Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá - PA
Introdução
A eucaristia possui a centralidade, Jesus Cristo, corpo e sangue dele como alimento e bebida dados para as pessoas e para a humanidade. Ela é projeto de missão em direção aos outros. Estes pontos foram percebidos nos padres da Igreja, a centralidade em Cristo e a sua realização na comunidade cristã. A seguir dar-se-á a análise do período antecedente a Nicéia(325), uma vez que tal argumento foi bastante desenvolvido em toda a patrologia e patrística posteriores.
A eucaristia possui a centralidade, Jesus Cristo, corpo e sangue dele como alimento e bebida dados para as pessoas e para a humanidade. Ela é projeto de missão em direção aos outros. Estes pontos foram percebidos nos padres da Igreja, a centralidade em Cristo e a sua realização na comunidade cristã. A seguir dar-se-á a análise do período antecedente a Nicéia(325), uma vez que tal argumento foi bastante desenvolvido em toda a patrologia e patrística posteriores.
1. A eucaristia seja celebrada na unidade
O tempo apostólico nos padres da Igreja foi o período sucessivo à revelação, no qual os escritos refletiam a pregação apostólica. A eucaristia(Eucharístia), termo grego referente à ação de graças, designou a ceia cristã. Na comunidade primitiva a celebração eucarística e a partilha dos alimentos formavam um só conjunto de coisas de modo a chamar-se ágape, ceia fraternal. Ela também foi chamada de fractio panis, a fração do pão.
O tempo apostólico nos padres da Igreja foi o período sucessivo à revelação, no qual os escritos refletiam a pregação apostólica. A eucaristia(Eucharístia), termo grego referente à ação de graças, designou a ceia cristã. Na comunidade primitiva a celebração eucarística e a partilha dos alimentos formavam um só conjunto de coisas de modo a chamar-se ágape, ceia fraternal. Ela também foi chamada de fractio panis, a fração do pão.
Didaqué enfatizou a celebração, no dia
do Senhor, o domingo. Os fiéis se reuniam para partir o pão e para
agradecer os benefícios recebidos. A obra apresenta uma oração sobre o
pão partido e sobre o cálice com vinho. Ela previa uma oração de
agradecimento depois da eucaristia: “Nós te agradecemos, Pai santo, por
teu santo nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo
conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por meio do teu
servo Jesus. A ti a glória para sempre. Tu, Senhor Todo-Poderoso,
criaste todas as coisas por causa do teu nome, e deste aos homens o
prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém,
deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do
teu servo”.
Clemente, bispo de Roma de 92 até
100/101, suplicava a todos à unidade, ponto reforçado à ordem da
criação, como algo querido por Deus. Como há um só Deus, há um só
Cristo, também um só Espírito de graça, que foi derramado sobre nós, e
uma só vocação em Cristo. Clemente dizia que Deus ordenou as coisas em
sua memória; aos sacerdotes foram conferidos os ofícios litúrgicos,
entendidos na ligação da eucaristia.
No início do segundo século atuou o
bispo Inácio de Antioquia. Três dados importantes são colocados na sua
doutrina a respeito da eucaristia. Em primeiro lugar ele tem presente
uma conceituação precisa: Ela é louvor e súplica a Deus a qual exige fé e
caridade, permitindo encontrar o Cristo e a vivência da ágape, do amor
fraterno. Ela está ligada ao martírio, forma de seguimento a Cristo até
as últimas conseqüências. Em segundo lugar ela é presidida pelo bispo
sem o qual não existiriam batismo, nem ágape, nem eucaristia. Em
terceiro lugar, este bispo realçou os efeitos da eucaristia, cujo poder é
a destruição de Satanás porque as suas forças são vencidas e o seu
poder demolido. Ela leva à unidade porque há uma carne em Cristo Jesus e
um só cálice que nos unem no seu sangue.
Ainda no período apostólico houve a
Carta de Barnabé que falava do oitavo dia como o dia no qual Jesus
ressuscitou dos mortos e subiu aos céus. A obra realçava a celebração
eucarística, celebrada no domingo, primeiro dia da semana, como dia da
nova criação e por isto havia a necessidade de celebrá-lo com fé e amor.
