de perdoar não vem por extinto, não é um gesto automático e de fácil domínio. Exige sempre coragem, iniciativa, amor a si próprio e ao outro, cultivados na fé de quem tem um Deus, que do alto da cruz foi capaz de dizer: “Pai perdoai-lhes porque não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34).
Shakespeare foi brilhante quando afirmou que “guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.”
Ressentimento é um verdadeiro câncer que vai corroendo o gosto de viver, a alegria do encontro, a ternura nos relacionamentos, enfim, criando doenças físicas e psicológicas, que em muitas vezes a única saída é tirar a vida.
O Apóstolo Paulo nos recorda que “tanto quanto possível e de vós dependa, vivei em paz com todos os homens” (Rm 12,18). Ao mesmo tempo a vitória será sempre dos pacíficos, pois sabem que a força de Deus não está no vento ou na tempestade e sim na calmaria de quem sabe valorizar as pequenas coisas. O caminho é “vencer o mal com o bem” (Rm 12,21), e jamais “cansar de fazer o bem”(Gl 6,9). 
Essa dinâmica garante a todos o poder incalculável do perdão, feito aos outros e principalmente a nós mesmos. “Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.” (Fernando Pessoa).

É preciso humildade para anunciar o Evangelho, não palavras sábias!

Papa retorna a Santa Marta após a pausa do verão. Na homilia, Francisco recorda que Jesus está presente na Escritura, por isso, é importante ter o Evangelho no bolso e folheá-lo durante o dia
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 01 de Setembro de 2014 (Zenit.org) -
 Francisco retorna a Casa Santa Marta após a longa pausa de verão. Com sua profundidade simples, o Papa retomou o trabalho de limpeza e arrumação das consciências dos cristãos realizado diariamente desde o altar da capela.
Hoje, o centro de sua reflexão foi o anuncio do Evangelho: ação essencial para quem se diz cristão que, no entanto, oferece algumas especificidades. Antes de qualquer coisa, o Santo Padre, comentando as leituras do dia, disse que “não se anuncia o Evangelho para convencer com palavras sábias, mas com humildade”.
Explica muito bem São Paulo aos Coríntios que o "estilo" da proclamação da Palavra de Deus não se baseia em palavras persuasivas ditadas pela sabedoria ou inteligência. O Apóstolo, recorda Francisco, diz: “Eu não fui até vocês para convencê-los com argumentos, palavras, figuras bonitas... Não, eu fui de outro modo, com outro estilo; fui na manifestação do Espírito e na sua força, para que sua fé não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus”.
A Palavra de Deus “é uma coisa diferente, comenta o Santo Padre, que não é igual à palavra humana, sábia, científica ou filosófica... Não! É outra coisa: vem de outra forma”. Vem de Jesus e somente quem tem um coração aberto pode acolhe-la.
Impressionante exemplo dessa reflexão é o episódio narrado no Evangelho de Lucas hoje, onde Jesus comenta as Escrituras na sinagoga de Nazaré. Seus conterrâneos inicialmente o admiraram por suas palavras, mas depois se enfureceram e tentaram matá-lo. Passando “de uma parte para outra”, porque a “Palavra de Deus é diferente da palavra humana”.
Então, porque “a Palavra de Deus é Jesus, o próprio Jesus”, Jesus é motivo de escândalo. A Cruz de Cristo escandaliza. Mas é exatamente "a força da Palavra de Deus", diz Bergoglio, "Jesus Cristo, o Senhor."
Assim, parafraseando, se queremos receber Jesus Cristo, devemos busca-Lo no Evangelho. “A Igreja nos diz que Jesus está presente na Escritura, em sua Palavra”, destaca o Papa. Por isso “é tão importante ler, durante o dia, um trecho do Evangelho”; não para "aprender" uma lição, mas "para encontrar Jesus, porque Jesus está em Sua Palavra, no Seu Evangelho. Cada vez que lemos o Evangelho, encontramos Jesus”.
No entanto, diz o Santo Padre, não basta folhear quatro páginas para receber o Senhor: é preciso colocar-se diante da Palavra “com o coração aberto, humilde, com o espírito das Bem-aventuranças, porque Jesus veio assim, em humildade; veio em pobreza, veio com a unção do Espírito Santo”.
"Ele é a força - acrescenta o Papa - é Palavra de Deus, porque é ungido pelo Espírito Santo. Nós também, se quisermos ouvir e receber a Palavra de Deus, devemos rezar ao Espírito Santo e pedir a unção do coração, que é a unção das Bem-aventuranças”.
Hoje nos fará bem, conclui o Papa, questionarmo-nos sobre como recebemos a Palavra de Deus: como uma coisa interessante? Há, o padre fez uma homilia interessante! Ou recebo simplesmente porque é Jesus vivo?
E ainda: Eu seria capaz de comprar um pequeno Evangelho (é barato!), levá-lo comigo no bolso e quando puder, durante o dia, ler uma passagem, para encontrar Jesus?”. 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"É triste descobrir que os cristãos já não são o sal da terra"


