sábado, 5 de julho de 2014

Nem todos somos chamados a sofrer o martírio; mas todos somos chamados a praticar as virtudes cristãs.



Reflexões de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 04 de Julho de 2014 (Zenit.org) -
 Nos difíceis anos da segunda Guerra Mundial, as forças ideológicas em conflito se confrontaram de várias formas com a presença dos cristãos, muitos deles inclusive comprometidos com as diversas facções, suscitando depois a análise e o julgamento dos historiadores e muitos críticos nas décadas que se sucederam.
Entretanto, o século XX foi um tempo de martírio, quando cristãos de várias confissões, católicos, evangélicos e ortodoxos derramaram seu sangue por causa do Evangelho, em defesa da verdade e da dignidade da pessoa humana. Foi também um período de grande profusão de homens e mulheres que confessaram a fé, tornaram-se batalhadores com a palavra e os gestos, gerando um santo orgulho para as gerações que se sucederam, inclusive a nossa.
Mais ainda, a candura da virgindade, a coragem da castidade de pessoas que foram contra a correnteza da busca desenfreada de prazer que se espalhou pelo mundo, também esta forma de vida cristã se fez presente. Disseram também o seu sim ao Senhor muitos homens e mulheres suscitados pelo Espírito Santo para fundar famílias religiosas, obras sociais, iniciativas de serviços aos mais pobres e Movimentos.
As grandes chagas do tempo, como as drogas, as enfermidades surgidas recentemente, as novas formas de pobreza e miséria, a situação dos prófugos dos países em guerra, as catástrofes naturais, todas foram situações em que cristãos se lançaram a dar alguma resposta.
Mártires, Confessores, Virgens, Fundadores e Fundadoras, Agentes sociais, grandes pregadores do Evangelho. Eis a riqueza da Igreja de nosso tempo! Não somos os detentores exclusivos do bem a ser feito, mas temos oferecido nossa contribuição por um mundo mais justo e fraterno.
No dia seis de julho a Igreja celebra Santa Maria Goretti, uma jovem italiana morta aos doze anos, em 1902, pela decisão de manter a castidade. Pio XII, por ocasião de sua canonização, pronunciou palavras de grande sabedoria: "Nem todos somos chamados a sofrer o martírio; mas todos somos chamados a praticar as virtudes cristãs. A virtude, porém, requer energia; mesmo sem atingir as alturas da fortaleza desta angélica menina, nem por isso obriga menos a um cuidado contínuo e muito atento, que deve ser sempre mantido por nós até o fim da vida. Por isso, semelhante esforço, bem pode ser considerado um martírio lento e constante. A isto nos convidam as palavras de Jesus Cristo: 'O reino dos céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam' (Mt 11,12). Esforcemo-nos todos por alcançar este objetivo, confiados na graça do céu. Sirva-nos de estímulo a santa virgem e mártir Maria Goretti. Que ela, da mansão celeste, onde goza da felicidade eterna, interceda por nós junto ao divino Redentor, a fim de que todos, nas condições de vida que são as nossas, sigamos os seus gloriosos passos com generosidade, vontade firme e obras de virtude" (Homilia da canonização de Santa Maria Goretti, em 1950). Sim, a Igreja tem a oferecer crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres que querem viver como bons cristãos.
Consta que uma grande autoridade da então "Cortina de Ferro", aconselhada a tolerar o catolicismo naquela região, fez uma pergunta sarcástica: "Mas quantas divisões militares tem o papa?" Todas as vezes em que o poder temporal e o religioso se aliaram ingênua ou maldosamente, os resultados foram os piores possíveis. Quando os cristãos revestidos de algum poder se comprometeram com as armas ou com a corrupção, mancharam a beleza daquela que é Esposa de Cristo. Com o tempo, a graça de Deus lhes concede o dom do arrependimento e a força para recomeçarem o caminho.
Não é tarefa da Igreja ter divisões militares, mas arregimentar homens e mulheres que acreditem na força da fraqueza, percorrendo a estrada do serviço e da humildade, mesmo quando as circunstâncias os colocarem em postos altos da política e da administração pública ou em suas atividades profissionais. Estarão então "na corda bamba", desafiados a manter a fidelidade aos princípios evangélicos, fermentando a sociedade.
Efetivamente, desde os primórdios da Igreja multiplicaram-se os desafios, começando pelas próprias fraquezas dos cristãos. As perseguições foram inúmeras, as dificuldades imensas. No entanto, os cristãos aprenderam a acreditar nos meios pobres e no anúncio do Evangelho aos mais simples e desprezados, quanto aos recursos materiais e quanto às condições humanas e espirituais.. Cabe-lhes ir ao encontro dos mais sofredores e dos pecadores.
Nosso Senhor, ao  oferecer instruções aos discípulos, percorrendo diversas cidades da Galileia (Cf. Mt 11­12), os conduz a entender os valores do Reino de Deus. Ele é interrogado sobre a missão de João Batista, manda ao mesmo João um recado, indicando os sinais do Messias: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova" (Mt 11, 4-5). O mesmo João Batista, preso, quase para ser degolado, é elogiado por Jesus como o maior dentre os nascidos de mulher (Cf. Mt 11, 11). Seus discípulos, ouvindo-o recriminar algumas cidades que recusaram a ocasião oferecida para se arrependerem, certamente ficavam confusos. Até hoje é assim! Poder, dinheiro, influência, tudo atrai terrivelmente!
E o Senhor, diante da arrogância corrente em todos os tempos, exalta o humilde e o simples. Impressiona a efusão espiritual de Jesus (Cf. Mt 11, 25-30), testemunhando a predileção do Pai pelos pequeninos. As portas do Reino de Deus continuam abertas. Venham a ele os que estão cansados e sobrecarregados, os estropiados pela vida ou pelos próprios pecados. Venham os que não vivem satisfeitos com seus próprios preconceitos. Sejam bem vindos os que desejam fazer a estrada da simplicidade de coração. Não se intimidem aquelas pessoas que querem, malgrado todas as propagandas contrárias, ser parecidas com uma Santa Maria Goretti, ou quem sabe abraçar uma vida semelhante à Beata Madre Teresa de Calcutá, ou a coragem de Santa Gianna Beretta Molla na defesa da vida. Se lhes parecerem distantes destas figuras, olhem para as legiões de homens e mulheres sem armas, aí bem perto, em sua Paróquia, que testemunham Jesus Cristo e seu Evangelho.
Entretanto, para que ninguém fique enganado, há uma condição, tomar o jugo suave de Jesus, aprendendo dele, que é manso e humilde de coração. O jugo suave é a lei do amor. Comparado com as cargas impostas pelos fariseus, este jugo liberta e salva. Trata-se de seguir Jesus, abraçar a cruz, tornar-se discípulo e missionário do Reino de Deus. Passe o mundo transitório, permaneça o Reino de Deus, que fermenta com vida e santidade todas as gerações.