2. A eucaristia ocupa um lugar central na comunidade cristã.
O período apologista teve presentes a eucaristia, como memória de Cristo Jesus na comunidade cristã. Justino de Roma, martirizado em 165, deu uma descrição importante da celebração dominical e da eucaristia, afirmando que no dia chamado “do sol”, os fiéis que moravam nas cidades ou nos campos, se reuniam, liam as Memórias dos Apóstolos, isto é, os evangelhos ou os escritos dos profetas. Em seguida, elevavam-se a Deus preces e depois se ofereciam pão, vinho e água e o presidente elevava até Deus tais oferendas e todos diziam “Amém”. Depois havia a distribuição e participação para cada um dos presentes dos alimentos consagrados e o seu envio aos ausentes através dos diáconos. Em segundo lugar, em Justino nós temos a teologia da eucaristia. Ele afirmava a respeito da eucaristia que os cristãos tomavam através da celebração não era um pão comum ou bebida ordinária, mas ela estava em ligação com Jesus Cristo, feito carne e sangue para a nossa salvação. Tal alimento sobre o qual era dita ação de graças e na qual houve uma transformação, o nosso corpo e sangue se nutrem, era a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado que viveu na Palestina.
O período apologista teve presentes a eucaristia, como memória de Cristo Jesus na comunidade cristã. Justino de Roma, martirizado em 165, deu uma descrição importante da celebração dominical e da eucaristia, afirmando que no dia chamado “do sol”, os fiéis que moravam nas cidades ou nos campos, se reuniam, liam as Memórias dos Apóstolos, isto é, os evangelhos ou os escritos dos profetas. Em seguida, elevavam-se a Deus preces e depois se ofereciam pão, vinho e água e o presidente elevava até Deus tais oferendas e todos diziam “Amém”. Depois havia a distribuição e participação para cada um dos presentes dos alimentos consagrados e o seu envio aos ausentes através dos diáconos. Em segundo lugar, em Justino nós temos a teologia da eucaristia. Ele afirmava a respeito da eucaristia que os cristãos tomavam através da celebração não era um pão comum ou bebida ordinária, mas ela estava em ligação com Jesus Cristo, feito carne e sangue para a nossa salvação. Tal alimento sobre o qual era dita ação de graças e na qual houve uma transformação, o nosso corpo e sangue se nutrem, era a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado que viveu na Palestina.
No final do segundo século surgiu a
figura de Irineu de Lião. Ele insistiu na sua doutrina que a eucaristia
ocupasse o centro da visão de mundo e da historia. Ele criticou os
gnósticos porque estes negavam a presença de Cristo na eucaristia e da
ressurreição da carne. Ele ressaltava a presença real do corpo e do
sangue de Cristo na eucaristia; assim as espécies do pão e do vinho não
são apenas salvos, mas salvadores, veículos da graça, porque neles está o
corpo e sangue de Cristo. A eucaristia é a celebração do amor
misericordioso de Deus; é o sacrifício da Nova Aliança dado de uma forma
integral. A eucaristia fortifica a carne humana. Assim é impossível
negar que a carne seja incapaz de receber o Dom de Deus que consiste na
vida eterna pelo fato de ser alimentado pelo corpo e sangue de Cristo.
A Tradição Apostólica de Hipólito de
Roma falava da comunhão dominical que o bispo distribuía o pão
consagrado a todo o povo com as próprias mãos de modo que os diáconos e
os presbíteros partiam-no. Este escrito também tinha presente a função
dos diáconos que ofereciam as oferendas do pão e do vinho ao bispo para
que este desse graças sobre os mesmos para tornarem-se o corpo e o
sangue de Cristo. O autor dizia que a eucaristia é alimento superior ao
maná no deserto e que impossibilita a morte eterna. Ele interpretava as
palavras do Senhor que afirma ser o pão descido do céu; os pais no
deserto comeram e morreram; ao invés quem come o pão do Senhor não verá a
morte para sempre.
