sábado, 9 de agosto de 2014

MOSTRA NOS O PAI



Por Dom Alberto Taveira Corrêa

BELéM DO PARá, 08 de Agosto de 2014 (Zenit.org
- "Filipe disse: 'Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta'. Jesus respondeu: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras" (Jo 14, 8-11). Bendita seja a aparente ingenuidade de Filipe, desejando ver o Pai. Daqui parte nossa reflexão para o dia dos pais, comemorado no segundo domingo de agosto, quando a Igreja Católica no Brasil inicia também a Semana da Família. Torna-se ainda mais oportuno abordar este tema pela proximidade da Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos a respeito da família.
A vocação dos homens que se fazem pais tem a sua origem da paternidade do próprio Deus, sabendo inclusive que se aprende mais sobre família e sobre as relações entre as pessoas olhando para o alto, para a Santíssima Trindade. Paternidade, filiação, fraternidade criatividade, todas as desejáveis características das pessoas, podem encontrar no próprio Deus sua fonte! E permitam-me todos os pais envolvê-los na voragem de amor que é a vida divina, convidando-os a abrirem o coração e redescobrirem sua vocação e sua missão na família e na sociedade.
Queridos pais, todos vocês foram e são filhos! Ninguém é fonte absoluta de uma família. Desejo-lhes a capacidade de olhar para trás e identificar o melhor que possa existir na história de sua família. Há valores que passam de geração em geração e a dignidade de sua família não se encontra apenas no nome, sem dúvida importante, mas nas coisas boas de que vocês são guardiães. Vocês podem entrar em seu próprio coração, recolhendo, como a criança que existe em cada um, as boas sementes transmitidas pelos antepassados. Por falar em nome, já perceberam que são vocês que o conservam e transmitem às gerações sucessivas? Sejam pois, dignos de manter acesa este facho aceso da dignidade das gerações!
Dentre os muitos tesouros que lhes foram confiados, é proprio da missão paterna ser a referência de autoridade na família. Autoridade e não autoritarismo! E autoridade verdadeira vem de dentro, a partir de convicções claras e objetivos a serem alcançados. Chama atenção a força com que Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, se faz presente em momentos críticos da vida de seus discípulos. Numa travessia do Mar da Galileia (Cf. Mt 14, 22-33), barca agitada pelas ondas, vento contrário, homens medrosos que veem Jesus caminhando sobre as águas e pensam estar diante de um fantasma. "Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!" É tempo de pedir a Deus, na comemoração do dia dos pais, que a força viril dos que receberam esta vocação seja restaurada em nossas famílias. Redescubram a coragem para ajudar a família na superação do medo dos fantasmas! Sejam capazes de discernir entre o vento, os terremotos e o fogo (Cf. 1 Rs 19, 9-13), ajudando a identificar o murmúrio da brisa leve em que o Senhor Deus se manifesta. Brote dos lábios e do coração de todos os pais de família, sustentados no mar na vida pelas mãos firmes do Senhor Jesus, a profissão de fé a ser renovada no domingo dos pais: "Verdadeiramente, tu és o filho de Deus" (Mt 14, 33). Afinal, são adultos estes que realizam uma missão de tamanha importância. Deles pedimos um sinal que nos ajude a firmar a confiança no Senhor.
Mas para chegar ao discernimento pedido aos pais de família, devem estes tirar o tempo necessário para, como o profeta Elias (Cf. 1 Rs 19, 9-10), orar confiantemente em nome da própria família. Proponho, por ocasião do dia dos pais, que as refeições nas casas sejam abençoadas com uma oração feita pelo pai: "Senhor Deus, que conservais tudo o que criastes e não deixais de conceder aos vossos filhos o alimento necessário, nós vos agradecemos por esta mesa fraterna, preparada para alimentar e fortalecer o nosso corpo; nós vos rogamos que também nossa fé, sustentada com a vossa palavra, cresça pela busca constante do vosso Reino. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!" Esta oração pode ser feita sempre às refeições, confiando-a cada dia a um dos membros da família. Entretanto, a oração silenciosa, feita pelo pai de família, com confiança total no Pai do Céu, com o qual lhe foi dada a graça de partilhar a responsabilidade pelo lar, não pode faltar. Só assim terá forças necessárias para enfrentar as muitas tormentas do caminho.
Durante muitos séculos, o pai de família foi considerado como o suficiente provedor das necessidades de todos. As esposas assumiam a educação dos filhos e as tarefas domésticas. Mudam os tempos, as mulheres também têm atividades laborativas fora de casa, as tarefas são compartilhadas e a responsabilidade abraçada a dois. No entanto, valha hoje um apelo aos pais de família justamente pela sua missão ligada ao trabalho. Faz parte da dignidade do ser humano ganhar o pão com o suor do próprio rosto, mesmo quando seu trabalho não for prioritariamente ligado ao esforço físico. Gratidão a Deus providente que permite aos pais levarem o necessário à família e à sustentação dos filhos. Apreensão diante das múltiplas dificuldades existentes para que o trabalho seja adequadamente remunerado e até para que haja postos de trabalho para toda a população. Oração fervorosa, para que aos pais sejam dadas estas condições indispensáveis.
A missão dos pais de família pode se expressar no pedido feito por Filipe, cuja ingenuidade agradecemos. Queridos pais, queremos que saibam ser nosso interesse apenas uma coisa, que vocês nos mostrem "o Pai". Sejam de tal forma parecidos com o Pai do Céu, que trabalha sempre! Ajudem-nos a chamar o Pai de Jesus de "Pai Nosso", ensinando-nos a rezar cada parte da oração que brotou de seu coração para ser entregue a nós. Sejam transparência do amor de Deus, tão infinito que se faz pequeno e próximo de cada filho. Sejam para suas esposas companheiros fiéis, amigos afetuosos, como Deus os pensou. Contamos com a firmeza de vocês e, quando esta lhes faltar, saibam que a Igreja reza por vocês e quer sustentá-los na tarefa exigente e gratificante que lhe foi entregue. Obrigado por vocês serem testemunhas da Providência de Deus para as famílias! Confiem nesta Providência para todos os passos a serem dados na vida! Saibam valorizar as rugas, os achaques da idade, o cansaço, para muitos a calvície ou os cabelos brancos. Tudo encontre seu sentido na entrega alegre da vida, com a qual vocês constroem a própria dignidade e felicidade. Deus os abençoe!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Família: eu acredito!




Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Milhares de carros da região de abrangência da Diocese de Santa Cruz do Sul começaram a circular com um pequeno adesivo no parabrisa afirmando a sua fé na família. A iniciativa é da Pastoral Familiar da Diocese de Santa Cruz do Sul, com o intuito de chamar a atenção das pessoas para a centralidade da família, no momento em que crescem as campanhas para fragilizar a instituição “família”.
Todos nós nascemos dentro de uma família. Somos fruto de um encontro amoroso entre um homem e uma mulher, a quem chamamos de pai e mãe. Mesmo as pessoas que nascem da fertilização “in vitro” ou que nasceram de inseminação artificial, tem o seu pai e a sua mãe. Em outros termos, nenhuma criança vem ao mundo sem o DNA de um pai e de uma mãe. O que acontece, sim, é muitos pais abandonarem os filhos depois de os haverem gerado.
Diante disso, são felizes as pessoas que, em sua infância e juventude, podem usufruir da presença diária da mãe e do pai. Estas pessoas tem maiores possibilidades de conviverem num lar onde são conhecidos os limites característicos da figura paterna sem desconsiderar o lado afetivo próprio do lado materno.
Para a Igreja, a família é a base da sociedade. Nas palavras do Papa Francisco, ela “não é só importante, mas necessária para a sobrevivência da humanidade. Se não existe a família, a sobrevivência cultural da humanidade corre perigo. Nos apeteça ou não, a família é a base” (JMJ, 27/07/2013). Por isso, a Igreja está preparando um Sínodo especial sobre a família, que terá sua primeira parte em outubro de 2014 e será concluído em 2015. Somos convidados a rezar pelo bom êxito deste Sínodo.
Para chamar a atenção da sociedade sobre a importância da família e, ao mesmo tempo, ajudar as famílias a se fortalecerem na unidade, a Igreja no Brasil realiza, nos dias 10 a 16 de agosto, a Semana Nacional da Família. O tema proposto para reflexão é “a espiritualidade cristã na família”, destacando que este é “um casamento que dá certo”. De acordo com o nosso Papa, “é importante que os pais cultivem as práticas comuns de fé na família, que acompanhem o amadurecimento de fé dos filhos”. Assim, além de viverem o amor entre si, os membros da família também aprenderão a viver o amor a Deus. E vivendo o amor a Deus solidificarão também os laços da fraternidade entre si, sabendo que em cada situação difícil poderão contar com a ajuda amorosa de Deus.
Convido, pois, as comunidades e famílias a se integrarem nas programações da Semana Nacional da Família. Não tenhamos medo em afirmarmos a nossa fé na família, fazendo “a experiência corajosa e exigente do amor verdadeiro, através da prática da espiritualidade cristã na construção de um mundo justo e fraterno” (Hora da Família, p. 7).
Que o Deus misericordioso, por intercessão da Sagrada Família, abençoe as famílias! Que Ele também abençoe, de maneira todo especial, aos pais que comemoram o seu dia neste domingo, 10 de agosto!

Pais que cuidam e se importam




Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

No debate dos candidatos nas eleições 2014 o tema da segurança pública tem aparecido com muita ênfase, discutindo-se certamente o aumento do efetivo policial, das UPPs, e de outras propostas de controle da criminalidade. No entanto, há um assunto prévio e de maior relevância: a da presença de pais que cuidam e se importam com seus filhos a ponto de priorizar esta missão sobre qualquer outra atividade ou ocupação. Pais que assumem e chamam para si a responsabilidade de liderar e defender a sua família.
Pais que além de provedores, são protetores e educadores, não terceirizando a orientação espiritual, moral e religiosa a ser dada a sua prole. Pais posicionados que vivem e são portadores dos valores, das crenças e das atitudes que tratam de passar. 
Que pensam no amanhã dos filhos, isto é, quando eles possam fazer as escolhas vitais e estejam preparados como cidadãos e cristãos para tomar conta delas. Que não se restringem a dar presentes ou fazer vontades mas que são formadores de personalidades com caráter, motivadores e treinadores de filhos com foco, heróis, batalhadores que farão a diferença.
Que não são dirigidos pelo oportunismo, nem a popularidade fácil, mas ancorados em princípios e ideais que dão pleno valor a uma vida. Que levam a sério a honra, a fama do seu nome e da família, ensinando a ter vergonha na cara e a cumprir fielmente a palavra empenhada. Para eles nenhum sacrifício é pouco, nenhuma renúncia é capaz de dissuadi-los ou fazer desistir da sua melhor e maior obra: educar e cuidar dos seus filhos.
Espelham a Josué o grande líder bíblico, quando depois de uma assembléia do seu povo, disse a seus compatriotas: "escolhei hoje a quem quereis servir: se aos ídolos a quem vossos pais serviram no outro lado do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e a minha família, nós serviremos ao Senhor! (Js. 24,15 )."
Pense nisso quando neste dia dos pais recordar e lembrar na querida imagem do seu pai, o quanto devemos a eles, e supliquemos ao Pai do Céu, que sempre olhe com muito carinho e dileção para aqueles que apesar das suas fragilidades e defeitos são seus representantes dando-nos a benção e fazendo-nos sentir a sua solicitude, cuidado e presença.
Deus seja louvado!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Realização pessoal


