sábado, 17 de maio de 2014

O caminho do serviço


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Encerrou-se há poucos dias a 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. Trata-se de uma ocasião privilegiada de partilha de experiências e busca de caminhos adequados para o serviço do Evangelho em nosso país. Dez dias de trabalho intenso, muita oração, decisões tomadas e planos assumidos em conjunto, num magnífico exercício do que a Igreja chama de colegialidade. É que os bispos, unidos ao Papa, vivem como um corpo, um “colégio”, a missão que lhes é confiada. Ao lado de muitos outros temas importantes, três grandes assuntos foram tratados e transformados em preciosos subsídios para a atuação evangelizadora da Igreja: a questão agrária no início do Século XXI, com um documento destinado a balizar a presença pastoral da Igreja Católica no campo; o importante texto sobre a Paróquia como Comunidade de Comunidades, amadurecido no diálogo pastoral desde o ano passado, cuja prática indica os passos missionários a serem percorridos pela Igreja no Brasil; enfim, um estudo sobre a presença dos leigos e leigas na Igreja, entregue agora ao Povo de Deus de todo o nosso país.
O texto sobre “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade” (Cf. números 70 e 71) afirma que o Concílio Vaticano II fundamentou toda a Igreja nas missões de Cristo e do Espírito Santo. É o Espírito Santo que capacita todos os batizados para participarem na obra de Cristo: todos os cristãos são chamados (como sacerdotes) à obra sacerdotal, a oferecerem as suas vidas como sacrifício espiritual; todos são chamados (como profetas) a escutar e proclamar a Palavra; todos são chamados (como administradores) a trabalhar pela vinda do Reino de Deus. (Cf. Lumen Gentium, n. 31). Todos os cristãos e, portanto, todos os homens e mulheres batizados, leigos na Igreja, não apenas pertencem à Igreja, mas “somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12, 5). Não se deve falar em superioridade de dignidade de pertença à Igreja, quando são comparados os membros da hierarquia e os cristãos leigos – segundo esta mentalidade, os primeiros seriam “mais” Igreja do que os leigos e, portanto, mais dignos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios no interior da Igreja, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo batismo. A dignidade dos membros e a graça da filiação são comuns a todos porque o povo chamado por Deus se insere em uma realidade que é – “um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 5). São João Paulo II (Christifideles laici, n. 11) ensinou que, ao sair das águas do batismo, “todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas águas do Jordão: ‘Tu és o meu Filho muito amado’” (Lc 3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho, tornando-se filho de adoção e irmão de Cristo.
É com esta grande liberdade que os cristãos das primeiras comunidades encontraram respostas para se organizarem, como a instituição daqueles sete homens “de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria” (Cf. At 6, 1-7), aos quais foi confiada a tarefa da caridade, reservando-se os apóstolos para a oração e o serviço da Palavra. Também relatam os Atos dos Apóstolos que “na Igreja de Antioquia havia profetas e mestres. Certo dia, enquanto celebravam a liturgia em honra do Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: ‘Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual eu os chamei’. Jejuaram então e oraram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo e os deixaram partir” (Cf. At 13, 1-3). Nascem os missionários, pouco a pouco se configuram os diversos ministérios, segundo os dons concedidos pelo Senhor. Mais para frente, a Igreja verá organizados os serviços dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, dos Presbíteros e Diáconos. O correr da História da Igreja testemunhou o surgimento de carismas e ministérios, famílias de pessoas consagradas ao Senhor, envio missionário sempre renovado, regado pelo sangue dos mártires.
Como exercer as diversas tarefas que são confiadas aos cristãos de todas as idades e vocações? Haverá algum lugar privilegiado? Porventura alguém deve buscar os primeiros lugares? É clara a orientação do Senhor, que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). Quando seus discípulos acolhem seus discursos de despedida, na última Ceia, as tensões e o medo tomavam conta de seus corações (Cf. Jo 14, 1-12). Tomé quer saber o caminho, Felipe almeja a visão do Pai, todos se sentem inseguros, a saudade mostra seu rosto. E Jesus lhes mostra um caminho que tem nome, o seu, para chegar à vida plena. E todas as perguntas são respondidas por quem é a verdade!
A estrada mestra é a do serviço. “Como, num só corpo, temos muitos membros, cada qual com uma função diferente, assim nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção com a fé recebida. É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de ensinar? Dediquemos-nos ao ensino. É o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui donativos, faça-o com simplicidade; quem preside, presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12, 4-10).
A proposta vai contra a correnteza de toda a competição devoradora que nos envolve! Leigos e Leigas, Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosas e Religiosos, todos encontrarão seu espaço quando estiverem dispostos a dar a vida uns pelos outros. Afinal, “quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Este é o lugar de todos e de cada um. Parece impossível? O Senhor Jesus é o exemplo e, mais ainda, é a fonte da graça para quem escolher seu caminho.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Copa do mundo e eleições: oportunidade de mudança para o Brasil


Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo

BELO HORIZONTE, 16 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 A Copa do Mundo deste ano pode se tornar um dos mais significativos momentos da história sociopolítica do Brasil. O discurso que se ouviu nas ruas, em junho do ano passado, foi um sinal, obviamente com a recusa radical dos lamentáveis episódios de vandalismo, violência e atentados contra o patrimônio público. Historicamente, a sociedade brasileira sempre viveu o tempo da Copa do Mundo simplesmente como momento de euforia e divertimento. Essa paixão esportiva nacional, com sua força educativa e o gosto gostoso que o futebol dá à vida dos torcedores, indica que é preciso conciliar euforia e divertimento com o viés político e social. 
Os fantasmas e ameaças do vandalismo não podem atropelar a oportunidade cidadã de jogarmos pela vida. O coração apaixonado do torcedor, seu sentimento de pertença à pátria, tem agora a oportunidade de agregar entendimentos, discussões, análises e posturas que nos levem não só a vencer no esporte, mas, sobretudo, contribuam para o crescimento da consciência cidadã. O cenário político, com a singularidade deste ano eleitoral, precisa ser iluminado pela atenção especial que uma Copa do Mundo mobiliza. Não permitir qualquer tipo de violência é de suma importância para que manifestações, debates, discussões e outras condutas cidadãs promovam mudanças nos abomináveis cenários de corrupção, exclusão social e desrespeitos à dignidade da pessoa.
Pessimismo, vandalismos e até mesmo torcida para que a Copa não dê certo enfraquecerão essa oportunidade de crescimento qualificado da consciência política dos cidadãos brasileiros. É importante tratar adequadamente esse evento para que as eleições não representem apenas um voto dado, mas uma postura com força de transformações em vista de novos cenários. É hora de qualificar a participação política, que não pode se restringir aos atos formais de votar ou de se reunir em associações comunitárias, sindicatos e partidos políticos, mas também inclui a participação e presença nos espaços definidos pela democracia representativa. Esta é a oportunidade para o fortalecimento da competência na defesa dos valores éticos, da inviolabilidade da vida humana, da promoção e resgate da unidade e estabilidade da família, do direito dos pais a educar seus filhos, da justiça e da paz, da democracia e do bem comum.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se posiciona neste momento político por meio de importante manifesto intitulado “Pensando o Brasil: desafios diante das eleições 2014”.  Nessa mensagem, aprovada durante sua 52ª Assembleia Geral, afirma que é indispensável combater a corrupção sistêmica e endêmica, invisível e refinada, presente em práticas políticas e no mundo daqueles que exercem o poder econômico, causando desigualdades, aumentando custos e sobrecarregando os destinos da nação. Cada dia se torna mais urgente a reforma política, lamentavelmente não desejada pelos que podem levá-la adiante. Este ano eleitoral, portanto, é oportunidade de checar quem tem condições e vontade política de promover essa indispensável reforma, viabilizando uma série de outras mudanças em vista da edificação de uma sociedade mais justa.
Na mensagem, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sublinha que “pesquisas têm indicado uma baixa confiança da população nos poderes instituídos da República. Duvida-se da honestidade de todos os políticos. Desconfia-se da existência dos programas partidários. Mesmo havendo tais programas, não se acredita que os políticos sejam fiéis a eles. Com frequência, esse clima tem levado o cidadão à sensação de que votar não adianta nada e de que a participação política é inútil. Tal atitude, porém, gera um círculo vicioso: o cidadão não participa porque as estruturas do País não correspondem aos interesses do povo; no entanto, tais estruturas não vão mudar sem sua participação. É necessário evitar, a todo custo, o desalento e encontrar oportunidades de agir em favor de mudanças consideradas como necessárias”. Assim, é importante usufruir bem desta oportunidade da Copa do Mundo para que sejam promovidas transformações, alcançadas respostas adequadas e se possa engrossar as fileiras dos que, em todos os campos, efetivamente jogam pela vida.

Os membros da hierarquia não são "mais" Igreja do que os leigos





Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 16 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 Encerrou-se há poucos dias a 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. Trata-se de uma ocasião privilegiada de partilha de experiências e busca de caminhos adequados para o serviço do Evangelho em nosso país. Dez dias de trabalho intenso, muita oração, decisões tomadas e planos assumidos em conjunto, num magnífico exercício do que a Igreja chama de colegialidade. É que os bispos, unidos ao Papa, vivem como um corpo, um “colégio”, a missão que lhes é confiada. Ao lado de muitos outros temas importantes, três grandes assuntos foram tratados e transformados em preciosos subsídios para a atuação evangelizadora da Igreja: a questão agrária no início do Século XXI, com um documento destinado a balizar a presença pastoral da Igreja Católica no campo; o importante texto sobre a Paróquia como Comunidade de Comunidades, amadurecido no diálogo pastoral desde o ano passado, cuja prática indica os passos missionários a serem percorridos pela Igreja no Brasil; enfim, um estudo sobre a presença dos leigos e leigas na Igreja, entregue agora ao Povo de Deus de todo o nosso país.
O texto sobre “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade” (Cf. números 70 e 71) afirma que o Concílio Vaticano II fundamentou toda a Igreja nas missões de Cristo e do Espírito Santo. É o Espírito Santo que capacita todos os batizados para participarem na obra de Cristo: todos os cristãos são chamados (como sacerdotes) à obra sacerdotal, a oferecerem as suas vidas como sacrifício espiritual; todos são chamados (como profetas) a escutar e proclamar a Palavra; todos são chamados (como administradores) a trabalhar pela vinda do Reino de Deus. (Cf. Lumen Gentium, n. 31). Todos os cristãos e, portanto, todos os homens e mulheres batizados, leigos na Igreja, não apenas pertencem à Igreja, mas “somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12, 5).
Não se deve falar em superioridade de dignidade de pertença à Igreja, quando são comparados os membros da hierarquia e os cristãos leigos – segundo esta mentalidade, os primeiros seriam “mais” Igreja do que os leigos e, portanto, mais dignos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios no interior da Igreja, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo batismo. A dignidade dos membros e a graça da filiação são comuns a todos porque o povo chamado por Deus se insere em uma realidade que é – “um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 5). São João Paulo II (Christifideles laici, n. 11) ensinou que, ao sair das águas do batismo, “todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas águas do Jordão: ‘Tu és o meu Filho muito amado’” (Lc 3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho, tornando-se filho de adoção e irmão de Cristo.
É com esta grande liberdade que os cristãos das primeiras comunidades encontraram respostas para se organizarem, como a instituição daqueles sete homens “de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria” (Cf. At 6, 1-7), aos quais foi confiada a tarefa da caridade, reservando-se os apóstolos para a oração e o serviço da Palavra. Também relatam os Atos dos Apóstolos que “na Igreja de Antioquia havia profetas e mestres. Certo dia, enquanto celebravam a liturgia em honra do Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: ‘Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual eu os chamei’. Jejuaram então e oraram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo e os deixaram partir” (Cf. At 13, 1-3). Nascem os missionários, pouco a pouco se configuram os diversos ministérios, segundo os dons concedidos pelo Senhor. Mais para frente, a Igreja verá organizados os serviços dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, dos Presbíteros e Diáconos. O correr da História da Igreja testemunhou o surgimento de carismas e ministérios, famílias de pessoas consagradas ao Senhor, envio missionário sempre renovado, regado pelo sangue dos mártires.
Como exercer as diversas tarefas que são confiadas aos cristãos de todas as idades e vocações? Haverá algum lugar privilegiado? Porventura alguém deve buscar os primeiros lugares? É clara a orientação do Senhor, que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). Quando seus discípulos acolhem seus discursos de despedida, na última Ceia, as tensões e o medo tomavam conta de seus corações (Cf. Jo 14, 1-12).. Tomé quer saber o caminho, Felipe almeja a visão do Pai, todos se sentem inseguros, a saudade mostra seu rosto. E Jesus lhes mostra um caminho que tem nome, o seu, para chegar à vida plena.  E todas as perguntas são respondidas por quem é a verdade!
A estrada mestra é a do serviço. “Como, num só corpo, temos muitos membros, cada qual com uma função diferente, assim nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção com a fé recebida. É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de ensinar? Dediquemos-nos ao ensino. É o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui donativos, faça-o com simplicidade; quem preside, presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12, 4-10).
A proposta vai contra a correnteza de toda a competição devoradora que nos envolve! Leigos e Leigas, Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosas e Religiosos, todos encontrarão seu espaço quando estiverem dispostos a dar a vida uns pelos outros. Afinal, “quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Este é o lugar de todos e de cada um. Parece impossível? O Senhor Jesus é o exemplo e, mais ainda, é a fonte da graça para quem escolher seu caminho.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Não existe cristão sem Igreja



