quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Se não transmite esperança, a pregação é vaidade

Em Santa Marta, o Papa deteve-se na diferença entre Jesus, "próximo de seu povo" e os fariseus, que "falava bem", mas estavam longe das pessoas
Por Luca Marcolivio

ROMA, 16 de Setembro de 2014 (Zenit.org) -
A pregação é uma coisa, estar perto das pessoas é outra. Mais uma vez o Papa Francisco, do altar da Capela de Santa Marta, alerta sobre a hipocrisia com que muitos vivem a vida de fé.
Durante a homilia desta manhã, o Santo Padre deteve-se na protagonista do Evangelho de hoje (cf. Lc 7,11-17), a viúva de Naim, que perdeu seu único filho. E Jesus realiza o milagre: não só trouxe à vida o jovem, mas também demonstrou proximidade com sua mãe. "Deus ? dizem as pessoas- visitou o seu povo". Quando visita traz "algo novo" e "sua presença está especialmente ali?, explicou o Papa.
Jesus não apenas está "próximo do povo", mas é capaz de "entender o coração do seu povo". A "proximidade", disse Francisco, "é o modo de Deus."
O outro modo do Senhor é a "compaixão", a mesma compaixão que "Ele teve quando viu tantas pessoas como ovelhas sem pastor".
Jesus se comove diante dos homens que Ele encontra: diante do túmulo de Lázaro, assim como o pai misericordioso ficou comovido quando viu o retorno do filho pródigo.
O caminho para a proclamação do Evangelho, portanto, é o da "proximidade" e da "compaixão", diferente daquele dos "mestres" e "pregadores da época: os doutores da lei, os escribas, os fariseus", que "falavam bem" e "ensinavam bem a lei", mas estavam "afastados do povo?.
O povo não podia sentir a pregação como uma "graça", porque "faltava proximidade, faltava a compaixão, isto é, sofrer com o povo".
O que distingue Jesus de seus pregadores contemporâneos é a sua capacidade de restituir a vida - como fez com o filho da viúva de Naim ? e a "esperança" para seu povo.
Mas quando você prega a Palavra de Deus "brilhantemente", mas sem ser capaz de "semear a esperança", o resultado é apenas a "vaidade".
O milagre realizado por Jesus no Evangelho de hoje, é sinal de uma "visita de Deus a seu povo". E nós mesmos podemos "pedir a graça que o nosso testemunho de cristão seja portador da visita de Deus ao seu povo, isto é, da proximidade que semeia a esperança", concluiu o Papa Francisco.

A Igreja precisa mudar? Em quê?

Bispo auxiliar de Fortaleza, dom José Vasconcelos, fala sobre o pontificado de Francisco e as mudanças na Igreja
Por Emanuele Sales

FORTALEZA, 16 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - -
 Dom Vasconcelos, recentemente o Papa Francisco pediu aos fieis, durante homilia, que não tivesse medo ?de mudar as coisas segundo a lei do Evangelho?. Que mudanças são essas que a Igreja pede e pelas quais ela tem de passar?
O Concílio Vaticano II foi um novo pentecostes na Igreja. O mundo inteiro ansiava por mudanças, porque a Igreja estava fechada em seu mundo, e o Concílio veio abrir as portas da Igreja para o mundo. Então, havia uma sede de mudanças. Porém, não eram mudanças por mudanças. A Igreja não precisa mudar, porque é reflexo de Deus, e Deus é imutável. Por que a Igreja mudar? Mudar em que? Não é mudar para ser outra coisa além daquilo que ela é: corpo místico de Cristo, povo de Deus.
A mudança significa uma renovação no sentido de retornar às suas fontes, à fidelidade à sua origem, de se despojar de adereços, de capas, de carapaças que se foram adquirindo ao longo dos séculos. Então, a grande mudança que o Papa propõe e tem realizado através do seu testemunho de vida, é aquela mudança que ocorreu com Francisco de Assis, de fato, a de voltar à simplicidade da Igreja, à diaconia, que significa serviço. Jesus disse ?eu não vim para ser servido, eu vim para servir e dar a vida em resgate de muitos?. Essa é a grande mudança que precisa ocorrer. A Igreja precisa ser menos instituição e ser mais comunhão, comunidade, expressão viva do Amor de Deus. Essa é a grande revolução que precisamos fazer acontecer sob a graça e a inspiração do Espírito Santo.. É irmos ao essencial. O que é o essencial? Quantas vezes nós brigamos por picuinhas, por coisinhas pequenas, e esquecemos o principal: o Amor, a fraternidades, é sermos expressão vivas da misericórdia de Deus para com o próximo. Essa é a grande mudança que precisa ocorrer.
Na Evangelii Gaudium, o Papa tem falado para todos, para os sacerdotes, que precisamos ser pastores, sentir o cheiro das ovelhas, ir ao encontro das pessoas. Pela ocasião do Dia Mundial das Comunicações, ele fala que precisamos promover a cultura do encontro. Então, são essas as mudanças que precisamos fazer acontecer.
- E do Sínodo para a Família, o que se pode esperar?
Hoje, particularmente, foi convocado um Sínodo para a Família. Então, há uma expectativa muito grande, em especial, por parte de casais de segunda união, que esperam ser melhor acolhidos na Igreja. Na realidade, nunca deixaram de ser. Porém, precisamos ter uma consciência maior. Como podemos dar maior espaço e tratarmos com mais caridade essas pessoas que contraíram matrimônio que, por alguma razão, não deu certo, mas que vivem a fidelidade conjugal, e que tem o desejo de serem fieis testemunhas de Jesus Cristo. Essas pessoas estão privadas da graça de Deus. E o Sínodo da Família vai, então, falar sobre isso.
A Igreja espera, sobretudo, que tomemos consciência do valor da família, da importância da família. Hoje em dia, a família já quase não existe, está dispersa. Os meios de comunicação, como nos diz o Papa, ao invés de nos unir e nos tornar mais próximos, muitas vezes nos desune. Há também a dimensão do que é a família cristã, que ultrapassa os vínculos do sangue, é uma família maior.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A lógica da Cruz