3. A visão da eucaristia no terceiro século
Tertuliano, sendo um dos maiores teólogos e cristólogos do período pré-niceno, falou da eucaristia como sacramentum, o convívio, a Ceia do Senhor. O autor era convicto da presença real de Cristo na eucaristia porque se confrontou com os marcionitas os quais diziam que Cristo Jesus não tivesse morrido sobre a cruz. Dessa forma, se fosse assim, para Tertuliano, Cristo não estaria presente sobre os altares na comunhão.
Tertuliano, sendo um dos maiores teólogos e cristólogos do período pré-niceno, falou da eucaristia como sacramentum, o convívio, a Ceia do Senhor. O autor era convicto da presença real de Cristo na eucaristia porque se confrontou com os marcionitas os quais diziam que Cristo Jesus não tivesse morrido sobre a cruz. Dessa forma, se fosse assim, para Tertuliano, Cristo não estaria presente sobre os altares na comunhão.
Tertuliano diz que Cristo é o pão da
vida; aquele que desceu do céu. Assim Ele criticou todos aqueles que
ignoravam, sobretudo os judeus, o pão que vem lá de cima, prometido aos
seus fiéis, ligando-o à vida divina. Ele teve presente a assembléia
eucarística onde se realizava a eucaristia, a qual proporcionava a
reconciliação entre as pessoas. Quem comunga é chamado a viver o amor do
Senhor no meio das pessoas e da comunidade. A eucaristia foi instituída
pelo Senhor num momento de uma ceia e Ele o deu para todos, de modo que
nós o recebemos nas assembléias onde se louva a Deus e recebesse o dom
nas mãos daqueles que a presidem.
Tertuliano deu uma bonita descrição da
comunidade no norte africano. Nesta reforçava-se uma única fé,
disciplina e esperança solidária. Ali se rezava pela ordem das coisas, a
paz no mundo e as autoridades em cuja responsabilidade está o destino
das coisas. Os fiéis se encontravam para ler e comentar as Sagradas
Escrituras. Nas reuniões realizadas havia lugar também às exortações em
vista de uma melhor preparação da sagrada reunião, a qual também
apontava à eucaristia.
Este autor falava também da oração pelos
mortos que era feita na eucaristia. Referindo-se à viúva, diz que ela
rezava pela alma do marido, suplicando-lhe o repouso eterno, oferecendo
para ele o sacrifício eucarístico no reconhecimento da sua morte.
No terceiro século surgiu a figura de
Clemente Alexandrino o qual em primeiro lugar lia a oferta de
Melquisedech ao Senhor com pão e vinho, símbolo da eucaristia. Em
segundo lugar reconhecia a eucaristia como sacrifício da Nova Aliança,
sendo único pelo fato que ele aconteceu na cruz, e por isto ela é também
sacrifício único na igreja.
Ainda no terceiro século, Orígenes
valorizou o sacramento da eucaristia porque Cristo é o alimento das
pessoas, nutrimento de suas almas. Ele afirmava a presença do Senhor nas
espécies do pão e do vinho, em uma forma misteriosa. Ele tinha presente
o memorial no qual Cristo mandou que os seus discípulos o celebrassem
em seu nome, perpetuando desta forma a eucaristia na comunidade cristã.
Orígenes dizia que o vinho novo é dado
na eucaristia e também na realidade futura, onde todos participarão da
vida divina. As palavras de Cristo continham a promessa que os fiéis com
fome e sede serão saciados. Ele dizia que os cristãos tomam o sangue do
Senhor, aspecto que causava escândalo para os judeus que disseram: quem
pode comer a carne e beber o seu sangue? No entanto, o povo fiel ouve
tais coisas, abraça-as e segue as palavras daquele que disse: “Se não
comereis a minha carne e não bebereis o meu sangue não tereis a vida em
vós mesmos; porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue
verdadeiramente bebida”.