D. Jaime Spengler

Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre
Durante o mês de agosto, refletimos sobre o tema vocação. Vocação é, certamente, distinto de profissão. Profissão tem a ver com habilidade técnica, eficiência produtiva, função social, reconhecimento e recompensa. O que denominamos vocação toca uma dimensão mais profunda do ser humano e nem sempre goza de reconhecimento público. Podemos perceber tal distinção em diferentes áreas do convívio humano e social.
Alguém que age por critérios meramente técnicos se distingue de alguém que, sem transcurar esses, age também por paixão, amor, prazer. Nesse âmbito, o que importa é a própria arte. Há, pois, distinção entre um técnico e alguém que age, digamos, por vocação. Isto se reflete no comportamento diário.
O humano, em uma determinada fase da vida, é conduzido a se confrontar com uma escolha de vida, nem sempre fácil. O desafio de abraçar uma vida a dois, ou não; de se engajar numa forma de vida consagrada; de assumir um ministério ordenado. Ou mesmo o desejo de não se colocar a questão da escolha de vida e permanecer em uma espécie de “indiferença”...
A escolha de vida é também orientada por motivações diversas: contexto familiar, ambiente social, influência de alguém em especial, práticas tradicionais, ideologias etc. As motivações podem ser acidentais, banais ou podem estar “esquecidas” no inconsciente. Podem ainda ser expressão de uma experiência profunda e decisiva ao longo da caminhada pessoal de vida. Enfim, a opção de vida pode estar condicionada por critérios sociológicos, psicológicos, pedagógicos, teológicos, pessoais...
Nossos adolescentes e jovens precisam ser orientados e sustentados em suas escolhas de vida. É um direito deles e um dever da sociedade. É uma missão que toca a todos. Tarefa característica nesse trabalho possui a família, a escola e a Igreja. Qual é o pai ou a mãe que não deseja ver seu filho ou filha feliz, fazendo aquilo de que gosta, que o/a realiza? Também a escola pode, e muito, colaborar. Afinal, ela não tem simplesmente a função de informar, mas de formar para a vida! E formação é algo diferente de informação. Aqui, talvez, poder-se-ia indagar pela função específica das instituições de ensino. Também a Igreja, enquanto comunidade de fé, espaço de encontro de pessoas, pode e deve colaborar nessa tarefa.
Para nós, cristãos, o destino da existência humana é vocação de Deus. Deus inspira, orienta e sustenta. Quem é Deus, como se dá sua escuta, isso nós não podemos saber de antemão. O que é vocação, como se dá a escolha, também não podemos saber de antemão como algo calculável, previsível.
No dia a dia, podemos ir colher indicações de Deus, através dos fatos, da oração, da leitura da palavra sagrada e do diálogo entre irmãos e irmãs. Trata-se de um caminho que vamos realizando às apalpadelas. Não existem certezas absolutas. É preciso que pensemos e reflitamos sobre nossa vida, destino, realização, escolhas. O que verdadeiramente interessa à pessoa é poder corresponder da melhor forma possível ao mistério de Deus e de Seu amor, que se expressa em situações concretas da vida. É mais ou menos como o artista no seu esforço de corresponder à inspiração; não importa o material que tenha à disposição ou as ferramentas, mas que a inspiração, de algum modo, ganhe expressão, contornos, formas.
A escolha da vocação é trabalho árduo e desafiador. E não são poucos os que desistem. É decisivo ser perseverante até o fim. Nesse trabalho, é necessário colaboração, determinação, disciplina pessoal.
Via internet - Jornal do Comercio

Alerta às famílias


Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)



Este domingo é o Dia dos Pais. A próxima semana é a Semana da Família. Para o mês de outubro o Papa Francisco convocou um Sínodo Extraordinário sobre a Família. 
Não há nenhuma dúvida: está soando o alerta geral sobre a Família. Tida tradicionalmente como reduto inesgotável de reservas morais, que podiam ser invocadas nos momentos de maior crise da sociedade, agora ao contrário, é a família que está fazendo água, e necessita de socorro urgente.
Basta conferir o ambiente tenso que se encontra, por exemplo, na maioria das salas de aula. Tal a soma de problemas trazidos da família pelos alunos, que os professores se vêem doidos. A situação já ultrapassou os limites da normalidade. É imperioso convocar a sociedade, para socorrer a família. E fazer com que ela se torne, de novo, um espaço providencial, seguro e tranquilo, como reduto em que as pessoas aprendem a se relacionar com equilíbrio, assimilando valores indispensáveis, como o respeito mútuo, a solidariedade e a confiança para a partilha de compromissos e para a garantia de segurança e de convívio salutar. 
Assim a família voltaria a ser um ambiente favorável ao crescimento das pessoas, levando-as a assumir a própria identidade, sem equívocos e sem receios de enfrentar a realidade.
Se nos perguntamos pela origem desta crise profunda por que passa hoje a família, não há dúvida que boa parte da responsabilidade deve ser colocada na conta de quem se diverte em solapar valores tradicionais, fazendo da família uma caixa de ressonância das suas irreverências, para divertimento dos que carecem de discernimento, e para delírio dos que garantem audiência fácil aos programas de televisão.
Buscando uma explicação sociológica da crise por que passa a família, o Papa Francisco foi encontrar no documento de Aparecida um aspecto que merece nossa atenção.
Descrevendo a situação em que vivemos, Aparecida afirma que estamos, não só numa época de muitas mudanças, mas numa “mudança de época”.  Portanto, uma crise mais profunda, não episódica.
Constata ele que em momentos assim é mais viável o abandono de valores tradicionais, na ingênua esperança que a nova situação se encarregará de trazer as soluções, como foi capaz de generalizar a crise. 
Em todo o caso, mesmo sem levar em conta todos os motivos, o fato é que hoje a família passa por um momento de profunda crise, que tende a se generalizar.
Está na hora de dar-nos conta que estão em jogo os fundamentos éticos de nossa sociedade. E que não dá mais para fazer dos problemas das famílias roteiros fáceis de novelas descomprometidas com a ética e com a moralidade.
Chega de fazer da família um joguete de divertimentos pitorescos e irresponsáveis. Está na hora de assumirmos a defesa da família, assegurando-lhe todo o apoio de que ela necessita para retomar sua nobre vocação de geradora da vida e de educadora das pessoas.
 

