sábado, 8 de novembro de 2014

A visão da eucaristia no período pré-niceno

 



Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá - PA

Introdução
A eucaristia possui a centralidade, Jesus Cristo, corpo e sangue dele como alimento e bebida dados para as pessoas e para a humanidade. Ela é projeto de missão em direção aos outros. Estes pontos foram percebidos nos padres da Igreja, a centralidade em Cristo e a sua realização na comunidade cristã. A seguir dar-se-á a análise do período antecedente a Nicéia(325), uma vez que tal argumento foi bastante desenvolvido em toda a patrologia e patrística posteriores.

1. A eucaristia seja celebrada na unidade
O tempo apostólico nos padres da Igreja foi o período sucessivo à revelação, no qual os escritos refletiam a pregação apostólica. A eucaristia(Eucharístia), termo grego referente à ação de graças, designou a ceia cristã. Na comunidade primitiva a celebração eucarística e a partilha dos alimentos formavam um só conjunto de coisas de modo a chamar-se ágape, ceia fraternal. Ela também foi chamada de fractio panis, a fração do pão.
Didaqué enfatizou a celebração, no dia do Senhor, o domingo. Os fiéis se reuniam para partir o pão e para agradecer os benefícios recebidos. A obra apresenta uma oração sobre o pão partido e sobre o cálice com vinho. Ela previa uma oração de agradecimento depois da eucaristia: “Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. Tu, Senhor Todo-Poderoso, criaste todas as coisas por causa do teu nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu servo”.
Clemente, bispo de Roma de 92 até 100/101, suplicava a todos à unidade, ponto reforçado à ordem da criação, como algo querido por Deus. Como há um só Deus, há um só Cristo, também um só Espírito de graça, que foi derramado sobre nós, e uma só vocação em Cristo. Clemente dizia que Deus ordenou as coisas em sua memória; aos sacerdotes foram conferidos os ofícios litúrgicos, entendidos na ligação da eucaristia.
No início do segundo século atuou o bispo Inácio de Antioquia. Três dados importantes são colocados na sua doutrina a respeito da eucaristia. Em primeiro lugar ele tem presente uma conceituação precisa: Ela é louvor e súplica a Deus a qual exige fé e caridade, permitindo encontrar o Cristo e a vivência da ágape, do amor fraterno. Ela está ligada ao martírio, forma de seguimento a Cristo até as últimas conseqüências. Em segundo lugar ela é presidida pelo bispo sem o qual não existiriam batismo, nem ágape, nem eucaristia. Em terceiro lugar, este bispo realçou os efeitos da eucaristia, cujo poder é a destruição de Satanás porque as suas forças são vencidas e o seu poder demolido. Ela leva à unidade porque há uma carne em Cristo Jesus e um só cálice que nos unem no seu sangue.
Ainda no período apostólico houve a Carta de Barnabé que falava do oitavo dia como o dia no qual Jesus ressuscitou dos mortos e subiu aos céus. A obra realçava a celebração eucarística, celebrada no domingo, primeiro dia da semana, como dia da nova criação e por isto havia a necessidade de celebrá-lo com fé e amor.
2. A eucaristia ocupa um lugar central na comunidade cristã.
O período apologista teve presentes a eucaristia, como memória de Cristo Jesus na comunidade cristã. Justino de Roma, martirizado em 165, deu uma descrição importante da celebração dominical e da eucaristia, afirmando que no dia chamado “do sol”, os fiéis que moravam nas cidades ou nos campos, se reuniam, liam as Memórias dos Apóstolos, isto é, os evangelhos ou os escritos dos profetas. Em seguida, elevavam-se a Deus preces e depois se ofereciam pão, vinho e água e o presidente elevava até Deus tais oferendas e todos diziam “Amém”. Depois havia a distribuição e participação para cada um dos presentes dos alimentos consagrados e o seu envio aos ausentes através dos diáconos. Em segundo lugar, em Justino nós temos a teologia da eucaristia. Ele afirmava a respeito da eucaristia que os cristãos tomavam através da celebração não era um pão comum ou bebida ordinária, mas ela estava em ligação com Jesus Cristo, feito carne e sangue para a nossa salvação. Tal alimento sobre o qual era dita ação de graças e na qual houve uma transformação, o nosso corpo e sangue se nutrem, era a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado que viveu na Palestina.
