sexta-feira, 13 de setembro de 2013

São João Crisóstomo


São João Crisóstomo é, certamente, o mais conhecido dentre os padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia por volta do ano 349. Pertencia a uma família distinta. Após a morte de Antusa, sua mãe, retirou-se para o deserto, onde viveu por seis anos, monasticamente. Os dois últimos anos passou-os numa caverna, na mais completa solidão.

Em 386, foi ordenado sacerdote pelo bispo Flaviano. A esta altura compôs o excelente tratado sobre o sacerdócio, por causa da consagração episcopal do seu amigo e companheiro de estudos, D. Basílio Magno. Logo alcançou fama de grande pregador, cuja eloquência lhe valeu o título de "Crisóstomo", o que significa: "boca de ouro". Mais tarde tornou-se patriarca de Constantinopla.

Desenvolveu, então, uma pastoral sistematizada, com evangelização rural, criação de hospitais, sermões "de fogo" com que incriminava e advertia os fiéis, chamando-os à conversão. São Pio X proclamou-o patrono especial da eloquência sagrada. A sua produção literária (600 entre discursos e sermões) ultrapassa todos os escritores orientais e no Ocidente apenas se lhe pode comparar Santo Agostinho. O seu estilo junta a espiritualidade cristã com a elegância e forma helênicas.

As intrigas políticas levaram-no várias vezes ao exílio, onde morreu. Era o dia 14 de Setembro de 407. Somente em 438 os seus restos mortais foram transferidos de Comana do Ponto para Constantinopla. São João da "Boca de Ouro" deixou-nos vários escritos expondo a fé cristã e encorajando à vivência daquilo que Jesus ensinou.

"Porque se alguém procurasse considerar o que é um homem ainda envolto na carne e no sangue, ter o poder de se aproximar daquela feliz e imortal natureza, veria então quão grande é a honra que a graça do Espírito Santo concedeu aos sacerdotes. Pois por meio desses se exercem essas coisas e outras também nada inferiores, que dizem respeito à nossa dignidade e a nossa salvação.

A eles que habitam nessa terra e fazem nela sua morada, foi dado o encargo de administrar as coisas celestiais e receberam um poder que Deus não concedeu nem mesmo aos anjos e arcanjos, pois não foram a esses que foi dito: "Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no Céu e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no Céu" (Mt18,18). Os que dominam nesse mundo possuem também o poder de atar, porém somente os corpos; mas a atadura de que falamos, diz respeito à própria alma e penetra os Céus; e as coisas que aqui na terra, o fazem os sacerdotes, Deus as ratifica lá nos Céus confirmando a sentença de seus servos.

Afinal o que mais lhes foi dado, senão todo o poder celestial? "Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo. 20,23). Que poder maior do que esse alguém poderia receber? O Pai entregou ao Filho todo o poder, porém vejo que todo esse poder o Filho colocou nas mãos dos sacerdotes. É como se já tivessem sido trasladados aos Céus e erguendo-se sobre a natureza humana, livres de nossas paixões, tivessem sido elevados a tão grande poder.

Imagine se um rei proporcionasse tal honra a um de seus súditos, o qual por sua vontade encarcerasse, ou pelo contrário, livrasse das prisões a quem bem entendesse, será que esse não seria visto como um fortunado e respeitado por todos? E aquele que recebeu de Deus um poder infinitamente maior, mais precioso ao Céu do que à terra, mais precioso à alma do que ao corpo, será que para alguns tal honra possa parecer algo tão insignificante que não mereça consideração ou que se possa depreciar o benefício? Longe de nós tal loucura!

De fato, seria sem dúvida uma grande loucura depreciar uma dignidade tão grande, sem a qual não podemos obter nem a salvação, nem os bens que nos foram propostos, porque ninguém pode entrar no Reino dos Céus se não for regenerado pela água e pelo espírito (Jo. 3,5). E aquele que não come a carne do Senhor e não bebe seu sangue, está excluído da vida eterna. Nenhuma dessas coisas se faz pelas mãos de qualquer outro,senão por aquelas santas mãos do sacerdote. Como poderá pois alguém, sem o auxílio desses, escapar do fogo do Inferno ou chegar à conquista das coroas que lhes estão reservadas?

Esses pois são a quem foram confiados os partos espirituais e encomendados os filhos que nascem pelo Batismo. Através desses, nos revestimos de Cristo e nos unimos ao Filho de Deus tornando-nos membros daquela bem-aventurada Cabeça, de forma que para nós, com justiça eles devem ser respeitados não apenas mais do que os poderosos e reis, mas até mesmo mais do que nossos próprios pais, porque esses nos geraram pelo sangue e pela vontade da carne, enquanto os sacerdotes são os autores do nosso nascimento para Deus, para aquela ditosa geração da verdadeira liberdade e da adoção de filhos segundo a graça."

São João Crisóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja (+ Ponto, Ásia Menor, 407) Passou alguns anos como eremita solitário no deserto e depois foi sacerdote em Antioquia. Nomeado bispo e patriarca de Constantinopla, esforçou-se para moralizar o Clero, no qual havia desvios e escândalos, e chegou a depor bispos indignos. Denunciou também, corajosamente, abusos de autoridades civis. 

