quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Inveja, incompreensão, marginalização desmembram a Igreja


CIDADE DO VATICANO, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
“Igreja, Corpo de Cristo” foi o tema da catequese do Papa Francisco, nesta quarta-feira, 22 de outubro. Eis o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia
Quando se quer evidenciar como os elementos que compõem uma realidade estão estreitamente unidos uns aos outros e formam juntos uma só coisa, usa-se muitas vezes a imagem do corpo. A partir do apóstolo Paulo, esta expressão foi aplicada à Igreja e foi reconhecida como o seu traço distintivo mais profundo e mais belo. Hoje, então, queremos nos perguntar: em que sentido a Igreja forma um corpo? E por que é definida como “corpo de Cristo”?
No Livro de Ezequiel, é descrita uma visão um pouco particular, impressionante, mas capaz de infundir confiança e esperança nos nossos corações. Deus mostra ao profeta um vale de ossos, separados uns dos outros e ressecados. Um cenário desolador.. Imaginem toda uma planície cheia de ossos. Deus lhe pede, então, para invocar sobre eles o Espírito. Naquele momento, os ossos se movem, começam a se aproximar e a se unir, sobre eles crescem primeiro os nervos e depois a carne e se forma assim um corpo, completo e cheio de vida (cfr Ez 37, 1-14). Esta é a Igreja! Recomendo hoje que peguem a Bíblia em casa, no capítulo 37 do profeta Ezequiel, não se esqueçam, e leiam isto, é belíssimo. Esta é a Igreja, é uma obra-prima, a obra-prima do Espírito, que infunde em cada um a vida nova do Ressuscitado e nos coloca uns próximos aos outros, um a serviço do outro e como apoio do outro, fazendo assim de todos nós um só corpo, edificado na comunhão e no amor.
A Igreja, porém, não é somente um corpo edificado no Espírito: a Igreja é o corpo de Cristo! E não se trata simplesmente de um modo de dizer: mas o somos realmente! É o grande dom que recebemos do dia do nosso Batismo! No sacramento do Batismo, de fato, Cristo nos faz seus, acolhendo-nos no coração do mistério da cruz, o mistério supremo do seu amor por nós, para nos fazer depois ressurgir com ele, como novas criaturas. Assim nasce a Igreja, e assim a Igreja se reconhece corpo de Cristo! O Batismo constitui um verdadeiro renascimento em Cristo, torna-nos parte dele, e nos une intimamente entre nós, como membros do mesmo corpo, do qual ele é a cabeça (cfr Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-13).
Aquela que surge, então, é uma profunda comunhão de amor. Neste sentido, é iluminante como Paulo, exortando os maridos a “amar as esposas como o próprio corpo” afirma: “Como também Cristo faz com a Igreja, porque somos membros do seu corpo” (Ef 5, 28-30). Que belo se nos recordássemos mais muitas vezes daquilo que somos, do que fez de nós o Senhor Jesus: somos o seu corpo, aquele corpo que nada e ninguém pode arrancar dele e que ele recobre de toda a sua paixão e de todo o seu amor, próprio como um esposo com a sua esposa. Este pensamento, porém, deve fazer surgir em nós o desejo de corresponder ao Senhor Jesus e de partilhar o seu amor entre nós, como membros vivos do seu próprio corpo.. No tempo de Paulo, a comunidade de Corinto encontrava muitas dificuldades em tal sentido, vivendo, como muitas vezes também nós, a experiência das divisões, da inveja, das incompreensões e da marginalização. Todas essas coisas não  vão bem, porque, em vez de edificar e fazer crescer a Igreja como corpo de Cristo, fraturam-na em tantas partes, desmembram-na. E isto acontece também nos nossos dias. Pensemos nas comunidades cristãs, em algumas paróquias, pensemos nos nossos bairros quantas divisões, quanta inveja, como se fala pelas costas, quanta incompreensão e marginalização. E o que isso implica? Desmembra-nos entre nós. É o início da guerra. A guerra não começa no campo de batalha: a guerra, as guerras começam no coração, com incompreensões, divisões, inveja, com esta luta com os outros. A comunidade de Corinto era assim, eram campeã nisso! O apóstolo Paulo disse aos Coríntios alguns conselhos concretos que valem também para nós: não ser ciumento, mas apreciar nas nossas comunidades os dons e as qualidades dos nossos irmãos. O ciúmes: “Aquele comprou um carro”, e eu sinto aqui um ciúme; “Este ganhou na loteria”, e outro ciúme; “Este outro está indo bem bem nisso”, e um outro ciúme. Tudo isso desmembra, faz mal, não se deve fazer! Porque assim o ciúme cresce e enche o coração. E um coração ciumento é um coração ácido, um coração que em vez de sangue parece ter vinagre; é um coração que nunca está feliz, é um coração que desmembra a comunidade. Mas o que devo fazer então? Apreciar nas nossas comunidades os dons e as qualidades dos outros, dos nossos irmãos. E quando me vem o ciúme – porque vem a todos, todos somos pecadores – devo dizer ao Senhor: “Obrigado, Senhor, porque destes isto àquela pessoa”. Apreciar as qualidades, fazer-se próximo e participar do sofrimento uns dos outros e dos mais necessitados; exprimir a própria gratidão a todos. O coração que sabe dizer obrigada é um coração bom, é um coração nobre, é um coração que é feliz. Pergunto-vos: todos nós sabemos dizer obrigado sempre? Nem sempre, porque a inveja, o ciúme nos para um pouco. E, por último, o conselho que o apóstolo Paulo dá aos Coríntios e também nós devemos dar uns aos outros: não considerar ninguém superior aos outros. Quanta gente se sente superior aos outros! Também nós, tantas vezes dizemos como aquele fariseu da parábola: “Agradeço-te, Senhor, porque não sou como aquele, sou superior”. Mas isto é ruim, não é preciso nunca fazê-lo! E quando estás para fazê-lo, lembre-se dos teus pecados, daqueles que ninguém conhece, envergonhe-se diante de Deus e diga: “Mas tu, Senhor, tu sabes quem é superior, eu fecho a boca”. E isto faz bem. E sempre na caridade considerar-se membro uns dos outros, que vivem e se doam em benefício de todos (cfr 1 Cor 12-14).
Queridos irmãos e irmãs, como o profeta Ezequiel e como o apóstolo Paulo, invoquemos também nós o Espírito Santo, para que a sua graça e abundância dos seus dons nos ajudem a viver realmente como corpo de Cristo, unidos como família, mas uma família que é o corpo de Cristo, e como sinal visível e belo do amor de Cristo.