No final do segundo século surgiu a figura de Irineu de Lião. Ele insistiu na sua doutrina que a eucaristia ocupasse o centro da visão de mundo e da historia. Ele criticou os gnósticos porque estes negavam a presença de Cristo na eucaristia e da ressurreição da carne. Ele ressaltava a presença real do corpo e do sangue de Cristo na eucaristia; assim as espécies do pão e do vinho não são apenas salvos, mas salvadores, veículos da graça, porque neles está o corpo e sangue de Cristo. A eucaristia é a celebração do amor misericordioso de Deus; é o sacrifício da Nova Aliança dado de uma forma integral. A eucaristia fortifica a carne humana. Assim é impossível negar que a carne seja incapaz de receber o Dom de Deus que consiste na vida eterna pelo fato de ser alimentado pelo corpo e sangue de Cristo.
A Tradição Apostólica de Hipólito de Roma falava da comunhão dominical que o bispo distribuía o pão consagrado a todo o povo com as próprias mãos de modo que os diáconos e os presbíteros partiam-no. Este escrito também tinha presente a função dos diáconos que ofereciam as oferendas do pão e do vinho ao bispo para que este desse graças sobre os mesmos para tornarem-se o corpo e o sangue de Cristo. O autor dizia que a eucaristia é alimento superior ao maná no deserto e que impossibilita a morte eterna. Ele interpretava as palavras do Senhor que afirma ser o pão descido do céu; os pais no deserto comeram e morreram; ao invés quem come o pão do Senhor não verá a morte para sempre.
3. A visão da eucaristia no terceiro século
Tertuliano, sendo um dos maiores teólogos e cristólogos do período pré-niceno, falou da eucaristia como sacramentum, o convívio, a Ceia do Senhor. O autor era convicto da presença real de Cristo na eucaristia porque se confrontou com os marcionitas os quais diziam que Cristo Jesus não tivesse morrido sobre a cruz. Dessa forma, se fosse assim, para Tertuliano, Cristo não estaria presente sobre os altares na comunhão.
Tertuliano diz que Cristo é o pão da vida; aquele que desceu do céu. Assim Ele criticou todos aqueles que ignoravam, sobretudo os judeus, o pão que vem lá de cima, prometido aos seus fiéis, ligando-o à vida divina. Ele teve presente a assembléia eucarística onde se realizava a eucaristia, a qual proporcionava a reconciliação entre as pessoas. Quem comunga é chamado a viver o amor do Senhor no meio das pessoas e da comunidade. A eucaristia foi instituída pelo Senhor num momento de uma ceia e Ele o deu para todos, de modo que nós o recebemos nas assembléias onde se louva a Deus e recebesse o dom nas mãos daqueles que a presidem.
Tertuliano deu uma bonita descrição da comunidade no norte africano. Nesta reforçava-se uma única fé, disciplina e esperança solidária. Ali se rezava pela ordem das coisas, a paz no mundo e as autoridades em cuja responsabilidade está o destino das coisas. Os fiéis se encontravam para ler e comentar as Sagradas Escrituras. Nas reuniões realizadas havia lugar também às exortações em vista de uma melhor preparação da sagrada reunião, a qual também apontava à eucaristia.
Este autor falava também da oração pelos mortos que era feita na eucaristia. Referindo-se à viúva, diz que ela rezava pela alma do marido, suplicando-lhe o repouso eterno, oferecendo para ele o sacrifício eucarístico no reconhecimento da sua morte.
No terceiro século surgiu a figura de Clemente Alexandrino o qual em primeiro lugar lia a oferta de Melquisedech ao Senhor com pão e vinho, símbolo da eucaristia. Em segundo lugar reconhecia a eucaristia como sacrifício da Nova Aliança, sendo único pelo fato que ele aconteceu na cruz, e por isto ela é também sacrifício único na igreja.
Ainda no terceiro século, Orígenes valorizou o sacramento da eucaristia porque Cristo é o alimento das pessoas, nutrimento de suas almas. Ele afirmava a presença do Senhor nas espécies do pão e do vinho, em uma forma misteriosa. Ele tinha presente o memorial no qual Cristo mandou que os seus discípulos o celebrassem em seu nome, perpetuando desta forma a eucaristia na comunidade cristã.
Orígenes dizia que o vinho novo é dado na eucaristia e também na realidade futura, onde todos participarão da vida divina. As palavras de Cristo continham a promessa que os fiéis com fome e sede serão saciados. Ele dizia que os cristãos tomam o sangue do Senhor, aspecto que causava escândalo para os judeus que disseram: quem pode comer a carne e beber o seu sangue? No entanto, o povo fiel ouve tais coisas, abraça-as e segue as palavras daquele que disse: “Se não comereis a minha carne e não bebereis o meu sangue não tereis a vida em vós mesmos; porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue verdadeiramente bebida”.