Santa Isabel de Portugal

Isabel cumpriu com fervor e solicitude sua missão de mãe, rainha e serva de Deus, testemunhando a têmpera própria dos santos..
Por Fabiano Farias de Medeiros

HORIZONTE, 04 de Julho de 2014 (Zenit.org) -
 Isabel nasceu em Saragoça, na Espanha, no dia 4 de janeiro de 1271. Filha do Rei Pedro III de Aragão e de Constança de Hohenstaufen, desde cedo foi motivo de grande alegria e paz no seio de sua família. Seu pai e seu avô Jaime I tinham uma disputa que apaziguou-se com o nascimento da menina que foi educada pelo avô na fé cristã. Com o falecimento do avô a garota voltou a viver com seus pais.
Aos doze anos, Isabel foi pedida em casamento por três pretendentes, mas seus pais optaram por Dom Dinis, que acabara de tornar-se rei. Em 11 de fevereiro de 1282 casou-se e tornou-se rainha. Isabel conduziu com solicitude e piedade suas funções reais, sempre primando pelos compromissos espirituais de oração e humildade. Sua devoção à Imaculada Conceição era profunda e a levou a escolher a santa como padroeira de Portugal.
Isabel foi mãe de dois filhos, Constança e Afonso. Após o nascimento dos filhos Dom Dinis passou a levar uma vida desregrada e cheia de conflitos com seus parentes e seu próprio filho Afonso reclamou o trono empreendendo uma terrível disputa contra o próprio pai. Isabel suportava tudo em oração e com solicitude, intervindo de maneira heroica nas questões e solucionando-as não obstante as dores de seu coração.
Isabel permanecia sempre firme no acolhimento aos pobres, leprosos e doentes. Providenciava sepulturas e Missas em sufrágio aos que faleciam, fundou hospitais e criou diversas frentes de ajuda aos mais necessitados. Com a morte de Dom Dinis em 1325, a rainha entrou para a Ordem Terceira de São Francisco, abandonando seu cargo e bens reais e dedicando-se vigorosamente à oração e humildade.
Faleceu no dia 04 de julho de 1336 em Estremoz e foi sepultada no Mosteiro de Coimbra. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516 e canonizada pelo Papa Urbano VIII em 1625.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

São Tomé



A incredulidade de Tomé depara-se com a certeza da ressurreição de Cristo, sendo assim transformada em profundo depósito para nossa fé.
Por Fabiano Farias de Medeiros

HORIZONTE, 03 de Julho de 2014 (Zenit.org) -
 Tomé foi um dos doze apóstolos de Jesus. Também era conhecido como Dídimo e era o terceiro apóstolo em idade, depois de Pedro. Israelita e carpinteiro, pertencia a uma família de pescadores. Não existem muitos registros históricos sobre a vida de Tomé, mas isso não diminui sua importância diante dos fatos acontecidos em sua época.
Tomé vivenciou fatos muito importantes relatados nos quatro Evangelhos da Sagrada Escritura. No evangelho de São João recebe grande destaque ao tentar impedir que Jesus voltasse à Judéia em virtude da morte de Lázaro. Diante da postura e ordem de Jesus, segue-o sem medir consequências.
Tomé na Última Ceia e diante da revelação de Jesus acerca de sua paixão indagou-o com ousadia no intuito de extrair detalhes sobre o caminho que os levaria ao Pai. Tomé ainda participou do momento que o tornou célebre ao longo da História cristã, quando estavam todos reunidos após a ressurreição de Jesus que aparece aos seus e lhes mostra a mão e o lado. Tomé estava ausente e se recusa a acreditar sem que tenha visto. Oito dias depois Jesus reaparece aos discípulos, agora com a presença de Tomé, que ao tocar no Senhor reafirma sua fé com uma belíssima profissão: “Meu senhor e meu Deus”.
Conforme os relatos do bispo Eusébio de Cesaréia, do século IV, depois da morte e ressurreição de Jesus, Tomé partiu para evangelizar na Pártia, na Pérsia e também na Índia conforme registros de São Francisco Xavier no século XVI.
A tradição remonta que foi martirizado com um golpe de lança enquanto rezava por volta do ano 53 na cidade indiana de Madras. No dia 3 de julho, comemora-se a trasladação das relíquias de Santo Tomé a Edesa.

À procura de um futuro seguro



A difícil situação dos refugiados e das vítimas do tráfico de pessoas
Por John Flynn, LC

