sábado, 30 de novembro de 2013

Pensar com a cabeça, mas também com o coração e com o Espírito



Francisco recorda que o Espírito Santo nos dá a inteligência para entender por nós mesmos e não com base no que os outros nos dizem
Por Redacao

ROMA, 29 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - O cristão pensa de acordo com Deus e rejeita o pensamento fraco e uniformista, destacou o santo padre na missa de hoje, celebrada na Casa de Santa Marta. O papa afirmou que, para entender os sinais dos tempos, o cristão não deve pensar somente com a cabeça, mas também com o coração e com o Espírito, que vive dentro dele.  Sem isso, não poderia compreender "a marca de Deus na história".
O papa focou na ideia de que Cristo ensina os seus discípulos a compreender os "sinais dos tempos", sinais que os fariseus não conseguiram entender. Francisco fez referência ao evangelho de hoje para falar do "pensar cristão".
O santo padre explicou que, "no evangelho, Jesus não se irrita, mas, quando os discípulos não entendem as coisas, como os de Emaús, ele fala: 'Insensatos e lentos de coração!'. 'Insensatos e lentos de coração!'... Quem não entende as coisas de Deus é uma pessoa assim. Jesus quer que entendamos o que acontece: o que acontece no meu coração, o que acontece na minha vida, o que acontece no mundo, na história... O que significa quando acontece isso? Estes são os sinais dos tempos! Mas o espírito do mundo nos faz outras propostas, porque o espírito do mundo não nos quer como um povo: ele nos quer como massa, sem pensamento, sem liberdade".
O espírito do mundo, destacou Francisco, "quer que o nosso caminho seja o da uniformidade", mas, como diz São Paulo, "o espírito do mundo nos trata como se não tivéssemos a capacidade de pensar por nós mesmos, nos trata como pessoas que não são livres".
Para aprofundar nesta ideia, o santo padre falou de um "pensamento uniforme, pensamento igual, pensamento fraco, pensamento difuso. O espírito do mundo não quer que nos perguntemos diante de Deus: 'Mas por que isso, por que aquilo, por que acontece isso? Ou nos propõe um pensamento prêt-à-porter, de acordo com os gostos pessoais: 'Eu penso do jeito que eu quero'. Isso é bom, dizem eles... Mas o que o espírito do mundo não quer é o que Jesus nos pede: o pensamento livre, o pensamento de um homem e de uma mulher que fazem parte do povo de Deus. E a salvação foi precisamente esta! Pensem nos profetas... 'Tu não eras meu povo, mas agora te chamo de meu povo’: assim diz o Senhor. E esta é a salvação: nos tornar povos, povos de Deus, ter liberdade".
Jesus nos pede pensar livremente, pensar para entender o que acontece, acrescentou o santo padre. E a verdade é que "sozinhos não somos capazes! Precisamos da ajuda do Senhor". Precisamos dele "para entender os sinais dos tempos. O Espírito Santo nos dá esse presente, um dom: a inteligência para entender por nós e não porque outros nos digam o que acontece”.
Francisco perguntou: "Qual é o caminho que Cristo quer?". E respondeu: "O espírito de inteligência para entender os sinais dos tempos. É bonito pedir a Jesus esta graça: que ele nos envie o seu espírito de inteligência, para não termos um pensamento fraco, para não termos um pensamento uniforme e para não termos um pensamento determinado pelos nossos gostos: para só termos um pensamento de acordo com Deus. Com este desejo, que é um dom do Espírito, vamos procurar o que significam as coisas e entender bem os sinais dos tempos".
Para terminar a homilia, o papa destacou que "esta é a graça que devemos pedir ao Senhor: 'a capacidade que o Espírito nos dá' para 'entender os sinais dos tempos'”.

Alegria do Evangelho



Reflexões do arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo

BELO HORIZONTE, 29 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - O Papa Francisco define ainda mais nitidamente o horizonte norteador da Igreja Católica neste tempo com a sua recém-publicada Exortação Apostólica, intitulada “A alegria do Evangelho”.  Obviamente, trata-se de uma exortação que nasce da “escuta”, na dinâmica da vida da Igreja e do que é próprio da graça de Deus. O Papa Francisco, com frescor próprio do coração de pastor enraizado no chão latino-americano, reaviva, com singularidades, a recuperação de sentidos genuínos na vivência do Evangelho. O conhecimento da Exortação do Papa é determinante na compreensão e no tratamento do mais importante desafio da Igreja Católica na contemporaneidade: a insubstituível tarefa de anunciar o Evangelho no mundo atual.
Ao falar sobre alegria, um capítulo determinante da vida e um interesse comum a todos os corações, é imprescindível compreender que o Evangelho de Jesus Cristo não é um simples conjunto conceitual alternativo para aprendizagem, ou simples referência quando necessário. A alegria do Evangelho é duradoura.  Enche o coração dos que, no cotidiano, vivenciam a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria que não é como muitas outras, que seduzem, mas são passageiras e não têm força para resgatar o vazio interior, o isolamento e a tristeza. O Papa Francisco adverte que o grande risco do mundo contemporâneo, com a oferta múltipla e opressora de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração acomodado e avarento, da busca doentia de prazeres superficiais.
Não é possível encontrar uma alegria verdadeira e duradoura quando a vida interior se fecha nos seus próprios interesses. Isto impede a escuta de Deus e faz morrer o entusiasmo de se fazer o bem. Um risco que, sublinha o Papa Francisco, pode atingir também aos que creem e praticam a fé. Um cenário que pode ser constatado quando são encontradas pessoas descontentes, ressentidas, amargas e incapacitadas para cultivar sonhos e projetos, necessários para conduzir a vida na direção da sua estatura própria de dom de Deus. A alegria, necessidade natural do coração humano, expressão de vida vivida com dignidade, vem com o anúncio, conhecimento, experiência e testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.
A Igreja, que tem a missão de promover a experiência dessa alegria duradoura tem que estar em movimento, isto é, sempre a caminho. Cada membro, tomando a iniciativa de sair e ir ao encontro, deve renunciar às comodidades e acolher o desafio da mudança, da renovação, numa atitude permanente de conversão. É preciso ter coragem de mudar, de ousar novas respostas, em todos os campos da sociedade, dinâmicas e projetos. No caminho contrário, corre-se o risco de se tornar um instrumento inócuo no serviço e no anúncio da fonte inesgotável dessa alegria.
Por isso, diz o Papa Francisco, a Igreja está desafiada por uma exigência de renovação improrrogável. Para se adequar a esta necessidade, é preciso reconhecer os muitos desafios postos pelo mundo contemporâneo. A consideração das diferentes culturas urbanas, com um conhecimento mais aprofundado de suas dinâmicas, interesses, linguagens e configurações, tem a propriedade de mostrar o caminho novo que fará a renovação da Igreja. O Papa Francisco sublinha que na atual cultura dominante, o primeiro lugar está ocupado por aquilo que é exterior, imediato, visível, veloz, superficial e provisório. O real dá lugar à aparência. Constata-se uma deterioração de valores culturais, com a assimilação de tendências eticamente fracas. Esse processo de renovação e  trabalhosa tarefa de ajudar o mundo a encontrar no Evangelho a fonte perene de alegria duradoura supõe, sem negociação, a coragem e a perseverança no dizer “não” a uma economia da exclusão, “não” à nova idolatria do dinheiro, que dá ao mercado a força de governar e não  a de servir, gerando perversidades inadmissíveis. “Não” a todo tipo de iniquidade que gera violência, “não” ao egoísmo mesquinho e ao pessimismo estéril.
É hora de compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de uma nova “escuta” prioritária dos pobres, trabalhando para respeitar o povo, de muitos rostos e necessidades. Convida-nos o Papa Francisco a buscar, corajosamente, novas configurações organizacionais, institucionais e pessoais, apoiados na certeza daquilo que, luminosamente, está na alegria do Evangelho.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

O outro é nosso irmão!



