sábado, 11 de outubro de 2014

A liturgia é fonte da catequese

Os ritos são linguagem catequética, pois envolvem a pessoa inteira no mistério celebrado
Por José Barbosa de Miranda
BRASíLIA, 10 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - Continuando a catequese dos artigos anteriores, sobre a Iniciação à Vida Cristã, a partir de agora caminharemos coma catequese litúrgica para melhor compreender e contemplar o mistério da Revelação. Se Deus nos fala, “primeiro pelos Profetas e pelos Pais, agora se revela em seu Filho”[1]. Pela mistagogia litúrgica percorremos um itinerário celebrativo dos mistérios que Deus, invisível, se faz visível na Encarnação do Verbo. Podemos, pela Liturgia, estabelecer uma intimidade com o divino pela linguagem dos sinais e símbolos.
A LITURGIA É FONTE DA CATEQUESE
A liturgia tem uma dimensão catequética. Se na Palavra temos um Deus que se comunica, revelando os seus designíos, na Liturgia compreendemos, meditamos e vivemos essa Palavra em toda a sua riqueza:“[...] a Liturgia é fonte inesgotável da Catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser considerados como uma ‘Catequese em ato’. Mas, por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas, as celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma Catequese de preparação ou de iniciação”[2].
Os ritos são linguagem catequética, pois envolvem a pessoa inteira no mistério celebrado. Sinais, gestos, cantos, expressões corporais dão vida à Palavra, podendo levar à contemplação orante do Deus que fala à comunidade e a cada pessoa em particular. Daí a necessidade, primeiro de se conhecer o mistério revelado na Sagrada Escritura e Sagrada Tradição, para depois entender a linguagem litúrgica. Fica claro que a Catequese Litúrgica não um ato isolado em si, mas tem sua origem, seu fio condutor na Palavra. Faz-se Catequese Litúrgica como meio para entender e viver a Catequese Bíblica, que é fonte de toda a catequese. Assim, na Iniciação à Vida Cristã, toda ação catequética envolve Bíblia e Liturgia. É impossível catequese sem essa unidade: Revelação e Celebração.
GERANDO NOVA COMUNIDADE
O Catecismo da Igreja Católica, em seus números 1071-1075, fala da Sagrada Liturgia como fonte de vida e de sua relação com a catequese. É fonte de vida porque é “obra de Cristo”, é também uma “ação da sua Igreja”, por isso “empenha os fiéis na vida nova da comunidade” (1071). Entre “obra de Cristo” e “ação da sua Igreja”, o que é mais importante?  Para responder é preciso incluir neste contexto outra expressão: “vida nova”, formando o tripé: “obra de Cristo”, “ação da sua Igreja” e “vida nova” que sustenta a catequese litúrgica para gerar nova comunidade nascida da mistagogia catecumenal. Então, toda a catequese se fundamenta neste tripé inseparável.
O Concílio Vaticano II nos dá uma resposta conclusiva: “A Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” [3]. Entende-se que a Liturgia, enquanto é “fonte de vida”, dela brota toda a graça. Graça é vida na economia da salvação. Cristo e Igreja são inseparáveis. Então, “obra de Cristo”, “ação da Igreja” e “vida nova” são entendidas na celebração litúrgica como elementos essenciais da economia da salvação, e que são objetos da catequese.
O culto litúrgico é o “exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo que, mediante sinais sensíveis é significada e, ao mesmo tempo, peculiar a cada sinal, realizada a santificação dos homens; é o exercício do culto público integral de Cristo, pelo Corpo místico, Cabeça e membros”[4]. Toda a Igreja, na dimensão de sua catolicidade, está inserida nesse “exercício”, celebra com o Cristo o mesmo culto para formar o Povo de Deus que caminha para a santificação.
Assim entendemos que Cristo, o Sacerdote perfeito, oferecendo um sacrifício perfeito, nos torna participantes, não só da sua natureza, mas de toda a sua vida, pois Ele dá Vida à vida. A graça nos é dada por Cristo na ação litúrgica da Igreja. A Sagrada Liturgia tem uma ligação estreita com a vida e a fé, porque, “a Liturgia não esgota toda a ação da Igreja: ela tem que ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão” [5]. Deste modo requer uma participação consciente e responsável de toda a vida litúrgica, porque somos seus membros do Corpo Místico cuja cabeça é Cristo, e essa conscientização se alcança com o amadurecimento da fé na catequese litúrgica.
INTRODUZ NO MISTÉRIO DE CRISTO         
Como fonte de oração, a Liturgia participa da vida de Cristo que se dirige ao Pai no Espírito Santo. A oração de Jesus é uma intimidade com o Pai, é um colóquio que não tem limites. Rezaremos mais e melhor quanto mais tivermos uma intimidade com Cristo. Conseguiremos isso pela mistagogia litúrgica, uma caminhada nos mistérios revelados em Cristo. Jesus passava noites em colóquio com o Pai. Atendendo ao pedido dos discípulos, ensinou-lhes a rezar, concedendo-lhes o privilégio de chamar seu Pai de “Pai nosso”, papai, paizinho, paínho, “Abba-Pai (cf. Mt 6, 9-13). Essa maravilha de Deus, que é vivida e interiorizada pela oração, faz-nos próximos de Deus.
A oração é o lugar privilegiado da catequese que procede do visível para estabelecer uma confidência com o invisível. Isso se torna mais claro quando os textos são comunicados pelos sinais, ritos, gestos, ornamentações, facilitando a compreensão do Mistério celebrado e explicado pela catequese. “A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força” [6]. Portanto é o lugar privilegiado da catequese. Está ligada a toda a ação litúrgica. Nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, é Jesus que age, pois eles são presididos por Cristo. Os ministros agem “in persona Chisti”.
A catequese litúrgica tem em vista a introduzir no mistério de Cristo (ela é mistagógica), procedendo do visível para o invisível, do significante para o significado, dos sacramentos para os mistérios”[7]. Isso pressupõe que, primeiro, a fonte revelada, a Bíblia, seja conhecida para que se compreenda, pela catequese, o significado, o que, como e por que é celebrado.
A catequese litúrgica está na celebração do mistério enquanto ele é desvelado. Da reflexão deste artigo pode-se preparar um projeto catequético-litúrgico.
[1] Carta aos Hebreus 1,1-2.
[2] Catequese Renovada, n. 89
[3] Sacrosanctum Concilium, n. 10
[4] Idem n. 7
[5] Catecismo da Igreja Católica, n. 1072
[6] Sacrosanctum Concilium, n.10