Despertou, por tudo isso, antipatias em pessoas poderosas, tanto na ordem espiritual quanto na temporal. Foi, em conseqüência, duas vezes desterrado e morreu no exílio. Era amigo íntimo e tinha sido colega de estudos de Basílio Magno. Sua eloqüência extraordinária lhe valeu o título de Crisóstomo, que em grego significa "Boca de Ouro" e a designação, pelo Papa Pio X, como o patrono da eloqüência sagrada.

É considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental e deixou uma produção intelectual abundante e variada, composta de aproximadamente 600 sermões e discursos.

São João Crisóstomo, rogai por nós.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"A Igreja é nossa mãe e todos somos parte dela"



Texto completo da audiência do santo padre. Amar a Igreja. O que que eu faço para que outras pessoas possam compartilhar a fé cristã? Sou fecundo na minha fé ou fechado?

ROMA, 11 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir as palavras do santo padre na audiência da quarta-feira, 11 de setembro.
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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Retomamos hoje as catequeses sobre a Igreja neste “Ano da Fé”. Entre as imagens que o Concílio Vaticano II escolheu para fazer-nos entender melhor a natureza da Igreja, há aquela da “mãe”: a Igreja é nossa mãe na fé, na vida sobrenatural (cfr. Const. dogm. Lumen gentium, 6.14.15.41.42). É uma das imagens mais usadas pelos Padres da Igreja nos primeiros séculos e penso que possa ser útil para nós. Para mim, é uma das imagens mais belas da Igreja: a Igreja mãe! Em que sentido e de que modo a Igreja é mãe? Partamos da realidade humana da maternidade: o que faz uma mãe?
1. Antes de tudo, uma mãe gera a vida, leva no seu ventre por nove meses o próprio filho e depois o abre à vida, gerando-o. Assim é a Igreja: nos gera na fé, por obra do Espírito Santo que a torna fecunda, como a Virgem Maria. A Igreja e a Virgem Maria são mães, todas as duas; aquilo que se diz da Igreja se pode dizer também de Nossa Senhora e aquilo que se diz de Nossa Senhora se pode dizer também da Igreja! Certo, a fé é um ato pessoal: “eu creio”, eu pessoalmente respondo a Deus que se faz conhecer e quer entrar em amizade comigo (cfr Enc. Lumen fidei, n. 39). Mas eu recebo a fé dos outros, em uma família, em uma comunidade que me ensina a dizer “eu creio”, “nós cremos”. Um cristão não é uma ilha! Nós nãos nos tornamos cristãos em laboratório, não nos tornamos cristãos sozinhos e com as nossas forças, mas a fé é um presente, é um dom de Deus que nos vem dado na Igreja e através da Igreja. E a Igreja nos doa a vida de fé no Batismo: aquele é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o momento no qual nos dá a vida de Deus, nos gera como mãe. Se vocês forem ao Batistério de São João em Latrão, junto à catedral do Papa, em seu interior há uma inscrição em latim que diz mais ou menos assim: “Aqui nasce um povo de linhagem divina, gerado pelo Espírito Santo que fecunda estas águas; a Mãe Igreja dá à luz a seus filhos nessas ondas”. Isto nos faz entender uma coisa importante: o nosso fazer parte da Igreja não é um fato exterior e formal, não é preencher um cartão que nos deram, mas é um ato interior e vital; não se pertence  à Igreja como se pertence a uma sociedade, a um partido ou a qualquer outra organização. O vínculo é vital, como aquele que se tem com a própria mãe, porque, como afirma Santo Agostinho, a ‘Igreja é realmente mãe dos cristãos’ (De moribus Ecclesiae, I,30,62-63: PL 32,1336). Perguntemo-nos: como eu vejo a Igreja? Se agradeço aos meus pais porque me deram a vida, agradeço também à Igreja porque me gerou na fé através do Batismo? Quantos cristãos recordam a data do próprio Batismo? Gostaria de fazer esta pergunta aqui pra vocês, mas cada um responda no seu coração: quantos de vocês recordam a data do próprio Batismo? Alguns levantam a mão, mas quantos não lembram! Mas a data do Batismo é a data do nosso nascimento na Igreja, a data na qual a nossa mãe Igreja nos deu à luz! E agora eu vos deixo uma tarefa para fazerem em casa. Quando voltarem para casa hoje, procurem bem qual é a data do Batismo de vocês, e isto para festejá-la, para agradecer ao Senhor por este dom. Vocês farão isso? Amamos a Igreja como se ama a própria mãe, sabendo também compreender os seus defeitos? Todas as mães têm defeito, todos temos defeitos, mas quando se fala dos defeitos da mãe nós os cobrimos, nós os amamos assim. E a Igreja também tem os seus defeitos: nós a amamos assim como mãe, nós a ajudamos a ser mais bela, mais autêntica, mais segundo o Senhor? Deixo-vos estas perguntas, mas não se esqueçam das tarefas: procurar a data do Batismo para tê-la no coração e festejá-la.
2. Uma mãe não se limita a gerar a vida, mas com grande cuidado ajuda os seus filhos a crescer, dá a eles o leite, alimenta-os, ensina-lhes o caminho da vida, acompanha-os sempre com a sua atenção, com o seu afeto, com o seu amor, mesmo quando são grandes. E nisto sabe também corrigir, perdoar, compreender, sabe ser próxima na doença, no sofrimento. Em uma palavra, uma boa mãe ajuda os filhos a sair de si mesmos, a não permanecer comodamente debaixo das asas maternas, como uma ninhada de pintinhos fica embaixo das asas da galinha. A Igreja, como boa mãe, faz a mesma coisa: acompanha o nosso crescimento transmitindo a Palavra de Deus, que é uma luz que nos indica o caminho da vida cristã; administrando os Sacramentos. Alimenta-nos com a Eucaristia, traz a nós o perdão de Deus através do Sacramento da Penitência, sustenta-nos no momento da doença com a Unção dos enfermos. A Igreja nos acompanha em toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida cristã. Podemos fazer agora outras perguntas: que relação eu tenho com a Igreja? Eu a sinto como mãe que me ajuda a crescer como cristão? Participo da vida da Igreja, sinto-me parte dela? A minha relação é uma relação formal ou é vital?
3. Um terceiro breve pensamento. Nos primeiros séculos da Igreja, era bem clara uma realidade: a Igreja, enquanto é mãe dos cristãos, enquanto “forma” os cristãos, é também “formada” por eles. A Igreja não é algo diferente de nós mesmos, mas é vista como a totalidade dos crentes, como o “nós” dos cristãos: eu, você, todos nós somos parte da Igreja. São Jerônimo escrevia: “A Igreja de Cristo outra coisa não é se não as almas daqueles que acreditam em Cristo” (Tract. Ps 86: PL 26,1084). Então, todos, pastores e fiéis, vivemos a maternidade da Igreja. Às vezes ouço: “Eu creio em Deus, mas não na Igreja… Ouvi que a Igreja diz…os padres dizem…”.. Mas uma coisa são os padres, mas a Igreja não é formada somente de padres, a Igreja somos todos! E se você diz que crê em Deus e não crê na Igreja, está dizendo que não acredita em si mesmo; e isto é uma contradição. A Igreja somos todos: da criança recentemente batizada aos Bispos, ao Papa; todos somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos chamados a colaborar ao nascimento à fé de novos cristãos, todos somos chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho. Cada um de nós se pergunte: o que faço eu para que o outro possa partilhar a fé cristã? Sou fecundo na minha fé ou sou fechado? Quando repito que amo uma Igreja não fechada em seu recinto, mas capaz de sair, de mover-se, mesmo com qualquer risco, para levar Cristo a todos, penso em todos, em mim, em você, em cada cristão. Participemos todos da maternidade da Igreja, a fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da terra. E viva à santa mãe Igreja!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Os cristãos são chamados a anunciar Jesus sem medo, sem vergonha e sem triunfalismo