Reflexões do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 29 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Vivemos em um mundo perverso e egoísta. As pessoas vivem o individualismo, se trancam em seus quartos como se as casas fossem apenas uma hospedaria e não uma Igreja Doméstica, aonde as pessoas comungam as alegrias e as tristezas, as vitórias e as derrotas, e que a Palavra de Deus é partilhada, refletida e vivida na participação fraterna das refeições, dos encontros, dos aconselhamentos e das partilhas.
Lembro-me bem de um caríssimo irmão arcebispo, ilustre filho da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que em breve veremos elevado à glória dos altares, que sempre de sorriso largo indagava do seu interlocutor: "Como eu posso te ajudar?". Esta pergunta de Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, SJ, falecido Arcebispo de Mariana,MG, e por dois quadriênios secretário geral e presidente da CNBB, nos introduz no cerne do que esta reflexão propõe: sejamos pessoas que ajudam o outro. E a principal ajuda que podemos dar, como batizados, ao nosso próximo é falar bem das pessoas. Já diz um antigo adágio que "ninguém é tão ruim que não tenha uma virtude a ser imitada e, ninguém é tão santo que não tenha um pecado a ser confessado".
Um confrade meu, Santo Aelred de Rievaulx, abade cisterciense inglês, que viveu de1110 a1175, nos deixou exemplos maravilhosos acerca de como viver a caridade fraterna com o irmão. O santo abade ensinou que o amor e a amizade são a maior alegria da vida, são o sinal mais evidente da presença de Deus neste mundo, são a própria essência do mundo que há de vir. De fato, se é verdade que "Deus é Amor" (1Jo 4,8.16), todo verdadeiro amor mostra que Deus está presente. Como Deus é Amor, quando Jesus diz que o seu jugo é suave está falando da caridade; quando diz que seu peso é leve está falando do amor fraterno. Santo Aelred de Rievaulx acha que o Amor é não somente a nossa vocação, mas também o remédio para curar nossa vontade doente e para restaurar em nós a imagem de Deus. Essa imagem consiste em sermos uma pequena "trindade" criada, feita de 1) memória, 2) conhecimento e 3) amor/vontade. Mas para ele é na vontade que nasce a imagem de Deus, é no amor que a restauramos, e é na amizade que experimentamos o gosto da bem-aventurança, ou felicidade eterna. Para explicar melhor, Aelred achava que, por natureza (isto é, sem o pecado), os humanos sempre tinham Deus na memória, sempre sabiam reconhecê-Lo em tudo e sempre O abraçavam no amor sem precisar cobiçar mais nenhuma outra coisa.
Gostaria de fazer uma proposta: o mais significativo na nossa vida cristã, o que realmente conta, o que realmente é importante é que um amigo reze pelo outro. A oração de um amigo é muito eficaz, por que sobe a Deus carregada de afeto e muitas vezes reforçada pelas lágrimas que podem ser provocadas pelo temor do que possa estar acontecendo com o outro, simplesmente pelo bem querer ou mesmo causadas pela dor. Como um amigo reza pelo outro a Jesus Cristo e deseja ser ouvido por Jesus Cristo por causa do outro, acaba dirigindo ao próprio Jesus Cristo seu amor e seu desejo. Então, muito depressa e sem a gente nem perceber, está passando de um afeto para o outro, dando a sensação de que estamos tocando de perto a doçura do próprio Cristo. O amigo começa a saborear como Jesus é doce e a experimentar como ele é suave (Cf Salmos 33 e 99).
Não falar mal do irmão requer, sobretudo, um empenho fraterno que se supere ao amor de si mesmo e que se dedique aos outros, favorecendo assim as autênticas e profundas amizades, que ajudam uma vida afetiva completa. A amizade deve ser um grande dom em quanto favorece o crescimento humano e espiritual. Jesus não condenou nem a prostituta arrependida, uma pecadora pública, ao contrário, pediu que ela não pecasse mais. É tão difícil observar determinadas pessoas que gastam toda a energia de seu dia ou da sua vida em apenas destruir a reputação do outro que, antes de tudo, é seu irmão. E nestes tempos de internet, com as mídias sociais essa facilidade é muito maior.
O Santo Padre Francisco ensinou que “Nosso Pai, como um Pai com seu Filho, nos ensina a caminhar; nos ensina a adentrar a estrada da vida e da salvação. São as mãos de Deus que nos acariciam nos momentos de dor, e nos confortam. E neste carinho, muitas vezes existe o perdão”. O Pontífice continuou, lembrando que muitas vezes se ouvem pessoas dizendo “Me entrego às mãos de Deus”, o que é bonito porque “lá estamos seguros, porque nosso Pai nos quer bem, e suas mãos nos curam também das doenças espirituais”. “Pensemos nas mãos de Jesus quando tocava os doentes e os curava… Ele nos repreende quando é preciso, mas jamais nos fere. Ele é Pai e as almas dos justos estão em suas mãos. Ele nos criou e nos deu a saúde eterna; suas mãos nos acompanham nos caminhos da vida. Confiemo-nos às mãos de Deus como uma criança se entrega às mãos de seu pai. É uma mão segura!”.
Quem é de Jesus, quem se entrega nas mãos de Deus canta e proclama as Suas maravilhas, e sempre e tão somente, por amor, falará positiva e benignamente de seu irmão. "Em que eu posso te ajudar?" Dê um abraço e um sorriso sincero no seu próximo e acolha a todos, porque este é o desejo de Jesus, e que nos ajudam a viver a autêntica caridade.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

É careta ser beato?



Testemunho de jovem brasileiro, surfista, estudante de medicina, quase padre e com fama de anjo surfista
Por Felipe Ramos

JOãO PESSOA, 28 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Quem acha careta ser beato, nunca conheceu Guido Schaffer, jovem surfista, formado em medicina e apaixonado por Deus, deixou o noivado e a medicina para se tornar padre. Viver intensamente assim não é para caretas. Ah o artigo é um pouco grande, mas deixa um pouco a timeline do seu facebook. Vai valer a pena!
Talvez não aconteça com você, mas chega um dia na vida de um jovem que sofreu uma virada de 180 graus ao se encontrar com Deus, que as pessoas começam a dizer: Pronto, vai virar beato? Como se ser beato fosse algo careta! (SQN), só que não!  (do latim beatum, que dizer ”feliz”, “bem-aventurado”), Se você passa por isso, esse artigo é pra você. Seja bem-vindo!
Para falar bem desse assunto, como um jovem conectado que sou, fui ao bom e velho Google para ver a definição de careta, (entre tantas mil que aparecem) escolhi essa: “Pessoa antiga, fora da moda, antiquada. Aquele que sempre segue os padrões antigos, que não arrisca coisas novas e diferentes” Bem, acho que a vida do carioca Guido, futuro beato da Igreja Católica não tem nada haver com isso.
Surfista, médico e quase padre, ele se chamava Guido Vidal França Schaffer. Carioca, nascido em Copacabana, pegava onda no Arpoador. De sorriso fácil e muito simpático, foi um jovem que invadiu festas, pulou muro para entrar sem ter sido convidado. Era ousado e gostava de uma boa brincadeira, usava roupa de marca, curtia o som de metálica e Pearl Jeam, malhava todos os dias na academia e curtia dançar nas boates. Um cara normal e alegre, amava o mar e o surf. Teve os mesmos desejos e desafios que os outros jovens, como eu e você, e também fez muita besteira. Uma pequena pausa: aposto que tem pessoas já se identificando com ele. #antesdo180graus!
Ele teve suas namoradas e admiradoras, passou pela curiosidade de provar um baseado com os amigos, mas percebeu que aquilo não o preenchia.. Para Guido, a experiência foi como aquela onda que vai crescendo e depois estoura deixando um vazio a solta. Você deve estar pensando que até agora não tem nada de careta, mas nada de beato também, não é mesmo? Calma, o melhor está por vir.
Esse cara, que sempre viveu muito intensamente, provou de uma parada capaz de fazer qualquer jovem viver mais radicalmente uma vida. Um dia, Guido participou de um seminário de vida no Espírito Santo, (igual ao que você já tenha participado ou se não participou ainda, deixa de ser careta e participa!) Daí pra frente, o surfista do Arpoador sofreu uma virada de 180 Graus na sua vida.
Engajado em grupo de oração, começou a surfar cada vez mais nas ondas do amor de Deus. Em 1997, o papa João Paulo II visitou o Rio de Janeiro e Guido fez parte do coral que cantou nessa ocasião. De perto pôde sentir no olhar do Papa o olhar de um pescador de homens. Quando João Paulo II falou “Temos que ir para águas mais profundas”, tudo fez sentido para o surfista que com muita alegria dizia para o seu grande amigo padre Jorjão: “É isso que eu quero”.
É preciso como o Guido desejar mergulhar de cabeça na vida com Cristo, não só postando coisas do Evangelho nas redes sociais, isso são águas rasas. Precisamos postar o Evangelho no fundo da nossa vida.
Desafiado pelo seu amigo padre a formar um grupo de oração para jovens, Guido teve que aprender a conciliar os estudos de medicina com o grupo de oração. Aos poucos, centenas de jovens foram sendo atraídos pelo testemunho e unção que ele passava, (já quando seminarista, também criou com uma amiga um grupo na praia, onde também ensinavam muitos a surfarem). O cuidado pelos pobres foi marca na sua vida. Trabalhava nos hospitais cuidando dos doentes e saía nas ruas para amar os mais necessitados.
Como ser careta é não ter coragem de fazer coisas novas e se arriscar, ele foi começando a viver uma vida de beato, ou seja, feliz! Ele também tinha uma noiva, também muito de Deus, juntos formavam um casal perfeito. Mas um dia, em oração, a voz de Deus o chamou: “Levanta-te e serás sacerdote da Minha Igreja”. E agora? Guido tinha tudo, tinha noiva, estava na residência médica e já “fazia muito” na evangelização, mas Deus queria mais. Sem dúvidas, ele dropou a onda da voz de Deus e deixou tudo! Isso mesmo: tudo! E entrou para o seminário! (se garantiu Guido! Uhuu!).
Ele não abandonou o surfe, onde ele mesmo dizia se encontrar diversas vezes com Jesus. Sempre ia quando podia. Após entrar para o seminário, crescia em humildade e pregava nas paróquias onde muitas pessoas até hoje lembravam as ações do Espírito através dele: profecias, repousos no Espírito, muitos dons. Com mais ardor continuou sua missão com os pobres e doentes. Onde chegava, Guido era sinal de esperança e alegria. Com certeza já mostrava que era um beato que não tinha nada de careta.
Sua última surfada aconteceu na despedida de solteiro do seu amigo Dudu, na praia do recreio. Antes de entrar no mar seus amigos fizeram junto com ele uma oração. Já no mar, apareceu uma serie de ondas e inesperadamente os amigos de Guido o encontraram se afogando. Ele foi levado ao hospital, onde foi confirmada  sua morte. Guido morreu surfando e assim nasceu para o céu.
Hoje em dia, muitos testemunhos são contados de milagres que aconteceram e acontecem até hoje pela intercessão de Guido Schaffer.. Um livro intitulado “O Anjo surfista”, do escritor Manuel Arouca, que conta sua história foi a fonte que usei para escrever este artigo. Não vou mentir que em certas partes da leitura as lágrimas apareceram em meus olhos.
Fala-se da beatificação de Guido Schäffer desde maio de 2009, o padre Jorjão, amigo e confessor de Guido, falou deste possível acontecimento:
“A Igreja é muito prudente em relação a isso. Os testemunhos vão poder ser analisados. O impressionante é ver como pessoas que nunca o conheceram montam grupos para orar por ele e pedir sua intercessão. O Papa João Paulo II costumava dizer que precisamos de santos vestidos de calças jeans. E o Guido é um exemplo disso, de um rapaz que vivia sua juventude”.