Na homilia desta quinta-feira, o Santo Padre nos pede pensar em nossa identidade cristã de pertença a um povo, a Igreja
Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 15 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 O Santo Padre recordou hoje, durante a homilia da missa celebrada na capela da Casa Santa Marta, que não existe um cristão sem Igreja, um cristão que caminha sozinho, porque Jesus mesmo se introduziu no caminho do seu povo.
Partindo da primeira leitura do dia, o papa explicou que os apóstolos, quando anunciavam Jesus, não começavam por Ele, mas pela história do seu povo. "Jesus não pode ser entendido sem esta história", porque Ele "é, precisamente, o final desta história, rumo ao qual esta história caminha".
Deste modo, continuou o papa, "não podemos entender um cristão fora do povo de Deus. O cristão não é uma mônada", mas "pertence a um povo: a Igreja. Um cristão sem Igreja é algo puramente ideal, não é real". E especificou: "Não se pode entender um cristão sozinho, assim como não se pode entender Jesus Cristo sozinho. Jesus Cristo não caiu do céu como um herói que vem nos salvar. Não. Jesus Cristo tem história. E podemos dizer, e é verdade, isto: Deus tem história, porque Ele quis caminhar conosco. E não podemos entender Jesus Cristo sem história. Assim, um cristão sem história, um cristão sem povo, um cristão sem Igreja, não pode ser entendido. É uma coisa de laboratório, uma coisa artificial, uma coisa que não pode dar vida".
O bispo de Roma observou que o povo de Deus "caminha com uma promessa. Esta dimensão é importante mantermos presente na nossa vida: a dimensão da memória". Francisco explica: "Um cristão recorda a história do seu povo, recorda o caminho que o povo trilhou, recorda a sua Igreja. A memória... a memória de todo o passado... E esse povo vai para onde? Vai para a promessa definitiva. É um povo que caminha rumo à plenitude, um povo eleito que tem uma promessa no futuro e que caminha rumo a essa promessa, rumo ao cumprimento desta promessa. E, por isso, um cristão na Igreja é um homem, uma mulher com esperança: esperança na promessa. Que não é expectativa: não, não! É outra coisa: é esperança. Vamos em frente! Essa esperança que não decepciona".
Deste modo, Francisco sublinhou que, "olhando para trás, o cristão é uma pessoa de memória: ele pede a graça da memória, sempre. Olhando para frente, o cristão é um homem e uma mulher de esperança. E no presente, o cristão segue o caminho de Deus e renova a aliança com Deus. Continuamente, ele diz ao Senhor: 'Sim, eu quero os mandamentos, eu quero a tua vontade, eu quero te seguir'. É um homem de aliança, e a aliança nós celebramos, todos os dias", na missa: o cristão é, portanto, "uma mulher, um homem eucarístico".
Para finalizar, o Santo Padre indicou que “nos fará bem pensar como é a nossa identidade cristã. A nossa identidade cristã é a pertença a um povo: a Igreja. Sem isto, nós não somos cristãos. Entramos na Igreja com o batismo: assim somos cristãos. E, por isso, ter o costume de pedir a graça da memória, e a memória do caminho que o povo de Deus percorreu; também na memória pessoal: o que Deus fez comigo, na minha vida, como Ele me fez caminhar... Pedir a graça da esperança, que não é mero otimismo: não, não! É outra coisa. E pedir a graça de renovar todos os dias a aliança com nosso Senhor que nos chamou. Que nosso Senhor nos dê essas três graças, que são necessárias para a identidade cristã".

Santo Isidoro Lavrador



Na humildade e piedade de Isidoro, foi forjada a grandeza e força de sua santidade que o fez ser merecedor das honras dos altares.
Por Fabiano Farias de Medeiros

HORIZONTE, 15 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 Isidoro nasceu em Madri, capital da Espanha. Era filho de camponeses humildes e muito fervorosos no seguimento de Cristo. Como eram pobres, Isidoro desde cedo iniciou seus trabalhos no campo de modo que não teve acesso aos estudos em virtude de ajudar a família. Mesmo diante desta limitação, seu coração alçava livre vôo e não perdia a oportunidade de poder estar a escutar a Palavra de Deus. Desenvolveu o hábito de parar uma vez ao dia e de joelhos, em meio aos campos que trabalhava, rezar o santo terço.
Certa vez seu patrão João de Vagas foi relatado que Isidoro havia deixado de trabalhar para ir à Igreja. Seu patrão, tocado pelo testemunho de piedade e vigor servil do jovem, permitiu-lhe assistir à missa e depois iniciar seus trabalhos. Isidoro ia crescendo em graça e santidade, sendo fiel aquilo que Deus lhe confiava. Era um jovem muito preocupado com os mais necessitados, os quais acolhia e distribuía com eles seus bens ficando somente com o necessário para sua família..
Logo veio a casar-se com a jovem Maria Turíbia e o casal teve um filho que logo faleceu. O casal permaneceu fiel aos desígnios de Deus e segundo a história, a esposa de Isidoro em pouco tempo veio a falecer. Isidoro permanecia firme em seus trabalhos e na sua piedosa devoção. Certo dia, o patrão foi fiscalizar seu trabalho e teve a visão de um anjo arando a terra juntamente com Isidoro. O patrão, perplexo com o que viu, exaltou a devoção de Isidro e pediu que nunca deixasse seus compromisso de oração e piedade e reconhecia não ter na região um campo melhor cultivado.
Isidoro faleceu no dia 15 de Maio de 1170. Foi canonizado pelo Papa Gregório XV no ano de 1622. Santo Isidoro Lavrador é o padroeiro de Madri e de todos o lavradores

CNBB: À luz da assembleia



Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Talvez como nunca, uma assembleia da CNBB foi tão produtiva como esta última. Tantos assuntos, aprovados com tanta convergência. Tamanha, que chegou a pairar um exagero de adesões, uma demasiada concordância, a ponto de despertar algum temor de ter deixado passar alguma palavra ou frase menos adequadas.