Homilia do Papa Francisco na missa em Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 10 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Os cristãos são chamados a anunciar Jesus sem medo, sem vergonha e sem triunfalismo. Foi o que disse o Papa Francisco na Missa esta manhã na Casa Santa Marta. O Papa sublinhou o risco de se tornar cristãos sem Ressurreição e reiterou que Cristo é sempre o centro e a esperança da nossa vida.
Jesus é o Vencedor, Aquele que venceu a morte e o pecado. O Papa Francisco desenvolveu a sua homilia, inspirando-se nas palavras de Jesus na Carta de São Paulo aos Colossenses. Para todos nós, disse o Papa, São Paulo aconselha de caminhar com Jesus “porque Ele venceu, caminhar n’Ele arraigados e edificados n’Ele, sobre esta vitória, firmes na fé”. Este é o ponto chave, ressaltou: “Jesus ressuscitou”. Mas, - continuou -, nem sempre é fácil entender. O Papa recordou, por exemplo, que quando São Paulo falou aos gregos em Atenas foi ouvido com interesse até quando ele falou da Ressurreição. “Isso nos faz ter medo, melhor deixá-la lá”. Um episódio que nos questiona também hoje:
“Há tantos cristãos sem Ressurreição, cristãos sem o Cristo Ressuscitado: acompanham Jesus até o sepulcro, choram, eles o amam muito, mas até ali. Pensando nessa atitude dos cristãos sem o Cristo Ressuscitado, eu encontrei três tipos de cristãos, mas existem muitos outros: os temerosos, os cristãos temerosos; os vergonhosos, aqueles que têm vergonha; e os triunfalistas. Esses três não se encontraram com Cristo Ressuscitado! Os temerosos: são aqueles da manhã da Ressurreição, os discípulos de Emaús ... vão embora, eles têm medo”.
Os Apóstolos, recordou o Papa, se fecham no Cenáculo, com medo dos judeus, também Maria Madalena chora porque levaram embora o Corpo do Senhor. “Os temerosos - advertiu - são assim: eles têm medo de pensar na Ressurreição”. É como, - observou o Papa -, se eles permanecessem “na primeira parte do texto”, “temos medo do Ressuscitado”. Há também os cristãos vergonhosos. “Confessar que Cristo ressuscitou – constatou o Santo Padre - dá um pouco de vergonha neste mundo que “vai tão longe nas ciências”. Para esses cristãos, Paulo disse para que tenham cuidado para que ninguém seja alvo de filosofias e de vazias sutilezas inspiradas na tradição humana. Estes, - disse ainda o Papa - , “têm vergonha” de dizer que “Cristo, com a sua carne, com as suas feridas ressuscitou”. Por fim, há os cristãos que “em seus corações, não acreditam no Senhor ressuscitado e querem eles fazer uma ressurreição mais majestosa do que aquela verdadeira”. São os cristãos “triunfalistas”:
“Eles não conhecem a palavra ‘triunfo’, somente dizem 'triunfalismo', porque têm como que um complexo de inferioridade e querem fazer ... Quando olhamos para estes cristãos, com tantas atitudes triunfalistas, em suas vidas, em seus discursos e em sua pastoral, na Liturgia, tantas coisas assim, é porque no mais íntimo eles não acreditam profundamente no Ressuscitado. E Ele é o Vencedor, o Ressuscitado. Ele venceu. Por esta razão, sem temor, sem medo, sem triunfalismo, apenas observando o Senhor Ressuscitado, sua beleza, até mesmo colocando os dedos nas chagas e a mão no costado”.
“Essa - acrescentou - é a mensagem que hoje Paulo nos dá”: Cristo “é tudo”, é a totalidade e a esperança, “porque é o Esposo, o Vencedor”. O Evangelho de hoje, - disse ainda o Papa -, nos mostra uma multidão de pessoas que vai ouvir Jesus e há muitas pessoas doentes que tentam tocá-lo, porque d’Ele “saía uma força que curava todos”:
“A nossa fé, a fé no Ressuscitado: que venceu o mundo! Vamos em direção a Ele e deixemo-nos, como esses enfermos, ser tocadas por Ele, pela sua força, porque Ele é de carne e ossos, não é uma idéia espiritual que vai ... Ele está vivo. Ele Ressuscitou. E assim venceu o mundo. Que o Senhor nos dê a graça de compreender e viver estas coisas”.

