sábado, 27 de setembro de 2014

Jesus só pode ser entendido se formos Cireneus

Durante a missa em Santa Marta, o Papa Francisco recordou que o verdadeiro seguimento de Cristo passa pela Cruz
Por Luca Marcolivio
ROMA, 26 de Setembro de 2014 (Zenit.org) 
- A figura evangélica do Cireneu (cf Lc 23,26) foi o ponto central da reflexão do Papa Francisco durante a missa em Santa Marta. Carregar a Cruz com Cristo, explicou o Pontífice no momento da homilia, significa pertencer a Ele e levar uma vida "verdadeira" e não "boa" apenas na aparência.
Em seguida, o Santo Padre refletiu sobre o Evangelho de hoje, focando a verdadeira identidade de Jesus (cf Lc 9,18-22). O Mestre explica aos Doze, o seu destino: o processo dos escribas e sacerdotes, a tortura, a morte e a ressurreição. Os Apóstolos, no entanto, começando por Pedro, não entendem, ou melhor, rejeitam essa perspectiva de salvação pavimentada pelo sofrimento.
Cristo utiliza essa "pedagogia" para preparar os corações dos discípulos, os corações das pessoas, para que compreendam este mistério de Deus. Em resumo, o Papa explicou: "Não podemos entender Jesus Cristo Redentor, sem a cruz." Você pode pensar em um "grande profeta" ou um "santo", mas se excluirmos a Cruz não é possível compreender a natureza do Redentor.
E os discípulos não estavam realmente "preparados para compreendê-lo", porque eles não entenderam as "profecias", nem mesmo que era Ele o '"Cordeiro" destinado ao sacrifício.
Somente após a morte, a identidade de Jesus foi revelada em sua plenitude, como evidenciado pelas palavras do centurião presente na crucificação: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus" (Mc 15,24-39).
Aos poucos, Cristo abre o caminho para a compreensão e "prepara-nos para acompanhá-lo com as nossas cruzes em seu caminho para a redenção", como Ele fez com o Cireneu.
Em outras palavras, Ele "nos prepara para sermos Cireneus, para ajuda-lo a carregar a cruz", sem a qual nunca poderemos realmente levar uma "vida cristã".

A nossa "identidade cristã" deve ser "preservada" e isso não é um "mérito", mas um "caminho da perfeição"; é "pura graça", concluiu o Santo Padre. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A visão cristã da política

