sábado, 1 de março de 2014

Acompanhar e não condenar aqueles que fracassam no amor




O Santo Padre na homilia desta sexta-feira fala sobre a beleza do matrimônio e adverte contra o perigo de cair na casuística
Por Redacao

ROMA, 28 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Por trás da casuística está sempre uma armadilha contra nós e contra Deus, afirmou o Santo Padre na homilia da missa celebrada hoje, em Santa Marta. O Papa Francisco ao comentar o Evangelho do dia, deteve-se na beleza do matrimônio e advertiu sobre a necessidade de acompanhar e não condenar aqueles que fracassam no amor, e explicou que Cristo é o Esposo da Igreja e não é possível compreender um sem o outro.
Francisco observou que os doutores da lei tentam colocar uma armadilha para tirar a autoridade de Jesus. E assim, tomou como referência o Evangelho de hoje para oferecer uma catequese sobre a beleza do matrimônio. Os fariseus – comentou o Papa- vão a Jesus e lhes apresentam o problema do divórcio, sempre num estilo casuístico, questionando se era lícito ou não.
“Sempre o pequeno caso. E esta é a armadilha: por trás da casuística, por trás do pensamento casuístico, sempre há uma armadilha. Sempre! Contra a gente, contra nós e contra Deus, sempre! Mas é lícito fazer isto? Repudiar a própria mulher? E Jesus respondeu, perguntando-lhes o que dizia a lei e explicando porque Moisés fez aquela lei assim. Mas não pára ali: da casuística vai ao centro do problema e aqui vai mesmo aos dias da Criação. É tão bela aquela referência do Senhor: ‘Desde o início da Criação, Deus fê-los homem e mulher, por isto o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne. Assim, não dois, mas uma só carne’.”
O Papa continuou destacando que o Senhor faz referência ao homem e a mulher como obra-prima da Criação. E Deus “não queria que o homem ficasse sozinho, queria uma companheira para seu caminho”. É um momento poético “o encontro de Adão com Eva” - refletiu o Santo Padre-. “É o começo do amor, que devem ser uma só carne”. Por outro lado, “esta obra não acaba ali, nos dias da Criação, porque o Senhor escolheu este ícone para explicar o seu Amor pelo povo”. Até “quando o seu povo não é fiel Ele fala com palavras de amor” - afirmou -.
E destacou ainda que “o Senhor toma este amor da obra-prima da Criação”, para explicar o amor que tem para com o seu povo. É um passo a mais: quando Paulo tem necessidade de explicar o mistério de Cristo, fá-lo também em relação e em referência à sua Esposa: porque Cristo é casado, Cristo é casado, casou com a sua Igreja, o seu povo. Como o Pai tinha casado com o povo de Israel, Cristo casou com o seu povo. Esta é a história do amor, esta é a história da obra-prima da Criação! E perante este percurso de amor, perante este ícone, a casuística cai e torna-se em dor. Mas quando este deixar o pai e a mãe e unir-se a uma mulher, faz-se uma só carne e irá em frente e se este amor entra em falência, devemos sentir a dor do fracasso, acompanhar aquelas pessoas que fracassaram no próprio amor. Não condenar! Caminhar com eles! E não fazer casuística com a situação deles.
Em seguida, Francisco comentou que quando alguém lê isso, reflete sobre esse projeto de amor, esse caminho de amor do matrimônio cristão, e que Deus abençoou esta obra de arte de sua Criação, e nunca retirou a sua benção.. nem o pecado original a destruiu! Quando se pensa nisso, se vê “como é lindo o amor, o matrimônio, a família; como é bonito este caminho e como devemos estar próximos de nossos irmãos e irmãs que tiveram a desgraça de um fracasso no amor”.
Referindo-se a São Paulo, o Santo Padre destacou a beleza "do amor que Cristo tem pela sua esposa , a Igreja!": "Aqui também temos de estar vigilantes para que não fracasse o amor! Falar de um Cristo solteiro: Cristo é casado com a Igreja! E não é possível entender a Cristo sem a Igreja e não é possível entender a Igreja sem Cristo. Esse é o grande mistério da obra-prima da criação. Que o Senhor nos dê a graça de compreender e a graça de nunca cair nessas atitudes casuísticas dos fariseus, dos doutores da 

Preparação para o matrimônio



Um amplo e exigente processo de educação para a vida conjugal.... uma necessidade urgente (PSM10)
Por André Parreira

SãO PAULO, 28 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Embora seja um assunto extenso, este artigo fecha um ciclo de comentários sobre a Preparação para o Matrimônio. Não que o tema tenha sido aqui esgotado, mas chegamos ao objetivo de comentar a proposta da Igreja a partir de um documento específico para a pastoral pré-matrimonial e confrontá-la com a realidade paroquial.
Tendo como base o documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio do Pontifício Conselho para as Famílias, partimos da Preparação Remota, passando pela Próxima e chegando na Imediata, a fim de perceber que tal preparação não pode se resumir em poucas horas e às vésperas do casamento.
Além dos temas citados, não podemos deixar de falar que os casais agentes de formação precisam ainda conhecer as questões do Matrimônio no Direito Canônico, como suas condições e impedimentos, embora o PSM não explicite tal necessidade. Tal conhecimento não os torna capazes de agirem como juízes, mas sim de instruírem os noivos e também identificarem problemas incontornáveis que caracterizam um impedimento e precisam ser informados ao pároco. Algumas questões se tornaram comuns e se espalham com interpretações erradas, como "anular um casamento" enquanto o correto é "verificar a nulidade". Os noivos precisam ter contato, ainda que breve, com tais questões legais.
Como os temas tratados foram variados e para que tenha uma ideia geral de todos eles, deixo aqui o desafio de organizar, mesmo que mentalmente, um resumo das três etapas apresentadas e as características relevantes de cada uma delas. E, com tal resumo, se perguntar: como anda a preparação para o Matrimônio em minha paróquia?
Será que estamos trabalhando para impactar positivamente a preocupação do Papa e de toda a Igreja, como já afirmamos no primeiro artigo da série, da possibilidade de metade dos Matrimônios serem nulos? Ele resume claramente os motivos: "porque as pessoas se casam sem maturidade ou porque socialmente devem se casar". E isto tem relação com a falta de formação e de planejamento estratégico quando pensamos em formar os filhos para que sejam futuros pais e mães de família. O estímulo para a vida familiar já, há muito tempo, anda sumido dos lares de muitos cristãos. Mas a preocupação com a formação intelectual e ascensão profissional parece crescer a cada instante.
Os filhos de hoje se sentem motivados a buscarem a vida matrimonial a partir do exemplo de seus pais?
E quando saímos da Igreja Doméstica em direção à vida paroquial, também precisamos de casais que acreditem e sejam fiéis ao Magistério da Igreja e cultivem a beleza do Matrimônio em todas oportunidades e pastorais. Casais que, sendo reais e nada perfeitos, busquem a santidade no Matrimônio com contínua renovação e propaguem a beleza de se caminhar com a Igreja. E compromissados com a missão de ajudar na formação das famílias, se dediquem à preparação pré-matrimonial que deve abranger a catequese, mas também todas as pastorais de cada paróquia. Se assumimos que a Família é o Santuário da Vida (João Paulo II), devemos ter todo o esmero para que as famílias comecem bem, ou seja, comecem a partir de um Matrimônio consciente e bem preparado.
Encerro com um questionamento feito pelo documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio: Quem contrai Matrimônio está realmente preparado para isso? O problema da preparação para o sacramento do Matrimônio, e para a vida que se lhe segue, emerge como uma grande necessidade pastoral antes de mais para o bem dos esposos, para toda a comunidade cristã e para a sociedade. (PSM 01)
Espero que esta série de artigos tenha sido construtiva para a reflexão sobre sua prática pastoral. Não só para a reflexão, mas também para algumas mudanças práticas e imediatas, pois as famílias não podem esperar mais.
Que melhorias para a preparação dos noivos foram ou estão sendo realizadas pela sua equipe?
Note que a preocupação com as famílias é tema central na Igreja, que está se mexendo para também aprimorar sua ação pastoral. Acredito que você, leitor, principalmente se agente na formação de noivos, esteja acompanhando toda a movimentação do Sínodo sobre as Famílias. Não só acompanhando, mas também rezando como nos pede o Papa Francisco: "peço-vos para invocardes intensamente o Espírito Santo, a fim de que ilumine os Padres sinodais e os guie na sua exigente tarefa." (Zenit, 25/02/14).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Bom dia, tristeza... O pecado do desespero