[7] Catecismo da Igreja Católica, n. 1075

Ensina teu povo a rezar

Reflexões de Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 10 de Outubro de 2014 (Zenit.org)
Maria de Nazaré, Mãe e Mestra de nossa vida cristã, aqui estamos, como filhos e crianças do Evangelho, pedindo que nos ensines a rezar. Permite-nos entrar em tua casa de Nazaré, pois Nazaré é sempre nossa casa! Aqui mesmo, queremos aprender a louvar a Deus! Contigo dizemos "Bendito sejas tu, Senhor do universo! Louvado sejas, Senhor, por aquilo que és, pela tua presença amorosa, maior do que tudo. Nós te reconhecemos, Deus único, Pai de todos, fonte de todo o bem, Senhor de todas as coisas. Tu nos criaste por pura bondade para participarmos de tua obra de amor e nos permites usar todos os bens que nos ofereces. Todo o mundo te louva e agradece. Faze com que nossa vida cante os teus feitos e te chame Bendito".
"Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Assim reconheceste, Maria, que o Senhor é Deus! Ensina-nos a palavra que tantas vezes ressoou em teu ouvido e em teu coração: "Escuta, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares" (Dt 6, 4-7). Queremos aprender contigo a guardar todas as coisas, meditando-as no coração (Cf. Lc 2, 19.51). Ensina-nos que a oração começa na escuta de Deus!
Maria do Magnificat, conduze-nos contigo à casa de Isabel. Tu és bendita entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Sejamos pequenos contigo e deixemos que Deus olhe para o que somos com sua misericórdia infinita. Faze que em nosso coração se encontre o desejo de servir e amar, para que nossa oração seja verdadeira. Ensina-nos a rezar contigo o Magnificat. Alcança-nos a graça de sair de nós mesmos e correr com presteza ao encontro das necessidades dos irmãos e irmãs. Abre nossos olhos e o nosso coração aos sofrimentos de quem está ao nosso redor. Sejam benditos e acolhidos com amor, junto contigo, todos os que respeitam o Senhor. Os humildes sejam exaltados, dispersos os orgulhosos, saciados os famintos. E todos os servos de Deus, de ontem e de hoje sejam acolhidos por aquele que é fiel em seu eterno amor! Então, em tua companhia brotará de nossos lábios a oração: "A minh'alma engrandece o Senhor e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador!" Ensina-nos, Maria, a oração que leva a Deus a vida de todos, sobretudo dos mais pobres e sofredores!
Maria de Belém, peregrina e romeira, Maria dos caminhos difíceis e cansativos. Maria da multidão, em Belém de Judá, procuraste com José um lugar para te abrigares. Procura junto conosco os lugares para os mais pobres de nossas cidades. Foste peregrina em Jerusalém, levando nos braços o próprio Deus, que visitava o seu Templo! Foste muitas vezes ao templo, cumpriste teus votos e promessas, foste fiel na observância da lei! Ajuda-nos a rezar junto com os outros, como povo amado do Senhor. Nossas igrejas e capelas, que são casas de oração, tornem-se repletas das vozes do povo que louva, agradece, pede perdão e suplica confiante pelas necessidades de todos. Ensina-nos a viver nossos deveres religiosos!
Maria, discípula em Caná, ensina-nos a rezar. Tenhamos contigo a atenção às necessidades do próximo, para levá-las a Jesus, o único que pode transformar água em vinho. Ajuda-nos a acreditar na receita do milagre, ensina-nos de novo a lição que deste aos servidores de Caná: "Fazei tudo o que ele vos disser" (Jo 2, 5). Dá-nos acreditar como discípulos naquele que faz a festa da vida acontecer, o Senhor que nos dá de presente a alegria! Ensina teu povo a rezar sempre e em todas as circunstâncias. Nossa oração seja feita de obediência e fidelidade a Deus.
Maria de Nazaré, ensina teu povo a rezar a oração do dia a dia vivido no amor. Saibamos valorizar o silêncio, o diálogo amigo, as orações mais simples, o trabalho diário oferecido a Deus com amor, sem desperdiçar sentimentos e esperanças, dores e alegrias. Ajuda-nos a levar tudo ao Altar de Deus, para unir nossa vida ao Sacrifício Redentor de Jesus, teu Filho amado. Ensina teu povo a rezar!
Maria, Mãe do Redentor, estavas de pé junto à Cruz de Jesus. Ensina-nos a rezar a oração da entrega e da participação no Mistério de Cristo. Recolhe conosco, pelas ruas do Círio, lágrimas, suor, esperanças e sonhos. Tudo ganhe sentido e nossa vida encontre seu rumo.
Maria de Nazaré, de Belém e do Cenáculo. A Igreja que aguardou o dia de Pentecostes estava em oração junto contigo. Faze-nos unidos em oração e abertos às inspirações do Espírito Santo, para continuarmos a peregrinação da fé. Ensina teu povo a rezar!
Ensina teu povo a rezar todos os dias o "Pai Nosso". Ajuda-nos a chamar a Deus de Pai, a saber que é nosso, de todos os que são irmãos e irmãs. Contigo nossa vida santifique o nome de Deus, dê lugar a Ele em todas as suas decisões. Tu, que fazias parte daqueles Servos de Javé, em cujos corações a esperança não se apagara, ensina-nos a ser apaixonados pelo Reino de Deus e buscá-lo mais do que tudo. Como escolheste a melhor parte, fazer o que a Palavra de Deus te mostrava, ensina-nos que a vontade de Deus é o que existe de melhor para todas as pessoas, no Céu e na Terra. Mãe de Deus e nossa Mãe, conduze-nos ao ato de confiança e entrega nas mãos daquele que dá o Pão de cada dia, pão do corpo e o Pão eucarístico da vida eterna. Tu és invocada como Mãe de Misericórdia, pede ao Pai para que o perdão verdadeiro se espalhe no mundo. Que ninguém bloqueie o perdão infinito de Deus com o fechamento de seu coração ao perdão a ser dado ao próximo. Mostra-nos que só a graça de Deus nos sustenta para vencermos a tentação e nos livra do mal! Maria do sim, Senhora do Caminho, Mãe Peregrina, Senhora do Círio de Nazaré, ensina-nos a dizer "Amém". 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Misericórdia para com os pobres, contra a "cultura do descarte"