Liberdade na Velhice



Reflexão sobre a antropologia proposta por Viktor Frankl
Por Elainy Sales

FORTALEZA, 10 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Diariamente, deparamo-nos com discursos acerca da velhice e do comportamento dos idosos que nos fazem refletir sobre a mentalidade da sociedade ocidental. Geralmente, os meios de comunicação, que muitas vezes, ditam as novas formas de se viver, ridicularizam o papel do idoso na família, colocando-o como alguém ultrapassado, fazendo com que haja um inversão de valores. Piadas como: “quem gosta de velho é fundo de rede” e “quem vive de passado é museu” são manifestações simbólicas de repúdio à velhice. A representação da velhice como um processo contínuo de perdas, usualmente, é percebida no fato de que os idosos se tornam relegados a uma situação de abandono, de rejeição, de ausência de papéis sociais, etc. Assim, muitas pessoas não se sentem mais livres, por viverem sua condição de idosos, sentem-se incapazes.
Algumas pessoas, ao chegarem à terceira idade, sofrem mudanças radicais em sua rotina, no âmbito familiar, social, trabalhista, entre outras áreas. Após o idoso refletir sobre sua nova rotina, principalmente depois da aposentadoria, muitas vezes, não encontra sentido para a sua existência, pois vive em uma sociedade marcada pelo pragmatismo. Porém, pode superar esse vazio e esse estigma social por meio de suas atitudes e ações que possibilitem um valor vivencial libertador, uma experiência auto-distanciadora. De acordo com a antropologia proposta por Viktor Frankl, pai da Logoterapia (abordagem da Psicologia centrada na busca do sentido da vida), o ser humano preenche o seu sentido da vida ao ajudar, cuidar, sentir amor e ser amado. Assim, as suas vivências e experiências colaboram para alcançar a liberdade. Liberdade esta que não é só o direito de “fazer o que quiser”, mas de ser responsável pelas próprias escolhas, senão pode tornar-se mera arbitrariedade.
A noção de pessoa compreende o pleno uso da reflexão, a maturidade e o poder de escolha. Então, se dizemos que o idoso não tem liberdade e escolhemos por ele, estamos destituindo-lhe da condição de ser humano. Deste modo, a existência só pode ser plenamente vivenciada quando há escolhas e responsabilidades.
Assim, Frankl afirma a capacidade do homem de resistir ao pan-determinismo, quando diz: “O ser humano não é completamente condicionado e determinado; ele mesmo determina se cede aos condicionantes ou se lhes resiste”. A Logoterapia entende que todos têm liberdade, mas podem desistir voluntariamente por não terem consciência dessa liberdade.
Portanto, a pessoa idosa também vive essa dimensão de liberdade e precisamos conhecê-las melhor, pois o que os idosos já fizeram em toda sua plenitude de vida passada, ninguém pode roubar. Os idosos contemplam melhor o que o tempo eterniza.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Bíblia aberta, cartilha de oração!