As palavras do Papa Francisco durante o Ângelus
Por Redacao

ROMA, 31 de Agosto de 2014 (Zenit.org) - Publicamos aqui a tradução de ZENIT das palavras que o Papa pronunciou hoje às 12h durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro.
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[Antes do Angelus]
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No itinerário dominical com o Evangelho de Mateus, hoje chegamos ao ponto crucial em que Jesus, depois de ter verificado que Pedro e os outros onze tinham acreditado nele como Messias e Filho de Deus , “começou a explicar [lhes] que tinha que ir à Jerusalém e sofrer muito..., ser morto e ressuscitar ao terceiro dia" (16, 21).
É um momento crítico no qual emerge o contraste entre o modo de pensar de Jesus e aquele dos discípulos. Pedro até mesmo se sente no dever de reprovar o Mestre, porque não pode atribuir ao Messias um fim tão vergonhoso. Então Jesus, por sua vez, repreende severamente Pedro, coloca-o de volta “na linha”, porque não pensa “como Deus, mas como os homens” (v 23) e sem perceber faz a tarefa de Satanás, o tentador.
Sobre este ponto insiste, na liturgia deste domingo, também o apóstolo Paulo, que, escrevendo aos cristãos de Roma, lhes diz: "Não vos conformeis com este mundo - não entreis nos padrões deste mundo -, mas deixai-vos transformar renovando o vosso  modo de pensar, para poder discernir a vontade de Deus” (Rm 12,2).
Na verdade, nós cristãos vivemos no mundo, totalmente inseridos na realidade social e cultural do nosso tempo, e com razão; mas isso traz o risco de que nos tornemos "mundanos", o risco de que "o sal perca o sabor", como diria Jesus (cf. Mt 5,13), ou seja, que o cristão se torne aguado, perca a novidade que lhe vem do Senhor e do Espírito Santo. Em vez disso, deveria ser o contrário: quando nos cristãos permanece via a força do Evangelho, essa pode transformar “os critérios de juízo, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida” (Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, 19).
É triste encontrar cristãos "aguados", que parecem vinho diluído, e não se sabe se são cristãos ou mundanos, como o vinho diluído que não se sabe se é vinho ou água! É triste isso. É triste encontrar cristãos que não são mais o sal da terra, e sabemos que quando o sal perde o seu sabor, não serve mais para nada. O seu sal perdeu o sabor porque se entregou ao espírito do mundo, ou seja, se tornou mundano.
Portanto, é necessário renovar-se continuamente com a seiva do Evangelho. E como é possível pode fazer isso na prática? Antes de mais nada, lendo e meditando o Evangelho a cada dia, para que a palavra de Jesus esteja sempre presente na nossa vida. Lembrem-se: sempre será de ajuda levar o Evangelho com vocês: um pequeno Evangelho, no bolso, na bolsa, e ler uma passagem durante o dia. Mas sempre com o Evangelho, porque é levar a Palavra de Jesus, e poder lê-la. Também participando da Missa dominical, onde encontramos o Senhor na comunidade, escutamos a sua palavra e recebemos a Eucaristia que nos une a Ele e entre nós; e depois são muito importantes para a renovação espiritual as jornadas de retiro e de exercícios espirituais.
Evangelho, Eucaristia e oração. Não se esqueça: Evangelho, Eucaristia, oração. Graças a esses dons do Senhor podemos conformar-nos não ao mundo, mas a Cristo, e seguir o seu caminho, o caminho do “perder a própria vida” para reencontrá-la (v 25). "Perdê-la", no sentido de doá-la, oferecê-la por amor, e no amor - e isso envolve o sacrifício, até mesmo a cruz - para recebê-la novamente purificada, livre do egoísmo e da hipoteca da morte, cheia de eternidade.
A Virgem Maria nos precede sempre nesta jornada; deixemo-nos guiar e acompanhar por ela.
[Depois da oração do Angelus]
Queridos irmãos e irmãs,
Amanhã se celebra na Itália a Jornada pela custódia da criação, promovida pela Conferência Episcopal. O tema deste ano é muito importante: "Educar para cuidar da criação, para a saúde dos nossos países e das nossas cidades". Espero que se reforce o compromisso de todos, instituições, associações e cidadãos, para que seja salvaguardada a vida e a saúde das pessoas e também respeitando o meio ambiente e a natureza.
Saúdo todos os peregrinos da Itália e de outros países, especialmente os peregrinos de Santiago do Chile, Pistoia, San Giovanni Bianco e Albano Santo Alexander (Bergamo); os jovens de Modena, Bassano del Grappa e Ravenna; o grande grupo de motociclistas da Polícia e da banda da Polícia. Seria bom, finalmente, ouvi-la tocar...
Uma saudação especial vai para os parlamentares católicos, reunidos para o quinto encontro internacional, e incentivo-os a viver o delicado papel de representantes do povo de acordo com os valores evangélicos.
Ontem, recebi uma grande família de Mirabella Imbaccari, que me trouxe saudações de todo o país. Agradeço a todos pelo amor deste país. Saúdo os participantes da "Scholas": continuem em seu compromisso com as crianças e os jovens, trabalhando na educação, no esporte e na cultura; e desejo-vos um bom jogo amanhã, no Estádio Olímpico!
Posso ver daqui os jovens que pertencem ao sindicato dos plásticos. Seja fieis ao vosso lema: é muito perigoso andar sozinho nos campos e na vida. Sempre andem juntos.
Desejo-vos um bom domingo, peço-vos que orem por mim, e bom almoço. Nos vemos!