Por Redacao
ROMA, 09 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
 "A imagem de Deus" se reflete no olhar sofrido dos marginalizados e excluídos, por isso "nós somos chamados a ir para as ruas", àqueles que necessitam de assistência. Assim, o Papa Francisco falou, através de uma mensagem de vídeo em espanhol, aos participantes do encontro anual da Catholic Charities USA, fundação católica comprometida na luta contra a pobreza nos Estados Unidos. Setting the Pace: Changing the Course é o título do encontro, que foi realizado em Charlotte de 05 a 07 de outubro.
A tarefa do cristão - disse o Papa - é agir como o Bom Samaritano e o dono do albergue, duas figuras que aparecem no Evangelho de São Lucas como exemplos de compaixão. Uma tarefa que para ser implementada, exige uma boa dose de determinação, em oposição à cultura dominante que Francisco volta a chamar - citando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – de “descarte".
"Demos início a cultura do descarte que, por vezes, é promovida", disse o Bispo de Roma. Segundo o Papa, "os excluídos não são explorados, mas descartados". Deve-se salientar que “ninguém deve ser descartado, ninguém deve ser excluído do amor de Deus e da nossa atenção".
Dirigindo-se aos membros da Catholic Charities, o Santo Padre disse: "Vocês são as mesmas mãos de Jesus no mundo. Seu testemunho ajuda a mudar o curso da vida de muitas pessoas, famílias e comunidades. Seu testemunho ajuda a mudar os corações". Uma parte do discurso do Papa foi reservado a visita feita por seu predecessor João Paulo II em 1987, durante a reunião anual realizada em San Antonio, Texas. Ocasião em que o Papa canonizado em abril exortou a fundação a “unir, transformar e servir" os necessitados com "ações diretas para aliviar suas ansiedades, para remover suas cargas, e, ao mesmo tempo, contribuir para conduzi-los à dignidade da auto-suficiência, da auto-gestão”.
"Servir os pobres - acrescentou o papa Francisco - também significa defendê-los e tentar reformar as estruturas que causam ou perpetuam a opressão”. O Santo Padre, em seguida, chamou a Catholica Charities  de "motor da Igreja que organiza o amor", bem como "o sal, o fermento e a luz que dá um sinal de esperança para os necessitados". "Vocês - continuou ele - com o testemunho do encontro com o Senhor, que nos dá uma vida de abundância e alegria, ajudam a mudar o curso das comunidades locais, das cidades, do país e do mundo. A alegria de servir, de promover o bem de todos, segue o chamado da Igreja primitiva que queria dar resposta a todas as necessidades".

Além disso, o coração da mensagem cristã é a misericórdia para com os pobres, aqueles que – concluiu Francisco - "nos precederão no Reino dos céus, abrirão as portas para nós. Somos chamados a ser Igreja, somos chamados a ser um povo de pobres e para os pobres".

Na oração podemos pedir tudo a Deus, mas Ele dará sempre mais

Na missa em Santa Marta hoje, o Papa explica que o maior dom que o Senhor nos dá é o Espírito Santo e que a Trindade não é uma idéia no ar, mas pessoas reais
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 09 de Outubro de 2014 (Zenit.org)
O "Deus spray" não existe. O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são "uma idéia no ar", mas pessoas reais. Este assunto sempre aparece nas homilias do Papa Francisco, ainda hoje em Santa Marta, o Papa reafirmou que cada pessoa da Trindade está próxima ao homem de uma maneira específica: "Jesus é o companheiro de caminho que nos dá o que pedimos; o Pai que cuida de nós e nos ama; e o Espírito Santo é o dom, é ‘algo mais’ que nos dá o Pai, aquilo que a nossa consciência não ousa esperar."
Porque Deus – destaca o Papa, inspirado no Evangelho do dia – nos dará sempre mais do que aquilo que pedimos na oração: "Deus jamais te dará um presente, algo que você peça, sem algo a mais que o torne mais belo."
E este "algo a mais" que nos dá o Pai Eterno é o Espírito: "Este é o verdadeiro dom do Pai", comentou Francisco. "Eu peço esta graça, peço isto, bato e rezo muito(...) Só espero que me dê isto. E Ele, que é Pai, me dá isto e muito mais: o dom do Espírito Santo".
O Senhor "tem muita misericórdia" - destaca o Papa Francisco -. "É próprio da misericórdia de Deus não apenas perdoar (isso todos nós já sabemos), mas ser generoso e dar mais e mais....". Ele é um amigo, “um amigo de ouro", como aquele da parábola de hoje, que dá tudo o que pede o insistente hóspede noturno.
Jesus, explicando aos seus discípulos sobre o que é a oração, compara a "um homem que à meia-noite foi pedir uma coisa a seu amigo". Ele recorda que o Pai Celestial é o mesmo "que se preocupa com a alimentação dos pássaros do campo", Ele é "o amigo que nos acompanha no caminho da vida", "nos ajuda", "nos dá o que pedimos". E "nos ama muito".
Assim - explica Bergoglio - Cristo "quer despertar a confiança na oração". De fato, pouco depois exorta os discípulos, dizendo: "Peçam e lhes será dado, busquem e achareis, batam e se abrirá; porque quem pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, será aberto".
"Isto é oração - diz Francisco-: pedir, tentar entender, bater à porta do coração de Deus". E o Pai "dará o Espírito Santo a quem lhe pedir”. Esta oração é "Trinitária"- sublinha o Papa-.

E concluiu: "Às vezes dizem: Mas você acredita? Sim! Sim!; No que você acredita?; Em Deus!; Mas o que é Deus para você?; Deus, Deus. Mas Deus não existe: Não se escandalize! Deus assim não existe! Existe o Pai, o Filho e o Espírito Santo: são pessoas, não são uma idéia no ar... Este Deus spray não existe! Existem pessoas!".