Vocação de pai




Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Pai e filho têm mútua dependência para sua razão de ser, a começar pelo Criador. A relação entre Ele e seu Filho, Jesus Cristo, é de vital importância para que a paternidade e a filiação humana encontrem respaldo na sua razão de ser. Ao contrário, temos apenas a prole e a paternidade no aspecto físico. A relação de Deus nas suas pessoas de Pai e Filho é de um amor inacreditável e absoluto. A paternidade e a filiação no que se refere a nós humanos,  vinculada à ligação com Deus, torna-se fecundante e de vocação realizadora para a família. Ao contrário, torna-se sem  finalização na consecução de seu objetivo existencial, que repousa em Deus.  
Nessa perspectiva, a vocação da paternidade humana é realizadora quando preparada e assumida como verdadeira missão de amor. Não pode ser substituída apenas por um vínculo de geração física ou mesmo de relação adotiva por pura sensibilidade emocional, pragmática ou interesseira. Ser pai significa gerar um ser para uma vida realizadora, com relação amorosa, amiga, compreensiva, terna e promocional na vida humana transmitida e cuidada. Ser filho vem a ser a recepção da vida com gratidão, retribuição do amor, exercício do diálogo, da compreensão e da aceitação de um projeto existencial, com vontade de caminhar no mútuo apoio da ação paterna.  
O ser pai depende do ser da mãe para o exercício da paternidade, com a responsabilidade de ação de dois corações que se interagem para amar a criatura gerada por ambos. O amor mútuo e geracional do pai e da mãe fazem com que os filhos aprendam que o amor em profundidade é plural e complementar na conjugação do homem e da mulher. Assim  a filiação tem um amor plenificado pela masculinidade e feminilidade. A filiação adotiva encontra também esse eco ideal de amor no aprendizado de pai e mãe.  
Jesus, o Filho de Deus, sempre mostrou sua íntima relação de amor com o Pai, de modo especial com seus momentos de preces especiais com Ele em lugares apartados do povo. Ele quis mostrar também, de modo humano, sua ligação com a mãe e o pai adotivo, que sempre agiram em consonância com a vontade do Pai Deus. Desde antes do casamento com José, Maria se manifestou ao anjo com o desejo de cumprir o que Deus queria dela. Aceitou o casamento, para dar, à criança que teria, o aconchego do lar ideal para o filho.  
Mesmo na pluralidade atual de formação de famílias, não fica diminuída a família preparada com o ideal da vocação ao matrimônio, de acordo com o original do Criador. Aliás, esta é a família autêntica. Dentro dessa perspectiva, teremos uma sociedade de mais filhos saudáveis física, psíquica, social e espiritualmente. Assim formaremos melhor a família humana com os critérios já naturais de plena realização e, o que se dirá do enfoque sobrenatural do equilíbrio afetivo e realizador do Ideal que não se fixa apenas em interesses físicos e de objetivos menores e passageiros! A família humana, sem o transcendente de sua vocação, se animaliza e não é capaz de enxergar o sentido da mesma com sua plena realização!  

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A vocação de todos


Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
Jesus recomendou que rezássemos intensamente ao “Senhor da messe”, para que envie operários à sua messe (cf Lc 10,2). A oração pelas vocações e para os serviços da missão da Igreja deve ser constante, e não apenas em algumas ocasiões.
Entretanto, aqui no Brasil, o mês de agosto é dedicado à especial oração pelas vocações aos ministérios, serviços e a vida consagrada na Igreja. A falta ou a escassez dessas vocações tornaria difícil a realização da missão da Igreja. Por aí entendemos a insistência de Jesus: “pedi ao Senhor da messe...”
Mas o Concílio Vaticano II nos lembra, de maneira oportuna, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (cap. 5º), que todos os filhos da Igreja têm uma vocação em comum: a vocação à santidade. Esta vem do próprio batismo e da adesão de fé ao Evangelho. No final do sermão da montanha, tendo ensinado o caminho das bem-aventuranças e do verdadeiro culto que se deve prestar a Deus, Jesus recomenda: “sede, pois, perfeitos como também vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Deus nos chama “a sermos santos e imaculados diante dele no amor” (cf Ef 1,4). Esta santidade, mais do que uma conquista de nossos esforços, é um dom que já recebemos “de graça”, com o Batismo, quando nos tornamos “filhos de Deus”. A filiação divina e a comunhão com Deus são o “estado de santidade”, recebido graças à redenção realizada por Jesus Cristo.
Nós recebemos o Espírito Santo, ou “Espírito de santidade”, que nos capacita a levarmos vida santa; por isso os batizados, ajudados pela graça de Deus, devem cultivar a santidade recebida e crescer nela através das atitudes e comportamentos coerentes com esse dom. Devem viver “como convém a santos”, recomenda o Apóstolo (Ef 5,3). “Como escolhidos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de carinhosa compaixão, bondade, humildade, mansidão, longanimidade” (Cl 3,12), para, assim, produzir os “frutos do Espírito para a santificação” (cf.Gál 5,22).
Santidade e pecado continuam marcando nossa vida, enquanto estamos neste mundo. Somos marcados por fraquezas e sujeitos ao pecado e temos a necessidade de recorrer continuamente à misericórdia divina, pedindo o perdão. Isso, porém, não impede que cresça em santidade quem se renova na graça de Deus. Só não progride quem se entrega conscientemente aos caminhos do pecado e não os abandona.
Todos os cristãos, de qualquer estado de vida, são chamados a progredir na caridade e na plenitude da vida cristã. E a santidade do povo de Deus expande-se no meio da comunidade humana, com abundantes frutos de virtude. O verdadeiro santo nunca beneficia apenas a si mesmo, mas à inteira comunidade humana na qual está inserido. Por aí entendemos bem a palavra de São João Paulo II, em Florianópolis: “o Brasil precisa de muitos santos!”
As vocações, na Igreja, não são para suprir a “mão de obra” para a realização da missão, nem podem ser escolhas para passar comodamente a vida: são caminhos especiais de santificação e para a realização da única e básica vocação de todos os batizados: a santidade. As vocações autênticas são, ao mesmo tempo, animadas pelo desejo e a disposição para viver a santidade.
No mês de agosto, rezemos para ter uma consciência sempre mais clara da nossa altíssima vocação: ser santos. Havendo maior desejo e busca da santidade entre todos os batizados, também haverá mais vocações sacerdotais, religiosas, laicais e consagradas de todos os carismas.

Publicado em O São Paulo, ed. de 30.07.2014

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade.



