sábado, 28 de dezembro de 2013

A Sagrada Familia



Como é hoje a vida de uma família comum? Ela é constituída por um casal e um ou dois filhos. A mãe trabalha fora e eles possuem pouco tempo para se encontrar.

Muitas vezes acontecimentos na vida pessoal de cada um sucedem e não são colocados em comum, porque não possuem tempo ou não existe clima para isso.

Pior quando surgem mágoas e elas não são trabalhadas, mas engolidas. A natureza, que pede vida em família, se sente violentada e, mais cedo ou mais tarde, essas mágoas, que não foram digeridas, voltam e aí temos situações profundamente dolorosas que provocam mágoas maiores e, muitas vezes, sem solução imediata.

Também é muito doloroso quando algum membro da família possui algo maravilhoso para partilhar e não recebe a devida atenção para isso, pior quando sua bela notícia é reduzida a algo corriqueiro, insignificante.

Aí vem em socorro da família a profecia de Isaías, proposta como primeira leitura da missa da noite de Natal: "O povo que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu" (Is 9,1). O Senhor se encarna e se solidariza, redimindo-nos e nos devolvendo nossa dignidade de pessoas, de seres criados á sua imagem e semelhança.

A liturgia da festa da Sagrada Família traz, para a família do dia de hoje, a luz e a força para redescobrir e manter o caminho da felicidade.

A família de Nazaré tinha tudo para ser submissa aos caprichos de uma sociedade consumista e economicamente carente. Basta ler os relatos evangélicos da infância de Jesus e sobre sua família. Mas a presença de Deus, o Deus-Conosco em seu meio e sua fidelidade ao Amor de Deus, fizeram a diferença.

A primeira leitura, extraída do Livro do Eclesiástico, nos fala de que a misericórdia em todos os relacionamentos, mas principalmente para com os pais, está em referência a Deus que é o Pai por excelência. Honrar e respeitar os pais é prestar culto a Deus.

Também a Carta de São Paulo aos Colossenses, continua o tema da misericórdia nas relações familiares. "Tudo o que fizerdes, em palavras ou em obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo", nos diz o Apóstolo.

Jesus, o Caminho, a Verdade, a Vida, o Amor nos ensina o verdadeiro caminho para o Pai, para a felicidade ainda neste mundo. Será necessário renunciar aos valores deste mundo, será necessário renunciar fazer dos filhos pessoas como nos pedem o elitismo e seus códigos. Será necessário que no relacionamento do casal seja priorizado o diálogo. Será necessário ver na simplicidade de vida e até na carência de certos bens, a presença do carinho de Deus que supre tudo aquilo que nossa carne valoriza.

Deixemos a luz de Deus entrar, iluminar e aquecer nossa vida. Ela nos revelará nossa submissão aos valores mundanos e, consequentemente explicará a causa de nossos sofrimentos. Veremos em que situação colocamos nosso coração, não na simplicidade do lar de Nazaré, mas no fausto do Palácio de Herodes.
Padre Cesar Augusto dos Santos, SJ

A oração como esperança ativa

As meditações teológicas de Jürgen Werbick sobre o pai-nosso

 Robert Cheaib 

Saber em que acreditar e saber o que esperar são dois movimentos teologais que se acompanham recíproca e necessariamente e que são coroados pela natureza do amor clarividente, que sabe que, em vez de “algo”, há “Alguém”, há Outro que é de confiança, que está por perto. Precisamos de uma educação e de uma orientação para essa experiência teologal: esta é a proposta do livro do teólogo Jürgen Werbick, “O pai-nosso: meditações teológicas como introdução à vida cristã”.
A oração é afim à esperança. A educação para a oração requer educação para a reta esperança. É essencial aquela pergunta kantiana: "O que podemos esperar?". Werbick destaca que “as esperanças muito pretensiosas nos distraem das batalhas que devemos lutar agora, conscientemente, e que exigem a nossa presença". A esperança como mero “pensamento positivo” não é digna da nossa época nem da nossa humanidade. 


"Apresentar alguém à fé e à esperança não significa afastá-lo do campo de batalha". Por outro lado, a alternativa a essa espera exagerada poderia ser a de "redimensionar as esperanças humanas para elas proporcionarem aos que esperam uma perspectiva realista de ação".A esperança da oração é um caminho do meio, que não se deixa inflar nem pela utopia sonhadora nem pelo fatalismo pessimista. Quem assume a fé de Jesus não pode deixar de ter esperança na justiça de Deus, maior que a "justiça imposta aos pobres para beneficiar os ricos". Mas o mais importante é a esperança que se torna ativa, porque "aqueles que esperam para si mesmos e para os outros, de forma incansável e insaciável, se concentram na possibilidade da mudança nas pequenas e nas grandes coisas. A esperança, assim, é indivisível. Ela não seria esperança, mas simples cálculo, se visasse apenas a própria vantagem. Não seria esperança de verdade, mas mera resignação, caso não visasse a mudança".

Oração à Família de Nazaré do papa Francisco

Jesus, Maria e José
a vós, Sagrada Família de Nazaré,

hoje, dirigimos o olhar
 

com admiração e confiança;

em vós contemplamos
a beleza
da comunhão no amor verdadeiro;

a vós confiamos todas as nossas famílias;

para que se renovem 

nessas maravilhas da graça.

Sagrada Família de Nazaré,

escola atraente do santo Evangelho:

ensina-nos a imitar as tuas virtudes

com uma sábia disciplina espiritual,

doa-nos o olhar claro

que sabe reconhecer a obra da providência

nas realidades quotidianas da vida.