ROMA, 03 de Julho de 2014 (Zenit.org) - 
"As pessoas não deveriam ser tratadas como peões no tabuleiro de xadrez da humanidade": assim afirmou o Papa Francisco no dia 05 de agosto do ano passado em uma mensagem sobre a questão dos refugiados.
Infelizmente, isso é o que acontece muitas vezes: uma prova disso é o ultimo relatório sobre as tendências mundiais apresentado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
No documento, publicado no dia 20 de junho, fica claro que existem atualmente mais de 50 milhões de pessoas que foram forçadas a fugir de suas casas, das quais cerca de 9 milhões provenientes só da Síria.
"Estamos vendo - disse Antonio Guterres, Alto Comissário para os Refugiados - os enormes custos das guerras que nunca terminam. Guerras que não conseguem ser resolvidas ou prevenidas".
De um total de 51,2 milhões de pessoas afetadas, cerca de 16,7 milhões foram forçadas a abandonar os seus países e são classificadas como refugiados. 33,3 milhões são refugiados internos (IDF, “internally displaced persons”, ou seja, "pessoas deslocadas internamente") e 1,2 milhões são aquelas que pedem asilo político.
Está escrito no relatório que "se estes 51,2 milhões fossem habitantes de uma única nação, constituiriam o 26° país mais populoso do mundo". Além disso, observa-se que esta é a primeira vez, desde a Segunda Guerra Mundial, que o número de refugiados ultrapassa os 50 milhões.
O relatório estima que 10,7 milhões de pessoas em 2013 tiveram que deixar suas casas por causa de conflitos ou perseguições.. Mais da metade (53%) de todos os refugiados de todo o mundo provém de apenas três países: Afeganistão (2.560.000), Síria (2.470.000) e Somália (1.120.000).
Outros países com sérios problemas em relação aos refugiados são: a República Democrática do Congo, a República Centro Africana, o Mali, e a área de fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul.
O Paquistão é o país que acolhe mais refugiados em todo o mundo (1.600.000 milhões), seguido o Irã (857.400), Líbano (856.500), Jordânia (641.900) e Turquia (609.900).
De acordo com estatísticas de diversos governos, em 2013, 21 países receberam 98.400 refugiados para permitir-lhes um novo assentamento. Os Estados Unidos têm o maior número (66.200).
O relatório observa que, nos últimos 10 anos, mais de 879.800 refugiados chegaram nos países industrializados através de programas de reinstalação.
No entanto, o número de pessoas à procura de uma nova casa superaram, em muito, os lugares disponíveis com quase 1,1 milhões de pedidos de asilo individuais, a serem registrados com os governos ou a ACNUR, em 2013: o valor mais elevado em mais de uma década.
O número de refugiados internos que conseguiram retornar às suas casas chega agora a 1.4 milhões; 414.600, pelo contrário, é o dado que se refere aos refugiados que retornaram aos seus países de origem.
O tráfico de seres humanos é um outro problema que afeta um grande número de pessoas. No dia 20 de junho também houve a publicação do relatório sobre o tráfico de pessoas do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
O documento explica que este tipo de tratamento abrange uma vasta gama de atividades, incluindo a de forçar as crianças e adultos a cometerem crimes, como o roubo, a produção e o tráfico de drogas ilícitas, a prostituição, o terrorismo e o assassinato.
Alguns exemplos ilustrados no relatório dizem respeito ao México, onde as organizações criminosas têm forçado as crianças e imigrantes a se tornarem matadores de aluguel e a serem usados na produção, no transporte e na venda de drogas.
No ano passado, na França, a polícia prendeu seis adultos ciganos, acusados ​​de forçar os seus próprios filhos a cometer roubos em Paris e nos subúrbios. Enquanto isso, no Afeganistão, grupos insurgentes obrigaram as crianças mais velhas a servirem como homens-bomba.
O documento pediu que os governos identifiquem as vítimas do tráfico que violam a lei, não para tratá-los como criminosos, já que foram obrigados a agir ilegalmente, mas para ajudá-los, fornecendo proteção.
As vítimas do tráfico sexual, que depois testemunham contra os seus exploradores, também enfrentam o problema do trauma que se recria quando têm que recordar os seus abusos durante um processo.
No documento se explica que "a necessidade de recursos para as vítimas durante, e também depois da investigação e as causas legais, é fundamental, já que muitos processos sobre o tráfico de pessoas duram vários anos”.
A demanda para o transplante de órgãos é um outro aspecto do tráfico de seres humanos. De acordo com o relatório, mais de 114 mil transplantes de órgãos são realizados a cada ano no mundo.
Estas operações satisfazem menos que 10% dos requisitos globais de órgãos como os rins, fígado, coração, pulmões e pâncreas.
Às vezes, as pessoas pobres são induzidas a vender órgãos, e em muitos casos recebem só uma parte do que lhes foi prometido. Acabam, também, frequentemente, com problemas de saúde como resultado das operações e são incapazes de voltar a trabalhar.
O documento contém várias listas dos países, dependendo de seu nível de conformidade com as leis de prevenção do tráfico de seres humanos e o grau do problema.
A dignidade de cada pessoa humana deve ser apoiada e respeitada, disse o Papa Francisco na sua mensagem. Um apelo que se tornou mais urgente, considerando os tantos milhões de pessoas que são refugiados ou vítimas de exploração. (Trad.T.S.)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

São Pedro, o primeiro de 264 Papas



Quais são as qualidades humanas do apóstolo, que convenceram Jesus a torná-lo o primeiro Papa?
Por Piero Gheddo