Uma meditação com Jürgen Moltmann

Dizem que o pecado "original" é o desejo do homem de ser como Deus. Esta é só uma face do pecado. Há outra face complementar: a do desejo de não ser original, de não querer a divinização, de não querer ser semelhante a Deus, de não querer chegar ao “Télos” (cf. Jo 13).
Nas palavras de Jürgen Moltmann, "o outro lado da postura da soberba consiste no desespero, na resignação, na indolência e na melancolia". E ele explica: "A tentação não consiste tanto na pretensão titânica de ser como Deus, mas na fraqueza, na pusilanimidade, no cansaço de quem não quer ser o que Deus espera dele".
“O que o acusa não é o mal que ele faz, mas o bem que negligencia”. Nas palavras de São João Crisóstomo: "O que nos leva à perdição não é tanto o pecado quanto a falta de esperança".
E por que a alma se refugia no desespero?
O desespero protegeria a alma das desilusões. “Quem muito espera, louco acaba”. Por isso, tenta-se permanecer no terreno da realidade e “pensar com clareza, sem esperar mais” (cf. Albert Camus).
Eis o rosto sutil, pacífico e aparentemente inócuo do desespero: ele não precisa mostrar expressões desesperadas; ele pode ser a simples e silenciosa falta de sentido, de perspectiva, de futuro e de propósito. Mais: o desespero pode ter o aspecto da sorridente resignação. “Bom dia, tristeza!”... Permanece aquele sorriso amargo de quem esgotou as suas possibilidades e não encontrou nada que lhe desse motivos de esperança.
O homem que se rebela contra Deus não assume necessariamente as formas de um Prometeu, mas sim as de um Sísifo, o honesto fracassado que se redobra sobre os próprios fracassos e abraça a incompletude, o limite, o absurdo, o nada...
A força que renova a vida, porém, não está nem na presunção, nem no desespero, mas somente na esperança durável e segura. Têm uma força misteriosa aquelas palavras de Heráclito: "Quem não espera o inesperado, não o terá".
Longe de ser uma ilusão, Moltmann nos lembra que só a esperança tem o direito de se considerar realista, porque só ela leva a sério as possibilidades que subjazem a toda a realidade... As esperanças e as expectativas de futuro não são, portanto, uma chama de transfiguração destinada a embelezar uma existência cinzenta, mas percepções realistas do vasto panorama de possibilidades reais.
Assim, a esperança é bem diferente da utopia. Ela não se projeta em direção à "ilha que não existe", e sim àquilo que "ainda não tem lugar, mas pode ter". Na verdade, é o desespero que merece a acusação de utópico, porque é ele que "se agarra à realidade existente duvidando das suas possibilidades", sem conceder "lugar nenhum" para o possível.
A conclusão de Moltmann é esta: as afirmações da esperança da escatologia cristã devem se impor também à rigidez utópica do realismo para manter viva a fé e guiar a obediência, que se explicam no amor, no caminho das realidades terrenas, físicas, sociais.

Escolher, com sabedoria, a única lei: o bem!



Tenho imenso prazer, de todos os domingos ouvir o cardeal Orani João Tempesta, que nesta semana recebeu o barrete cardinalício, graça que lhe concedeu o Papa Francisco para alegria de todos nós que, amigos ou admiradores deste grande homem, o temos como liderança inconteste do episcopado brasileiro, nos levando a optar pelo bem!

Ensina o Concílio Vaticano II que: Constituição dogmática sobre a Igreja "Lumen gentium", § 9: "Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição". Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e pratica a justiça (cf Act 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo, que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida, e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. "Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança. […] Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo. […] Todos me conhecerão, desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor" (Jer 31,31-34). Esta nova aliança foi instituída por Cristo no novo testamento do seu sangue (cf 1Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito, e fazer dele o Povo de Deus […]: "raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado, […] que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1Ped 2, 9-10). Mas, assim como Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, é já chamado Igreja de Deus (cf 2Esd 13,1; Nm 20,4; Dt 23,1ss), assim o novo Israel, que ainda caminha no tempo presente e se dirige para a futura e perene cidade (cf Heb 13-14), se chama também Igreja de Cristo (cf Mt 16,18), pois que Ele a adquiriu com o seu próprio sangue (cf Act 20,28), encheu-a com o seu espírito e dotou-a dos meios convenientes para a unidade visível e social".

Vamos pedir a sabedoria de Deus! A sabedoria de Deus nos ensina a dar uma verdadeira liberdade de renovar a lei.

Quando eu vejo homens consagrados, bispos e padres, usando da lei eclesiástica para punir, para perseguir, para demonstrar a sua melogomania ou psicopatia, fruto da desaderência intelectual e sanitária de sua vida, recomendo a rezar a página evangélica de hoje: "Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal'. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!'será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno.Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal"(cf. Mt 5,21-25).

Esses dias eu ouvi de um Cardeal que há muitas pessoas que obcecados, com idéia fixa e única, para perseguir o irmão, usando de dinheiro, de poder, de lavagem de dinheiro ou de permutas imobiliárias, que fazem isso em nome de uma farisaica vontade de Deus. A vontade de Deus é perdoar. A vontade de Deus é seguir a misericórdia. Deus não cansou de perdoar nossos pecados, porque quem se encoleriza com o seu irmão é réu da sua própria condenação.

A lei suprema é o amor! Que Deus, hoje, nos dê a graça de nos revermos por dentro para colocarmos em prática os Seus mandamentos.

Dom Eurico dos Santos Veloso
via internet - portal ecclesia

VESTIR A FANTASIA DA CARIDADE


O bem aventurado Papa João Paulo II na sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte afirmava no nº 50: "É hora de uma nova fantasia da caridade que se manifeste não só na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna".
 Nestes dias de carnaval que se aproximam não podemos esquecer que nossa fantasia e nossa veste é o amor cristão que nos leva a tratar as pessoas como preciosas, e por isso mesmo a abstermos de todo abuso, exploração, manipulação ou violência. Isto implica o cuidado amoroso e fraterno, a compaixão e a mansidão como expõe São Paulo na Carta aos Colossenses 3,12, que nos torna para os outros em sinal de proteção e respeito generoso.
Seria um aberrante anti testemunho, que um cristão se deixasse levar pela devassidão, a irresponsabilidade e as artimanhas do inimigo. Pelo contrário cabe aos seguidores de Cristo mostrar o sentido da verdadeira alegria, que a festa que nos faz experimentar a felicidade passa pela vivência da ternura, da bondade e do saber conviver e compartilhar juntos.
O Evangelho é sempre Boa Nova, para todas as circunstâncias e situações, especialmente aquelas que anseiam pela espontaneidade, completude e inteireza do ser, manifestando a pessoa humana, como festeira e chamada a participar do Banquete do Reino. Que possamos como São João Batista pular de júbilo diante do Senhor, dançar como o Rei Davi diante da Arca, celebrar a vida com Jesus Mestre da comensalidade solidária, mas sempre louvando a Deus com nossas palavras, atitudes e gestos.
Que sejamos portadores e promotores da cultura da paz, do cuidado e da dádiva para todos/as no Carnaval deste ano. Deus seja louvado!
                                                                                        Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
                                                                                                 Bispo de Campos (RJ)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O hábito de organizar a vida sem Deus, causou uma ruptura na transmissão da fé


VIA INTERNET 

Cardeal Ouellet abre a Assembleia Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina
Por Maria Emilia Marega Pacheco