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

"Todos estamos em caminho rumo à comunhão"

Na Audiência Geral, o Papa Francisco prosseguiu a série de catequeses sobre a Igreja
Por Redacao
ROMA, 08 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
 Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco prosseguiu a série de catequeses sobre a Igreja. Eis o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas catequeses, procuramos lançar luz sobre a natureza e a beleza da Igreja e nos perguntamos o que significa para cada um de nós fazer parte deste povo, povo de Deus que é a Igreja. Não devemos, porém, esquecer que há tantos irmãos que partilham conosco a fé em Cristo, mas pertencem a outras confissões ou a tradições diferentes da nossa. Muitos se resignaram a esta divisão – mesmo dentro da nossa Igreja católica se resignaram – que no curso da história muitas vezes foi causa de conflitos e de sofrimentos, também de guerras e isto é uma vergonha! Também hoje as relações não são sempre baseadas no respeito e na cordialidade… Mas, eu me pergunto: como nos colocamos diante de tudo isso? Somos também nós resignados, se não indiferentes a esta divisão? Ou acreditamos firmemente que se possa e se deva caminhar na direção da reconciliação e da plena comunhão? A plena comunhão, isso é, poder participar todos juntos do corpo e sangue de Cristo.
As divisões entre os cristãos, enquanto ferem a Igreja, ferem Cristo, e nós divididos provocamos uma ferida em Cristo: a Igreja, de fato, é o corpo do qual Cristo é a cabeça. Sabemos bem quanto esteve no coração de Jesus que os seus discípulos permanecessem unidos no seu amor. Basta pensar em suas palavras reportadas no capítulo 17 do Evangelho de João, a oração dirigida ao Pai na iminência da paixão: “Pai santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós” (Jo 17, 11). Esta unidade já estava ameaçada enquanto Jesus ainda estava entre os seus: no Evangelho, de fato, recorda-se que os apóstolos discutiam entre eles sobre quem era o maior, o mais importante (cfr Lc 9, 46). O Senhor, porém, insistiu tanto sobre a unidade no nome do Pai, fazendo-nos entender que o nosso anúncio e o nosso testemunho serão tanto mais credíveis quanto mais por primeiro formos capazes de viver em comunhão e de nos querermos bem. É o que os seus apóstolos, com a graça do Espírito Santo, depois entenderam profundamente e levaram no coração, tanto que São Paulo chegará a implorar à comunidade de Corinto com estas palavras: “Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que não haja entre vós divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo espírito e no mesmo sentimento” (1 Cor 1, 10).
Durante o seu caminho na história, a Igreja foi tentada pelo maligno, que procura dividi-la e, infelizmente, foi marcada por separações graves e dolorosas. São divisões que às vezes duraram muito tempo, até hoje, por isso agora resulta difícil reconstruir todas as motivações e, sobretudo, encontrar possíveis soluções. As razões que levaram às fraturas e às separações podem ser as mais diversas: divergências sobre princípios dogmáticos e morais e sobre concepções teológicas e pastorais diferentes, motivos políticos e de conveniência, até discussões devido a antipatias e ambições pessoais… O que é certo é que, de um modo ou de outro, por trás destas lacerações estão sempre a soberba e o egoísmo, que são a causa de todo desacordo e que nos tornam intolerantes, incapazes de escutar e de aceitar que há uma visão ou uma posição diferente da nossa.
Ora, diante de tudo isso, há alguma coisa que cada um de nós, como membros da santa mãe Igreja, podemos e devemos fazer? Certamente não deve faltar a oração, em continuidade e em comunhão com aquela de Jesus, a oração pela unidade dos cristãos. E junto com a oração, o Senhor nos pede uma renovada abertura: pede-nos para não nos fecharmos ao diálogo e ao encontro, mas colher tudo aquilo de válido e de positivo que nos é oferecido também por quem pensa diferente de nós ou se coloca em posições diferentes. Pede-nos para não fixar o olhar sobre aquilo que nos divide, mas sim sobre aquilo que nos une, procurando melhor conhecer e amar Jesus e partilhar a riqueza do seu amor. E isto comporta concretamente a adesão à verdade, junto com a capacidade de perdoar-se, de sentir-se parte da mesma família cristã, de considerar-se um dom para o outro e fazer juntos tantas coisas boas e obras de caridade.
É uma dor, mas há divisões, há cristãos divididos, estamos divididos entre nós. Mas todos temos algo em comum: todos acreditamos em Jesus Cristo, o Senhor. Todos acreditamos no Pai, no Filho e no Espírito Santo e todos caminhamos juntos, estamos em caminho. Ajudemo-nos uns aos outros! Mas você pensa assim, você pensa assim… Em todas as comunidades há grandes teólogos: que eles discutam, que eles procurem a verdade teológica porque é um dever, mas nós caminhamos juntos, rezando uns pelos outros e fazendo obras de caridade. E assim fazemos a comunhão em caminho. Isto se chama ecumenismo espiritual: caminhar o caminho da vida todos juntos na nossa fé, em Jesus Cristo o Senhor. Diz-se que não se deve falar de coisas pessoais, mas não resisto à tentação. Estamos falando de comunhão… comunhão entre nós. E hoje, eu sou tão grato ao Senhor porque hoje faz 70 anos que eu fiz a Primeira Comunhão. Mas fazer a Primeira Comunhão todos nós sabemos que significa entrar em comunhão com os outros, em comunhão com os irmãos da nossa Igreja, mas também em comunhão com todos aqueles que pertencem a comunidades diferentes mas acreditam em Jesus. Agradeçamos ao Senhor pelo nosso Batismo, agradeçamos ao Senhor pela nossa comunhão e porque esta comunhão acaba por ser de todos, juntos.

Queridos amigos, seguimos adiante, então, rumo à plena unidade! A história nos separou, mas estamos em caminho rumo à reconciliação e à comunhão! E isto é verdadeiro! Devemos defender isso! Todos estamos em caminho rumo à comunhão. E quando a meta pode nos parecer distante, quase inatingível, e nos sentimos presos pelo desconforto, consola-nos a ideia de que Deus não pode fechar os ouvidos à voz do próprio Filho Jesus e não cumprir a sua e a nossa oração, a fim de que todos os cristãos sejam realmente uma só coisa.