ROMA, 01 de Julho de 2014 (Zenit.org) -
 São Pedro, o apóstolo que Jesus escolheu como seu sucessor na liderança da comunidade de seus discípulos. Quais são as qualidades humanas de Pedro, que convenceram Jesus a torná-lo o primeiro Papa? Pedro era chefe de uma companhia de pesca, um homem autentico, honesto e transparente, de bondade natural, prudência e coragem, com experiência de vida.
1) A principal característica de sua vida é o amor apaixonado por Cristo e a fé Nele. Significativa a tríplice questão de Jesus: "Pedro, tu me amas mais do que estes?". E sua resposta: "Senhor, tu sabes tudo. Tu sabes o quanto eu te amo. "Não era uma fé intelectual, alimentada por estudos, mas um amor total à pessoa de Cristo. "E vós, quem dizeis que eu sou?".. Pedro foi o primeiro a dar a resposta correta: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". O cristianismo é essencialmente a fé e o amor apaixonado por Jesus Cristo, que significa imitá-lo e fazê-lo conhecido. “Quereis vós também retirar-vos?” Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
A fé e o amor a Cristo mostra a Pedro todas as suas limitações e pecados. Escuta do Mestre: "Para trás de mim, Satanás! Você não pensa como Deus, mas como os homens”. Na noite de Sexta-feira Santa trai Jesus: "Não conheço este homem". E quando Jesus estava em agonia na Cruz, Pedro não aparece, ele foge. Tudo isso desencorajaria Pedro, o tornaria pessimista, o afastaria de Cristo”.
Em vez disso, como verdadeiro homem, ele foi humilde e reconheceu o seu pecado, chorando amargamente, acredita que o amor de Cristo purifica, redime, renova. A consciência de seu pecado não diminui, mas aumenta seu amor apaixonado por Cristo. Se eu me sinto triste pelo meu pecado é porque não sou humilde. "Deus perdoa sempre, nós que nos cansamos ​​de pedir perdão.”
Eis o exemplo mais pungente de Pedro. Descobrir-se homem e pecador (“Senhor, afasta-Te de mim – diz a Jesus-  que sou um homem pecador"). Isso não o abate, ele sabe que o amor a Cristo vence tudo e retoma o seu caminho com novo vigor.
Jesus ama as pessoas autênticas e Pedro era assim. Retorna sob seus passos e no Cenáculo está com Maria e os outros Apóstolos para receber o Espírito Santo. Então, se enche de coragem e ao Sinédrio, que o proibiu de falar sobre Cristo responde: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Lança o desafio e está disposto a receber uma boa dose de chicotadas, a ser preso e, no final da vida a morrer crucificado como seu Mestre, mesmo com a cabeça para baixo.
2) Pedro foi o primeiro Papa e representa a sucessão interminável de 265 Papas que nos unem a Cristo. Jesus deixou uma mensagem a ser transmitida ao longo dos séculos e criou a comunidade de fiéis, a Igreja, com um líder, o Papa. Um homem como todos os outros, fraco e pecador, mas que tem a assistência do Espírito Santo para preservar fé e transmiti-la através de bispos e sacerdotes pelos séculos dos séculos.
Jesus dá a Pedro as chaves do reino (Mateus 16, 18-19), a tarefa de confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22, 32), a missão de apascentar o rebanho de Cristo (Jo 21, 15-19). E então, antes de subir ao Céu, prometeu o Espírito Santo: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir."(Jo 16, 7-15).
Em dois mil anos, a Igreja Católica, com o auxílio do Espírito Santo, mudou muitas vezes, mas sempre na fidelidade ao Evangelho. O Papa continua a liderar a Igreja e especialmente nos últimos tempos adquiriu um poder de persuasão e de comoção como nenhuma outra autoridade no mundo.
Como é bela a nossa fé! Na confusão de ideias propostas em nosso tempo, temos conosco o Vigário de Cristo, o representante de Jesus na terra. Ele não está sozinho, mas age em comunhão com cerca de 4.500 Bispos da Igreja Católica e tem o auxílio do Espírito Santo.
Dom Aristide Pirovano (1915-1997), fundador da diocese de Macapá na Amazônia brasileira (1946-1965) e Superior Geral do PIME (1965-1977), em tempos de relativismo e divisões na Igreja, falando e escrevendo aos missionários se refere ao Papa, muitas vezes, dizendo: "Minha linha é estar sempre com o Papa". Aos que partiam em missão disse (22 de setembro 1968):
"Queridos irmãos, apenas no Papa e com o Papa se realiza a união com Cristo, pela qual Jesus rezou no Cenáculo: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste." (Jo 17, 20-23)." Assim, nós também estaremos unidos.
3) Hoje, o Senhor enviou-nos um Papa que está estabelecendo as bases para levar a Igreja para mais perto de Cristo e cada vez mais a serviço do povo de Deus. O Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, Papa Francisco está a consultar os bispos e as comunidades cristãs para mostrar a conversão da Igreja, ou seja, de todos nós, começando com os bispos, sacerdotes e pessoas consagradas.
Francisco é o primeiro Papa das missões e leva para nossas igrejas antigas o entusiasmo da fé e da cooperação na ação evangelizadora da Igreja, que o Espírito suscitou na jovem comunidade fundada por missionários.
Não é fácil entender e seguir o Papa, o melhor método é ler e meditar rezando com sua Carta Apostólica. "Evangelii Gaudium", A Alegria do Evangelho, escrito como Francisco fala, espontaneamente, portanto, facilmente compreensível e muito legível, concreta, prática, provocativa. Precisamos compreender, amar o Papa, rezar por ele e pedir ao Espírito Santo para acender em nós o "fogo de Pentecostes", que pode inflamar o mundo e trazer as pessoas para o rebanho de Cristo e a humanidade em um caminho para o Reino de Deus.
(Artigo retirado do blog "ARMAGHEDDO." Atualidade do pinto de vista do Pe. Piero Gheddo, missionário- jornalista. Site oficial: http://www..gheddopiero.it/)
(Trad.:MEM)

terça-feira, 1 de julho de 2014

PAPA FRANCISCO: A ALEGRIA DO EVANGELHO – 5



                                      
Caros diocesanos. Em programas anteriores apresentamos breve introdução e síntese dos três primeiros capítulos do documento Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, acentuando que a alegria missionária deve estar presente no anúncio da mensagem cristã. Sentimos necessidade de profunda conversão pastoral e missionária, tornando-nos Igreja ‘em saída’, de portas abertas a todos, sobretudo os pobres. O Papa abordou aspectos da realidade que podem deter ou enfraquecer os dinamismos de renovação missionária da Igreja, como a economia de exclusão e a desigualdade social que mata, assim como alguns desafios culturais e tentações dos agentes de pastoral. A Igreja, instrumento da graça divina, convida todos a fazer parte do Povo de Deus. Ela é transcultural e todos os fiéis são convocados a participar dessa missão evangelizadora. Finalmente, reflete ainda sobre a homilia – como momento de diálogo de Deus com o seu Povo -, o querigma – como primeiro e principal anúncio -, e a mistagogia - como o conduzir permanentemente para dentro do mistério.

Hoje apresentamos o quarto capítulo do documento: A Dimensão Social da Evangelização. O Santo Padre inicia dizendo que Cristo não redimiu somente a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os homens: “O serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência... a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus” (EG 179-180). Preocupam o coração do Papa, sobretudo, duas questões: a inclusão social dos pobres e a questão da paz e do diálogo social (EG 185). A primeira questão envolve tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade (EG 188). Afirma o Papa Francisco: “Não nos preocupemos somente com o não cair em erros doutrinais, mas também com ser fiéis a este caminho luminoso de vida e sabedoria” (EG 194). Esta opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica: “Esta opção está implícita na fé cristológica, naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza. Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar... Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a sermos seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los... Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação” (EG 198-200)A segunda questão é abordada pelo Pontífice, indo diretamente às causas da desigualdade social que afeta a paz e o diálogo social: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverá os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais” (EG 202)Quanto à paz entre os povos e diálogo entre grupos sociais, diz o documento: “Uma paz que não surja como fruto do desenvolvimento integral de todos, não terá futuro e será sempre semente de novos conflitos e variadas formas de violência” (EG 219). Para que haja paz, justiça e fraternidade são essenciais alguns princípios: o tempo é superior ao espaço, a unidade prevalece sobre o conflito, a realidade é mais importante do que a idéia e o todo é superior à parte (EG 221-237). No final do quarto capítulo, o Papa apresenta ainda a importância do diálogo para o bem comum e a paz social: diálogo entre fé, razão e ciência; diálogo ecumênico, com o judaísmo, inter-religioso e social.

Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Uruguaiana

Paulo VI e a alegria no Senhor






Por Card. Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 30 de Junho de 2014 (Zenit.org) - 
No próximo dia 6 de agosto iremos comemorar 36 anos da Páscoa do Papa Paulo VI, que no dia 19 de outubro será beatificado pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro,em Roma. Elepermaneceu à frente da Igreja de1963 a1978, de modo que teve, enquanto sucessor de Pedro, um bom tempo – quinze anos – para exercer seu ministério como Bispo de Roma e, portanto, Sumo Pontífice da Igreja Católica.
Coube a ele – diplomata e pastor, que após servir na Secretaria de Estado da Santa Sé de 1922 a 1954, e na Arquidiocese de Milão, de 1954 a 1963 – a árdua missão de conduzir os trabalhos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1963-1965), iniciados por seu imediato antecessor, São João XXIII. Esta missão, nobilíssima por sinal, rendeu ao Papa Montini grandes alegrias, mas também não poucos dissabores. Recorrências comuns de uma fase pós-conciliar na vida da Igreja.
Como quer que seja, pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que Paulo VI foi um grande Pontífice e, apesar de todos os sofrimentos que o cercaram, não se deixou abater, mas, ao contrário, refugiado na oração pessoal, especialmente pela recitação do Rosário de Nossa Senhora, e comunitária, a Liturgia das Horas e a Santa Missa, encontrou, até o fim de seus dias neste mundo, forças para guiar a Barca do Senhor, que é a Igreja.
Elevado à Cátedra de Pedro em 21 de junho de 1963, deu a conhecer ao mundo, em 6 de agosto de 1964, seu programa de Pontificado por meio da Encíclica Ecclesiam Suam [a Sua Igreja] ao escrever que “A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive.. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio. (...) Em qualquer esforço que o homem faça para compreender a si mesmo e ao mundo, pode contar com a nossa simpatia; onde quer que as assembleias dos povos se reúnam para determinar os direitos e deveres do homem, sentimo-nos honrados, quando no-lo permitem, tomando lugar nelas” (n. 38 e 54).
O historiador da Igreja, Henrique Cristiano José de Matos, escreve que ao atender o desejo colegiado dos Padres Conciliares, reunidos em Roma, Paulo VI “o fez com a preocupação de não romper com a tradição eclesiástica. Interveio pessoalmente em todas as questões polêmicas. Nesse sentido, podemos citar a Nota Prévia (nov. de 1964, acrescentada à Constituição Lumen Fidei, que visava a reafirmar a doutrina do Concílio Vaticano I sobre o Papado; a Encíclica Mysterium Fidei (1965) sobre a Eucaristia, corrigindo os debates sobre a transubstanciação; a Encíclica Humanae Vitae, sobre a questão do controle de natalidades e do planejamento familiar [na verdade, “paternidade responsável”, dizemos com a Igreja] (1968); a intervenção sobre o celibato sacerdotal, cuja discussão fora subtraída ao Concílio (Sacerdotalis Caelibatus, 1967; Sínodo dos Bispos, 1971: Documento sobre o Ministério Sacerdotal); intervenção sobre o papel da mulher na Igreja (Comissão de Estudos para o Ano da Mulher), 1975” (Introdução à História da Igreja. Belo Horizonte: O Lutador, 1987, p. 168).
Paulo VI foi um Papa aberto às questões da Igreja de seu tempo, fiel às pegadas do Vaticano II. Implementou o diálogo com o mundo moderno, com outros cristãos (ecumenismo) e com outras religiões (diálogo interreligioso); defendeu a paz mundial; empreendeu viagens internacionais, sendo o primeiro Papa depois de Pedro a estar em Jerusalém, no ano de 1964; deu impulso à colegialidade dos Bispos instituindo o Sínodo deles em 1975; reformou parcialmente a eleição do Sumo Pontífice e a escolha dos Bispos; abriu ainda mais a Cúria Romana para Cardeais não italianos e criou a Comissão Teológica Internacional (CTI).
Com essas atuações, que poderiam assomar-se a muitas outras, Paulo VI, segundo o historiador citado acima, fez duas coisas ou agiu em duas frentes, para dentro e para fora da Igreja. Sim, “por um lado, realizou a ingente tarefa de renovar a Igreja na sua vida interna, dando-lhe instrumentos válidos para o trabalho de atualização, enriquecendo-a de orientações adequadas para a formação dos sacerdotes, dos religiosos e do laicato, adaptando a liturgia de acordo com os desejos do Concílio, criando uma viva consciência missionária, estimulando a formação de vários organismos que levam os membros da Igreja a uma participação maior na sua vida e na sua caminhada, não deixando nenhum setor sem sua presença, sua palavra, seu incentivo e seu admirável equilíbrio de moderador, fiel ao que é intangível sem deixar de ser fiel aos apelos dos tempos novos”.
“Por outro lado, soube o Papa Paulo VI abrir-se para o mundo inteiro, conseguindo que a Igreja fosse o que dela profetizou Isaías: ‘Um estandarte levantado no meio das Nações’ (Is 11,12). É difícil sintetizar aqui tudo o que ele fez na área do ecumenismo, em relação às Igrejas do Oriente e do Ocidente; com as culturas da Ásia e da África; suas viagens à Índia, à Austrália, às Filipinas, à América Latina, à ONU. De fato, esteve presente no mundo, levando a mensagem do Evangelho, a palavra da justiça, o apelo da paz. Paulo VI parece ter herdado de seu predecessor João XXIII a vontade de atravessar as fronteiras, de procurar o diálogo em vez de lançar anátemas” (idem, p. 168-169).