Francisco lembra que a fé não é um assunto privado como alguns poderes mundanos gostariam que fosse





Papa Francisco em Santa Marta: apostasia geral que se chama proibição de adoração

Por Redacao

ROMA, 28 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Hoje, o Papa em sua homilia na Santa Marta alertou para os poderes mundanos que gostariam que a religião fosse uma "coisa privada". Mas Deus – destacou o Santo Padre – deve ser adorado até o fim "com fidelidade e paciência”. Os cristãos perseguidos hoje são um sinal da prova como um prelúdio para a vitória final de Jesus, disse.
Na luta final entre Deus e o mal, proposta na liturgia de final de ano, existe um grande perigo, que o papa Francisco chama de "a tentação universal". A tentação de ceder à bajulação de quem quer vencer sobre Deus, se achando melhor do que aquele que acredita Nele. Entretanto, quem crê tem claro para onde deve olhar. É a história de Jesus, nas provações sofridas no deserto e suportadas em sua vida pública, entre insultos e calúnias, até o extremo da Cruz, onde o príncipe do mundo perde a sua batalha diante da Ressurreição do Príncipe de paz. O Papa falou destas passagens da vida de Cristo, porque – explicou- na agitação do final do mundo, descrito no Evangelho, o que está em jogo é algo maior do que o drama representado pelas calamidades naturais.
Então, Francisco disse que “quando Jesus fala desta calamidade, noutra passagem diz-nos que será uma profanação do templo, uma profanação da fé, do povo: será a abominação, será a desolação da abominação. O que significa aquilo? Será como o triunfo do príncipe deste mundo: a derrota de Deus. Parece que naquele momento final de calamidade, ele virá sobre este mundo, será o dono do mundo."
Eis aqui o “teste final”: a profanação da fé. Muito evidente – observa o Papa- no sofrimento do profeta Daniel, na primeira leitura: levado para a cova dos leões por ter adorado a Deus e não ao rei. Portanto, "a desolação da abominação" - reitera Francisco- tem um nome específico "a proibição de adoração".
Assim, explica o Santo Padre: “não é permitido falar de religião, é uma coisa privada, não é? Disto publicamente não se fala: Os símbolos religiosos são tolos. Temos que obedecer às ordens que vêm dos poderes mundanos. Podem-se fazer tantas coisas, coisas lindas, mas adorar Deus não. Proibição de adoração. Mas quando chegar a plenitude - o Kairos desta atitude pagã, quando se cumprir o tempo, então: ‘eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória’. Os cristãos que sofrem tempos de perseguição, tempos de proibição de adoração são uma profecia daquilo que nos acontecerá a todos.”
Por fim, concluiu o Papa, quando “se cumprir o tempo dos pagãos", será hora de levantar a cabeça, porque está 'próximo' a 'vitória de Jesus Cristo'.
E assim, concluiu o Santo Padre: “Não tenhamos medo, Ele apenas nos pede fidelidade e paciência. Fidelidade como Daniel, que foi fiel ao seu Deus e adorou o seu Deus até ao fim. E paciência, porque os cabelos da nossa cabeça não cairão. Assim prometeu o Senhor. Esta semana nos fará bem pensar nesta apostasia geral, que se chama proibição de adoração, e nos questionar: Eu adoro o Senhor? Eu adoro Jesus Cristo, o Senhor? Ou, mais ou menos, faço o jogo do príncipe deste mundo? Adorar até o fim com confiança e fidelidade: esta é a graça que devemos pedir nesta semana.”
(Trad.MEM)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Evangelii gaudium: "Texto histórico; a Igreja numa fase nova de evangelização"



Opinião do sociólogo Massimo Introvigne sobre a primeira exortação apostólica do papa Francisco
Por Redacao

ROMA, 27 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - É o mais longo documento (220 páginas) de toda a história das encíclicas papais e das exortações apostólicas. Por que, com a exortação Evangelii gaudium, o papa que nos habituou à brevidade quis escrever uma enciclopédia?
Fizemos esta pergunta a Massimo Introvigne, sociólogo italiano autor de O Segredo do Papa Francisco (Milão, 2013) e pai da teoria do "efeito Francesco", segundo a qual o papa já trouxe de volta à Igreja fiéis que estavam afastados. “Um aviso”, adverte Introvigne: “um texto tão grande se presta a muitas leituras parciais”.
“Haverá quem insista nesse convite a partir da misericórdia de Deus, mais do que dos preceitos morais, e em fazer uma reflexão cuidadosa quando se trata de negar a comunhão a determinadas categorias de pessoas, já que a Igreja não é uma alfândega e não tem que bloquear a entrada de ninguém. Por outro lado, também haverá quem dê mais destaque para a forte denúncia do relativismo, incluindo o de católicos que escondem a sua identidade cristã, ou para a proteção da família, para a condenação realmente dura do aborto, com uma declaração tão clara quanto a que nega às mulheres o sacerdócio; para a doutrina da Igreja que não muda e não pode mudar".
"Mas qualquer leitura parcial, que tente extrair só algumas frases do documento, é errada. O texto tem a sua própria arquitetura específica, que deve ser seguida. Ele é composto de cinco partes, através das quais: 1º, descobrimos que o cristianismo ou é missionário ou não é cristianismo; 2º, encaramos os obstáculos à missão, dentro e fora da Igreja; 3º, estudamos os modos da nova evangelização; 4º, examinamos as suas consequências, que não são opcionais, em termos de doutrina social, e, 5º, somos reconvocados à dimensão espiritual, que é a alma de todo apostolado".
"De cada um dos cinco capítulos”, diz o sociólogo, “podemos extrair uma ideia forte. Do primeiro, que evangelizar os outros não é opcional. Um cristão que fica em casa e não evangeliza não é cristão. Do segundo, o grande retorno da denúncia contra o relativismo, já bem denunciado por Bento XVI, como o primeiro obstáculo para a evangelização e como difusor de uma enorme superficialidade no campo moral. O relativismo, diz o texto, faz mal tanto à sociedade quanto à Igreja, envolvendo sacerdotes e religiosos com a ‘mundanidade espiritual’ e com o desejo dos aplausos do mundo. Do terceiro capítulo, a longa análise da crise da homilia dominical nas nossas igrejas, com os epítetos duríssimos (‘falso profeta’, ‘charlatão’) que o papa dedica ao sacerdote que não prepara bem o sermão, que não anuncia a verdade da Igreja e sim a sua própria, ou que se limita a imitar os programas de televisão. Do quarto capítulo, dedicado à doutrina social, uma defesa da política como vocação altíssima contra um populismo irresponsável, meramente demagógico e que não resolve os verdadeiros e terríveis problemas dos pobres cada vez mais pobres. Do quinto, sobre as raízes espirituais, o aceno místico ao fato de que, se o nosso trabalho missionário não dá fruto, talvez Deus o use para reservar bênçãos a outro lugar do mundo aonde nunca iremos e que sequer conhecemos".
“Vamos olhar para o título: ele fala de evangelização e de alegria. O papa repete: todos devem evangelizar. Com este documento, que é verdadeiramente histórico, a Igreja passa para uma etapa que, em inglês, é chamada de evangelical, na qual não se foca na administração dos fiéis que vão à missa, mas na capacidade de buscar e de converter aqueles que não vão à igreja. Não é por acaso que as comunidades protestantes evangélicas crescem, enquanto as mais tradicionais correm o risco de desaparecer. E a alegria. Uma Igreja focada no Evangelho é cheia de alegria e transmite alegria, beleza; é um lembrete importante para evangelizar através da arte, outro dos grandes temas de Bento XVI, e do amor. No texto há uma frase belíssima, dirigida ao mundo moderno: ‘a nossa tristeza infinita só pode ser curada por um amor infinito’".