A Igreja evidencia a submissão da política à ética. Quando isso não acontece, a política se transforma em ditadura e totalitarismo.
Por Vitaliano Mattioli
CRATO, 25 de Setembro de 2014 (Zenit.org
- Jesus com as famosas palavras: “Devolvei a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (MT 22, 21) pôs fim a um sistema de relação entre o Estado e a Religião (Cesaropapismo) ou entre a religião e o Estado (Teocracia).
Entre estas duas tendências, Jesus escolheu o sistema de separação, que não é de oposição, mas de respeito mútuo pelas relativas responsabilidades.
A palavra ‘política’ desde a cultura da Grécia antiga, tem sido entendida como "realização do bem comum da cidadania". De acordo com esta interpretação, pode-se legitimamente afirmar que a política não desfruta de uma autonomia absoluta, mas sendo uma atividade humana, deve estar dentro dos parâmetros da ética. É neste sentido que existe uma visão cristã da política.
Pio XII, em discurso à União Latina de Alta Moda (08 de novembro de 1957), fez referência também à moral política: "É bem verdade que a moda, como a arte, a ciência, a política e atividades semelhantes, chamadas profanas, tem suas próprias normas para atingir os objetivos imediatos para os quais se destinam; No entanto, o seu sujeito é inevitavelmente o homem, que não pode prescindir de realizar aquelas atividades tendo em vista o último e supremo fim ao qual ele mesmo está essencialmente e totalmente ordenado. Existe, portanto, o problema moral da moda”; por consequência existe o problema moral da política.
A Igreja, perita em humanidade, como costumava expressar Paulo VI, formulou a sua Doutrina Social, na qual também lida com a moralidade da política.
Agora, entre os princípios permanentes da doutrina social da Igreja, que constituem os verdadeiros e próprios gonzos do ensinamento social católico prevalece o princípio da dignidade da pessoa humana no qual todos os demais princípios ou conteúdos da doutrina social da Igreja têm fundamento, do bem comum, da subsidiariedade e da solidariedade.
Estes princípios têm um caráter geral e fundamental, pois que se referem à realidade social no seu conjunto e porque remetem aos fundamentos últimos e ordenadores da vida social. Pela sua permanência no tempo e universalidade de significado, a Igreja os indica como primeiro e fundamental parâmetro de referência para a interpretação e o exame dos fenômenos sociais, necessários porque deles se podem apreender os critérios de discernimento e de orientação do agir social, em todos os âmbitos.
Da dignidade, unidade e igualdade de todas as pessoas deriva, antes de tudo, o princípio do bem comum, a que se deve relacionar cada aspecto da vida social para encontrar pleno sentido. Segundo uma primeira e vasta acepção, por bem comum se entende: “o conjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição” (Gaudium et Spes, n. 26).
Uma sociedade que, em todos os níveis, quer intencionalmente estar ao serviço do ser humano é a que se propõe como meta prioritária o bem comum. A pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros.
As exigências do bem comum derivam das condições sociais de cada época e estão estreitamente conexas com o respeito e com a promoção integral da pessoa e dos seus direitos fundamentais. Entre estes direitos fundamentais estão os direitos à vida, a viver uma vida digna dum ser humano,  o trabalho,  a liberdade religiosa.  
Se o bem comum empenha todos os membros da sociedade, ainda mais se identifica com o programa do homem político. Não é possível ser ‘homem político’  sem  ter como aspiração a realização do bem comum.  Por isso o bem comum é exatamente o contrario do bem próprio e do egoísmo.  É neste sentido que a Igreja apresenta a atividade política como diaconía, isto é: serviço. 
A responsabilidade de perseguir o bem comum compete, não só às pessoas consideradas individualmente, mas também ao Estado, pois que o bem comum é a razão de ser da autoridade política. Na verdade, o Estado deve garantir coesão, unidade e organização à sociedade civil. O fim da vida social é o bem comum historicamente realizável.
Estes princípios gerais são expressados em forma clara especialmente em dois documentos  básicos:  a constituição  conciliar  Gaudium et Spes  (7 dezembro 1965) e a “Nota  Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política”  da Congregação para a Doutrina  da Fé (24 novembro 2002). 
A Gaudium et Spes no n. 76 fala sobre ‘A comunidade política e a Igreja’. 
Neste n. 76 são enunciados alguns princípios básicos de grande importância.
Primeiro: “A Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo tempo o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana”.
Segundo: “No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas. Mas, embora por títulos diversos, ambas servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens”.
Terceiro: “O homem não se limita à ordem temporal somente”.
Quarto: ‘É certo que  as coisas terrenas e as que, na condição humana, transcendem este mundo, se encontram intimamente ligadas; a própria Igreja usa das coisas temporais, na medida em que a sua missão o exige. [...] Ela não coloca a sua esperança nos privilégios que lhe oferece a autoridade civil”.
Quinto: “Sempre lhe deve ser permitido pregar com verdadeira liberdade a fé; ensinar a sua doutrina acerca da sociedade; exercer sem entraves a própria missão entre os homens; e pronunciar o seu juízo moral mesmo acerca das realidades políticas”.
Com estes princípios a Igreja reivindica a sua autonomia do Estado, a trascendência do ser humano, reafirma a moralidade da atividade política.
Em seguida a Igreja escreveu uma Nota em forma ainda mais explícita.  Nesta reafirma o primado da pessoa humana, a sua dignidade e declara que o fim da atividade política deve ser a busca do bem comum.
Além disso,  evidencia as características do político católico.  Ele deve saber que a sua pertença a um partido não pode ser superior à sua pertença à Igreja e que cada expressão legislativa não pode ser a última referência normativa.  Se assim não fosse, pode-se chegar a um absurdo: isto é, que alguns homens, com as leis, possam atribuir a si o direito de estabelecer os confins entre o bem e o mal.
Defende também a verdadeira laicidade do Estado, pressuposto fundamental para que o político crente possa expressar a si mesmo em conformidade à sua consciência, e se opõe quando a laicidade se transforma em ideologia.
Agora prefiro citar algumas expressões mais significativas.
 “Os fiéis leigos desempenham também a função que lhes é própria de animar
cristãmente a ordem temporal (n. 1).
 “A liberdade política não é nem pode ser fundada sobre a ideia relativista, segundo a qual, todas as concepções do bem do homem têm a mesma verdade e o mesmo valor, mas sobre o fato de que as atividades políticas visam, vez por vez, a realização extremamente concreta do verdadeiro bem humano e social, num contexto histórico, geográfico, econômico, tecnológico e cultural bem preciso. [...] Se o cristão é obrigado a admitir a legítima multiplicidade e diversidade das opções temporais, é igualmente chamado a discordar de uma concepção do pluralismo em chave de relativismo moral, nociva à própria vida democrática, que tem necessidade de bases verdadeiras e sólidas, ou seja, de princípios éticos que, por sua natureza e função de fundamento da vida social, não são “negociáveis.   [...] A estrutura democrática, sobre que pretende construir-se um Estado moderno, seria um tanto frágil, se não tiver como seu fundamento a centralidade da pessoa (n. 3).
 “Não é consentido a nenhum fiel apelar para o princípio do pluralismo e da autonomia dos leigos em política, para favorecer soluções que comprometam ou atenuem a salvaguarda das exigências éticas fundamentais ao bem comum da sociedade. Por si, não se trata de ‘valores confessionais’, uma vez que tais exigências éticas radicam-se no ser humano e pertencem à lei moral natural” (n. 5).