FORTALEZA, 25 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Teve início nesta terça-feira, 25 de fevereiro, no Vaticano, a Assembleia Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL) sobre a “Emergência Educativa e a transmissão da fé aos jovens latino-americanos”. Na abertura, o Cardeal Marc Ouellet, presidente da CAL, fez a palestra “Significado do Pontificado de Francisco para a América Latina: exigências e responsabilidades”.
Em entrevista a Rádio Vaticano, o cardeal Ouellet explicou que o tema da Plenária pretende dar continuidade ao tema da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. Portanto, haverá um momento dedicado à avaliação da JMJ, quando o Cardeal Scherer fará a conferência: “A JMJ do Rio: exigências e desafios levantados para a Igreja brasileira e latino-americana”.
Sobre a emergência educativa, Ouellet destacou que o secularismo está se difundindo também na América Latina, e “o hábito de organizar a vida sem Deus, causou uma ruptura na transmissão da fé”.
Outro tema importante a ser discutido na Plenária é a família. "A família é um recurso para a nova evangelização, o testemunho do amor é fecundo para a sociedade", afirmou o cardeal.
Na quarta-feira, o arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, falará sobre “A formação na fé das novas gerações cristãs”.
Conforme notícia da Rádio Vaticano, os trabalhos concluir-se-ão na sexta-feira (28), com a apresentação de um projeto de “Recomendações pastorais” sobre o tema da Assembleia. Sexta-feira às 11 horas os participantes serão recebidos em audiência pelo Papa.
Cerca de 25 cardeais e arcebispos da América Latina compõem a Comissão. Os cardeais brasileiros Dom Cláudio Hummes, Dom Odilo Scherer e Dom Raymundo Damasceno Assis, membros da CAL, também participam da Plenária.
A Pontifícia Comissão para a América Latina é um órgão da Cúria Romana, instituído em 21 de abril de 1958 pelo Papa Pio XII, a fim de estudar os problemas da vida católica, da defesa da fé e da propagação da religião na América Latina. Também visa apoiar o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e coordenar os organismos da cúria em questão.

37ª ROMARIA DA TERRA


          
          Caros diocesanos. Em 04 de março, terça-feira de carnaval, o RS vive sua 37ª Romaria da Terra, desta vez no Vicariato de Guaíba – Arquidiocese de Porto Alegre, com o tema: “Cultivar Vida Saudável”. O local do evento será o Assentamento Lagoa do Junco, em Tapes/RS. A romaria mobiliza a Igreja do RS e se tornou um compromisso permanente do Regional Sul 3 da CNBB. É evento eclesial com repercussões para toda sociedade. Uma das suas curiosas características é a realização no dia do carnaval, portanto, um carnaval diferente que prenuncia a Campanha da Fraternidade, no espírito quaresmal, que faz caminhar para a Páscoa. Vejamos algumas reflexões sobre esta romaria, segundo o Jornal VOZ DA TERRA (Publicação da Comissão Pastoral da Terra do RS, Ed. Novembro 2013, p. 10). Com a preocupação de cultivar vida saudável, a temática tenta resgatar e valorizar o agricultor e a agricultora, os protagonistas da produção dos alimentos naturais de qualidade; alimentos saudáveis que não foram produzidos com venenos, mas na agricultura de agroecologia, termo proveniente da composição de palavras gregas [Agro (agros) = campo; eco (oikos) = casa, logia(logos) = estudo]. Portanto, AGROECOLOGIA é fazer agricultura, respeitando a grande casa, o planeta, os seus habitantes, ou seja, toda biodiversidade. A prática agroecológica é antiga, mas na última metade do século passado a agricultura tornou-se mais artificial e com uso massivo de venenos. Nós conhecemos as conseqüências dessa prática para nossa saúde e todo ecossistema. Queira Deus que a atual geração ainda possa ouvir frases como esta: “No tempo em que ainda se usava venenos para produzir alimentos...”. As Romarias da Terra são momentos privilegiados para caminhar com o povo que vive na terra e dela produz seu alimento saudável, assim como o de tantos outros. Faz muito bem ouvir depoimentos sábios, como o da Sra. Simone Pegoraro (Farroupilha): “A Romaria da Terra nos faz entender cada vez mais que é preciso cuidar da Terra e de toda a vida no planeta. A terra é bem mais do que apenas produtora de alimento. A terra é um espaço mínimo para o desenvolvimento da vida. É esse espaço de promoção e valorização da vida que a Romaria da Terra nos traz... Nosso trabalho na Terra é sermos as mãos, os pés, as palavras e as ações do amor, na preservação da natureza e no cuidado com o outro, fortalecendo a cultura do Bem Viver” (Jornal VOZ DA TERRA, o.c., 12). Dom Alessandro Ruffinoni, bispo de Caxias do Sul, na preparação da última Romaria, assim se expressava: “As Romarias da Terra, aqui no Estado, sempre tiveram o objetivo de ser uma profecia que, de um lado, denunciam a desigualdade e injustiças que existem no campo e, de outro, propõem a solidariedade, a cooperação e um desenvolvimento sustentável em vista do bem comum ou bem viver” (Ibidem).
            Em sintonia com a 37ª Romaria da Terra, concluímos com a oração proposta para a mesma: Senhor Deus da Vida, vós que criastes o firmamento, a água, a terra e tudo o que nela existe; Vós que criastes o homem e a mulher para cuidarem do jardim e da vida, inspirai-nos e ensinai-nos a cultivar uma vida saudável. Vós que viveis na perfeita Comunidade de amor, orientai nossas mentes, nossos corações e nossas famílias para o trabalho cooperativo, a fim de que a produção de alimentos seja fruto da união de esforços e de políticas públicas favoráveis. Fazei que todas as pessoas cuidem da terra e de todos os bens da natureza, saibam respeitar a terra na sua condição de produção saudável; Pela intercessão da Sagrada Família de Nazaré, inspirai quem cultiva a terra e conduza a todos nos caminhos do desenvolvimento sustentável e da justa distribuição dos bens da criação. Amém. Axé. Assim seja!”.
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

É absurdo seguir a Cristo à margem da Igreja



Homilia do papa na Casa Marta 
Francisco nos convida a pensar nos gestos de Jesus, que nunca nos abandona
Por Redacao

ROMA, 24 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Seguir Jesus não é “uma ideia", mas um "contínuo permanecer em casa", na Igreja, para onde Cristo traz também aqueles que tinham se afastado. A afirmação é do papa Francisco, em sua homilia desta segunda-feira durante a missa que ele celebrou na capela da Casa Santa Marta.
Um menino em convulsões, que se retorce pelo chão, espumando no meio da multidão comovida e indefesa; e o pai dele, que se agarra a Jesus rogando que Ele liberte o filho da possessão diabólica. Este é o drama apresentado pelo evangelho de hoje e que o Santo Padre considerou ponto por ponto: a falação dos espectadores, que discutem sem sentido; Jesus que chega e se informa; "o barulho que vai diminuindo"; o pai angustiado que surge da multidão e decide, contra toda esperança, esperar em Jesus; e Jesus, que movido pela fé cristalina daquele pai, se compadece, expulsa o mau espírito e se inclina com doçura sobre o jovem, que parece morto, para ajudá-lo a ficar de pé.
"Toda essa desordem, essa discussão, termina em um gesto: Jesus que se inclina para o menino. Esses gestos de Jesus nos fazem pensar. Jesus, quando cura, quando vai para o meio das pessoas e cura alguém, nunca deixa esse alguém sozinho. Ele não é um mago, um bruxo, um curandeiro que vai, cura e segue em frente: ele faz cada um voltar para o seu lugar, não o deixa abandonado. E todos esses gestos são gestos belíssimos de nosso Senhor".
Este é o ensinamento, explica o pontífice: "Jesus sempre nos faz voltar para casa, nunca nos deixa sozinhos no caminho". O evangelho, recorda ele, está cheio desses gestos: a ressurreição de Lázaro, a vida devolvida à filha de Jairo e ao filho da viúva, mas também a ovelha perdida, reconduzida ao rebanho, e a moeda perdida e reencontrada pela mulher.
"Jesus não veio do céu sozinho; Ele é filho de um povo. Jesus é a promessa feita a um povo e a sua identidade também é a pertença a esse povo, que, desde Abraão, caminha rumo à promessa. E esses gestos de Jesus nos ensinam que cada cura, que cada perdão nos faz sempre voltar para o nosso povo, que é a Igreja".
Jesus perdoa sempre. E os seus gestos, continua o papa Francisco, também se tornam "revolucionários" ou "inexplicáveis" quando o seu perdão chega até aqueles que se afastaram "demais", como o publicano Mateus e seu colega Zaqueu. Além disso, Jesus sempre, “quando perdoa, nos faz voltar para casa”. E, por isso, não podemos entender Jesus sem o povo de Deus. É "absurdo amar a Cristo sem a Igreja, escutar Cristo mas não a Igreja, seguir a Cristo à margem da Igreja”, reafirma o pontífice, parafraseando mais uma vez Paulo VI: "Cristo e a Igreja estão unidos" e "cada vez que Cristo chama uma pessoa, Ele a leva para a Igreja". Por isso, "é bom" que uma criança "seja batizada na Igreja", na "Igreja mãe".
"Esses gestos de tanta ternura de Jesus nos fazem entender o seguinte: que a nossa doutrina, por assim dizer, que o nosso seguimento de Cristo, não é uma ideia, mas sim um contínuo permanecer em casa. E se cada um de nós tem a possibilidade e a realidade de abandonar o lar por causa de um pecado, de um erro –só Deus sabe–, a salvação é voltar para casa com Jesus, para a Igreja. São gestos de ternura. Um por um, nosso Senhor nos chama assim, para o seu povo, para dentro da sua família, que é a nossa mãe, a Santa Igreja. Pensemos nestes gestos de Jesus".