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A alegria de evangelizar leva a um novo compromisso pastoral no futuro próximo



Dom Fisichella comenta a nova exortação apostólica que o papa escreveu em espanhol
Por Redacao

ROMA, 27 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Foi publicada na manhã de ontem a primeira exortação apostólica do pontificado de Francisco, a “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho). O texto, escrito com base no sínodo sobre “A nova evangelização para a transmissão da fé”, realizado de 7 a 28 de outubro de 2012 e convocado pelo papa antecessor, Bento XVI, foi apresentado à imprensa pelo arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, junto com os arcebispos Lorenzo Baldisseri, secretário geral do sínodo dos bispos, e Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.
A exortação, de 222 páginas, se divide em uma apresentação e cinco capítulos. Os capítulos são dedicados à transformação missionária da Igreja, à crise do compromisso comunitário, ao anúncio do Evangelho, à dimensão social da evangelização e aos evangelizadores com espírito.
O padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, explicou que a exortação foi um trabalho pessoal do santo padre, escrito principalmente durante o mês de agosto e originalmente em língua espanhola.
Por sua vez, dom Fisichella observou que o documento foi escrito "à luz da alegria com o fim de redescobrir a fonte da evangelização no mundo contemporâneo". Para ele, o texto delineia "os caminhos do compromisso pastoral que ocuparão a Igreja no futuro próximo. Um convite a recuperar uma visão profética e positiva da realidade, mesmo sem deixar de ver as dificuldades. O papa Francisco transmite valentia e nos convida a olhar para frente, apesar do momento de crise, fazendo da cruz e da ressurreição de Cristo, mais uma vez, a 'insígnia da vitória'".
Da mesma forma destacou que o papa “imprime nessas páginas não somente a sua experiência pastoral anterior, mas sobretudo a sua chamada para aproveitar o momento de graça que a Igreja está vivendo para empreender com fé, convicção e entusiasmo a nova etapa do caminho de evangelização”. E no centro da evangelização coloca a pessoa de Jesus Cristo, o primeiro evangelizador.
Por um lado, continuou Monsenhor Fisichella, "o papa Francisco se dirige às igrejas particulares para que, vivendo em primeira pessoa os desafios e as oportunidades próprias de cada contexto cultural, sejam capazes de propor os aspectos peculiares da nova evangelização nos seus países”. Por outro lado, “o papa traça um denominador comum que permite que toda a Igreja, e cada evangelizador em particular, reencontre uma metodologia comum para convencer-se de que o compromisso de evangelização é sempre um caminho participado, compartilhado e nunca isolado”.
Chamou a atenção aos sete ponto indicados nos cinco capítulos da exortação, já que “são os pilares de sustentação da visão do Papa Francisco sobre a nova evangelização: a reforma da Igreja na partida missionária, as tentações dos agentes pastorais, a Igreja como totalidade do povo de Deus que evangeliza, a homilia e a sua preparação, a inclusão social dos pobres, a paz e o diálogo social e as motivações espirituais no compromisso missionário”
O elemento que une essas questões – destacou – se concentra no amor misericordioso de Deus que sai ao encontro de cada pessoa para manifestar o coração da sua revelação: a vida de cada pessoa adquire significado no encontro com Jesus Cristo e na alegria de compartilhar esta experiência de amor com os outros.
Monsenhor Fisichella também enfatizou que "o papa, como de costume, aprofunda sobre algumas expressões chocantes e cria neologismos para dar a entender a natureza mesma da ação evangelizadora. Entre eles, mencionou o já conhecido “primerear”; “Isso quer dizer que deus nos precede no amor, indicando à Igreja o caminho que deve seguir”.
Neste capítulo, também “aparece uma forte chamada do papa que se estabeleça um saudável equilíbrio entre o conteúdo da fé e a linguagem que a expressa. Pode acontecer, às vezes, que a rigidez com a qual se pretende conservar a precisão da linguagem, vá em detrimento do conteúdo, comprometendo assim a visão genuína da fé”.
O segundo capítulo é dedicado a acolher os desafios do mundo contemporâneo e a vencer as fáceis tentações que minam a nova evangelização. Em primeiro lugar, disse o Papa, é necessário recuperar a própria identidade, sem esses complexos de inferioridade que levam a "esconder a própria identidade e as convicções... [e] que acabam sufocando a alegria da missão em uma espécie de obsessão por ser como todos os outros e ter o que os outros tem".
O Papa Francisco explica, no terceiro capítulo que " a evangelização é uma tarefa de todo o povo de Deus, ninguém está excluído. Ela não está reservada nem pode ser delegada a um grupo particular. Todos os batizados estão diretamente envolvidos nela”.
O quarto capítulo, continuou monsenhor Fisichella, é dedicado à reflexão sobre a dimensão social da evangelização. Um tema muito apreciado pelo Papa Francisco – lembrou – porque “se esta dimensão não se explicita devidamente, corre-se sempre o risco de desfigurar o significado autêntico e integral da missão evangelizadora”.
No último capítulo busca expressar o “espírito da nova evangelização”, afirmou. “Este se desenvolve sob o primado da ação do Espírito Santo que infunde sempre e de novo o impulso missionário, a partir da vida de oração na qual a contemplação ocupa a posição central”. "
(Trad.TS / EC)

O santo padre lembra que a nossa vida não termina com a morte. Quem pratica a misericórdia não teme a morte





Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira

Por Redacao

ROMA, 27 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs,
Bom dia e parabéns porque vocês são corajosos com este frio na praça. Parabéns!
Quero concluir as catequeses sobre “Credo”, desenvolvidas durante o Ano da Fé, que se concluiu domingo passado. Nesta catequese e na próxima, gostaria de considerar o tema da ressurreição da carne, capturando dois aspectos como os apresenta o Catecismo da Igreja Católica, isso é, o nosso morrer e o nosso ressurgir em Jesus Cristo. Hoje, concentro-me no primeiro aspecto, “morrer em Cristo”.
1. Entre nós, comumente, há um modo errado de olhar para a morte. A morte diz respeito a todos, e nos interroga de modo profundo, especialmente quando nos toca de modo próximo, ou quando atinge os pequenos, os indefesos de maneira que nos resulta “escandalosa”..  A mim sempre veio a pergunta: por que sofrem as crianças? Por que morrem as crianças? Se entendida como o fim de tudo, a morte assusta, aterroriza, transforma-se em ameaça que infringe todo sonho, toda perspectiva, que rompe toda relação e interrompe todo caminho. Isso acontece quando consideramos a nossa vida como um tempo fechado entre dois pólos: o nascimento e a morte; quando não acreditamos em um horizonte que vai além daquele da vida presente; quando se vive como se Deus não existisse. Esta concepção da morte é típica do pensamento ateu, que interpreta a existência como um encontrar-se casualmente no mundo e um caminhar para o nada. Mas existe também um ateísmo prático, que é um viver somente para os próprios interesses e viver somente para as coisas terrenas. Se nos deixamos levar por esta visão errada da morte, não temos outra escolha se não ocultar a morte, negá-la ou banalizá-la, para que não nos cause medo.
2. Mas a essa falsa solução se rebela o “coração” do homem, o desejo que todos nós temos de infinito, a nostalgia que todos temos do eterno. E então qual é o sentido cristão da morte? Se olhamos para os momentos mais dolorosos da nossa vida, quando perdemos uma pessoa querida – os pais, um irmão, uma irmã, um cônjuge, um filho, um amigo – nos damos conta de que, mesmo no drama da perda, mesmo dilacerados pela separação, sai do coração a convicção de que não pode estar tudo acabado, que o bem dado e recebido não foi inútil. Há um instinto poderoso dentro de nós que nos diz que a nossa vida não termina com a morte.
Esta sede de vida encontrou a sua resposta real e confiável na ressurreição de Jesus Cristo. A ressurreição de Jesus não dá somente a certeza da vida além da morte, mas ilumina também o próprio mistério da morte de cada um de nós.. Se vivemos unidos a Jesus, fiéis a Ele, seremos capazes de enfrentar com sabedoria e serenidade mesmo a passagem da morte. A Igreja, de fato, prega: “Se nos entristece a certeza de dever morrer, consola-nos a promessa da imortalidade futura”. Uma bela oração esta da Igreja! Uma pessoa tende a morrer como viveu. Se a minha vida foi um caminho com o Senhor, um caminho de confiança na sua imensa misericórdia, estarei preparado para aceitar o último momento da minha existência terrena como o definitivo abandono confiante em suas mãos acolhedoras, à espera de contemplar face-a-face o seu rosto. Essa é a coisa mais bela que pode nos acontecer: contemplar face-a-face aquele rosto maravilhoso do Senhor, vê-Lo como Ele é, belo, cheio de luz, cheio de amor, cheio de ternura. Nós caminhamos para este ponto: ver o Senhor.
3. Neste horizonte se compreende o convite de Jesus a estar sempre prontos, vigilantes, sabendo que a vida neste mundo nos foi dada também para preparar a outra vida, aquela com o Pai Celeste. E para isto há um caminho seguro: preparar-se bem para a morte, estando próximo a Jesus. Esta é a segurança: o meu preparo para a morte estando próximo a Jesus. E como se fica próximo a Jesus? Com a oração, nos Sacramentos e também na prática da caridade. Recordemos que Ele está presente nos mais frágeis e necessitados. Ele mesmo identificou-se com eles, na famosa parábola do juízo final, quando disse: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era peregrino e me acolhestes, nu e me vestistes, enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim…Tudo aquilo que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 35-36. 40). Portanto, um caminho seguro é recuperar o sentido da caridade cristã e da partilha fraterna, cuidar das feridas corporais e espirituais do nosso próximo.. A solidariedade no partilhar a dor e infundir esperança é premissa e condição para receber por herança aquele Reino preparado para nós. Quem pratica a misericórdia não teme a morte. Pensem bem nisto: quem pratica a misericórdia não teme a morte! Vocês estão de acordo? Digamos juntos para não esquecê-lo? Quem pratica a misericórdia não teme a morte. E por que não teme a morte? Porque a olha em face das feridas dos irmãos e a supera com o amor de Jesus Cristo.
Se abrirmos a porta da nossa vida e do nosso coração aos irmãos mais pequeninos, então também a nossa morte se tornará uma porta que nos introduzirá no céu, na pátria bem aventurada, para a qual estamos caminhando, desejando habitar para sempre com o nosso Pai, Deus, com Jesus, com Nossa Senhora e com os santos.
(Fonte: Canção Nova / Tradução: Jéssica Marçal)