(Tradução:Canção Nova)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sabemos ouvir o barulho de Jesus quando bate à porta?

Durante sua homilia na Santa Marta, Francisco adverte os cristãos que se comportam como pagãos e acabam perdendo sua identidade
Por Luca Marcolivio
ROMA, 21 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
"Sem Cristo não temos identidade". Nestes termos, o Papa Francisco se expressou durante a homilia desta manhã na capela da Casa Santa Marta, refletindo sobre as leituras de hoje (Ef 2,12-22, Lc 12,35-38).
Conforme relatado no Evangelho de hoje, Jesus se compara com ao patrão da casa que volta tarde e elogia os servos fiéis que o esperavam vigiando com lâmpadas acesas. Depois, Jesus se faz servo de seus servidores e lhes serve o almoço na mesa.
O primeiro serviço que Ele faz aos seus discípulos é o dom da identidade cristã: São Paulo recorda aos Efésios que "sem Cristo", eles seriam "excluídos da cidadania de Israel."
 Jesus nos dá "cidadania, pertença a um povo, nome e sobrenome" e põe fim a toda inimizade entre nós. "Todos nós sabemos que quando não estamos em paz com as pessoas, eleva-se um muro - disse o Papa -. Um muro que nos divide, mas Jesus nos oferece seu serviço para quebrar este muro, para que nos encontremos. “Reconciliou-nos com Deus: de inimigos a amigos; de estranhos a filhos."
A condição para assumir essa "identidade" de servos, é de espera: "Quem não espera Jesus - disse o Pontífice - fecha a porta a Ele, não deixa que Ele faça essa obra de paz, de comunidade, de cidadania, e mais: de nome. Ele nos dá um nome. Nos faz filhos de Deus."
O cristão vive "da esperança cristã" e "sabe que o Senhor virá" e não nos encontrará "isolados" ou "inimigos", mas "amigos próximos, em paz."
Cada um de nós deve se perguntar: "Como espero Jesus?". E antes disso: "espero ou não espero?". O cristão deve ter o "coração aberto, para ouvir o barulho", quando Jesus "bate à porta, quando abre a porta"; sabe esperar por Ele.

O oposto é representado pelo "pagão", que "esquece de Jesus, pensa em si mesmo, nas suas coisas, não espera Jesus", faz “como se fosse um deus": eu me viro sozinho. Seu destino é acabar "sem nome, sem proximidade, sem cidadania", concluiu o Santo Padre recordando que, "muitas vezes nós cristãos nos comportamos como pagãos."

