sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

PALAVRAS DE PAPA FRANCISCO - ESCÂNDALOS









A Igreja nunca seja um comércio, pois a redenção de Cristo é gratuita. Esta foi a mensagem de hoje do Papa Francisco na missa em Santa Marta, na Festa Litúrgica da Apresentação da Virgem Santa Maria no Templo.

Na sua breve reflexão, o Papa sublinhou a Liturgia de hoje que propõe a passagem evangélica na qual Jesus expulsa os vendilhões do Templo, que transformam a casa de oração em covil de ladrões. Este gesto de Jesus é um verdadeiro ato de purificação: o Templo tinha sido profanado e, como tal, também o Povo de Deus, profanado com o grande pecado do escândalo. E o Papa acrescentou que este tipo de comportamento pode escandalizar o povo, mesmo hoje em dia. Quantas vezes, ao entrarmos na igreja, deparamos com uma lista de preços: batizados, bênçãos, intenções de Missa afirmou o Santo Padre que contou uma pequena história.

"Uma vez, recentemente ordenado, eu estava com um grupo de universitários, e um casal queria se casar. Tinham ido a uma paróquia: mas queria casar-se com Missa. E lá, o secretário paroquial disse: - ‘Não é possível’. Mas porque não se pode casar com Missa? Se o Concílio recomenda fazer sempre com a Missa...’. ‘Não é possível porque não podemos passar de 20 minutos’. - ‘Mas por quê’? – ‘Porque tem outros horários marcados’. – ‘Mas nós queremos a Missa’. – ‘Então vocês devem pagar dois horários’. E para casar com Missa tiveram que pagar dois horários. Este é umpecado de escândalo".

Papa Francisco recordou ainda: “Sabemos o que Jesus diz àqueles que são motivo de escândalo: “É melhor que sejam atirados ao mar”.

"Quando aqueles que estão no Templo – sejam sacerdotes, leigos, secretário, mas que precisam administrar a Pastoral do Templo – transformam-se em homens de negócio, o povo se escandaliza. E nós somos responsáveis por isto. Os leigos, inclusive! Todos. Porque se vejo que isso acontece na minha paróquia, devo ter a coragem de dizer isso cara a cara ao pároco. E as pessoas sofrem aquele escândalo. É curioso: o povo de Deus sabe perdoar os seus sacerdotes que apresentam alguma fraqueza, que escorregam num pecado... sabe perdoar. Mas são duas as coisas que o povo de Deus não pode perdoar: um padre apegado ao dinheiro e um padre que maltrata as pessoas.”

 “Porque a redenção é gratuita; Ele vem trazer a gratuidade de Deus, a gratuidade total do amor de Deus. E quando a Igreja ou as Igrejas se tornam comércio, diz-se que ..., não é tão gratuita, a salvação... É por isso que Jesus pega o chicote na mão para fazer este rito de purificação no Templo. Hoje a liturgia celebra a Apresentação de Nossa Senhora no Templo: da menina... Uma mulher simples, como Ana que está naquele momento, e entra Nossa Senhora. Que ela ensine a todos nós, a todos os pastores, a todos aqueles que têm responsabilidades pastorais, a manter limpo o Templo, para receber com amor os que vêm, como se cada um deles fosse Nossa Senhora". 

O príncipe da paz



Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)

Celebramos nesta semana a Epifania (manifestação) do Senhor. Foi o dia em que Jesus se manifestou como Salvador de todos os povos, na pessoa dos Reis do Oriente, que vieram visitar o Menino Jesus em Belém, exemplo de perseverança na vocação, ao chamado de Deus, nas dificuldades e tentações da vida. “Aquela estrela era a graça”, diz Santo Agostinho.

Deus usa de vários meios para chamar a si as pessoas, meios adaptados à personalidade e às condições de cada um. Aos pastores, judeus, já familiarizados com as revelações divinas do Antigo Testamento, Deus chamou através dos anjos, mensageiros da boa nova do nascimento de Jesus. Os Magos, porém, eram pagãos. Como eram astrônomos e astrólogos, Deus os chamou através de uma estrela misteriosa. Jesus não discrimina ninguém: no seu presépio vemos pobres e ricos, judeus e árabes. Todos são bem-vindos ao berço do pacífico Menino Deus.
Jesus veio ao mundo trazer a paz, a sua paz, a verdadeira: “Dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou” (Jo 14, 27). “Príncipe da Paz” é o título que lhe dava o profeta Isaías: “seu nome será... Príncipe da Paz” (Is 9,5). Esse foi o cântico dos anjos na noite de Natal: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e, na terra, paz aos que são do seu agrado!” (Lc 2, 14). Essa foi a sua saudação ao ressuscitar: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19 ss).
Em sua mensagem de Natal “Urbi et Orbi”, o Papa Francisco lembrou-se dos que sofrem com a guerra e a perseguição no Oriente Médio, sobretudo os cristãos:
“A Ele, Salvador do mundo, peço hoje que olhe para os nossos irmãos e irmãs do Iraque e da Síria que há tanto tempo sofrem os efeitos do conflito em curso e, juntamente com os membros de outros grupos étnicos e religiosos, padecem uma perseguição brutal. Que o Natal lhes dê esperança, como aos inúmeros desalojados, deslocados e refugiados, crianças, adultos e idosos, da região e do mundo inteiro; mude a indiferença em proximidade e a rejeição em acolhimento, para que todos aqueles que agora estão na provação possam receber a ajuda humanitária necessária para sobreviver à rigidez do inverno, retornar aos seus países e viver com dignidade. Que o Senhor abra os corações à confiança e dê a sua paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra abençoada do seu nascimento, sustentando os esforços daqueles que estão ativamente empenhados no diálogo entre Israelitas e Palestinianos”.
“Jesus Menino. Penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo duma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!”.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Qual é o mistério onde Deus Se esconde?