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

Recentemente apareceram notícias de pessoas sendo crucificadas! Em nosso tempo praças ficaram cheias de gente pregada na cruz, outras degoladas, levas de homens, mulheres e crianças, enfermos, anciãos, num roldão de intolerância impensável em tempos que se consideram civilizados. É a cruz que comparece de novo!

Percorrendo estradas, pelo Brasil afora, não é raro encontrar em algumas colinas a Cruz, elevada e imponente, muitas vezes iluminada, outras enfeitadas com os símbolos da paixão de Cristo, cravos, coroa, lençol ou lança. E a mesma Cruz é vista, como sinal de fé, em locais marcados por acidentes, nos quais homens e mulheres tiveram suas vidas ceifadas. É ainda a Cruz que comparece serena sobre as sepulturas cristãs, como identificação do tipo de pessoa ali plantada, no respeito ao corpo marcado pela graça do Batismo. Ela ainda é vista em salas de aulas, repartições públicas, tribunais e em nossas casas, trabalhada pela arte e pela devoção de gerações de cristãos, vista de diversas perspectivas. Muitos a trazem como enfeite precioso, outros a escolhem de lenho despojado, para declarar os rumos de suas opções de fé. O sinal da Santa Cruz, que nos livra dos inimigos estará sempre presente, onde quer que esteja um homem ou mulher de fé. E a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz como uma grande festa, sabendo que a sabedoria nela escondida e revelada continuará atual e poderosa.
Contam-se histórias, inventadas com verdade e singeleza, como aquela da pessoa que julgava pesada a própria cruz. Deixada na liberdade da escolha, foi procurar num imaginado "depósito" de cruzes, a mais adequada às suas condições. Depois de muito analisar, não se apercebeu a mesma cruz deixada à porta, foi de novo abraçada e carregada. Outro personagem descobriu que a Cruz considerada muito grande era justamente a medida de uma ponte necessária à superação de um abismo. São formas simpáticas, criadas pelo imaginário popular, com as quais o Evangelho da Cruz, tão antigo e novo e, mais ainda, necessário, continua a ser anunciado nos púlpitos do cotidiano. Por mais que dela se pretenda escapar, a Cruz comparecerá nas curvas da vida, e não há exceções.
No entanto, é bom que se esclareça o sentido profundo e verdadeiro da Cruz. O sofrimento sozinho não deve e nem pode ser procurado, num gosto mórbido e destruidor da vida humana. Dificuldades, dores ou problemas têm a vocação de se transformarem em Cruz, quando se acrescenta o único ingrediente com o qual a vida ganha sentido, o amor. A cruz com a qual foram supliciadas tantas pessoas foi redimida e se transformou em sinal e caminho de salvação por aquele que nela se imolou para a salvação da humanidade. Só a entrega livre, a descida à condição de escravidão e liberdade, no amor eterno, feita por quem não se apegou à sua igualdade com Deus (Cf. Fl 2, 6-11), na morte de Cruz, dá sentido a tudo o que se faz, inclusive o sofrimento e a dor. Aí se joga com a liberdade humana! Podemos ficar apenas com problemas, dores, angústias, enfermidades ou outras expressões com as quais qualificamos os desafios da vida humana, ou aproveitamos a graça de dar-lhes um nome sagrado, Cruz, unindo-nos a Cristo e escolhendo-o como Senhor e Salvador, para ter a vida eterna, não só depois de sermos apresentados diante da face de Deus, no limiar da eternidade, mas agora, no momento presente em que o Senhor nos quer realizados e felizes.
Vale a pena fazer um exercício, olhando para a Cruz de Cristo (Cf. Jo 3, 13-17). A Cruz aponta para o alto, para a grandeza do eterno. Mirar o relacionamento com Deus é resposta humana àquele que criou, por desígnio admirável, a maravilhosa aventura de estar nesta terra. Buscar as coisas do alto (Cf. Cl 3, 1-2) é atitude digna dos filhos de Deus. E pode iluminar o cotidiano de forma surpreendente. Pensa no que é melhor, no mais perfeito, naquilo que é mais santo, deixar-se envolver pela beleza com que Deus pensou a humanidade, ter sonhos de paraíso, sim! E a Cruz tem uma outra haste, horizontal, braços que se abrem e acolhem no amor tudo o que é humano. É a escolha do relacionamento amigo e verdadeiro com as outras pessoas, com a sensibilidade de quem olha ao redor e não deixar escapar qualquer possibilidade para amar e fazer o bem.
As duas hastes da Cruz se "cruzam" no coração humano! É lá dentro, no íntimo das escolhas inteligentes e livres simbolizadas justamente pelo coração é que se encontra a possibilidade de transformar dor, sofrimento, problemas ou incógnitas em caminho de salvação. Também as alegrias serão transformadas em Cruz e ganharão sentido, quando estes dois movimentos se fizerem presentes, olhar para o alto e abrir os braços no amor ao próximo. Sim, pois também gargalhadas dadas, ou outras expressões efusivas dos sentimentos humanos, sem o amor se esvaziam e esvaziam a vida. Só em Cristo e em seu mistério a história pessoal e a da humanidade encontram rumo e sentido.
Ainda a verdade da Cruz! É que ela é uma face do mistério, que tem o outro lado, a Ressurreição. Quando se abraça a vida e todos os seus desafios com amor, a força do Cristo, que venceu a morte e a dor, resplandece gloriosa. O convite à fé cristã faz de nós homens e mulheres pascais, capazes de passar continuamente da morte à vida. O segredo estará sempre na tomada de consciência, momento por momento, das infinitas possibilidades criadas pelo amor de Deus. Uma dificuldade na saúde será aproveitada para oferecer tudo o que se vive, sem deixar de lado os necessários cuidados, com os meios oferecidos pela ciência de nosso tempo. Uma crise familiar ressoará no coração como apelo a sair de si mesmo, para amar e servir com maior dedicação. As muitas situações sociais e econômicas, do emprego à política ou outros problemas, tudo haverá de ser enfrentado com maior serenidade, passando continuamente da morte à vida. Até as crises de fé poderão ser enfrentadas com paz pelas pessoas que começam a sair de si, para amar e servir ao próximo, entregando-se e confiando na força que brota da Cruz de Cristo, com a qual a luz comparece de novo nos caminhos da existência.

