Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 08 de Agosto de 2014 (Zenit.org)
- "Filipe disse: 'Senhor, mostra-nos o Pai,
isso nos basta'. Jesus respondeu: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não
me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o
Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que
eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim,
realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao
menos, por causa destas obras" (Jo 14, 8-11). Bendita seja a aparente
ingenuidade de Filipe, desejando ver o Pai. Daqui parte nossa reflexão para o
dia dos pais, comemorado no segundo domingo de agosto, quando a Igreja Católica
no Brasil inicia também a Semana da Família. Torna-se ainda mais oportuno
abordar este tema pela proximidade da Assembléia Extraordinária do Sínodo dos
Bispos a respeito da família.
A vocação dos homens que se fazem pais tem a sua origem da paternidade do
próprio Deus, sabendo inclusive que se aprende mais sobre família e sobre as
relações entre as pessoas olhando para o alto, para a Santíssima Trindade.
Paternidade, filiação, fraternidade criatividade, todas as desejáveis
características das pessoas, podem encontrar no próprio Deus sua fonte! E
permitam-me todos os pais envolvê-los na voragem de amor que é a vida divina,
convidando-os a abrirem o coração e redescobrirem sua vocação e sua missão na
família e na sociedade.
Queridos pais, todos vocês foram e são filhos! Ninguém é fonte absoluta de
uma família. Desejo-lhes a capacidade de olhar para trás e identificar o melhor
que possa existir na história de sua família. Há valores que passam de geração
em geração e a dignidade de sua família não se encontra apenas no nome, sem
dúvida importante, mas nas coisas boas de que vocês são guardiães. Vocês podem
entrar em seu próprio coração, recolhendo, como a criança que existe em cada um,
as boas sementes transmitidas pelos antepassados. Por falar em nome, já
perceberam que são vocês que o conservam e transmitem às gerações sucessivas?
Sejam pois, dignos de manter acesa este facho aceso da dignidade das
gerações!
Dentre os muitos tesouros que lhes foram confiados, é proprio da missão
paterna ser a referência de autoridade na família. Autoridade e não
autoritarismo! E autoridade verdadeira vem de dentro, a partir de convicções
claras e objetivos a serem alcançados. Chama atenção a força com que Jesus
Cristo, nosso Senhor e Salvador, se faz presente em momentos críticos da vida de
seus discípulos. Numa travessia do Mar da Galileia (Cf. Mt 14, 22-33), barca
agitada pelas ondas, vento contrário, homens medrosos que veem Jesus caminhando
sobre as águas e pensam estar diante de um fantasma. "Coragem! Sou eu! Não
tenhais medo!" É tempo de pedir a Deus, na comemoração do dia dos pais, que a
força viril dos que receberam esta vocação seja restaurada em nossas famílias.
Redescubram a coragem para ajudar a família na superação do medo dos fantasmas!
Sejam capazes de discernir entre o vento, os terremotos e o fogo (Cf. 1 Rs 19,
9-13), ajudando a identificar o murmúrio da brisa leve em que o Senhor Deus se
manifesta. Brote dos lábios e do coração de todos os pais de família,
sustentados no mar na vida pelas mãos firmes do Senhor Jesus, a profissão de fé
a ser renovada no domingo dos pais: "Verdadeiramente, tu és o filho de Deus" (Mt
14, 33). Afinal, são adultos estes que realizam uma missão de tamanha
importância. Deles pedimos um sinal que nos ajude a firmar a confiança no
Senhor.
Mas para chegar ao discernimento pedido aos pais de família, devem estes
tirar o tempo necessário para, como o profeta Elias (Cf. 1 Rs 19, 9-10), orar
confiantemente em nome da própria família. Proponho, por ocasião do dia dos
pais, que as refeições nas casas sejam abençoadas com uma oração feita pelo pai:
"Senhor Deus, que conservais tudo o que criastes e não deixais de conceder
aos vossos filhos o alimento necessário, nós vos agradecemos por esta mesa
fraterna, preparada para alimentar e fortalecer o nosso corpo; nós vos rogamos
que também nossa fé, sustentada com a vossa palavra, cresça pela busca constante
do vosso Reino. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!" Esta oração pode ser feita
sempre às refeições, confiando-a cada dia a um dos membros da família.
Entretanto, a oração silenciosa, feita pelo pai de família, com confiança total
no Pai do Céu, com o qual lhe foi dada a graça de partilhar a responsabilidade
pelo lar, não pode faltar. Só assim terá forças necessárias para enfrentar as
muitas tormentas do caminho.
Durante muitos séculos, o pai de família foi considerado como o suficiente
provedor das necessidades de todos. As esposas assumiam a educação dos filhos e
as tarefas domésticas. Mudam os tempos, as mulheres também têm atividades
laborativas fora de casa, as tarefas são compartilhadas e a responsabilidade
abraçada a dois. No entanto, valha hoje um apelo aos pais de família justamente
pela sua missão ligada ao trabalho. Faz parte da dignidade do ser humano ganhar
o pão com o suor do próprio rosto, mesmo quando seu trabalho não for
prioritariamente ligado ao esforço físico. Gratidão a Deus providente que
permite aos pais levarem o necessário à família e à sustentação dos filhos.
Apreensão diante das múltiplas dificuldades existentes para que o trabalho seja
adequadamente remunerado e até para que haja postos de trabalho para toda a
população. Oração fervorosa, para que aos pais sejam dadas estas condições
indispensáveis.
A missão dos pais de família pode se expressar no pedido feito por Filipe,
cuja ingenuidade agradecemos. Queridos pais, queremos que saibam ser nosso
interesse apenas uma coisa, que vocês nos mostrem "o Pai". Sejam de tal forma
parecidos com o Pai do Céu, que trabalha sempre! Ajudem-nos a chamar o Pai de
Jesus de "Pai Nosso", ensinando-nos a rezar cada parte da oração que brotou de
seu coração para ser entregue a nós. Sejam transparência do amor de Deus, tão
infinito que se faz pequeno e próximo de cada filho. Sejam para suas esposas
companheiros fiéis, amigos afetuosos, como Deus os pensou. Contamos com a
firmeza de vocês e, quando esta lhes faltar, saibam que a Igreja reza por vocês
e quer sustentá-los na tarefa exigente e gratificante que lhe foi entregue.
Obrigado por vocês serem testemunhas da Providência de Deus para as famílias!
Confiem nesta Providência para todos os passos a serem dados na vida! Saibam
valorizar as rugas, os achaques da idade, o cansaço, para muitos a calvície ou
os cabelos brancos. Tudo encontre seu sentido na entrega alegre da vida, com a
qual vocês constroem a própria dignidade e felicidade. Deus os
abençoe!