Sagrada Família de Nazaré,

guardiã fiel do mistério da salvação:

faz renascer em nós a estima pelo silêncio,

torna as nossas famílias cenáculo de oração

e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas,

renova o desejo de santidade,

sustenta o nobre cansaço do trabalho, 
da educação,
 da escuta, 
da recíproca compreensão e do perdão.

Sagrada Família de Nazaré,

desperta na nossa sociedade
a consciência
do caráter sagrado 
e inviolável da família,

bem inestimável e insubstituível.

Cada família seja morada acolhedora 
de bondade e de paz

para as crianças e para os idosos,

para quem está doente e sozinho,

para quem é pobre e necessitado.

Jesus, Maria e José
a vós com confiança rezamos,
a vós com alegria nos confiamos.


via internet

O Canto da Noite Feliz


Foi mesmo uma noite feliz e inspirada aquela de 24 de dezembro de 1818, na Capela de São Nicolau, em Oberndorf, nas imediações de Salzburg, Áustria. Como e por que aconteceu? Coisas de Deus, muitas vezes inexplicáveis!...
Era a noite de Natal. O pároco da pequena capela, Joseph Mohr, um pouco poeta e um pouco músico, percebeu, já no final da tarde, que o órgão estava quebrado. Como faria para cantar com o povo da aldeia, acostumado a solenizar a “Missa do Galo”, celebrando o nascimento de Jesus, sem ter um canto especial? Não poderia ser... E então a divina, surpreendente inspiração aconteceu. Como se fosse o próprio Deus a tomar sua mão e escrever a canção “Noite Santa... Noite Feliz... Noite de paz...”, as seis estrofes lhe nasceram do coração emocionado. Lembrou-se então do seu amigo músico, Franz Xaver Gruber (nascido a 25 de novembro de 1787, em Unterweissberg, e falecido em Hallein, a 7 de junho de 1863, professor de música e regente), da cidade vizinha de Habendorf, e foi pedir-lhe para colocar música na canção: que o fizesse a duas vozes – para solo e coro – com acompanhamento de violão. Três acordes básicos deram corpo à singela melodia, que o compositor começou a tocar suavemente ao violão. Acabara de nascer a mais bela e extraordinária canção natalina! Os dois fizeram pequeno ensaio e aguardaram a chegada do povo. O silêncio, nada costumeiro, foi dando lugar à suavidade das vozes de ambos, que começaram a cantar – canto e contracanto -, entrando o coro da Igreja na repetição dos versos finais. Aos poucos todos estavam murmurando a simples melodia e aplaudindo os dois artistas de Deus, que choravam de alegria e emoção.
No ano seguinte, o órgão estava consertado... e a música da Noite Feliz foi esquecida, permanecendo assim até o ano de 1835, quando o mesmo tornou a apresentar problemas e foi consertado por um dos maiores especialistas em órgão da Europa. Para testar o instrumento, ele procurou tocar uma partitura ali perdida, que para surpresa sua, era a canção da Noite Feliz. Soava ao órgão como melodia vinda do céu, enchendo a capela de acordes divinos... Os autores lhe permitiram copiar e divulgar a notável canção tirolesa, que a partir de então começou a ressoar no mundo inteiro. Atravessando o tempo e a distância, cantada em mais de 500 dialetos, tornou-se para todos a Canção de Natal, assim consagrada até os nossos dias, unindo os povos, raças e nações num único desejo: que o Deus Menino, nascido em Belém, nasça no coração de cada um, traga paz e vida ao mundo...
Foi pura graça a experiência que Deus me permitiu fazer a 22 de dezembro de 1983, visitando a pequena cidade e o local da capela onde ressoou pela primeira vez a canção natalina. Em nome de tantos amigos, a entoei novamente, coração comovido e alma no céu... A neve caía... caía a noite... iluminando as montanhas tirolesas que cercam a pequena e graciosa Oberndorf. Uma cópia da  partitura original guardo-a comigo... mas ainda vivem em mim as vozes e os instrumentos típicos do Tirol, que a cantam um pouco diferente de nós, na forma original, doce e suave, do modo como só eles são capazes. Traduzida, orquestrada e cantada de mil formas, prefiro a canção original, como soa da Catedral de Salzburg  à  mais pequena capela austríaca, ou mesmo no Mosteiro beneditino do Nonnberg, onde também passei, comovida,  a noite feliz de 1983.
Nossa Missa da Noite Feliz, que carrega a ternura poética do Pe. Lucio Floro e a sensibilidade musical que o Divino Artista me deu, é certamente inspirada nesta experiência natalina. Quem a quiser ouvir e cantar, se emocionar e ter o coração no céu ou o céu no coração, procure na Paulus o CD “O Senhor, minha Festa”. Aqui, a música, uma vez mais, traduz o inexprimível, cantando esta “Noite de amor... noite feliz... noite de céu!... Pois, se Jesus é meu Irmão, eu já sou feliz!...”