O paradoxo do ateísmo e a palavra Deus

É preciso para o ateu, se quer ser coerente, abandonar os dois últimos deuses nos quais ele se refugia: o próprio ateísmo e o culto a si próprio. Porque ambos não são ateísmo, são idolatria
Por Paulo Vasconcelos Jacobina
BRASíLIA, 08 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
“Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”. É assim que o filósofo Wittgenstein conclui a respeito do limite da linguagem quando aplicada àquilo para o que, segundo ele, a linguagem é inadequada: em especial, quando aplicada a Deus. Deus está além das possibilidades da linguagem humana, dizia este filósofo. Deus seria palavra proibida, melhor não usá-la. Mergulhando na vertente da filosofia analítica anglo-saxã, Wittgenstein colocou Deus, para o ser humano, na categoria daquilo que é indizível. E silenciou a muitos. Falar de Deus parece agora uma capitulação, parece a atitude de quem se rende perante o irracional e capitula da ciência. Muitos realmente acreditam que falar de Deus é de muito mau gosto. Melhor silenciar sobre Deus, pensam. Deus seria, como estes filósofos convenceram a tantos, aquilo que impediria o homem de ser autônomo. Uma criação de alguns mais espertos, para a dominação dos outros através dos mecanismos irracionais da religião. Assim, urge – pensam – banir a própria palavra “Deus”.
Mas será que existe, de fato, qualquer silêncio possível perante a questão que se coloca pela própria possibilidade de se pronunciar a palavra “Deus”? O escritor alemão Karl Rahner, S.J., nos lembra da impossibilidade de sequer mencionar o ateísmo sem usar a palavra Deus. A palavra “Deus”está, aliás, incrustada na própria palavra “ateu”. Diz Rahner:
“A palavra 'Deus' existe. Voltamos ao ponto de partida da nossa reflexão, ou seja, ao simples fato de no mundo das palavras, pelas quais construímos nosso mundo e sem as quais mesmo os assim chamados 'fatos' não existem para nós, ocorre também a palavra 'Deus'. Mesmo para o ateu, mesmo para o que declara que Deus está morto, mesmo para eles, como vimos, Deus existe pelo menos como o que eles julgam dever declarar morto e cujo espantalho precisam exorcizar, como aquele cujo retorno temem. Somente quando já não existisse a palavra mesma, ou seja, quando nem sequer se houvesse de colocar a questão acerca dela, somente então é que poderíamos ter sossego quanto a ela. Mas esta palavra continua a existir, tem presente. Terá também futuro? Já Marx pensou que inclusive o ateísmo viria a desaparecer, ou seja, que a própria palavra 'Deus' - em chave afirmativa ou negativa - deixaria de existir. É pensável este futuro da palavra Deus?”
Ou seja, a própria existência do vocábulo “Deus” põe ao ser humano um desafio, que está no limite da sua capacidade de falar. Mas é incontornável. Na verdade, se as toupeiras pudessem falar, certamente não teriam uma palavra para “luz” - mas tampouco teriam necessidade dela, e viveriam para sempre bem felizes em seus buracos obscuros. No dicionário de verdadeiras toupeiras tampouco haveria um vocábulo para a “negação da luz”, algo como “alumismo”, porque se não houvesse sequer a possibilidade, para as toupeiras, de pensar na luz, tampouco haveria a necessidade de negá-la. A palavra “luz” não faria falta num mundo de toupeiras, e o conceito de “alumismo” tampouco. Mas não ocorre assim com a palavra “Deus” no mundo humano.
Se esta palavra não existisse, o homem não mais seria colocado diante do do todo uno da realidade como tal nem diante do todo uno de sua existência como tal. Pois é exatamente isto que faz a palavra “Deus” e somente ela, como quer que soe foneticamente ou como quer que esteja determinada em sua origem. Karl Rahner nos lembra que “Se realmente não existisse a palavra 'Deus', também essas duas coisas não mais existiriam: o todo uno da realidade como tal e o todo uno da existência humana como tal na mútua compenetração dos dois aspectos”. O próprio ser humano, como tal, destruir-se-ia, ao desaparecer a interpelação que a simples palavra “Deus” nos provoca. Se o intento do ateísmo, de banir a própria menção a Deus, se concretizasse, o próprio ateísmo seria banido. As consequências seriam aquelas lembradas pelo próprio Rahner:
“O homem teria esquecido o todo e seu fundamento, e ao mesmo tempo teria esquecido, se é que ainda se poderia falar assim, que se esqueceu. Que seria então? Só poderíamos dizer: ele deixaria de ser homem. Ter-se-ia reduzido a um animal engenhoso. (...) Só podemos dizer que existe homem quando um ser vivo, pensando, usando da palavra e agindo livremente, confronta-se com a totalidade do mundo e da existência como pergunta e problema, mesmo que, ao fazê-lo, possa vir a se manter mudo e desconcertado perante esta pergunta sobre a unidade e a totalidade. Talvez seria até mesmo pensável - e quem poderia saber disso com certeza? - a possibilidade de o gênero humano, mesmo mantendo uma sobrevivência biológica e técnico-racional, vir a morrer de morte coletiva e voltar ao estado de térmitas ou a uma colônia de animais incrivelmente engenhosos. (...) O homem existe propriamente como homem somente quando diz 'Deus' pelo menos como pergunta, pelo menos na forma de pergunta a que se responde negativamente. A morte absoluta da palavra 'Deus', morte que apagasse até mesmo o seu passado, seria o sinal não mais ouvido por ninguém de que o homem mesmo morreu.”
É impossível, portanto, para o ser humano, mencionar de qualquer forma o ateísmo sem reafirmar Deus... Curioso impasse, curioso paradoxo! A solução seria então calar sobre Deus, como quer Wittgenstein?
Calar sobre Deus, no entanto, seria fugir ao dever mais agudo que tem o ser humano: buscar a verdade até o fim, corajosamente, não para se deter onde for conveniente chegar, mas para caminhar até onde a própria verdade nos leva. Buscar um sentido. Um ser humano tem o dever de não se contentar em ser menos que humano, em se transformar em mero bando de aniimais engenhosos. Um ateu corajoso, digno deste nome, não se detém no silêncio, nem se apega a um ateísmo a priori, que, paradoxalmente transformar-se-ia num “deus” para ele, um ídolo a ser defendido e adorado com todas as forças, e contra toda a possibilidade de refutação no diálogo e na razão. Um ateu calado é um idólatra. Um idólatra de si mesmo, porque não vê sequer a necessidade de falar e ouvir. Também um ateu que, mesmo saindo do silêncio para defender o ateísmo, refuta o diálogo racional, para se tornar num militante do próprio ateísmo, também está apaixonado pelo próprio ateísmo, transformou o ateísmo em religião, e é incapaz de seguir até as consequências últimas da busca daquilo que o desafia. É um idólatra ainda pior. Nega o absoluto sem perceber que esta afirmação é, em si mesmo, uma afirmação absoluta – e reintroduz o absoluto exatamente ali onde ele é negado! É preciso, portanto, para o ateu, se quer ser coerente, abandonar os dois últimos deuses nos quais ele se refugia: o próprio ateísmo e o culto a si próprio. Porque ambos não são ateísmo, são idolatria.
Para falar de ateísmo, o ateu precisa, portanto, contrariar a própria máxima de Wittgenstein, e valer-se da palavra “Deus”, que era o que o ateu queria banir em primeiro lugar. Mas é a única maneira de não fechar-se na idolatria. Um verdadeiro ateu precisa ser corajoso: falar é correr riscos, e demanda coerência: quem fala deve conformar conscientemente a própria vida com a verdade que vai descobrindo - esta é a única liberdade. A liberdade que está no limite superior da razão humana que é evocada quando se pronuncia a palavra “Deus”.