Esta é a visão política da  Igreja que emerge analisando os  seus documentos.  Ela não pede privilégios para si mesma. A única preocupação é de trabalhar para o bem comum da humanidade e de defender o valor absoluto e primário da pessoa humana.  Por isso a Igreja evidencia a submissão da política à ética.  Quando isso não acontece, a política se transforma em ditadura e totalitarismo.   A atividade política não está mais a serviço do homem, mas se transforma num grande seu inimigo, como infelizmente a história do século passado pode testemunhar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Líder da Caritas diz que o custo humano das mudanças climáticas recai principalmente nos mais pobres

Temos que assumir a responsabilidade de cuidar da Terra, exorta o cardeal Maradiaga
Por Redacao
ROMA, 24 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - Apresentamos a seguir uma reflexão sobre as mudanças climáticas escrita pelo cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, presidente da Caritas Internationalis.
* * *
Quando a fome e a pobreza transformam cada dia numa batalha pela sobrevivência, as mudanças climáticas impõem o seu maior peso em cima dos mais pobres. É por isso que eu vim a Nova Iorque, nesta semana, para pedir ação imediata por parte dos governos.
Eu participei, com os líderes de várias religiões, na Cúpula Inter-Religiosa da Mudança do Clima, realizada de 21 a 22 de setembro. Os apoiadores da Caritas em todo o mundo também se juntaram, nesse mesmo período, a centenas de milhares de pessoas em cidades como Nova Iorque, Londres e Paris para pedir ação urgente a fim de enfrentarmos as alterações climáticas.
Juntos, nós temos a esperança de deixar claro para os líderes mundiais reunidos hoje na ONU, para a sua reunião de cúpula sobre a mudança climática, que é necessária uma ação urgente.
A mensagem é nítida: a mudança climática é um dos maiores obstáculos para a erradicação da pobreza no mundo. Nós declaramos: "Quando aqueles que menos provocaram a mudança climática são os mais atingidos por ela, a questão é de injustiça. São urgentemente necessárias soluções equitativas".
Somos herdeiros de dois séculos de marcantes ondas de evolução tecnológica, das revoluções industriais às digitais. Vimos milhões de pessoas serem retiradas da pobreza em todo o mundo e algumas doenças serem erradicadas para sempre.
No entanto, o crescimento da economia durante este período teve um custo. Cerca de um bilhão de pessoas ainda passam fome. O mundo em que vivemos hoje vai se tornando mais desigual.
Com o nosso modelo de progresso e de crescimento, especialmente dependente do uso de combustíveis fósseis, nós tivemos um impacto decisivo sobre a natureza. Terras, florestas, desertos, geleiras, rios e mares estão mudando.
Seja através de colheitas mais pobres, de terras mais áridas, de oceanos mais ácidos ou de eventos climáticos mais extremos e imprevisíveis, muitas vezes desastrosos, o impacto da mudança climática é inconfundível e cientificamente comprovado, acima de qualquer dúvida. E ele afeta a nós todos.
Os pobres são afetados mais duramente
Num mundo que dispõe de comida suficiente para todos, mas no qual existe cerca de um bilhão de pessoas passando fome, as alterações climáticas ameaçam colocar, além delas, mais 20% da população em risco de fome até 2050.
Grande parte do planeta fértil que nos foi dado para que o protegêssemos, cultivássemos e dele desfrutássemos já foi corrompida. Nós nos tornamos indiferentes ao dano que estamos causando, tanto ao mundo natural quanto aos nossos irmãos e irmãs mais pobres. Essa indiferença provocou uma crise que é urgente encararmos.
No fundo, este é um debate sobre o que nós gostaríamos de viver: um desenvolvimento inclusivo e em harmonia com a natureza, ou um desenvolvimento que exclui e que destrói.
"A proteção do meio ambiente tem sido subordinada ao desenvolvimento econômico, prejudicando a biodiversidade, abusando das reservas de água e de outros recursos naturais e poluindo o ar" (Aparecida).
Encruzilhadas
As etapas políticas que surgem à nossa frente nos impõem desafios reais, mas nós ainda os vemos como oportunidades sem precedentes para imprimir um tom positivo ao futuro, à nossa vida e à das gerações vindouras.
Há uma clara mensagem para os nossos líderes: nós chegamos a uma encruzilhada e a necessidade de fazer uma escolha é gritante.
A primeira estrada é a de continuarmos destruindo a maravilhosa criação de Deus. O aquecimento e os seus decorrentes climas extremos atingirão níveis sem precedentes na próxima geração e 40% dos pobres do mundo, que têm um papel mínimo na poluição global, são os que mais vão sofrer.
A segunda estrada é aquela em que a humanidade assume a sua responsabilidade comum para moldar uma ética de cuidado e de proteção da terra para as gerações futuras, com decisões políticas e econômicas guiadas por um profundo senso de responsabilidade e de preocupação com o bem comum.
Vamos seguir a segunda estrada!
Moldado pelo respeito à vida e, sobretudo, à dignidade da pessoa humana, um mundo mais saudável, mais seguro, mais justo, mais próspero e mais sustentável é possível. Um desenvolvimento sustentável autêntico é viável, técnica e politicamente.