Um pequena meditação sobre a festa da Transfiguração do Senhor
Por Vitaliano Mattioli

CRATO, 05 de Agosto de 2014 (Zenit.org) -
 No dia seis de agosto a Igreja celebra a festa da Transfiguração de Jesus. No Ocidente esta festa foi instituída pelo papa Calisto II no ano 1456 em memória da vitória de Belgrado sobre o Islã. Na transfiguração Jesus se manifesta aos seus três apóstolos em todo o esplendor da sua divindade. Qual foi o motivo? No mesmo capítulo (Mc 9, 31), Jesus fez o segundo anúncio da sua paixão. E por causa disso os apóstolos ficaram decepcionados. Jesus manifestou a sua divindade para encorajar e fortalecê-los no momento de sua paixão e morte.
Os apóstolos ficaram alegres e satisfeitos vendo Jesus resplandecente de luz. E por isso Pedro disse: “Jesus, é bom ficarmos aqui”. 
Uma primeira reflexão.  É verdade, é bom ficar com Jesus quando a nossa vida está no monte Tabor. Mas - pergunta - temos a mesma alegria e entusiasmo quando estamos no Monte das Oliveiras, isto é, quando se aproxima a hora da nossa paixão, quando, como Jesus, sentimos uma tristeza mortal? Pedro, que no monte Tabor queria ficar ali para sempre perto de Jesus transfigurado, agora, no Monte das Oliveiras não tem o mesmo entusiasmo e alegria para ficar perto de Jesus, mas dorme e Jesus fica só. 
É fácil ficar com Jesus quando em nossa vida tudo dá certo. Mas, quando vem a hora da tribulação temos a mesma alegria, coragem e fé para continuar com Jesus, e saborear o cálice amargo da paixão e não somente a luz do Tabor? Jesus nos concede a consolação para sermos fortes na hora das dificuldades, para sermos sempre fiéis a Ele quando nos chama a compartilhar o sofrimento da paixão. Só nesta fidelidade podemos dizer que amamos Jesus de verdade, e não somente as consolações de Jesus.    
Uma segunda reflexão. Mateus nos conta: “O rosto de Jesus brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (17, 2). Jesus nos doou um ensaio da sua divindade. Ele apareceu resplandecente de luz. Uma transformação semelhante acontece na pessoa batizada. Com o batismo Deus Trindade toma posse de sua criatura. Esta, espiritualmente falando, resplandece pela presença deste Deus. Deus nos comunica a sua beleza e a sua luz.
Nos primeiros séculos os neófitos eram chamados de “fotoi”, isto é, “iluminados”, evidenciando assim o resplendor de uma pessoa na qual habita Deus Trindade. A transfiguração de Jesus é uma antecipação da nossa transfiguração. A consequência é que também o nosso modo de viver deve ser transformado.
Um mote latino diz: “Agere sequitur esse”, isto é: “A maneira de agir deve ser conforme ao próprio ser”.. Nós cristãos temos que ser espiritualizados e transfigurados.  Também a nossa maneira de agir deve ser transfigurada. Em uma homilia na liturgia batismal o papa Leão Magno assim disse: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não volte aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus”.. Devemos realizar uma transfiguração continua. 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Vocacionados para a liberdade!

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)


O mês de agosto é destinado no Brasil para um reavivamento vocacional e uma sensibilização das diversas vocações que edificam a comunidade eclesial. É necessário descobrir a luz do lema da CF. 2014, que toda vocação cristã constitui um chamado para a liberdade e para tornar-se no mundo um sinal vivo da libertação integral do Reino que Jesus veio instaurar entre nós. Por isso a vocação leva sempre a plenitude o ser humano, colocando-o na trilha das bem-aventuranças, o caminho da verdadeira felicidade.
Num mundo guiado pelo pensamento único, que abriu mão das grandes causa sou das narrativas maiores, ser vocacionado é revelar o sentido da vida, tornar-se portador da pérola de infinito valor da graça divina.Ser vocacionado é romper com as amarras e fronteiras que limitam e não raro desviam a pessoa humana da trascendência e da comunhão com o Deus vivo.
Acertar na vocação é de veras a questão crucial e essencial da nossa vida, pois ilumina o projeto da existência dando um dimensionamento de eternidade a escolha realizada como um dom de Deus. Tudo isto reclama uma animação vocacional dinâmica e interpeladora e uma cultura vocacional onde o vocacionado possa fazer experiência do Deus de Jesus Cristo e aprender a segui-lo com todas as exigências e alegrias da amizade e intimidade com o Salvador. Todavia a vocação deve ser testada e passar pelo crivo da Igreja e pela inserção na realidade pastoral acuciante das multidões de irmãos pobres e desamparados que olham buscando compaixão e misericórdia pela parte dos cristãos. Vocação que faz gerar sempre a cultura do encontro e da solidariedade, renunciando ao egoísmo ou a emoções religiosas facilitadoras do que o Papa Francisco chama de "mundanismo espiritual".
Que nossas comunidades eclesiais possam renovar-se na vivência e comprometimento de serem e levarem a vocação sempre num patamar de doação, entrega e autenticidade seguindo a Cristo, o Bom Pastor que nos convoca para a liberdade plena. Deus seja louvado!

Tempestade e calmaria






Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba. 

