sábado, 10 de agosto de 2013

Encontro e solidariedade



Dom Walmor, arcebispo de Belo Horizonte, reflete sobre as palavras do Papa na JMJ
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
BELO HORIZONTE, 09 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - As palavras do Papa Francisco no Brasil, pronunciadas durante a Jornada Mundial da Juventude, com simplicidade e de forma direta, entrelaçaram conceitos. Apresentam a importância de um comprometimento de todos na busca de uma cultura do encontro e da solidariedade. O discurso do Papa convida cada um a seguir na contramão de uma globalização da indiferença, risco terrível do contexto contemporâneo.. Os pobres são os mais sacrificados. Suas urgências são desprezadas e continua aberta a ferida do desrespeito à dignidade humana. O convite à cultura da solidariedade e do encontro é um grito profético na suavidade da voz de quem não se deixa levar por pretensões e poderes, mas pauta sua vida na simplicidade do Evangelho e no respeito pelo outro.
Tornam-se ainda mais interpeladoras as palavras do Papa Francisco graças aos seus gestos, a serenidade do seu sorriso, a atenção para com todos. Uma autenticidade própria de quem não faz de si o centro, mesmo com a importância e singularidade de sua pessoa e de sua missão de sucessor do apóstolo Pedro.  Já no voo de vinda ao Rio de Janeiro, conversando com os jornalistas, o Papa sublinha um horizonte imprescindível para a cultura do encontro e da solidariedade, quando se refere ao jovem, que não pode ser isolado da sociedade, compreendendo-o como o verdadeiro futuro de um povo.
A essa compreensão, sem demora, também faz referência aos idosos. Ensina que um povo tem futuro se caminha com a força dos jovens, impulsionando adiante as dinâmicas e projetos, e com a sabedoria insubstituível carregada no coração e na experiência de vida dos mais velhos. Esses aspectos da mensagem do Papa Francisco iluminam muitas sombras da sociedade brasileira, agora mais despertada para a preciosidade do jovem, mas ainda muito indolente nas suas estruturas e funcionamentos quanto à valorização e respeito aos idosos.
Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo, o Papa Francisco desafia os brasileiros, particularmente governantes e dirigentes, a não relativizar, com análises inadequadas e, sobretudo, com um esfriamento proposital, o sentido positivo das manifestações populares alavancadas pelos jovens nas ruas do Brasil. A juventude merece mais contundência nas respostas. Obviamente, elas não podem reduzir-se à diminuição de tarifas de ônibus ou às propostas apressadas que caem rapidamente no descaso e na inviabilidade.
A cultura da solidariedade é o único caminho que não permitirá apagar essa chama que já sinalizou a necessidade de mudanças mais profundas e de respostas mais urgentes. Por isso o Papa Francisco deixou uma bela advertência, exatamente durante a cerimônia de boas-vindas, ante uma plateia de dirigentes governamentais, ao dizer que “a nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem, quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida; assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem”.
Essas palavras do Papa Francisco mostram que é urgente revisar as dinâmicas institucionais da nossa sociedade. É preciso uma transformação profunda que inclui governos, escolas e universidades, criando círculos de solidariedade pela singularidade educativa do encontro entre amigos e irmãos. A riqueza e densidade das palavras do Papa Francisco, em vista da superação da globalização da indiferença e cultivo da cultura do encontro e da solidariedade, encontra um momento significativo nas indicações dadas na homilia da Missa no Santuário da Mãe Aparecida: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Importa a ousadia de ter uma visão positiva da realidade, tornando-se cada um, indica o Papa, luzeiro de esperança, deixando-se conduzir por Deus. Assim brota a condição de viver na alegria. A confiança em Deus, a esperança e a alegria por tantos dons impulsionam a sociedade na conquista e vivência da cultura do encontro e da solidariedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Dia dos pais