Ir. Miria T. Kolling

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Angelus com Papa Francisco nas Oitavas de Natal



Pontífice pede oraçao pelos cristãos que sofrem discriminações por causa do seu testemunho dado de Cristo

ROMA, 26 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas nesta quinta-feira, 26 de dezembro, antes de rezar a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Queridos irmãos e irmãs,
Vocês não têm medo da chuva, são bravos!
A liturgia prolonga a Solenidade do Natal por oito dias: um tempo de alegria para todo o povo de Deus! E neste segundo dia da oitava, na alegria do Natal se insere a festa de Santo Estêvão, o primeiro mártir da Igreja. O livro dos Atos dos Apóstolos o apresenta como “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (6, 5), escolhido com outros seis para o serviço às viúvas e aos pobres na primeira comunidade de Jerusalém. E nos conta o seu martírio: quando, depois de um discurso inflamado que suscitou a ira dos membros do Sinédrio, foi arrastado para fora da cidade e apedrejado. Estêvão morre como Jesus, pedindo o perdão pelos seus assassinos (7, 55-60).
No clima alegre do Natal, esta comemoração poderia parecer fora de contexto. O Natal, na verdade, é a festa da vida e nos infunde sentimentos de serenidade e de paz; por que perturbar seu encanto com a recordação de uma violência tão atroz? Na realidade, na ótica da fé, a festa de Santo Estêvão está em plena sintonia com o significado profundo do Natal. No martírio, de fato, a violência é vencida pelo amor, a morte pela vida. A Igreja vê no sacrifício dos mártires seu “nascimento ao céu”. Celebramos, então, hoje o “natal” de Estêvão, que em profundidade nasce do Natal de Cristo. Jesus transforma a morte de quantos o amam em aurora de vida nova!
No martírio de Estêvão se reproduz o mesmo confronto entre o bem e o mal, entre o ódio e o perdão, entre a brandura e a violência, que teve o seu ponto alto na Cruz de Cristo. A memória do primeiro mártir vem assim, imediatamente, dissolver uma falsa imagem do Natal: a imagem “mágica” e “adocicada”, que no Evangelho não existe! A liturgia nos leva ao sentido autêntico da Encarnação, ligando Belém ao Calvário e recordando-nos que a salvação divina implica a luta ao pecado, passa pela porta estreita da Cruz. Este é o caminho que Jesus indicou claramente aos seus discípulos, como atesta o Evangelho de hoje: “Vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10, 22).
Por isso hoje rezemos de modo particular pelos cristãos que sofrem discriminações por causa do seu testemunho dado de Cristo e do Evangelho. Sejamos próximos a estes irmãos e irmãs que, como santo Estêvão, são acusados injustamente e feitos objeto de violências de vários tipos. Estou certo de que, infelizmente, são mais numerosos hoje que nos primeiros tempos da Igreja. Há tantos! Isto acontece especialmente lá onde a liberdade religiosa ainda não é garantida ou não é plenamente realizada.. Acontece, porém, também em países e ambientes que, no papel, protegem a liberdade e os direitos humanos, mas onde de fato os crentes e, especialmente os cristãos, encontram limitações e discriminações. Eu gostaria de pedir para vocês rezarem pos estes irmãos e irmãs um instante em silêncio [...] E os confiemos à Nossa Senhora (Ave Maria…).
Para o cristão, isso não causa surpresa, porque Jesus já o havia preanunciado como ocasião propícia para dar testemunho.. Todavia, na esfera civil, a injustiça deve ser denunciada e eliminada.
Maria Rainha dos Mártires nos ajude a viver o Natal com aquele ardor de fé e de amor que brilha em Santo Estêvão e em todos os mártires da Igreja

E agora, José?



Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará, convida a refletir sobre o que acontece depois do Natal
Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 26 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - A expressão é de um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, mas a mesma pergunta pode ser feita ao José de Nazaré ou a tantos "Josés", presentes dentro de nós e em torno a nós. Depois do Natal e das festas que correm, o que fazer da vida e como aproveitar as muitas lições do ano que termina? Se o cenário do Natal é carregado de ensinamentos, pedimos hoje licença às outras figuras nele presentes, para contemplar, de modo especial, o homem a quem foi confiada a guarda da Sagrada Família, inspirados por palavras de fogo e simplicidade pronunciadas pelo Papa Francisco, quando começou seu ministério de Sucessor de Pedro:
"Como vive São José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto dele que ao seu. Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio; e é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu Espírito. E José é "guardião", porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação! Entretanto a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus" (Homilia do Papa Francisco - Praça de São Pedro - Terça-feira, 19 de março de 2013, Solenidade de São José).
E agora? O que fazer do ano que está para começar? O primeiro passo é reconhecer que o tempo e as capacidades foram dadas de presente. Deus não precisa fazer previsões, mas oferece um momento depois do outro, com calma, até para permitir-nos curtir cada dia sua riqueza e possibilidades para a nossa felicidade. E sabemos que se o Senhor não construir a casa, em vão trabalham os que a edificam (Cf. Sl 126, 1). Para isso, o ano há de ser preenchido com escuta e fidelidade à Palavra de Deus e discernimento dos sinais que ele envia, sabedoria para colher as lições de cada acontecimento. Cada fato alegre ou triste é carregado de sentido e de apelos de Deus.
O José que está dentro de cada um de nós há de escolher, para ser feliz, a missão de guardião ou guardiã. Faz bem e realiza a existência de uma pessoa quando esta assume responsabilidades, olhando ao redor, para descobrir o bem a ser feito. O guardião toma iniciativa para praticar o bem, começa em si mesmo a mudança do mundo e não deixa qualquer pessoa ou situação sem a marca de sua presença. A sujeira da rua, o trânsito, as plantas e, mais ainda, as pessoas, são de nossa responsabilidade. Todas as oportunidades sejam aproveitadas para fazer o bem e construir um mundo melhor.
São José guardou a Sagrada Família. Uma bela proposta para o ano novo, olhando para seus exemplos e contando com sua intercessão, é trabalhar por valores que alguns consideram tradicionais no sentido negativo. Recordo-me de uma belíssima canção do Padre Zezinho: "Agora falam do desquite e do divórcio, o amor virou consórcio, compromisso de ninguém. E há tantos filhos que bem mais do que um palácio gostariam de um abraço e do carinho entre seus pais. Se os pais se amassem, o divórcio não viria, chamam a isso de utopia, eu a isso chamo paz". Volto ao Papa Francisco: "É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais".  Faço um apelo a valores tradicionais, no sentido bem positivo e provocante. Trata-se de uma campanha pela família e pelo matrimônio, justamente no ano em que acontecerá um Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família e a Nova Evangelização. Redescobrir na família os valores da fidelidade, da fecundidade e da intimidade, tudo fecundado por uma vida de oração e comunhão com a Igreja.
Nossa vida é tecida por relacionamentos com as outras pessoas. Quanta gente nova entrou com tudo em nosso coração no ano que termina! Com São José aprendamos a "viver com sinceridade as amizades, que são um guardar-se mutuamente na intimidade, no respeito e no bem". No ano que vai começar, cultivar o trato de pessoa por pessoa, aprofundar as amizades verdadeiras, alegrar-se com elas. Mais dos que as listas existentes em nossos aparelhos, que constituem comunidades virtuais, trazer estes nomes para a realidade concreta, visitar, ajudar, ouvir, manifestar ternura e misericórdia. Se cada pessoa for ao encontro, pelo menos uma vez no ano, de cada um de seus contatos de lista, muito teremos feito para um mundo mais fraterno e justo. Haverá mais gente feliz!
Como bom programa do tempo novo que é dado por Deus, "cada qual veja bem como está construindo. De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo. Se então alguém edificar sobre esse alicerce com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno, palha, a obra de cada um acabará sendo conhecida: o Dia a manifestará, pois ele se revela pelo fogo, e o fogo mostrará a qualidade da obra de cada um. Aquele cuja construção resistir ganhará o prêmio; aquele cuja obra for destruída perderá o prêmio – mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo (1 Cor 3, 10-13). 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz"



Homilia do Papa Francisco na Missa do Galo

CIDADE DO VATICANO, 25 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos a Homilia da Primeira Missa do Galo celebrada pelo Papa Francisco nesta terça-feira, 24 de dezembro de 2013.
1. «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).
Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum facto emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz reflectir sobre este mistério: o mistério do andar e do ver.
Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e de povo errante.
E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1 Jo 2, 11).
2. Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).
A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós.
3. Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade:
Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil.
Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). E vo-lo repito também eu: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a nossa paz. Amen.

"Príncipe da Paz, convertei por todo o lado o coração dos violentos"



Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco

CIDADE DO VATICANO, 25 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - «Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens do seu agrado
» (Lc 2, 14).
Queridos irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, bom dia e feliz Natal!
Faço meu o cântico dos anjos que apareceram aos pastores de Belém, na noite em que nasceu Jesus. Um cântico que une céu e terra, dirigindo ao céu o louvor e a glória e, à terra dos homens, votos de paz.
Convido todos a unirem-se a este cântico: este cântico é para todo o homem e mulher que vela na noite, que tem esperança num mundo melhor, que cuida dos outros procurando humildemente cumprir o seu dever.
Glória a Deus.
A primeira coisa que o Natal nos chama a fazer é isto: dar glória a Deus, porque Ele é bom, é fiel, é misericordioso. Neste dia, desejo a todos que possam reconhecer o verdadeiro rosto de Deus, o Pai que nos deu Jesus. Desejo a todos que possam sentir que Deus está perto, possam estar na sua presença, amá-Lo, adorá-Lo.
Possa cada um de nós dar glória a Deus sobretudo com a vida, com uma vida gasta por amor d’Ele e dos irmãos.
Paz aos homens.
A verdadeira paz – como sabemos – não é um equilíbrio entre forças contrárias; não é uma bela «fachada», por trás da qual há contrastes e divisões. A paz é um compromisso de todos os dias, mas a paz é artesanal, realiza-se a partir do dom de Deus, da graça que Ele nos deu em Jesus Cristo.
Vendo o Menino no presépio, Menino de paz, pensamos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensamos também nos idosos, nas mulheres maltratadas, nos doentes... As guerras dilaceram e ferem tantas vidas!
Muitas dilacerou, nos últimos tempos, o conflito na Síria, fomentando ódio e vingança. Continuemos a pedir ao Senhor que poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio, e as partes em conflito ponham fim a toda a violência e assegurem o acesso à ajuda humanitária. Vimos como é poderosa a oração! E fico contente sabendo que hoje também se unem a esta nossa súplica pela paz na Síria crentes de diversas confissões religiosas. Nunca percamos a coragem da oração! A coragem de dizer: Senhor, dai a vossa paz à Síria e ao mundo inteiro. E convido também os não crentes a desejarem a paz, com o seu anelo, aquele anelo que alarga o coração: todos unidos, ou com a oração ou com o desejo. Mas todos, pela paz.
Ó Deus Menino, dai paz à República Centro-Africana, frequentemente esquecida dos homens. Mas Vós, Senhor, não esqueceis ninguém e quereis levar a paz também àquela terra, dilacerada por uma espiral de violência e miséria, onde muitas pessoas estão sem casa, sem água nem comida, sem o mínimo para viver. Favorecei a concórdia no Sudão do Sul, onde as tensões actuais já provocaram demasiadas vítimas e ameaçam a convivência pacífica naquele jovem Estado.
Vós, ó Príncipe da Paz, convertei por todo o lado o coração dos violentos, para que deponham as armas e se empreenda o caminho do diálogo. Olhai a Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes nem indefesos. Abençoai a Terra que escolhestes para vir ao mundo e fazei chegar a um desfecho feliz as negociações de paz entre Israelitas e Palestinianos. Curai as chagas do amado Iraque, ferido ainda frequentemente por atentados.
Vós, Senhor da vida, protegei todos aqueles que são perseguidos por causa do vosso nome. Dai esperança e conforto aos deslocados e refugiados, especialmente no Corno de África e no leste da República Democrática do Congo. Fazei que os emigrantes em busca duma vida digna encontrem acolhimento e ajuda. Que nunca mais aconteçam tragédias como aquelas a que assistimos este ano, com numerosos mortos em Lampedusa.
Ó Menino de Belém, tocai o coração de todos os que estão envolvidos no tráfico de seres humanos, para que se dêem conta da gravidade deste crime contra a humanidade. Voltai o vosso olhar para as inúmeras crianças que são raptadas, feridas e mortas nos conflitos armados e para quantas são transformadas em soldados, privadas da sua infância.
Senhor do céu e da terra, olhai para este nosso planeta, que a ganância e a ambição dos homens exploram muitas vezes indiscriminadamente. Assisti e protegei quantos são vítimas de calamidades naturais, especialmente o querido povo filipino, gravemente atingido pelo recente tufão.
Queridos irmãos e irmãs, hoje, neste mundo, nesta humanidade, nasceu o Salvador, que é Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém. Deixemos que o nosso coração se comova: não tenhamos medo disso. Não tenhamos medo que o nosso coração se comova! Precisamos que o nosso coração se comova. Deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus; precisamos das suas carícias. As carícias de Deus não fazem feridas: as carícias de Deus dão-nos paz e força. Precisamos das suas carícias. Deus é grande no amor; a Ele, o louvor e a glória pelos séculos! Deus é paz: peçamos-Lhe que nos ajude a construí-la cada dia na nossa vida, nas nossas famílias, nas nossas cidades e nações, no mundo inteiro. Deixemo-nos comover pela bondade de Deus.
Votos de um Natal feliz no termo da Mensagem Urbi et Orbi do Santo Padre
A vós, queridos irmãos e irmãs, vindos de todo o mundo e reunidos nesta Praça, e a quantos estão em ligação connosco nos diversos países através dos meios de comunicação, dirijo os meus votos de um Natal Feliz!
Neste dia, iluminado pela esperança evangélica que provém da gruta humilde de Belém, invoco os dons natalícios da alegria e da paz para todos: para as crianças e os idosos, para os jovens e as famílias, para os pobres e os marginalizados. Nascido para nós, Jesus conforte quantos suportam a prova da doença e da tribulação; sustente aqueles que se dedicam ao serviço dos irmãos mais necessitados. Feliz Natal para todos!

O Verbo se fez carne



Meditação diária da Palavra de Deus / Natal - Missa do Dia

ROMA, 25 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) -
Leitura
A missa do dia de Natal celebra o esplendor da manifestação do Verbo feito carne, o cumprimento admirável da promessa de salvação que brilha para todos os homens. O canto ao Evangelho anuncia solenemente a alegria do Natal: "Um dia santo raiou sobre todos nós: vinde todos e adorai o Senhor; uma grande luz desceu hoje sobre a terra".. A luz que desceu sobre a terra ilumina o mundo, e o Verbo, por quem todas as coisas foram criadas, renova o universo e o recria com o poder renovador da sua graça.
Meditação
O prólogo do Evangelho de João é um dos ápices da revelação. Nesse texto maravilhoso, o evangelista resume os principais temas do seu Evangelho, oferecendo uma síntese única e original da história da salvação. Ela nos é mostrada à luz da Encarnação descrita com uma imagem poderosa e ousada, colocada no centro do prólogo: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". A abordagem dos dois termos, "Verbo" e "carne", já nos surpreende, mas a afirmação de que um se tornou o outro nos atinge profundamente. A expressão descreve uma espécie de "curto-circuito", em que Deus-Verbo se faz carne-criatura. Além disso, o termo "carne" se refere à fraqueza da natureza humana e não somente à humanidade; é a afirmação do mistério inaudito que se realiza na encarnação. Deus escolhe o caminho da pobreza, quer abraçar o homem no seu estado de fragilidade para salvá-lo e trazê-lo de volta a si. No seu amor infinito, Ele recria o universo fazendo uma nova criação, remodelando o novo homem em Cristo Jesus e recriando a imagem do Filho em nós, que o pecado tinha deformado. Tudo foi criado por meio do Verbo e tudo é recriado por meio dele. O testemunho de João Batista proclama o vínculo que une a Encarnação com as profecias, é uma continuidade do pacto com Abraão, que, finalmente, encontra o seu cumprimento em Cristo. A Sabedoria Eterna, a Palavra de Deus, o Filho unigênito do Pai, finalmente revela o rosto de Deus falando na língua dos homens; através da sua própria carne frágil, Deus revela a verdade e o amor. Na Encarnação, o Verbo feito homem se torna a mediação, o instrumento de salvação e a ponte que nos liga a Deus.
Oração
Ó Verbo feito carne, ó Filho unigênito de Deus, eu te peço, salva-me. Tu, que desceste até mim para me salvar do pecado e da morte, tu que tomaste sobre ti a fraqueza e a fragilidade de cada homem para restaurar o que tinha sido arruinado pelo pecado, dá-me a salvação, transforma a minha miséria em redenção.
Ação
Escolho com Cristo o caminho da humildade e do serviço: tentarei, na vida cotidiana, a exemplo do Verbo encarnado, tornar meus, por amor, o sofrimento e as necessidades dos outros.
Meditação do dia proposta por mons. Marco Frisina, presidente da Comissão Diocesana de Roma para a Arte Sacra e a Herança Cultural. Publicado em "Messa Meditazione" e reproduzido por cortesia das Edições ART.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Keep calm and Papai Noel não existe!