Tomando a Cruz para seguir Jesus

 Dom Roberto Francisco Ferreria Paz

Bispo de Campos (RJ)
Neste domingo celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Muito embora na cerimônia da Sexta Feira Santa já reverenciamos o Lenho Sagrado, por estarmos em dia de penitência e recolhimento não podemos transbordar de alegria e gratidão venerando ao que foi instrumento e trono da Redenção.

A origem desta celebração remonta ao fato do Imperador Heráclio ter recuperado a famosa relíquia descoberta por Santa Helena, que tinha sido seqüestrada pelos medos. Tal monarca quis homenagear esta vitória com um desfile triunfal em Jerusalém, que foi bem sucedido até que o Imperador que estava levando a relíquia em suas mãos, sentiu um peso descomunal que o impedia de continuar. Veio o Patriarca da cidade e lhe disse que se despojasse de suas insígnias e vestes reais e ficasse apenas com uma túnica e descalço, pois devia imitar a Jesus o servo sofredor, que só levava uma coroa de espinhos e a Cruz como trono da sua realeza ao serviço da salvação da humanidade; desta maneira conseguiu continuar o trajeto.
Os cristãos que pretendem ser fieis seguidores de Cristo também devem se converter a humildade, esvaziamento e abandono da Cruz para servir a Deus e aos irmãos. Nos últimos tempos tem entrado na nossa mentalidade o mundanismo espiritual ao dizer do Papa Francisco, um cristianismo light, sem Cruz nem conversão, de momentos e emoções, de prodígios e sinais externos, com pouca ética e muita estética, com marketing de impacto, mas escasso ou nenhum compromisso com os pobres. A Cruz sempre será a maior prova de amor, o teste da fidelidade suprema, da esperança que não decepciona e da certeza da vitória da Páscoa.
É preciso vivê-la e anunciá-la como o caminho real, que conduz a maturidade do amor, ao fortalecimento da fée a esperança que salva, como o Livro da Sabedoria que ensina o valor e o preço da nossa Redenção. Como afirmava um grande santo contemporâneo: nula dia E sine crucem, nenhum dia sem Cruz, pois ela nos faz crescer no amor solidário, na renúncia, e na justiça maior do Reino.
A Cruz de Cristo não produz vitimas mas santos, formando verdadeiros discípulos missionários que se entregam totalmente a sublime tarefa de salvar almas e instaurar o Reino da paz, justiça, graça e amor. Bendita e Louvada seja nesta terra a Santa Cruz. Louvado seja Deus!



A missão nos primeiros dois seculos do cristianismo


 Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)

           Introdução
            Iluminados pela Palavra de Deus, impulsionados pela Conferência de Aparecida e pelas Diretrizes da CNBB 2011-2015, no momento atual fala-se bastante, com muita alegria e disposição de espírito, sobre o discipulado, a missão na Igreja e no mundo. Algumas pastorais e alguns movimentos descobriram pelo batismo que são missionários e missionárias, fazendo missão, pela acolhida, visitas às famílias e às comunidades.  A Palavra do Senhor Jesus encarna-se nas pessoas e nos povos. Esses temas estavam também presentes nos primeiros tempos do cristianismo. Eles ganharam sua consideração, porque as pessoas, uma vez convertidas, proclamavam aos outros as maravilhas de Deus em Jesus acontecidas nela. É importante fazer uma análise de como esses dados foram vivenciados, proclamados por muitos povos que se encantaram pela missão cristã.