Mas, se observamos bem certos detalhes, podemos identificar as razões desta rapidez de concordância. Os dois principais assuntos já tinham sido estudados na assembleia de 2013, sobre a Paróquia e sobre a Questão Agrária. E os outros assuntos inseridos na pauta deste ano, eram muito oportunos. Além disto, as comissões encarregadas de preparar os textos e examinar as emendas, trabalharam muito bem, inspirando confiança no plenário, e abrindo caminho para a aprovação final de cada texto.
Olhando a pauta, encontramos outra razão da diversidade de assuntos. Bispos reunidos em assembleia não podiam deixar de dizer uma palavra sobre os fatos importantes que estão na agenda deste ano. Até sobre a Copa do Mundo lançaram sua mensagem. E não se omitiram de falar sobre as próximas eleições, e de expressar sua preocupação com a crescente onda de violência que assusta o Brasil.
Tanto que em decorrência desta preocupação, foi lançado um “ano da paz”, em que a sociedade brasileira será convocada a enfrentar, solidariamente, os desafios contidos nesta complexa situação.
A nível mundial, a CNBB acolheu a proposta, trazida pela Cáritas Brasileira, de se fazer uma campanha contra a fome no mundo, iniciativa que já conta com a firme adesão do Papa Francisco. E para encontrar logo uma maneira prática de atuar nesta campanha, ficou decidido que no próximo ano, a coleta da Campanha da Fraternidade destine cinquenta por cento de sua arrecadação para o Haiti, país que ainda está penando para se reerguer das consequências do terremoto que se abateu sobre ele.
A assembleia decidiu, também, apoiar a iniciativa popular de lei, com a proposta de uma verdadeira reforma política. Com isto, a CNBB mostra que identifica bem onde está o nascedouro dos problemas que afligem o país, enredado nos equívocos do seu sistema eleitoral. Pode ser que a sociedade não se lembre muito da Igreja. Mas a Igreja não esquece os problemas sociais. Tanto é verdade que a Campanha da Fraternidade do próximo ano, terá como tema, exatamente, a Igreja e a Sociedade.
Tudo isto fez parte desta assembleia. E muito mais. Foram diversas as sessões dedicadas à partilha de preocupações e dificuldades, inerentes à missão cotidiana de cada bispo. Pois a finalidade primeira, e mais importante, da assembleia da CNBB é o convívio fraterno e a ajuda mútua entre os próprios bispos, que, por exemplo, repartem entre si os gastos das passagens, e além disto são incentivados, na medida das possibilidades de cada um, a ajudar os que provêm de dioceses mais pobres.
Para fins de ação concreta da Igreja, neste ano em que já celebramos a Páscoa, e agora a assembleia da CNBB, parecem bastante claras duas referências práticas a guiar a ação pastoral: acolher as propostas do Papa Francisco, expressas sobretudo em sua exortação Evangelii Gaudium, e iniciar a renovação eclesial, começando por renovar nossas paróquias. Para que assim a Igreja se torne mais missionária, aberta para acolher, e pronta a sair de si mesma, para ir ao encontro dos que necessitam da mensagem libertadora do Evangelho.
Depois de uma assembleia como esta, dá para apostar nas novas esperanças, que este tempo propício nos descortina pela frente.

Santa Sé autoriza início de processo de beatificação de dom Luciano Mendes


                                                                                       DOM LUCIANO mENDES DE ALMEIDA
A arquidiocese de Mariana (MG) divulgou ontem, dia 13, comunicado da Congregação para a Causa dos Santos sobre o processo de beatificação de dom Luciano Mendes de Almeida.  “Por parte da Santa Sé, não há nada que impeça, para que se inicie a Causa de Beatificação e Canonização de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida”, informa a Congregação. A solicitação de abertura do processo foi feita pelo arcebispo local, dom Geraldo Lyrio Rocha, que poderá instituir o Tribunal que levará adiante o processo.

Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida foi arcebispo de Mariana de 1988 a 2006, quando faleceu aos 75 anos. O arcebispo, da Companhia de Jesus, foi secretário geral (de 1979 a 1986) e presidente (de 1987 a 1994) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por dois mandatos consecutivos.
Em nota publicada em 2006 sobre dom Luciano, a Presidência da CNBB destacou entre as marcas que deixou na instituição o dinamismo, a inteligência privilegiada, a dedicação incansável e o testemunho de amor à Igreja.
De origem fluminense, dom Luciano nasceu em 5 de outubro de 1930. Doutor em Filosofia, foi membro do Conselho Permanente da CNBB de 1987 até o ano de sua morte. Também atuou na Pontifícia Comissão Justiça e Paz, foi vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam) e presidente da Comissão Episcopal do Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome.
Durante quase duas décadas à frente da arquidiocese de Mariana (MG), o bispo deu forte impulso pastoral àquela Igreja particular, onde a organizou em cinco Regiões Pastorais. Deu atenção à formação permanente do clero, à realização de assembleias pastorais e à reestruturação de conselhos arquidiocesanos. Também organizou pastorais, religiosos, processos formativos do Seminário Arquidiocesano e obras sociais, além do investimento na capacitação e participação dos leigos e na preservação das Igrejas históricas.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