A menos, é claro, que se use a palavra “ateu” num plano relativo: sou ateu deste ou daquele deus, porque ele é um falso deus, mas nada posso dizer de modo absoluto quanto a um eventual Deus verdadeiro. Neste caso, não há cristão que não seja ateu de todos os deuses falsos. Aliás, o filósofo Jean Guitton costumava dizer que o mal do nosso tempo não é o ateísmo, mas a credibilidade tola, da qual devemos fugir: só descobriremos o Deus verdadeiro quando formos convictos ateus de todos os falsos deuses.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Nossa Senhora do Rosário

"Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio geral!
Por Fabiano Farias de Medeiros
HORIZONTE, 07 de Outubro de 2014 (Zenit.org
- Santo Afonso de Ligório nos ensina que o Rosário é a homenagem mais agradável à Mãe de Deus. Nossa Senhora do Rosário é o título que foi dado à Mãe de Deus por conta da aparição da Virgem a São Domingos de Gusmão no ano 1208 quando estava na Igreja de Proulli e recebe Dela um rosário. São Domingos, motivado a levar o Evangelho a todos e encontrando muitos desafios, dedicou-se durante três dias à oração e eis que recebeu da Virgem uma visão na qual lhe apresentava o rosário. Assim dizia a Virgem: “Eu te digo, então que o instrumento mais importante foi à saudação angélica, ou a Ave Maria, que é o fundamento do Novo Testamento e portanto se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, reza e propaga o meu Saltério.”  A partir daí São Domingos confeccionou um cordão com as contas divididas nos Pais-Nossos e Ave-Marias.
A celebração deste dia em honra a Nossa Senhora do Rosário foi instituída pelo Papa Pio V no ano de 1572 com o título de “Festa da Vitória”, recordando a heroica vitória naval travado pela Liga Santa contra o império dos Otomanos que ficou conhecida como a Batalha de Lepanto.
A Batalha de Lepanto foi uma forte e heroica investida cristã contra as forças otomanas. No dia 07 de outubro de 1571, no golfo de Lepanto a esquadra católica com pouco mais de 200 caravelas enfrentou um poderoso exército naval sob a proteção de Deus e a intercessão de Nossa Senhora. D. João da Áustria conduzia a frota e distribuía terços e escapulários aos seus tripulantes e com voz forte os impulsionava dizendo: “Todos cuidem de cumprir seu dever. Ponde vossa esperança unicamente no Deus dos Exércitos, que rege e governa o universo”. O Papa Pio V, devoto de Nossa Senhora pediu que fosse intensificado a oração do Rosário e todos assim o fizeram. Quando a armada inimiga assolava a frota de D. João, tiveram a visão de uma Senhora de aspecto majestoso e ameaçador que por cima dos montes ia ao seu encontro. Assim, os otomanos dispersaram-se e foram vencidos pela frota de D. João. Ao mesmo tempo, o Papa tinha uma visão da vitória de seu exército e bradou: “Vamos agradecer a Jesus Cristo a vitória que acaba de conceder à nossa esquadra”.

No ano 1573, o Papa Gregório XIII alterou o título para “Festa do Santo Rosário”. Esta festa foi estendida pelo Papa Clemente XII e é celebrada todo dia 7 de outubro de cada ano.

Francisco nos exorta a não nos deixarmos distrair pelos afazeres do dia a dia



Façamos memória do nosso passado diante de Deus

Por Luca Marcolivio
ROMA, 07 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
Fazer memória de nossa vida, na oração diária. Nesta perspectiva, o Papa Francisco meditou as leituras de hoje durante a missa em Santa Marta. A partir de São Paulo (Gal 1-13-24) que não esquece o seu passado de pecador.
Deus nos escolhe, faz com o seu povo o que "faz com que cada um de nós" e esta é "uma graça de amor", explicou o Papa. O exemplo de Paulo, acrescentou, é de um homem que "faz memória desta realidade, mas em sua concretude", confessando que ele era" ruim "e" perseguidor": em outras palavras, "faz memória de seu caminho e assim começa a recordar do começo.”
Fazer memória do próprio passado "não é muito comum entre nós", disse o Santo Padre. No entanto, cada um de nós tem uma "história de graças, uma história de pecados, uma história de caminhos" e "é bom rezar com a nossa história": que nos leva a “glorificar a Deus".
E São Paulo "faz memória de seus pecados", se envaidecendo com estas palavras: "Fui pecador, mas Cristo Crucificado me salvou." Assim, todos nós somos convidados a fazer.
Atitude errônea recorrente é a de Marta, quando Jesus disse: “‘Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessário. Maria escolheu a melhor parte’: ouvir o Senhor e fazer memória”.
É impossível "rezar todos os dias como se não tivéssemos história. Cada um de nós tem a sua própria. E com essa história no coração vamos para a oração, como Maria. Mas, muitas vezes, nos deixamos levar, como Marta, pelo trabalho, pelos deveres do dia a dia, e esquecemos dessa história", disse o Pontífice.
Nossa relação com Deus "não começa no dia do Batismo”, ali ela é “sigilada". Começa "quando Deus, da eternidade, olhou para nós e nos escolheu.”
Cada um de nós deve fazer memória da escolha de Deus por nós, da sua promessa que "nunca desilude" e que é "nossa esperança" e "nosso caminho de aliança". Esta é a "verdadeira oração."

