Pe. Renan
Dall´Agnol
Passados 51
anos da abertura do Concílio Vaticano II (1962), pode-se correr o risco de
considerá-lo simplesmente uma memória. Numa época de mudanças, acha-se
estranho, olhar um momento já acontecido. Todavia, o concílio desencadeou um
processo eclesial profundo, e que ainda está em aberto. A Igreja
sentia a necessidade de atualizar a maneira de apresentar ao mundo as verdades
de fé. Assim, definiu-se a tarefa primordial: apresentar a verdadeira
identidade da Igreja, na sua natureza e missão.
Uma
ruptura?
O concílio
não provocou uma ruptura com a tradição da Igreja. Pelo contrário, ele procura
responder às rupturas do desmoronamento de um sistema cultural, em que
aconteceu a dissociação e a ruptura entre a fé e cultura. Com a queda do
sistema cultural vigente, faz-se necessário reorganizar toda a conjuntura
social.
Logo, o
concílio foi uma ponte e não uma ruptura, porque fez a Igreja sair do gueto
cultural, já insustentável em suas expressões na época.
Por que o
concílio?
O Papa João
XXIII via a necessidade de tornar compreensível a mensagem cristã ao mundo
moderno. Ou seja, o anúncio do Evangelho precisava ser mais claro às pessoas.
Neste sentido, o concílio preocupou-se em tornar a Igreja mais acessível ao
invés de combater erros. O Papa Paulo VI manifestou que o concílio devia
perguntar-se sobre o que a Igreja se compreende sobre si mesma, para assim
dialogar.
O que é a
Igreja?
Na Lumen Gentium, a Igreja é
apresentada, primeiramente, como mistério. A palavra mistério não significa um
enigma incompreensível. Antes de tudo, no mistério de Deus vivemos e nos
movemos. É possível compreender a mensagem central do mistério, mas jamais se
pode abranger toda a sua complexidade.
Quem fundou a
Igreja?
A Igreja é o
que é em Deus. “Sendo Cristo
luz dos povos” a Igreja é, em
Cristo, o sinal e instrumento de salvação. Absolutamente, não se pode pensar
uma Igreja sem Cristo ou à margem do Espírito Santo, porque em Deus ela é
sacramento, sinal de íntima união com Deus e com o gênero humano. O Filho de
Deus, que assumiu nossa humanidade, que morreu e ressuscitou para nossa
salvação, é quem preparou a Igreja, sob a vontade do Pai, e a fundou para
perpetuar a obra salvadora na história da humanidade, sob a ação santificadora
do Espírito Santo. “A Igreja,
isto é, o reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo
pelo poder de Deus” (LG, 3).
Portanto, à luz do mistério da Trindade é que a Igreja é “fundada”.
Uma imagem da
Igreja: Povo de Deus
A Igreja é um
mistério de comunhão, semelhante à comunhão que há entre as Pessoas da
Trindade. Pois“aprouve a Deus santificar e salvar os homens, não
individualmente, excluindo toda relação entre os mesmos, mas formando com eles
um povo, que o conhecesse na verdade e o servisse em santidade” (LG, 9). Para compreender essa
unidade que vive a Igreja, a tradição utiliza inúmeras imagens: redil do
rebanho, campo de Deus, edifício de Deus, corpo de Cristo, entre outras. Mas o
concílio trouxe de forma inovadora e significativa a compreensão da Igreja como
Povo de Deus.
Antes do
Vaticano II, a Igreja, era percebida como uma instituição exclusivamente
hierárquica, em que se identificava Igreja somente aos membros do clero. Antes
das diferenças de ministérios, a Igreja é Povo de Deus. Os leigos têm uma
missão que lhes é concedida, originariamente e de modo definitivo, pelo próprio
Jesus Cristo, nos sacramentos do Batismo e da Crisma.
Todos os
membros da Igreja constituem uma unidade na diversidade e são igualmente chamados
à santidade. Consequentemente, ser santo não é resultado de méritos e esforço
pessoal, mas é pura graça de Deus.
Esta imagem
da Igreja como Povo de Deus manifesta que ela não é uma entidade estática,
petrificada, fora da história humana. Ao contrário, a Igreja faz parte da
história e a ilumina com a salvação que brota de Cristo.
BOA NOTÍCIA |
JULHO 2014