Evangelii Gaudium, uma "bomba atômica" para as velhas estruturas eclesiásticas




Publicada hoje a primeira exortação apostólica do Papa Francisco, sobre o anúncio do evangelho no mundo atual
Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

BRASíLIA, 26 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Enquanto o episcopado, o clero, as pessoas consagradas e os fieis leigos esperavam o documento conclusivo da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, celebrado do 7 ao 28 de outubro de 2012, sobre o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, o Papa Francisco mais uma vez nos surpreendeu e, de forma totalmente inesperada, embora bem pensada e refletida, publicou uma Exortação Apostólica com caráter programático para toda a Igreja, a exortação apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do evangelho no mundo atual.
Como o mesmo pontífice escreve “Aqui escolhi propor algumas directrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja, uma nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo”. Sendo assim o Papa decidiu deter-se, entre outros temas, nas seguintes questões: a) A reforma da Igreja em saída missionária. b) As tentações dos agentes pastorais. c) A Igreja vista como a totalidade do povo de Deus que evangeliza. d) A homilia e a sua preparação. e) A inclusão social dos pobres. f) A paz e o diálogo social.. g) As motivações espirituais para o compromisso missionário.
Se a Igreja conseguir ser melhor, sem dúvida o mundo também o será. O importante, escreve o Papa, é que “Jesus Cristo pode romper também os esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina.” Em “toda a vida da Igreja deve manifestar-se sempre que a iniciativa é de Deus” e não nossa” e é por isso que “A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”.
A primeira exortação apostólica do Papa Francisco está composta por cinco capítulos revolucionários que caem como uma bomba atômica nos diversos setores da Igreja, com “consequências importantes”, reconhece o Papa.
“Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos. Apesar disso sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes”, escreve o Papa.
Contudo, não é uma exortação que pretenda dar uma palavra conclusiva a todos os problemas existentes, porque, como o mesmo pontífice recorda, “acho que não se deva esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que afetam a Igreja e o mundo. Não é conveniente que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que surgem nos seus territórios. Neste sentido, percebo a necessidade de avançar em uma saudável “descentralização”.
Com esta exortação, de leitura e reflexão obrigatória, tanto a nível pessoal quanto comunitário, Francisco - assim como o poverello de Assis fez há séculos - não somente quer exortar os demais a se converterem, dizendo para cada Igreja particular entrar “em um processo decidido de discernimento, purificação e reforma”. Mas, primeiramente olha para si, “dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado”, afirma o pontífice, porque “também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal necessitam escutar o chamado a uma conversão pastoral”.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Evangelii Gaudium: Francisco e o programa evangelizador do seu pontificado



Os 300 pontos da exortação apostólica recopilam os trabalhos do sí­nodo sobre a nova evangelização para a transmissão da fé, celebrado de 7 a 28 de outubro de 2012
Por Rocio Lancho García

ROMA, 26 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. Estas são as palavras com que o papa Francisco começa a sua primeira exortação apostólica, a “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho).
Nela, o santo padre recolhe os trabalhos do sínodo dedicado à nova evangelização para a transmissão da fé, celebrado de 7 a 28 de outubro de 2012, no Vaticano. É um programa de pontificado, já que, ao longo dos 300 pontos da exortação, o pontífice fala da sua visão da Igreja e do mundo, aprofundando em ideias que ele já anunciou durantes estes oito meses. Francisco exprime o seu "sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se transforme num canal adequado para a evangelização do mundo atual, mais do que para a autopreservação".
No começo da exortação, o santo padre faz um chamamento a todos os batizados para levarem aos outros o amor de Jesus "em estado permanente de missão", com fervor e dinamismo novos. Para realizar essa tarefa, Francisco convida todos a "recuperar o frescor original do Evangelho", encontrando "novos caminhos" e "métodos criativos". Ele fala até mesmo de "uma conversão do papado", para que seja "mais fiel ao sentido que Jesus Cristo quis lhe dar" e "às necessidades atuais da evangelização". Sobre as conferências episcopais, ele destaca o seu desejo de que elas contribuam para que "o efeito colegial" tenha aplicação "concreta", coisa que ainda "não se realizou plenamente".
Sinal do acolhimento de Deus é “manter os templos de portas abertas em toda a parte”, para que todo aquele que procura não encontre apenas “a frieza das portas fechadas”. Nem “as portas dos sacramentos deveriam se fechar, fosse pela razão que fosse", adverte o santo padre.
Olhando com atenção para os desafios do mundo contemporâneo, o papa critica o sistema econômico atual, definido por ele como “injusto em sua raiz”. “Essa economia mata” porque predomina “a lei do mais forte”, diz ele. A cultura atual do “descartável” faz com que “os excluídos não sejam explorados, mas descartados, como sobras”. Do mesmo modo, ele denuncia os “ataques à liberdade religiosa” e as novas situações de perseguição contra os cristãos.
Francisco também fala da importância da família, que "atravessa uma crise cultural profunda", e insiste na "contribuição indispensável do matrimônio à sociedade".
O papa enumera as “tentações dos agentes pastorais”: individualismo, crise de identidade, queda do fervor. Exorta os católicos a "serem sinais de esperança", gerando a "revolução da ternura" para vencer a "mundanidade espiritual". O papa dedica algumas linhas também aos que “se sentem superiores aos outros”, por serem “inquebrantavelmente fiéis a certo estilo católico próprio do passado”, observando ainda que, “em vez de evangelizar", o que eles fazem é "classificar os outros”. E também recorda aqueles que se preocupam com um “cuidado ostentoso da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas sem se preocuparem com uma real inserção do Evangelho” no âmbito das necessidades das pessoas.
Às comunidades eclesiais, ele alerta do perigo de cair em invejas ou ciúmes “dentro do Povo de Deus e nas diversas comunidades". Sublinha a necessidade de fazer crescer a responsabilidade dos leigos, mantidos “à margem das decisões” devido a “um excessivo clericalismo”. Fala ainda do papel da mulher, afirmando que "é necessário ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja”. Fala dos jovens, que devem ter “um protagonismo maior”. Quanto à escassez de vocações em alguns lugares, o santo padre avisa que “não podemos encher os seminários com qualquer tipo de motivação”.
Por outro lado, o santo padre quis recordar também que “o cristianismo não tem um único modo cultural” e que o rosto da Igreja é “multiforme”. Ele reafirma a "força ativamente evangelizadora” da piedade popular e convida os teólogos a conservarem no coração “a finalidade evangelizadora da Igreja” e a não se contentarem com “uma teologia de escrivaninha”.
Sobre a forma de pregar, Francisco ressalta que a homilia “deve ser breve e não se parecer com uma palestra nem com uma aula”; deve dizer “palavras que façam arder os corações”, fugindo de “uma pregação puramente moralista ou doutrinadora”.
O santo padre afirma que "ninguém pode nos exigir relegar a religião à intimidade secreta das pessoas, sem influência alguma na vida social". E, na luta pela justiça, recorda que "a opção pelos pobres é uma categoria teológica", mais do que sociológica. Por isso, indica: "Quero uma Igreja pobre e para os pobres. Eles têm muito a nos ensinar".
Há espaço também para os mais fracos, de quem devemos cuidar: "Os sem teto, os dependentes químicos, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sozinhos e abandonados”, os migrantes, as vítimas do tráfico de pessoas, as mulheres que sofrem situações de exclusão. E, prestando especial atenção às crianças ainda não nascidas, Francisco lembra que "não devemos esperar que a Igreja mude a sua postura sobre este assunto", enfatizando que "não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana".
O papa também fala da paz e explica a necessidade de "uma voz profética" quando se quer construir uma reconciliação falsa, que “silencia” os mais pobres enquanto “alguns não querem renunciar aos seus privilégios”. Ele menciona quatro princípios para a construção de uma sociedade "em paz, justa e fraterna": trabalhar no longo prazo, sem obcecar-se com resultados imediatos; agir para que os opostos atinjam uma unidade multiforme que gere nova vida; evitar que a política e a fé se reduzam à retórica; e unir a globalização e o contexto local.
A evangelização também envolve um caminho de diálogo, que abre a Igreja para colaborar com todas as realidades políticas, sociais, religiosas e culturais, recorda o pontífice. Ele ressalta o ecumenismo como "um caminho inescapável para a evangelização", além da importância do enriquecimento recíproco. O diálogo inter-religioso "é uma condição necessária para a paz no mundo". Diante dos episódios de violência, o papa convida a “evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro islã e uma adequada interpretação do alcorão se opõem a toda violência”. Por outro lado, ele destaca que "o devido respeito às minorias de agnósticos e de não crentes não deve ser imposto de modo arbitrário, silenciando as convicções das maiorias crentes ou ignorando a riqueza das tradições religiosas".
Para encerrar, o santo padre fala dos "evangelizadores com Espírito". São eles que se "abrem sem temor à ação do Espírito Santo”, que “infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com audácia (parresia), em voz alta e em todo tempo e lugar, inclusive contra a corrente”. São evangelizadores que oram e trabalham, conscientes de que a missão é uma paixão por Jesus e pelo seu povo. E recorda aos fiéis: "Se eu consigo ajudar uma única pessoa a viver melhor, isso já justifica a entrega da minha vida”. O papa finaliza com uma oração especial a Maria, "Mãe do Evangelho", "para que, toda vez que contemplamos Maria, voltemos a crer no poder revolucionário da ternura e do carinho".

