sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Advento e solidariedade



Dom Walmor, arcebispo de Belo Horizonte, convida a preparar-se para o natal

Belo Horizonte,  (Zenit.orgDom Walmor Oliveira de Azevedo 

A preparação para o Natal, nascimento de Jesus Cristo, Salvador e Redentor da humanidade, é uma oportunidade singular de nova e adequada compreensão da vida. Não se pode vivê-la sem a luminosidade própria da fé que alimenta a luz da inteligência, garantindo um caminho de horizontes largos e belos. A Igreja Católica, sábia e pedagogicamente, convida todos a viverem esse tempo do Advento.  Nas quatro semanas que antecedem o Natal, a Igreja cria oportunidades importantes para se cultivar, de maneira profunda, a escuta da Palavra de Deus e, assim, fomentar e sustentar os laços de fraternidade, capacitando cada um no exercício dos gestos de solidariedade. São incontáveis as possibilidades, pelo percurso deste caminho do Advento, preparatório para o Natal do Senhor.
Para cada peregrino, homens e mulheres de boa vontade, desenham-se novos horizontes que qualificam a vida tão preciosa de cada um, razão pela qual Ele, Cristo Salvador, encarnou-se, igual a nós em tudo, exceto no pecado, para nos resgatar da condição de escravos e reconquistar o sentido mais autêntico de nossa liberdade. Trata-se, particularmente, de um caminho de vivência espiritual. Não pode esgotar-se simplesmente no que chama a atenção, e até alegra, pelos enfeites, luzes e cores, nem mesmo nas confraternizações. É preciso aproveitar o momento para refletir a própria interioridade, alargando este alicerce que nos capacita para uma vida comprometida com a cidadania e com a autêntica fé professada.
Pensando na verdadeira e real preparação para o Natal do Senhor, convido você para refletir sobre o relevante sentido de pertencimento à sociedade. Cada um olha a sua condição de cidadão, seus direitos e deveres, suas lutas e conquistas, empenhos para garantia de liberdades e de atendimento às necessidades fundamentais. Este olhar para si, analisando projetos pessoais e familiares, institucionais e outros, nos obriga a enxergar, sobretudo neste tempo, os mais pobres e sofredores, nos diversos cenários da sociedade.
Um dever especial, sem esquecer nenhum dos que reconhecidamente são sofredores e pobres, é lançar o olhar e unir o coração aos que estão mais desconsiderados na sua dignidade. Refiro-me aos irmãos e irmãs nossos que estão nas ruas das cidades. Uma situação que não pode ser apenas tratada com Lei e prescrições. Indispensáveis são o sentimento e o princípio humanístico da solidariedade, antídotos para ações abominavelmente higienistas. A Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, em parcerias e cooperação ampla, sabe que há muito que fazer. Conhece a defasagem humanística entre a abordagem destes irmãos e irmãs e a fiscalização, como também a insuficiência de infraestrutura para processos educativos respeitosos e ações de resgate. A Pastoral aponta o quanto o poder público, nossas Igrejas e os setores diversos da sociedade ainda precisam se mobilizar.
Retransmito um convite-intimação do Papa Francisco, na sua recente Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: tornar realidade em nós e no nosso meio o Natal de Jesus Cristo para nos curar de indiferenças, incompetências nas respostas e incapacidade para ações prioritárias, destinadas aos mais pobres. Vamos cultivar “uma fraternidade mística e contemplativa que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”. Vamos tratar diferente, nos comprometer mais com o povo que está nas ruas e com os mais pobres. Só assim será verdade o voto de “feliz Natal” que desejamos uns aos outros. Que o propósito deste Natal seja especialmente a qualificação de todos na condição de integrantes da sociedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