Apesar de tudo isso, como já acenamos, Paulo VI foi chamado de “o Papa do sofrimento”, dados os dissabores que enfrentou dentro e fora da Igreja na fase imediatamente seguinte ao Concílio. Se isso é real, podemos dizer, a justo título, que Montini foi também “o Papa da verdadeira alegria que vem do Senhor”..
Para evocar o lado sereno e feliz desse Pontífice, que em breve será beatificado, desejamos lembrar aqui um documento pouco conhecido, mas de grande profundidade espiritual, que foi assinado por ele em 9 de maio de 1975. Trata-se da Exortação Apostólica Gaudete in Domino, que, em português, significa Alegrai-vos no Senhor!, escrita por Paulo VI em preparação à solenidade de Pentecostes do Ano Jubilar de 1975.
Nessa Exortação, o Santo Padre começa dizendo, com fundamento em Filipenses 4,45 e no Salmo 145,18: “Alegrai-vos no Senhor, porque Ele está perto de todos os que O invocam com sinceridade” e a partir daí vai desenvolvendo a noção da alegria cristã, que é a alegria no Espírito Santo como um dom d’Ele mesmo para cada um de nós (cf. Gl 5,22), mas que é, não raras vezes, esquecido, como se ser cristão e ser santo fosse ter cara feia e triste. Aliás, duas constatações vêm ao caso a propósito: a primeira lembra aquele dito popular, às vezes também atribuído a algum santo: “Um santo triste é um triste santo”; a segunda é a fala do Papa Francisco, no dia 1º de junho de 2013, quando diz, recordando, inclusive, Paulo VI, que “muitas vezes os cristãos têm mais cara de que estão num cortejo fúnebre do que louvando a Deus”, mas isso está errado, pois “sem a alegria, o cristão não pode ser livre, mas, ao contrário, torna-se escravo da tristeza”.
É precisamente este o ponto em que os Papas Bergoglio e Montini se encontram, uma vez que, na conclusão da Gaudete in Domino se lê: “Irmãos e filhos caríssimos: não será normal que a alegria habite dentro de nós, quando os nossos corações contemplam e descobrem de novo, na fé, os seus motivos fundamentais? E estes motivos são simples, aliás: tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho único. Pelo seu Espírito, a sua presença não cessa de envolver-nos na sua ternura e de nos impregnar com a sua vida; e nós caminhamos para a transfiguração ditosa das nossas existências, seguindo rumo à ressurreição de Jesus. Sim, seria muito estranho que esta Boa-Nova que provoca os aleluias da Igreja não nos deixasse com o semblante de pessoas salvas!”
Isso posto, surge uma pergunta comum e interessante: mas, afinal, que tipo de alegria é a cristã? – Responde, então, Paulo VI, citando São Tomás de Aquino, que a expressão mais elevada da alegria ou da felicidade é aquela entendida no sentido estrito da palavra, “quando o homem, ao nível de suas faculdades superiores, encontra a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado. Assim, o homem experimenta a alegria quando se encontra em harmonia com a natureza, e, sobretudo, no encontro, na partilha, na comunhão com o outro. Com muito mais razão, pois, chegará ele a conhecer a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como o bem supremo e imutável” (Summa Theologica, I-II, q.31,a 3).
No entanto, novamente, pode haver quem tente contradizer o Papa dizendo que, neste mundo finito e dilacerado por discórdias, é praticamente impossível encontrar a felicidade. Daí responder Paulo VI que a questão, de certo modo, parece contraditória porque está mal colocada. Com efeito, pensa-se que a felicidade ou a alegria está no ter... Ter carros bons, casas, dinheiro, artefatos técnicos, enfim coisas materiais, quando, na realidade, a verdadeira alegria vem de outra fonte, é espiritual, por isso nenhum bem material, por maior que seja, pode comprá-la ou conquistá-la.
É por essa razão que, mergulhado no materialismo, o ser humano dos séculos XX e XXI se sente impotente ante os males, especialmente os de ordem moral que os acomete, pois os recursos de natureza material de que dispõe são ineficientes para a batalha. Mais: se essa angústia é grande, há ainda outro agravante que o Papa, já em 1975, denunciou: são alguns meios de comunicação de massa que “acabrunham as consciências, sem lhes apresentar, normalmente, uma solução humana adequada”.
Contudo, apesar dos não poucos e nem pequenos desafios, Paulo VI nos convida a olharmos maravilhados, desde a nossa infância até a velhice, para tudo o que Deus fez e sentirmos a serena alegria que só Ele pode nos dar como um dom do Espírito Santo, conforme se lê em Gálatas 5,22. E acrescenta que “o homem só poderá experimentar a verdadeira alegria espiritual quando se afastar do pecado e viver na presença de Deus. A carne e o sangue são, sem dúvida, incapazes disso (cf. Mt 16,17). Mas a revelação pode abrir esta perspectiva e a graça pode operar esta conversão” no coração humano, às vezes petrificado pelo pecado, por meio do sacramento da Penitência.
Paulo VI recorda nessa exortação o Apóstolo das gentes: “Estou cheio de consolação, estou inundado de alegria no meio de todas as tribulações” (7,3-4). Elas mostram que, mesmo entre as intempéries da vida, o verdadeiro discípulo de Cristo jamais perde a esperança, pois está inundado da alegria do Espírito Santo.
Possa, portanto, a Virgem Maria, invocada em sua Ladainha como sendo a “Causa de nossa alegria”, interceder por nós para que nossa vida, inundada pela força do Espírito de Deus, seja fonte de verdadeira alegria e felicidade para nós e para todos os que nos cercam. Amém!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