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

“Igualar a religião a Deus é idolatria”, segundo A. J. Heschel



Para a psicóloga Maria Cristina Guarnieri, que estuda a obra de A. J. Heschel, a religião deve desafiar a ciência a encarar os limites da razão e sua incapacidade de explicar a totalidade da existência

Por: Márcia Junges e Luciano Gallas

“Religião, para Heschel, é uma resposta ao mistério; e a fé, a certeza de que há um sentido além do mistério. A religião para Heschel, portanto, seria uma resposta para as principais questões humanas. A crise, segundo o autor, se instala justamente quando desqualificamos estas questões e, por isso, a religião perde sua importância. A tarefa de uma filosofia da religião seria, nesse sentido, redescobrir as questões para as quais a religião poderia ser uma resposta, aprofundando a investigação em relação à consciência humana, aos ensinamentos, à deliberação das tradições religiosas e, principalmente, contribuir para uma metaética: uma profunda reflexão sobre nossos feitos. Para ele, apenas por sua vontade, o ser humano pode se tornar o mais destrutivo dos seres; em suas palavras: ‘o nascimento de uma criança é um mistério; matar milhões de pessoas é, apenas, uma questão de destreza e perícia’”, pondera Maria Cristina Guarnieri.
A psicóloga, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, investiga a filosofia da religião na obra de Abraham Joshua Heschel. “Heschel manteve, com grande habilidade, a tensão entre sua tradição religiosa e uma posição política, pois entendia que a posição do religioso na sociedade moderna era de denunciar, criticar e se posicionar contra a injustiça, em nome da reverência a Deus e da sua imagem no mundo, o ser humano. Para ele, não podemos nos manter alheios das atrocidades cometidas contra o próximo, pois, quando desumanizo o outro, desumanizo a mim mesmo, o que o leva a dizer que nossa maior ameaça, hoje, é a insensibilidade diante do sofrimento do outro”, afirma Maria Cristina Guarnieri. “Para ele [Heschel], não existe verdade sem humildade, nem certeza sem contrição, o que ele entende estar faltando onde mais se precisa delas: na teologia. A religião é um meio, não um fim, e igualar a religião a Deus é idolatria”, enfatiza a entrevistada.
Maria Cristina Guarnieri é psicóloga, possui mestrado e doutorado em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. É professora no Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – IJEP e no curso de Psicologia e Religião na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da PUC-SP. É coordenadora e editora da revista Agnes: caderno de pesquisa em teoria da religião e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Mística e Santidade – Nemes, vinculado à PUC-SP.
Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em que consiste a filosofia do judaísmo de A. J. Heschel ?
Maria Cristina Guarnieri - A filosofia do judaísmo, para Heschel, é basicamente uma filosofia que busca compreender a religião a partir dela própria, que busca o que ela tem a nos ofertar, especialmente em considerar o que Deus quer de nós. A filosofia da religião deve, portanto, aprofundar a reflexão sobre a religião, um esforço de autoesclarecimento e de autoexame, isto é, um esforço em analisar o conteúdo religioso, assim como de examinar, minuciosamente, a atitude religiosa. Já a religião, segundo o autor, deve ser um desafio para a filosofia, e não só um objeto de exame ou pesquisa. Ela deve ser inspiradora ao próprio autoexame da filosofia, pois a razão, quando questiona a religião, questiona a ela mesma, realiza uma autocrítica que permite, segundo o autor, analisar suas próprias premissas, objetivos e autoridade. Não é uma questão de fornecer uma base racional para a religião, mas sim de observar que há uma referência transcendente ao ato de raciocinar. É necessário, segundo Heschel, distinguir a ignorância do sentido de mistério, observar que a ciência é incapaz de explicar a totalidade da existência, que a razão tem limites, embora a fé seja dependente da razão para um discernimento mais apurado e útil para a nossa existência concreta.
É na tensão entre os pensamentos bíblico e grego que Heschel sustentará sua filosofia da religião e elevará o pensamento bíblico como categoria crítica sobre os valores do homem moderno. Sua filosofia da religião sustenta a interação entre a filosofia e a tradição sapiencial . Heschel lê os primeiros rabinos e isso influencia toda a sua reflexão filosófica. O pensamento que marca a filosofia hescheliana nos apresenta que estar diante de Deus é estar sem tranquilidade e sem autonomia, é estar em uma desconfortável tensão que caracteriza a experiência religiosa — esse ‘desconforto’ dá-se em virtude de o sujeito ser confrontado com questões existenciais profundas, as quais ele poderá responder ou fugir e se eximir. Heschel afirma que há dois tipos de pensamentos: o pensamento conceitual e o pensamento situacional. O primeiro tem por objeto os conceitos da mente, e o outro, a situação do ser humano. O pensamento conceitual é um ato da razão, que nos possibilita conhecer, definir ou explicar o mundo. Já o situacional envolve uma experiência interior e é necessário quando se precisa fazer um esforço para compreender os problemas sobre os quais delimitamos toda nossa existência. Se a atitude do pensador conceitual busca a imparcialidade, a do pensador situacional é a de preocupação, pois necessita compreender a situação em que se encontra. 

IHU On-Line - Quais as relações do pensamento de Heschel com a mística para uma abertura ao sagrado?
Maria Cristina Guarnieri - Heschel cresceu em ambiente religioso; seus pais descendiam de rebbes hassídicos  e ele próprio afirma que seu pensamento sofreu a influência de dois mestres, com visões de mundo opostas: Baal Shem Tov  e Menahem Mendel de Kotzk [ou Kotzer] . Do primeiro, o hassidismo se manifestaria como misericórdia e alegria, uma visão mais otimista que reconhece a presença divina, a Shekhiná, no mundo. Já o segundo experimenta o exílio da Shekhiná, a dor do mundo, onde o hassidismo será experimentado como sede de justiça e por uma ânsia de redenção da condição humana. Segundo Heschel, esses "dois professores" representam os dois extremos da concepção hassídica do mundo. Kotzer reage à ênfase de Deus na imanência presente no pensamento hassídico, tal como Kierkegaard  no pensamento protestante. Para Kotzer, Deus é total transcendência. Já em Baal Shem Tov, encontramos transcendência e imanência: ele é intoxicado pela proximidade de Deus, o que acaba por favorecer uma visão imanentista que se sobrepõe à transcendência de Deus. Apesar de Kotzer enfatizar o abismo da separação, ele irá afirmar, segundo Heschel, que esse pode ser atravessado a partir do nosso coração para Deus.
Heschel lê os primeiros rabinos, e isso influencia toda a sua reflexão filosófica. Ele, como outros na modernidade — Cohen, Lévinas  e Rosenzweig  —, volta-se para a literatura talmúdica, algo que antes era reservado apenas aos talmudistas. Mas será no estudo da Torá, com as lendas dos rabinos e mestres, e na influência do hassidismo que sua filosofia se constituirá. Os hassidin praticavam o daven (oração meditativa) cujo objetivo era a união mística com Deus (devekut). O homem piedoso, o hassidim, foi colocado em oposição ao rabino, o intelectual talmúdico. O hassidim é aquele que está embriagado por Deus, algo que é alcançado pelo daven — a natureza existe em Deus, sem Deus nada existe. “O mundo é um véu que, se retirado, só há Deus. O mundo do espírito é a eternidade, o mundo aqui e agora é vaidade” . Sua reflexão seguirá a experiência consciente de Deus e como esta altera o seu pensar sobre o mundo; é um filósofo que pensa sob o olhar de Deus.