Já Cipriano, martirizado em 258,
associava a eucaristia com a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Os
seus sofrimentos estão presentes em todos aqueles que sofriam nos
cárceres. Dirigindo-se aos confessores ele dizia que todos, incluindo-se
ele próprio, encontravam-se na prisão; no entanto ele afirmava algo os
une sejam os que estão na liberdade, sejam os encarcerados; a oração na
comunidade onde também se celebrava o sacrifício da eucaristia. O
Espírito Santo desce para transformar as espécies do pão e do vinho em
corpo e sangue do Senhor Jesus. A eucaristia é sinal de unidade da
Igreja e de Cristo, de modo que fora da comunidade ela não pode se
realizar. Ele criticou aqueles que celebravam a eucaristia fora da
comunidade porque tal sacramento não espelha a unidade que deriva do
alto, a autoridade divina. O Senhor disse aos seus discípulos; “Eu e o
Pai somos um” e também: “E haverá um só rebanho e um só Pastor”.
Cipriano ligava a eucaristia junto com a
vida. Se o fiel aproxima-se de Cristo, é convidado a realizar algo em
favor dos pobres, como também ele não pode cometer ações abomináveis
contrárias ao espírito da unidade do sacramento da eucaristia. Assim
elimina-se o veneno da discórdia e da inveja no ânimo das pessoas. A
eucaristia é o alimento para viver o mandamento do amor de Deus no
mundo. Ela seja recebida em contexto de reconciliação para possibilitar
uma vida conforme o sentido da palavra do Senhor que exige de todos os
fiéis a conversão e o amor recíproco.
Por fim, neste período, houve a figura
de Dionísio de Alexandria, um importante bispo após a segunda metade do
século terceiro, trazendo um fato importante a respeito da eucaristia,
cuja narração é encontrada em História Eclesiástica de Eusébio de
Cesaréia . Na sua diocese (Alexandria) havia uma pessoa, chamada
Serapião, ancião fiel mas que se tornou lapso(caído), na perseguição do
Imperador Décio(249-251). Ele pedia perdão, mas ninguém lhe dava atenção
porque ele havia sacrificado. Ficando doente, permaneceu três dias sem
falar e estava inconsciente. No quarto dia, melhorou um pouco de modo
que disse ao neto para que fosse até o sacerdote a fim de que este lhe
fizesse uma visita. Logo em seguida perdeu de novo a voz. O menino foi
até o sacerdote; era noite, mas também este se encontrava doente. Como
ele tinha concedido o perdão dos pecados aos que lhe suplicavam,
sobretudo no momento da morte, o sacerdote, na impossibilidade de chegar
até ao ancião, entregou ao menino, um pedacinho do pão eucarístico,
dando-lhe a recomendação de molhá-lo e em seguida, colocá-lo na boca do
ancião. Estando já perto de casa, ao saber que o menino tinha consigo a
eucaristia, o ancião voltou a si de novo suplicando ao neto que fizesse
depressa o que o sacerdote havia ordenado para assim partir. O menino
colocou a eucaristia na água e logo em seguida, derramou na boca do
velho; este o ingeriu e imediatamente entregou o espírito ao Senhor.
Percebe-se neste relato que a eucaristia prepara as pessoas ao encontro
do Senhor na hora da morte.
Concluindo, este período que vai até a
primeira metade do quarto século(325), pelo Concilio de Nicéia, é
possível ver alguns pontos importantes a respeito da eucaristia: ela é o
memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo, recordando as
coisas que o Senhor fez na última ceia. Ela seja feita em união com a
Igreja e comunidades dos fiéis; ela é alimento para vida divina, a qual
prepara-nos à incorruptibilidade. Há uma manifestação de fé pela
presença real de Cristo na eucaristia; quem a recebe é impulsionado à
uma prática de vida feita em comunhão consigo mesmo, com os outros e com
Deus. A pessoa é chamada a fazer caridade sobretudo, com os mais
necessitados. Ela é alimento que possibilita o ser humano à superação
das tentações e por fim a eucaristia seja realizada com a presença de um
ministro designado pela Igreja: bispo e/ou presbítero.
Os ensinamentos que os padres elaboraram
a respeito da eucaristia sirvam para iluminar a nossa realidade para
que esta fonte da vida no seguimento a Cristo possibilite a comunhão de
todos com o Senhor Jesus, pão descido do céu para a nossa vida presente e
futura. Pela eucaristia sejamos discípulas, discípulos, missionárias e
missionários de Jesus Cristo na família, na comunidade e na sociedade.