O Papa Francisco concluiu sua homilia convidando-nos a rezar o Salmo 138: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos. Quando ando e quando repouso, vós me vedes, observais todos os meus passos”.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Senhora Aparecida: viva a mãe de Deus e nossa

  

Dom Pedro Carlos Cipollini

Bispo de Amparo (SP)

Entre os santos de Deus está em destaque Maria, mãe de Jesus ( Mt. 2,1; Mc 3,32; Lc 2,48; Jo 19,25). É com a Bíblia na mão que a chamamos bem-aventurada. O povo louva Maria porque Deus a escolheu para ser mãe de seu filho Jesus, nosso único salvador. Ela é bem-aventurada porque acreditou!
São milhares os devotos, centenas os santuários dedicados à Mãe de Jesus. No Brasil a lembramos a festa de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, que hoje celebramos com alegria. Todo o Brasil conta com inúmeras Igrejas a ela dedicadas, em especial a Basílica Nacional de Aparecida . Muitas mulheres levam em seus nomes uma homenagem a Maria: Aparecida, do Carmo, da Graça, de Fátima, de Lurdes, da Penha, etc.
O culto a Maria se funda na Palavra de Deus: “Isabel cheia do Espírito Santo exclamou: bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre... Bem-aventurada aquela que acreditou...”(Lc 1,41-42;45). O Espírito Santo inspirou Isabel para reconhecer Maria como bem aventurada.
Maria recebeu de Deus a plenitude da graça e por isso é saudada pelo Anjo como “cheia de graça” (Lc 1,28). A mesma Maria, reconhecendo sua pequenez de serva disse: “Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1,48). Durante a vida, até a última provação, quando Jesus morre na cruz diante dela, sua fé não vacilou. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé. O povo ama seu Filho Jesus Cristo “autor e consumador da fé” (Hb 12,2). Ama sua mãe, fiel discípula, a primeira que nele acreditou, aderindo ao plano de Deus, quando da anunciação do Anjo.
A devoção à Virgem Maria faz parte do culto cristão. Porém, o culto a Maria, mesmo sendo singular, é diferente do culto que se presta á Santíssima Trindade. Ao Deus Uno e Trino: Pai, Filho e Espírito Santo, nós adoramos. Enquanto a Maria nós veneramos. Este culto de veneração se justifica porque ela é reconhecida como Mãe do Filho de Deus, é saudada como “a Mãe do meu Senhor” (Lc 1, 43). O concílio de Éfeso (ano 431) reconheceu Maria como Mãe de Deus: Mãe de Jesus, o Deus encarnado.
Maria não afasta de Jesus, pelo contrário, pede-nos que sigamos seu Filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Ela não é o centro da fé, o centro é Jesus. Porém Maria faz parte do centro . Ninguém como Maria teve tanta ligação com Jesus: ela o trouxe em seu ventre por nove meses, conviveu com Ele em Nazaré por trinta anos e o seguiu fielmente toda sua vida.A carne de Jesus veio de Maria.
Maria de Nazaré, “Nossa Senhora” como a chamamos com carinho, nos ajuda a crescer na fé em seu filho Jesus. Aproximemo-nos dela e ela nos ajudará a compreender os segredos de Deus revelados em seu filho Jesus, o qual ao morrer na cruz a entregou como mãe de seus discípulos ( Jo 19,27). Por isso podemos aclamar: Viva a mãe de Deus e nossa!

Preparação para o Matrimônio e vida conjugal

   

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

A preparação para o matrimônio, para a vida conjugal e familiar, é de importância relevante para o bem da Igreja. De fato, o Sacramento do Matrimônio tem um grande valor para toda a comunidade cristã e, em primeiro lugar, para os esposos, cuja decisão é tão grande que não poderia ser sujeita à improvisação ou a escolhas apressadas. Em outras épocas, tal preparação podia contar com o apoio da sociedade, a qual reconhecia os valores e os benefícios do matrimônio. A Igreja, sem obstáculos ou dúvidas, tutelava a sua santidade, sabedora do fato de que o Sacramento do Matrimônio representava uma garantia eclesial, qual célula vital do Povo de Deus. O apoio eclesial era, pelo menos nas comunidades realmente evangelizadas, firme, unitário, compacto.
Hoje, ao contrário, em não poucos casos assiste-se a um acentuado deterioramento da família e a certa corrupção dos valores do matrimônio. Em numerosas nações, sobretudo economicamente desenvolvidas, o índice de casamentos é reduzido. Costuma-se contrair matrimônio numa idade mais avançada e aumenta o número das separações, até mesmo nos primeiros anos de vida conjugal. Tudo isto leva, inevitavelmente, a uma inquietação pastoral, mil vezes reforçada. Quem contrai matrimônio está realmente preparado para isso? O problema da preparação para o Sacramento do Matrimônio, e para a vida que se lhe segue, emerge como uma grande necessidade pastoral, antes de tudo para o bem dos esposos, para toda a comunidade cristã e para a sociedade. Por isso, crescem em toda parte o interesse e as iniciativas para fornecer respostas adequadas e oportunas à preparação para o Sacramento do Matrimônio. Hoje se fala muito mais de um percurso para preparar o casal para a vida cristã do que apenas em um curso de preparação. É necessário um itinerário de iniciação cristã que leve o casal a assumir a sua bela vocação matrimonial. A preparação próxima seria apenas um retiro espiritual que ajudaria a celebrar cristãmente o enlace matrimonial.
A importância da preparação implica um processo de evangelização, que é maturação e aprofundamento na fé. Se a fé está debilitada e quase inexistente (Familiaris Consortio = FC 68), é necessário reavivá-la e não se pode excluir uma exigente e paciente instrução que suscite e alimente o ardor de uma fé viva. Sobretudo onde o ambiente se paganizou, será particularmente aconselhável um “itinerário que recalque dinamismos do catecumenato” (FC 66) e uma apresentação das verdades cristãs fundamentais que ajudem a adquirir ou a reforçar a maturidade da fé dos contraentes. “É desejável que o momento privilegiado da preparação para o matrimónio se transforme, como sinal de esperança, numa Nova Evangelização para as futuras famílias”.
O Código de Direito Canônico estabelece que se faça “a preparação pessoal para a celebração do matrimônio, pela qual os esposos se disponham para a santidade e os deveres do seu novo estado” (CIC can. 1063, 2, CCEO can. 783, § 1), disposição também presente no Ordo Celebrandi Matrimonium = OCM 12.
E no discurso de São João Paulo II à Assembleia Plenária do Conselho para a Família (4 de outubro de 1991) acrescentava: “Quanto maiores forem as dificuldades ambientais para conhecer a verdade do sacramento cristão e da própria instituição matrimonial, tanto maiores devem ser os esforços de preparar adequadamente os esposos para as suas responsabilidades”. E continuava ainda com observações mais concretas referentes aos cursos propriamente ditos: “Tendes podido observar que, dada a necessidade de realizar tais cursos nas paróquias, considerando os resultados positivos dos vários métodos usados, parece conveniente que se proceda a uma determinação exata dos critérios a adotar, sob a forma de Guia ou de Diretório, para oferecer uma ajuda válida às Igrejas particulares. Tanto mais que no interior das Igrejas particulares, por parte do povo da vida e pela vida”, resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma responsabilidade que brota da própria natureza dela – uma comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio e da sua missão, que é “guardar, revelar e comunicar o amor “(EV 92 e FC 17).
Portanto, o matrimônio como comunidade de vida e de amor, quer como instituição divina natural, quer como sacramento, não obstante as dificuldades presentes, conserva sempre em si uma fonte de energias formidáveis (FC 43), que, com o testemunho dos esposos, se pode tornar uma Boa Notícia, e contribuir fortemente para a nova evangelização e assegurar o futuro da sociedade. Tais energias precisam, todavia, ser descobertas, apreciadas e valorizadas pelos próprios esposos e pela comunidade eclesial na fase que precede a celebração do matrimônio e que constitui a preparação para ele.
Um dos grandes desafios do Sínodo Extraordinário sobre a Família, de que estou participando desde o dia 05 e que irá até o dia 19 de outubro, é uma oportunidade de analisarmos a preparação para o Sacramento do Matrimônio. Como a Igreja responderá aos desafios hodiernos de muitos jovens que se afastam da vida matrimonial?
Pediria a todos os homens e mulheres de boa vontade que me acompanhassem com as suas orações nestes dias de estudos, de partilhas e de busca de caminhos pastorais em favor do favorecimento do sagrado Sacramento do Matrimônio.