IDENTIDADE E MISSÃO DOS CRISTÃOS LEIGOS

 Continuamos no mês de outubro, mês das missões, e desejamos prosseguir com nossa reflexão, destacando hoje a identidade e a missão dos leigos na Igreja e no mundo. A 52a Assembléia Geral da CNBB estudou, em 2014, o tema prioritário: Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Por enquanto, este é texto de estudo e aguarda futura aprovação e publicação oficial.

O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), nos lembra: “Um é o povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só fé, um só batismo’ (Ef 4, 5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição. (LG 32. Cf. tb. o Cap. V, nn. 39ss). Com estas palavras conciliares a Igreja afirma a beleza e a importância de todas as vocações, convidadas a participarem da vida divina, da santidade de Deus (LG 40). A fonte dessa identidade cristã é o dom do santo batismo, pois este sacramento nos incorpora em Jesus Cristo, recebendo a dignidade de membros do Povo de Deus. Afirma o documento Christifideles Laici (1988)“Só no interior do mistério da Igreja como mistério de comunhão se revela a identidade dos fiéis leigos, a sua original dignidade. E só no interior dessa dignidade se podem definir a sua vocação e a sua missão na Igreja e no mundo” (CfL 8).

A comum dignidade e a comum vocação à santidade assumem, no leigo, modalidade própria, a qual o distingue, sem separá-lo dos outros estados de vida. O Concílio Vaticano II usa a expressão:“índole secular” (cf. CfL 15 e LG 31) para denominar esta distinção, fundamentada na própria encarnação de Cristo: “O próprio Verbo encarnado quis participar da vida social dos homens... quis levar a vida como um operário de seu tempo e da sua terra” ( GS 32). Portanto, o mundo é o lugar específico onde é dirigido o chamado de Deus aos leigos: “São chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, inspirados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação de sua fé, esperança e caridade” (LG 31). Esse testemunho acontece onde os fiéis se encontram: na família, na comunidade, no exercício da profissão, nas relações de vizinhança e de lazer, nos ambientes da caminhada cidadã e eclesial.

Segundo o Documento de Aparecida, os cristãos leigos devem, por missão, atuar no mundo, sendo“homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja” (DAp 209). As novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015 da CNBB insistem para que nos diversos níveis e instituições incentive-se a participação social e política dos cristãos leigos. Cabe a eles empenhar-se na busca de políticas públicas que ofereçam condições necessárias ao bem-estar de pessoas, famílias e povos. Tarefa de grande importância é a formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão, evangelizando os novos areópagos (DAp 491): mundo universitário, da comunicação, dos empresários, dos políticos, dos formadores de opinião, do trabalho, dos dirigentes sindicais e comunitários e nos ambientes de cultura (DGAE 115-117).

O Papa Francisco diz que cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja e há maior participação nos ministérios laicais, mas acrescenta: “Este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade” (EG 102)

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Pequenas comunidades






Nos últimos anos, especialmente a partir da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (2007), que produziu o luminoso Documento de Aparecida (DAp); depois os diversos Documentos e Estudos emanados da CNBB, as dioceses, paróquias e comunidades no Brasil têm nessas publicações ampla orientação para a definição dos objetivos pastorais e consequente escolha das prioridades, elaboração dos projetos e metas de seu Plano de Pastoral para os próximos anos (cf. DGAE 2011-2015 n. 136). Não seria possível imaginar as dioceses e paróquias elaborarem hoje seu plano de ação evangelizadora, a revelia do que mais incisivamente se propõe a nível nacional e latino-americano.

O episcopado reforça a elevada natureza e missão das paróquias: “Entre as comunidades eclesiais, nas quais vivem e se formam os discípulos e missionários de Jesus Cristo, sobressaem as paróquias. São células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e de comunhão eclesial. São chamadas a ser casas e escolas de comunhão” (DAp n. 170; DGAE 2008-2010 n. 156). Mas fala também que elas precisam ser renovadas: “A renovação das paróquias, no início do terceiro milênio, exige a reformulação de suas estruturas, para que elas sejam uma rede de comunidades e de grupos capazes de se articular, conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão” (DAp n. 172; DGAE 2008-2010 n. 156).