Já Cipriano, martirizado em 258, associava a eucaristia com a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Os seus sofrimentos estão presentes em todos aqueles que sofriam nos cárceres. Dirigindo-se aos confessores ele dizia que todos, incluindo-se ele próprio, encontravam-se na prisão; no entanto ele afirmava algo os une sejam os que estão na liberdade, sejam os encarcerados; a oração na comunidade onde também se celebrava o sacrifício da eucaristia. O Espírito Santo desce para transformar as espécies do pão e do vinho em corpo e sangue do Senhor Jesus. A eucaristia é sinal de unidade da Igreja e de Cristo, de modo que fora da comunidade ela não pode se realizar. Ele criticou aqueles que celebravam a eucaristia fora da comunidade porque tal sacramento não espelha a unidade que deriva do alto, a autoridade divina. O Senhor disse aos seus discípulos; “Eu e o Pai somos um” e também: “E haverá um só rebanho e um só Pastor”.
Cipriano ligava a eucaristia junto com a vida. Se o fiel aproxima-se de Cristo, é convidado a realizar algo em favor dos pobres, como também ele não pode cometer ações abomináveis contrárias ao espírito da unidade do sacramento da eucaristia. Assim elimina-se o veneno da discórdia e da inveja no ânimo das pessoas. A eucaristia é o alimento para viver o mandamento do amor de Deus no mundo. Ela seja recebida em contexto de reconciliação para possibilitar uma vida conforme o sentido da palavra do Senhor que exige de todos os fiéis a conversão e o amor recíproco.
Por fim, neste período, houve a figura de Dionísio de Alexandria, um importante bispo após a segunda metade do século terceiro, trazendo um fato importante a respeito da eucaristia, cuja narração é encontrada em História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia . Na sua diocese (Alexandria) havia uma pessoa, chamada Serapião, ancião fiel mas que se tornou lapso(caído), na perseguição do Imperador Décio(249-251). Ele pedia perdão, mas ninguém lhe dava atenção porque ele havia sacrificado. Ficando doente, permaneceu três dias sem falar e estava inconsciente. No quarto dia, melhorou um pouco de modo que disse ao neto para que fosse até o sacerdote a fim de que este lhe fizesse uma visita. Logo em seguida perdeu de novo a voz. O menino foi até o sacerdote; era noite, mas também este se encontrava doente. Como ele tinha concedido o perdão dos pecados aos que lhe suplicavam, sobretudo no momento da morte, o sacerdote, na impossibilidade de chegar até ao ancião, entregou ao menino, um pedacinho do pão eucarístico, dando-lhe a recomendação de molhá-lo e em seguida, colocá-lo na boca do ancião. Estando já perto de casa, ao saber que o menino tinha consigo a eucaristia, o ancião voltou a si de novo suplicando ao neto que fizesse depressa o que o sacerdote havia ordenado para assim partir. O menino colocou a eucaristia na água e logo em seguida, derramou na boca do velho; este o ingeriu e imediatamente entregou o espírito ao Senhor. Percebe-se neste relato que a eucaristia prepara as pessoas ao encontro do Senhor na hora da morte.
Concluindo, este período que vai até a primeira metade do quarto século(325), pelo Concilio de Nicéia, é possível ver alguns pontos importantes a respeito da eucaristia: ela é o memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo, recordando as coisas que o Senhor fez na última ceia. Ela seja feita em união com a Igreja e comunidades dos fiéis; ela é alimento para vida divina, a qual prepara-nos à incorruptibilidade. Há uma manifestação de fé pela presença real de Cristo na eucaristia; quem a recebe é impulsionado à uma prática de vida feita em comunhão consigo mesmo, com os outros e com Deus. A pessoa é chamada a fazer caridade sobretudo, com os mais necessitados. Ela é alimento que possibilita o ser humano à superação das tentações e por fim a eucaristia seja realizada com a presença de um ministro designado pela Igreja: bispo e/ou presbítero.
Os ensinamentos que os padres elaboraram a respeito da eucaristia sirvam para iluminar a nossa realidade para que esta fonte da vida no seguimento a Cristo possibilite a comunhão de todos com o Senhor Jesus, pão descido do céu para a nossa vida presente e futura. Pela eucaristia sejamos discípulas, discípulos, missionárias e missionários de Jesus Cristo na família, na comunidade e na sociedade.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Alicerce da Igreja