A cristologia do papa Bergoglio



Francisco descreve e propõe uma retomada da identidade cristã
Por Alfonso M. Bruno

ROMA, 25 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Com a missa solene na Praça de São Pedro, na festa de Cristo Rei, o papa encerrou o ano litúrgico e o Ano da Fé. A liturgia diz que Cristo é o Alfa e o Ômega: a história da salvação começa com a sua vinda ao mundo e é destinada a terminar com o seu retorno.
E é por esta razão que a solenidade que comemora a sua centralidade no universo e na história é colocada no final do nosso ciclo anual: quando chega a hora de fazer uma avaliação do ano que passou, deve-se medir quanto progresso foi feito na construção do Reino de Deus.
Os primeiros cristãos, que celebravam a missa à noite, esperavam até altas horas pela "parusia", ou seja, pelo retorno de Cristo.. O papa Francisco diz que Cristo já está presente, através da Sua Palavra e da Eucaristia. Neste ponto, ele aborda o problema do sentido a ser atribuído a esta presença, depois de o Ano da Fé nos ter fortalecido na convicção de que a fé é eficaz e operativa.
Em sua homilia, Francisco afirmou que Cristo é o centro da criação, que Cristo está no centro da história, que Cristo está no centro da Redenção. O papa acrescentou, no entanto, um conceito, que nós, europeus, não estamos acostumados a ouvir, mas que é bastante típico da cristologia latino-americana: Cristo está no centro do povo.
É espontâneo, quando ouvimos o papa, concluir que Cristo é o fator decisivo, específico, determinante da nossa identidade coletiva. De fato, logo depois, a palavra "identidade" foi vigorosamente proclamada pelo papa na Praça de São Pedro.
Neste domingo de manhã, o noticiário abordou repetidamente a questão do acordo sobre a política nuclear iraniana: um acordo que marca a renúncia final do Ocidente a frear o desenvolvimento atômico daquele país e, com isso, a expansão da sua influência.
Agora, apenas a palavra dos líderes do Irã, ou melhor, o seu interesse em evitar um conflito, pode nos dar garantias contra os perigos decorrentes dessa realidade. O Ocidente cristão não é mais capaz de dominar o mundo, não é mais capaz de se preservar da emergência econômica, cultural e agora também militare dos poderes que não fazem parte dele.
Vem então a tentação inevitável, para cada um, de se refugiar na sua própria identidade. Se essa identidade for concebida em termos étnicos, a fragmentação que nos espera será cada vez maior e acentuará a nossa marginalização e insignificância. Já se reavaliarmos a nossa identidade em termos espirituais, ela será mais extensa e, portanto, terá mais oportunidades de influenciar o mundo.
O papa certamente não a considera em termos de contraste com as outras culturas. Como homem que veio do hemisfério sul, o papa Bergoglio viveu na pele a injustiça histórica mascarada pelo colonialismo como "o fardo do homem branco".
A identidade cristã, de resto, não surgiu como uma questão interna do Ocidente, tanto porque, em realidade, ela provém do Oriente quanto porque não conhece nem justifica nenhuma forma de discriminação racial. Além disso, ela sempre se enraíza em culturas diferentes. Podemos até dizer que, enquanto as outras grandes religiões são não-europeias e têm pouca propagação em nosso continente, a nossa foi se espalhar como um fenômeno autóctone em todas as partes do mundo.
É precisamente nisto que reside o antídoto que a impede de endossar as novas tentativas de domínio por parte do Ocidente: mas o fato de que a tradição cristã tenha tido um particular enraizamento na Europa nos permite oferecer o patrimônio representado pela nossa identidade também às outras culturas.
Se a batalha pela supremacia econômica já está perdida e a luta pela supremacia militar já vai pela mesma direção, ainda permanece firme o prestígio que nos é dado pela nossa identidade espiritual.
Agora, mais do que nunca, em torno à figura do papa, ao seu prestígio, ao poder dos seus gestos pela paz, à sua luta pela justiça, reúnem-se não-católicos, não-cristãos, não-religiosos que aceitam de fato a sua orientação. Como podemos ajudá-lo, nós, europeus e católicos? Simplesmente vivendo com coerência a nossa fé, a fé para a qual Cristo está, como nos recorda o papa, no coração dos povos: é uma escolha com implicações revolucionárias, uma vez que, hoje, no coração dos povos, existem tantos interesses materiais e egoístas.
A crise até poderá ter um efeito benéfico se nos levar a reconverter-nos como cristãos.