A Igreja em estado de advento



Dom Alberto Taveira Correa fala sobre o advento

Belém do Pará,  (Zenit.orgDom Alberto Taveira Corrêa 

Uma das imagens mais lindas, carregadas de sentido humano e cristão é a da gravidez. Encanta-me encontrar, como acontece com frequência no ambiente amazônico em que vivo, casais que pedem a bênção para a esposa que se aproxima do parto da criança, acolhida como dom de Deus. É a festa da vida e da esperança, a teimosia positiva de pessoas que acreditam que filho não é trabalho, mas bênção de Deus. De fato, "os filhos são herança do Senhor, é graça sua o fruto do ventre. Como flechas na mão de um guerreiro são os filhos gerados na juventude. Feliz o homem que tem uma aljava cheia deles" (Sl 127, 3-5).
A Igreja no tempo do Advento se assemelha a esta linda imagem humana, pois está grávida da graça e da presença salvadora de seu Senhor. Aquele que um dia voltará, e certa como a aurora é a sua vinda (Cf. Os 6,3), vem a nós de novo. "A Igreja deseja ainda ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência" (Cf. Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo - Acta Eclesiae Mediolanensis, t. 2, Lugduni, 1683, 916-917). O "estado de gravidez" da Igreja em tempo de Advento traz consigo consequências para a vida dos cristãos, que queremos chamar de "Virtudes do Advento", como proposta para as pessoas e as comunidades.
O ponto de partida é a necessidade profunda do Redentor. Não somos capazes de nos redimir por nós mesmos e de oferecer um sentido profundo à existência. Há uma iniciativa gratuita de Deus, que vem ao encontro da humanidade (Cf. Juan Ordoñez Marques, Teologia y Espiritualidad del Año liturgico, pág. 213, BAC, Madrid, 1978). Nossa boa vontade humana é insuficiente! Carecemos de Deus, de sua presença e de seu amor salvador! Uma humanidade sem Cristo é decadente, escorrega para o vazio absoluto. Deus preparou seu povo, através de gerações de homens e mulheres, dentre os quais se destacam os que, considerados pequeno resto dos pobres de Israel, permaneceram fiéis às promessas antigas. Também hoje, diante das promessas de Deus, que é fiel, multiplicam-se os que não duvidam de sua palavra.
A esperança é a virtude própria dessa gente, e queremos fazer parte dela! Quem a vive toma consciência da necessidade do Cristo que vem, abre-se para viver com fidelidade a ele e aponta a bússola de sua vida para a eternidade, onde Deus será tudo em todos. Não espera apenas o dia de amanhã, ou quem sabe uma visita que se anuncia e nem mesmo os eventuais benefícios que a vida oferece, mas espera Deus e espera tudo de Deus.
Viver a virtude da esperança leva o cristão à oração diante da promessa de Deus. E oração cristã é feita com humildade, sinceridade, abertura à vontade de Deus e obediência. Rezar e rezar melhor é próprio do Tempo de Advento. A melhor oração de Advento é a participação na Santa Missa, acompanhando a liturgia de um tempo rico do mistério de Deus. Depois, a oração em família, a Novena de Natal e a oração com a Bíblia, na leitura orante da Palavra de Deus.
Quem espera em Deus e tudo espera dele vive desde já o objeto de sua esperança, sendo fiel e responsável diante dos apelos do próprio Senhor. Como as gerações que precederam a vinda do Salvador viveram como se estivessem vendo o invisível, os cristãos de nosso tempo não podem deixar para amanhã o bem a ser feito. Sua fidelidade a Deus se manifesta navivência da caridade, a experiência da partilha dos bens espirituais e materiais. É o sentido dos muitos gestos de "Natal sem fome" ou, entre nós, "Belém, a casa do pão", assim como a grande "Coleta para a Evangelização", que se realiza em todo o Brasil neste fim de semana. É tempo de contagiar a todos, para que a generosidade seja experimentada e permaneça no ano que vai começar. É um grande laboratório de caridade, com o qual vale a pena se comprometer.
É quem começou tudo foi o próprio Deus. O Natal é a suprema epifania daquele que a Escritura chama de filantropia de Deus, seu amor pelos homens: "Manifestou-se a bondade de Deus e seu amor pelos homens" (Tt 3, 4). Só depois de ter contemplado a "boa vontade" de Deus para conosco podemos ocupar-nos também da "boa vontade" dos homens, de nossa resposta ao mistério do Natal. Imitar o mistério que celebramos significa abandonar todo pensamento de fazer justiça sozinhos, toda lembrança de ofensas recebidas, suprimir do coração todo ressentimento com respeito a todos. Não admitir voluntariamente nenhum pensamento hostil contra ninguém; nem contra os próximos nem contra os distantes, nem contra os fracos ou contra os fortes, nem contra os pequenos nem os grandes da terra, nem contra criatura alguma que existe no mundo. E isso para honrar o Natal do Senhor, porque Deus não guardou rancor, não olhou a ofensa recebida, não esperou que outro desse o primeiro passo até Ele. Se isso não é possível sempre, durante todo o ano, pelo menos o façamos no tempo do Advento e do Natal. Assim o Natal que se aproxima será realmente a festa da bondade, da filantropia de Deus (Cf. Padre Raniero Cantalamessa, OFM Cap. – pregador da Casa Pontifícia, 24 de dezembro de 2007).
Para assim viver o Advento e o Natal que se aproxima, ressoa no Advento o convite de São João Batista à conversão, mudança de mentalidade, que pode traduzir-se numa corajosa revisão de vida, para arrumar a casa do coração e a busca do Sacramento da Penitência.
Enfim, a Igreja em tempo de Advento convida os cristãos ao otimismo da fé, que se  traduz na virtude da alegria, fruto da presença do Espírito Santo em nossos corações.
Vem de Deus a graça que precisamos. Por isso pedimos confiantes: "Ó Deus e bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o natal do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las com intenso júbilo na solene liturgia. Amém".

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Nossa Senhora de Guadalupe



Como toda aparição de Nossa Senhora, a que é venerada hoje é também emocionante. Talvez esta seja uma das mais comoventes, pelo milagre operado no episódio e pela dúvida lançada por um Bispo sobre sua aparição a um simples índio mexicano. 

Tudo se passou em 1531, no México, quando os missionários espanhóis já haviam aprendido a língua dos indígenas. A fé se espalhava lentamente por essas terras mexicanas, cujos rituais astecas eram muito enraizados. O índio João Diogo havia se convertido e era devoto fervoroso da Virgem Maria. Assim foi o escolhido para ser o portador de Sua mensagem às nações indígenas. Nossa Senhora apareceu à ele várias vezes. 

A primeira vez quando o índio passava pela Colina de Tepyac, próximo à Cidade do México, atual capital, a caminho da igreja. Maria lhe pediu que levasse uma mensagem ao Bispo. Ela queria que naquele local fosse erguida uma capela em sua honra. Emocionado o índio procurou o Bispo João de Zumárraga e contou-lhe o ocorrido. Mas o sacerdote não deu muito crédito à sua narração, não dando resposta se iria, ou não iniciar a construção. 

Passado uns dias Maria apareceu novamente a João Diogo, que desta vez procurou o Bispo com lágrimas nos olhos, renovando o pedido. Nem as lágrimas comoveram o Bispo, que exigiu do piedoso homem uma prova de que a ordem partia mesmo de Nossa Senhora. 