A história dos povos sempre teve marcas relevantes de tempestades e calmarias. Mas não podemos descartar o nível de fé e de confiança na vida das pessoas. Entendemos “tempestade” como os diversos momentos de sofrimento, derrotas e insatisfações, seja pessoal ou social. A violência e a incapacidade de autodefesa não deixam de ser uma grande tempestade, chegando a enfraquecer a esperança.
Podemos interpretar a “calmaria” como a presença de Deus na vida. Ele proporciona segurança e capacidade, que favorecem atitudes de calma e serenidade nos momentos de tempestade. Faz com que as pessoas não deixem o “barco afundar” e conseguem ter equilíbrio na condução dos objetivos de vida. Deus está no ressoar da brisa mansa e no silêncio, dando segurança para os seus discípulos.
Estamos em tempo de correria, sintoma de tempestade, incapacitando as pessoas para a serenidade e a calma. Isto contribui para dificultar a perfeição e a normalidade das coisas. Deus nem sempre está nas coisas grandes e violentas. Não está na tempestade, mas acalma a tempestade, porque Ele é Deus da paz e da harmonia.
A cena bíblica de Jesus andando sobre as águas agitadas do mar da Galileia dá aos discípulos a impressão de um fantasma (Mt 14, 25-26), mas logo reconhecem a presença de uma força libertadora, porque Ele acalma a tempestade. As dificuldades não podem favorecer o medo na vida de quem tem fé em Deus, porque Ele é a confiança.
O mundo sofre os efeitos das tempestades da história. Estamos numa mudança de época e de princípios norteadores sendo totalmente esvaziados. Não só nas manifestações sociais, familiares e culturais, mas também no âmbito da natureza ecológica. A falta de água em São Paulo é reflexo de desequilíbrio provocado na natureza.
As periferias do mundo, as insatisfações sociais, a exclusão cada vez maior de pessoas, tudo isto revela a presença relevante de tempestade. Nesta realidade é fundamental enxergar a presença de Jesus Cristo como Aquele que é capaz de provocar calmaria em tempo totalmente tempestuoso e globalizado.

A construção da paz


Dom Murilo S.R. Krieger

Arcebispo de Salvador (BA)
O mundo assiste, estarrecido, a guerra no Oriente entre judeus e palestinos. De um lado, é constante o lançamento indiscriminado de foguetes por parte do Hamas e de outros grupos militantes palestinos contra Israel; de outro, é contínuo o bombardeio dos israelenses contra áreas palestinas, inclusive a centros civis, com mortes de centenas de crianças e de inúmeros cidadãos indefesos. Impotentes, parece que a única resposta que nos resta é a de procurar saber, à noite, numa conta macabra, qual o número de mortos naquele dia. É incrível, mas ainda não aprendemos as lições que nos deram nossos antepassados, que viveram guerras terríveis, nas quais morreram milhões de pessoas. Como é possível que estejamos repetindo os mesmos erros que eles cometeram? Como é que ainda não descobrimos os caminhos que nos levam à paz? Melhor: como construiremos alicerces sólidos e duradouros para a edificação da paz?
A História nos ensina que qualquer guerra é fruto da violação sistemática dos direitos humanos, e ela própria se torna causa de novas e mais graves violações. Além disso, sempre que nossos interesses particulares são colocados acima do bem comum, multiplicam-se as sementes da instabilidade, da revolta e da violência.
A dignidade da pessoa humana tem seu fundamento numa certeza: fomos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26-28). Compreende-se, pois, porque o nosso olhar deve estar orientado para Ele e para aqueles que, como nós, estão revestidos da dignidade humana. Os direitos humanos não foram conferidos por alguma instituição ou legislação; são apenas reconhecidos por elas. Como são inerentes a cada pessoa, ninguém pode ser privado deles. Isso seria uma violação de sua natureza.
Ao longo da História, toda vez que se esqueceu da verdade do ser humano, nasceram respostas que não resolveram os problemas encontrados e deram origem a novos, muitas vezes piores que os anteriores. Como esquecer – só para lembrar exemplos de um passado recente – o que nos trouxeram o nazismo, o fascismo e o marxismo? E o que dizer do consumismo atual, que coloca como objetivo último da vida a exaltação do indivíduo e a satisfação egocêntrica das aspirações pessoais?
O primeiro de todos os direitos é o direito à vida. Como a vida humana é sagrada, é preciso ter sempre presente o mandamento: "Não matarás!" Mas é também necessária uma atitude positiva frente à vida. Uma verdadeira cultura da vida tanto protege o direito de vir ao mundo a quem ainda não nasceu, como defende os recém-nascidos, os inválidos, os doentes e os idosos. Optar pela vida implica a rejeição de todas as formas de violência: a violência da pobreza e da fome; a dos conflitos armados; a da difusão das drogas e do tráfico de armas; a dos danos causados ao ambiente natural.
No coração dos direitos humanos está a liberdade religiosa. Ninguém pode ser obrigado a aceitar à força uma determinada religião. Cada pessoa tem direito de manifestar as próprias crenças. No entanto, há nações – Iraque e Síria, por exemplo - onde indivíduos, famílias e grupos são discriminados, marginalizados, perseguidos e expulsos por causa de sua fé cristã.
Cada cidadão tem o direito de participar na vida da própria comunidade, tomando parte nas decisões que lhe dizem respeito. Assim é que se constrói um sistema democrático. Esse direito ainda não foi reconhecido em todos os países. Mas também cada país tem o dever de respeitar os demais países. E, se houver discordâncias entre ambos, por que não buscar o diálogo? De que adianta uma ONU se voltamos a acreditar na força do tacape e no valor das bombas?...
A construção da paz exige de nós redobrados esforços e muita criatividade, ainda mais que a humanidade não a encontrará sem respeitar os direitos humanos. Sirvam-nos de incentivo na luta pela defesa desses direitos e, portanto, na conquista da paz, as palavras de Jesus Cristo: "Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!" (Mt 5,9).

Três quartos da população mundial estão sendo afetados por restrições e perseguições



A crise da liberdade religiosa

Por John Flynn, LC

ROMA, 04 de Agosto de 2014 (Zenit.org) - "Liberdade religiosa é liberdade humana", afirmou o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na segunda-feira passada, quando apresentou o Relatório Internacional sobre a Liberdade Religiosa relativo ao ano de 2013.
Nós temos uma longa jornada pela frente a fim de alcançar essa liberdade, acrescentou ele, considerando que 75% da população mundial vive em países que não a respeitam.
Kerry destacou que o relatório não significa que os Estados Unidos estejam "arrogantemente dizendo às pessoas no que elas têm que acreditar ou deixar de acreditar".
"Estamos pedindo apenas o valor universal da tolerância, da capacidade das pessoas de respeitarem a própria individualidade e as suas próprias escolhas", explicou.
O relatório afirma que, em 2013, o mundo experimentou "o maior deslocamento de comunidades religiosas de que se tem memória recente".
Estes acontecimentos afetaram milhões de pessoas, incluindo cristãos, muçulmanos e hindus, juntamente com seguidores de outras religiões.
A Síria recebe menção especial no texto: segundo o relatório, "a presença cristã está se tornando uma sombra do que já foi" naquele país.
Na cidade de Homs, por exemplo, a comunidade cristã se reduziu de cerca de 160.000 para aproximadamente 1.000 pessoas.
Na República Centro-Africana, a guerra civil e o conflito entre cristãos e muçulmanos causaram pelo menos 700 mortes e o deslocamento de mais de um milhão de pessoas.
As ameaças à liberdade religiosa assumem uma série de formas, que vão desde a criminalização da expressão religiosa até a proibição de conversões, e desde os onerosos registros de organizações religiosas até as leis de blasfêmia.
Nem tudo está ruim
O relatório também menciona progressos. Por exemplo, depois do ataque a bomba contra uma igreja em Peshawar, no Paquistão, os membros da comunidade muçulmana formaram correntes humanas ao redor das demais igrejas durante os cultos, a fim de protegê-las. O mesmo aconteceu no Egito, onde muçulmanos defenderam uma igreja católica.
Estes exemplos, no entanto, se destacam como exceções no curso normal dos acontecimentos. O relatório aponta os abusos de uma série de países como particularmente flagrantes.
A lista inclui a Coreia do Norte, a Arábia Saudita, o Irã, o Paquistão, o Sudão, a China e Cuba.
Na Coreia do Norte, toda a atividade religiosa é severamente restrita e quem não obedece às leis é tratado com violência ou até condenado à morte.
No Egito, durante o período de 14 a 17 de agosto de 2013, pelo menos 42 igrejas foram atacadas, bem como escolas, orfanatos e outras instalações cristãs. O relatório acusou o governo de não impedir, não investigar ou não processar os crimes cometidos contra as minorias religiosas. Também há uma recusa geral das autoridades de reconhecer conversões religiosas em documentos legais. Há discriminação contínua contra as minorias religiosas nos cargos do setor público e em posições nas universidades públicas.
No Paquistão, as leis da blasfêmia estão sendo usadas ​​para discriminar a comunidade muçulmana ahmadi e outros grupos religiosos. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, foram registrados 34 novos casos ligados às leis de blasfêmia durante o ano de 2013. Pelo menos uma sentença de morte por blasfêmia foi anulada durante o ano, mas 17 pessoas aguardam a execução por blasfêmia e pelo menos outras 20 pessoas cumprem penas de prisão perpétua pela mesma acusação.
As autoridades condenaram os ataques contra muçulmanos xiitas e cristãos, mas o relatório afirma que elas "geralmente não tomam as medidas necessárias para responsabilizar os executores dos ataques".
Houve ainda inúmeros relatos sobre agentes policiais que abusam de membros de minorias religiosas e de pessoas acusadas de blasfêmia que estão sob a sua custódia.
De acordo com o código penal do país, a liberdade de expressão está sujeita a "restrições razoáveis ​​no interesse da glória do Islã".
Controles rígidos
O Departamento de Estado norte-americano acusa o governo da China de não respeitar os seus compromissos internacionais no tocante aos direitos humanos. Além de rígidos controles sobre a atividade das igrejas, também há restrições a instituições de caridade vinculadas a alguma fé religiosa.
Padres católicos continuam sendo detidos, particularmente na província de Hebei, e há perseguição contínua contra bispos e sacerdotes não registrados pelo governo.
O Tajiquistão é um país que normalmente não aparece nas manchetes, mas o relatório observou que é o único país do mundo em que a lei proíbe menores de 18 anos de idade de participar de atividades religiosas públicas. Além disso, as mulheres muçulmanas são impedidas de frequentar mesquitas no país.
O conflito em andamento na Nigéria, por sua vez, é bem conhecido mundo afora. De acordo com o relatório, o grupo extremista Boko Haram matou em 2013 mais de 1.000 pessoas. Tanto cristãos quanto muçulmanos foram alvos, muitas vezes durante cerimônias religiosas ou imediatamente depois delas.
O governo federal nigeriano tem sido ineficaz para impedir ou reprimir a violência, observa o relatório, e só ocasionalmente investiga, processa ​​ou pune os responsáveis.
Severas restrições à liberdade religiosa continuaram em vigor no ano passado na Coreia do Norte. As pessoas que tiveram contato com missionários estrangeiros foram submetidas a severas punições, incluindo a pena capital.
O relatório apontou a dificuldade em se obter informação sobre o que está acontecendo no país, mas os relatórios de meios de comunicação sul-coreanos e de grupos independentes destacam a existência de controles extremos da liberdade religiosa, além de um número desconhecido de presos e de pessoas executadas por “crimes” como a simples posse de uma bíblia.
O relatório abrange apenas os eventos ocorridos até o final de 2013. Desde então, porém, é necessário destacarmos todos os atuais acontecimentos em partes da África e no Oriente Médio, particularmente no Iraque. Relatórios como este fornecem informações valiosas, mas a questão que permanece é sempre a mesma: será que alguma coisa vai ser feita para se garantir um maior respeito pela liberdade religiosa?