Para este fim, os esforços conjuntos dos líderes mundiais em responder ao desafio ecológico é um teste da sua opção preferencial pelos pobres e uma oportunidade real de colocar essa opção pelos pobres no centro dos sistemas e dos processos globalizados. É uma oportunidade que precisa ser aproveitada.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A Palavra de Deus se escuta com o "coração", não apenas "com os ouvidos"

Em Santa Marta, o Papa aponta o caminho para uma "vida cristã": ouvir a palavra de Deus e a por em prática
Por Federico Cenci
ROMA, 23 de Setembro de 2014 (Zenit.org) -
 A liturgia do dia nos apresenta uma passagem curta do Evangelho, mas com um significado profundo, assim como curta foi a mensagem que o Papa Francisco dirigiu aos fiéis durante a homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta. A vida cristã é "simples" - disse o Papa - e consiste em ouvir a Palavra de Deus e a por em prática, sem modifica-la com explicações complicadas e difíceis de entender.
"Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem as palavras de Deus e as põem em prática" (Lc 8, 21), afirma Jesus, conforme narra São Lucas. Palavras que o Bispo de Roma recordou como novas, assim como a autoridade de quem lhes pronunciava. Autoridade que tinha o poder de penetrar os corações, anunciando "a força da salvação", de modo a atrair as multidões e convertê-las.
Entre os seguidores de Jesus, encontravam-se aqueles que seguiam apenas por “conveniência” sem pureza de coração, apenas pela vontade de “parecer bons”. O Papa observa que em dois mil anos, no cenário histórico, existem pessoas assim, como os nove leprosos do Evangelho que, "felizes" pela saúde readquirida, “se esquecem de Jesus”, que a tinha lhes dado.
 Ingratidão que não mina a misericórdia de Jesus, que "continuou a falar com as pessoas e amar as pessoas e a amar o povo". Amor que chega a tal ponto de atribuir a essas pessoas que o seguiam o título de "irmãos" e "mãe"; pessoas que "ouvem a palavra de Deus" e "a colocam em prática". Papa Francisco reconhece nessas atitudes as "duas condições para seguir Jesus". Na verdade - acrescenta o Santo Padre - "esta é a vida cristã, nada mais". Uma vida "simples”, que talvez nós fizemo-la um pouco “difícil”, com muitas explicações que ninguém entende. Mas, insiste o Papa, “a vida cristã é isto: escutar a Palavra de Deus e praticá-la".
Para fazer isso "basta abrir a Bíblia, o Evangelho", e não apenas ler estas páginas, mas "ouvir". O conselho do Papa é o seguinte: Ouvir a Palavra de Deus é ler e se perguntar: “Com isto, Deus fala-me alguma coisa? O que isto fala ao meu coração?”. Assim "a nossa vida muda"; escutando a Palavra de Deus "com os ouvidos" sim, mas, sobretudo, "com o coração."
Coração com uma superfície seca era o dos "inimigos de Jesus" - recorda o Papa -, "que estavam perto dele para tentar encontrar um erro, para fazê-lo escorregar para que perdesse a autoridade”. Estes nunca se perguntavam: "O que diz Deus para mim com esta Palavra?' E Deus não fala só para todos: sim, fala para todos, mas fala para cada um de nós. O Evangelho foi escrito para cada um de nós.”
Papa Bergoglio reconhece que "por em prática" o que você ouviu "não é fácil". "É mais fácil viver tranquilamente sem preocupar-se com as exigências da Palavra de Deus". Duas maneiras de escapar dessa tentação é por em prática “os Mandamentos e as Bem-aventuranças”. Isto consiste em estar ciente do fato de que existe a misericórdia de Jesus, também quando o nosso coração escuta, mas faz de conta que não entende. Ele "perdoa" e "espera todos porque é paciente”.
Talvez, o exemplo mais concreto da misericórdia de Jesus seja a relação com Judas, o traidor. O Papa recordou que Ele diz "amigo", "naquele momento em que Judas o trai". Testemunho de que em todas as circunstâncias, "o Senhor sempre semeia sua Palavra, e somente pede um coração aberto para ouvi-la e boa vontade para colocá-la em prática".  Um exercício, que vem através da oração. Por fim, o Papa convidou os fiéis a recitarem as palavras do Salmo de hoje: "Guia-me Senhor no caminho de seus mandamentos', que é o caminho da sua Palavra, e para que eu possa aprender com a sua guia a colocá-la em prática."