Para que nas paróquias se forme aquela rede de comunidades e de grupos, o DAp propõe concretamente: “Levando em consideração as dimensões de nossas paróquias, é aconselhável a setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e coordenação, que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região. É recomendável que os agentes missionários promovam a criação de comunidades de famílias que fomentem a colocação em comum de sua fé e das respostas aos problemas” (n. 172; SD n. 58; DGAE 2008-2010 n. 157). Veja-se que neste n. 157 diz que a setorização das paróquias em unidades territoriais menores não é um dos caminhos, mas o caminho. As DGAE 2011-2015 também reconhecem ser este o caminho inevitável (cf. n. 62).

Em 2008 a CNBB publicou também o documento 88 Projeto Nacional de Evangelização: o Brasil na Missão Continental, que diz: “A progressiva setorização e descentralização das estruturas pastorais, transformando as paróquias em rede de comunidades, ajudará a passar corajosamente de uma pastoral de manutenção para uma pastoral decididamente missionária” (Paulinas, p. 16-17; CNBB p. 19; cf. DAP n. 365-370). O mesmo documento se refere, muitas vezes, de forma direta e indireta aos grupos de reflexão e círculos bíblicos, pequenas comunidades, como meio concreto de realizar o auspicioso projeto.

As atuais DGAE afinam com as orientações anteriores, quando, na apresentação das indicações de operacionalização das diretrizes (n. 121-138), expondo os sete passos metodológicos (n. 126-138), no último passo fala da importância em mudar as estruturas pastorais (cf. n. 137-138). Encera o corpo desse documento do episcopado com algo extremamente importante, dizendo que, no tocante às estruturas pastorais, “à luz do apelo do Documento de Aparecida, em prol de uma Igreja em estado permanente de missão, se apresenta o grande desafio de renovação da paróquia, através de sua setorização em unidades menores, tendo à frente uma equipe de coordenação integrada por leigos e leigas e, dentro dos setores, a criação de comunidades de famílias” (n. 138; cf. DAp n. 372).

O documento de Estudo n. 104 da CNBB “Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia”, emanado da 51ª Assembleia Geral, em Aparecida/SP, da 10 a 19 de abril de 2013, fala de forma não somente tangencial desses grupos de reflexão-oração-ação ou grupos de famílias, verdadeiras pequenas comunidades, mas trata desse tema reiteradas vezes (cf. n. 153-154, 157, 213-215). Mas é na 52ª Assembleia Geral de Aparecida/SP, ocorrida de 30 de abril a 9 de maio de 2014 que essa temática das pequenas comunidades ocupa um lugar de realce especial (cf. o Documento n. 100 da CNBB “Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia”, sobre a conversão pastoral da Paróquia, especialmente os n. 8, 136,191,246-247, 249, 252-254, 256, 278, 288-289, 294, 307, 319ª). É um tema tão central que, no 6º e último capítulo, quando apresenta as proposições pastorais, logo de início propõe as pequenas comunidades (n. 244-256). Não enxergar a importância central que o documento dá a essas pequenas comunidades é lê-lo em chave errada, de forma preconceituosa e com mente fechada. O referido Documento deixa assim evidente que a constituição das pequenas comunidades, como o caminho para a renovação paroquial, não é um sonho de um grupo do episcopado nacional, mas um imperativo de toda a Igreja do Brasil. 

Vale ainda lembrar que a Carta Eucarística de Florianópolis à Igreja no Brasil, emanada do 15º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em 2006, já propunha como um dos quatro compromissos “...tornar nossas comunidades mais eucarísticas, através do ministério da visitação às famílias, dos grupos de oração e de reflexão bíblica, e da opção decidida pelos pobres”.

As comunidades são, pois, convocadas (cf. DAp n. 179; DGAE 2011-2015 n. 61) para que se organize, concretamente, a estrutura da paróquia em dezenas ou até em centenas de pequenas comunidades, chamadas também de grupos de famílias, grupos de vivência, grupos de reflexão-oração-ação, tornando-se para isso indispensável a organização cuidadosa dos grupos, a preparação diligente dos seus coordenadores e a escolha ou elaboração criteriosa dos conteúdos para os encontros. Há décadas já existem práticas muito fecundas nesse sentido, mesmo que ainda restritas a paróquias, dioceses e regionais mais pioneiros.