Esta é a grande festa familiar que a Igreja nos convida a celebrar neste domingo: a festa da paternidade
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 09 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - No mês de agosto, chamado mês vocacional para a Igreja no Brasil, celebramos também o Dia dos Pais no segundo domingo. Quero me associar a todos os pais no seu dia e apresentar-lhes meus cumprimentos e as minhas especiais preces pela sua vida e pela sua missão de gerar os seus filhos para a Igreja e de educá-los na fé católica. Meu olhar se volta para todos os pais, particularmente aqueles que estão doentes, que passam dificuldades, que sofrem atribulações, que estão desempregados, que vivem perseguições, aos encarcerados, aos pais adictos, aos pais que estão afastados de seus filhos pelo sofrimento do divórcio e aos pais que sofrem porque seus filhos vivem na dependência do álcool e da droga.
Eu gostaria de pedir licença aos meus leitores para compartilhar as palavras do Papa Francisco em sua histórica e emocionante visita pastoral à Comunidade da Varginha. Aquele contexto deve ser o contexto em que devemos celebrar o Dia dos Pais. Disse o Papa Francisco: "Que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros desse País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho", falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui visitar a Comunidade de vocês, que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem-acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa!".
Realmente, esta é a grande festa familiar que a Igreja nos convida a celebrar neste domingo: a festa da paternidade. A festa em torno do grande dom que Deus dá ao homem e à mulher, que é nascer de um pai e de uma mãe, formando uma família conforme a vontade de Deus. E quando nós falamos dos sentimentos que temos pelos nossos pais é o de acolhida, manifestado tão magnificamente pelo Papa Francisco: "Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras, e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim por que quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate à sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão".
As palavras do Papa são um convite para que os pais não desanimem de ser os promotores da cultura da acolhida: acolher em primeiro lugar a Jesus Cristo, nosso Salvador, que tendo nascido de uma família humana foi obediente ao seu pai adotivo, São José, e à sua Mãe, Maria Santíssima. Os pais devem ensinar aos seus filhos a solidariedade, a partilha, a cidadania, a co-responsabilidade pela vida da Igreja, missão de todos os batizados, e o profetismo de sermos discipúlos-missionários na edificação de uma sociedade mais justa, com emprego, com renda, com inclusão social verdadeira.
O Papa Francisco sublinhou na Catedral Metropolitana de São Sebastião que os bispos, sacerdotes e diáconos são "Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a “cultura do descartável”. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois “dogmas” modernos: eficiência e pragmatismo". Os pais, da mesma maneira, são protagonistas desta cultura do encontro e da superação da exclusão que impera em muitos ambientes familiares. Que nossas famílias sejam locais de encontro para rezar, para as refeições, para a partilha da vida cotidiana. Que muitos confortos modernos que nos isolam, como a televisão em cada quarto, o computador que muitas vezes exclui a conversa pessoal, sejam redimensionados para que possamos viver realmente uma vida familiar em que o pai conduz a sua família a viver a cultura da vida, da esperança, da fé e da transmissão do Evangelho.
Gostaria de entrar em cada um dos lares do Rio de Janeiro para cumprimentar os pais de nossa Arquidiocese. Com o Dia dos Pais começa a Semana Nacional da Família em todo o Brasil. Também será importante celebrá-la, e desejo de coração afirmar a importância da família na sociedade. Por isso, elevo ao Divino Pai Eterno uma especial prece por todos os pais, para que não renunciem à sua importante missão familiar e eclesial. E que, na bela experiência do “terço dos homens”, nossos pais possam dar o testemunho público de vida cristã aos filhos e netos, que deve ser a sua primeira e mais importante missão e o seu mais precioso bem a deixar de legado a todos os seus familiares.
Deus abençoe nossos pais!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A GRAÇA DA FAMILIA



Dom Alberto Taveira Correa, arcebispo de Belém do Pará reflete sobre a graça da paternidade e da maternidade
Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 08 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - “Pela fé, embora Sara fosse estéril e ele mesmo já tivesse passado da idade, Abraão tornou-se capaz de ter descendência, porque considerou fidedigno o autor da promessa. E assim, de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão comparável às estrelas do céu e inumerável como os grãos de areia na praia do mar” (Hb 11, 11-12). Abraão é considerado o “Pai da Fé” pelas três grandes religiões monoteístas, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. Para elas, a experiência da presença de Deus tem sua fonte no alto, é revelação, cuja iniciativa é do próprio Senhor. A fé, certeza a respeito daquilo que não se vê (Hb 11, 1), introduz nas realidades humanas um horizonte aberto de proporções inimagináveis. Abraão se encontra presente, quando apostou tudo em Deus, na multidão dos homens e mulheres que, nas sucessivas gerações, volta seus olhos para o alto e para frente.
A graça da paternidade e da maternidade, experimentada por Abraão e Sara, há de ser posta em relevo em nosso tempo, pois, de fato, “os filhos são herança do Senhor, é graça sua o fruto do ventre” (Sl 127, 3). Queremos oferecer, como profecia de um futuro digno para a humanidade, o presente de famílias cristãs consistentes. A contribuição genuína dos cristãos, neste campo, é a família una, fiel e fecunda. Graça e desafio! Aceitar formar famílias segundo esta proposta é antes de tudo uma vocação a ser descoberta e alimentada. Homem e mulher, pois assim foi criado o ser humano (Gn 1,27), são tocados pelo amor de Deus para serem seus sinais. A resposta, desafio a ser assumido, é construída durante a vida toda.
O coração humano não foi feito para ser dividido em vários amores. Corpo e alma, com todas as suas potencialidades, doados como sinal do amor de Cristo e da Igreja. Chama-se “sacramento” do Matrimônio! Descobrir a pessoa à qual será entregue a própria vida, não como um título de propriedade a ser adquirido, é a grandeza do casamento cristão. Trata-se de uma forma de consagração a Deus! Acreditar que os dois, unidos diante do Senhor, mostram o próprio Deus às outras pessoas e ao mundo.. Nosso mundo clama por testemunhas consistentes de tais valores. Os casais cristãos descubram de novo a beleza do que receberam do Senhor e assumiram como vocação.
Com certa frequência aparecem estatísticas sobre a fidelidade e a infidelidade entre os casais. Parece uma propaganda das aventuras infelizmente existentes, que podem suscitar justamente uma banalização de uma das graças do matrimônio cristão. Desejo homenagear os casais que não submetem sua própria intimidade a perguntas que os expõem na praça pública. Sintam-se reconhecidos todos os casais fiéis, e são muito mais do que se divulga! Saibam que a Igreja faz festa com eles por conservarem, no verdadeiro tabernáculo que é sua vida conjugal, o tesouro da fidelidade, prometido com plena liberdade quando seu amor se tornou Sacramento. Não fica esquecido pelo Senhor o dom de suas vidas!
Por falar em exposição, sim, os casais cristãos têm algo a mostrar! Trata-se dos filhos, testemunhas da fecundidade do amor verdadeiro. Já se disse que o amor conjugal não é olhar um para outro a vida inteira, mas olharem os dois numa mesma direção! Olhar para o alto, participar da graça criadora de Deus, gerar filhos para a Igreja e para o mundo! É dignidade a ser sonhada e construída pelo homem e a mulher que se unem no Sacramento do Matrimônio. É graça a ser pedida pelos que se preparam ao Casamento..
Tudo isso encontra seu sentido na fé, fundamento de realidades humanas assumidas nesta terra, como pessoas que veem o invisível. Há muita gente pronta para descrever os problemas das famílias. A nós, na Igreja, cabe a tarefa de proclamar um verdadeiro evangelho da família, reconhecida como boa nova para o nosso tempo.
Daí nasce o convite aos jovens vocacionados ao matrimônio, para que empreendam um caminho de discernimento e preparação correspondentes à grandeza do sacramento que desejam abraçar. Entrem na escola do amor verdadeiro, treinem a capacidade de escuta e acolhimento, exercitem a saída de si mesmos para dar espaço à outra pessoa. Peçam a Deus a graça de descobrirem a quem deverão entregar totalmente suas vidas. Sejam anunciadores de novas famílias, renovadas no Espírito Santo.
Aos casais cristãos, chegue o convite da Igreja a edificarem cada dia seus lares sobre o fundamento da fé, de modo a transmitirem valores consistentes aos filhos e os testemunharem à sociedade. Deus lhes confiou muito! A Evangelização de seus filhos começou quando estes foram gerados no amor, deixando neles uma marca indelével.
Continuou quando vocês lhes ensinaram os rudimentos da fé cristã. Benditas foram as orações que lhes foram ensinadas! Deem graças ao Senhor porque vocês os apresentaram à Igreja para os Sacramentos, quando os encaminharam à Catequese. Aliás, vocês foram os primeiros catequistas! Deus lhes pague e confirme sua vocação na transmissão e educação da Fé Cristã na Família, como quer celebrar a Semana Nacional da Família.Deus seja louvado pelos valores cristãos que existem em nossas famílias, santuários da fé e da vida!
Com as famílias e pelas famílias, rezamos confiantes no dia dos pais: “Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Amém!”