            1. A missão a partir de escritores cristãos
Esse período (os primeiros dois séculos) firma a missão em quase todos os cantos do Império Romano através da divulgação da mensagem de Jesus aos pagãos, de modo a constituir seguidores e comunidades. A missão é mais urbana que rural, dando-se mais no Oriente que no Ocidente. Pelos autores cristãos há notícias de algumas comunidades onde havia serviços próprios, como os diáconos, os presbíteros, os bispos, e muitos leigos e leigas comprometidos.
 Clemente Romano escreveu, no final do primeiro século, para os Coríntios, exortando-os para unidade, uma vez que houve ali uma revolta contra os dirigentes da comunidade, presbíteros e bispos, os assim “eleitos de Deus”. Ele tem presente, sobretudo Cristo, que veio a este mundo para servir e ajudar as pessoas a se encontrarem na alegria e no amor. “Ele carrega nossos pecados e sofre por nós. E nós o contemplamos entregue ao sofrimento, à dor e aos maus-tratos. Ele foi ferido por causa de nossos pecados e maltratado por causa de nossas iniqüidades”.  
 Em Inácio de Antioquia há notícias, pelas suas cartas, da missão que prosseguia pelo mundo afora. Na sua visão, os bispos eram a imagem do Pai, os presbíteros, a assembléia dos apóstolos, e os diáconos a imagem de Jesus Cristo. Ele deseja que todos trabalhem pela unidade da Igreja diante dos gnósticos, docetas ou mesmo judaizantes. Essa unidade é dada também pela eucaristia, pelo fato de ter uma só carne em Jesus Cristo, um só cálice, e um único altar.  Nesse período, ganhou muito estima a figura de Policarpo, bispo de Esmirna. Sem dúvida, ele influenciou a sua comunidade na fé e na organização dos serviços eclesiais e sociais. Dele nós também temos uma carta dirigida aos Filipenses, onde ele coloca o dever dos esposos, das viúvas, dos diáconos, dos jovens e dos presbíteros. Ele foi uma pessoa de muita fé em Jesus Cristo de modo a morrer por ele. Prova disso foi a sua resposta diante do chefe da polícia que insistia em que renegasse a sua fé. Ele replicou: “Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como poderia blasfemar o meu rei que me salvou?”
No II século, o cristianismo se estabeleceu sempre mais nas cidades e também na campanha. Ele era proclamado junto ao povo pagão, através de pessoas simples e de mestres, que fundavam escolas em vista da conversão cristã. Um desses foi Justino do qual encontram-se dados importantes a respeito da missão. Ele diz que os cristãos são ateus dos deuses dos pagãos, mas não “do Deus verdadeiríssimo, pai da justiça, do bom senso e das outras virtudes, no qual não há mistura de maldade. A Ele e ao Filho, que dele veio e nos ensinou tudo isso, ao exército dos outros anjos bons, que o seguem e lhe são semelhantes, e ao Espírito profético, nós cultuamos e adoramos, honrando-os com razão e verdade, e ensinando, generosamente, a quem deseja sabê-lo, a mesma coisa que aprendemos”.  
 Ora, os cristãos não eram pessoas violadoras de deveres sociais. Segundo Justino, eles pagavam os tributos e contribuições, antes dos próprios pagãos nos lugares estabelecidos por eles, porque assim foi ensinado por Cristo Jesus.  Através desse autor, sabe-se, desde o início do II século, que os cristãos encontravam-se no domingo, dia do Senhor, para a celebração eucarística e a continuidade da vivência da palavra de Jesus em suas vidas. No primeiro dia da semana, ou o dia do Sol, celebrava-se um encontro daqueles que moravam, seja nas cidades, seja nos campos, e lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas.  Oferece-se pão, vinho, água, e o presidente faz subir a Deus suas preces e ações de graças. Em seguida, há a distribuição e participação de cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes, através dos diáconos sendo distribuído a órfãos e viúvas, aos que passavam por necessidades, aos que estavam nas prisões, forasteiros, e todos os que se aproximavam da comunidade para receber alguma ajuda.
Justino reconhece também que o Verbo (Lógos spermatikós) semeou sementes da verdade em outros povos, de modo que a missão foi acontecendo anteriormente pela ação divina e humana. Assim todos aqueles que viveram as normas do Verbo estão ligados a ele, ou mesmo os filósofos que buscaram a verdade e não a puderam perceber na sua integridade, viveram as normas do cristianismo. Se a verdade está no cristianismo, segundo Justino,  eles a contemplaram, em parte, e por isso estão ligados aos bens do Senhor Jesus. Dessa forma, esse autor do segundo século foi muito feliz em colocar a missão como obra de Deus em meio ao mundo pagão, onde a Igreja estava sempre mais ganhando forças.
   2. O significado e a identificação da missão cristã no Império – Causas da conversão cristã
         Um fato essencial é que a missão aconteceu no Império romano que não era a-religioso; pelo contrário, estavam presentes diversos deuses em contexto social marcado pelo politeísmo. A veneração dos deuses era um dos deveres dos cidadãos em relação ao Estado, constituindo um elemento importante do direito romano. Tudo isso visava uma religião de salvação e de utilidade pública.  Levanta-se a pergunta: por que o mundo antigo se converteu ao cristianismo e não permaneceu no contexto pagão ou seguiu a filosofia platônica ou ainda manifestou simpatia ao judaísmo?  Se de um lado, é impossível aduzir um único motivo pelo qual os pagãos buscavam o cristianismo, de outro lado, é possível decifrar algumas causas que levaram as pessoas a assumirem essa nova religião:
A busca da verdade: é o desejo de todos os seres humanos, em todos os tempos. Jesus tinha dito que a verdade liberta as pessoas (cf. Jo 8,32).  Para o cristão, a verdade é o Cristo, o Filho de Deus encarnado. Alguns autores converteram-se por essa busca da verdade contida no cristianismo, o Cristo, a presença de Deus. Justino de Roma fala da busca pela verdade. Tertuliano converteu-se ao cristianismo motivado pela verdade. Deus é o Deus verus; e a verdade é o objeto de ódio dos demônios.
      A busca pela liberdade que vem do próprio Cristo. Essa é uma outra causa em vista da conversão cristã. O Império romano tinha a base de sua pirâmide na escravidão. Esse mundo de escravidão e de escravos encontrou, no cristianismo, a liberdade da alma, uma certa igualdade dos direitos religiosos com os seus senhores. Percebe-se o valor da liberdade que vem de Jesus Cristo para todo o povo que não podia ter direitos mesmo diante de suas palavras: “A verdade vos libertará” (Jo 8,3).  Os padres em si eram contrários à escravidão.
      O martírio. Esse foi um outro fator que possibilitou a conversão do paganismo ao cristianismo, por parte de muitas pessoas. Diversas são as testemunhas que atraíram pessoas e iniciaram uma nova caminhada de fé. Tertuliano dizia: Semen est sanguis christianorum. “É semente o sangue dos cristãos”.  O martírio era uma ocasião que levava pessoas à conversão, porque trazia sofrimentos e entrega de suas vidas a Jesus. O martírio era visto como uma imitação do fiel a Jesus até às últimas conseqüências pela sua paixão, morte e a esperança na ressurreição.
 3. Pessoas empenhadas na missão
A missão, nos primeiros dois séculos, foi assumida por muitas pessoas, não só por aqueles que tivessem um determinado estudo ou eram enviados pela comunidade apostólica, mas também por pessoas humildes com pouco conhecimento. No entanto, elas não deixavam de divulgar o que aprenderam pelo evangelho de Cristo Jesus.
  O anúncio da fé em Cristo não era algo organizado pela própria Igreja, mesmo porque não podia fazer um controle, seja pela autoridade da Igreja, seja por uma equipe responsável. Se havia grandes mestres livres que tinham discípulos e fundaram Escolas, como Justino em Roma, Panteno, Clemente e Orígenes, em Alexandria, e Tertuliano, no Norte Africano, havia também pregadores itinerantes que assumiam com alegria a missão de propagar o evangelho de Cristo. A Didaqué fala de missionários (apóstolos e profetas), que passavam de comunidade em comunidade, de modo que a comunidade deveria recebê-los bem, como o Senhor Jesus.
Orígenes fala de pessoas que percorriam, não só as cidades, mas também as aldeias e sítios para trazerem as pessoas à piedade de Deus. Elas não realizavam tais coisas para se enriquecer, porque se contentavam com o indispensável, e homens e mulheres partilhavam com o povo das comunidades o que era supérfluo.
    A Igreja da Antioquia florescia e crescia em número; foi ali que, pela primeira vez, os seguidores de Cristo chamaram-se de cristãos (cf. At 11,19-26). Eusébio diz que os apóstolos e os discípulos foram dispersos pela terra inteira por causa do evangelho. Ele fala de alguns deles; Tomé, conforme a tradição, anunciara a Pártia, André a Silícia, João a Ásia, tendo morrido em Éfeso. Pedro pregou aos judeus da diáspora, no Ponto, na Bitínia, na Capadócia e na Ásia (cf. 1 Pd 1,1). Mais tarde fora para Roma, onde recebeu a crucificação de cabeça para baixo, conforme o seu desejo. Paulo propagou o evangelho de Cristo por diversas regiões do mundo e foi martirizado sob Nero.
4. O cristianismo nas diversas regiões do Império
Se a missão aconteceu de uma forma geral, no contexto imperial, essa se encarnou nas diversas regiões e províncias como a Palestina, a Síria, o Egito, o Norte da África, a Itália, a Gália, e a Alemanha. Nesses países, a missão ganhou valor, porque muitos viviam na radicalidade o evangelho, a palavra de Jesus. Dessa forma, o mundo antigo assumiu a doutrina cristã.      
            Conclusão
            A compreensão da missão na Igreja tem o seu sentido em Jesus. Ele é o missionário do Pai. Veio anunciar a todos a misericórdia, o amor divino. Ele convoca todos à fraternidade, ao amor entre as pessoas e povos. Por isso mesmo, ele constitui discípulos e os envia ao mundo para proclamar as verdades sobre a sua pessoa, o Reino de Deus, a vida, o amor do Pai e a alegria do Espírito Santo. A missão cristã, nos primeiros dois séculos, alcançou praticamente os confins do Império, de modo que muitos assumiram a mensagem de Jesus com disposição de espírito. É claro que a missão sofreu, por parte dos seguidores de Jesus Cristo, perseguições, incompreensões, mortes. Porém, ela transformou a vida de muitas pessoas, homens e mulheres, porque encontraram, na mensagem evangélica, a alegria de doar a vida, servir e amar Jesus nas pessoas. A missão de Jesus não pára no tempo, porque vem amparada por Deus Pai e é iluminada pelo Espírito Santo. Ela continua em cada um de nós, na família, na comunidade e na sociedade, para que todas as pessoas sejam discípulas, discípulos, missionárias, missionários de Jesus Cristo. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Papa Francisco aos esposos: "nunca deixeis terminar o dia sem fazer a paz"



