quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Evangelização online: o uso das redes sociais como ponto de encontro



O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida

Roma,  (Zenit.orgJorge Henrique Mújica |

Sabemos que o sucesso das redes sociais se deve a um fator decisivo: elas facilitaram as relações interpessoais. Foi no começo da primeira década do terceiro milênio que a massificação das tecnologias da comunicação e da informação se globalizou. Em pouco menos de dez anos, aconteceu uma verdadeira revolução, que não foi apenas tecnológica, mas também antropológica.
O homem de hoje pensa, vive e sente com a internet. O digital não é uma simples extensão da própria existência, mas uma parte integrante da vida, o que se reflete na “hiperconexão” de milhões de pessoas em todo lugar e a qualquer momento. Paradoxalmente, a finalidade de relação passou a ser um fator secundário.
Como é que a evangelização entra neste complexo mundo digital? E mais: como entender a evangelização num contexto existencial como o de hoje? Há quem aposte em “habitar a rede” e possibilitar, a partir dela, uma aproximação das pessoas que não conhecem Deus, não acreditam nele ou deixaram de acreditar. Se este objetivo levar a outro mais profundo (o encontro pessoal com Deus) e houver não apenas boas intenções, mas a formação e a criatividade necessárias, isso é ótimo.
Assim como milhares de missionários partiram um dia para anunciar a mensagem de Jesus em novas terras e em novos continentes, assim também os missionários da web desembarcam no continente digital para repropor a mesma mensagem. E a experiência e as lições daqueles evangelizadores podem servir para o presente.
Em primeiro lugar, os missionários transmitiam a palavra de Deus, não a deles mesmos. Eram intermediários entre Deus e os homens e, em consequência, conduziam as pessoas ao fim que era Deus, não a si próprios. Existe hoje a tentação de se colocar no centro da mensagem e acabar desviando a atenção do fim verdadeiro.
Os missionários eram enviados: o impulso vinha de Deus e, como dizia São Paulo, “Ai de mim se não pregar o Evangelho!”. Mas também é verdade que o envio imediato era feito por uma autoridade eclesiástica, que avalizava o trabalho apostólico. Isto continua sendo verdade hoje. A evangelização online exige a boa intenção, mas também a adequada preparação e, na medida do possível, o respaldo ao menos do próprio pároco ou de algum representante eclesiástico que acompanhe e oriente o nosso trabalho.
Os missionários de antigamente aprendiam a língua dos nativos. Os nativos digitais também têm a sua linguagem própria: mais visual, interativa, intuitiva, multimídia. São elementos que o missionário não só precisa conhecer, mas dominar, para falar ao homem contemporâneo de um jeito que ele entenda.
Ao chegar à nova terra, os missionários também sabiam identificar as coisas boas da cultura local. Devemos fazer o mesmo: não quebrar a cabeça pensando em milhares de táticas novas; podemos aproveitar o que já existe, purificando-o, se necessário, e elevando-o.
Finalmente, o sucesso pastoral de muitos missionários não vinha da quantidade de coisas que eles faziam, mas do testemunho de vida santa que eles davam. Se as atividades eram muitas, era porque vinham do conselho que Deus lhes dava na oração. E isso as pessoas notavam, sentindo-se interpeladas a conhecer o Deus com quem o missionário se comunicava. Isto permanece válido: falar primeiro com Deus e depois falar dele para os outros. Os homens de hoje não escutam os mestres, e sim as testemunhas. E, se escutam os mestres, é porque eles são testemunhas.
Em suma, trata-se do desafio de levar as almas ao contato direto com Deus e devolver às redes sociais o seu fator de sucesso. O “grande encontro” passa pelos pequenos encontros que os missionários são chamados a possibilitar na conexão com Deus fora do ambiente digital.

EUCARISTIA



Queridos irmãos e irmãs, bom dia,

Na última catequese, destaquei como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos nos colocar algumas perguntas sobre a relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como cristãos individualmente. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É somente um momento de festa, é uma tradição consolidada, é uma ocasião para se encontrar ou para sentir-se bem, ou é algo a mais?