Não vamos estragar a vida dos nossos filhos se desmitificarmos a magia do Natal, mas sim se os deixarmos crescer sem esperança e sem Deus
Por Robert Cheaib

ROMA, 24 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - O artigo seguinte foi publicado originalmente na edição árabe de ZENIT como resposta a algumas perguntas de leitores. A resposta é bem-humorada, mas aborda "a séria questão da fé em Cristo".
Um leitor nos perguntou: “Vou estragar a infância do meu filho se contar a ele que o Papai Noel não existe?”.
A resposta para esta pergunta não requer uma especialização em teologia, como vocês podem imaginar. Mas vale a pena respondê-la para refletirmos melhor sobre o significado do santo Natal, questionar alguns escrúpulos infundados e salvaguardar o que é essencial.
A minha resposta é sim, revelar que o Papai Noel não existe vai estragar a magia da infância dos seus filhos. Mas só se o Natal, para eles, for apenas uma questão de presentes e de contos e lendas. Vai estragar a infância dos seus filhos se o Papai Noel for "o único mediador" do afeto em família, o único elemento de surpresa e a única novidade que encerra o ano. Vai estragar a infância dos seus filhos se eles foram criados com a ideia de um deus carrasco, inquisidor, inspetor, que tudo vê (ou pior, que só vê os pecados). Um Jesus que vem castigar você de noite, etc. Neste caso, se você matar o “Bom Velhinho”, vai arruinar o último totem do Natal dos seus filhos.
Já se você quiser abrir para eles um "caminho melhor", a minha resposta é não, absolutamente não vai estragar a infância dos seus filhos se contar a eles que o Papai Noel não existe.. Vamos imaginar um cenário alternativo: você pode conversar com eles, numa linguagem simples, compreensível e atraente, sobre a beleza de um Deus que amou tanto o mundo, mas tanto, que nos deu de presente não somente todas as coisas, mas também o nosso próprio ser e, acima de tudo, deu a Si mesmo como presente para nós! Nesta conversa, os evangelhos da infância são uma leitura extraordinária para fazer à noite com os filhos.
Há uma imensa magia em contar a verdade sobre o Amor e sobre a sua gratuidade, que não é um mito surreal, mas a "verdade do mundo" e o "coração do mundo". Este é "o amor que move o sol e as outras estrelas".
E por que não explicar aos filhos que os presentes colocados embaixo da árvore são um símbolo minúsculo do grande presente de Deus para a humanidade, o seu próprio Filho, Jesus Cristo?
Por que não explicar que, apesar da crise, os pais, tios e tias, avôs e avós se prodigalizam para dar presentes não tanto pelos presentes em si, mas porque aprendemos de Jesus que há mais alegria em dar do que em receber e porque a fé nos ensina a beleza de estar juntos sob o mesmo teto?
Por que não ajudar a entender que o Papai Noel é um conto útil para nos lembrar de uma realidade muito mais bonita do que a ficção, a dos santos (neste caso, São Nicolau), que abrem os corações à generosidade para com o próximo, porque eles foram visitados e tocados pelo amor de Jesus, que nos amou primeiro?
O santo bispo Nicolau amava as crianças gratuitamente, não como o Papai Noel do meu bairro, que anunciava num cartaz: "Agende no parque da cidade a distribuição dos seus presentes com o Papai Noel!". E completava, em letras menores: "A partir de 3 euros por presente".
Você não vai estragar a infância dos seus filhos se, no lugar do bonachão desconhecido e imaginário, sintonizar a imagem de Deus e a imagem do Menino do presépio, eliminando aquela imagem de Deus como o Grande Inquisidor. Lembre-se: quem vê Jesus, vê o Pai. E falar dessa Criança é usar a melhor palavra para apresentar Deus, que é a Palavra.
Você não vai estragar o Natal se ajudar os seus filhos a terem os sentimentos de uma Teresa de Lisieux, que, antes de se reunir com o Amor na eternidade, escreveu: "Não posso temer um Deus que se tornou tão pequeno por mim... Eu o amo... porque ele é o próprio amor e ternura".
O caso do Papai Noel é uma questão muito pessoal.
No ano passado, eu estava com meu filho de três anos fazendo compras de última hora para o Natal. O pequenino percebeu que havia muitos Papais Noéis por aí, de vários tamanhos e em vários estágios de dieta. Ele próprio ficou em dúvida. Foi uma boa oportunidade de explicar a ele as várias coisas que mencionei acima... E até agora eu não senti a necessidade de mandá-lo para o psicólogo.
Você não vai estragar a vida dos seus filhos se desmitificar o Papai Noel. Não são os mitos que nos dão a vida, a alegria e a serenidade. Vamos estragar a vida dos nossos filhos se os deixarmos viver sem amor, crescerem como se Deus não existisse, como se Cristo fosse apenas um acessório da sua própria festa de nascimento. Vamos estragar a vida dos nossos filhos se eles crescerem sem esperança e sem Deus neste mundo.
Um canto religioso libanês termina assim: "Sem você, a minha felicidade não é plena. Sem você, a minha mesa está vazia". O Pão do Céu, nascido na "Casa do Pão" (que é o significado literal da palavra “Belém”), é o centro e o sentido da festa. Sem ele, os “acompanhamentos” não saciam. Ele é o desejo de todos os nossos desejos. Percebemos a sua importância nestas palavras transbordantes de desejo de Isaías, 9: "O ​​povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da escuridão, uma luz começou a brilhar. Multiplicaste a alegria, aumentaste a felicidade. Alegram-se diante de ti como se alegram nas colheitas (...) Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (...), o príncipe da paz".