Homilia do Papa na Santa Missa com o rito do matrimônio
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 14 de Setembro de 2014 (Zenit.org
- O Santo Padre Francisco celebrou a Santa Missa na Basílica de São Pedro com o rito do matrimônio para 20 casais. Eis a homilia na íntegra:
A primeira Leitura fala-nos do caminho do povo no deserto. Pensemos naquele povo em marcha, guiado por Moisés! Era formado sobretudo por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar... Este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo actual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias.
Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia... É incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades... As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os «tijolos» para a construção da sociedade.
Voltemos à narração bíblica... A certa altura, o povo israelita «não suportou o caminho» (Nm 21, 4): estão cansados, falta a água e comem apenas o «maná», um alimento prodigioso, dado por Deus, mas que, naquele momento de crise, lhes parece demasiado pouco. Então lamentam-se e protestam contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto?» (Nm 21, 5). Sentem a tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho.
Isto faz-nos pensar nos casais que «não suportam o caminho», o caminho da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimónio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada e, muitas vezes, «nauseante».
Naquele momento de extravio ? diz a Bíblia ? chegam as serpentes venenosas que mordem as pessoas; e muitas morrem. Este facto provoca o arrependimento do povo, que pede perdão a Moisés, suplicando-lhe que reze ao Senhor para afastar as serpentes. Moisés pede ao Senhor, que lhe dá o remédio: uma serpente de bronze, pendurada num poste. Quem olhar para ela, fica curado do veneno mortal das serpentes.
Que significa este símbolo? Deus não elimina as serpentes, mas oferece um «antídoto»: através daquela serpente de bronze, feita por Moisés, Deus transmite a sua força que cura ? uma foça que cura ?, ou seja, a sua misericórdia, mais forte que o veneno do tentador.
Como ouvimos no Evangelho, Jesus identificou-Se com este símbolo: na verdade, por amor, o Pai «entregou» Jesus, o seu Filho Unigénito, aos homens para que tenham a vida (cf. Jo 3, 13-17). E este amor imenso do Pai impele o Filho, Jesus, a fazer-Se homem, a fazer-Se servo, a morrer por nós e a morrer numa cruz; por isso, o Pai ressuscitou-O e deu-Lhe o domínio sobre todo o universo. Assim se exprime o hino da Carta de São Paulo aos Filipenses (2, 6-11). Quem se entrega a Jesus crucificado recebe a misericórdia de Deus, que cura do veneno mortal do pecado.
O remédio que Deus oferece ao povo vale também e de modo particular para os casais que «não suportam o caminho» e acabam mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono... Também a eles Deus Pai entrega o seu Filho Jesus, não para os condenar, mas para os salvar: se se entregarem a Jesus, Ele cura-os com o amor misericordioso que jorra da sua Cruz, com a força duma graça que regenera e põe de novo a caminhar pela estrada da vida conjugal e familiar.
O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde, rompe, esgota. O amor de Cristo pode restituir aos esposos a alegria de caminharem juntos. Pois o matrimónio é isto mesmo: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher, no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o dever de ajudar o marido a ser mais homem. Este é o dever que tendes entre vós: «Amo-te e por isso faço-te mais mulher» - «Amo-te e por isso faço-te mais homem». É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa, mas isto é a vida! E, no meio desta teologia que a Palavra de Deus nos oferece sobre o povo em caminho, mas também sobre as famílias em caminho, sobre os esposos em caminho, um pequeno conselho. É normal que os esposos litiguem: é normal! Acontece sempre. Mas dou-vos um conselho: nunca deixeis terminar o dia sem fazer a paz. Nunca. É suficiente um pequeno gesto. E assim continua-se a caminhar. O matrimónio é símbolo da vida, da vida real, não é uma «ficção»! É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação e garantia. Desejo, a todos vós, um caminho lindo, um caminho fecundo. Que o amor cresça! Desejo-vos a felicidade. Existirão as cruzes? Existirão, mas o Senhor sempre estará lá para nos ajudar a seguir em frente. Que o Senhor vos abençoe!