A Bíblia tem autores. Ela não caiu do céu pronta e não foi um livro que o Anjo lançou do céu, como alguns dizem
Por Pe. Reginaldo Manzotti

CURITIBA, 09 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - A Palavra de Deus é fundamental e muitas vezes a vemos como algo passivo diante de nós. Mas é o contrário. Na vida espiritual, Ela tem um movimento ativo, pois vem de Deus, é absorvida pelo nosso coração e produz a mudança. A Palavra de Deus transforma de forma ativa, renovadora e santificadora.
Conhecer a Palavra é conhecer o próprio Cristo. E é importante ressaltar que o autor da Bíblia é Deus. Através dela, Deus revela divinamente os seus pensamentos, com a assistência do Espírito Santo.
Sim, a Bíblia tem autores. Ela não “caiu do céu pronta” e não foi um livro que o Anjo lançou do céu, como alguns dizem. Pessoas inspiradas pelo Espírito Santo escreveram-na.
O Espírito Santo inspirou a redação, dando aos escritores faculdades e capacidades para que pudessem transcrever aquilo que era da vontade de Deus. Assim, os livros inspirados por Ele, escritos por homens, numa linguagem humana, trazem a Verdade.
A Palavra de Deus é viva e, por isso, Ela age como fermento. Ela não é estática. Sempre que lemos descobrimos novos significados, embora o conteúdo seja sempre o mesmo.
A Palavra de Deus é também dinâmica. Quando comparada à realidade, faz emergir alguns pontos que talvez não tenham sido lembrados anteriormente. Por exemplo, em tempos de guerra, quando a Palavra fala de paz, ela tem um diferente significado. Na atualidade, diante de tantos casos de corrupção, quando a Palavra que fala de solidariedade, igualdade e honestidade tem um peso muito maior. Por isso mesmo, a leitura da Bíblia precisa ser estudada, meditada e entendida.
É importante entender a Palavra de Deus partindo do princípio que aquilo que estamos lendo é o Pai falando aos homens, com uma linguagem própria para eles. Lembre-se: a Bíblia não é um romance, uma novela ou uma notícia de jornal. É importante saber de alguns aspectos para entendê-la melhor. Estudar sobre quando e onde aconteceu aquela passagem; quem são os personagens narrados; qual deles é o principal e quais são os secundários. Essa é uma forma de nos debruçarmos sobre a Palavra de Deus numa atitude de entendimento e oração.
São Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia do grego para o latim, afirmou: “Desconhecer a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo”. Madre Teresa de Calcutá também disse: “A Palavra de Deus é Deus que nos fala, para que nós calemos a nossa voz e escutemos a sua lei”. E São Francisco nos ensinou: “Pregue sempre o Evangelho e quando for necessário use palavras”.
Um dos trechos que revela o quanto a Palavra de Deus é importante para a nossa vida está na Segunda Carta a Timóteo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra”. (2Tm 3, 16-17)
Termino este artigo lembrando as palavras de Santo Isidoro: “Quando rezamos falamos com Deus, quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco”. Por isso, lembre-se sempre: Bíblia aberta, cartilha de oração! Evangelizar é preciso!
Padre Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso – Obra sem fins lucrativos, benfeitora nacional, que utiliza dos meios de comunicação para evangelização – e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV que são retransmitidos e exibidos em parceria com milhares de emissoras no país e algumas no exterior. Site: www.padrereginaldomanzotti.org.br. Facebook: www.facebook.com/padrereginaldomanzotti. Twitter: @padremanzotti

Quando a evangelização virtual se torna real



Entrevista com o padre Agustín de la Vega, LC, diretor do site www..evangelizaciondigital, cujos temas cobertos vão de peregrinações até o estudo do Youcat
Por Sergio Mora