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Matrimônio: entre crise e beleza



O verdadeiro problema atual não é a crise no casamento, mas sim a crise de fé, que não permite ao homem reconhecer a beleza do matrimônio e dos dons de Deus.
Por Pe. Anderson Alves

ROMA, 07 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Fala-se muito ultimamente de casamento. Esse parece ser um direito de todos e, ao mesmo tempo, tem-se a impressão de que se sabe cada vez menos o que ele realmente é. Existem muitos casamentos que se rompem e é ainda maior o número de pessoas que não se decidem jamais a se casar.
A Palavra de Deus também fala muito do matrimônio, no contexto da revelação de Deus à família humana. Jesus ensina que o casamento é algo sagrado, um gesto com o qual um homem e uma mulher se tornam um só corpo e alma por toda a vida. E o Senhor sempre acolheu e abençoou as crianças, o fruto natural do casamento. Deus revela-se então como alguém que ama e abençoa as famílias; na verdade, ele quis que o homem viesse ao mundo através das famílias e Ele mesmo se fez homem no seio de uma família humana. O Deus que é único, grande e todo-poderoso fez-se criança em Jesus, vivendo por trinta anos, submetido a uma família.
O Evangelho fala-nos, sem dúvida, da santidade e indissolubilidade do matrimônio: aqueles que se casam, tornam-se uma só carne e nada pode separá-los. Mas estas palavras para nós, homens do século XXI, são fonte de certo desconforto e confusão. Sabemos que mais de 40% dos casamentos falham, e muitos querem considerar “direito” separar o que Deus uniu. Esta é uma verdadeira tragédia atual, que causa dor e sofrimento, especialmente nas crianças. O casamento parece ser uma escolha de poucos e algo sem nenhum valor. Nesta situação, as crianças são cada vez mais raras e chegam quase a desaparecer.
No entanto, se o homem olha para si mesmo, percebe que possui um grande desejo de amar outra pessoa totalmente, para ser feliz, fazendo outra pessoa feliz. Todo homem tem o desejo de doar-se totalmente, pois o amor ou é total ou simplesmente não existe. O amor exige a eternidade, a perfeita doação. Mas porque temos este desejo e, ao mesmo tempo, parece ser impossível de realizá-lo?
Este grande desejo existe, porque a nossa vida é um dom gratuito, recebido de Deus. Não viemos à existência por nós mesmos, mas por causa do amor de outras pessoas. Deus nos criou livre e gratuitamente, sem pedir nada em troca, porém isso se realizou através do amor de nossos pais. Por esta razão, o homem só pode ser realizado quando se entrega, doando a Deus e aos outros os bens recebidos.
Uma das maneiras – certamente não a única – de entregar-se totalmente a Deus e aos outros é o matrimônio. Os cônjuges que se amam, acima de tudo amam a Deus, fazem de suas vidas um dom recíproco, encontram um caminho para a felicidade e podem cooperar com Deus no poder único de gerar vidas. O verdadeiro amor é absoluto, exige a totalidade do tempo, a abertura à vida, o desejo de entregar-se para sempre. Aquele que ama verdadeiramente busca doar-se completamente, e quando o amor é doado, não se perde ou extingue, mas cresce e frutifica. O amor é destruído somente quando uma pessoa se casa pensando em fazer-se feliz e não descobre que só existe um caminho para a felicidade: buscar a felicidade da pessoa amada.
Além disso, Deus quis que o casamento fosse um Sacramento, um sinal sagrado que dá aos homens a capacidade de doar-se em um amor total e fecundo para toda a vida. “Nosso Salvador foi ao casamento de [Canaã] para santificar as origens da vida humana” [1]. E o Sacramento pressupõe a igualdade da dignidade de homem e mulher, assim como a complementaridade. O livro de Gênesis diz que Adão, após a criação, viu todos os animais e não encontrou nenhum que lhe fosse semelhante. Em seguida, o texto bíblico usa uma bela imagem poética: a mulher foi criada a partir de uma costela do homem. A imagem significa que a mulher é igual ao homem em dignidade. Ela não foi feita dos pés de Adão, porque não é inferior a ele; nem mesmo pode-se dizer que Deus tenha tirado o cérebro do homem para fazer a mulher. Deus a criou a partir da costela do homem, porque é a parte do corpo humano que está mais próxima ao coração. Assim, quando Adão viu Eva gritou de alegria: “Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada mulher, porque foi tomada do homem” (Gn. 2, 22-23).
O Beato João Paulo II, comentando estes textos, disse que Deus criou todas as coisas com ordem, começando pelas mais simples, como a luz, a água, a terra, e terminou com as mais complexas: o homem e a mulher. Por conseguinte, a mulher é mais a criatura mais “perfeita” do universo e a mais complexa. Por esta razão, os homens são incapazes de entender as mulheres e o demônio quis tentar em primeiro lugar à mulher. Ele sabia que, uma vez destruída a dignidade da mulher, toda a criação viria à ruína.. Ele agora usa a mesma estratégia: destruir a figura da mulher para pôr em crise toda a sociedade.
Homens e mulheres são semelhantes e estão ligados pelo coração; mas para permanecer fiel um ao outro necessitam de Deus, da sua graça, que é dada especialmente no dia em que recebem o Sacramento do matrimônio. A graça, porém, necessita ser alimentada diariamente, através da oração comum, da participação nos demais Sacramentos. O verdadeiro problema atual não é a crise no casamento, mas sim a crise de fé, que não permite ao homem reconhecer a beleza do matrimônio e dos dons de Deus. Quem se afasta de Deus, se esquece de que o homem é uma criatura que só se realiza através da doação livre e gratuita. Peçamos ao Senhor que as famílias cristãs sejam capazes de encontrar sua força em Deus e que os jovens não tenham medo de realizar o plano que Deus tem para eles.
*
NOTAS
[1] São Cirilo de Alexandria, In Ioannem Commentarius, 2, 1 [PG 73223].