Em Santa Catarina (Regional Sul 4 da CNBB) a Igreja tem os grupos de reflexão como prioridade número 1. Na cartilha “Igreja nas Casas”, elaborada pela Arquidiocese de Florianópolis em 2002, diz: “Em sintonia com a CNBB Regional Sul 4, a Arquidiocese de Florianópolis vem aprovando e confirmando desde 1999, em suas assembleias de pastoral, os grupos de reflexão e a formação de lideranças como prioridade de nossa ação evangelizadora” (p. 7). Mais adiante expressa essa convicção: “Quanto mais grupos de reflexão houver em nossa igreja arquidiocesana, mais estaremos sendo fiéis ao Espírito Santo! Quanto mais grupos de reflexão houver entre nós, mais a Igreja estará em nossas casas, mais pessoas estarão sendo atingidas e fortificadas pelo Espírito Santo!” (p. 8). O mesmo livreto apresenta depois uma sucinta, mas substanciosa e convincente fundamentação bíblica, trinitária, eclesiológica e pastoral dos grupos de reflexão. Dom Orlando Brandes, atual arcebispo de Londrina-PR, quando bispo de Joinville (1994-2006) teria “revolucionado” esta diocese, através da pastoral da família baseada nos grupos bíblicos.

No Paraná (Regional Sul 2 da CNBB) há também uma grande solicitude para com essa atividade pastoral. Dom João Bosco Barbosa de Sousa OFM, presidente daquele Regional, na Apresentação do livrinho para grupos da Quaresma e Páscoa de 2012, fundamenta assim essa atividade: “Desde o tempo dos apóstolos, os cristãos guardaram o costume de reunir-se nas casas, para encontrar o Senhor na partilha da palavra, na oração, no testemunho de vida e na fraternidade. As pequenas comunidades que se reúnem ao redor da Palavra de Deus, contam com a presença do próprio Jesus, como ele garantiu” (cf. Mt 18,20). Depois continua: “Hoje há uma grande insistência de nossa Igreja de que todos participem permanentemente de pequenos grupos, em torno da Palavra de Deus e da oração, fazendo da Igreja uma ´comunidade de comunidades`” (p.1). Naquele Regional existe uma equipe que elabora três roteiros anuais para os encontros quinzenais dos grupos, atingindo os três ciclos litúrgicos: do Natal, da Páscoa e do Tempo Comum. E, a fim de ajudar a animar os grupos, para cada sete livretos é também disponibilizado um CD com cânticos e testemunhos. 

No Rio Grande do Sul (Regional Sul 3 da CNBB) se realizou em 2007 o I Forum da Igreja Católica, envolvendo todas as dioceses então existentes. No final do evento foi publicada a “Carta do I Forum da Igreja Católica no RS”, que a certa altura diz: “Observa-se, como consenso, para conduzir com efetividade o que no I Forum já se alcançou, diante da realidade estrutural e contextual que se vive, ser necessária a constituição de equipes de ação-reflexão para ajudar na operacionalização das ações antevistas”. Não é isso um aceno ao trabalho pastoral voltado para esses grupos? Há alguns anos este Regional elabora livretos para encontros de grupos, mas restritos ao tempo do Advento e da Quaresma. Falta ainda para muitos bispos, presbíteros e outras lideranças eclesiais das dioceses do Regional verem este trabalho como prioridade pastoral, deixar-se entusiasmar por essa iniciativa, fornecer subsídios para o ano inteiro, depois difundir e implantar este projeto em todas as paróquias e comunidades das Igrejas particulares. Recentemente o bispo de Caxias do Sul reconheceu como desafio para sua diocese a multiplicação, nas paróquias e capelas, de pequenas comunidades dentro das comunidades (cf.Correio Riograndense de 03/09/2014).

No terceiro milênio, com a grave tendência de crescimento do individualismo, do materialismo e do ateísmo, que facilmente reduzem a religião à esfera privada, ou a julgam menos importante ou até sem sentido, urge que as dioceses, para além da restrita pastoral de conservação, façam lançar todas as paróquias com entusiasmo e esperança em missão, fazendo um trabalho capilar de base com as famílias, igrejas domésticas, procurando inseri-las em grupos de reflexão. Reconhecem os bispos do Brasil: “A setorização da paróquia pode favorecer o nascimento de comunidades, pois valoriza os vínculos humanos e sociais. Assim, a Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranças, e a iniciação cristã acontece no ambiente em que as pessoas vivem” (DGAE 2011-1015, n. 62). Essa atividade com grupos, quando integra, além dos casais, famílias inteiras, isto é, pais e filhos, crianças, jovens adultos e idosos, torna-se na verdade, essa sim, Pastoral da Família. Não será esse o caminho que (re)conduzirá muitas famílias para a participação regular na comunidade maior?