ROMA, 09 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - “A evangelização também é feita on-line. O papa Bento XVI nos convocou a realizá-la quando propôs a Jornada Mundial das Comunicações Sociais para os sacerdotes, convidando-nos a evangelizar o continente digital. E apesar de que a internet parece uma coisa mais dos jovens, nós podemos dizer que é uma iniciativa para 'jovens de todas as idades'”, disse a ZENIT o padre espanhol Agustín de la Vega, LC, diretor do site Evangelización Digital e da Fundação Alter Christus.
De la Vega nos conta que o trabalho na internet é uma iniciativa dos sacerdotes diocesanos do Regnum Christi na Espanha: “É um meio de evangelização para aproximar as pessoas de Cristo e para difundir a mensagem dele, mas que funciona também para dar acompanhamento aos sacerdotes diocesanos”.
Entre as recentes atividades do site, estão a “Peregrinação online pelo Caminho de Santiago”, que “foi feita entre janeiro e o dia 21 de julho deste ano, com 25 etapas, nas quais participaram 1.500 pessoas”. Ainda neste ano está programada “outra peregrinação, dessa vez para a Terra Santa, seguindo as rotas do evangelho”.
A iniciativa permite a participação de pessoas de qualquer país em encontros virtuais realizados em língua espanhola. Os encontros abordam temas diversos. Para participar, é suficiente o equipamento normal de navegação na internet, sem nenhum custo de inscrição. Basta fazer um simples registro de usuário e senha. No site www.evangelizaciondigital.com, é preciso apenas preencher o nome, e-mail, cidade e país e clicar em “Register now”. Uma vez registrado, o usuário pode acessar os conteúdos do site e participar dos encontros virtuais.
“Estamos explicando agora o Youcat, que é o catecismo que o papa deu para os jovens na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Madri”, diz De la Vega, prosseguindo: “Os bispos espanhóis, ou um padre de certo prestígio, explicam três ou quatro perguntas. No Ano da Fé, também estamos dando uma catequese sobre a fé da Igreja, a moral, a vida espiritual. O responsável é o bispo de Palencia. Essa catequese é toda terça-feira”..
Conforme o lema do site, “nós estamos ‘aplanando o caminho para novos encontros’. Falamos de encontros vivos, não de anonimato”, diz o pe. Agustín. “Terminamos recentemente de explicar os sacramentos e começamos a falar da vida em Cristo, da vida moral, das virtudes. E também de temas muito concretos, como as conversas que nós temos toda terceira quinta-feira de cada mês, sobre o casamento, com a moderação do pe. Michael Ryan, que, além de ser conselheiro geral da Legião de Cristo, é um especialista em casamento e família. Ele é o autor do livro ‘A gota que transborda o copo’. São conversas sobre a linguagem do amor, sobre os jeitos de evitar aquela ‘gota d’água’ que faz o copo transbordar, sobre a força do sacramento do matrimônio na vida dos cristãos casados”.
De la Vega observa que o sistema “permite ouvir as conferências e acompanhar visualmente um esquema de tópicos. Quando o ouvinte pede a palavra, ele pode perguntar diretamente ao palestrante, e isto cria um encontro ao vivo”.
Por enquanto, há limites reduzidos de participantes nos encontros ao vivo, mas o sistema está sendo melhorado para permitir videoconferências com quantidades maiores de pessoas e com transmissão de vídeo, não apenas de áudio.
É preciso levar em conta o fuso horário: a programação das atividades segue o horário continental europeu (Central Europe Time). Não há necessidade de uso de webcam, mas sim de microfone e alto-falantes, de preferência fones de ouvido.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

LUMEN FIDEI - A LUZ DA FÉ - 2



Caros diocesanos. Na solenidade de São Pedro e São Paulo deste ano, o Papa Francisco publicou sua primeira Carta Encíclica – Lumen Fidei (A Luz da Fé). Na mensagem passada já abordamos o primeiro capítulo, em que o Papa afirma que somente pela razão não se consegue responder satisfatoriamente as perguntas fundamentais da existência humana, sobretudo do seu futuro, e que somente a luz da fé, com fonte divina, é capaz de iluminá-la. Esta fé nasce no encontro com o Deus vivo e fiel, o qual nos chama e revela o seu amor, que nos precede e sobre o qual podemos construir solidamente uma nova vida. Jesus encarnado torna-se o sim definitivo das promessas de Deus; sua história, centralizada na morte e ressurreição, é a manifestação plena da fidelidade de Deus e a suprema manifestação do seu amor por nós. Esse amor de Deus suscita em nós a resposta da fé que não só faz olhar para Jesus, mas a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos. Assim a pessoa que crê é transformada pelo dom do amor de Deus, ao qual se abriu na fé.No segundo capítulo da Encíclica o Papa Francisco preocupa-se em acentuar que a pessoa humana, na questão da fé, precisa do conhecimento da verdade objetiva (fé na presença do Deus vivo e fiel à Aliança), porque sem ela não fica de pé e não consegue caminhar: “Sem verdade, a fé não salva, não torna seguros os nossos passos. Seria uma linda fábula, a projeção dos nossos desejos de felicidade, algo que nos satisfaz só na medida em que nos quisermos iludir; ou então reduzir-se-ia a um sentimento bom que consola e afaga, mas permanece sujeito às nossas mudanças de ânimo, à variação dos tempos, incapaz de sustentar um caminho constante na vida” (LF 24). Como exemplo, nós citamos um texto do Pontífice em que ele mostra a absoluta necessidade que o amor tem da verdade para que seja duradouro: “Apenas na medida em que o amor estiver fundado na verdade é que pode perdurar no tempo, superar o instante efêmero e permanecer firme para sustentar um caminho comum. Se o amor não tivesse relação com a verdade, estaria sujeito à alteração dos sentimentos e não superaria a prova do tempo” (LF 27). Não estaria aqui a causa de tantas dificuldades nas diversas formas de relacionamento ou até das separações? Não basta, portanto, a verdade das ciências ou a verdade dos indivíduos, com seus relativismos, que podem não servir ao bem comum e, inclusive, que pretendem eliminar a ligação da religião com a verdade (LF 25). Na Bíblia o Deus verdadeiro é o Deus fiel à sua Aliança. Verdade e fidelidade andam juntas (LF 28). Na plenitude dos tempos Jesus se apresenta como a Verdade, o Caminho e a Vida (Jo 14, 6): “A verdade que a fé nos descerra é uma verdade centrada no encontro com Cristo, na contemplação da sua vida, na percepção da sua presença” (LF 30). Portanto, nosso Deus revelado por Jesus Cristo não é um Deus reduzido a objeto. Ele é sujeito que se dá a conhecer e deseja relacionar-se conosco para termos participação na vida divina. Por isso, a teologia ou a catequese, com base na Escritura, não são apenas ensino sobre Deus, mas, sobretudo, Palavra que Ele mesmo nos dirige, em que Ele se revela (LF 36).
Concluímos nossa reflexão sobre o segundo capítulo da Lumen Fidei – A Luz da Fé, do Papa Francisco, com a rica linguagem simbólica que motivou o seu título: a Luz de Seu rosto nos ilumina e nos quer envolvidos 
em sua Luz, a fim de refletirmos também a partir Dele (LF 33). E aqui entramos na missão de sermos luz mundo (Mt 5, 14): “Quanto mais o cristão penetrar no círculo aberto pela luz de Cristo, tanto mais será capaz de compreender e acompanhar o caminho de cada homem para Deus” (LF 35).
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