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

OS VALORES DA FAMILIA CRISTÃ


    


A família é um dos tesouros mais importantes dos povos, é patrimônio da humanidade inteira."  (DAp 432)

    As famílias hoje, estão desestruturadas, as relações precárias e com grande preocupação com o ter e vivem em um ambiente de brigas e violência.

Dos pais provêm os exemplos mais importantes para a vida dos filhos em formação da personalidade.. Eles possuem uma influência muito forte sobre seus filhos, são como espelho. Pois eles crescem fazendo o que seus pais fazem – ao invés do que eles dizem. Se não há um bom exemplo, não há como esperar padrões de comportamento  dos filhos. 

 Ser pai e mãe é uma dádiva e uma tarefa complexa. Com freqüência, podemos ficar tão distraídos com esta tarefa (prover alimento, disciplina, abrigo, vestuário e educação) que perdemos nossa relação com a criança em meio a todas as pressões e preocupações. Contudo, a maior necessidade da criança em crescimento, para que se torne um adulto seguro e com autoconfiança, é saber que é amada. O amor é expresso em confiança, cuidado, deleite e liberdade, para que a criança se desenvolva como pessoa com relações saudáveis e abertas ao perdão. Também no plano da fé é desde a tenra idade que as crianças precisam aprender a valorizar a vida interior, a espiritualidade.
O projeto de Deus é que a família seja um lugar de refúgio e segurança, permanecendo firme sob pressões. Ela deve ser um lugar onde os seus membros possam atingir maturidade, compartilhando as tristezas e as alegrias, mas sempre juntos e unidos. Em família é preciso aprender a superar as dificuldades através do amor, paciência e solidariedade.
Se a família é a imagem de Deus, inspirados no amor da Trindade Santa, lá não há solidão, individualismo e concorrência. E na convivência familiar deve ter lugar para todas as idades, e como o Papa Francisco  advertiu, é preciso aprender a escutar o idoso, sua experiência de vida é um forte ensinamento para os mais jovens.
A família precisa tomar consciência de que é mais importante ser do que ter. Inspirar-se na Sagrada Família para viver com alegria  os valores do Reino de Deus e ser feliz.
                                Maria Ronety Canibal


Papa Francisco deixou marcas profundas na sua passagem no Rio de Janeiro



Cardeal Odilo Pedro Scherer comenta a visita do Pontífice

SãO PAULO, 06 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Em nota publicada em O São Paulo, edição de 31 de julho, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, comentou sobre “as marcas profundas” deixadas pelo papa Francisco na sua passagem no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Dom Odilo resumiu a visita do Papa em três pontos: Os jovens, os pobres e a Igreja.
O cardeal destacou que o Papa dirigiu-se aos jovens com uma “linguagem direta e fácil, buscando e conseguindo a atenção deles de maneira extraordinária” . “E os jovens corresponderam com entusiasmo, enchendo as ruas do Rio e a orla de Copacabana de alegria e fé. Espetáculo bonito de se ver! Tantos jovens serenos e sedentos de Deus mostraram que a mensagem da Igreja continua, sim, a lhes interessar, e a Igreja tem algo importante para lhes dizer”.
Lembrou a exortação do Papa aos jovens para serem “protagonistas das mudanças sociais e construtores de um mundo melhor para todos; a não se contentarem em ser cristãos “de sacada”, mas a descerem para o meio das realidades, para se envolver e comprometer”.
Chamou a atenção para a palavra solidariedade, uma das palavras mais usadas pelo Papa Francisco “que foi ao encontro das situações de exclusão e sofrimento e teve atitudes e palavras de solidariedade e carinho para com os pobres e os que sofrem”.
Sobre a Igreja Dom Odilo citou que nos encontros com os bispos do Brasil e com os diversos responsáveis pelo departamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano, na Missa celebrada com os bispos e padres na catedral do Rio, o Papa recomendou, “com palavras claras e incisivas, que se volte para “as periferias”, as muitas periferias em que vive o homem de hoje”.
O Papa Francisco “deu belos exemplos sobre como a Igreja pode ser próxima das pessoas e missionária e como dirigir-se com franqueza, simplicidade e solicitude amorosa a todas as pessoas” – conclui a nota-. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