O Papa emérito, Bento XVI, quando ainda cardeal, já alertava que é preciso superar o “medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, na qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” (Palavras de Joseph Ratzinger na conferência no Encontro de Presidentes de Comissões Episcopais da América Latina para a Doutrina da Fé, Guadalajara, México, 1996, e reproduzidas no DAp n. 12 e nas DGAE 1011-1015 n. 3). Clérigos e leigos são assim alertados para não ficarem instalados numa zona de conforto, perdendo todo o entusiasmo pastoral, rejeitando qualquer novo desafio, sepultando o profetismo na Igreja. Não dá para viver na felicidade por comodismo!

Projetos ao mesmo tempo concretos e exequíveis, audazes e entusiasmantes, de sólido fundamento, ampla abrangência e razoável continuidade poderão ser capazes de reverter o processo de descristianização e desumanização, tirar os agentes de pastoral do descrédito e desânimo, estimular a tão desejada conversão pessoal que leve à conversão pastoral, renovando as paróquias e dioceses e fazendo acontecer a Missão Continental. (Texto original escrito e divulgado já em 2008 com o título “Igreja nas Casas”, reelaborado e ampliado com as publicações mais recentes)

domingo, 19 de outubro de 2014

Paulo VI soube «dar a Deus o que é de Deus»

Homilia do Papa Francisco na Santa Missa de encerramento do Sínodo Extraordinário sobre a Família e beatificação do Servo de Deus Papa Paulo VI
Por Redacao
CIDADE DO VATICANO, 19 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - 
Apresentamos a homilia do Papa Francisco na Santa Missa de encerramento do Sínodo Extraordinário sobre a Família e beatificação do Servo de Deus Papa Paulo VI realizada neste domingo, 19 de Outubro de 2014, na Praça de São Pedro.
Acabámos de ouvir uma das frases mais célebres de todo o Evangelho: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21).
À provocação dos fariseus, que queriam, por assim dizer, fazer-Lhe o exame de religião e induzi-Lo em erro, Jesus responde com esta frase irónica e genial. É uma resposta útil que o Senhor dá a todos aqueles que sentem problemas de consciência, sobretudo quando estão em jogo as suas conveniências, as suas riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua fama. E isto acontece em todos os tempos e desde sempre.
A acentuação de Jesus recai certamente sobre a segunda parte da frase: «E [dai] a Deus o que é de Deus». Isto significa reconhecer e professar – diante de qualquer tipo de poder – que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro. Esta é a novidade perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos perante as surpresas de Deus.
Ele não tem medo das novidades! Por isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos para caminhos inesperados. Ele renova-nos, isto é, faz-nos «novos» continuamente. Um cristão que vive o Evangelho é «a novidade de Deus» na Igreja e no mundo. E Deus ama tanto esta «novidade»!
«Dar a Deus o que é de Deus» significa abrir-se à sua vontade e dedicar-Lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz.
Aqui está a nossa verdadeira força, o fermento que faz levedar e o sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante que o mundo nos propõe. Aqui está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence. É por isso que o cristão fixa o olhar na realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a existência – com os pés bem fincados na terra – e responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos.
Vimo-lo, nestes dias, durante o Sínodo Extraordinário dos Bispos: «sínodo» significa «caminhar juntos». E, na realidade, pastores e leigos de todo o mundo trouxeram aqui a Roma a voz das suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a caminharem pela estrada do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus. Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo que sempre guia e renova a Igreja, chamada sem demora a cuidar das feridas que sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança.
Pelo dom deste Sínodo e pelo espírito construtivo concedido a todos, – com o apóstolo Paulo – «damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações» (1 Tes 1, 2). E o Espírito Santo, que nos concedeu, nestes dias laboriosos, trabalhar generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade, continue a acompanhar o caminho que nos prepara, nas Igrejas de toda a terra, para o Sínodo Ordinário dos Bispos no próximo Outubro de 2015. Semeámos e continuaremos a semear, com paciência e perseverança, na certeza de que é o Senhor que faz crescer tudo o que semeámos (cf. 1 Cor 3, 6).
Neste dia da beatificação do Papa Paulo VI, voltam-me à mente estas palavras com que ele instituiu o Sínodo dos Bispos: «Ao perscrutar atentamente os sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos (...) às múltiplas necessidades dos nossos dias e às novas características da sociedade» (Carta ap. Motu próprio Apostolica sollicitudo).
A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!
No seu diário pessoal, depois do encerramento da Assembleia Conciliar, o grande timoneiro do Concílio deixou anotado: «Talvez o Senhor me tenha chamado e me mantenha neste serviço não tanto por qualquer aptidão que eu possua ou para que eu governe e salve a Igreja das suas dificuldades actuais, mas para que eu sofra algo pela Igreja e fique claro que Ele, e mais ninguém, a guia e salva» (P. Macchi, Paolo VI nella sua parola, Brescia 2001, pp. 120-121). Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor.