domingo, 8 de setembro de 2013

O cristão desprende-se de tudo e reencontra tudo na lógica do Evangelho



Pontífice reforça pedido de oração pela paz e recorda a Natividade de Maria

CIDADE DO VATICANO, 08 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas neste domingo, 8 de setembro, diante de uma multidão de fieis reunidos na Praça de São Pedro para rezar o Angelus.
No Evangelho de hoje, Jesus insiste sobre as condições para ser seus discípulos: nada antepor ao amor por Ele, carregar a própria cruz e segui-Lo. Muitas pessoas de fato se aproximavam de Jesus, queriam estar entre os seus seguidores, e isso acontecia especialmente depois de algum sinal milagroso que o convalidava como o Messias, o Rei de Israel. Mas Jesus não quer iludir ninguém. Ele sabe o que o espera em Jerusalém, qual é a estrada que o Pai lhe pede para percorrer: é o caminho da cruz, do sacrifício de si mesmo para a remissão dos nossos pecados. Seguir a Jesus não significa participar de uma procissão triunfal! Significa compartilhar o seu amor misericordioso, entrar em sua grande obra de misericórdia por cada homem e para todos os homens. A obra de Jesus é exatamente uma obra de misericórdia, de perdão, de amor! Jesus é tão misericordioso! E este perdão universal, esta misericórdia, passa pela cruz. Jesus não quer cumprir essa obra sozinho: Ele quer nos envolver na missão que o Pai lhe confiou. Depois da ressurreição dirá aos seus discípulos: Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós (…) Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados (João 20,21.22). O discípulo de Jesus renuncia a todos os bens porque encontrou Nele o Bem maior, no qual qualquer bem recebe valor pleno e significado: os laços familiares, outros relacionamentos, o trabalho, os bens culturais e econômicos e assim por diante... o cristão desprende-se de tudo e reencontra tudo na lógica do Evangelho: a lógica do amor e do serviço.
Para explicar esta exigência, Jesus usa duas parábolas: a da torre a ser construída e a do rei que vai para a guerra. Esta segunda parábola diz: “qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz” (Lc 14,31-32). Aqui Jesus não quer lidar com o tema da guerra, é apenas uma parábola. Mas neste momento em que estamos fortemente rezando pela paz, esta Palavra do Senhor nos toca, e nos diz que há uma guerra mais profunda que devemos combater, todos! É a decisão forte e corajosa de renunciar ao mal e suas seduções e escolher o bem, pronto para pagar em pessoa: eis o seguir a Cristo, eis o tomar a própria cruz! Esta guerra profunda contra o mal! Para que serve a guerra, tantas guerras, se você não é capaz de fazer esta guerra profunda contra o mal? Não serve para nada! Não dá... Isso envolve, entre outras coisas, esta guerra contra o mal comporta dizer não ao ódio fratricida e as mentiras de que se serve; dizer não à violência em todas as suas formas; dizer não à proliferação de armas e seu comércio ilegal. Exige muito! Exige muito! E sempre fica a dúvida: essa guerra lá, essa outra ali - porque há guerras por toda parte - é realmente uma guerra por problemas ou é uma guerra comercial para vender armas no comércio ilegal? Estes são os inimigos a serem combatidos, unidos e com coerência, não seguindo outros interesses senão o da paz e do bem comum.
Queridos irmãos e irmãs, hoje também recordamos a Natividade da Virgem Maria, Festa particularmente cara para as Igrejas Orientais. E todos nós, agora, podemos enviar uma saudação a todos os nossos irmãos, irmãs, bispos, monges, freiras das Igrejas Orientais, Ortodoxas e Católicas: uma bela saudação! Jesus é o sol, Maria é a aurora que anuncia o seu nascer. Na noite passada, fizemos vigília confiando à sua intercessão a nossa oração pela paz no mundo, especialmente na Síria e em todo o Oriente Médio. Nós A invocamos agora como Rainha da Paz. Rainha da Paz, rogai por nós! Rainha da Paz, rogai por nós!
(Depois do Angelus)
Queria agradecer a todos aqueles que, de vários modos, aderiram à vigília de oração e de jejum de ontem de noite. Agradeço as várias pessoas que ofereceram os seus sofrimentos por esta intenção. Agradeço as autoridades civis, bem como os membros de outras comunidades cristãs e de outras religiões e os homens e mulheres de boa vontade que viveram, nessa circunstância, momentos de oração, jejum e reflexão.
Mas o compromisso deve seguir adiante: continuemos com a oração e com as obras de paz! Convido-vos a continuar a rezar para que cesse imediatamente a violência e a devastação na Síria e se trabalhe com um esforço renovado por uma justa solução do conflito fratricida. Rezemos também pelos outros países do Oriente Médio, particularmente pelo Líbano, para que encontre a desejada estabilidade e continue a ser um modelo de convivência; pelo Iraque, para que a violência sectária dê lugar à reconciliação; pelo processo de paz entre israelenses e palestinos, para que possa avançar com decisão e coragem. E rezemos pelo Egito, para que todos os egípcios, muçulmanos e cristãos, se comprometam em construir juntos uma sociedade para o bem de toda a população. A busca pela paz é um longo caminho que exige paciência e perseverança! Continuemos com a oração!
Com alegria recordo que ontem, em Rovigo, foi proclamada Beata Maria Bolognesi, fiel leiga, nascida em 1924 e morta em 1980. Passou toda a sua vida a serviço dos outros, especialmente dos pobres e doentes, suportando grande sofrimento em profunda união com a paixão de Cristo. Demos graças a Deus por este testemunho do Evangelho!
Saúdo com afeto os peregrinos presentes, todos! Em particular, os fiéis do Patriarcado de Veneza, liderados pelo Patriarca; os alunos e ex-alunos das Filhas de Maria Auxiliadora; e os participantes da “Campanha Mãe Peregrina de Schoenstatt”.
Saúdo os fiéis de Carcare, Bitonto, Sciacca, Nocera Superiore e das dioceses de Acerra; a Sociedade das Irmãs do Santo Rosário de Villa Pitignano; os jovens de Torano Nuovo, Martignano, Tencarola e Carmignano, e aqueles que vieram com as Irmãs da Misericórdia de Verona.
Saúdo o Coro de San Giovanni Ilarione, as associações " Paz e Alegria " de Santa Vittoria d' Alba e "Calima" de Orzinuovi e os doadores de sangue de Cimolais.
Desejo a todos um bom domingo. Bom almoço e adeus!