 


 Dom José Alberto Moura, CSS

Arcebispo de Montes Claros (MG)


A igreja-templo deve ser usada para ajudar a Igreja-povo realizar sua missão, que se baseia no alicerce de Jesus Cristo. A conversão para segui-Lo é essencial na vida de quem quer viver sua fé nele. Usar do templo e do ser membro da Igreja, família de Cristo, devem levar a pessoa a realizar o projeto de Deus, sustentado na pessoa do Filho e em sua Palavra. O templo é o lugar da reunião dos seguidores do Mestre para realizar o culto e ter o alimento dos dons de Deus para dar suporte à vida de fé transformadora e libertadora de todo tipo de escravidão. Esta deve ser superada com a erradicação do egocentrismo, das injustiças, discriminações e exclusões. Fé sem ação conseqüente da mesma leva a pessoa ao intimismo religioso, que faz da religião um comércio ou troca com Deus. Leva a pessoa a buscar para si benesses, curas e soluções de problemas na ordem econômica, de cunho subjetivo e social, sem colocar em prática os preceitos de Deus, com um compromisso de promoção da justiça e do bem comum.
O profeta Ezequiel fala do templo donde se originam águas fertilizantes da vida. Elas provêm da graça divina, como verdadeira Igreja encarregada de abastecer o povo com a riqueza de dons, para dar consistência de realização da vida para todos (Cf. Ezequiel 47,1-12). De fato, a Igreja instituída por Jesus, é encarregada de oferecer meios da graça divina para ajudar a humanidade a ter força para a realização de sua história. Nesta, cada ser humano terá consistência e alimento sobrenatural para conseguir sua plena realização. Sem a graça de Deus nenhum ser humano é capaz de se realizar plenamente, pois, tem sede de amor infinito, que só o Criador pode oferecer. Ele o faz como quer e encarregou sua Igreja de indicar o caminho para todos: “Vós sois luz do mundo” (Mateus 5,14).
Paulo lembra que o alicerce da Igreja é Jesus Cristo: “Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está aí, já colocado: Jesus Cristo” (1 Coríntios 3,11). Sua Igreja só tem sentido na efetivação da missão a ela outorgada pelo Mestre. Assim como o próprio Senhor expulsou os vendedores do templo de Jerusalém (Cf. João 2,13-22), a Igreja, povo de Deus, deve esvaziar-se de tudo o que a tira de sua missão de santificar, promover a vida em plenitude, expulsar de si todo tipo de discórdia, interesses mesquinhos, orgulho, triunfalismo, hegemonia, uso indevido do que é material, apego ao relativo como sendo absoluto, autoritarismo e toda forma de opressão.
Como é bela a missão da Igreja de Cristo, que humaniza, ergue os caídos, dá esperança, promove os excluídos, dialoga, faz ver a verdade e erradica o erro, incentiva os carismas, potencializa o pavio ainda fumegante do que existe de bom na pessoa humana, reconhece os valores dos outros, sabe dar vez, promove a fraternidade, a justiça, o bem da família, da vida e de toda a sociedade!
Ser Igreja de Cristo leva a pessoa a assumir a missão de encantar, de mostrar que seguir o Mestre é o melhor bem para todos e faz a sociedade perceber o valor de construir a história com verdadeiro amor, zelo e ajuda de cada um para o bem de todos. É cuidar do grande navio da história, que deve ser de benefício para todos. Seu bem estar é de responsabilidade de cada um.

Jesus é o novo templo



 Dom Eurico dos Santos Veloso

Por ocasião da festa de Páscoa, a cidade de Jerusalém se enchia de peregrinos. Páscoa era, para os judeus, a festa principal, pois nela o povo recordava a libertação da escravidão do Egito. No tempo de Jesus, o povo ia a Jerusalém para essa celebração festiva, Contudo, a Páscoa deixara de ser uma festa popular e de vida por ter sido manipulada pelas lideranças religiosas, econômicas e políticas daquele tempo. O povo vai a Jerusalém para celebrar a libertação, mas o que aí encontra é a maior exploração.