segunda-feira, 30 de junho de 2014

"Os jovens devem ser informados sobre a beleza do matrimônio"

O Cardeal Lorenzo Baldisseri explica os desafios do próximo Sínodo Extraordinário sobre a família, a partir de uma pastoral adequada com os casais homossexuais e divorciados novamente casados

Roma,  (Zenit.orgLuca Marcolivio | 

Para restituir aos cristãos a beleza da família, a Igreja deve, em primeiro lugar, voltar a ter credibilidade. Dialogando com os jornalistas, no final da coletiva de imprensa de apresentação do Instrumentum Laboris para o próximo Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre o tema Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização (05-19 outubro), o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo dos Bispos, esclareceu alguns aspectos a respeito de um evento tão esperado quanto amplamente debatido.
O cardeal deixou claro, em primeiro lugar, que os escândalos de pedofilia, em particular, que envolveram a Igreja na última década, apesar de terem sido particularmente enfatizados pela mídia, foram em grande parte "reconhecidos" e minaram a credibilidade da Igreja, fazendo-a "intervir de uma maneira muito decidida”.
Não é possível, no entanto, pensar que "bispos e padres sejam anjos", e que eles também não possam “pecar”. Ao contrário do que acontece em "outros ambientes", no entanto, na Igreja, o pecado é detectado e "podemos nos arrepender", admitindo que existem algumas "maçãs podres".
O Cardeal Baldisseri recordou que participarão do Sínodo Extraordinário 23 auditores leigos, dos quais 7 casais de cônjuges, um dos quais dará o seu próprio testemunho durante as sessões sinodais.
Um dos objetivos do Sínodo será o de fornecer uma pastoral mais orgânica e universal a respeito dos divorciados e das mães solteiras, harmonizando os programas das várias conferências episcopais.
ZENIT: Eminência, qual é o problema de fundo na pastoral dos divorciados recasados? O modelo das "segundas núpcias” praticado pelas igrejas ortodoxas é uma opção viável?
Cardeal Baldisseri: O Instrumentum laboris distingue em primeiro lugar entre categorias: os simples separados, os divorciados e os divorciados recasados. Os separados vivem a sua condição matrimonial de modo ainda válido e, portanto, a sua posição é legítima. É diferente, no entanto, o caso do divórcio, que envolve um ato civil não reconhecido pela Igreja. No caso dos recasados civilmente, se acrescenta a nova união. O documento publicado hoje, portanto, ajudará a pôr em prática uma pastoral. Poderia, de fato, acontecer que um sacerdote não muito instruído pensasse que a pessoa divorciada estivesse nas mesmas condições que uma recasada. O Sínodo servirá, então, para curar pastoralmente estes aspectos e os padres sinodais terão que refletir sobre este fenômeno tão difundido no Ocidente.
Quanto ao "modelo ortodoxo", ele é sugerido como proposta no Instrumentum laboris e os padres sinodais discutirão também isso.
ZENIT: Até que ponto a Igreja, através do Sínodo, poderá incentivar com credibilidade os jovens para que redescubram a beleza do matrimônio?
Cardeal Baldisseri: Eu acredito que o Sínodo vai ajudar muito neste sentido, a partir do momento em que, na sociedade ocidental, especialmente através da mídia, destacamos apenas alguns aspectos, enquanto outros - igualmente importantes, ou talvez ainda mais importantes - são colocados na sombra. Poucos são os que falam dos jovens que querem se casar ou da beleza do matrimônio. É um tema que não “faz notícia” ou não é realçado. NoInstrumentum laboris o conceito é bem explicado, tanto no que se refere às oportunidades que o casamento oferece, quanto em termos de aspectos críticos, mas sempre à procura de soluções.
ZENIT: Em que deve consistir o "cuidado pastoral" para os casais homossexuais,  desejado no documento?
Cardeal Baldisseri: O cuidado pastoral abrange todos, portanto, até os casais do mesmo sexo. Até hoje parecia ser um tabu ou um problema. O que fazer? Estamos falando de pessoas humanas... Se são cristãos, batizados e vivem em uma família, porque deveriam ser discriminados? Devem ser aceitos, também nas paróquias. Eu acho que se trata de uma atenuação de uma situação um pouco pesada que se criou por razões históricas. Também as pessoas que se encontram nesta situação devem ser acolhidas, acompanhadas, terem o seu lugar na Igreja e viver como as outras.
ZENIT: O Instrumentum laboris menciona também a catequese matrimonial (ou de sacramentos da iniciação cristã na presença dos filhos) como possibilidade de reaproximação à fé cristã e à Igreja. Como pode acontecer isso?
Cardeal Baldisseri: Se uma família vive o matrimônio de forma cristã, oferece também uma educação aos filhos. Infelizmente, encontramos também famíias divididas, nas quais os filhos são as principais vítimas: são situações em que a Igreja é chamada, deve lidar com essas situações e entender como fazê-las caminhar de forma cristã. É frequente que famílias desunidas se distanciem da Igreja ou que também nunca tenham tido contato com a Igreja. Mas talvez um dia, por várias razões, possam aproximar-se da Igreja e descobrir que existem vários caminhos para poder viver bem e de forma cristã. É preciso encontrar, também aqui, um estilo novo, na perspectiva indicada pelo Papa Francisco, não por acaso definido por alguns, “pároco do mundo”. (Trad.TS)

Protomártires de Roma

Seja na vida ou na morte, o amor à Cristo foi incondicional e o sangue destes mártires fecundou nosso chão e nossas vidas.

Horizonte,  (Zenit.orgFabiano Farias de Medeiros 

Introduzida pelo novo calendário romano universal a Igreja celebra neste dia os Primeiros Mártires da Igreja de Roma. Eles foram vítimas da violenta, cruel e desmedida perseguição do Imperador Nero. Nero assumiu o poder de Roma no ano 54 d.C e foi o primeiro imperador a empreender severa perseguição aos cristãos. Na noite de 18 de julho de 64, Roma foi totalmente consumida pelo fogo e a história relata que Nero foi o causador de tal desgraça. Historiadores da época sugerem que Nero tinha o desejo de construir outra cidade no lugar de Roma e por isso teria promovido tal desgraça.
Em meio ao caos instaurado, o povo clamava para que o culpado fosse julgado e condenado e Nero, temendo a revolta, imputou tal culpa aos cristãos que haviam sobrevivido ao incidente. O historiador pagão Tácito relata que apesar das controvérsias, Nero fez com que os cristãos fossem penalizados pelo ato, infligindo sobre eles os mais terríveis flagelos. Tal mentalidade chegou ao coração do povo romano que também bradava para ver os cristãos serem martirizados pelos leões nas arenas, torturados nas vias públicas e, em um nefasto momento, Nero cobrira os cristãos de piche e os incendiara para iluminarem a cidade, como também cobrira mulheres e crianças com peles de ovelhas para serem mortos e devorados pelas feras.
Dentre estes mártires destaca-se, segundo o historiador cristão Eusébio de Cesaréia, a decapitação de Paulo e a crucificação de cabeça para baixo de Pedro. A perseguição de Nero durou até o ano 67 e no ano 68, após uma revolta popular e a deposição de Nero de seu posto de imperador, o mesmo veio a suicidar-se.
Muitos cristãos se desvencilharam da perseguição escondendo-se nas catacumbas e outros escaparam para outras cidades. O escritor cristão Tertuliano, do século II, afirma: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja.”