O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro



Homilia do Papa Francisco pronunciada na vigília de oração pela paz

CIDADE DO VATICANO, 08 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos a seguir a homilia pronunciada pelo Papa Francisco neste sábado, 7 de setembro, durante a vigília de oração pela paz.
«Deus viu que isso era bom» (Gn 1,12.18.21.25). A narração bíblica da origem do mundo e da humanidade nos fala de Deus que olha a criação, quase a contemplando, e repete uma e outra vez: isso é bom. Isso, queridos irmãos e irmãs, nos permite entrar no coração de Deus e recebermos a sua mensagem que procede precisamente do seu íntimo.
Podemos nos perguntar: qual é o significado desta mensagem? O que diz esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?
1. Simplesmente nos diz que o nosso mundo, no coração e na mente de Deus, é "casa de harmonia e de paz" e espaço onde todos podem encontrar o seu lugar e sentir-se "em casa", porque é "isso é bom". Toda a criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em particular, criados à imagem e semelhança de Deus, formam uma única família, em que as relações estão marcadas por uma fraternidade real e não simplesmente de palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflete em todas as relações humanas e dá harmonia para toda a criação. O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro. Esta noite, na reflexão, no jejum, na oração, cada um de nós, todos nós pensamos no profundo de nós mesmos: não é este o mundo que eu desejo? Não é este o mundo que todos levamos no coração? O mundo que queremos não é um mundo de harmonia e de paz, em nós mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas e entreas nações? E a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está orientada pelo bem de todos e guiada pelo amor?
2. Mas perguntemo-nos agora: é este o mundo em que vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela continua a ser uma obra boa. Mas há também "violência, divisão, confronto, guerra". Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.
Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito. É justamente isso o que nos quer explicar o trecho do Gênesis em que se narra o pecado do ser humano: o homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está nu e se esconde porque sente medo (Gn 3, 10); sente medo do olhar de Deus; acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne (v. 12); quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo. Podemos dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Mas, podemos dizer isso: que da harmonia se passa à desarmonia? Não. Não existe a "desarmonia": ou existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença, confronto, medo...
È justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem: «Onde está o teu irmão Abel?». E Caim responde «Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar: Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda do teu irmão! Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros! Contudo, quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir. Quanta violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos e irmãs. Não se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda violência e em toda guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje prolongamos esta história de confronto entre os irmãos, ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão. Ainda hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda: aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as nossas razões para nos justificar. Como fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte, falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!
Depois do Dilúvio, cessou a chuva, surge o arco-íris e a pomba traz um ramo de oliveira. Penso também hoje naquela oliveira que os representantes das diversas religiões plantamos em Buenos Aires, na Praça de Maio, no ano 2000, pedindo que não haja mais caos, pedindo que não haja mais guerra, pedindo paz.
3. E neste ponto, me pergunto: É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos e os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão – penso nas crianças: somente nelas... olha a dor do teu irmão, e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade.. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: «Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881). «A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671). Irmãos e irmãs, perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos, nesta noite, pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Assim seja.
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