As coisas de Deus não podem ser entendidas só com a cabeça

Na homilia desta terça-feira, o Santo Padre nos exorta a pedir a docilidade do Espírito Santo e ficar abertos a Ele
Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 13 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 As coisas de Deus não podem ser entendidas só com a cabeça: é necessário abrir o coração ao Espírito Santo, disse hoje o papa Francisco, na missa da Casa Santa Marta. O papa recordou que a fé é um dom de Deus, mas não pode ser recebida quando se vive "desvinculado" do seu povo, a Igreja.
O Santo Padre destacou que as leituras do dia nos mostram "dois grupos de pessoas". Na primeira leitura, "aqueles que foram dispersos por causa da perseguição surgida" após a morte de Estêvão. "Eles se dispersaram e levaram a semente do Evangelho a toda parte", disse o pontífice, observando que, no início, eles falavam somente aos judeus. Depois, "de forma natural, alguns deles", chegados de Antioquia, "começaram a falar também aos gregos". E assim, lentamente, "abriram as portas para os gregos, para os pagãos", recordou o Santo Padre.
E quando chegou a notícia a Jerusalém, Barnabé foi enviado a Antioquia "para fazer uma visita de inspeção". O papa prosseguiu explicando que todos "ficaram contentes" porque "uma multidão considerável se uniu ao Senhor". E essa gente "não disse ‘vamos primeiro aos judeus, depois aos gregos, aos pagãos’.. Eles se deixaram levar pelo Espírito Santo! Foram dóceis ao Espírito Santo!".
"Uma coisa vem da outra" e eles "acabam abrindo as portas a todos: mesmo aos pagãos, que, na mentalidade deles, eram impuros"; eles "abriam as portas para todos". Este "é o primeiro grupo de pessoas, as que são dóceis ao Espírito Santo". "Algumas vezes, o Espírito Santo nos empurra a fazer coisas fortes: como empurrou Felipe a ir batizar Cornélio".
Francisco explicou: "Às vezes, o Espírito Santo nos leva suavemente. E a virtude é deixar-se levar pelo Espírito Santo, não resistir ao Espírito Santo, ser dócil ao Espírito Santo. E o Espírito Santo age hoje na Igreja, age hoje em nossa vida. Alguém poderia dizer: 'Eu nunca vi!'. Mas fique atento ao que acontece, ao que vem à sua mente, a que vem ao seu coração. Coisas boas? É o Espírito Santo que convida você a seguir esse caminho. É necessária a docilidade! Docilidade ao Espírito Santo".
O Santo Padre falou então do segundo grupo apresentado nas leituras, os "intelectuais, que se aproximam de Jesus no templo: são os doutores da lei". Jesus sempre teve problemas com eles, "porque eles não entendiam: davam voltas em torno das mesmas coisas, porque acreditavam que a religião era só uma coisa de cabeça, de leis". Para eles era necessário "cumprir os mandamentos e nada mais. Não imaginavam que existisse o Espírito Santo". Interrogavam Jesus, "queriam discutir. Tudo estava na cabeça, tudo era intelecto". Francisco recordou que, para essa gente "não há coração, não há amor e a beleza, não há harmonia"; é gente "que só quer explicações".
O papa comentou: "Você dá as explicações e eles, não convencidos, voltam com outra pergunta. E assim dão voltas, voltas... Como deram voltas em torno de Jesus a vida toda, até o momento em que conseguiram pegá-lo e matá-lo! Eles não abrem o coração ao Espírito Santo! Acham que as coisas de Deus também podem ser entendidas só com a cabeça, com as ideias, com as próprias ideias. São orgulhosos. Acham que sabem tudo. E o que não entra na inteligência deles não é verdade.. Você pode ressuscitar um morto diante deles, mas eles não acreditam!".
A seguir, o pontífice destaca que Jesus "vai além" e diz "algo fortíssimo": "Vós não credes porque não fazeis parte das minhas ovelhas! Vós não credes porque não sois o povo de Israel. Saístes do povo. Estais na aristocracia do intelecto". E esta atitude "fecha o coração. Eles renegaram o seu povo".
"Aquela gente tinha se desvinculado do povo de Deus e por isso não podia acreditar. A fé é um dom de Deus! Mas a fé vem quando você está no povo de Deus. Se você está na Igreja, se você é ajudado pelos sacramentos, pelos irmãos, pela assembleia. Se você crê que esta Igreja é Povo de Deus. Aquela gente tinha se separado, não acreditava no Povo de Deus, só acreditava nas suas coisas e tinha construído todo um sistema de mandamentos que eles impunham aos outros e não deixavam os outros serem Igreja, serem povo. Não conseguiam acreditar! Este é o pecado de resistir ao Espírito Santo".
Para terminar a homilia, Francisco repassou a ideia desses dois grupos de pessoas: os "de doçura, de gente doce, humilde, aberta ao Espírito Santo", e os de gente "orgulhosa, autossuficiente, soberba, separada do povo, aristocrática do intelecto, que fechou as portas e resiste ao Espírito Santo". E isso "é ter coração duro! E isso é perigoso".
O pontífice nos exortou: "Peçamos ao Senhor a graça da docilidade ao Espírito Santo para seguirmos em frente na vida, para ser criativos, para ser alegres, porque aquela outra gente não era alegre". E quando "há muita seriedade, não há o Espírito de Deus". Portanto, peçamos "a graça da docilidade e que o Espírito Santo nos ajude a nos defender daquele outro espírito mau das suficiências, do orgulho, da soberba, do coração fechado ao Espírito Santo".

terça-feira, 13 de maio de 2014

Projeto Diocesano de Iniciação à Vida Cristã

Catedral de Uruguaiana

Caros diocesanos. A Diocese de Uruguaiana dedica atenção especial, a partir de 2014, ao tema da Iniciação à Vida Cristã. A CNBB fala que essa iniciação é uma urgência, pois sempre mais se percebe a ineficiência do atual processo de catequese, que não consegue manter a maioria dos catequizandos inseridos e atuantes nas comunidades cristãs. A Igreja busca as causas dos distanciamentos e novos caminhos precisam ser encontrados, pois há muitos batizados que não foram evangelizados suficientemente; o número de católicos diminuiu; outros vivem como se Deus não existisse (secularismo). O modelo de catequese tradicional não consegue mais corresponder aos novos tempos, precisa ser revisto, como afirma o Pe Leomar Brustolin:  “A catequese de iniciação não inicia, mas conclui um processo. Quando se chega ao auge do processo iniciatório, quando os adolescentes recebem a confirmação, ao invés de se inserirem na comunidade, desaparecem da Igreja, ignorando a instituição eclesial”.

Na busca de novos caminhos, já incentivados pelo Concílio Vaticano II, surge hoje como forte modelo a Iniciação à Vida Cristã, realizada nos primeiros séculos do cristianismo (I-IV), chamado Catecumenato. Por isso fala-se emprocesso de inspiração catecumenal. Os catecúmenos (adultos) eram os que se preparavam para o batismo e outros sacramentos, então recebidos na noite de Páscoa. Este sistema de catequese prolongada e organizada (normalmente 03 anos) era um processo progressivo que unia catequese (instrução), liturgia (celebração) econversão (vivência da fé). Abrangia vários tempos (RICA): pré-catecumenato (querigma), catecumenato (catequese), tempo de purificação e iluminação (Preparação próxima aos sacramentos) e, por fim, a mistagogia (Formação continuada). Inspirar-se nesta forma de iniciação cristã exigirá a passagem do modelo doutrinal para modelo mais experiencial: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp 287).

Hoje este catecúmeno pode ser criança, jovem ou adulto, o qual busca a vida cristã ou foi nela insuficientemente iniciado ou procura formação permanente, em vista da maturidade em Cristo através de participação mais plena na comunidade cristã e sua missão permanente. Nesse processo de inspiração catecumenal estão envolvidos catequizandos, pais (família), padrinhos, catequistas, liturgistas, ministros, enfim, toda comunidade cristã, visando prioritariamente e de forma gradativa o encontro com o Senhor (maturidade em Cristo), a inserção na comunidade em vista de ação missionária e transformadora em todos os ambientes (sociedade).

O desafio acima colocado está recebendo gradativamente respostas práticas. Foi formada uma Equipe Diocesana de Catequese e Liturgia que, na sua primeira reunião, avaliou esquema em forma de anteprojeto, elaborado pela ECCO. Refeito pela coordenação, a partir das sugestões apresentadas, o anteprojeto seguiu para a Reunião do Presbitério (abril), recebendo novas contribuições. A coordenação da Equipe de Catequese e Liturgia enviará o texto do anteprojeto para análise das coordenações de pastoral e catequese das Paróquias (até junho); passará pelo Congresso de catequese; pelo Conselho de Presbíteros e, finalmente, para a aprovação da 29ª Assembléia Diocesana de Pastoral (07-08/11/14), quando o bispo, em seguida, deverá promulgá-lo como Projeto diocesano. 2015 será ano dedicado à formação dos/das catequistas e demais envolvidos na Iniciação Cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma). O processo de introdução será gradativo e não faltarão orientações, referências, subsídios, sendo a Leitura Orante da Bíblia o método, por excelência. Não nos tirem a esperança!
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

domingo, 11 de maio de 2014

Francisco: "Difundir valores éticos e gerar dinâmicas virtuosas"




















Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã de sábado, 10, o Papa Francisco recebeu um grupo da Fundação ‘Centesimus Annus – Pro Pontifice’ e os participantes do encontro promovido pela fundação. No total, 400 pessoas participaram da audiência na Sala Clementina, no Vaticano.
O objetivo do Simpósio internacional "Sociedade boa e futuro do trabalho: a solidariedade e a fraternidade podem fazer parte das decisões concernentes ao mundo dos negócios?", foi evidenciar que é possível partir dos valores da solidariedade para a retomada do crescimento econômico.

Francisco se dirigiu ao grupo agradecendo por abordar este tema, na atual conjuntura, quando a palavra ‘solidariedade’ é incomoda e termos como justa distribuição dos bens e prioridade ao trabalho causam ‘alergia’. "A grande questão é “estudar de que forma os valores éticos podem se transformar em valores econômicos, gerando dinâmicas virtuosas na produção, no trabalho, no comércio e no mundo financeiro”.

O Papa chamou a atenção para o papel do empresário cristão no âmbito desta pesquisa: usando a consciência, ele deve sempre confrontar o Evangelho com a realidade; e o Evangelho lhe pede que coloque a pessoa humana e o bem comum em primeiro lugar. Deve criar oportunidades de trabalho, e de trabalho digno, difundindo sempre esta base ‘ética’.

A comunidade cristã – prosseguiu – é o lugar onde o empresário, o político, o profissional, o sindicalista, são encorajados a se comprometer e a confrontar-se com seus irmãos. Isto é indispensável, porque o ambiente de trabalho é por vezes árido, hostil e desumano. A crise coloca à prova a esperança dos empresários e não podemos deixá-los sozinhos se passam dificuldades”.

Antes de se despedir do grupo, o Papa incentivou os membros da “Centesimus Annus” a prosseguir em seu testemunho, não só com palavras e teorias, mas concreto, com a experiência de pessoas e empresas que praticam os princípios éticos cristãos na atual conjuntura econômica. Enfim, recomendou que rezem sempre e lhes lembrou o ‘conselho’, dom do Espírito Santo que ajuda a agir e fazer escolhas que conduzem ao bem.
(CM)