Fazer escolhas definitivas, confiando no Senhor



Na homilia em Santa Marta, Francisco encoraja a ter confiança em Deus também nas situações extremas, a exemplo dos mártires de todos os tempos
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 25 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Não é possível ser cristãos mornos. Que o escreva São João no Apocalipse, ou o diga Bento XVI na lectio aos bispos do sínodo no ano passado, o conceito é sempre o mesmo: o cristão não pode lagartear-se em uma moleza moral ou em escolhas entre um “talvez sim, talvez não”. Quem segue a Cristo é chamado a escolhas definitivas, a confiar em Deus também nas situações que estão no limite da resistência humana. Seguindo o exemplo dos mártires que, com coragem e confiança, confiaram tudo ao Senhor, chegando muitas vezes a “ganhar” a morte.
Este aviso - um dos "cavalos de batalha” do pontificado de Bergoglio – voltou hoje na homilia da Missa em Santa Marta. Na sua reflexão, o Papa retomou as leituras do dia, observando como nas duas passagens se fale de cristãos que escolhem o Senhor também “em situações extremas”. São os três jovens hebreus da leitura do Livro de Daniel, que preferem sofrer a condenação do rei Nabucodonosor queimando numa fornalha ardente, do que ajoelhar-se diante da sua estátua e negar a própria fé em Deus. E é a viúva do Evangelho de Lucas, que, apesar da profunda pobreza, deposita todos os seus pertences no tesouro do Templo.
“Todos os dois – a viúva e os jovens – arriscaram”, afirmou o Pontífice, e “no seu risco escolheram o Senhor, com um coração grande, sem interesse pessoal, sem mesquinhez”. Eles ‘arriscaram tudo’ por Deus, não “por uma força fanática” do tipo: ‘Devemos fazer isso Senhor’”, destacou o Papa. Mas porque “confiaram naquela fidelidade que sempre existe, porque o Senhor não pode mudar: sempre é fiel, não pode não ser fiel, não pode negar a si mesmo”.
Firmes nessa fé, os protagonistas da Liturgia de hoje escolheram renunciar a tudo, na certeza de que Deus é mais potente do que a miséria ou do que a morte. E o Senhor de fato, lembrou o Papa, livra os escravos hebreus do fim certo e não esquece de ajudar a viúva e de louvá-la pelo seu gesto.
"Também na história da Igreja – disse Bergoglio – existem homens, mulheres, anciãos, jovens, que fazem esta escolha” de entregar-se a Deus em tudo e para tudo. São estes mártires, muito mais presentes hoje do que no passado, que por causa da sua fé vivem uma vida de riscos e turbulências, uma vida “no limite”. “Quando nós ouvimos a vida dos mártires, quando lemos nos jornais as perseguições contra os cristãos, hoje, pensamos neste irmãos e irmãos em situações limites, que fazem esta escolha” disse o Papa. Eles, continuou, “são um exemplo para nós e nos encorajam a colocar no tesouro da Igreja tudo aquilo que temos para viver”.
Mas também são um exemplo todas aquelas pessoas cujo heroísmo não se expressa em atos extremos, mas em decisões cotidianas tomadas com fé e coragem. Disse, de fato, Francisco: “Pensemos também em tantas mães, em tantos pais de família que a cada dia fazem escolhas definitivas para seguir adiante com as suas famílias, com os seus filhos. E isto é um tesouro na Igreja. Eles nos dão testemunho”. Diante desses modelos de cristãos ‘não mornos’ que arriscam tudo porque estão inflamados pela fé em Deus, “peçamos ao Senhor a graça da coragem” exortou o Santo Padre. Peçamos, ou seja, aquela coragem “de seguir em frente na nossa vida cristã, nas situações normais, comuns, de cada dia e também nas situações extremas”.

"Abri-vos a quem é pobre de fé e de esperança na vida



O Papa Francisco recebe em audiência os voluntários do Ano da Fé
Por Luca Marcolivio

ROMA, 25 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Depois de ter agradecido durante o Angelus de ontem, mons. Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, por seus esforços na organização dos eventos do Ano da Fé, o Papa Francisco estendeu a sua gratidão aos voluntários que também prestaram serviço.
Os voluntários, acompanhados por Monsenhor Fisichella, foram recebidos em audiência esta manhã pelo Santo Padre na Sala Clementina do Palácio Apostólico.
"O Ano da Fé, que terminou ontem - disse o Papa – foi para os fieis uma oportunidade providencial para reavivar a chama da fé, aquela chama que nos foi confiada no dia do Batismo, para que fosse custodiada por nós e compartilhada”.
O Papa Francisco também elogiou, portanto, os voluntários do Ano da Fé pela “generosidade” demonstrada no “serviço dos percursos espirituais propostos aos diversos grupos de fieis com adequadas iniciativas pastorais”.
O Santo Padre falou também da natureza da fé, como “pedra fundamental da experiência cristã, porque motiva as escolhas e os atos da nossa vida cotidiana. Ela – disse – é a veia inesgotável de todo o nosso atuar, em família, no trabalho, na paróquia, com os amigos, nos vários ambientes sociais” e se manifesta “especialmente nos momentos de dificuldade e de prova”, quando “o cristão deixa que Deus lhe pegue pela mão, e se aproxima Dele, com a segurança de confiar-se a um amor forte como rocha indestrutível”.
O "valioso serviço" prestado pelos voluntários durante todo o Ano da Fé, continuou o Papa, foi para eles uma oportunidade de “captar melhor do que os outros o entusiasmo das diferentes categorias de pessoas envolvidas”. É, portanto, necessário “louvar o Senhor pela intensidade espiritual e o ardor apostólico despertados por tantas iniciativas pastorais promovidas nestes meses, em Roma e em cada parte do mundo”.
A fé em Cristo "é capaz de aquecer os corações, tornando-se realmente a força motriz da nova evangelização” e se vivida “em profundidade e com convicção”, pode “abrir para um vasto campo o anúncio do Evangelho”.
Graças a esta fé, as comunidades se tornam “missionárias” e “de fato faz falta comunidades cristãs comprometidas por um apostolado corajoso, que atinja as pessoas nos seus ambientes, também naqueles mais difíceis”, comentou o Papa.
Em conclusão, o Santo Padre destacou a importância de “abrir-se a todos aqueles que são os mais pobres de fé e de esperança nas suas vidas. Falamos tanto de pobreza, mas nem sempre pensamos nos pobres de fé: há tantos”.
São tantas, de fato, “as pessoas que têm necessidade de um gesto humano, de um sorriso, de uma palavra verdadeira, de um testemunho através do qual captar a proximidade de Jesus Cristo”.. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ANO LITÚRGICO

 (4.ª Semana de novembro/2013)
 
Com a celebração da solenidade de Cristo Rei do Universo a Igreja concluiu mais um Ano Litúrgico, o qual é definido como a celebração dos principais mistérios (acontecimentos) da história de nossa salvação, no espaço de um ano. No domingo seguinte inicia-se novo Ano da Liturgia da Igreja, com o 1º Domingo do Advento. Assim começa o chamado Ciclo do Natal. Certamente, já é do nosso conhecimento que o Ano litúrgico é formado por dois ciclos e é completado pelo Tempo Comum. Em 2013 já celebramos e refletimos sobre o Ciclo da Páscoa, que inicia com a quaresma, passa pela Semana Santa, tendo seu auge no Tríduo Pascal, com a celebração da morte e ressurreição de Jesus Cristo, e se estende pelo Tempo pascal até Pentecostes. Concluído este Ciclo da Páscoa, vivemos o longo Tempo Comum (33/34 semanas), em que a Igreja celebra seu percurso pela história, atuando o mistério de Cristo, sob a ação do Espírito Santo, e celebrando também o testemunho dos santos e das santas, cuja vida se assemelha à de Cristo.
Para quem acompanha nossas mensagens, já se deu conta que em 2013 damos espaço especial para a formação litúrgica. Ao conhecermos o significado das diversas celebrações litúrgicas, certamente, celebraremos melhor os seus mistérios em nossa vida. Por isso, antes de iniciarmos o Ciclo litúrgico do Natal, continuamos a refletir sobre o Ano Litúrgico, como um todo, tentando descobrir sua riqueza teológico-litúrgica.
Já afirmamos que a Igreja procura celebrar, no tempo de um ano, todo mistério da salvação, desde os tempos que prepararam a vinda de Jesus Cristo até a parusia (fim dos tempos). O liturgista brasileiro Dom Isnard (+2011) afirma que cada celebração eucarística contém todo Mistério da salvação, mas que cada dia do Ano Litúrgico focaliza determinado aspecto deste mistério. Podemos acrescentar que toda celebração litúrgica atua um determinado aspecto do Mistério da salvação, mas todos convergem para a Páscoa. Deus se revelou de muitos modos na história, até que, na plenitude dos tempos, se encarnou 
em Jesus Cristo, assumindo nossa condição humana e efetivando nossa salvação, cujo centro está no mistério pascal. Esta obra redentora de Cristo continua atuante na história pela força transformadora do Espírito Santo. Em cada tempo litúrgico destacamos um determinado aspecto deste mistério salvífico, mas o todo do Mistério está sempre presente. Não que as ações temporais de Jesus Cristo, enquanto históricas, se tornem presentes, mas se atualiza o mistério salvífico da ação de Cristo, realizado uma vez por todas (Hebr 7, 27; 9, 12). Ele se torna o centro da história e sua ação salvífica se atua e se atualiza no hoje perene da história, que se transforma em momento salvador: o tempo é momento de salvação.
O Mistério pascal envolve toda nossa vida e em todos os dias. Mas durante o Ano Litúrgico há momentos celebrativos cíclicos. Não porque a ação salvadora de Deus seja inconstante, mas porque nós humanos precisamos de momentos mais intensos e significativos e outros mais comuns. Assim vemos que as diversas celebrações durante o Ano Litúrgico fazem memória das ações salvíficas, operadas por Deus através dos tempos, e as atua no momento presente, enquanto aguardamos a manifestação definitiva do Senhor: a liturgia celebra o ontem, o hoje e o amanhã (Hebr 13, 8), num só momento salvífico, em que a comunidade se insere. Deus é fiel em todos os tempos e sua Aliança não falha. Os homens e as mulheres de todos os tempos podem inserir-se nessa marcha irreversível para a plenitude, quando Deus será tudo em todos (1Cor 15, 28).
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

TEMPO DE ADVENTO



1. História do Advento

Não é fácil precisar a história e o primitivo significado do Advento; além disso,as noticias sobre suas verdadeiras origens são parcas .É necessário distinguir elementos que dizem respeito a práticas ascéticas e a outras, de caráter estritamente litúrgico; um Advento que é preparação para o Natal e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo ( Advento escatológico). No Oriente, permaneceu quase ignorado um período de preparação ao Natal.