Pior ainda: parece que Deus está de acordo com tudo isso. A Páscoa não é mais a festa do povo que celebra e revive a libertação. Mas a festa das lideranças exploradoras, que se aproveitam do momento para oprimir ainda mais o povo.

Jesus não concorda com essa situação.
São João diz: “No templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados. Então fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas.”
Três semanas antes da Páscoa, os arredores do templo se tornavam um grande mercado. O sumo sacerdote enriquecia com o aluguel dos espaços para as barracas dos vendedores e cambistas. Os animais criados nos latifúndios eram conduzidos a Jerusalém e vendidos a preços que, nessas ocasiões, aumentavam assustadoramente, sobretudo os pombos, ave que os pobres compravam para oferecer em sacrifício.
Todo judeu maior de idade devia ir a essa festa e pagar os impostos previstos para o templo.
Expulsando vendedores e animais do templo, Jesus declara inválidos todos esses sacrifícios, bem como o culto que se sustenta graças à exploração. Os que se sentem lesados de Jesus acabar com o comércio no templo querem intimidar: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Jesus responde dizendo que sua morte e ressurreição serão o grande sinal: “Destruam esse templo e, em três dias eu o levantarei.” Ele não só aboliu os sacrifícios do templo de Jerusalém; Ele decretou que o fim do templo já chegou. É através do seu corpo, morto e ressuscitado, que o povo se encontra com Deus para celebrar a Páscoa da libertação. A essa altura, o Evangelho de João já apontas para os responsáveis pela morte de Jesus.

A acusação de Jesus deixa implícito que as lideranças daquele tempo estavam envolvidas com um sistema que gera a morte do povo.

A Década da Energia Sustentável

 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Iniciamos neste ano de 2014, a década da energia sustentável aprovada pela ONU, para repensar o caminho e a matriz energética hegemônica no mundo. Não há como negar que a energia ainda está ligada a economia do carbono, dos combustíveis fósseis e aos megaprojetos de nuclearização atômica e de repressamento da água, sendo fator de agressão ao meio ambiente e de aumento do aquecimento global.

É necessário continuar dando passos que revertam esta situação, com a participação de todos os povos e multidões afetadas por esta política energética predatória: atingidos pelas barragens, povos das florestas, pescadores, ribeirinhos, nações indígenas e populações tradicionais. Torna-se necessário investir maciçamente nas energias renováveis e alternativas com a adoção de tecnologias limpas e não agressivas, especialmente no Brasil que tem uma oferta abundante de energia solar, eólica e de biomassa.
Por outra parte devemos questionar como fez em Brasília nos dias 7 a10 de agosto o FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO ENERGIA para quê, para quem e como? Neste mês em Porto Alegre nos dias 5 a 6, aconteceu o 4º FAS (Fórum Adeceano de Sustentabilidade), reunindo empresários e gestores públicos junto com as Igrejas Cristãs, para refletir e propor transformações pontoais que assinalem mudanças e rumos diferentes na produção e distribuição de energia.
A política energética atual tem um perfil e um destino eletro intensivo e está focada em dar suporte a exploração e industrialização de minérios. Falta controle social e democratização nas decisões que inspiram e definem a política energética mundial e nacional. Para nós cristãos o Deus revelado na Sarça Ardente (Ex. 3,2), isto éum arbusto que queimava mas não se consumia, sugere também o cuidado da Providência Amorosa divina, de suprir com energia a terra sem agredi-la.
Queremos uma energia para a vida, sustentável, que beneficie a todas aspessoas e criaturas, uma política energética descentralizada, com a intervenção dos povos e comunidades, para que a luz brilhe para todos/as. Que o Deus da luz e da vida abençoe e inspire estas iniciativas por uma energia sustentável e benfazeja. Deus seja louvado!


domingo, 2 de novembro de 2014

"Jesus nos acorda do sono da morte"