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Mais do que mestres, as pessoas procuram testemunhas


Por Redacao
ROMA, 21 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - Apresentamos o discurso do Papa Francisco na celebração das Vésperas com os sacerdotes, as religiosas, os religiosos, os seminaristas e movimentos leigos em Tirana, Albânia. 
Amados irmãos e irmãs!
É para mim uma alegria encontrar-vos na vossa amada terra; dou graças ao Senhor e agradeço a todos pela vossa recepção.. O facto de me encontrar no vosso meio permite-me expressar melhor a minha solidariedade com o vosso trabalho de evangelização.
Desde que o vosso país saiu da ditadura, as comunidades eclesiais recomeçaram a caminhar e a organizar-se em vista da acção pastoral, olhando com esperança para o futuro. De modo particular, o meu agradecimento vai para aqueles Pastores que pagaram, por caro preço, a fidelidade a Cristo e a decisão de permanecer unidos ao Sucessor de Pedro. Foram corajosos na dificuldade e na provação! Temos ainda entre nós sacerdotes e religiosos que experimentaram a prisão e a perseguição, como a irmã e o irmão que nos contaram a sua história. Abraço-vos, comovido, e louvo a Deus pelo vosso fiel testemunho, que estimula a Igreja inteira a prosseguir com alegria no anúncio do Evangelho.
Aproveitando esta experiência, a Igreja na Albânia pode crescer na missionariedade e na coragem apostólica. Conheço e aprecio o empenho com que vos opondes a novas formas de «ditadura» que acabam por manter escravas as pessoas e as comunidades. Se o regime ateu procurava sufocar a fé, estas ditaduras, mais subtis, podem sufocar a caridade. Penso no individualismo, nas rivalidades e nos conflitos exacerbados: é uma mentalidade mundana que pode contagiar também a comunidade cristã. De nada serve desanimar perante estas dificuldades; não tenhais medo de seguir em frente na estrada do Senhor. Ele está sempre ao vosso lado, dá-vos a sua graça e ajuda a apoiar-vos uns aos outros, a aceitar-vos tal como sois, com compreensão e compaixão, a cultivar a comunhão fraterna.
A evangelização é mais eficaz, quando é realizada com unidade de intentos e uma colaboração sincera entre as diferentes realidades eclesiais e entre missionários e clero local: isto requer coragem para continuar na busca de formas de trabalho comum e de ajuda recíproca nos campos da catequese, da educação católica, bem como da promoção humana e da caridade. Preciosa nestes âmbitos é também a contribuição dos movimentos eclesiais que sabem programar e agir em comunhão com os Pastores e entre si. É o que vejo aqui: bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, uma Igreja que quer caminhar na fraternidade e na unidade.
Quando se coloca o amor de Cristo acima de tudo, até mesmo de legítimas exigências particulares, então tornamo-nos capazes de sair de nós mesmos, das nossas «insignificâncias» pessoais ou de grupo, e caminhar para Jesus que vem ao nosso encontro nos irmãos; hoje as suas chagas ainda são visíveis no corpo de tantos homens e mulheres que têm fome e sede, que são humilhados, que estão no cárcere ou no hospital. E precisamente tocando e cuidando com ternura destas chagas, é possível viver plenamente o Evangelho e adorar a Deus vivo no meio de nós.
Muitos são os problemas que enfrentais cada dia! Impelem-vos a mergulhar, com paixão, numa generosa actividade apostólica. Sabemos porém que, sozinhos, nada podemos fazer. «Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores» (Sal127/126, 1). Esta certeza chama-nos a dar quotidianamente o justo espaço ao Senhor, a dedicar-Lhe tempo, a abrir-Lhe o coração, para que Ele actue na nossa vida e na nossa missão. O que o Senhor promete a uma oração confiante e perseverante supera tudo aquilo que possamos imaginar (cf. Lc 11, 11-12): para além do que pedimos, dá-nos também o Espírito Santo. No meio dos compromissos mais urgentes e árduos, torna-se indispensável a dimensão contemplativa. E quanto mais a missão nos chama a ir para as periferias existenciais, tanto mais o nosso coração sente intimamente a necessidade de estar unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e amor.
E, considerando que os sacerdotes e os consagrados ainda não são suficientes, o Senhor Jesus repete hoje também a vós: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe» (Mt 9, 37-38). E não se pode esquecer que esta oração parte de um olhar: o olhar de Jesus, que vê a abundância da colheita. Porventura temos nós também este olhar? Sabemos reconhecer a abundância dos frutos que a graça de Deus fez crescer, e a abundância de trabalho que há para fazer no campo do Senhor? É a partir deste olhar de fé sobre o campo de Deus que nasce a oração, a súplica diária e premente ao Senhor pelas vocações sacerdotais e religiosas. Vós, queridos seminaristas, e vós, queridos postulantes e noviços, sois fruto desta oração do Povo de Deus, que sempre precede e acompanha a vossa resposta pessoal. A Igreja na Albânia precisa do vosso entusiasmo e da vossa generosidade. O tempo, que hoje dedicais a uma sólida formação espiritual, teológica, comunitária e pastoral, é fecundo permitindo-vos, amanhã, servir adequadamente o povo de Deus. Mais do que mestres, as pessoas procuram testemunhas: testemunhas humildes da misericórdia e da ternura de Deus; sacerdotes e religiosos configurados a Jesus Bom Pastor, capazes de comunicar a todos a caridade de Cristo.
A este respeito quero, juntamente convosco e todo o povo albanês, dar graças a Deus por tantos missionários e missionárias cuja acção foi determinante para o renascimento da Igreja na Albânia e permanece, ainda hoje, de grande relevância. Contribuíram notavelmente para consolidar o património espiritual que bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos albaneses preservaram no meio de duríssimas provas e tribulações. Pensemos no grande trabalho feito pelos Institutos religiosos para a retoma da educação católica: este trabalho merece ser reconhecido e sustentado.
Amados irmãos e irmãs, não desanimeis perante as dificuldades! Seguindo as pegadas dos vossos pais, sede tenazes em dar testemunho de Cristo, caminhando «junto com Deus, rumo à esperança que nunca desilude». No vosso caminho, senti-vos sempre acompanhados e sustentados pelo afecto da Igreja inteira. De coração vos agradeço este encontro e confio à Santa Mãe de Deus cada um de vós e vossas comunidades, com seus projectos e esperanças. Abençoo-vos de todo o coração e peço-vos, por favor, que rezeis por mim.

domingo, 21 de setembro de 2014

Infertilidade do casal: como curar, como ter esperança.