Deu-se então o milagre. João Diogo caminhava em direção à capital por um caminho distante da Colina onde anteriormente as duas visões aconteceram. O índio, aflito, ia à procura de um sacerdote que desse a extrema unção a um tio seu, que agonizava. De repente Maria apareceu à sua frente, numa visão belíssima. O tranqüilizou quanto à saúde do tio, pois avisou que naquele mesmo instante ele já estava curado. Quanto ao Bispo, pediu a João Diogo que colhesse rosas no alto da colina e as entregasse ao religioso. João ficou surpreso com o pedido, porque a região era inóspita e a terra estéril, além de que, o país atravessava um rigoroso inverno. Mas obedeceu e novamente surpreso encontrou muitas rosas, recém-desabrochadas. João colocou-as no seu manto e, como a Senhora ordenara, foi entrega-las ao Bispo, como prova de sua presença. 

E assim fez o fiel índio. Ao abrir na frente do Bispo o manto cheio de rosas, ele viu se formar impressa uma linda imagem da Virgem, tal qual o índio a descrevera antes, mestiça. Espantado, o Bispo seguiu João até a casa do tio moribundo e este já estava de pé, forte e saudável. Contou que Nossa Senhora "morena" lhe aparecera também, o teria curado e renovado o pedido. Queria um santuário na colina de Tepyac, onde sua imagem seria chamada de Santa Maria de Guadalupe. Mas não explicou o porquê do nome. 

A fama do milagre se espalhou. Enquanto o templo era construído, o manto com a imagem impressa ficou guardado na capela do paço episcopal. Várias construções se sucederam na colina, ampliando templo após templo, pois as romarias e peregrinações só aumentaram com o passar dos anos e dos séculos. 
O local se tornou um enorme Santuário abriga a imagem de Nossa Senhora na famosa Colina e ainda se discute o significado da palavra Guadalupe. Nele está guardado o manto de Santo João Diego, em perfeito estado apesar de passados tantos séculos. Nossa Senhora de Guadalupe é a única a ser representada como mestiça, com o tom de pele semelhante ao das populações indígenas. Por isso o povo a chama carinhosamente de "La Morenita", quando a celebra no dia 12 de dezembro, data da última aparição. 

Foi declarada padroeira das Américas, em 1945, pelo Papa Pio XII. Em 1979, como extremado devoto mariano, o Papa João Paulo II visitou esse Santuário e consagrou solenemente toda a América Latina a Nossa Senhora de Guadalupe.

Guardar silêncio para escutar a ternura de Deus



Homilia do papa 
Os pais falam como crianças para se comunicar com os filhos. Deus também faz isso conosco
Por Redacao

ROMA, 12 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Guardar um pouco de silêncio para escutar a Deus, que nos fala com a ternura de um pai e de uma mãe: Francisco afirmou, na missa celebrada hoje de manhã na Casa Santa Marta, que isto “nos fará bem”.
Abordando a leitura do dia, do livro do profeta Isaías, o papa destacou “não o que Deus diz", mas "como ele diz". Deus nos fala do jeito que o papai ou a mamãe conversam com o filho pequeno. "Quando uma criança tem um pesadelo e acorda chorando, o papai vai lá e fala: não fica com medo, não fica com medo, eu estou aqui. É assim que Deus fala conosco”.
“Nosso Senhor tem esse jeito de falar conosco: ele vem até nós... Quando vemos um pai ou uma mãe falando com o filho, nós notamos que, muitas vezes, eles fazem voz de criança e gestos infantis. Quem olha de fora pode pensar que é ridículo! Mas o amor do papai e da mamãe tem a necessidade de se aproximar, e eu digo esta palavra: de se ‘abaixar’ até o mundo da criança. Sim, se o papai e a mamãe falassem com normalidade, a criança entenderia do mesmo jeito; mas eles preferem usar o jeito de falar da criança. Eles se tornam próximos, se tornam crianças. E Deus também é assim".
O papa recordou que os teólogos gregos explicavam essa atitude de Deus com uma palavra difícil: a synkatábasis, ou seja, "a condescendência de Deus que desce para se fazer como um de nós". Para matizar a ideia, Francisco destacou que "o papai e a mamãe também dizem coisas um pouco ridículas para o filho: ‘meu bebezinho, meu docinho, e todas essas coisas’”. Deus também nos trata assim, diz o papa: embora pequenos, ele nos ama muito e usa a linguagem de amor do pai e da mãe. Palavra do Senhor? Sim: “Escutemos o que ele nos diz. Mas notemos também o jeito como ele diz. E nós temos que fazer o que Deus faz, fazer o que ele diz e como ele diz: com amor, com ternura, com aquela condescendência com os irmãos".
Prosseguindo e citando o encontro de Deus com Elias, o papa explicou que Deus é como a "brisa suave", ou, como diz o texto original, "um fio sonoro de silêncio". É assim que Deus vem a nós, "com aquela sonoridade do silêncio, própria do amor. Sem dar espetáculo". E Deus "se torna pequeno para nos tornar poderosos; ele encara a morte, com a condescendência, para que eu possa viver".
Ao encerrar a homilia, o papa refletiu: "Esta é a música da linguagem do Senhor, e nós, na preparação para o Natal, temos que ouvi-la. Ouvi-la nos fará bem, nos fará muito bem. Normalmente, o Natal parece uma festa de muito barulho: um pouco de silêncio nos fará bem, escutar essas palavras de amor, essas palavras de tanta proximidade, essas palavras de ternura... Guardar silêncio nesse tempo em que, como diz o prefácio, nós estamos vigilantes à espera".