 O Papa explicou que "a alegria e as lágrimas encontram em Jesus uma síntese que é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança"
Por Redacao
ROMA, 02 de Novembro de 2014 (Zenit.org) - Da janela de seu escritório no Palácio Apostólico, na celebração dos fiéis defuntos, o Papa rezou o Angelus com uma multidão presente na Praça de São Pedro.
Dirigindo-se aos fiéis e peregrinos de todo o mundo, que o saudava com um longo aplauso, o pontífice argentino disse:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Ontem celebramos a Solenidade de Todos os Santos e hoje a liturgia nos convida a celebrar os fiéis defuntos. Estas duas festas estão intimamente relacionadas entre si, assim como a alegria e as lágrimas encontram em Jesus Cristo uma síntese que é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança. Por um lado, de fato, a Igreja, peregrina na história, se alegra com a intercessão dos santos e beatos que a sustentam a missão de anunciar o Evangelho, por outro lado ela, como Jesus, compartilha as lágrimas daqueles que sofrem a separação de seus entes queridos e, como Ele e com Ele, ele o seu agradecimento ao Pai que nos libertou do domínio do pecado e da morte.
Entre ontem e hoje muitos visitam o cemitério, que, como diz a palavra, é o "lugar de descanso", à espera do despertar o final. É belo pensar que o próprio Jesus vai nos despertar. O próprio Jesus que revelou que a morte do corpo é como um sono do qual ele nos desperta. Com esta fé nos apoiamos - inclusive espiritualmente—diante dos túmulos de nossos entes queridos, daqueles que nos amaram e nos fizeram algum bem. Mas hoje somos chamados a recordar a todos, inclusive aqueles que ninguém se lembra. Recordemos as vítimas da guerra e da violência; muitos "pequenos do mundo" esmagados pela fome e pela miséria; recordemos os anônimos que descansam no ossuário comum. Recordemos nossos irmãos e irmãs assassinados por serem cristãos; e aqueles que sacrificaram a vida para servir aos outros. Confiemos ao Senhor especialmente aqueles que nos deixaram neste último ano.
 A tradição da Igreja sempre exortou os fiéis a rezarem pelos defuntos, em particular, oferecendo a Celebração Eucarística por eles: esta é a melhor ajuda espiritual que podemos dar às almas, especialmente às mais abandonadas. O fundamento da oração de sufrágio está na comunhão do Corpo Místico. Como reitera o Vaticano, "a Igreja peregrina sobre a terra, bem ciente desta comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, desde os primeiros tempos da religião cristã, tem honrado com grande piedade a memória dos mortos”. (Lumen Gentium, 50).
A memória dos defuntos, o cuidado pelas sepulturas e os sufrágios são o testemunho de uma confiante esperança, enraizada na certeza de que a morte não é a última palavra sobre o destino do ser humano, porque o homem está destinado a uma vida sem limites, que tem sua raiz e sua realização em Deus. Dirijamos a Deus esta oração:
Deus de infinita misericórdia, confiamos à tua imensa bondade aqueles que deixaram este mundo para a eternidade, onde Tu aguardas toda a humanidade redimida pelo sangue precioso de Cristo Teu Filho, morto para nos libertar dos nossos pecados.
Não olhes, Senhor, para as tantas pobrezas e misérias e fraquezas humanas quando nos apresentarmos diante do Teu tribunal, para sermos julgados, para a felicidade ou a condenação.
Dirige para nós o teu olhar misericordioso que nasce da ternura do teu coração, e ajuda-nos a caminhar na estrada e uma completa purificação. Não se perca nenhum dos teus filhos no fogo eterno do inferno onde já não poderá haver arrependimento.
Te confiamos, Senhor, as almas dos nossos entes queridos, das pessoas que morreram sem o conforto sacramental, ou não tiveram ocasião de se arrepender nem mesmo no fim da sua vida. Que nenhum tenha receio de te encontrar depois da peregrinação terrena, na esperança de sermos recebidos nos braços da tua infinita misericórdia.
Que a irmã morte corporal nos encontre vigilantes na oração e carregados de todo o bem realizado ao longo da nossa breve ou longa existência. Senhor, nada nos afaste de Ti nesta terra, mas tudo e todos nos apoiem no ardente desejo de repousar serena e eternamente em Ti.. Amem”.
Com esta fé no destino supremo do homem, nos dirigimos a Virgem Maria, que padeceu sob a cruz o drama da morte de Cristo e, depois, participou na alegria da sua ressurreição. Nos ajude, Porta do Céu, a compreender sempre mais o valor da oração de sufrágio pelos defuntos. Eles estão conosco! Nos sustente em nossa peregrinação cotidiana aqui na terra e nos ajude a nunca perder de vista o objetivo final da vida, que é o Paraíso. E nós, com esta esperança que nunca decepciona, vamos em frente!
Após estas palavras, o Santo Padre rezou o Angelus:
Angelus Domini nuntiavit Mariae ...
No final da oração, foi a vez das tradicionais saudações:
Queridos irmãos e irmãs,
Saúdo as famílias, grupos paroquiais, associações e todos os peregrinos de Roma, Itália e de muitas partes do mundo. Em particular, saúdo os fiéis da diocese de Sevilha (Espanha), Case Finali em Cesena e os voluntários de Oppeano e Granzette que como palhaços oferecem terapia em hospitais. Eu os vejo lá: Continuem fazendo isso que faz tanto bem para os doentes.
Como de costume, Francisco concluiu dizendo:
Desejo-lhes um bom domingo, na memória cristã de nossos entes queridos falecidos. Não se esqueçam de rezar por mim.

