quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Visitar os doentes.





Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

A doença nos mostra o quanto somos limitados. A busca da saúde e a preocupação com a dignidade da assistência fazem parte de nossa faina e de nosso próprio instinto. Diante de tantas circunstâncias e situações, a Pastoral dos Enfermos é uma presença da Igreja em todos os âmbitos ligados a esta situação. É o anúncio de que Deus está presente em nossa vida, de maneira especial nesse momento de fragilidade em que aprendemos a trabalhar de um outro modo e a ser mais contemplativo, além do esforço de arrancar o mal pela raiz. É o que celebramos na Unção dos Enfermos. Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve. Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo, e contribuam para o bem do povo de Deus.

O Sacramento da Unção dos Enfermos, que podemos receber mais de uma vez quando passamos por doenças graves que necessitam de cuidados, é essa presença de fé e esperança nesse momento da vida. Costuma-se, na celebração, o padre dar ao doente o Sacramento da Confissão, com o propósito de o doente também arrepender-se de seus pecados e viver esse momento na graça de Deus.
Um importante requisito para a realização do Sacramento é a vontade do doente em querer recebê-lo. A família pode aconselhá-lo, chamar o padre a casa dele e propor o Sacramento, mas sem impô-lo ao doente. Recebido com fé, o Sacramento dará muitos frutos e graças.
Jesus sempre teve um grande carinho pelos doentes. Quando os judeus os desprezavam, porque consideravam a doença um castigo de Deus, Ele os acolhia com amor e os curava. “E passando, Jesus viu um cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele nem seus pais, mas foi para se manifestarem nele as obras de Deus” (Jo 9, 1-3). Jesus quis que aqueles que o acompanhavam continuassem sua missão, por isso deu a seus discípulos o dom da cura. “Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6, 12s). O Senhor ressuscita e renova este envio e confirma, através de sinais realizados pela Igreja, ao invocar seu nome: "Quando colocarem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados" (Mt 16, 18).
Para aprofundar este tema é que temos a oportunidade de viver mais um Dia Mundial do Doente. Ele foi instituído por São João Paulo II em 1992, e é celebrado, anualmente, em 11 de fevereiro, na festividade de Nossa Senhora de Lourdes. Em nossa Arquidiocese, além da celebração na Basílica de Lourdes, teremos missa especial em hospitais de cada Vicariato com os agentes da pastoral, doentes, familiares, médicos, enfermeiros e funcionários para aprofundar esta proximidade da Igreja junto àquele que sofre.
Para reflexão desse dia, a Santa Sé divulgou, no dia 30 de dezembro de 2014, a mensagem do Papa Francisco para esse XXIII Dia Mundial do Doente.
O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (29,15). O Papa Francisco encoraja a fazer esta meditação na perspectiva da “sapientia cordis”, ou seja, da sabedoria do coração, e frisa que sabedoria do coração significa servir o irmão. Com efeito, as palavras de Jó evidenciam o serviço aos necessitados – insiste o Papa –, recordando aqui as pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar, vestir e alimentar.
Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz nem de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! – exclama o Papa. Em tais momentos, pode-se contar, de modo particular, com a proximidade do Senhor, sendo, também, de especial apoio a missão da Igreja – escreve o Papa –, que continua: sabedoria do coração é sair de si para ir ao encontro do irmão.
Às vezes, o nosso mundo se esquece do valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesi do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás dessa atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz: “a Mim mesmo o fizestes”. Por isso, o Papa Francisco recorda uma vez mais a “absoluta prioridade da ‘saída de si próprio’” para se pôr ao serviço do irmão necessitado.
Na mensagem, o Papa Francisco fala das sabedorias: 1- Sabedoria do coração; 2- Sabedoria do coração é servir o irmão; 3- Sabedoria do coração é estar com o irmão; 4- Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão; 5- Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem julgá-lo.
Ao concluir a mensagem, o Papa Francisco se remete a Maria Santíssima, pois foi ela que acolheu em seu ventre a Sabedoria Encarnada, que é Jesus Cristo, e depois recitou uma prece: “Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração”.
Temos um belo serviço de visita aos enfermos, que vejo com alegria que cada vez melhor se organiza. Agradeço a Deus e a tantos irmãos do clero que se desdobram em ser essa presença. Convido outros irmãos e irmãs para que se associem nessa missão evangelizadora e importantíssima, seja nas visitas aos hospitais, seja nas residências. Eu mesmo gostaria de ter mais possibilidade de ter essa presença, e, quando consigo, agradeço a Deus, como pude fazer algumas vezes durante a Trezena de São Sebastião.
Este é um convite que faço a todos os arquidiocesanos, para que, neste Ano da Esperança Cristã, levemos a esperança que é Cristo para os que estão nos leitos hospitalares, ou em suas residências presos a uma cama, enfermos. Tenho visto muitos exemplos e sinais dessa presença.
Que a luz divina do Cristo Ressuscitado brilhe nos corações de todos os enfermos e nas suas famílias. Que Maria Santíssima, Auxiliadora dos Cristãos, Mãe dos Enfermos e Consoladora dos Aflitos nos ensine a aceitar o caminho do sofrimento guiado pela Palavra de Deus, que nos anima e nos guia ao do Cristo Redentor! 

Nós, os doentes


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)

Hoje, dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes, se comemora também o Dia Mundial do Enfermo, porque, em Lourdes, na França, milhares de enfermos de todos os países e continentes ali vão para pedir a cura e a consolação, pela intercessão de Nossa Senhora, que a muitos tem curado e a todos consolado. Muitos milagres de cura ali acontecem. Mas os maiores milagres em Lourdes são as conversões dos milhares de pecadores.

Jesus, durante a sua vida pública, curou alguns, mas não curou todos os doentes do seu tempo. Porque para alguns Deus quer que se salvem e façam o bem com a saúde; outros, com a sua doença. A doença pode ser uma graça de Deus. O mais importante é a cura da alma.
Em sua mensagem para o XXIII Dia Mundial do Doente, neste ano, o Papa Francisco se dirige a todos os que carregam o peso da doença e aos profissionais e voluntários da saúde.

“O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: ‘Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo’ (29, 15). Gostaria de o fazer na perspectiva da ‘sapientia cordis’, da sabedoria do coração”.
“Sabedoria do coração é servir o irmão. No discurso de Jó que contém as palavras ‘eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo’, evidencia-se a dimensão de serviço aos necessitados por parte deste homem justo... Também hoje quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras, mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser ‘os olhos do cego’ e ‘os pés para o coxo’! Pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar, vestir e alimentar. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! Em tais momentos, pode-se contar de modo particular com a proximidade do Senhor, sendo também de especial apoio à missão da Igreja”.
“Sabedoria do coração é estar com o irmão. O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão’ (Mt 20, 28). Foi o próprio Jesus que o disse: ‘Eu estou no meio de vós como aquele que serve’ (Lc 22, 27)”.
“Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão. Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesim do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro”.
“Mesmo quando a doença, a solidão e a incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e fonte para adquirir e fortalecer a sapientia cordis”.