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O JUIZO FINAL



Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira
O Santo padre reflete sobre o juízo final. É um motivo de esperança. Não ter medo porque se pedimos perdão ele nos perdoa
Por Redacao

ROMA, 11 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs, bom dia
Hoje gostaria de iniciar a última série de catequeses sobre nossa profissão de fé, tratando sobre a afirmação “Creio na vida eterna”. Em particular, concentro-me no juízo final. Mas não devemos ter medo: ouçamos aquilo que diz a Palavra de Deus. A respeito, lemos no Evangelho de Mateus: então Cristo “voltará na sua glória e todos os anjos com ele…Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda…E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna” (Mt 25, 31-33. 46). Quando pensamos no retorno de Cristo e no seu juízo final, que manifestará, até suas últimas consequências, o bem que cada um terá cumprido ou terá omitido de cumprir durante a sua vida terrena, percebemos nos encontramos diante de um mistério que paira sobre nós, que não conseguimos sequer imaginar. Um mistério que quase instintivamente suscita em nós um sentimento de temor, e talvez também de preocupação. Se, porém, refletimos bem sobre esta realidade, essa só pode alargar o coração de um cristão e constituir um grande motivo de consolação e de confiança.
A este propósito, o testemunho das primeiras comunidades cristãs ressoa muito fascinante. Essas, de fato, eram habituais ao acompanhar as celebrações e as orações com a aclamaçãoMaranathà, uma expressão constituída por duas palavras aramaicas que, do modo como são construídas, podem ser entendidas como uma súplica: “Vem, Senhor!”, ou como uma certeza alimentada pela fé: “Sim, o Senhor vem, o Senhor está próximo”. É a exclamação na qual culmina toda a Revelação cristã, ao término da maravilhosa contemplação que nos é oferecida no Apocalipse de João (cfr Ap 22, 20). Naquele caso, é a Igreja-esposa que, em nome de toda a humanidade e enquanto sua primícia, dirige-se a Cristo, seu esposo, não vendo a hora de ser envolvida por seu abraço: o abraço de Jesus, que é plenitude de vida e plenitude de amor. Assim nos abraça Jesus. Se pensamos no julgamento com esta perspectiva, todo medo e hesitação é menor e deixa espaço à espera e a uma profunda alegria: será justamente o momento no qual seremos julgados finalmente prontos para ser revestidos da glória de Cristo, como de uma veste nupcial, e ser conduzidos ao banquete, imagem da plena e definitiva comunhão com Deus.
Um segundo motivo de confiança nos vem oferecido pela constatação de que, no momento do julgamento, não estaremos sozinhos. É o próprio Jesus, no Evangelho de Mateus, a preanunciar como, no fim dos tempos, aqueles que o tiverem seguido tomarão lugar na sua glória, para julgar junto a Ele (cfr Mt 19, 28). O apóstolo Paulo, depois, escrevendo à comunidade de Corinto, afirma: “Não sabeis que os santos julgarão o mundo? Quanto mais as pequenas questões desta vida!” (1 Cor 6,2-3). Que belo saber que naquele momento, bem como com Cristo, nosso Paráclito, nosso Advogado junto ao Pai (cfr 1 Jo 2, 1), poderemos contar com a intercessão e com a benevolência de tantos nossos irmãos e irmãs maiores que nos precederam no caminho da fé, que ofereceram a sua vida por nós e que continuam a nos amar de modo indescritível! Os santos já vivem na presença de Deus, no esplendor da sua glória rezando por nós que ainda vivemos na terra. Quanta consolação suscita no nosso coração esta certeza! A Igreja é verdadeiramente uma mãe e, como uma mãe, procura o bem dos seus filhos, sobretudo aqueles mais distantes e aflitos, até encontrar a sua plenitude no corpo glorioso de Cristo com todos os seus membros.
Uma outra sugestão nos vem oferecida pelo Evangelho de João, onde se afirma explicitamente que “Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem Nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do Filho único de Deus” (Jo 3, 17-18). Isto significa então que aquele juízo final já está em vigor, começa agora no curso da nossa existência. Tal juízo é pronunciado a cada instante da vida, como verificação do nosso acolhimento com fé da salvação presente e operante em Cristo, ou da nossa incredulidade, com o consequente fechamento em nós mesmos. Mas se nós nos fechamos ao amor de Jesus, somos nós mesmos que nos condenamos. A salvação é abrir-se a Jesus, e Ele nos salva; se somos pecadores – e o somos todos – peçamos-lhe perdão e se vamos a Ele com o desejo de ser bons, o Senhor nos perdoa. Mas, para isso, devemos abrir-nos ao amor de Jesus, que é mais forte que todas as outras coisas. O amor de Jesus é grande, o amor de Jesus misericordioso, o amor de Jesus perdoa; mas você deve se abrir e se abrir significa arrepender-se, acusar-se das coisas que não são boas e que fizemos. O Senhor Jesus se doou e continua a se doar a nós, para nos encher de toda a misericórdia e a graça do Pai. Somos nós também que podemos nos tornar em um certo sentido juízes de nós mesmos, nos auto-condenando à exclusão da comunhão com Deus e com os irmãos.  Não nos cansemos, portanto, de vigiar sobre nossos pensamentos e sobre nossas atitudes, para experimentar desde já o calor e o esplendor da face de Deus – e isso será belíssimo – que na vida eterna contemplaremos em toda a sua plenitude. Avante, pensando neste juízo que começa agora, e já começou. Avante, fazendo com que o nosso coração se abra a Jesus e à sua salvação; avante sem medo, porque o amor de Jesus é maior e se nós pedimos perdão dos nossos pecados Ele nos perdoa. Jesus é assim. Avante então com esta certeza, que nos levará à glória do céu.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O CICLO DO NATAL



 
 Em nossas anteriores reflexões litúrgicas já abordamos as origens históricas da celebração do Natal e agora queremos conhecer o desenvolvimento do Ciclo natalino, tendo o Advento como fase preparatória e a Epifania e o Batismo do Senhor, como continuação celebrativa, ligados ao mistério da encarnação.
Advento: este tempo de piedosa e feliz expectativa, que antecede a celebração do Natal, não tem suas origens históricas totalmente claras. Antes da sua presença litúrgica no rito romano (séc. VI), já há indícios na Gália e Espanha de um tempo de penitência e oração em vista da celebração do Natal. Em Roma, não encontramos esse aspecto penitencial, mas o Advento foi desde a origem uma instituição litúrgica. A duração cronológica da preparação ao Natal não foi igual em todas as Igrejas. Roma, depois de cinco e até seis semanas, optou finalmente por quatro semanas de Advento, com o sentido de preparação para o Natal.
O conteúdo teológico dessa preparação contém dupla dimensão de esperança: Preparação para o nascimento do Senhor e espera pelo Senhor na parusia (fim dos tempos). Afirmam as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário da reforma do Vaticano II: “O tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (Missal Romano - NUALC 39). Essas características se misturam, ora acentuando-se mais a um, ora mais a outro aspecto, dependendo das diversas Igrejas e épocas. A reforma litúrgica do Vaticano II houve por bem manter essa dupla característica da espera. No Oriente, praticamente, não se pode falar em tempo de Advento, senão apenas em alguns dias de preparação.
Epifania: Como continuação celebrativa do Natal aparece a Epifania, com sentido de manifestação ou aparição do Messias. O objetivo é apresentar o Verbo encarnado, acentuando os sinais temporais e terrestres que atestam de fato que a criança nascida é o Salvador de todos os povos, representados pelos magos. Nesse contexto, aparecem os denominados: Tria miracula (Três milagres), especialmente acentuados no oriente: a estrela que guia os magos à manjedoura de Belém; o Batismo
em que Jesus é confirmado como o Filho de Deus; e o milagre de Caná, em que Jesus transforma água em vinho, realizando o seu primeiro milagre. Estes são os sinais de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus Salvador. É significativa a antífona do Cântico evangélico da Oração da Tarde na solenidade da Epifania do Senhor:

Recordamos neste dia três mistérios: 
Hoje a estrela guia os Magos ao presépio. Hoje a água se faz vinho para as bodas. Hoje Cristo no Jordão é batizado para salvar-nos” (LH, vol. I, p. 519).

A Igreja ocidental mantém a Epifania (06 de janeiro ou no Domingo entre os dias 2 e 5) ligada aos magos e no domingo seguinte celebra o Batismo do Senhor. O Milagre de Caná é celebrado, no Ano C, no domingo após o Batismo do Senhor (2º Dom do Tempo Comum). No domingo da oitava do Natal (ou 30 de dezembro na ausência deste) celebra-se a festa da Sagrada Família.
Abençoai, Senhor, a nossa preparação ao Natal e acompanhai-nos na celebração de seus santos mistérios!
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana(Mensagem da Diocese 291: 2.ª Semana de Dezembro/ 2013)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Campanha mundial contra a fome e a pobreza é lançada em Brasília



Evento aberto ao público e à imprensa debate realidade da pobreza no Brasil e divulga mensagem exclusiva do Papa Francisco em apoio à mobilização mundial
Por Redacao

BRASíLIA, 09 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Nesta terça-feira, dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançarão uma campanha mundial contra a fome, a pobreza e as desigualdades. Com o tema "Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas", o lançamento ocorrerá na sede da CNBB, a partir das 14h, em Brasília (DF).
A campanha faz parte de uma mobilização mundial da Caritas Internationalis que articulou as 164 organizações membro para esse grande movimento em favor da vida, dos direitos humanos e da justiça social. Uma grande onda de oração que terá início na ilha de Samoa, na Polinésia, e se espalhará por todo o mundo envolvendo todas as organizações Cáritas e muitas outras pessoas de todos os continentes.
Cáritas e a CNBB pretendem com a campanha, que vai até 2015, sensibilizar e mobilizar a sociedade sobre a realidade da fome, da miséria e das desigualdades no mundo e no Brasil. A alimentação adequada e de qualidade é um direito humano e por isso deve ser garantido a todos os cidadãos e cidadãs de forma igualitária.
O Papa Francisco gravou um vídeo com uma mensagem de cinco minutos em apoio à campanha. As palavras do Santo Padre serão divulgadas no dia do lançamento.
"Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social", disse o Papa em sua primeira Exortação Apostólica.
Participam do lançamento dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Flávio Giovenale, presidente da Cáritas Brasileira, Maria Cristina dos Anjos, diretora executiva nacional da Cáritas Brasileira, e Cacielen Nobre, da Presbiteriana Unida e membro da Comissão Teológica do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Irio Luiz Conti, que fala sobre segurança alimentar e nutricional, é doutorando em Desenvolvimento Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em sociologia, teólogo, filósofo, e membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
Após o ato de lançamento, o evento será aberto para entrevistas.

O poder de Cristo pode reverter a situação, inclusive no Oriente Médio



Papa celebra missa em Santa Marta com o patriarca Sidrak e reitera apelo pela paz e pela liberdade religiosa
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 09 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Um sinal de comunhão e de paz: assim foi a missa desta manhã na Domus Sanctae Marthae, concelebrada pelo papa Francisco e pelo patriarca de Alexandria dos coptas católicos, Ibrahim Isaac Sidrak, em manifestação pública de comunhão eclesial com o Sucessor de Pedro. A celebração foi uma oportunidade para renovar o apelo comum em prol da paz e da liberdade religiosa no Oriente Médio, bem como um momento de profunda espiritualidade.
O papa reiterou a sua proximidade aos cristãos do Egito, vítimas de abusos diários, a partir das palavras do profeta Isaías na primeira leitura de hoje: um encorajamento às pessoas "de coração desanimado".. É um incentivo, disse o pontífice, "para aqueles que sofrem a insegurança e a violência na sua amada terra egípcia, algumas vezes por causa da sua fé cristã".
Usando mais uma expressão da mesma passagem profética, o pontífice acrescentou: "Coragem, não tenham medo! Estas palavras de conforto se confirmam na solidariedade fraterna". Francisco expressou então a sua gratidão a Deus por este encontro que "abre caminho para fortalecer a nossa esperança e a de vocês, que é a mesma".
Refletindo no Evangelho, o papa destacou que Jesus "vence a paralisia da humanidade (...), a paralisia das consciências, que é contagiosa, e que, com a cumplicidade da pobreza da história e do nosso pecado, pode se espalhar e entrar nas estruturas sociais e nas comunidades até paralisar povos inteiros". Mas o poder de Cristo sacode toda infraestrutura humana. O seu comando, "Levanta-te e anda!", pode reverter a situação, declarou o papa.
“Há esperança, portanto, para a paz na Terra Santa e em todo o Oriente Médio”. Enquanto isso, os cristãos devem oferecer a sua oração confiante a Deus para que essa paz "sempre se reerga das suas recorrentes e às vezes dramáticas interrupções".
A capela viu erguer-se então o apelo vigoroso do bispo de Roma: "Cessem para sempre a inimizade e as divisões! Retomem-se de imediato os acordos de paz, frequentemente paralisados ​​por interesses conflitantes e obscuros! Que haja garantias reais para a liberdade religiosa de todos, junto com o direito dos cristãos de viver em paz no lugar onde nasceram, na pátria que amam como cidadãos há dois mil anos, para contribuir, como sempre, para o bem de todos".
O papa insistiu na esperança e lembrou com ternura que até mesmo Jesus teve que enfrentar a fuga da sua terra natal junto com José e Maria, e que foi justamente a "terra generosa do Egito" que acolheu a Sagrada Família. Francisco pediu a Deus que "vele pelos egípcios, que, pelas estradas do mundo, buscam dignidade e segurança. Vamos em frente, buscando o Senhor, à procura de novos caminhos, novas formas de nos aproximar do Senhor. Que a nossa imaginação criativa da caridade nos leve a isso: a encontrar e abrir caminhos de encontro, caminhos de fraternidade, caminhos de paz".
Por sua vez, o patriarca Sidrak expressou alegria por concelebrar com o Sucessor de Pedro e destacou que a Igreja no Egito, neste momento histórico delicado, "precisa do apoio paternal do papa”. Sidrak também invocou o dom da paz e rezou para que "a luz do Natal seja a estrela que revela o caminho do amor, da unidade, da reconciliação e da paz": presentes de que "a minha terra tem grande necessidade".
Por fim, o patriarca pediu a bênção do bispo de Roma e lançou o convite: "Esperamos a sua visita ao Egito".

Advento: tempo novo que Deus nos dá!



Advento é uma nova oportunidade que Deus nos dá. Mais uma vez estamos começando o tempo litúrgico do Advento. O risco é vivê-lo como mera repetição, como um tempo parecido com o tempo anterior.

Cada Advento, por mais parecido que seja ao anterior, é totalmente diferente; ele é original e único, porque as esperanças são novas, os projetos são novos, a vida se renova sempre, o seguimento de Jesus Cristo se aprofunda sempre mais.

Não nos esqueçamos de que o Advento é toda uma possibilidade de vida que temos à frente. Por isso o grande tema desse tempo é “Vigiai porque não sabeis quando virá o vosso Senhor”. Ninguém vigia o que já passou e não existe mais. Vigiamos o que está por vir, o que está vindo. A vigilância olha sempre o futuro. Um futuro que depende de Deus e depende de nós. Porque uma coisa é a ação de Deus em cada um de nós neste tempo do Advento, e outra coisa é o que nós fazemos para que algo novo aconteça.

Nós mesmos somos um “advento”, porque nosso futuro depende do que esperamos. Há aqueles que já não esperam nada. Há outros que esperam algo novo, mas duvidam. E há aqueles que esperam o novo e dedicam sua vida a criá-lo já agora. Porque em cada momento definimos nossas vidas; em cada momento algo surpreendente pode acontecer em nossa vida; em cada momento nossa vida pode apagar-se ou pode rejuvenescer-se.

Vivemos num contexto marcado pela dispersão, seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizados por ofertas alucinantes. E então nos esvaziamos, nos diluímos, perdemos a interioridade e... nos desumanizamos.

Advento é um tempo propício – kairós – para ajudar a superar nossa dispersão e poder recuperar a densidade humana interna. Para isso, precisamos entrar em estado de vigilância, repensar a interioridade perdida, reconquistar a autodeterminação. E vigiar não é repetir-se, mas re-descobrir-se, re-inventar-se, re-encontrar-se, buscar-se de novo.

A Coroa, símbolo do Advento

A Coroa do Advento tem sua origem na Europa, quando os chamados povos bárbaros acendiam algumas velas que representavam a luz do Sol. Assim, eles afirmavam a esperança que tinham de que a luz e o calor do astro-rei voltaria a brilhar sobre eles e aquecê-los. Os primeiros missionários católicos quiseram, a partir dos costumes dos da terra, ensinar-lhes a fé e conduzi-los a Jesus Cristo. Foi assim que criaram a coroa do advento.

Sua forma circular é para dizer que não tem princípio nem fim; sinal do amor de Deus, que é eterno. O círculo traz ainda a ideia de um elo/aliança que liga Deus e as pessoas.