PROTAGONISTAS DE UM NOVO MUNDO

Num espaço em que se falavam todas as línguas, a linguagem do amor prevaleceu. A única ameaça que havia era o grande amor do povo para com o Santo Padre
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 05 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Os olhares do mundo se dirigiram para o Rio de Janeiro durante os dias da Jornada Mundial da Juventude! Evidentemente que a mídia em geral enfocou principalmente, como não poderia deixar de ser, a presença, os gestos e as palavras do Papa Francisco em sua primeira viagem pastoral, e justamente à “sua” América Latina. Realmente, foram de “lavar a alma” aqueles belos momentos. Muitos artigos ainda serão publicados sobre cada gesto, sobre cada frase ou cada possível omissão de palavra na frase, ou ainda sobre os momentos escolhidos para que o primeiro peregrino da Jornada estivesse em contato com os jovens presentes no Rio de Janeiro, e, através das mídias, com o mundo todo. Nunca saberemos quantos milhões de pessoas foram atingidas naqueles dias e que foram convidadas para a construção de um mundo mais justo e humano.
Porém, a Jornada teve muitos outros olhares. Os encontros menores, os países presentes, a primeira viagem de muitos jovens fora de sua pátria, a experiência das paróquias, dos padres, das famílias acolhedoras! E o que dizer da feira vocacional, o encontro de grupos nacionais em grandes momentos, a presença das relíquias de santos e beatos, as mostras culturais, os shows variados pela cidade?
E a presença de jovens que embelezaram todos os cantos durante mais de uma semana levou também à admiração e simpatia os habitantes dessa cidade. Já tinham dado um grande passo: abriram suas casas e seus corações ao irmão que veio de longe! Nisso, as pesquisas foram unânimes: a alegria dos que foram acolhidos pela generosidade e fraternidade dos cariocas! Os que para cá vieram experimentaram que foram acolhidos como irmãos! Isso aconteceu tanto nas residências como nas paróquias. Todos se esmeraram. Até mesmo para resolver problemas surgidos de última hora, como falta de vistos de entrada, perda de passaportes ou de outros documentos, dificuldades de alojamento para quem não tinha feito inscrição, acolhimento em dias não previstos, alimentação a mais fornecida com carinho para esses jovens que fizeram essa longa peregrinação.
Essa JMJ, foi, sem dúvida, uma ação de Deus na vida de todos nós! Para quem organizou nesses quase dois anos com todos os detalhes e discutiu todas as possibilidades, tudo o que houve não se pode atribuir a nós! Creio que foi o evento que mais teve mudanças que podemos saber: desde a mudança da base aérea de Santa Cruz, passando pela renúncia e eleição do Papa, até a mudança do local das celebrações finais. Nesse mesmo contexto tivemos a dificuldade financeira da Europa, as manifestações no Brasil, acontecimentos que mudaram as questões de segurança, como o incêndio da casa de espetáculos no sul e o atentado nos EUA, que fizeram com que as normas se modificassem a cada momento, com novas exigências. Claro que as pequenas manifestações de pessoas que não concordam com os valores da Igreja também estiveram presentes, mas foram respondidas com paz e fraternidade de quem não estava para brigar, mas para dar as mãos e anunciar a paz! A colaboração de todas as autoridades e organizações trouxe a certeza de que o Senhor conduz a história. Não teria como fazer tantas mudanças e continuar tudo tão em paz, inclusive com a limpeza inédita da praia de Copacabana após um grande evento, e a não ocorrência de violência em uma concentração de mais de três milhões e meio de pessoas no mesmo lugar! Num espaço em que se falavam todas as línguas, a “linguagem do amor” prevaleceu. Contagiou os moradores de Copacabana, que estão acostumados a ver sua região ter grandes eventos, e viram naqueles dias que algo novo estava no ar.
As dificuldades para chegar perto do Santo Padre são naturais, pois ele é um só para milhares de pessoas, mas de uma forma ou outra ele se aproximou o mais possível. Até mesmo a segurança, tão preocupada, viu que a única ameaça que havia era o “grande amor” do povo para com o Santo Padre. Infelizmente, em algumas celebrações, na entrada de sacerdotes prevaleceu mais a força que a caridade, mas tenho certeza de que eles saberão perdoar esses momentos mais difíceis. Em geral, a alegria era contagiante.
As catequeses nas diversas línguas por todos os cantos da cidade e os encontros menores falaram muito ao coração de quem recebia e de quem participava. Não era só um evento de massa! Foi um evento em que houve contatos pessoais, partilhas, meditação, oração! O que dizer dos momentos de oração silenciosa não só em Copacabana, mas também nas paróquias, com jovens fazendo vigílias nas Igrejas?
Esses jovens são responsáveis por um mundo mais justo e humano! Estão dispostos a ir às ruas, como pediu o Papa, também para testemunhar que um mundo novo, sem violência, sem guerras, sem divisões – é possível. Vieram de todos os tipos de regime de governo e sabem o que é cada situação, ou de exclusão ou de ditadura. Sabem também de sua responsabilidade no mundo de hoje e de amanhã. Essa experiência de troca universal que houve aqui no Rio de Janeiro permanecerá em seus corações e, tenho certeza de que já os entusiasmou para viverem ainda mais sua vocação e sua missão.
Nós, que os recebemos aqui, também fomos transformados! Mesmo os corações mais empedernidos se abriram. Essa experiência por nós vivida precisa ser continuada: abertura ao outro, acolhimento do irmão, alegria pela presença das pessoas em nossas vidas, protagonismo do jovem, preocupação com a paz e a fraternidade, luta por um mundo mais justo, diálogo com toda a sociedade e anúncio de Jesus Cristo, Nosso Senhor, caminho, verdade e vida!
Irmãos e irmãs: a Jornada foi um evento importante para nossas vidas e nosso país. Aqui nessa cidade vimos a mão de Deus agir. Agora precisamos continuar nesse mesmo caminho, buscando concretizar tantos sonhos e tantos desejos expressos naqueles dias. Cabe a cada um de nós, a nossas paróquias e nossas pastorais darem os passos dentro daquilo que o Senhor nos concedeu por inteira liberalidade e misericórdia.
Teremos ainda muitas reflexões a fazer, pois melhor que ninguém cada um que viveu aqueles momentos terá muito a contribuir para o presente e o futuro. Agradeço a Deus que se mostrou fiel em tudo o que aconteceu, peço-Lhe para que todos os jovens que para cá vieram se tornem protagonistas em seus ambientes, e exorto a todos dessa querida arquidiocese a estarmos ainda mais unidos para discernir os caminhos que o Senhor nos apontou naqueles abençoados dias.
Aceitem o meu abraço de coração agradecido a todos, e minhas orações na intenção do presente e futuro do mundo que aqui esteve reunido durante uma semana.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ORAÇÃO DOS FILHOS PELOS PAIS