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NÚMERO DE CATÓLICOS NO MUNDO


Caros diocesanos. Quando se chega ao final de um ano, é normal que sejam feitas avaliações e balanços; e isto vale para os diversos setores da nossa vida. Também a Igreja se avalia e se pergunta sobre a eficiência de sua presença missionária. A Diocese de Uruguaiana teve como tema do Ano Pastoral em 2013: A Missão. Sempre mais nos damos conta que somos todos missionários, e estamos em estado permanente de missão. Certamente, nosso testemunho cristão, nossa alegria de termos encontrado Jesus Cristo aprofundou nossa própria participação e levou outros irmãos e irmãs ao encontro do mesmo Senhor. Igualmente, algum contra testemunho ou indiferença missionária talvez dificultaram a atração de outros.
O Anuário Pontifício 2013 (realizado sobre os dados 2010/2011) anuncia que o número de católicos no mundo cresce anualmente em 1,5%. O aumento numérico se dá especialmente na África e na Ásia, enquanto que na Europa continua o registro de sinais negativos. No mundo inteiro, os católicos somam 01 bilhão e 214 milhões; o que representa 17, 5% dos habitantes do planeta. Destes, 48,8% vivem 
em nossa América; 23,5% na Europa; 16% na África; 10,9% na Ásia e somente 0,8% na Oceania. Cresce o número de bispos, sacerdotes e diáconos permanentes, mas registra-se diminuição acentuada de religiosas. Está crescendo o número de vocacionados ao sacerdócio (diocesanos e religiosos) em 7,5%, com acentuadas diferenças entre os continentes.
Em meio a estas informações estamos nós. Mesmo não possuindo dados regionais exatos, estatísticas recentes (Censo 2010) mostram um declínio do número de católicos no Brasil (2000 – 73,6% para 2010 – 64,6%). Surge a pergunta: perdemos fiéis ou muitos dos que nunca o foram assumiram sua situação real? Será que tinham sido verdadeiramente iniciados e encontraram o Senhor e agora o deixam? (IVC 20 e 23) ou navegam pela multiplicidade de credos a fim de encontrar em algum deles ou por sincretismo a solução dos problemas subjetivos? Hoje também muitos têm coragem de se declarar sem religião ou mesmo ateus. Entre a busca das causas da numérica diminuição de católicos em alguns países, Bento XVI alerta para o perigo maior: “Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” (DAp 12). Uma Igreja acomodada se torna medíocre e não mais evangeliza. Por isso sentimo-nos desafiados todos à missão permanente, cientes de que a Igreja existe para evangelizar, portanto, sua razão de ser; o verdadeiro discípulo missionário nunca interrompe sua missão.
Em nossa Diocese de Uruguaiana, não temos estatísticas em relação ao número maior ou menor de católicos, mas podemos afirmar que na última década houve muitas iniciativas e buscas para constituir uma Igreja toda missionário-transformadora. Nos últimos 06 anos foram ordenados em nossa Igreja Particular 11 sacerdotes, dos quais 08 são diocesanos e 03 religiosos. Estamos mantendo um bom número de seminaristas, com alto índice de perseverança. Preocupam-nos as poucas vocações para a Vida Consagrada; alegra-nos o interesse na formação por parte dos cristãos leigos e leigas; a presença maior de jovens; a disponibilidade para os diversos serviços e ministérios; a participação freqüente nas celebrações litúrgicas... Sabemos que a vitalidade de uma Igreja é medida por sua capacidade de congregar as pessoas, de entusiasmá-las nos diversos trabalhos pastorais. Que 2014 possa ser um ano em que isso seja realidade concreta, especialmente na abordagem do tema do Ano Pastoral:Iniciação à Vida Cristã. Feliz Ano Novo, com as bênçãos do Senhor da História!



Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

São José, nosso representante na Sagrada Família





As semelhanças entre a vida de São José e nossa própria vida.
Por Alexandre Varela

RIO DE JANEIRO, 23 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - São José era um homem comum.  Não foi poupado do pecado original.  Na Bíblia, aparece pouco e não há sequer uma frase falada por ele.  Em certo momento, Cristo se apresentou para ele, mas de maneira tão inusitada e em meio a tantas dificuldades que talvez ele tenha pensado em desistir,  mas teve imensa simplicidade e fidelidade para trilhar os caminhos de Deus e acolher a Cristo em sua vida, mesmo tendo que superar muitos obstáculos, incluindo a si mesmo.  Por muitas vezes, o mesmo acontece conosco.  Talvez seja interessante olhar para ele como o sendo o nosso representante na Sagrada Família.  Afinal, Nossa Senhora teve a graça de nascer sem o pecado original, Cristo é Deus, mas São José era igual a nós.
Papa Francisco tem chamado muita atenção para São José.  Tem citado o santo em diversas ocasiões e na oração do Ângelus deste domingo, dia 22/12/2013, fez uma belíssima catequese sobre o momento crucial da sua vida: a gravidez de Maria.
Imaginemos um homem que sai em viagem deixando uma noiva, combinando que casarão assim que ele regresse.  Porém, quando este homem volta encontra sua noiva grávida.  Isso já bastaria para criar muita confusão.  Mesmo nos dias de hoje.  Agora pense o que aconteceria em uma sociedade onde isso era considerado grave o suficiente para ser punido com apedrejamento público!
Pois foi isso que aconteceu a José, que ainda não sabia que Maria carregava o Filho de Deus.  Não tendo outra saída, ele resolveu abandonar Maria. Mas o fez em segredo.  Sem alarde.  Ele não queria que nada de mal acontecesse àquela menina.   Papa Francisco diz:
“E o Evangelho diz: 'Porque era um homem justo e não queria acusá-la publicamente, resolveu deixá-la em segredo' ( 1, 19).
Esta pequena frase resume um verdadeiro drama interior, se pensarmos no amor que José tinha por Maria! Mas, mesmo em tal circunstância, José pretende fazer a vontade de Deus e decide, sem dúvida com grande dor, abandonar Maria em segredo. Devemos meditar nessas palavras, para entender a prova que José teve que enfrentar nos dias que precederam o nascimento de Jesus. Uma prova parecida com aquela do sacrifício de Abraão, quando Deus lhe pediu seu filho Isaque (cf. Gn 22): renunciar à pessoa mais preciosa, à pessoa mais amada.”
Mas o Senhor não abandonaria José e nem Maria (que a essa altura não poderia ficar sozinha – seria muito perigoso) e faz com que um anjo explique tudo a ele em sonho.  E José, neste momento é obrigado a renunciar completamente a todas as expectativas que tinha criado, para seguir o caminho que Deus estava mostrando.
José, assim como qualquer homem, em qualquer tempo, imaginava ter uma esposa, filhos e uma vida normal em que trabalharia durante o dia e chegaria em casa ao final da tarde para ficar com sua família.  Não imaginava desposar uma mulher grávida, não imaginava fugir para proteger a sua família e com certeza, não imaginava ter que abraçar a imensa responsabilidade de criar o Filho de Deus, o Messias tão esperado por todos.
De novo, vamos olhar para as palavras irretocáveis de Francisco:
“Este Evangelho nos mostra toda a grandeza de alma de São José. Ele estava seguindo um bom projeto de vida, mas Deus reservou para ele um outro projeto, uma missão maior. José era um homem que sempre dava ouvidos à voz de Deus, profundamente sensível à sua vontade secreta, um homem atento às mensagens que lhe vinham do profundo do coração e do alto. Não ficou obstinado em perseguir aquele seu projeto de vida, não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma, mas estava preparado para colocar-se à disposição da novidade que, de forma desconcertante, era-lhe apresentada. Era assim, era um homem bom. Não odiava, e não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma. Mas quantas vezes em nós o ódio, a antipatia também, o rancor nos envenenam a alma! E isso faz mal. Não permiti-lo nunca: ele é um exemplo disso. E assim, José se tornou ainda mais livre e grande. Aceitando-se de acordo com o projeto do Senhor, José encontra plenamente a si mesmo, além de si. Esta sua liberdade de renunciar ao que é seu, e esta sua plena disponibilidade interior à vontade de Deus, nos interpelam e nos mostram o caminho.”
O parágrafo acima é para ser lido mil vezes, até que se entenda tudo o que São José representa para a vida de cada um de nós.
São José tinha um plano para sua vida e, em algum momento, teve que encarar a o fato de que o plano de Deus não combinava com seus planos.  Com toda a certeza isso já aconteceu com cada um de nós!  Mas quando isso aconteceu, o que fizemos?  Aderimos ao plano de Deus ou ficamos rancorosos e envenenados, lamentando por não conseguirmos impor nossos próprios planos?
Papa Francisco fala que José se tornou mais livre e grande ao aderir ao plano de Deus.  Parece paradoxal que José não tenha feito o que quer, mas tenha se tornado mais livre!  O pecado original sempre nos dá a tentação de acharmos que ser livre é não pertencer a nada nem ninguém.  Mas isso é uma ilusão.  Sempre seguimos alguém, sempre pertencemos a algo.  Então, porque não seguir a Deus e pertencer a Ele?  Há outra maneira de ser realmente livre?
Quantas vezes nos agarramos aos nossos planos, tentando fazer com que prevaleçam?  Quantas vezes viramos as costas para os planos de Deus porque achamos tudo muito difícil?  Quantas vezes ficamos confusos com a realidade e não enxergamos o que Deus quer de nós?
Neste Natal, olhemos para São José, que não foi poupado do pecado original, nem das dificuldades.  Aderiu fielmente aos planos de Deus, cresceu, foi mais livre e serviu como peça fundamental da salvação de todos nós.
Alexandre Varela é catequista de Crisma e editor do site O Catequista