Os ramos verdes representam a esperança, a vida. Deus quer que esperemos a Sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna. Os ramos verdes lembram as bênçãos que foram derramadas sobre os homens por Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua primeira vinda entre nós e que, agora, com uma esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na segunda e definitiva volta d’Ele.

As quatro velas da Coroa nos dizem que o Advento tem quatro semanas, cada vela colocada na coroa simboliza uma dessas quatro semanas. No início a Coroa está sem luz, sem brilho, sem vida: ela lembra a experiência de escuridão, as trevas do pecado.

À medida que nos aproximamos do Natal, a cada semana do Advento, uma nova vela vai sendo acesa, representando a aproximação da chegada até nós d’Aquele que é a Luz do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem dissipa toda escuridão, é quem traz aos nossos corações a reconciliação tão esperada entre nós e Deus e, por amor a Ele, a "paz na Terra entre os homens de boa vontade". 

Com esse tempo de preparação, a Igreja quer nos ensinar que a vida é um imenso advento e, se vivermos bem, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar, como está escrito: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam" (1Cor 2, 9). 

Padre Ismar Dias de Matos

Jesus Cristo, centro da história



Com o final do ano litúrgico e o início de um novo, a liturgia nos ajuda a buscar o sentido último de nossas vidas e a nos perguntar sobre o centro de nossa existência. Quando celebramos na véspera da Solenidade de Cristo Rei a nossa Festa da Unidade foi justamente com o enfoque de salientar como a centralidade de Jesus Cristo nos leva à comunhão e à fraternidade. Ele nos dá o Espírito Santo, que nos une a todos.

Nesses dias em que nos preparamos para o ano da “caridade social” em nossa Arquidiocese, somos instados a refletir sobre o Reino de Deus. O Reino de Cristo é, antes de tudo, o reino de verdade, o reino de graça, o reino de justiça e o reino de misericórdia, como tem insistido, cotidianamente, o Santo Padre Francisco. O Reino de Deus é reino em que nos inserimos com adesão livre e pessoal, e nós devemos deixar que Nosso Senhor Jesus Cristo reine sempre na nossa vida; devemos abrir-Lhe com alegria a porta do nosso espírito, fazê-Lo entrar na nossa vida acolhendo a sua Palavra e respondendo a ela com a nossa diária fidelidade aos nossos empenhos, com um posicionamento de vida que se baseie em efetivas opções coerentes com a fé.

Em Jesus Cristo, Deus – o Alfa e o Ômega – é Aquele que é, e que era, mas ao mesmo tempo O que há de vir. O Reino de Deus, que mediante a criação permanece inabalável no universo inteiro, ao mesmo tempo tem na humanidade, mediante a obra da redenção, o seu passado, presente e futuro. Tem a sua história, que se desenvolve juntamente com a história da humanidade. No centro desta história, como já salientamos, encontra-se Jesus Cristo. 

São João, no seu livro do Apocalipse, nos ensina que: "Jesus Cristo, Aquele que nos ama e que com o Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai" (Apoc 1, 5-6). Jesus Cristo é um Rei que ama. O Seu Reino não passará jamais. Não passará o Reino d'Aquele "que nos ama e que com o Seu sangue nos lavou dos nossos pecados e nos fez reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai". Não passará o Reino da verdade, do amor, da graça e do perdão.

Nosso Senhor Jesus Cristo foi elevado na cruz como um Rei singular: como a eterna Testemunha da verdade. Se nasci, se vim a este mundo, foi para dar testemunho da verdade. Este testemunho é a medida das nossas obras. A medida da vida. A verdade por que Cristo deu a vida, e que confirmou com a ressurreição, é o princípio fundamental da dignidade do homem. 

O reino de Jesus Cristo manifesta-se, como ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II, na "realeza" do homem. É necessário que, a esta luz, nós saibamos participar em todas as esferas da vida contemporânea e saibamos formá-la. Nos nossos tempos não faltam, de fato, propostas dirigidas ao homem, não faltam programas que se apregoam fomentarem o seu bem. Saibamos relê-los à luz da plena verdade sobre o homem, da verdade confirmada com as palavras e com a cruz de Cristo! Saibamos discerni-los bem! Especialmente neste Ano da Caridade necessitaremos muito dessa luz.

Jesus, o Filho do Homem, o juiz supremo das nossas vidas, quis assumir o rosto daqueles que têm fome e sede, dos estrangeiros, dos que estão nus, doentes ou presos, dos que não têm moradia, ou dos que são subjugados pelas guerras urbanas ou nacionais… enfim, de todas as pessoas que sofrem ou são marginalizadas ou não conseguem viver a paz que vem do Evangelho. Jesus, o Filho de Deus, tornou-Se homem, partilhou a nossa vida mesmo nos detalhes mais concretos, fazendo-Se servo do mais pequenino dos seus irmãos. Ele que não tinha onde repousar a cabeça seria condenado a morrer numa cruz.

Para que caminhemos com Cristo e com Ele cheguemos à visão beatífica é necessário que experimentemos e tenhamos misericórdia. A misericórdia é a nota fundamental que abre as portas do Reino do Céu. Vamos viver bem este tempo do Advento com atos de unidade e de evangelização, indo ao encontro dos que estão detidos, dos que estão doentes, dos que estão afastados e que desejam voltar para a unidade com Cristo e com a Igreja. Preparemo-nos para abrir o novo ano civil com a trezena e festa de São Sebastião como Ano da Caridade. O tema será “São Sebastião, discípulo do amor e da caridade”, inspirado no texto bíblico: “Se eu não tiver caridade, de nada adianta” (1Cor, 13,3).