Entrevista com Juliette Choe, obstetra e autora do livro "Sede fecundos e multiplicai-vos"
Por Christian Redier
ROMA, 19 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - Juliette Chove é uma obstetra e uma das primeiras mulheres a fazer um Master no Pontifício Instituto "João Paulo II" para os Estudos sobre o Matrimônio e a Família, em Roma. Agora, se dedica a acompanhar casais inférteis e hipoférteis e lhes dá razões para esperar, sob a proteção de Santa Ana, em Auray, perto de Vannes, na Bretanha (França), onde João Paulo II se encontrou com as famílias no dia 20 de setembro de 1996. Acaba de publicar na editora Téqui um livro com um título significativo: ?Soyez féconds et multipliez-vous? (Sede fecundos e multiplicai-vos).. ZENIT a entrevistou.
***
ZENIT: Antes de mais nada, vamos esclarecer: qual a diferença entre a infertilidade a hipofertilidade?
Juliette Chove: Basta consultar as definições dadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde, ndr). A infertilidade é a ausência de concepção após um ano de relações sexuais abertas à vida. A hipofertilidade refere-se aos casais que começaram uma gravidez sem conseguir leva-la ao fim, ou seja, os casos dos casais que tiveram abortos espontâneos. Se a infertilidade ou hipofertilidade podem ser possivelmente corrigidas com o tratamento médico, a esterilidade, pelo contrário, é a impossibilidade definitiva de conceber. Isso afeta o 3-4% dos casais. É um termo que soa um pouco forte demais e é por isso que se fala de hipofertilidade ou infertilidade. Pode-se também definir o conceito de esterilidade ?primária?, ou seja, os casais que desejam um primeiro filho, ou "secundária" para casais que têm dificuldade de conceber após o nascimento de pelo menos um filho.
ZENIT: Exemplos da Bíblia podem ajudar a viver esta que, para alguns casais, é um verdadeiro ?sofrimento??
Juliette Chove: Lendo a história de Ana e Joaquim, percebi que Joaquim tinha implorado a Deus lembrando-lhe a sua obra com Abraão e Sara, enquanto Ana foi consolada lembrando-se da sua avó Ana, mãe de Samuel. A história desses casais da Bíblia que conheceram a esterilidade pode falar aos casais de hoje: as suas reações, as suas orações, os seus gritos, o seu caminho de fé, a sua gradual submissão ao plano de Deus para eles. Ela nos mostra que Deus está presente ao lado daqueles que sofrem, e que Ele os quer e os torna férteis. Estas histórias também nos lembram que cada criança é um dom de Deus, que deve ser acolhida, abrindo o próprio coração e deixando-se possivelmente educar, purificar por ele, para, talvez, recebe-la melhor e elevá-la sob o olhar do Pai.
ZENIT: Você mora perto do santuário de Sainte-Anne d'Auray, na Bretanha (França), que, desde o início, atrai os casais inférteis ou hipoférteis. Poderia contar-nos a história deste santuário?
Juliette Chove: Por muitos séculos, este lugar é caracterizado pela devoção a Santa Ana, provavelmente desde o início da cristianização da região. Esta devoção se desenvolveu particularmente no século XVII, após as aparições de Santa Ana a Nicolazic Yvon, um camponês bretão, respeitado pela sua honestidade e piedade, que muitas vezes era consultado por seus vizinhos. Nicolazic foi guiado por uma mão segurando uma tocha que o acompanha nas noites em que trabalhava até tarde e às vezes vê uma senhora vestida de luz. Na noite de 25 de julho de 1624, um dia antes de seu aniversário, a senhora se revela a ele com o nome de Ana, mãe de Maria, pedindo-lhe para reconstruir a capela, que foi dedicada a ela e tinha sido destruída 924 anos e 6 meses antes, porque , assim disse, Deus queria que ela fosse venerada aqui.