Há alguns sinais muito concretos para entender como vivemos tudo isso, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se nós vivemos bem a Eucaristia ou não a vivemos tão bem. O primeiro indício é o nosso modo de olhar e considerar os outros. Na Eucaristia, Cristo realiza sempre novamente o dom de si que fez na Cruz. Toda a sua vida é um ato de total partilha de si por amor; por isso Ele amava estar com os discípulos e com as pessoas que tinha oportunidade de conhecer. Isto significava para Ele partilhar os desejos deles, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e suas vidas. Agora nós, quando participamos da Santa Missa, encontramo-nos com homens e mulheres de todo tipo: jovens, idosos, crianças, pobres e ricos; originários do lugar ou de fora; acompanhados por familiares ou sozinhos… Mas a Eucaristia que celebro leva-me a senti-los todos, realmente, como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de alegrar com quem se alegra, de chorar com quem chora? Impele-me a seguir rumo aos pobres, aos doentes, aos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles a face de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e queremos partilhar, na Eucaristia, a sua paixão e a sua ressurreição. Mas amamos, como quer Jesus, aqueles irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, em Roma, nestes dias vimos tantos problemas sociais ou pela chuva que fez tantos danos a bairros inteiros, ou pela falta de trabalho, consequência da crise econômica em todo o mundo. Pergunto-me, e cada um de nós se pergunte: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me de ajudar, de aproximar-me, de rezar por aqueles que têm este problema? Ou sou um pouco indiferente? Ou talvez me preocupo de fofocar: viu como está vestida aquela, ou como está vestido aquele? Às vezes se faz isso, depois da Missa, e não se deve fazer! Devemos nos preocupar com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, fará bem a nós pensar nestes nossos irmãos e irmãs que têm este problema aqui em Roma: problemas pela tragédia provocada pela chuva e problemas sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los.

Um segundo indício, muito importante, é a graça de sentir-se perdoados e prontos a perdoar. Às vezes alguém pergunta: “Por que se deveria ir à igreja, visto que quem participa habitualmente da Santa Missa é pecador como os outros?”. Quantas vezes ouvimos isso! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se acredita ou quer parecer melhor que os outros, mas propriamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, feita carne em Jesus Cristo. Se algum de nós não se sente necessitado da misericórdia de Deus, não se sente pecador, é melhor que não vá à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar da redenção de Jesus, do seu perdão. Aquele “Confesso” que dizemos no início não é “pro forma”, é um verdadeiro ato de penitência! Eu sou pecador e o confesso, assim começa a Missa! Não devemos nunca esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que foi traído” (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos e em torno do qual nos reunimos se renova toda vez o dom do corpo e do sangue de Cristo para a remissão dos nossos pecados. Devemos ir à Missa humildemente, como pecadores e o Senhor nos reconcilia.

Um último indício precioso nos vem oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É necessário sempre ter em mente que a Eucaristia não é algo que fazemos nós; não é uma comemoração nossa daquilo que Jesus disse e fez. Não. É propriamente uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de Cristo, que se torna presente e nos acolhe em torno de si, para nutrir-nos da sua Palavra e da sua vida. Isto significa que a missão e a identidade própria da Igreja surge dali, da Eucaristia, e ali sempre toma forma. Uma celebração pode ser também impecável do ponto de vista exterior, belíssima, mas se não nos conduz ao encontro com Jesus Cristo arrisca não levar alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, em vez disso, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la pela sua graça, de forma que em toda comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.

O coração se enche de confiança e esperança pensando nas palavras de Jesus reportadas no Evangelho: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de alegria comunitária, de preocupação pelos necessitados e pelas necessidades de tantos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!
Da redação do Portal Ecclesia.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