Através da Cruz, a esperança foi restituída

          Após a oração mariana, o Pontífice advertiu que a guerra é uma loucura
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 14 de Setembro de 2014 (Zenit.org) -
 Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Dia 14 de setembro, a Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. Algumas pessoa não-cristãs podem questionar: por que "exaltar" a Cruz? Podemos dizer que nós não exaltamos uma cruz qualquer ou todas as cruzes: exaltemos a cruz de Jesus, porque nela foi revelado o máximo amor de Deus pela humanidade. Isso é o que nos recorda o Evangelho de João, na liturgia de hoje: "Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único? (3, 16). O Pai "deu" o Filho para nos salvar, e isso resultou na morte de Jesus e morte na cruz. Por quê? Por que foi necessária a cruz? Por causa da gravidade do mal que nos mantinha escravos. A Cruz de Jesus exprime duas coisas: Todas as forças negativas do mal e toda a suave onipotência da misericórdia de Deus. A cruz parece decretar a falência de Jesus, mas, na realidade, marca a sua vitória. No Calvário, aqueles que o injuriavam, diziam: "Se és o Filho de Deus, desce da cruz" (cf. Mt 27,40). Mas a verdade era o oposto: porque Ele era o Filho de Deus, Jesus estava ali, na cruz, fiel até o fim ao desígnio de amor do Pai. E por esta razão Deus "exaltou" Jesus (Filipenses 2.9), conferindo-lhe uma realeza universal.
E quando olhamos para a Cruz onde Jesus foi pregado, contemplamos o sinal do amor, o amor infinito de Deus por cada um de nós e a raiz da nossa salvação. Daquela Cruz vem a misericórdia de Deus, que abraça o mundo inteiro. Através da Cruz de Cristo, o maligno foi vencido, a morte foi derrotada, nos foi dada a vida, a esperança restituída. Isso é importante: através da Cruz de Cristo, a esperança foi restituída. A Cruz de Jesus é a nossa única e verdadeira esperança! É por isso que a Igreja "exalta" a Santa Cruz, é por isso que nós, cristãos, nos abençoamos com o sinal da cruz. Ou seja, nós não exaltamos as cruzes, mas a Cruz gloriosa de Jesus, um sinal do imenso amor de Deus, sinal da nossa salvação e caminho em direção à Ressurreição. E esta é a nossa esperança.
Enquanto contemplamos e celebramos a Santa Cruz, pensamos com emoção em muitos de nossos irmãos e irmãs que estão sendo perseguidos e mortos por causa da fé em Cristo. Isso acontece, em particular, onde a liberdade religiosa ainda não é garantida ou plenamente realizada. Acontece, porém, mesmo nos países e ambientes em que, em princípio, protegem a liberdade e os direitos humanos, mas que, na prática, os fiéis e especialmente os cristãos, encontram restrições e discriminações. Por isso, hoje, recordamos e rezamos especialmente por eles.
No Calvário, aos pés da cruz, estava a Virgem Maria (cf. Jo 19,25-27). É a Virgem das Dores, que amanhã celebraremos na liturgia. A Ela confio o presente e o futuro da Igreja, para que todos sempre saibamos descobrir e acolher a mensagem de amor e de salvação da Cruz de Jesus. Confio, em particular, os casais que tive a alegria de unir em matrimônio esta manhã, na Basílica de São Pedro.
(Após o Angelus)
Amanhã, na República Centro-africana, terá inicio oficialmente a Missão desejada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para favorecer a pacificação do País e proteger a população civil, que está a sofrer gravemente as consequências do conflito em curso. Enquanto asseguro o empenho e a oração da Igreja católica, encorajo o esforço da Comunidade internacional, que ajuda os centro-africanos de boa vontade. Que a violência ceda, quanto antes, o passo ao dialogo; que as facções opostas ponham de lado os interesses particulares e façam com que cada cidadão seja de que etnia ou religião for, possa colaborar para a edificação do bem comum. Que o Senhor acompanhe este trabalho pela paz!
Ontem visitei em Redipuglia, o cemitério austro- húngaro e o sacrário. Lá rezei pelos mortos devido à guerra. Os números são espantosos: fala-se de cerca de 8 milhões de jovens soldados tombados cerca de 7 milhões de civis. Isto faz compreender quão a guerra seja uma loucura! Uma loucura da qual a humanidade não aprendeu ainda a lição, porque depois dessa guerra, houve uma segunda a nível mundial, e tantas outras estão hoje em curso. Mas quando é que aprendemos, quando é que aprenderemos nós esta lição? Convido todos a olhar para Jesus crucificado para compreender que o ódio e o mal derrotam-se com perdão e o bem, para compreender que a guerra como resposta só faz aumentar o mal e a morte.
E agora saúdo cordialmente todos vós, fiéis de Roma e peregrinos da Itália e de vários países.
Saúdo em particular "Los Amigos de Santa Teresita de Madre y Elisabeth" da Colômbia; os fiéis de Sotto il Monte Giovanni XXIII, Messina, Génova, Collegno e Spoleto, e o coro de jovens de Trebaseleghe (Padova). Saúdo os representantes dos trabalhadores do Grupo IDI e dos membros do Movimento Arco-íris Santa Maria Dores.
Peço-vos, por favor, rezem por mim. Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço. Adeus!

domingo, 14 de setembro de 2014

SACRAMENTO, o que é?




“Tu sabes, sempre nas profundezas do teu coração, que tu tens necessidade de Deus, mais do que qualquer outra coisa. Mas não sabes que Deus também tem necessidade de ti, que ele, na plenitude da sua eternidade, necessita de ti!”   (Martin Buber)
(Martin Buber =filósofo, escritor e pedagogo, viveu( 1878-1965) 
O ser humano é um ser social e precisa do outro para conviver. Para comunicar-se criou sinais. ( a fala = sons = letras = palavras) Sinais esses para expressar os sentimentos, as emoções, e criou também os símbolos ( um coração significa bem querer )
A natureza também tem seus sinais (fumaça, trovão, lágrima, sorriso ) são os sinais naturais. Portanto os sinais são naturais ou convencionais.
Mas hoje queremos falar de algo mais intenso, de um sinal mais forte,  que significa amor...
Tenho no meu jardim um pé de alecrim. Ele é igual a todos os outros pés de alecrim que há no mundo. Aquele cheiro gostoso, aquelas flores pequeninas que exalam um perfume próprio. Gosto de olhar meu pé de alecrim... Muitas vezes até converso com ele...trato dele com carinho e atenção.
É igual a todos os demais, exceto numa coisa, foi meu pai que me deu um galho lascado, para ser plantado no meu jardim... Faz tempo! Meu pai já morreu. O alecrim guardou esse gesto, como se do arbusto saísse fios de memória que me ligam a alguém que já não está mais presente.
É uma sensação muito pessoal, apenas a mim esse pé de alecrim é especial,  mágico, que mexe comigo. Os amigos veem a planta, sentem o seu cheiro, mas não percebem o segredo que  existe. Só conhecerão o segredo se eu contar. Apenas eu posso sentir e falar de uma ausência, de alguém que já esteve ali... Lembrar  um rosto,  um sorriso,  uma fala...  Um amor! A memória faz a imaginação voar, ela enche o ar com coisas humanas, de parceria, fidelidade e muitos anos vividos juntos. O meu pé de alecrim desperta em mim saudades, faz brotar em meu coração a memória do amor e o desejo de voltar a ter sua presença física de meu pai junto de mim.. Quando há esse despertar de saudades, no coração brota a memória do amor, chamamos sacramento.
O termo sacramento tem origem na promessa de fidelidade que os militares faziam ao imperador, que se manifestava visivelmente no selo que eles levavam.
Para entender bem sacramento, precisamos nos reportar a história da salvação e perceber o significado da obra salvífica de Cristo. Os sacramentos são sinais de comunicam a mistério de salvação realizado em Jesus Cristo.
Para nós cristãos a liturgia é a expressão mais plena, pois é na celebração e nos sacramentos que a comunidade se identifica. Os sacramentos são sinais da presença de Deus, do seu amor por cada um de nós, é uma graça eficaz que produz frutos, ou seja, conduz a uma vida pautada nos ensinamentos de Deus, á escuta da Palavra e uma vida cristã engajada na comunidade de fé.
Exige fé e compromisso. Não é fato de receber o rito que salva. Quem salva é Cristo, e quem se salva é quem aceita Jesus Cristo e nele crê.
Jesus Cristo é o sacramento do Pai, pois é o grande sinal do amor de Deus, o sinal de salvação que Deus realizou em Jesus Cristo. Toda a vida terrena de Jesus são sinais que tornam visível a ação de Deus no mundo, na humanidade. Pois é em Cristo que encontramos Deus , a  graça da salvação.
A Igreja é o sacramento de Cristo, que realizou sua missão entre os homens, viveu fazendo o bem, sempre obediente a vontade do Pai, entregou-se a morte para salvação da humanidade. A Igreja é sinal do amor de Cristo por nós, pois nela ele está presente e através dela continua a conduzir o cristão para o Pai, para vida plena. A Igreja é o caminho para alcançar a salvação.  A Igreja é o sinal e instrumento de intima  união com os seus e da unidade do gênero humano. Por isso a Igreja, como sacramento de unidade tem um povo santo, unido a Cristo e ordenado por um bispo. Pois ela se destina a santificação dos cristãos, a edificação do Corpo de Cristo e ao culto a Deus.
São sete os sacramentos da Igreja, as indicações do caminho, são encontros com Jesus em momentos significativos da vida. Por isso exige três realidades para ser visível, sensível e perceptível que são: Palavra, gesto e pessoa ou objeto.