DAR A VIDA



Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Jesus veio trazer a vida para todos, e a vida em abundância. As atividades pastorais da Igreja, assim como todas as ações realizadas com espírito de caridade, por quem quer que seja, poderão se espelhar sempre naquele que se ofereceu para a salvação da humanidade. Nenhum amor será maior e suscitará tamanho fruto para a vida dos homens e mulheres de todos os tempos.
Sua Ressurreição é a resposta à entrega total realizada em benefício da vida em plenitude, o que leva os cristãos a dedicarem anualmente um período significativo de sua vida ao aprofundamento do mistério pascal de Cristo, certos de que nunca se esgotará esta fonte, na qual todos podem se saciar continuamente.
A pregação dos Apóstolos de Jesus era muito direta e simples, pois anunciava que o mesmo Jesus que tinha sido morto havia ressuscitado, e ele é o Senhor e Salvador e um dia há de voltar. O anúncio foi suficiente para a conversão de uma multidão de pessoas, já no início da pregação do Evangelho. Depois da primeira pregação feita por Pedro, após a descida do Espírito Santo, ficaram compungidos os corações, suscitando a pergunta sobre os caminhos a serem percorridos a partir dali. A resposta é igualmente direta e provocadora: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38).
Os Atos dos Apóstolos contam os feitos e fatos das primeiras comunidades cristãs, nas quais resplandece, naqueles que acolhem o anúncio, um novo estilo de vida: comunhão na oração, perseverança na doutrina dos Apóstolos, que anunciavam a Palavra de Deus, partilha fraterna dos bens e a Fração do Pão, que foi o primeiro nome da celebração da Eucaristia. Nasceu a Comunidade viva, estendeu-se a grande rede da caridade, as pessoas se sentiram acolhidas e amadas. Na mesma fonte, continuam disponíveis as graças e as forças necessárias, para que a vida dada por Jesus a todos se multiplique e seja repartida no amor fraterno experimentado no cotidiano, até a volta do Senhor.
Desde os primeiros tempos, a doação de vida e o amor verdadeiro, testemunhado no dia a dia da humanidade, atraem e convocam as pessoas. Mais do que as palavras, vale o testemunho de vida. Multiplicam-se os exemplos de pessoas com grande criatividade no amor ao próximo, com o qual a vida em abundância (Cf. Jo 10,10) permanece a meta a ser alcançada. Sempre que a gratuidade do amor se faz visível, a partir da emoção e até chegar à profundidade do raciocínio dos mais sábios e inteligentes, ninguém resiste.
Basta pensar em dias significativos, como as comemorações das mães, dos pais, ou o dia dos professores, ou dos médicos e assim tantas outras celebrações que envolvem as famílias, a sociedade e a Igreja. Ao celebrar neste final de semana o dia das mães, esta imagem do amor gratuito e desinteressado, livre, forte e cheio de ternura, ocupa espaço na imaginação das pessoas e provoca gestos de carinho, presentes, flores e alegria. Vale meditar sobre este amor, conduzidos pelas mãos do Bom Pastor.
Que força é esta, capaz de dobrar os mais rígidos em seu temperamento? São João, em sua Primeira Carta, afirma de forma categórica: “Amemos-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é plenamente realizado” (1 Jo 4, 7-12).
O Amor não é privilégio das mães, mas nelas se instalou de forma surpreendente, justamente por ser tão semelhante ao amor de Deus. Parece-me possível encontrar a figura ímpar do Bom Pastor, Jesus, na festa que a Igreja celebra, na alma das mães que enaltecemos nas grandes figuras maternas que nos envolvem (Cf. Jo 10, 1-10).
O amor de mãe conduz os filhos e a família a escolherem os melhores caminhos. Mãe imprime rumo nas opções feitas pelos filhos gerados no seio da família. Mesmo se porventura se desviarem, será sempre possível voltar ao regaço acolhedor de um coração de mãe. As mães se cansam para levar a descansar esposo e filhos. Prados e campinas verdejantes, ou as águas repousantes que restauram, muitas vezes são sinalizadas pelas mães que velam pelos filhos pequenos ou grandes. E quem não sentiu restauradas as forças para a luta ao encontrar a solicitude de sua mãe?
A honra dos muitos nomes de tantas e generosas mães conduz por caminhos seguros, ainda que passem os filhos por vales tenebrosos pelos caminhos da vida. Quando o medo toma conta, a figura e o apelo à mãe se repetem mesmo nos filhos crescidos ou até envelhecidos. Ao por do sol da existência nesta terra, as pessoas acometidas por diminuição da lucidez, viram crianças, como costumamos dizer, e não é raro ouvir pessoas velhinhas que começam a chamar pela mãe, falecida há tanto tempo. Força e ternura, bastão e cajado, cabem bem nas mãos das mães.
E se queremos uma imagem bonita da força do amor que dá a vida, basta pensar em almoço de domingo, em que as mães preparam a mesa, perfumam com o óleo do carinho suas casas e fazem vir à festa da fartura, a abundância cantada pelo salmista.
Enfim, não faz mal algum pensar apenas na felicidade e no bem, desejado e edificado pelas mães, ao darem a vida pelos seus, no heroísmo cotidiano. E como queremos todos passar um dia da mesa da família para a Casa do Senhor, na qual habitaremos por toda a eternidade, as mães são aquelas que nos falam do Céu, que nos ensinam a rezar e nos abrem os horizontes do infinito (Cf. Sl 22).
A festa das mães acontece no segundo domingo de maio, mês dedicado àquela que foi escolhida para ser Mãe do Redentor, Mãe de Deus e Senhora nossa. A ela, nos vários e lindos títulos com os quais a homenageamos, Chegue ela a oração fervorosa, especialmente por nossas famílias, a fim de que sejam o lugar da doação recíproca da vida. Assim nos conduza o Cristo, Bom Pastor!

RENOVAÇÃO DA PARÓQUIA

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
A Paróquia é o tema principal da 52ª assembleia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em Aparecida de 30 de abril a 9 de maio. Já na assembleia anual de 2014, o tema tinha sido refletido; desta vez, voltou ais amadurecido, resultando na aprovação de um novo Documento da CNBB sobre o assunto.

A insistência no tema pode ter, ao menos, dois significados diversos: que a Paróquia é muito importante para a própria Igreja e que ela precisa passar por transformações e ser revitalizada.
A Paróquia, de fato, tem sido ao longo dos séculos o rosto mais visível e próximo da Igreja; ela é a imagem perceptível daquilo que a própria Igreja é, no seu todo: a comunidade dos batizados, convocados e guiados pela Palavra de Deus, reunidos em torno da Eucaristia e de um ministro ordenado que, como pastor encarregado, os serve e conduz em nome de Cristo Pastor, na comunhão da grande Comunidade eclesial.
Na Paróquia, os filhos da Igreja expressam e nutrem sua fé, celebram os Mistérios de Deus, organizam e praticam a caridade, inserem-se concretamente nas realidades da comunidade humana na qual vivem, para testemunhar a vida nova e a esperança que vêm do Evangelho. Ainda na Paróquia, floresce a vida cristã na riqueza e na variedade dos dons do Espírito Santo e se cuida de transmitir a fé e de viver a dimensão missionária da Igreja.
Apesar das muitas críticas feitas à Paróquia, a Igreja não a abandona e continua vendo nessa forma de organização da vida cristã e da missão eclesial uma escolha válida. Ela precisa, é certo, de ajustes e melhorias constantes e é isso que a CNBB está buscando fazer. A vida cristã tem uma dimensão pessoal e envolve diretamente a pessoa, suas escolhas e respostas de fé à proposta de vida segundo o Evangelho. Porém, não é individualista nem meramente subjetiva, mas vinculada à vida comunitária e eclesial.
A cultura do nosso tempo, marcada fortemente pelo individualismo e pelo subjetivismo, também pode contagiar a vida cristã, abandonando seus vínculos comunitários e eclesiais. Nisso haveria uma grave perda. De fato, nós não cremos “do nosso jeito”, nem buscamos dar soluções às questões morais “do nosso jeito”, mas do jeito da Igreja. Já desde o princípio, os apóstolos tiveram a preocupação de transmitir o que viram, ouviram e receberam do Senhor Jesus; e Paulo, em seguida, insiste em dizer: “o que recebi, foi isso que também vos transmiti”. Ele queria destacar que não inventava, de sua cabeça, o que pregava aos outros.
E os apóstolos e, depois deles, os Pastores da Igreja, também insistiam em dizer que era preciso viver de maneira coerente com o que se aprendeu do Evangelho, não mais apenas conforme os costumes e práticas do tempo. Assim foi ao longo dos séculos, e assim continua até hoje. O papa Bento XVI lembrou aos jovens, na Jornada Mundial da Juventude, de Colônia (Alemanha), que a fé e a vida cristã não são feitas à maneira de “self-service”, onde cada um escolhe só o que gosta ou decide o que lhe convém... Nossa fé é ligada à Comunidade de fé; a própria Igreja é o “sujeito da fé”; com ela nós cremos e praticamos a vida cristã.
A Paróquia precisa, pois, ser redescoberta como o “lugar” da vida comunitária da fé e da vida cristã. O Documento da CNBB a apresenta como “Comunidade de Comunidades”, com muitas expressões pessoais e comunitárias da fé e da vida cristã. A Paróquia precisa favorecer as muitas formas de vida eclesial comunitária, com tudo o que isso significa para as relações mútuas entre os fieis e, destes, com a comunidade humana plural circunstante.
Usando a linguagem do Documento de Aparecida (2007) e da recente Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do papa Francisco, podemos dizer que também a Paróquia precisa fazer a sua “conversão pastoral e missionária”, para expressar melhor a sua vida e missão nos tempos atuais. E é isso que o novo Documento da CNBB orienta a fazer.