IHU On-Line - Em que aspectos a convivência de Heschel com Martin Luther King  possui, além de contornos políticos, contornos místicos?
Maria Cristina Guarnieri - Heschel encontrou Martin Luther King em 1963 pela primeira vez, em uma Conferência Nacional de Cristãos e Judeus. Tornaram-se amigos e, a partir desse momento, Heschel passa a participar ativamente na questão dos direitos civis nos Estados Unidos. Ele participa, em 1965, da marcha pelos direitos civis dos negros, ao lado de Martin Luther King, no Alabama, o que pode ser visto em fotos da época, dado sua presença na primeira fila junto aos demais líderes da manifestação. Sua filha, Suzana Heschel, nos conta que, pouco antes de começar a marcha, um serviço foi realizado em uma pequena capela, onde seu pai teria lido o Salmo 27: "O Eterno é a luz que me guia e a fonte de minha salvação; a quem então temerei?". Para Heschel, a marcha era um movimento religioso, que fica claro em seu famoso comentário na época: "Quando marchei com Martin Luther King em Selma, Alabama, senti que minhas pernas rezavam". Ele dizia sentir nesse ato uma consciência do Sagrado, de sua responsabilidade individual pelo coletivo apreendida com os profetas. 
Na realidade, Heschel reúne com esse encontro questões políticas-sociais e fundamentos éticos religiosos. Podemos dizer que três são os motivos que o fazem ligar suas convicções religiosas com o movimento social e político: a própria perda pessoal com o genocídio nazista, a descoberta que a indiferença ao mal é pior que o mal em si mesmo e o estudo dos profetas. Heschel trabalhou em seu doutorado com os profetas. Para ele, a qualidade mais importante do profeta é a sensibilidade para com o mal e a iniquidade. Seu pensamento é marcado por sua sensibilidade à experiência emocional que tem como ideia central o pathos divino. Esse conceito sugere que o ser humano tem capacidade para transcender, abrir-se para o infinito e para o inefável, mas que também é buscado pelo transcendente. O profeta é aquele que sabe o que Deus quer, ele dá testemunho do pathos de Deus, que é onde se dá o encontro entre o ser humano e Deus, pois Ele, ao revelar-se ao profeta, não revela Sua essência, mas sim Sua presença. Nesse sentido, o profeta é um exemplo e, com eles, afirma Heschel, ele aprendeu que deveria participar dos problemas humanos, principalmente dos humanos que sofrem.
Heschel manteve, com grande habilidade, a tensão entre sua tradição religiosa e uma posição política, pois entendia que a posição do religioso na sociedade moderna era de denunciar, criticar e se posicionar contra a injustiça, em nome da reverência a Deus e da sua imagem no mundo, o ser humano. Para ele, não podemos nos manter alheios das atrocidades cometidas contra o próximo, pois, quando desumanizo o outro, desumanizo a mim mesmo, o que o leva a dizer que nossa maior ameaça, hoje, é a insensibilidade diante do sofrimento do outro. Com essas ponderações, Heschel não pretende defender uma união entre Estado e instituição religiosa, mas afirmar a oração como uma voz pela misericórdia, um clamor pela justiça, que deveria ser espalhada no mundo. Heschel entende que a oração é algo particular, um serviço do coração, mas que a preocupação e a compaixão, nascidas da oração, devem dominar a vida pública. 
Para Heschel, orar significa um lamento pela misericórdia de Deus; louvar torna Deus presente em sua misericórdia, em sua grandeza e esplendor. O ser humano reza e se coloca na relação como objeto de Deus, e esse é seu objetivo, tornar-se digno de ser lembrado por Deus: a verdadeira tarefa do homem não é a de conhecer Deus e sim de ser conhecido por Ele. Heschel nos fala que a reza não pode nos salvar, mas nos torna dignos de sermos salvos. A presença de Deus é ausência de desespero, não só por essa constituir uma autoanálise, mas sim por algo muito caro ao judaísmo: um posicionamento em direção a Deus. Portanto, segundo Heschel, rezamos porque é enorme a desproporção entre a miséria humana e a compaixão humana. Viver é um desafio e rezamos para saber como responder a esse desafio; viver é sagrado, portanto precisamos rezar para saber como responder à questão vital que nos anima: como ser e como não ser.

IHU On-Line - A partir do legado de Heschel, que provocações a mística apresenta para as propostas de abertura inter-religiosa?
Maria Cristina Guarnieri - Há um ensaio muito interessante chamado Nenhuma religião é uma ilha, que foi originalmente elaborado como discurso inaugural no Union Theological Seminary, no qual Heschel desenvolve a ideia de que a interação entre judeus e cristãos é urgentemente necessária para desenvolver uma espiritualidade capaz de remover traços pagãos que idolatram e idealizam conceitos que resultam em regimes despóticos como o nazismo. Para ele, nenhuma religião é uma ilha, pois estamos todos comprometidos um com o outro, a traição espiritual de um afeta a fé de todos. Para ele, enquanto resistirmos, como representantes de fé, ao movimento ecumênico, outro movimento cresce em extensão, influencia e atinge o mundo todo: o niilismo. Segundo ele, o objetivo principal das reflexões nesse ensaio é encontrar uma base religiosa capaz de facilitar a comunicação e a cooperação com temas importantes da modernidade, com as inquietações morais e espirituais, com a paz e com manter viva a presença de Deus. Apesar das profundas diferenças entre as religiões, da necessidade que cada uma delas tem de manter a sua própria identidade, Heschel compreendia que, como humanos, temos uma base comum: a consciência de que Deus é o mesmo para todos, acima das particularidades das diferentes tradições. A humanidade, para ele, não é uma abstração.
Heschel usa a Bíblia como crítica à insensibilidade humana. A responsabilidade pelo outro é apreendida na narrativa religiosa com os profetas. Os profetas nos lembram do interesse de Deus pela situação dos seres humanos. Se profano o outro, profano a mim mesmo e, se o ser humano é a imagem e semelhança de Deus, profano também o nome de Deus. Para Heschel, o pré-requisito mais importante para o ecumenismo é a fé. Mas não sem perceber que a fé só cresce na intimidade e se respeitada a individualidade de cada religião, para que ela não seja profanada e não se corra o risco de sincretismo. A finalidade da comunicação religiosa, para ele, é enriquecimento mútuo e acréscimo de respeito e reconhecimento. Para Heschel, a "voz de Deus chega ao espírito em uma variedade de formas, em uma multiplicidade de linguagens. Uma mesma verdade pode ser interpretada e expressa de muitas maneiras" (Nenhuma religião é uma ilha). Para ele, não existe verdade sem humildade, nem certeza sem contrição, o que ele entende estar faltando onde mais se precisa delas: na teologia. A religião é um meio, não um fim, e igualar a religião a Deus é idolatria. 