Bom almoço e até breve! 

"É tão feio um cristão hipócrita. Tão feio..."



Em Santa Marta, o Papa critica os cristãos apegados à lei que se esquecem da justiça e do amor
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 31 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
 Em seu longo e profundo discurso no final do Sínodo, o Papa Francisco, listando as várias tentações da Igreja, falou sobre o "enrijecimento hostil" ou "querer se fechar na lei e não se deixar surpreender por Deus.”
Um conceito que, aparentemente, não foi totalmente compreendido visto que ainda hoje, na Missa em Santa Marta, o Papa teve que explicar novamente que não é possível se definir "cristão", se você está tão preso à lei, que esquece a justiça e o amor de Deus.
A demonstração concreta das palavras do Papa é o episódio narrado no Evangelho de hoje, quando Jesus pergunta aos fariseus se é lícito curar aos sábado. Eles nem sequer respondem, então, Cristo toma um doente pela mão e o cura.
Confrontados com a verdade, os fariseus se calam, mas “tramavam contra Ele por trás", disse o Papa. Jesus repreende essas pessoas “tão presas à lei” a ponto de “esquecerem a justiça”. “Este modo de viver pela lei os afastava do amor e da justiça. Preocupavam-se com a lei, mas ignoravam a justiça, ignoravam o amor.”
Cristo os chamava severamente de "hipócritas", porque, explica o Papa, "de um lado vão em busca de proselitistas... procuram. Depois? Fecham a porta". São homens de “fechamento”, homens "tão presos ao rigor da lei, mas não à lei, porque a lei é amor”. Sempre “fechavam as portas da esperança, do amor, da salvação... homens que só sabiam fechar."
Em vez disso, o "caminho para ser fiel à lei, sem esquecer a justiça, sem esquecer o amor" é o "inverso", como afirma São Paulo na Carta aos Filipenses: o caminho do "amor" à lei.
Este é o caminho que nos ensina Jesus, "totalmente oposto" ao dos doutores da lei. Um caminho que "conduz a Deus", leva à "santidade, à salvação, ao encontro com Jesus", afirma o Papa.
O outro leva a uma santidade, mas diferente: "àquela santidade entre aspas das aparências", observa Francisco, feita de "fechamento", "egoísmo", "soberba de sentir-se justo". Santidade, em suma, do tipo que Jesus repreende: "Mas vocês gostam de se mostrar como homens de oração, de jejum... mostrar-se, não".
Então, são dois caminhos. Se você não tiver certeza, tranquiliza o Pontífice, há “pequenos gestos de Jesus que nos faz compreender o caminho do amor ao pleno conhecimento e ao discernimento". E acrescenta: "Ele nos pega pela mão e nos cura", "se aproxima" e a proximidade "é a prova de que nós caminhamos na verdadeira via."
Deus escolheu nos salvar justamente pela proximidade. Ele, disse o Papa, “aproximou-se de nós, fez-se homem. A carne de Deus é o sinal da verdadeira justiça. Deus que se fez homem como um de nós, e nós que devemos nos fazer como os outros, como os necessitados, como os que precisam de nossa ajuda". A carne de Jesus é "a ponte que nos aproxima de Deus", “não é o rigor da lei". "Na carne de Cristo, a lei se realiza" e "é uma carne que sabe sofrer, que deu sua vida por nós."
"Que esses exemplos – conclui o Santo Padre - esse exemplo de proximidade de Jesus, do amor à plenitude da lei, nos ajudem a jamais cair na hipocrisia", porque "é tão feio um cristão hipócrita. Tão feio. Que o Senhor nos salve disso."