Portanto, o Advento é próprio do Ocidente. São descartadas totalmente as teorias que atribuem o Advento a São Pedro e sua existência aos tempos de Tertuliano e São Cipriano.O testemunho mais antigo encontra-se em uma passagem de Santo Hilário (por volta de 366)que diz:"Sancta Mater Ecclesia Salvatoris adventus annuo recursu per trium septimanarum sacretum spatium sivi indicavit"(CSEL,65,16)"A santa mãe igreja oferece um espaço sagrado de três semanas por ano para a vinda do Salvador" .

O duplo caráter do Advento, que celebra a espera do Salvador na glória e a sua vinda na carne,emerge das leituras bíblicas festivas .O primeiro domingo orienta para parusia final,o segundo e o terceiro chamam a atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos para a natividade de Cristo ao mesmo tempo fazendo dela a teologia e a história. Portanto, a liturgia contempla ambas as vindas de Cristo, em íntima relação entre si. 

2. Espiritualidade do Advento

Toda a liturgia do Advento é apelo para se viver alguns comportamentos essenciais do cristão: a expectativa vigilante e alegre, a esperança, a conversão, a pobreza.

a) A expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre o cristão e a Igreja, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa, que manifestou em Cristo toda a sua fidelidade ao homem: "Todas as promessas de Deus encontram nele seu sim" ( 2 Cor 1,20). A esperança da Igreja é a mesma esperança de Israel, mas já realizada em Cristo. 

Os nossos primeiros irmãos na fé, como atesta a Didaqué, imploravam: "Que o Senhor venha e passe afigura deste mundo. Maranatha. Amém". Assim termina o livro do Apocalipse e toda a escritura:"Aquele que atesta essas coisas diz: Sim! venho muito em breve. Amém! Vem Senhor Jesus. A graça do Senhor Jesus esteja com todos. Amém"(Ap 22,20).

A expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria. O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá. Deus é fiel. A vinda do Salvador cria um clima de alegria que a liturgia do Advento não só relembra, mas quer que seja vivida.O Batista, diante de Cristo presente em Maria, salta de alegria no seio da mãe.O nascimento de Jesus é uma festa alegre para os anjos e para os homens que ele vem salvar (cf. Lc 1, 44.46-47; 2,10.13-14).

b) No Advento, toda a Igreja vive a sua grande esperança. O Deus da revelação tem um nome:"Deus da esperança"(Rm15,13).

Não é o único nome do Deus vivo, mas é um nome que o identifica como "Deus para conosco".O Advento é o tempo da grande educação à esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição e da lentidão no desenvolvimento do Reino; uma esperança que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivistas e do frenesi do futuro programado pelo homem.

Na convocação ao testemunho da esperança, a Igreja, no Advento, é confortada pela figura de Maria, a mãe de Jesus.Ela que "no céu, glorificada em corpo e alma, é a imagem e a primícia da Igreja...brilha também na terra como sinal de segura esperança e de consolação para o povo de Deusa caminho, até que chegue dia do Senhor" (cf. 2 Pd 3,10).

c) Advento ,tempo de Conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo coração, na expectativa da sua volta.A vigilância requer luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão e, portanto, desapego dos prazeres e bens terrenos. O cristão, convertido a Deus, é filho da luz e, por isso, permanecerá acordado e resistirá às trevas, símbolo do mal, pois do contrário corre o risco de ser surpreendido pela parusia. 

Esse comportamento de vigilante espera na alegria e na esperança exige sobriedade, isto é, renúncia aos excessos e a tudo aquilo que possa desviar-nos da espera do Senhor.A pregação do Batista, que ressoa no texto do evangelho do segundo domingo do Advento, é apelo para a conversão, a fim de preparar os caminhos do Senhor.

O espírito de conversão , próprio do Advento, possui tonalidades diferentes daquelas relembradas na Quaresma. A substância é essencialmente a mesma, mas, enquanto a Quaresma é marcada pela austeridade da reparação do pecado, o Advento é marcado pela alegria da vinda do Senhor.

d) Enfim, um comportamento que caracteriza a espiritualidade do Advento é o do pobre. Não tanto o pobre em sentido econômico, mas o pobre entendido em sentido bíblico: aquele que confia em Deus e apóia-se totalmente nele. Estes anawîm , como os chama a Bíblia, São os mansos e humildes , porque as suas disposições fundamentais são a humildade, o temor de Deus, a fé. 

Eles são objeto do amor benévolo de Deus e constituem as primícias do "povo humilde"( cf. Sf 3,12) e da "Igreja dos pobres" que o Messias reunirá. Jesus proclamará felizes os pobres e neles reconhecerá os herdeiros privilegiados do Reino, ele mesmo será pobre. Belém, Nazaré, mas sobretudo a cruz, são diversas formas com que Cristo manifestava-se como autêntico "pobre do Senhor". Maria emerge como modelo dos pobres do Senhor, que esperam as promessas de Deus, confiam nele e estão disponíveis, com plena docilidade, à atuação do plano de Deus.

Padre Gian Luigi Morgano
via catequisar

domingo, 24 de novembro de 2013

No encerramento do Ano da Fé, Papa destaca a centralidade de Jesus na vida do homem




Terminou neste domingo, 24, o Ano da Fé, proclamado pelo Papa emérito Bento XVI. Após pouco mais de um ano dedicado a reflexões e amadurecimento da fé católica, o encerramento do período foi marcado pela celebração eucarística presidida pelo Papa Francisco na praça São Pedro, no Vaticano.

O ponto chave da homilia do Santo Padre foi a centralidade de Jesus Cristo na criação, na vida do povo e na história. Assim sendo, a atitude que se espera daquele que crê é, segundo o Papa, esse reconhecimento e essa aceitação.

"Reconhecer e aceitar na vida esta centralidade de Jesus, nos pensamentos, nas palavras e nas obras. Assim, nossos pensamentos serão cristãos, pensamentos de Cristo. As nossas obras serão obras cristãs. As nossas palavras serão cristãs", disse.

Porém, quando se perde este centro, as consequências são danos ao homem e ao ambiente que o rodeia. O Pontífice recordou que Cristo é justamente o irmão a partir do qual se constituiu o povo e Aquele que cuidou do povo entregando sua própria vida. "Nele, nós somos um só povo. Unidos a Ele, partilhamos um só caminho, um só destino. Somente Nele, Nele como centro, temos a identidade como povo".

E tendo em vista esta centralidade de Jesus, o Papa disse que tudo pode ser referido a Ele, tanto as alegrias e esperanças como as tristezas e os momentos mais sombrios. Como exemplo, ele citou a atitude de Jesus com o ladrão no Evangelho de hoje.

"Jesus anuncia apenas a palavra do perdão, não a da condenação. Quando o homem tem coragem de pedir este perdão, o Senhor não deixa nunca de responder".

Logo no início da homilia, o Papa dirigiu seu pensamento carinhoso e repleto de reconhecimento a Bento XVI, que institui o Ano da Fé dando esse presente para a Igreja. Ele também saudou os patriarcas e arcebispos maiores das Igrejas católicas orientais presentes na celebração.

"O abraço da paz que trocarei com eles quer significar o reconhecimento do bispo de Roma por essas comunidades. (…) Com esse gesto, pretendo alcançar todos os cristãos que vivem na Terra Santa, na Síria e em todo o Oriente, a fim de obter para todos o dom da paz". A missa de encerramento do Ano da Fé aconteceu no dia em que a Igreja celebra a festa de Cristo Rei. Entre os momentos marcantes, estiveram a exposição, pela primeira vez, das relíquias de São Pedro e a coleta em prol dos atingidos pelo tufão nas Filipinas.

Ao final da missa de encerramento do Ano da Fé , o Papa Francisco fez a entrega simbólica da primeira Exortação Apostólica de seu pontificado. Intitulado "Evangelii Gaudium", o documento será apresentado nesta terça-feira, 26, em coletiva no Vaticano.

O texto foi entregue para 36 pessoas de 18 países: um bispo, um sacerdote e um diácono; além de religiosas, seminaristas, catequistas, uma família, uma senhora com deficiência visual (que recebeu uma versão em CD), jovens, confrarias e movimentos eclesiais. O grupo foi escolhido para evocar cada evento do Ano da Fé realizado no Vaticano.

A primeira Exortação Apostólica de Francisco, a "Evangelii Gaudium", fala sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual
VIA PORTAL ECCLESIA.