Verdadeiramente Paulo VI soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida a este «dever sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a terra a missão de Cristo» (Homilia no Rito da sua Coroação, Insegnamenti, I, (1963), 26), amando a Igreja e guiando-a para ser «ao mesmo tempo mãe amorosa de todos os homens e medianeira de salvação» (Carta enc. Ecclesiam suam, prólogo).

Sínodo da família: os círculos menores apresentam suas emendas para preparar a relatio synodi

Reunidos em grupos de trabalho por grupos linguísticos, os padres sinodais propõem novos elementos de trabalho sem chegar ainda a um documento definitivo
Por Rocio Lancho García
CIDADE DO VATICANO, 16 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
 Durante a décima segunda congregação geral do sínodo dos bispos, na manhã de hoje, foram apresentados os relatórios dos dez “círculos menores”, grupos de trabalho divididos por línguas (três em inglês, três em italiano, dois em francês e dois em espanhol). Os círculos menores fizeram uma avaliação da “relatio post disceptationem” apresentada na segunda-feira, junto com possíveis sugestões a ser incluídas na "relatio synodi", o documento definitivo e conclusivo da assembleia sinodal.
O padre Federico Lombardi informou à imprensa na sessão informativa de hoje que o papa Francisco decidiu acrescentar dois novos membros à comissão encarregada do documento final do sínodo, para ampliar a sua representação geográfica: o cardeal Napier, da África do Sul, e dom Hart, da Nova Zelândia. Além disso, o cardeal Müller pediu que fossem desmentidas as declarações feitas pela imprensa de que ele teria afirmado que a relatio era "indigna, vergonhosa e completamente errônea".
Para dar mais detalhes sobre os textos apresentados pelos círculos menores, falaram à imprensa o cardeal Schönborn, arcebispo de Viena, e o casal Francesco Miano e Pina de Simone.
O purpurado se mostrou impressionado com o interesse que o sínodo está gerando. "Há poucos temas que tocam tanto cada um de nós quanto a família", observou. Indo além da questão religiosa e cultural, ela é uma realidade fundamental e a Igreja sempre esteve muito atenta a essa realidade.
Schönborn falou do papel fundamentalmente positivo da família: "O papa não nos convidou a ver só o que não funciona na família (...), mas a mostrar a beleza e a necessidade da família. Por isso, ele nos convidou também a olhar atentamente para a realidade. Esta é a ideia do questionário enviado a todo o mundo: 'contem-nos como vai a família'", explicou, recordando que esta é a primeira vez que um sínodo se baseia numa documentação tão ampla.
O cardeal fez referência a uma palavra-chave usada pelo papa Francisco: "acompanhar". "Não julgar, mas acompanhar. Isto pode ser entendido como um relativismo, mas não é".
A seguir, falaram Francesco Miano e Pina de Simone. "Para nós é uma grande e bela experiência", disse Francesco, reconhecendo ainda a grande responsabilidade e a alegria de viver um momento decisivo da Igreja no espírito do Concílio Vaticano II. Ele recordou a importância e a necessidade de narrar as belas experiências de família, o que "não significa criticar os outros". Por sua vez, Pina observou a "seriedade com que se está trabalhando. É um debate sério, com a vontade de um olhar realista, que saiba captar não só os problemas e dificuldades".
Nas sugestões dos círculos menores, que estudam ponto por ponto a relatio, foram feitas várias apreciações.
Em geral, destacou-se que a relatio se concentrou nas preocupações das famílias em crise, faltando uma referência mais ampla à mensagem positiva do evangelho da família e ao fato de que o matrimônio, como sacramento e como união indissolúvel entre homem e mulher, é um valor ainda muito presente e no qual muitos casais acreditam. "Não podemos dar a impressão de que a família cristã foi descuidada em nosso diálogo sinodal", precisa um dos grupos.
Evidenciou-se também, mais adequadamente, a doutrina sobre o matrimônio, insistindo-se no fato de ele ser um dom de Deus. Alguns temas propostos para a relatio final são as adoções, as questões da biotecnologia, a difusão da cultura via web, as políticas em favor da família, a presença dos idosos nos lares e as famílias em extrema pobreza.
Por outro lado, falou-se em ressaltar o papel fundamental das famílias na evangelização e na transmissão da fé, destacando-se a vocação missionária.
Quanto às situações familiares difíceis, vários círculos menores destacaram que a Igreja tem que ser uma casa acolhedora para todos, mas com a devida clareza para evitar confusões, hesitações e eufemismos na linguagem. Fez-se referência à lei da gradualidade, que não deve se tornar uma “gradualidade da lei”.
Outros círculos pediram aprofundamento do conceito de "comunhão espiritual", para que seja avaliado e, eventualmente, promovido e difundido.
A respeito da comunhão para divorciados recasados, foram manifestadas basicamente duas opiniões. Por um lado, que a doutrina não seja modificada; por outro, que haja a possibilidade de se conceder a comunhão na perspectiva da compaixão e da misericórdia, desde que sejam cumpridas determinadas condições. Pediu-se, de todos modos, que haja mais atenção pastoral aos divorciados que não voltaram a se casar.
O processo mais ágil de reconhecimento da nulidade do matrimônio e da constatação da sua validade foi outro dos temas repetidos nos círculos menores.
Quanto às uniões homossexuais, reiterou-se a impossibilidade de equiparar o matrimônio entre homem e mulher às uniões entre pessoas do mesmo sexo, mas quem tem esta orientação deve ser acompanhado pastoralmente e protegido na sua dignidade.