Dia Mundial de Oração pelas Vocações


"Vocações, testemunho da verdade”. Este é o tema da mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado neste domingo, dia 11 de maio.

Na mensagem o papa, o papa diz que "toda a vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho". Segundo Francisco, "quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus".

Segue, na íntegra, o texto:

Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações

“Vocações, testemunho da verdade”

Amados irmãos e irmãs!

1. Narra o Evangelho que «Jesus percorria as cidades e as aldeias (...). Contemplando a multidão, encheu-Se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe”» (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois, no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que «a messe é grande». Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos nós. E a ação eficaz, que é causa de «muito fruto», deve-se à graça de Deus, à comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja, relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do seu Reino. São Paulo, que foi um destes «colaboradores de Deus», trabalhou incansavelmente pela causa do Evangelho e da Igreja. Com a consciência de quem experimentou, pessoalmente, como a vontade salvífica de Deus é imperscrutável e como a iniciativa da graça está na origem de toda a vocação, o Apóstolo recorda aos cristãos de Corinto: «Vós sois o seu [de Deus] terreno de cultivo» (1 Cor 3, 9). Por isso, do íntimo do nosso coração, brota, primeiro, a admiração por uma messe grande que só Deus pode conceder; depois, a gratidão por um amor que sempre nos precede; e, por fim, a adoração pela obra realizada por Ele, que requer a nossa livre adesão para agir com Ele e por Ele.

2. Muitas vezes rezamos estas palavras do Salmista: «O Senhor é Deus; foi Ele quem nos criou e nós pertencemos-Lhe, somos o seu povo e as ovelhas do seu rebanho» (Sal 100/99, 3); ou então: «O Senhor escolheu para Si Jacob, e Israel, para seu domínio preferido» (Sal 135/134, 4). Nós somos «domínio» de Deus, não no sentido duma posse que torna escravos, mas dum vínculo forte que nos une a Deus e entre nós, segundo um pacto de aliança que permanece para sempre, «porque o seu amor é eterno!» (Sal 136/135, 1). Por exemplo, na narração da vocação do profeta Jeremias, Deus recorda que Ele vigia continuamente sobre a sua Palavra para que se cumpra em nós. A imagem adotada é a do ramo da amendoeira, que é a primeira de todas as árvores a florescer, anunciando o renascimento da vida na Primavera (cf. Jr 1, 11-12). Tudo provém d’Ele e é dádiva sua: o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, mas – tranquiliza-nos o Apóstolo - «vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor 3, 23). Aqui temos explicada a modalidade de pertença a Deus: através da relação única e pessoal com Jesus, que o Batismo nos conferiu desde o início do nosso renascimento para a vida nova. Por conseguinte, é Cristo que nos interpela continuamente com a sua Palavra, pedindo para termos confiança n’Ele, amando-O «com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças» (Mc 12, 33). Embora na pluralidade das estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus. É «um êxodo que nos leva por um caminho de adoração ao Senhor e de serviço a Ele nos irmãos e nas irmãs» (Discurso à União Internacional das Superioras Gerais, 8 de maio de 2013). Por isso, todos somos chamados a adorar Cristo no íntimo dos nossos corações (cf. 1 Ped 3, 15), para nos deixarmos alcançar pelo impulso da graça contido na semente da Palavra, que deve crescer em nós e transformar-se em serviço concreto ao próximo. Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona! Tem a peito a realização do seu projeto sobre nós, mas pretende consegui-lo contando com a nossa adesão e a nossa colaboração.

3. Também hoje Jesus vive e caminha nas nossas realidades da vida ordinária, para Se aproximar de todos, a começar pelos últimos, e nos curar das nossas enfermidades e doenças. Dirijo-me agora àqueles que estão dispostos justamente a pôr-se à escuta da voz de Cristo, que ressoa na Igreja, para compreenderem qual possa ser a sua vocação. Convido-vos a ouvir e seguir Jesus, a deixar-vos transformar interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6, 63). Maria, Mãe de Jesus e nossa, repete também a nós: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Far-vos-á bem participar, confiadamente, num caminho comunitário que saiba despertar em vós e ao vosso redor as melhores energias. A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Porventura não disse Jesus que «por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35)?

4. Amados irmãos e irmãs, viver esta «medida alta da vida cristã ordinária» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31) significa, por vezes, ir contra a corrente e implica encontrar também obstáculos, fora e dentro de nós. O próprio Jesus nos adverte: muitas vezes a boa semente da Palavra de Deus é roubada pelo Maligno, bloqueada pelas tribulações, sufocada por preocupações e seduções mundanas (cf. Mt 13, 19-22). Todas estas dificuldades poder-nos-iam desanimar, fazendo-nos optar por caminhos aparentemente mais cômodos. Mas a verdadeira alegria dos chamados consiste em crer e experimentar que o Senhor é fiel e, com Ele, podemos caminhar, ser discípulos e testemunhas do amor de Deus, abrir o coração a grandes ideais, a coisas grandes. «Nós, cristãos, não somos escolhidos pelo Senhor para coisas pequenas; ide sempre mais além, rumo às coisas grandes. Jogai a vida por grandes ideais!» (Homilia na Missa para os crismandos, 28 de Abril de 2013). A vós, Bispos, sacerdotes, religiosos, comunidades e famílias cristãs, peço que orienteis a pastoral vocacional nesta direção, acompanhando os jovens por percursos de santidade que, sendo pessoais, «exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31).

Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja «boa terra» a fim de ouvir, acolher e viver a Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós. Com estes votos e pedindo-vos que rezeis por mim, de coração concedo a todos a minha Bênção Apostólica.

Francisco