IHU On-Line - Tendo em consideração o conjunto de sua obra, como podemos compreender o significado da fé, da divindade das ações e da sacralidade do tempo?
Maria Cristina Guarnieri - Fé é ato, algo que acontece e não tem explicação. A fé é um momento de comunhão entre a alma do ser humano e a glória de Deus. A fé é um ato do espírito, pois é ele que tem o poder de reconhecer a superioridade do divino, para perceber o transcendente, para amar o mistério. O mistério como a própria condição de existir, uma categoria ontológica, que nos leva a agir como reverência, pois esta é a forma de existência em harmonia com o mistério. A reverência nos aproxima do amor e da alegria e é, também, a raiz da fé. Quando somos guiados pela reverência, somos dignos da fé. A fé é uma resposta a Deus que não pode ser copiada, pois original em cada alma, para quem vive na consciência do inefável. A divindade das ações são aquelas que são comandadas pela Torá: a prática dos mitsvot, que vão atualizar no homem a imagem divina. A Torá é um modo de vida e, para Heschel, é necessário o esforço de aproximar cada judeu do estudo da Torá para que a Aliança se restabeleça entre Deus e Israel. Fazer o que Deus manda é o primeiro passo para reencontrar o caminho da fé no Deus vivo. A observância faz o sujeito sair de si mesmo, da obsessão de realizar a própria vontade, as próprias satisfações e necessidades individuais. A observância é, ao mesmo tempo, uma resposta a Deus, um modo de deixá-lo agir na história humana. Pelas obras humanas, Deus transcendente faz sentir sua presença na imanência, e o humano torna-se parceiro de Deus na grande obra da redenção. O homem é redimido pelo Amor; o amor de Deus revela-se na responsabilidade pelo outro. “Viver é o que o homem faz como tempo de Deus, o que o homem faz com o mundo de Deus.” 
O propósito das mitsvot é aprimorar o homem, dado que a alma é aprimorada pelos atos sagrados. Cumprir uma mitsvot é desfazer-se de si mesmo; é ir além de nossas próprias necessidades e iluminar o mundo. O propósito está vinculado à parceria entre homem e Deus, isto é, ao cumprir uma mitsvot, desempenhamos uma ação, cuja iluminação emana de Deus. Os mitsvot são a chave para abrir os portões da fé — nas palavras do próprio Heschel, pontos de espiritualidade, de eternidade no fluxo da temporalidade. Para Heschel, o tempo é a única coisa que possuímos e, portanto, característica essencial da existência. Mas é a coisa mais frágil que existe, pois é uma sucessão de instantes perecíveis o que nos leva, paradoxalmente, a uma certeza: nunca possuímos a única coisa que temos. Heschel nos lembra que o tempo precisa de categorias para ser pensado, dado que o tempo em si não oferece permanência. Duas diferentes categorias são citadas por ele: processo e evento — temporalidade e eternidade. Os processos são relações causais de ocorrências previsíveis, seguem uma regra. Os eventos são acontecimentos singulares que dizem respeito à relação de Deus com o ser humano, que se dá no presente. Visto como temporalidade, a essência do tempo é separação, isolamento, pois dois instantes nunca podem estar juntos, nem podem ser contemporâneos. Como eternidade é comunhão, união, é onde podemos adorar, amar, é quando um dia vale para toda a eternidade.

IHU On-Line - Em que medida fé e piedade são categorias diferentes em Heschel?
Maria Cristina Guarnieri - A piedade é um modo de vida, uma orientação do interior humano para a santidade. Piedade é fé traduzida em vida. O homem piedoso é aquele que é determinado por sua fé, que tem seu coração aberto e atraído para Deus, ele se deixa ser penetrado e atuado pelo sagrado. A piedade é a realização e a verificação do transcendente na vida humana, situa-se no subjetivo e nasce da iniciativa humana. É precedida pela fé, um esforço para colocar em prática as ideias da fé, realizar a fé, buscando a vontade de Deus. Piedade é a fidelidade à vontade de Deus, o que faz do homem piedoso aquele que sabe que seu destino é servir, por livre escolha, pois esse é o sentido de sua existência, que reconcilia o passageiro com o permanente, a temporalidade com a eternidade. O que resulta na visão de que morrer é um privilégio justamente porque este ato é a reciprocidade por parte do ser humano do presente recebido por Deus: a vida.

IHU On-Line - E como podemos compreender a consciência do inefável e da alteridade nesse pensamento?
Maria Cristina Guarnieri - O inefável, segundo Heschel, não é criado por nós, é encontrado por experiência própria. Sem a ideia de inefável seria impossível explicar a diversidade humana como tentativa de representar o mundo. O inefável é considerado como universal que só pode ser indicado, e é essa indicação que é passível de comunicação. O inefável não pode ser definido, dele só podemos dizer aquilo que ele não representa. Porém, enquanto conteúdo, aponta para algo que tem sentido, mas que não pode ser expresso, apenas experimentado, geralmente a partir do temor ou da reverência. A religião começa com o sentido do inefável, que começa com a interrogação de Deus e a resposta de cada ser humano. O divino, segundo Heschel, é identificado como uma mensagem que revela unidade onde vemos diversidade, paz onde nos envolve a discórdia. Deus significa que ninguém está só, que a essência do temporal é o eterno, que o inefável é um sentido que nos eleva a um plano em que a presença de Deus pode ser desafiada, mas não negada, onde a única atitude é a fé, onde Deus significa união de todos os seres em santa alteridade.

IHU On-Line - Qual é a contribuição desse pensador para uma cultura da paz e da espiritualidade?
Maria Cristina Guarnieri - A parceria com Deus é uma tese hescheliana para assinalar um ponto fundamental: que a vida é um presente, que temos responsabilidade de sermos dignos de ser lembrados por Deus. A maior ameaça que estamos sofrendo hoje, segundo o autor, é a insensibilidade diante do sofrimento do outro. “Tudo que nos resta é ficar horrorizados com a perda do nosso senso de horror”. E talvez esse seja o alerta mais importante para a vigília constante de nossas ações, principalmente quando nos dirigimos ao outro humano, que também foi feito como nós, à imagem de Deus. Pelas obras humanas, Deus transcendente faz sentir sua presença na imanência, e o humano torna-se parceiro de Deus na grande obra da redenção. O homem é redimido pelo Amor; o amor de Deus revela-se na responsabilidade pelo outro. A vida é uma parceria entre Deus e o Homem na luta pela justiça, pela paz e pela santidade. É por necessitar do ser humano que Deus fez um pacto com ele por todos os tempos, um vínculo que une Deus e ser humano e no qual ambos estão comprometidos. Na realidade, a humanidade é dependente do como cada um de nós trata o outro. Os direitos e deveres humanos não se sustentam apenas com uma ideia ou uma declaração; é necessário que o ser humano faça de si mesmo um parceiro de Deus, parceria esta que se manifesta em suas ações.

IHU On-Line - Em que aspectos a religião e a consciência religiosa se dão no encontro da pergunta de Deus com a resposta do homem?
Maria Cristina Guarnieri - Para Heschel, o objetivo do ser humano religioso é tornar-se digno de ser lembrado por Deus, de ser conhecido por Ele. Deus é uma suposição ontológica para Heschel, não sendo possível haver um pensamento sobre Deus sem a premissa da realidade da existência de Deus. O ser humano em sua singularidade é tomado a partir da ideia de milagre e mistério, onde toda a existência é uma dádiva e uma dívida, pois é nesta consciência que percebemos que algo é exigido de nós: “somos exigidos a admirar, a respeitar, a pensar e a viver de um modo que seja compatível com a grandeza e o mistério da vida” (Deus em busca do homem). A existência é um mistério. E o mistério é compreendido pelo autor como categoria de pensamento, que pressupõe a presença de Deus e um meio de perceber o mundo. O mistério não serve para a mente especuladora, mas sim para que sejamos confrontados constantemente por ele e, ao mesmo tempo, para que sejamos indagados sobre as nossas ações. Religião, para Heschel, é uma resposta ao mistério; e a fé, a certeza de que há um sentido além do mistério. A religião para Heschel, portanto, seria uma resposta para as principais questões humanas. A crise, segundo o autor, se instala justamente quando desqualificamos estas questões e, por isso, a religião perde sua importância. A tarefa de uma filosofia da religião seria, nesse sentido, redescobrir as questões para as quais a religião poderia ser uma resposta, aprofundando a investigação em relação à consciência humana, aos ensinamentos, à deliberação das tradições religiosas e, principalmente, contribuir para uma metaética: uma profunda reflexão sobre nossos feitos. Para ele, apenas por sua vontade, o ser humano pode se tornar o mais destrutivo dos seres; em suas palavras: “o nascimento de uma criança é um mistério; matar milhões de pessoas é, apenas, uma questão de destreza e perícia”.