Sobre a poligamia, em particular dos polígamos convertidos ao catolicismo que desejam receber os sacramentos, foi sugerido um estudo mais amplo.

A oração de louvor nos leva à alegria


CIDADE DO VATICANO, 
 Outubro de 2014 (Zenit.org) 
- Rezar para pedir graças é fácil; mais difícil é a oração de louvor, mas esta é a oração da verdadeira alegria, disse o papa Francisco na homilia desta manhã na Casa Santa Marta, refletindo sobre a Carta aos Efésios, em que São Paulo eleva com alegria o seu louvor a Deus. Trata-se de uma oração "que não fazemos habitualmente: louvar a Deus é gratuidade pura", é entrar "numa grande alegria".
O papa afirmou que "sabemos rezar muito bem quando pedimos coisas e quando damos graças ao Senhor, mas a oração de louvor é um pouco mais difícil para nós: não é tão habitual louvar o Senhor. E isto nós podemos sentir melhor quando ‘fazemos memória’ das coisas que o Senhor realizou em nossa vida: 'Nele, em Cristo, fomos eleitos antes da criação do mundo'. Bendito sejas, Senhor, porque tu me escolheste! É a alegria de uma relação paterna e terna".
"A oração de louvor" nos leva a essa alegria, a estar felizes diante do Senhor. "Façamos um esforço para reencontrá-la!", exortou. Mas "o ponto de partida" é precisamente "fazer memória" desta eleição: "nosso Senhor me escolheu antes da criação do mundo".
Para explicá-lo, Francisco observou que isto "não pode ser entendido nem imaginado: que o Senhor me conhecesse antes da criação do mundo, que o meu nome estivesse no coração do Senhor. Esta é a verdade! Esta é a revelação! Se nós não acreditamos nisto, não somos cristãos! Este pensamento também enche de alegria o nosso coração: eu sou um escolhido! E isso nos dá segurança".
O pontífice lembrou que "o nosso nome está no coração de Deus, nas entranhas de Deus, como a criança no seio da mãe.. Esta é nossa alegria de ser eleitos".
É algo que "não podemos entender só com a cabeça. Nem só com o coração. Para entender isto, temos que entrar no mistério de Jesus Cristo. O mistério do seu Filho amado: 'Ele derramou o seu sangre em abundância por nós, com toda a sabedoria e inteligência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade'. E esta é uma terceira atitude: entrar no mistério".
Por isso, Francisco destacou que, "quando celebramos a Eucaristia, entramos neste mistério que não pode ser entendido de todo: nosso Senhor está vivo, está conosco, aqui, em sua glória, em sua plenitude, e dá a vida por nós novamente. Esta atitude de entrar no mistério nós temos que aprender todo dia. O cristão é uma mulher, um homem, que se esforça para entrar no mistério. O mistério não pode ser controlado: é o mistério.. Eu entro!".

Ao terminar a homilia, o bispo de Roma declarou que a oração de louvor é acima de tudo "oração de alegria" e, depois, "oração de memória: 'Quanto nosso Senhor fez por mim! Com quanta ternura Ele me acompanha, como Ele se abaixou, se ajoelhou como o pai que se ajoelha para ajudar o filho a caminhar'". E finalmente, é "a oração ao Espírito Santo, que nos dá a graça de entrar no mistério, em especial quando celebramos a Eucaristia".