domingo, 29 de junho de 2014

O nosso verdadeiro refúgio é a confiança em Deus

Homilia do Papa na solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo

Cidade do Vaticano,  (Zenit.org

O Santo Padre celebrou neste domingo (29), a Santa Missa na solenidade dos santos apóstolos Pedro e Paulo.
Durante a celebração, Francisco entregou o pálio a 24 novos arcebispos. Do Brasil, receberam o pálio Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, e Dom José Luiz Majella Delgado, arcebispo de Pouso Alegre.
Eis o texto na íntegra:
Na solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, patronos principais de Roma, é com alegria e gratidão que acolhemos a Delegação enviada pelo Patriarca Ecuménico, o venerado e amado irmão Bartolomeu, guiada pelo Metropolita Ioannis. Pedimos ao Senhor que possa, também esta visita, reforçar os nossos laços fraternos no caminho rumo à plena comunhão entre as duas Igrejas irmãs, por nós tão desejada.
«O Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes» (Act 12, 11). Nos primeiros tempos do serviço de Pedro, na comunidade cristã de Jerusalém havia grande apreensão por causa das perseguições de Herodes contra alguns membros da Igreja. Ordenou a morte de Tiago e agora, para agradar ao povo, a prisão do próprio Pedro. Estava este guardado e acorrentado na prisão, quando ouve a voz do Anjo que lhe diz: «Ergue-te depressa! (...) Põe o cinto e calça as sandálias. (...) Cobre-te com a capa e segue-me» (Act 12, 7-8). Caiem-lhe as cadeias, e a porta da prisão abre-se sozinha. Pedro dá-se conta de que o Senhor o «arrancou das mãos de Herodes»; dá-se conta de que Deus o libertou do medo e das cadeias. Sim, o Senhor liberta-nos de todo o medo e de todas as cadeias, para podermos ser verdadeiramente livres. Este facto aparece bem expresso nas palavras do refrão do Salmo Responsorial da celebração litúrgica de hoje: «O Senhor libertou-me de toda a ansiedade».
Aqui está um problema que nos toca: o problema do medo e dos refúgios pastorais.
Pergunto-me: Nós, amados Irmãos Bispos, temos medo? De que é que temos medo? E, se o temos, que refúgios procuramos, na nossa vida pastoral, para nos pormos a seguro? Procuramos porventura o apoio daqueles que têm poder neste mundo? Ou deixamo-nos enganar pelo orgulho que procura compensações e agradecimentos, parecendo-nos estar seguros com isso? Amados Irmãos Bispos, onde pomos a nossa segurança?
O testemunho do apóstolo Pedro lembra-nos que o nosso verdadeiro refúgio é a confiança em Deus: esta afasta todo o medo e torna-nos livres de toda a escravidão e de qualquer tentação mundana. Hoje nós – o Bispo de Roma e os outros Bispos, especialmente os Metropolitas que receberam o Pálio – sentimos que o exemplo de São Pedro nos desafia a verificar a nossa confiança no Senhor.
Pedro reencontrou a confiança, quando Jesus lhe disse por três vezes: «Apascenta as minhas ovelhas» (Jo 21, 15.16.17). Ao mesmo tempo ele, Simão, confessou por três vezes o seu amor a Jesus, reparando assim a tríplice negação ocorrida durante a Paixão. Pedro ainda sente queimar dentro de si a ferida da desilusão que deu ao seu Senhor na noite da traição. Agora que Ele lhe pergunta «tu amas-Me?», Pedro não se fia de si mesmo nem das próprias forças, mas entrega-se a Jesus e à sua misericórdia: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» (Jo 21, 17). E aqui desaparece o medo, a insegurança, a covardia.
Pedro experimentou que a fidelidade de Deus é maior do que as nossas infidelidades, e mais forte do que as nossas negações. Dá-se conta de que a fidelidade do Senhor afasta os nossos medos e ultrapassa toda a imaginação humana. Hoje, Jesus faz a mesma pergunta também a nós: «Tu amas-Me?». Fá-lo precisamente porque conhece os nossos medos e as nossas fadigas. E Pedro indica-nos o caminho: fiarmo-nos d’Ele, que «sabe tudo» de nós, confiando, não na nossa capacidade de Lhe ser fiel, mas na sua inabalável fidelidade. Jesus nunca nos abandona, porque não pode negar-Se a Si mesmo (cf. 2 Tm 2, 13).É fiel. A fidelidade que Deus, sem cessar, nos confirma também a nós, Pastores, independentemente dos nossos méritos, é a fonte de nossa confiança e da nossa paz. A fidelidade do Senhor para connosco mantém sempre aceso em nós o desejo de O servir e de servir os irmãos na caridade.
E Pedro deve contentar-se com o amor de Jesus. Não deve ceder à tentação da curiosidade, da inveja, como quando perguntou a Jesus, ao ver ali perto João: «Senhor, e que vai ser deste?» (Jo 21, 21). Mas Jesus, perante estas tentações, responde-lhe: «Que tens tu com isso? Tu segue-Me!» (Jo 21, 22). Esta experiência de Pedro encerra uma mensagem importante também para nós, amados irmãos Arcebispos. Hoje, o Senhor repete a mim, a vós e a todos os Pastores: Segue-Me! Não percas tempo em questões ou conversas inúteis; não te detenhas nas coisas secundárias, mas fixa-te no essencial e segue-Me. Segue-Me, não obstante as dificuldades. Segue-me na pregação do Evangelho. Segue-Me no testemunho duma vida que corresponda ao dom de graça do Baptismo e da Ordenação. Segue-Me quando falas de Mim às pessoas com quem vives dia-a-dia, na fadiga do trabalho, do diálogo e da amizade. Segue-Me no anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos últimos, para que a ninguém falte a Palavra de vida, que liberta de todo o medo e dá a confiança na fidelidade de Deus. Tu segue-Me!