Na Festa da Unidade Arquidiocesana demos testemunho do Reino de Deus e da comunhão entre nós reconhecendo a ação de Deus em nossa vida e história. Isso significa fazer sobressair sempre a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes. Vivamos como imitadores de Jesus, que manifestou a sua glória: a glória de amar até ao fim, dando a própria vida!

Dom Orani João Tempesta

domingo, 8 de dezembro de 2013

Sob o signo da alegria



Continua repercutindo o recente documento Evangelii Gaudium, do Papa Francisco. E´ tido como o primeiro documento oficial escrito por ele, em forma de “Exortação Apostólica pós sinodal”. 

A forma do documento remete ao Sínodo de 2012, realizado para comemorar os 50 anos do Concílio. Portanto, em princípio, o documento de agora recolhe as sugestões apresentadas no Sínodo. De tal modo que o documento mantém o propósito de continuidade entre um pontificado e outro. 

Mas acontece que o Papa Francisco imprimiu neste documento, o seu modo característico de abordar os assuntos, de maneira clara, direta, ao mesmo tempo simples e profunda. 

Além disto, ele mesmo sugere estar iniciando uma “uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”. 

Portanto, o Papa está apresentando agora, de maneira orgânica, uma espécie de “plano de governo”, ao menos para os próximos anos.

E´ praxe na Igreja “carimbar” os documentos com palavras iniciais bem escolhidas, portadoras de uma mensagem, que precisa ser interpretada com a luz de uma semântica própria, pela qual é possível decifrar o significado de um determinado documento.

O título desta “Exortação Apostólica” – “Evangelii Gaudium” - tem evidente conexão com o famoso documento de Paulo VI, a “Evangelii Nuntiandi”. 

A semelhança das palavras sugere semelhança entre os dois documentos, seja na forma como no conteúdo. E de fato, já dá para avançar uma perspectiva. O documento de agora será acolhido da mesma maneira como foi acolhido o “Evangelii Nuntiandi”, que permaneceu por muitos anos, como fonte de inspiração para a ação evangelizadora da Igreja. 

Mas a semelhança de palavras, arma para a “Evangelii Gaudium” um leque maior de referências, que ajudam a dimensionar a importância deste documento. 

Trata-se da palavra “gaudium” que se tornou uma espécie de “senha” para acessar o Concílio. De fato, dá para fazer algumas constatações interessantes, em torno do uso desta palavra no Concílio. Para chegarmos à conclusão que de que o atual documento do Papa vem na continuidade das propostas conciliares, que recebem agora novo impulso com a Evangelii Gaudium. 

Vamos conferir. O Concílio Vaticano Segundo teve o seu início oficial com o famoso discurso de abertura, feito por João 23. Este discurso começou com as bonitas palavras de exultação: “Gaudet Mater Ecclesia”, “alegra-se a mãe Igreja”. 

E o último documento do concílio, aprovado padres conciliares a sete de dezembro de 1965, leva como título: “Gaudium et Spes.

Desta maneira, dá para dizer que o Concílio começou e terminou à luz da palavra “gaudium”.

O Concílio Vaticano Segundo foi realizado sob o signo da alegria.

Tanto mais se torna significativo o fato do Papa Francisco ter usado esta palavra no título do seu “plano de governo” 

Daí que a “Evangelii Gaudium” tem tudo a ver com a “Gaudet Mater Eccleccia” e com a “Gaudium et Spes”. O plano de governo do Papa Francisco, tem tudo a ver com a implementação do Concílio, que ele tanto nos incentiva a levar em frente, seguindo o seu próprio exemplo.

Dom Luiz Demétrio Valentini


via internet

Maria foi preservada do pecado original em vista dos desígnios de Deus, afirma o Papa


O Papa Francisco presidiu neste domingo, 8, a oração do Angelus, na praça São Pedro, em presença de mais de 50 mil peregrinos. Antes da oração mariana, o Papa recordou a festa litúrgica da Imaculada Conceição de Maria.

Francisco destacou que neste dia, a Igreja contempla com grande alegria a "cheia de graça" e, sabe que a mãe de Jesus é também a mãe de todos os cristãos. "Maria nos sustenta no nosso caminho em direção ao Natal, porque nos ensina como viver este tempo de Advento, na espera do Senhor", destacou.

O Pontífice ensinou que Maria foi preservada do pecado original em vista dos desígnios do Senhor. Escolhida para ser a mãe de Jesus, recebeu antecipadamente a "cura" do rompimento com Deus, consequência do pecado. "A Imaculada foi inscrita no desígnio de Deus e é fruto do amor de Deus que salva a humanidade", ressaltou o Papa.

Maria jamais se afastou desse amor de Deus, enfatizou Francisco, afirmando que toda sua vida foi um sim a Deus. "Mas certamente não foi fácil para ela! Quando o anjo a chama de 'cheia de graça', ela fica perturbada, porque na sua humildade não se sente nada diante de Deus, mas o anjo a conforta: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus'".

Francisco afirma que a história da garota de Nazaré não é estranha aos cristãos, pois, do mesmo modo, Deus pousa o seu olhar sobre cada um e para todos tem um chamado de Amor. "Fomos escolhidos por Deus para viver uma vida santa, livre do pecado. É um projeto de amor que Deus renova cada vez que nos aproximamos Dele, especialmente nos sacramentos", declara o Papa.

"Nesta festa, contemplemos a nossa Mãe Imaculada, reconhecendo também o nosso destino mais verdadeiro, a nossa mais profunda vocação: sermos amados, sermos transformados pelo amor. Vamos olhar para ela e deixemos que ela nos olhe. Vamos aprender a humildade e a coragem para seguir a Palavra de Deus", concluiu o Pontífice.

Fonte: Canção Nova Notícias