RIO DE JANEIRO, 07 de Outubro de 2013 (
Zenit.org) - Outubro, o mês das Missões, é o mês em que
somos convidados a refletir sobre a atualidade do Santo Rosário em nossa vida
cristã. Por isso mesmo, neste mês devemos reforçar a nossa devoção mariana
empreendendo a Oração do Rosário em família, em grupos de orações, nos setores
pastorais, nas comunidades e nas paróquias. Essa devoção contemplativa faz-nos
meditar sobre os mistérios de nossa redenção. É uma oportunidade de chegar às
pessoas em todos os lugares e começar ali um grupo católico, embrião de uma
futura pequena comunidade. Neste tempo em que tanto falamos de Paróquia como
comunidade de comunidades, uma das formas de iniciarmos uma comunidade é através
da oração. É claro que os grupos de reflexão, círculos bíblicos e outros tipos
de reuniões e celebrações também formam as futuras comunidades, que farão parte
da paróquia presente em todo o seu território. São oportunidades que nos ajudam
a viver o trabalho pastoral. Mas a Oração do Rosário também precede as
celebrações eucarísticas, acompanha-nos nas viagens, nos tempos de reflexão,
andando pelos caminhos, nos momentos de alegria ou aflição, fazendo-nos próximos
do Senhor que nos conduz e ilumina nossas vidas.
Na Carta Apostólica sobre o “Rosário da Virgem Maria”, o Papa João Paulo II
nos ensina que: "O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia
mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos,
concentra
a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase
um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene
Magnificat pela
obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo
cristão
frequenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na
contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do
seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a
recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor" (cf. RVM, n. 1). Com isso vemos
que essa oração devocional sustentou durante muito tempo a vida cristã católica
de nosso povo num passado não muito distante.
João Paulo II nos incentivava a reza do Rosário cotidianamente pelo "fato de
este constituir um meio validíssimo para favorecer entre os crentes
aquele
compromisso de contemplação do mistério cristão que ele propôs
na Carta apostólica
Novo
millennio ineuntecomo verdadeira e própria pedagogia da
santidade: 'Há necessidade dum cristianismo que se destaque principalmente
pela ‘
arte da oração'. Enquanto que na cultura contemporânea, mesmo
entre tantas contradições, emerge uma nova exigência de espiritualidade, é
extremamente urgente que as nossas comunidades cristãs se tornem 'autênticas
escolas de oração'. O Rosário situa-se na melhor e mais garantida tradição da
contemplação cristã. Desenvolvido no Ocidente, é oração tipicamente meditativa e
corresponde, de certo modo, à 'oração do coração' ou 'oração de Jesus' germinada
no
húmus do Oriente cristão" (cf. RVM, n. 5).
O Papa disse que o Rosário é o compêndio dos Santos Evangelhos: o Rosário é
um dos percursos tradicionais da oração cristã aplicada à contemplação do rosto
de Cristo. Paulo VI assim o descreveu: 'Oração evangélica, centrada sobre o
mistério da Encarnação redentora, o
Rosário é, por isso mesmo, uma
prece de orientação profundamente cristológica. Na verdade, o seu elemento mais
característico – a repetição litânica do '
Alegra-te, Maria' – torna-se
também ele louvor incessante a Cristo, objetivo último do anúncio do Anjo e da
saudação da mãe do Baptista: 'Bendito o fruto do teu ventre' (
Lc 1,
42). “Diremos mais ainda: a repetição da
Ave Maria constitui a urdidura
sobre a qual se desenrola a contemplação dos mistérios; aquele Jesus que
cada
Ave Maria relembra é o mesmo que a sucessão dos mistérios propõe,
uma e outra vez, como Filho de Deus e da Virgem Santíssima" (cf. RVM, n.
18).
O Rosário é composto de quatro mistérios: gozosos, dolorosos, gloriosos e da
luz. Os mistérios da luz foram acrescidos pelo Papa João Paulo II. Ensina o
futuro santo que: "Passando da infância e da vida de Nazaré à vida pública de
Jesus, a contemplação leva-nos aos mistérios que se podem chamar, por especial
título, 'mistérios da luz'. Na verdade,
todo o mistério de Cristo é
luz. Ele é a 'luz do mundo' (
Jo8, 12). Mas esta dimensão emerge
particularmente
nos anos da vida pública, quando Ele anuncia o
evangelho do Reino. Querendo indicar à comunidade cristã cinco momentos
significativos – mistérios luminosos – desta fase da vida de Cristo: 1o no seu
Batismo no Jordão, 2o na sua auto-revelação nas bodas de Caná, 3o no seu anúncio
do Reino de Deus com o convite à conversão, 4o na sua Transfiguração e, enfim,
5o na instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal".
O Santo Rosário "coloca-se ao serviço deste ideal, oferecendo o “segredo”
para se abrir mais facilmente a um conhecimento profundo e empenhado de Cristo.
Digamos que é
o caminho de Maria. É o caminho do exemplo da Virgem de
Nazaré, mulher de fé, de silêncio e de escuta. É, ao mesmo tempo, o caminho de
uma devoção mariana animada pela certeza da relação indivisível que liga Cristo
à sua Mãe Santíssima: os
mistérios de Cristo são também, de certo modo,
os
mistérios da Mãe, mesmo quando não está diretamente envolvida, pelo
fato de Ela viver d'Ele e para Ele. Na
Ave Maria, apropriando-nos das
palavras do Arcanjo Gabriel e de Santa Isabel, sentimo-nos levados a procurar
sempre em Maria, nos seus braços e no seu coração, o 'fruto bendito do seu
ventre' (cf.
Lc 1, 42) “(cf. RVM 24).
Vivemos no dia a dia da correria, de uma sociedade desorientada,
infelizmente, em tempos tortuosos e agitados. O mundo parece estar cansado. A
Virgem Maria continua cantando em nossos corações: "Derruba os poderosos de seus
tronos e eleva os humildes" (Lc 1,52-53). Entre um mistério e outro repetimos:
"Jesus, socorrei principalmente os que mais precisarem". Por isso, na cidade, ou
no campo – religiosos, leigos, bispos, padres, até o Papa – todos têm uma
simpatia especial pelo “Terço”, rezado por toda a Igreja, que encontra nele uma
maneira prática de estar com Deus. Aqui, os grupos do “terço dos homens” se
multiplicam. Agora também com o “terço das mulheres”, além dos vários grupos de
espiritualidades marianas. O evento arquidiocesano “Senhora do Rosário” quis
reunir em nossa catedral, para uma Oração do Terço, todos os grupos que se
empenham comunitariamente em rezá-lo.
Portanto, movido pelo entusiasmo da JMJ Rio 2013, convido particularmente os
jovens, que já sabem rezar o Rosário, que ensinem esta devoção aos outros jovens
ou aos seus companheiros e amigos que ainda não experimentaram a riqueza desta
oração mariana. Na repetição das orações do Pai Nosso, das Aves Marias e do
Glória ao Pai vai criando em nossa mente o filme da vida de Cristo. Assim,
rezando o terço, iremos crescer sempre na maior intimidade com a vida do Cristo
Redentor.
Que Nossa Senhora do Rosário nos ajude a redescobrir a beleza e a atualidade
do Santo Rosário. E peço a todos: rezem nas intenções da igreja, do santo padre,
e também por mim e pela nossa Arquidiocese!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