RELATIVISMO RELIGIOSO


          Caros diocesanos. Vivemos em mudança de época e a sociedade é invadida por diversos modos de pensar e agir, entre os quais se destaca o relativismo, que pode inclusive afetar nossa forma de viver a fé cristã. O que entendemos por esta palavra tão valorizada em nossos dias? O relativismo é uma corrente de pensamento segundo a qual nada podemos afirmar a respeito de algo, porque tudo é relativo e depende do ponto de vista de cada um. Segundo este pensamento, não existe o certo e o errado, o positivo e o negativo; existem opiniões diferentes e justapostas. Portanto, uma determinada pessoa pode considerar algo como certo e outra pode considerá-lo errado, não havendo como definir quem tem razão.           Os relativistas acham que ninguém tem autoridade para ensinar aos outros o bem e o mal, o moral e o imoral. Muitos vivem sem referências axiológicas, ou seja, sem valores e princípios pelos quais procuram orientar-se. O certo e o errado tornaram-se conceitos vagos, pois cada um escolhe e decide como quer. Neste contexto, ficam bem os programas da Mídia em que cada um pode afirmar o que quer, a pretexto de liberdade. Afinal, “Você decide”. Em conseqüência, há pais e mães que já não se empenham em deixar claro para seus filhos qual o melhor caminho para seguir na vida ou sentem-se confusos para orientá-los, diante de tanto relativismo que os cerca. Há também casos em que os pais orientam de uma determinada maneira, em casa, e na escola é transmitido outro tipo de orientação. Esse modo de pensar vai penetrando e corroendo todos os campos da sociedade: está na mídia, entra em decisões dos diversos poderes públicos e até no sistema educacional. As crianças já vêm sendo mergulhadas nesse modo de enxergar a vida, e vão sendo influenciadas à medida que avançam na caminhada escolar e o contato com a sociedade. Vivemos os tempos em que tomar partido a respeito de determinados assuntos, sobretudo se considerados polêmicos, já é motivo para ser considerado conservador, antiquado... Para ser atualizado é preciso aceitar tudo e considera-lo como normal...
          Como ficamos nós católicos diante desse modo de pensar e viver? Cada um vai fazer sua religião, sua moral, e tudo fica no campo individual? Jesus Cristo seria alguém a ser seguido à medida que estiver de acordo conosco? Neste sentido alertam-nos as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015: “O individualismo penetra até mesmo em certos ambientes religiosos, na busca da própria satisfação, prescindindo do bem maior, o amor de Deus e o serviço aos semelhantes. Oportunistas manipulam a mensagem do Evangelho em causa própria. Já não é mais a pessoa que se coloca na presença de Deus, como servo atento (1 Sm 3,9-10), mas é a ilusão de que Deus pode estar a serviço das pessoas” (DGAE, n. 22).
        Caros diocesanos. Talvez entendamos agora o porquê das freqüentes insistências de Bento XVI sobre o perigo do relativismo que vem se alastrando na sociedade e que pode corroer até nossa fé cristã. É importante termos clareza do que Jesus nos ensinou em seu Evangelho, por palavras e pelo modo de vida, cheio do espírito da gratuidade, da alteridade, da paz e da justiça, caminho totalmente oposto ao individualismo egoísta. Seu Mandamento Novo, que ensina o Amor-serviço e nos reúne em comunidades evangelizadoras a serviço do Reino, será sempre nossa referência maior: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos... O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 13 e 17). Os valores que nos orientarão na vida se inspirarão sempre neste Evangelho. Será a Palavra de Deus a nos guiar, qual luz em nosso caminho (Sl 119, 105).
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Uruguaiana

O Consistório será uma ajuda para todas as famílias do mundo



A ação do Espírito Santo deve tornar-se cada vez mais o motor da missão de toda família, que se realiza concretamente no buscar, proteger e difundir a unidade
Por Osvaldo Rinaldi