Caros diocesanos. Continuamos no mês de agosto, denominado Mês das Vocações, em que a Igreja deseja contemplar todos os estados de vida e os diversos ministérios que enriquecem sua vida e missão. Na semana passada, nós refletimos mais sobre a vocação dos Ministros ordenados e dos que se consagram na Vida Religiosa. Hoje, pensando no Dia dos Pais, nossa mensagem quer destacar o estado de vida dos leigos, com atenção especial para a vocação matrimonial e familiar.
O Documento de Aparecida descreve assim o amor conjugal: “O amor conjugal consiste na doação recíproca entre um homem e uma mulher, os esposos: é fiel e exclusivo até a morte e fecundo, aberto à vida e à educação dos filhos, assemelhando-se ao amor fecundo da Santíssima Trindade” (DAp 117). Percebemos que a Igreja sempre deu grande valor à família, considerando-a “um dos tesouros mais preciosos dos nossos povos”. O documento citado ainda a considera: “lugar e escola de comunhão, fonte de valores humanos e cívicos, lar onde a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente”. Ela também se torna escola de fé, fazendo dos pais os primeiros catequistas de seus filhos. É com eles que começa o verdadeiro caminho da iniciação cristã. Assim ela é considerada santuário da vida e pequena Igreja, chamada Igreja doméstica. Neste ambiente os filhos têm o direito de poder contar com o pai e a mãe para que os cuidem e acompanhem até a plenitude da vida (DAp 118 e 302-303).
Infelizmente, hoje estão em evidência outras formas de união, novas concepções de família que não respeitam o projeto originário de Deus. São estranhas à cultura cristã e alteram a natureza específica dessa instituição. Homem e mulher foram criados para que um complete o outro e os dois, unidos, sejam geradores da vida. O documento de Aparecida afirma: “pertence à natureza humana que o homem e a mulher busquem um no outro a sua reciprocidade e complementaridade” (DAp 116).Neste mês das vocações queremos também rezar pelas nossas famílias, pelos nossos pais. Mesmo não conhecendo o autor da prece que segue, desejamos rezá-la com os leitores e ouvintes e, quem sabe, repeti-la ainda por muitas vezes em nossa vida. Nunca rezamos demais pelos nossos pais e pelas nossas famílias:
Senhor Deus, Pai e Mãe de Bondade.
Nosso coração de filhos e filhas quer elevar uma prece, para agradecer-te pelos pais que temos.
Cremos e sentimos, Senhor, que tu te mostras e te revelas na paternidade, responsável e feliz, do homem que carrega nos ombros a grande graça de ser pai; e que tu te mostras e te revelas na maternidade, cheia de ternura e calor, da mulher que gera e acolhe a vida.
Sabemos, Senhor, que os pais humanos não são perfeitos, por mais que se esforcem para acertar. É difícil demonstrar sempre afeto, ternura e diálogo, com paciência...
Abençoa, Senhor, nossos pais: ........................................... e ...........................................
Que eles não se cansem em sua missão, na família e na comunidade. Que sejam ricos do dom da paz, da graça e da saúde. E, sobretudo, para que eles continuem revelando tua paternidade e tua maternidade divinas, no jeito de viver como pais humanos. Amém!”.
Deus, por intercessão de Nossa Senhora Conquistadora, abençoe nossos pais e nossas famílias cristãs!

Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana
 

"Os jovens não seguem o Papa, seguem Jesus Cristo, carregando a sua Cruz"





Palavras do Papa Francisco antes da oração do Angelus neste domingo

CIDADE DO VATICANO, 04 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir as palavras que o Santo Padre proferiu às 12h de hoje, antes da tradicional oração do Angelus, aos fieis reunidos na praça de São Pedro:
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Queridos irmãos e irmãs!
No domingo passado eu estava no Rio de Janeiro. Concluia-se a Santa Missa e a Jornada Mundial da Juventude. Acho que todos juntos temos que agradecer ao Senhor pelo grande dom que foi este evento para o Brasil, para a América Latina e para o mundo inteiro. Foi uma nova etapa na peregrinação dos jovens em todos os continentes com a Cruz de Cristo.. Nunca devemos esquecer que as Jornadas Mundiais da Juventude não são "fogos de artifício", momentos de entusiasmo fins em si mesmos; são etapas de uma longo caminho, começado em 1985, por iniciativa do Papa João Paulo II. Ele confiou ao jovens a Cruz e disse: Ide, e eu irei convosco! E assim foi feito; e esta peregrinação dos jovens continuou com o Papa Bento XVI, e graças a Deus também eu pude viver esta maravilhosa etapa no Brasil.
Lembremo-nos sempre: os jovens não seguem o Papa, seguem Jesus Cristo, carregando a sua Cruz. E o Papa os orienta e os acompanha neste caminho de fé e de esperança. Agradeço por isso a todos os jovens que participaram, mesmo à custa de sacrifícios. E agradeço ao Senhor também pelos outros encontros que tive com os Pastores e o povo daquele grande País que é o Brasil, como também com as autoridades e os voluntários. O Senhor recompense todos aqueles que trabalharam por esta grande festa da fé. Quero também ressaltar a minha gratidão, muito obrigado aos brasileiros. Pessoas maravilhosas estas do Brasil, um povo com grande coração! Não esqueço da sua calorosa recepção, das suas saudações, dos seus olhares, tanta alegria. Um povo generoso; peço ao Senhor que o abenço muito!
Gostaria de pedir-vos que orem por mim para que os jovens que participaram da Jornada Mundial da Juventude possam traduzir essa experiência na sua jornada diária, no comportamentos de todos os dias; e que possam traduzí-lo também em escolhas importantes de vida, respondendo ao chamado pessoal do Senhor. Hoje na liturgia ecoa a palavra provocante do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades... tudo é vaidade" (1,2).. Os jovens são particularmente sensíveis ao vazio de sentido e de valores que muitas vezes os rodeiam. E, infelizmente, pagam as consequências. Em vez disso, o encontro com Jesus vivo, em sua grande família que é a Igreja, enche o coração de alegria, porque o preenche com a vida verdadeira, de um bem profundo, que não passa e não apodrece: o vimos nos rostos dos jovens no Rio. Mas esta experiência tem que ser confrontada com a vaidade cotidiana, o veneno do vazio que se insinua nas nossas sociedades baseadas no lucro e no ter, que iludem os jovens com o consumismo. O Evangelho deste domingo nos lembra justamente o absurdo do fundamentar a própria felicidade no ter. O rico diz a si mesmo: Alma minha, tens em depósito muitos bens... descansa, come, bebe e se divirta! Mas Deus lhe diz: Louco, esta mesma noite a sua vida será pedida. E o que você tiver acumulado, de quem será? (Cf. Lc 12,19-20). Queridos irmãos e irmãs, a verdadeira riqueza é o amor de Deus compartilhado com os irmãos. Aquele amor que vem de Deus e faz com que nós o compartilhemos entre nós e nos ajudemos entre nós. Quem o experimenta não teme a morte, e recebe a paz do coração. Confiemos esta intenção, a intenção de receber o amor de Deus e compartilhá-lo com os irmãos, à intercessão da Virgem Maria.

domingo, 4 de agosto de 2013

ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Oração indulgenciada por S. Pio X em 03/03/1905)

Ó Jesus, Pontífice Eterno, Divino Sacrificador, Vós que, no Vosso incomparável amor, deixastes sair do Vosso Sagrado Coração o sacerdócio cristão, dignai-Vos derramar, nos Vossos sacerdotes, as ondas vivificantes do Amor infinito.
Vivei neles, transformai-os em Vós, tornai-os, pela Vossa graça, instrumentos de Vossas Misericórdias.
Atuai neles e por eles, e fazei que, revestidos inteiramente de Vós pela fiel imitação de Vossas adoráveis virtudes, operem, em Vosso nome e pela força de Vosso espírito, as obras que Vós mesmo realizastes para a salvação do mundo.
Divino Redentor das almas, vede como é grande a multidão dos que dormem ainda nas trevas do erro; contai o número dessas ovelhas infiéis que ladeiam os precipícios; considerai a multidão dos pobres, dos famintos, dos ignorantes e dos fracos que gemem ao abandono.
Voltai para nós por intermédio dos Vossos sacerdotes. Revivei neles; atuai por eles, e passai de novo através do mundo, ensinando, perdoando, consolando, sacrificando, e reatando os laços sagrados do amor entre o Coração de Deus e o coração humano.
Amém.
Do livro «O Sagrado Coração e o Sacerdócio», de Madre Luísa Margarida Claret de La Touche.
VIA INTERNET