Sacramentos de Iniciação Cristã: Batismo – Crisma – Eucaristia
Sacramentos de Cura: Confissão - Unção dos Enfermos
Sacramentos de Serviço: Ordem – Matrimônio.
PORTANTO:
Sacramentos são sinais de uma realidade espiritual que existe no coração de cada pessoa humana e na comunidade de fé.
São sinais expressos por Ritos, ou seja, por  cerimônias litúrgicas, palavras e uso de alguns símbolos, gestos.
São sinais que levam a relembrar, motivar e crescer na fé, no amor e na comunidade de qual é membro. Por isso são chamados sinais sagrados.


                                                  Maria Ronety Canibal

Ave-Maria do Peão



Ave-Maria do Peão



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Prezados diocesanos. Caros gaúchos e queridas gaúchas. Próximos do dia 20 de Setembro, nós saudamos particularmente os amantes das tradições gaúchas, permeadas de profundos sinais de fé cristã. Não podemos expressar com fidelidade nossa cultura riograndense, sem fazer menção a suas ricas expressões de religiosidade. É com santo orgulho que afirmamos ser a Fronteira Oeste, a Porteira de Entrada do cristianismo em nosso Estado. Já em 1626, junto com os primeiros missionários jesuítas Roque Gonzáles, Afonso Rodriguez e João de Castilhos – declarados Santos das Missões – entrava, pelo Rio Ibicuí, uma linda estampa da Virgem Maria, a qual mais tarde seria chamada Nossa Senhora Conquistadora, padroeira da Diocese de Uruguaiana. Ela conquistava então os nativos desta terra para o seguimento de Jesus Cristo. Por isso, ainda hoje, quais tropeiros de Cristo, a maioria dos gaúchos cavalga com a imagem de Maria, estampada em seu coração.
Apresentamos nesta mensagem a bela prece: Ave Maria do Peão, da autoria de Odilon Ramos. Ela faça entrar em oração os ouvintes e leitores, Pampa afora, sobretudo, os amantes de nossas Tradições, cheias de sinais de fé.
 “Ao reponte do sol que descamba, o dia se aprochega do arremate.Pelos campos e nos matos da querência, o revoar da bicharada voltando aos ninhos… É hora de recolhimento.No rancho que há no interior de mim mesmo, eu, gaúcho de fé, me arrincono e medito.Despindo o poncho da vaidade e do orgulho, tiro o chapéu, apago o pito e me achego pra uma prosa com o patrão maior.Na sua presença, meu sangue quente de farrapo se faz manso caudal.Entrego-lhe minha alma afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha em busca do destino.Renuncio à minha xucra rebeldia e me faço doce de boca e macio de tranco, pra dizer: Gracias, patrão, por tudo que me deste!Por esta querência, Senhor, que meus ancestrais regaram com seu sangue e que aprendi a amar desde piá…Pelos meus parceiros desta ronda da vida, sempre de prontidão para me amadrinharem na campereada mais custosa ou para matearem comigo na hora do sossego.Reparte com eles, patrão, esta fé que me deste e este orgulho pela minha querência.Ajuda, patrão, a manter acesa esta chama.Concede sempre ao gaúcho a força no braço e o tino pra saber o que é correto.Dá-nos consciência para preservar a nossa cultura livre da invasão dos modismos.Conserva a essência e a beleza da nossa tradição.E, agora, com licença, patrão, que vou aproveitar a olada para um dedo de prosa com Nossa Senhora.Ave Maria, primeira prenda do céu, contigo está o Senhor, na estância maior.Tu és bendita entre todas as prendas, e bendito é o piá que trouxeste ao mundo: Jesus. Maria, mãe de Deus e mãe de todos nós, roga pela querência e pelos gaudérios que aqui moram, nesta hora e no instante da última cavalgada. Amém”.

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana