segunda-feira, 28 de abril de 2014

Época de canonizações


Caros diocesanos. No mês de junho de 2013 escrevemos diversas mensagens sobre o Culto dos Santos e nos damos conta que a celebração dos santos começou lentamente na Igreja, primeiramente ligada aos mártires, e depois foi se alargando. O culto era cristocêntrico, com características de louvor, de alegria, de vitória, de esperança. Cristo é o centro do culto; os santos, discípulos coerentes. A transladação das relíquias iniciou a universalização do culto e motivou mudanças no sentido teológico. 
Os santos e santas relacionados no calendário da Igreja católica (beatificados e canonizados) não são os únicos que participam da santidade de Deus, mas neles a Páscoa eterna já se tornou uma realidade plena: nasceram (dies natalis) para a nova e eterna vida com Deus. Através deles, Deus é glorificado e a Igreja é santificada, atingindo sua vocação mais profunda. Deus, no seu infinito amor, quis a pessoa humana participante de sua santidade, criando-a segundo sua imagem e semelhança. Assim se estabelece o sonho de Deus e a vocação fundamental do ser humano: tornar-nos filhos, santos como Ele é santo (1Pd 1, 16). A santidade, portanto, entendida como chamado para identificação com Deus, em Jesus Cristo, é o desafio maior de todos nós. Em meio à situação de santo e pecador, o ser humano vive um processo contínuo de santificação.

Assim, podemos dizer que o santo não é uma exceção, mas modelo de um processo normal de vida cristã. Uma vida cristã que tem o desfecho coerente diante da obra da salvação de Cristo: “A santidade, pois, não é um luxo, uma exceção, um privilégio de alguns. É uma vocação de todo cristão” (A. Burin). Isto é motivo de júbilo, de vitória, de esperança, de louvor a Deus. Portanto, a vocação à santidade não é apenas para aqueles e aquelas que praticam “virtude em grau heróico” e são elevados aos altares, como modelos e intercessores oficiais, mas para todos os batizados em Cristo. O Concílio Ecumênico Vaticano II, através da Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), nos lembra: “Um é o povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só fé, um só batismo’ (Ef 4, 5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração 
em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição... Se, pois, na Igreja nem todos seguem o mesmo caminho, todos, no entanto, são chamados à santidade e receberam a mesma fé pela justiça de Deus (2Pdr 1,1)” (LG 32).
Como pudemos perceber, o santo é um sinal que aponta para a identidade da própria Igreja, chamada a ser santa (Ef 2, 19-22; LG 39), graças aos méritos de Jesus Cristo. Tendo presente esta reflexão, a Igreja vive um tempo de feliz anúncio de canonizações: Santos João XXIII, João Paulo II e José de Anchieta. Neles a santidade de Deus pôde refulgir, tornando realidade em sua vida o mistério pascal do Senhor. Os primeiros, em seus pontificados e testemunhos pessoais exemplares; o segundo, como Apóstolo do Brasil: figura importante da cultura de nosso país, aproximando a fé cristã dos nativos da terra, ou seja, lançando os fundamentos da catequese em nosso país e, por que não dizer, dos valores cristãos de nossa Nação. Os novos canonizados inspirem nossa vida cristã, nos encoragem e intercedam por nós: “Nos vossos santos e santas ofereceis um exemplo para a nossa vida, a comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda” (Prefácio dos Santos I). Somos todos convidados à santidade, caminho normal dos discípulos missionários, pois ela faz parte do ser Igreja: “A santidade não é fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso, tampouco abandono da realidade urgente dos grandes problemas... e muito menos fuga da realidade para um mundo exclusivamente espiritual” (DAp 148). Que as canonizações dos últimos tempos incentivem a busca da santidade em nossa vida.
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

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