 
Homilia do Papa Francisco na Solenidade da Epifania.
 Encontrar Jesus nos pequeninos que sofrem exploração, torturas, tráficos de armas, comércio de pessoas


Aquele Menino, nascido em Belém da Virgem Maria, não veio só para o povo de Israel, representado pelos pastores de Belém, mas para toda a humanidade, representada neste dia pelos Magos, vindos do Oriente. E é precisamente a propósito dos Magos e do seu caminho à procura do Messias que a Igreja nos convida hoje a meditar e a rezar.
Estes Magos, vindos do Oriente, são os primeiros daquela grande procissão de que nos falou o profeta Isaías na primeira Leitura (cf. 60, 1-6): uma procissão que nunca se interrompeu desde então e que, através de todas as épocas, reconhece a mensagem da estrela e encontra o Menino que nos mostra a ternura de Deus. Há sempre novas pessoas que são iluminadas pela luz da sua estrela, que encontram o caminho e chegam até Ele.
Segundo a tradição, os Magos eram homens sábios: estudiosos dos astros, perscrutadores do céu, num contexto cultural com crenças que atribuíam às estrelas explicações e influxos sobre as vicissitudes humanas. Os Magos representam os homens e as mulheres à procura de Deus nas religiões e nas filosofias do mundo inteiro: uma busca que jamais terá fim.
Os Magos indicam-nos o caminho por onde seguir na nossa vida. Eles procuravam a verdadeira Luz: «Lumen requirunt lumine – diz um hino litúrgico da Epifania, aludindo precisamente à experiência dos Magos – seguindo uma luz, eles buscam a luz». Andavam à procura de Deus. Tendo visto o sinal da estrela, interpretaram-no e puseram-se a caminho, fazendo uma longa viagem.
Foi o Espírito Santo que os chamou e impeliu a pôr-se a caminho; e, neste caminho, terá lugar também o seu encontro pessoal com o verdadeiro Deus.
No seu caminho, os Magos encontram muitas dificuldades. Quando chegam a Jerusalém, vão ao palácio do rei, porque consideram óbvio que o novo rei nasceria no palácio real. Lá perdem de vista a estrela – quantas vezes se perde a vista da estrela – e embatem numa tentação, posta lá pelo diabo: é o engano de Herodes. O rei Herodes mostra interesse pelo Menino, não para O adorar, mas para O eliminar. Herodes é homem do poder, que consegue ver no outro apenas o rival. E, no fundo, considera Deus também como um rival, antes, como o rival mais perigoso. No palácio de Herodes, os Magos atravessam um momento de escuridão, de desolação, que conseguem superar graças às sugestões do Espírito Santo, que fala através das profecias da Sagrada Escritura. Estas indicam que o Messias nascerá em Belém, a cidade de Davi.
Então eles retomam a viagem e de novo veem a estrela: o evangelista observa que sentiram «imensa alegria» (Mt 2, 10), uma verdadeira consolação. Tendo chegado a Belém, encontraram «o menino com Maria, sua mãe» (Mt 2, 11). Depois da tentação em Jerusalém, apareceu aqui a segunda grande tentação: rejeitar esta pequenez. Mas não o fizeram; em vez disso, «prostrando-se, adoraram-No», oferecendo-Lhe seus preciosos e simbólicos dons. É sempre a graça do Espírito Santo que os ajuda: aquela graça que, por meio da estrela, os chamara e guiara ao longo do caminho, agora fá-los entrar no mistério. Aquela estrela que acompanhou no caminho os faz entrar no mistério. Guiados pelo Espírito, chegam a reconhecer que os critérios de Deus são muito diferentes dos critérios dos homens, já que Deus não Se manifesta no poder deste mundo, mas vem até nós na humildade do seu amor. Assim os Magos são modelo de conversão à verdadeira fé, porque acreditaram mais na bondade de Deus do que no brilho aparente do poder.
Deste modo, podemos interrogar-nos: Qual é o mistério onde Deus Se esconde? Onde posso encontrá-Lo? Ao nosso redor, vemos guerras, exploração de crianças, torturas, tráficos de armas, comércio de pessoas… Em todas estas realidades, em todos estes irmãos e irmãs mais pequeninos que sofrem por tais situações, está Jesus (cf. Mt 25, 40.45). O presépio propõe-nos um caminho diferente do sonhado pela mentalidade mundana: é o caminho do abaixamento de Deus, a sua glória escondida na manjedoura de Belém, na cruz do Calvário, no irmão e na irmã que sofre.
Os Magos entraram no mistério. Passaram dos cálculos humanos ao mistério: esta foi a sua conversão. E a nossa? Peçamos ao Senhor que nos conceda fazer o mesmo caminho de conversão vivido pelos Magos. Que nos defenda e livre das tentações que escondem a estrela. Que sintamos sempre a inquietação de nos interrogarmos «onde está a estrela», quando a perdermos de vista no meio dos enganos do mundo. Que aprendamos a conhecer de forma sempre nova o mistério de Deus, que não nos escandalizemos do «sinal», da indicação «um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12), e que tenhamos a humildade de pedir à Mãe, à nossa Mãe, que no-Lo mostre. Que encontremos a coragem de nos libertar das nossas ilusões, das nossas presunções, das nossas «luzes», e que busquemos tal coragem na humildade da fé e possamos encontrar a Luz, Lumen, como fizeram os santos Magos. Que possamos entrar no mistério. Assim seja. Amém.
Fonte: Boletim da Santa Sé