No início, o clero é muito relutante em reconhecer que a visão de Nicolazic veio do céu. Santa Ana incentiva o vidente, que sofreu muitas injustiças. No dia 7 de março de 1625, guiado pela luz da tocha luminosa, Nicolazic descobre uma estátua da mãe da Virgem Maria, que era venerada nos primeiros séculos antes que a capela fosse destruída, e foi enterrada em um campo. A partir do dia seguinte, os peregrinos, alertados alertou misteriosamente começam a chegar em Ker Anna. Na frente da multidão que se reúne em torno da estátua, o bispo de Vannes ordena uma investigação eclesiástica. A veneração da imagem de Santa Ana foi finalmente aprovada e a capela pode ser reconstruída no mesmo lugar de antes, sob a orientação de Nicolazic mesmo.
Depois das aparições, Nicolazic e a sua mulher, Guillemette, que sofria de infertilidade, tiveram quatro filhos. Seu primeiro filho nasceu depois de uma década de espera e de oração confiante a Santa Ana. Os peregrinos nunca deixaram de ir à Sainte-Anne d'Auray, mesmo em tempos difíceis, como durante a revolução francesa ou as guerras. É uma grande graça para a Diocese de Vannes ter este santuário onde as pessoas podem vir confiar à avó de Cristo as alegrias e tristezas, tanto casados como célibes, com ou sem filhos, leigos ou consagrados, etc. Os casais aspirantes vêm para pedir a Santa Ana e Nicolazic, que conheceram a prova da esterilidade. A mesma rainha Ana da Áustria invocou a sua santa padroeira. Vários outros casais menos conhecidos têm dado testemunho da intercessão de Santa Ana para eles. Além disso, a história do nascimento dos filhos de Nicolazic, por sua vez, é lembrado durante a vigília do Grande Perdão (festa de Santa Ana) e um espetáculo de luzes e sons relembra as aparições.
ZENIT: Desde 2009, por iniciativa de um casal de Sainte-Anne d'Auray, uma peregrinação oficial acontece no início de setembro...
Juliette Chove: Sim, alguns casais se reúnem para rezar juntos, para compartilhar, para formar-se e apoiar-se uns aos outros. Os testemunhos daqueles que participaram demonstra como estes dias os tranquilizaram, os encorajaram. Alguns tiveram a alegria de acolher um filho depois dessa peregrinação. Os casais também podem vir em peregrinação a qualquer momento do ano para recolher-se em oração na estátua de Santa Ana ou no túmulo de Nicolazic. Também podem escrever uma intenção de oração ou agradecimento pelos favores recebidos no livro de dedicatória, e visitar aquela que nós chamamos a "Sala do Tesouro", na qual estão expostos muitos ex-votos oferecidos em reconhecimento de uma graça especial recebida por intercessão de Santa Ana. Entre estas, há muitas peças de enxoval, doadas por casais para agradecer Santa Ana de terem vencido a infertilidade.
ZENIT: Você tem um Master (é como se fosse uma especialização latu-sensu no Brasil, ndt.) em fertilidade e sexualidade conjugal conseguido no Instituto João Paulo II, que depende hoje da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. O que é este instituto?
Juliette Chove: O Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família foi fundado pelo mesmo João Paulo II em 1981. Conhecido como o "Papa da família", quis criar um lugar onde as pessoas envolvidas no atendimento às famílias pudessem receber na Igreja uma formação de nível universitário. Assim, os sacerdotes, seminaristas, religiosos e leigos responsáveis pela formação afetiva e sexual da juventude, da preparação para o matrimónio, do acompanhamento de casais e famílias, do ensino dos métodos naturais de regulação da fertilidade, etc., possam, assim, promover a visão da Igreja Católica sobre o amor humano e a sexualidade no plano de Deus. O ensinamento é baseado nas catequeses do início do pontificado de João Paulo II, sob o título de "Teologia do Corpo", e as encíclicas sobre a família: Humanae Vitae, Familiaris Consortio, Deus Caritas Est. 