IHU On-Line - Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado?
Maria Cristina Guarnieri - Apenas que faz parte da condição humana a presença da ambiguidade, ou como fala Heschel, de viver em polaridades. A polaridade imagem-pó revela a natureza profunda do homem: ele é formado da matéria mais baixa, porém, conforme a imagem mais elevada. Para Heschel, devemos amar o ser humano porque este foi feito à imagem de Deus. Isso significa que cada ser humano deve considerar a si próprio muito precioso para ser desperdiçado pelo pecado. Preciosidade é um conceito que caracteriza a dignidade da condição humana. Para Heschel, ninguém é substituível, o que está relacionado com outro conceito — a singularidade, que diz que todo ser é original, único e sempre uma nova possibilidade. Para Heschel, ser “criado à semelhança de Deus” é um segredo divino, ao passo que “criado do pó” refere-se ao diálogo entre Deus e o ser humano. Quando Deus criou o ser humano, Ele o fez à sua semelhança, o que, segundo a tradição judaica, é uma afirmação fundamental sobre a natureza e o significado do homem. O ser humano, ao ser uma imagem de Deus, torna-se o lugar da lembrança de Deus: seu significado e sua missão.

Via internet

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Brasil oferece muitos retiros para as pessoas que querem pular o carnaval com estilo cristão



Lista de retiros que vão acontecer por todo o Brasil
Por Redacao
BRASíLIA, 21 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Há poucos dias do carnaval, a Igreja no Brasil, por meio das suas dioceses, movimentos e comunidades oferece várias opções para que os cristãos aproveitem os dias de folga para louvar a Deus e participar de retiros espirituais.
Confira abaixo, a lista que apareceu hoje no site dos Jovens Conectados, da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB.
***
BAHIA

Ubaíra
Acampa da Alegria da Comunidade O Coração Adorador, de 28/02 a 04/03
+ informações: (71) 9102-1174 (Diogo)/ 9166-3927 (Ene) / 8632-0110 (Geórgia)

CEARÁ

Bela Cruz
Retiro da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Bela Cruz e Comunidade Católica Aliança com Maria
+ informações: i88) 9962 9575 (falar com Gisele) ou pelo email giselesilveira_bc@hotmail.com


Cariré
Paróquia de Santo Antônio (Diocese de Sobral) e Comunidade Católica Shalom promovem o “Renascer 2014″, de 1º a 04/03 – Local: Escola Marieta Cal´s


RCC Ceará
Encontro de Carnaval “Renovar”: em todas as comunidades ou grupos de oração da Renovação Carismática Católica nas mais de 121 paróquias de Fortaleza e cidades do interior do Estado do Ceará.
+ informações: 85 8775.6470 - www.rccceara.org – comunicadoresceara@gmail.com

DISTRITO FEDERAL

Samambaia
VI LOUVAR-TE, encontro de carnaval realizado pelo Movimento Missionário Eis-me Aqui (Paróquia Nossa Senhora das Graças), de 1º a 04/03
+ informações: página Facebook M. M. Eis-me Aqui / telefones (61) 9343-6179 | 3359-2010
MINAS GERAIS


Ituiutaba
Acampamento de Carnaval Curados Pelo Amor, de 1º a 04/03
Tema: “Buscai as coisas do Alto” (Col 3,1)
+ informações: (34) 96681154/9999 7792

PARANÁ

Jacarezinho
RCC promoverá 15 encontros de carnaval simultaneamente
+ informações e inscrições: www.encontrodecarnaval.com.br


Mandaguari
XXI Retiro de Carnaval do Grupo Agua Viva (G.A.V.), de 1º a 04/03
Local: Colégio Estadual José Luiz Gori (Rua Juscelino Kubitscheck, s/n – Centro)


Maringá
Retiro RCC, de 28/02 a 02/03
Pregador: Ricardo Alves Nascimento (Diocese de Foz do Iguaçu, ex-coordenador nacional do Ministério Jovem; co-fundador do Jesus no Litoral)
Local: Seminário Diocesano de Maringá
+ informações : RCC Maringá (44)3026-8811


Paranaguá
Retiros da RCC
Acampamento de Carnaval na Quintilha, dias 1º e 2/03
Cristoval, na Paróquia São João Batista, dia 04/03


Marialva
Retiro da RCC, Grupo Ágape, de 28/02 a 02/03
Local: Chácara Nossa Senhora do Bom Conselho

RIO DE JANEIRO

Itaguaí
Retiro de Jovens da Cristoteca – dia 1º/03
Lcoal: Santa Cruz, zona oeste do Rio. Haverá bandas, momento de descrontração, baile a fantasia, além de momento de espiritualidade e palestras com missionários da Comunidade Canção Nova.
+ informações: (21)2688-1200

Rio de Janeiro

Retiro de Carnaval Fonte de Vida – Tema: “Eis que já fiz obra nova, não a vedes? ( Is 43,19)”, de 28/02 a 04/03
+ informações: eventioz.com.br\fontedevida

SANTA CATARINA

Itajaí
Retiro da RCC,  de 1º a 04/03
+ informações: contato@rccitajai.com.br


Criciúma
Retiro Vinde e Vede, de 1º a 04/03
+informações: www.rcccriciuma.org.br



SÃO PAULO


Santo Amaro
Maranathá de Carnaval, de 1º a 04/03 – Local: Casa de Itu


São Paulo
Reviver 2014, de 2 a 04/03 – Local: Mosteiro São Bento
+ informações:
fanpage shalomsaopaulo
Tel 11 3853-1782 (após as 14h)


Tatuí
5º Retiro de Carnaval – Grupo de jovens JEANS, de 1º a 05/03 – Local: Chácara Santo Expedito, Tatuí-SP
Contato:
99792-9360 Guilherme

TOCANTINS

Palmas
Retiro da Comunidade Doce Mãe de Deus (DMD)
+ informações: (63) 3224-1407/ 3366-1714