domingo, 3 de agosto de 2014

O Padre, vocação de amor e liberdade

 Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos
Neste primeiro domingo de agosto celebramos iniciando o mês vocacional, o chamado a ser padre. Foram-se os tempos que as famílias se sentiam agraciadas e muito honradas de ter um sacerdote entre os seus membros.
A sociedade valorizava e defendia com afã sincero e arraigado os seus ministros sagrados, pensando certamente na sua proteção e projeção de eternidade. Hoje, estamos numa sociedade secularizada, num mundo pós-cristão e talvez sem transcendência, um mundo neutro e muitas vezes hostil para os sacerdotes. No entanto o que vemos detrás das idolatrias e da busca desenfreada de bens efêmeros éa nostalgia e a saudade de Deus. Hálugar para o Padre neste mundo? 
Certamente que sim, porque Deus énecessário, porque todas as pessoas clamam sedentas por um amor que não passa, por conhecer a verdadeira felicidade. Por isso o Padre embora não paparicado como antes éum sinal vivo do que estamos a procurar e não encontramos nas prateleiras midiáticas ou nos Shoopings Centers,ele é a referência do absoluto e do sentido das coisas.
Ele é testemunha do essencial, do bom, do belo e do verdadeiro anunciando a pérola de infinito valor: Jesus Cristo.
Que alegria encontrar-se com um Padre que entusiasmado nos coloca na perspectiva do Reino, que nos fascina com as Palavras de Cristo e nos oferece o próprio Cristo na Eucaristia. Quesempre tem tempo para uma conversa, para curar as nossas feridas e nos dar o perdão em nome de Deus. Um irmão entre os irmãos e Pai para todos/as, especialmente dos pobres e desamparados, dos quais ele éo advogado, amigo e defensor incondicional. Num mundo frio, calculista, e por certo líquido temos num Padre a pessoa cujo coração bate em sintonia ao Coração de Jesus, sentimos perto dele o bálsamo e o óleo da misericórdia, da compaixão e do amor que sempre acolhe.
Hoje sem dúvida como em todas as épocas precisamos de padres, porque são indispensáveis, eles sempre estão a nos acompanhar num momento do ciclo da vida, desde o berço atéo túmulo, compartilhando conosco os momentos de alegrias e as perdas, trazendo sempre a presença e a benção de Deus. Gostaria neste ano jubilar de prata afirmar com todas as letras de alto e bom tom, que éuma grandiosa aventura e maravilha ser padre, se mil vezes eu nascesse voltaria com o mesmo entusiasmo ao seminário, para ser somente e unicamente um padre. Deus seja louvado!

Compaixão, partilha, eucaristia"

Palavras do Papa durante o Angelus do domingo 3 de Agosto
Por Redacao

ROMA, 03 de Agosto de 2014 (Zenit.org) - 
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste domingo, o Evangelho nos apresenta o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14, 13-21). Jesus o realizou no Mar da Galileia, em um lugar isolado, onde tinha se retirado com seus discípulos depois de saber da morte de João Batista. Mas muitas pessoas os seguiram e os encontraram; e Jesus, vendo-os, teve compaixão e curou os enfermos até o entardecer. Então, os discípulos, preocupados com a hora tardia, aconselharam-no ignorar as multidões para que pudessem ir as aldeias buscar o que comer. Mas Jesus, tranquilamente, respondeu: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Mt 14, 16); e levando-lhe cinco pães e dois peixes, abençoou-os e começou a partí-los e dá-los aos discípulos, que os distribuíram às pessoas. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e até mesmo sobrou!
Neste acontecimento podemos ver três mensagens. A primeira é a compaixão. Diante da multidão que vai atrás dele e – por assim dizer – “não o deixa em paz”, Jesus não reage com irritação, não diz: "Essas pessoas me incomodam". Não, não. Mas reage com um sentimento de compaixão, porque sabe que não o procuram por curiosidade, mas por necessidade. Mas vejamos: compaixão - o que sente Jesus - não é simplesmente sentir pena; é mais! Significa com-patire, ou seja, identificar-se com o sofrimento dos outros, a ponto de sofrê-los também. Assim é Jesus: sofre conosco, sofre junto conosco, sofre por nós. E o sinal dessa compaixão são as muitas curas realizadas por ele. Jesus nos ensina a colocar as necessidades dos pobres antes das nossas. As nossas necessidades, embora legítimas, não serão nunca urgentes como aquelas dos pobres, que não têm o necessário para viver. Nós falamos muitas vezes dos pobres. Mas, quando falamos dos pobres, sentimos que aquele homem, aquela mulher, aquelas crianças não têm o necessário para viver? Quem não tem nada para comer, não tem o que vestir, não tem a possibilidade de remédios... que também as crianças não têm a oportunidade de ir à escola? E por esta razão, as nossas necessidades, embora legítimas, nunca serão tão urgentes como aquelas dos pobres que não têm o necessário para viver.
A segunda mensagem é a partilha. A primeira é a compaixão, aquela que Jesus sentia, a segunda a partilha. É útil confrontar a reação dos discípulos diante das pessoas cansadas e famintas, com aquela de Jesus. São diferentes. Os discípulos pensaram que era melhor manda-los embora, para que pudessem procurar alimento. Jesus, em vez disso, disse: dai-lhes vós mesmos de comer. Duas reações diferentes, que refletem duas lógicas opostas: os discípulos pensam de acordo com o mundo, onde cada um deve pensar em si mesmo; pensam como se dissessem: “Se virem sozinhos”. Jesus pensa com a lógica de Deus, que é aquela da partilha. Quantas vezes olhamos para o outro lado com tal de não ver os irmãos necessitados! E esse olhar para outro lado é um modo educado de dizer, com luvas brancas, “Se virem sozinhos”. E isso não é de Jesus: isso é egoísmo. Se tivesse mandado embora as multidões, muitas pessoas teriam ficado sem comer. Pelo contrário, aqueles poucos pães e peixes, compartilhados e abençoados por Deus, foram suficientes para todos. E atenção! Não é uma magia, é um “sinal”: um sinal que convida a ter fé em Deus, Pai providente, que não nos deixa faltar o “nosso pão de cada dia”, se nós o sabemos compartilhar como irmãos.
Compaixão, partilha. E a terceira mensagem: o milagre dos pães anuncia a Eucaristia. Isto pode ser visto no gesto de Jesus que "recitou a bênção" (v. 19), antes de partir os pães e distribuí-los ao povo. É o mesmo gesto que fará Jesus na Última Ceia, quando vai instituir o memorial perpétuo do seu Sacrifício redentor. Na Eucaristia, Jesus não dá um pedaço de pão, mas o pão da vida eterna, dá a Si mesmo, oferecendo-se ao Pai por amor a nós. Mas nós temos que ir à Eucaristia com aqueles sentimentos de Jesus, ou seja, a compaixão e aquela vontade de compartilhar. Quem vai à Eucaristia sem ter compaixão dos necessitados e sem compartilhar, não se encontra bem com Jesus.
Compaixão, partilha, Eucaristia. Este é o caminho que Jesus nos mostra neste Evangelho. Um caminho que nos leva a encarar com fraternidade as necessidades deste mundo, mas que nos leva para além deste mundo, porque vem de Deus Pai e volta para Ele. A Virgem Maria, Mãe da divina Providência, nos acompanhe neste caminho.