Razões para ser padre


CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Na sociedade atual, hedonista e secularizada, a figura do Padre é objeto de muita discussão, inclusive através da mídia. Freqüentemente, pessoas que pouco entendem do assunto, se permitem a audácia, talvez até com boa intenção, de dar sugestões sobre como deveria ser o sacerdócio católico. O Presbítero, habitualmente chamado pelo povo de Padre, possui o segundo grau do Sacramento da Ordem. Portanto, é Sacerdote, assim como o Bispo, que tem a plenitude deste Sacramento. Nesta reflexão, vamos considerar algumas razões para ser Padre, isto é, participante do Sacerdócio de Jesus Cristo, hoje e sempre.
Primeiramente, é preciso compreender que o Padre foi chamado por Deus. Não é uma vocação que alguém escolhe, porque se julga apto para tal, ou porque acha interessante. A escolha é de Deus, e o seu chamado não se discute. Por isso, o sacerdócio é um privilégio, imerecido. Quando da eleição dos Apóstolos, e também dos discípulos, Jesus passou a noite em oração. Pela manhã, Ele escolheu os que queria para o seu grupo, com os quais fundou a sua Igreja, que subsistirá até o fim dos tempos – a Igreja Católica Apostólica Romana.
O Padre é homem de Deus. Esta é sua característica fundamental. Tudo que se queira acrescentar à sua figura, são detalhes acidentais. Jesus, aos 12 anos, afirmou: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Tal é a realidade mais profunda do Padre - as coisas do Pai. Isto não impede que seja uma pessoa politizada e comprometida com a realidade que o cerca. Não se trata de fazer política partidária, que não compete ao ministro ordenado, mas da orientação ao seu rebanho para a prática da cidadania e um posicionamento segundo a moral cristã, sempre tendo em vista o bem comum.
Apesar do secularismo, a que já aludimos, o homem hodierno busca, sequiosamente, o rosto de Cristo. Por isso, o Padre é chamado a ser re+presentante do próprio Senhor: ele O torna novamente presente. E quanto mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às indagações dos que a procuram. Nosso pranteado Papa João Paulo II nos exortava a contemplar o rosto de Cristo, para revelá-lo aos outros. Chegou a dizer que os Padres são o “Coração de Jesus” – expressão forte, que significa o amor de Jesus, divino e humano, que o Padre deve transparecer, através da missão que exerce. O povo quer ver, tocar, perceber, ouvir o Cristo na pessoa do Padre. Por isso, a palavra do Padre não é dele mesmo, mas é a Palavra de Deus. O toque sacramental do Padre não é um toque meramente humano, mas ultrapassa esta dimensão e penetra no divino, do qual o sacerdócio é, de fato, mediação.
Esta configuração ao Cristo tem profundas raízes teológicas, que atestam a exclusividade do sacerdócio para os varões, como participação no único e eterno sacerdócio do próprio Cristo. Jesus não escolheu nem sua própria Mãe Santíssima, para compor o grupo daqueles que seriam a base apostólica da sua Igreja. Mas não é nosso propósito discutir este assunto, no presente texto. Apenas confirmamos a posição da Igreja, em nome de quem o Papa João Paulo II falou, quando expôs, claramente, seu ensinamento a este respeito.
Ainda segundo o saudoso Papa, na sua Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis - “Dar-vos-ei Pastores segundo o meu Coração” (Jr 3,15), de 25 de março de 1992, o Padre tem que possuir 5 qualidades essenciais:
1° Ser homem, física e psicologicamente, sadio.
2° Ser pessoa de oração, portanto piedoso. Pietas, em latim, significa um devotamento filial aos pais. O Padre deve ter um afeto filial, carinhoso para com Deus, nosso Pai, e é a partir desse modelo, que ele vai buscar a delicadeza paterna, e materna, que demonstrará na sua experiência humana de diálogo com o mundo de hoje, homens e mulheres do nosso tempo.
3° Ser uma pessoa culta. A formação intelectual de um Padre exige um mínimo de 7 anos de estudos universitários, incluindo as Faculdades de Filosofia e de Teologia, além da comprovada competência pastoral.
4° Ser um verdadeiro pastor. Deve conhecer os problemas que se abatem sobre a humanidade, para dar a resposta pastoral necessária, dentro de uma visão eclesial coerente.
5° Ser um elemento de equipe, que saiba viver em comunidade e para a comunidade. Que nunca trabalhe só, a não ser nas coisas do trato direto com Deus. Tudo o mais seja feito em conjunto com a comunidade a que ele serve. Isto exige afabilidade, equilíbrio e capacidade de diálogo.
Como seguidores de Cristo, os Apóstolos tiveram que deixar tudo: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim” (Mt 10,37). Trata-se da doação integral da pessoa e da sua capacidade de amar, para que Cristo dela disponha em favor dos mais necessitados: os pobres, os pecadores, os que sofrem de múltiplas carências, os que nos procuram para aconselhamento. Para estar disponível a tudo isto, permanentemente, é preciso ter um amor exclusivo. São Paulo diz, claramente: “O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa” (1Cor 7,32-33). Portanto, tem um coração dividido.
O Padre não pode viver assim. O seu amor, as suas energias, a sua competência, tudo deve estar a serviço das ovelhas do seu rebanho. Por isso, a Igreja, desde os primórdios, introduziu o celibato, seguindo a exigência que Jesus fez aos Apóstolos sobre deixar tudo. Apesar do que afirmam as críticas apressadas a esta norma antiqüíssima, o celibato sacerdotal não é a causa de eventuais problemas afetivos.
O Pontifício Conselho para a Família tem afirmado, muitas vezes, que se encontram na família os maiores problemas da atualidade, sob qualquer ponto de vista: pastoral, social, cultural. Não adianta querer resolver uma suposta carência afetiva na vida do Padre, apelando para o Matrimônio, como se fosse a solução mágica. Na vida a dois também há solidões. E muitas. Talvez, até, mais dolorosas do que no celibato. Os psicólogos estão aí para comprová-lo. A doação integral do amor faz parte da condição existencial do Padre. Sendo uma vocação, é a única capaz de realizá-lo como pessoa. Quem não for capaz disto, por um compromisso total, irrestrito e perpétuo, não é chamado para o sacerdócio, segundo a vivência da Igreja Latina, Ocidental.
Rezemos para que Deus nos dê sempre bons e santos Padres, segundo o seu Coração: “A promessa do Senhor suscita no coração da Igreja a oração, a súplica ardente e confiante no amor do Pai de que, tal como mandou Jesus o Bom Pastor, os Apóstolos, os seus sucessores, e uma multidão inumerável de presbíteros, assim continue a manifestar aos homens de hoje a sua fidelidade e a sua bondade” (Pastores Dabo Vobis, n°82).
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