"O melhor que podemos dar aos nossos filhos são irmãos", diz mãe de 18 filhos



Rosa Pich apresenta hoje, na cidade de Pamplona, Espanha, o seu livro: "Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos?"
Por Thácio Lincon Soares de Siqueira
ROMA, 21 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - É cada vez mais difícil ver uma família com mais de dois ou três filhos... agora, imaginar uma com dezoito é algo que supera até os contos de fadas ou os nossos avós.
Pois bem, hoje, Rosa Pich está apresentando na cidade de Pamplona, na Espanha, o seu livro: “Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos?”
“É um livro muito prático para católicos, protestantes, budistas... Está pensado para uma família com um ou dois filhos, porém escrito a partir da experiência de ter 18 e de ter vindo de uma família numerosa”, diz Pich em entrevista concedida ao jornal Diário de Navarra.
Rosa Pich e seu marido Chema Postigo, de 48 e 53 anos respectivamente têm 18 filhos. Ela vem de uma família com 15 irmãos e ele de uma com 14. Casaram-se quando ela cumpriu 23 anos e ele 28.
Apesar da contrariedade dos médicos seguiram adiante. Disse rosa que “Três dos nossos filhos morreram com doenças do coração severas e o médico nos disse: ‘Não tenham mais filhos’.
Pensando na educação que queriam oferecer aos seus filhos Pich afirmou que “o melhor que podemos dar aos nossos filhos são irmãos”.
Alimentação e ajuda
Como alimentar um exército tão grande? “Não comemos só frango”, já que, como afirmou a mãe, dois frangos são suficientes para toda a família. “Primeiramente preparamos um quilo de arroz ou espaguete, que custa entre 0,80 e 0,90 centavos e enche muito. Somos de comer muito macarrão. Os meus filhos são esportistas e comilões. Além do mais, não faz falta comer tanta carne. E acompanhamos tudo com pão”. Uma média de 10 barras de pão por dia, aproveitando o desconto de 0,20 centavos que uma padaria oferece para a família.
Recebem alguma ajuda do Estado? “A única é da Renfe. O Estado tem que se mexer. É necessário incentivar a natalidade, porque nos transformaremos em um país de velhos. O problema não é a falta de comida, porque se desperdiça. O problema é que está mal distribuída”.
Ter filhos é ser feliz
Rosa comentou que o pior não é ter filhos aos 40, mas ficar só nessa idade. “Ter filhos é ser muito feliz”, disse. “Parece-me que é preciso aprender que é possível viver com muito pouco. O importante – destacou Pich – e o que a cada dia como mãe tento ensinar aos filhos, é que é preciso dar-se aos demais e desde muito pequeno. Na rua vemos muita gente triste e é por não pensar nos demais”.
Obviamente que uma família tão numerosa não é um convento de monjas. Diz Rosa Pich que “Na minha casa existem momentos de caos, caos. Um precisa cortar o cabelo, outro aconteceu algo na escola... Mas é preciso buscar um momento para si mesmo. As vezes digo: ‘Mamãe está saindo’. Fecho a porta e dou uma volta no quarteirão. Também, depois de comer e jantar, temos um momento de conversa e depois cada um pega seu livro”.
Concluindo a entrevista ao Diario de Navarra Pich quis deixar uma palavra aos seus pais: “Obrigado, obrigado, obrigado.  Ser uma família numerosa implica muitas renúncias e eles me deram tudo e sempre com alegria. Mãezinha, lembro-me que eu lhe perguntava: e quando você vai descansar? E me respondia: “na outra vida”.

Caminhar contra a correnteza do egoísmo



Reflexões de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 21 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Muitas vezes temos diante de nossos olhos bulas de remédios, outras são as longas orientações anexas aos muitos aparelhos eletrônicos. Nem sempre lemos tudo isso, ainda que saibamos o quanto são úteis para nossa vida. Os eventuais efeitos secundários de medicamentos usados indevidamente podem trazer consequências graves, e o desconhecimento de possibilidades oferecidas pelos recursos tecnológicos limita o pleno aproveitamento dos mesmos. Quanto à saúde não são supérfluas ou indiferentes às prescrições constantes nas receitas médicas.
E a vida cristã comporta receitas? É possível encontrar um tipo de manual, com o qual caminhar com mais segurança na estrada da perfeição cristã? O Senhor põe à nossa disposição prescrições destinadas à nossa saúde espiritual? Para responder a esta pergunta, é bom lembrar-nos que, ao criar-nos com o precioso dom da liberdade, Deus quis assentar-se conosco à mesa da vida (Cf. Ap 3,20), para que acolhamos seu convite e abramos a porta do coração. Como somos obra prima de sua criação, é claro que Ele oferece o que existe de melhor para os que são feitos filhos e filhas. O ponto de partida para a viagem da vida é que Deus nos leva a sério e nos fez livres, para sermos felizes, como Deus é feliz.
O Catecismo da Igreja Católica começa com a feliz constatação de que o ser humano é “capaz de Deus” (Cf.. números 27-35). De fato, “Deus não cessa de atrair o homem para si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso”. Através dos múltiplos sinais, começando pela sede de infinito existente no coração humano, o Senhor atrai para perto de si os homens e mulheres de todos os tempos, o que se torna fonte de alegria para todos. Vale a pena conhecer a busca incessante existente no coração das pessoas inquietas, que querem saber mais, conhecer, descobrir estradas novas!
Quando a Sagrada Escritura relata a entrega dos mandamentos ao Povo de Deus (Lv 19,1-2.17-18), inclui um convite provocante: “O Senhor disse a Moisés: Dirás a toda a assembleia de Israel o seguinte: ‘sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”.. Quando a Igreja se prepara para a canonização de dois Papas de nosso tempo, João XXIII e João Paulo II, faz muito bem saber que é possível percorrer o caminho da santidade. Mais ainda, é bom saber que é o melhor para todos. Não fomos feitos para chafurdar-nos na lama do pecado e do egoísmo, mas para a felicidade, a comunhão com Deus e uns com os outros. São Paulo (Cf. 1 Cor 3,16-23) usa uma feliz expressão, com a qual se identifica a presença contínua de Deus em nossa vida: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” Não dá para fugir! Como Deus não tem duas palavras, Ele está sempre perto de nós e, de sua parte, vai sempre insistir em que respondamos ao seu amor. Primeiro item de nossa “receita”: é possível caminhar na direção da perfeição e esta se chama santidade!
Para alcançá-la, não se trata de fazer um caminho de heroísmo individual, mas de guardar a Palavra de Deus. De fato, é perfeito o amor de Deus em quem guarda sua palavra (Cf. 1Jo 2,5). Manter um diálogo constante com Deus, escutar sua Palavra que se encontra na Escritura e sua voz presente no grande Livro que é a vida! Para ser santos, antenas do coração e da inteligência ligadas nos grandes sinais de Deus.
E a Palavra do Evangelho (Mt 5,38-48), no Sermão da Montanha, desdobra um verdadeiro mapa da estrada da santidade, com itens extremamente práticos. Trata-se de seguir as orientações! Ao encontrar-nos em situações desafiadoras, não resistir ao mau, oferecer a outra face, ou a túnica, quem sabe mais mil passos, ou não fugir de quem pede dinheiro emprestado, amar os inimigos, fazer o bem aos que nos odeiam, orar pelos que nos perseguem. É natural nossa reação: seremos inativos ou tolos diante de quem nos agride? Trata-se, sim, de acreditar na força da não-violência, escolher os verdadeiros caminhos alternativos, com os quais se desmonta a trama da maldade. A paciência diante das agressões, a opção pela escuta dos que pensam de modo diferente, enxergar o lado das outras pessoas nas questões mais delicadas, exige muito mais força e coragem do que quebrar e destruir tudo que estiver à nossa volta.
Jesus sabia muito bem quais seriam as reações ao seu discurso e que estas ressoariam através dos séculos no interior das pessoas. Por isso mesmo, ofereceu o modelo para este novo modo de encarar a vida. Trata-se de olhar para o Pai do Céu, e basta ver o sol ou a chuva, que servem a bons e maus, justos e injustos! Estupenda e desafiadora simplicidade! Pagar o mal com o mal não é novidade. É fácil! “Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?” (Mt 5, 47). Revolucionário é trazer para a terra o modo de viver que é próprio de Deus. Perfeição é uma ação do próprio Deus no coração do discípulo. Maior a docilidade, mais o Espírito Santo poderá agir em nós.
A proposta do Evangelho é de grande atualidade, pois nos possibilita criar, num mundo agressivo e violento, bolsões de vida mais digna e respeitosa. As famílias e as comunidades cristãs podem começar a ser diferentes. O exercício da gratuidade no relacionamento, a capacidade de gastar tempo para ouvir as pessoas, o cultivo de valores, como a simplicidade no trato ou a civilidade de novo cultivada. De forma muito prática, os cristãos exercitarão e ajudarão muitas outras pessoas a descobrirem que na vida social não se pode apenas e tão somente exigir direitos, mas há deveres a serem cumpridos e com os quais construímos a civilização. Se não nos cuidarmos, há um risco de verdadeira barbárie bem perto de nós, mas se começarmos a caminhar contra a correnteza do egoísmo, a mudança já começou, e para melhor.
Basta olhar ao nosso redor. Pode começar com o cumprimento mais polido aos vizinhos, para alcançar o cuidado dos estudantes com as carteiras escolares, ou as lixeiras conservadas e utilizadas em nossos espaços públicos, a superação da agressividade no trânsito e daí por diante!
A casa que é a Igreja será o lugar da formação e do intercâmbio de experiências, onde as pessoas são chamadas a compartilhar suas experiências de vida, alimentar-se do próprio Deus e rezar umas pelas outras. Como sabemos muito bem de nossas limitações, peçamos ao próprio Pai do Céu que nos ajude: “Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações”.