Não se brinca com o espiritismo!






Por trás da necessidade de tantos jovens de experimentar sessões espíritas, muitas vezes há uma enorme dor pela perda de um ente querido. Só no Evangelho encontramos a resposta para cada pergunta

Por Carlo Climati
ROMA, 19 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - 
Entre os jogos clássicos que muitos rapazes experimentam, pelo menos uma vez na vida, está aquele da sessão espírita. Em muitos casos, é praticado quase como uma brincadeira, para tentar experimentar uma sutil transgressão ou para assustar algum amigo medroso.
Brincar com certas coisas, porém, significa brincar com fogo. O espiritismo, de fato, não pode ser considerado uma brincadeira. Algumas pessoas pensam que também o podem praticar de uma forma séria, em busca de um contato real com o mundo dos mortos.
É uma tendência que se conecta a um outro fenômeno, que é maior: o do ocultismo e do esoterismo. Com estas palavras, nós queremos dizer as coisas que deveriam ser conhecidas por um grupo seleto de pessoas: um tipo especial de magia, um ritual para a alegada evocação dos espíritos, os segredos para ler as cartas ou a mão.
Estamos, portanto, diante de algo misterioso, oculto, não acessível a todos. É por isso que, às vezes, algumas tendências podem ser usadas ??para exercer um poder em relação àqueles que vivem um momento de dor, fraqueza ou dificuldade..
Vamos dar alguns exemplos: para conquistar um amor, a traição de um amigo, a perda de um emprego, um estado de depressão ou simplesmente a solidão daqueles que se mudaram para outra cidade e tem que começar uma nova vida.
Por trás da necessidade de praticar o espiritismo há muitas vezes uma enorme dor pela perda de um ente querido. Para preencher esta lacuna utiliza-se de vários caminhos: as clássicas sessões espíritas, as supostas gravações de "vozes" dos mortos ou fotografias de "entidades" misteriosas, e a "escrita", através da qual os mortos "ditariam" as palavras ou frases.
O risco mais grave é a instrumentalização da dor para tentar ganhar dinheiro explorando o momento de fraqueza de quem sofre a perda de um ente querido.
Na verdade, a maneira de superar esse sofrimento é a oração, o diálogo com Deus. Um Deus que nos ama e está presente onde quer que haja pessoas reunidas em seu nome.
Na simplicidade do Evangelho, podemos encontrar a resposta para todas as perguntas. E assim os nossos olhar poderá se dirigir com serenidade ao infinito.