domingo, 5 de outubro de 2014

Cuidar da família também é uma forma de trabalhar na vinha do Senhor

As palavras do Papa pronunciadas antes de rezar o Angelus
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 05 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
Antes de rezar a tradicional oração mariana do Angelus com os fiéis presentes na Praça de São Pedro, neste domingo (5), o Papa Francisco falou que cuidar da família também é uma forma de trabalhar na vinha do Senhor. Apesentamos as palavras do Papa na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nesta manhã, com a celebração eucarística na Basílica de São Pedro, inauguramos a Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos. Os padres sinodais provenientes de toda parte do mundo, junto comigo, viverão duas intensas semanas de escuta e de diálogo, fecundados pela oração, sobre o tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Hoje, a Palavra de Deus apresenta a imagem da vinha como símbolo do povo que o Senhor escolheu. Como uma vinha, o povo requer tanto cuidado, requer um amor paciente e fiel. Assim faz Deus conosco, e assim somos chamados a fazer nós Pastores. Também cuidar da família é um modo de trabalhar na vinha do Senhor, para que produza os frutos do Reino de Deus (cfr Mt 21, 33-43).
Mas para que a família possa caminhar bem, com confiança e esperança, é preciso que seja alimentada pela Palavra de Deus. Por isto é uma feliz coincidência que justamente hoje os nossos irmãos Paulinos tenham desejado fazer uma grande distribuição da Bíblia, aqui na Praça e em tantos outros lugares. Agradeçamos aos nossos irmãos Paulinos! Fazem isso em ocasião do centenário de sua fundação, por parte do beato Tiago Alberione, grande apóstolo da comunicação. Então hoje, enquanto se abre o Sínodo para a família, com a ajuda dos Paulinos podemos dizer: uma Bíblia em cada família! “Mas, padre, nós temos duas, três…”. Mas onde vocês as esconderam?…  A Bíblia não é para ser colocada em uma prateleira, mas para tê-la em mãos, para lê-la sempre, todos os dias, seja individualmente seja juntos, marido e mulher, pais e filhos, talvez à noite, especialmente aos domingos. Assim, a família cresce, caminha, com a luz e a força da Palavra de Deus!

Convido todos a apoiarem os trabalhos do Sínodo com a oração, invocando a materna intercessão da Virgem Maria. Neste momento, associamo-nos espiritualmente a quantos, no Santuário de Pompeia, elevam a tradicional “Súplica” à Nossa Senhora do Rosário. Que obtenha a paz, às famílias e ao mundo inteiro!

Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo

Homilia do Papa na missa de abertura do Sínodo Extraordinário sobre a Família
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 05 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
 Com a Missa concelebrada neste domingo, 05 de outubro, na basílica de São Pedro, pelo Papa Francisco, com os Padres sinodais, foi inaugurada a III Assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema é “Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização”. Apresentamos a homilia na íntegra: 
Nas leituras de hoje, é usada a imagem da vinha do Senhor tanto pelo profeta Isaías como pelo Evangelho. A vinha do Senhor é o seu «sonho», o projecto que Ele cultiva com todo o seu amor, como um agricultor cuida do seu vinhedo. A videira é uma planta que requer muitos cuidados!
O «sonho» de Deus é o seu povo: Ele plantou-o e cultiva-o, com amor paciente e fiel, para se tornar um povo santo, um povo que produza muitos e bons frutos de justiça.
Mas, tanto na antiga profecia como na parábola de Jesus, o sonho de Deus fica frustrado. Isaías diz que a vinha, tão amada e cuidada, «produziu agraços» (5, 2.4), enquanto Deus «esperava a justiça, e eis que só há injustiça; esperava a rectidão, e eis que só há lamentações» (5, 7). Por sua vez, no Evangelho, são os agricultores que arruínam o projecto do Senhor: não trabalham para o Senhor, mas só pensam nos seus interesses.
Através da sua parábola, Jesus dirige-se aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, isto é, aos «sábios», à classe dirigente. Foi a eles, de modo particular, que Deus confiou o seu «sonho», isto é, o seu povo, para que o cultivem, cuidem dele e o guardem dos animais selvagens. Esta é a tarefa dos líderes do povo: cultivar a vinha com liberdade, criatividade e diligência.
Mas Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da vinha; pela sua ganância e soberba, querem fazer dela aquilo que lhes apetece e, assim, tiram a Deus a possibilidade de realizar o seu sonho a respeito do povo que Ele escolheu.
A tentação da ganância está sempre presente. Encontramo-la também na grande profecia de Ezequiel sobre os pastores (cf.. cap. 34), comentada por Santo Agostinho num famoso Discurso que lemos, ainda nestes dias, na Liturgia das Horas. Ganância de dinheiro e de poder. E, para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros do povo pesos insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para os deslocar (cf. Mt 23, 4).
Também nós somos chamados a trabalhar para a vinha do Senhor, no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projecto de amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que ele tem para a humanidade.
Nós somos todos pecadores e também nos pode vir a tentação de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós, seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade.

Irmãos sinodais, para cultivar e guardar bem a vinha, é preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam guardados em Cristo Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência» (Flp 4, 7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projectos estarão de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe pertença e produza os frutos do Reino de Deus (cf.Mt 21, 43).