ROMA, 18 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Esta semana começa o Consistório com o tema da família, muito desejado pelo Papa Francisco. Um evento de grande esperança para a Igreja e para o mundo todo, porque quando a Igreja se reúne ao redor do Santo Padre com todos os seus cardeais, expressa o desejo de invocar e acolher os dons do Espírito Santo para distribuí-los multiplicados para todo o mundo.
O tema sobre a relação entre família e Igreja não é apenas um fato europeu, mas abrange todos os continentes do mundo. A Europa está passando por um rápido processo de descristianização, onde os direitos da família e dos mais fracos são pouco considerados. Muitos países latino-americanos têm governantes que estão eliminando da constituição os princípios fundamentais da vida cristã.. A África está sujeita a guerras fratricidas causadas pela exploração dos países mais ricos, e em alguns de seus países estão sofrendo com o flagelo da perseguição contra os cristãos. A Ásia vive, por um lado, um rápido desenvolvimento econômico acompanhado por novos vícios resultantes da modernidade e da indiferença para com os mais fracos, e, por outro lado, mantém um forte fechamento à liberdade religiosa.
Devido à diversidade de situações, é natural surgir a pergunta se é possível encontrar respostas adequadas que possam satisfazer as exigências de todas as família do mundo. A força da Igreja é aquela de propor um modelo de família que seja válido para todas as latitudes do planeta: uma família onde reine o diálogo, a partilha, a justiça e a paz.
A finalidade da Igreja não é aquela de uniformizar as famílias eliminando as diversidades decorrentes das tradições e das culturas típicas do próprio país de origem. Tudo o que é verdadeiro, bom e belo vem de Deus, e por isso deve ser mantido com compromisso, porque constitui uma força de atração dentro da família.
O Espírito Santo tem a capacidade de obrar a unidade na diversidade. E a ação do Espírito Santo, deve tornar-se cada vez mais o motor da missão de cada família, que se realiza concretamente no buscar, preservar e difundir a unidade familiar. Estes três verbos são os pilares sobre os quais é possível edificar os alicerces da família.
Procurar a unidade não é algo simples e imediato. Normalmente as diferentes tradições da família de origem (do marido e da mulher), já constituem um fator de divisão. Procurar a harmonia familiar significa muitas vezes renunciar a um próprio hábito consolidado, para estar disposto a adotar um completamente diverso. É um morrer a si mesmo para dar lugar a outro. É quando se trata de doar-se ao outro, esta é uma obra que somente o Espírito Santo pode realizar por meio da dócil vontade da pessoa.
Guardar a unidade poderia parecer mais simples do que buscar a unidade, mas a experiência ensina que é muito mais complexo. De fato, buscar a unidade é algo de momento, um ir ao encontro do outro para viver aquela partilha temporária da vida alegre. Guardar não significa somente caminhar naquela harmonia alcançada com dificuldade. Guardar significa abrir novos espaços de comunhão e de partilha, para que o outro seja apoio e partícipe de toda decisão da vida familiar. Podemos dizer que guardar significa uma busca contínua e obsessiva da unidade. Difundir a unidade pressupõe ter concluído as etapas da busca e da guarda, mas ao mesmo tempo significa abrir-se ao encontro e à escuta dos outros.
Em um momento histórico em que as igrejas estão vazias de fieis, porque a fé se enfraqueceu justamente dentro da vida da família, é indispensável animar o movimento missionário da Igreja. As famílias que vivem a unidade na diversidade devem sempre mais sair para encontrar outras famílias, para que uma família possa encontrar a Deus por meio de uma família que já O encontrou.
Aquele valor sacramental, a unidade na diversidade que permanece um mistério para aqueles que não frequentam os sacramentos cristãos, se torna visível nas relações dentro de uma família. E dessa forma, a alegria da fé e da vida vivida na família, torna visível Deus em um mundo que se encontrou relegado nas trevas quando apostatou o Evangelho da esperança. Não é necessário usar tantas palavras ou ter acesso a tratados teológicos para explicar o mistério de Deus Uno e Trino.
A família contém todos os elementos essenciais da vida cristã: ser um corpo místico, ser o templo de Deus, ser a esposa unida ao seu esposo, ser mãe e pai dos filhos de Deus, ser irmãos e irmãs de cada homem que vive na terra.
Existem muitas iniciativas dos vários movimentos, associações, realidades eclesiais onde esta missão da família já teve o seu começo logo depois do Concílio Vaticano II. O grande protagonista é o Espírito Santo, o operador da unidade na diversidade. É importante que o Espírito de Deus seja acolhido, reconhecido e testemunhado. E tudo isso passará  pelas intervenções dos vários cardeais e pelas intuições que o Papa Francisco vai querer oferecer à Igreja e ao mundo inteiro

A logística do amor: um estudo



O amor é o grande tesouro que está no céu do nosso interior. Quando nos predispomos, em tom oratório, a discursar sobre o amor, nossa consciência assume a direção de operacionar o que registramos, chamando a atenção de todo o nosso ser. Nossos sentimentos, igual compartimentos, gerenciam o que de mais valia temos, a coragem de dispor, com antecipação, alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Nosso coração, em seus mais belos ritmos, oferece-nos o sangue, serpenteando todos os caminhos do corpo, levando-nos ao oceano da vida. Quem sente este afeto familiariza-se consigo mesmo e com os outros. Saint-Exupéry alimenta nossas qualidades morais: "O amor não consiste em fitar um ao outro, mas em olhar juntos na mesma direção". Já Balzac nos presenteia com outra perspectiva: "O amor é a única paixão que não admite nem passado nem futuro". O amor é bem maior do que toda a aritmética e álgebra.

Quem se amedronta a falar de amor, se esconde nos muros do medo. O amor já levou muita gente a mudar de vida a ter novas atitudes a se descobrir. Lembremo-nos de Jesus de Nazaré quando perdoou a mulher pecadora (Jo 8, 1-11). Em sua metodologia não estava um passado que recriminava, julgava, escondendo-se na hipocrisia de uma lei, mas no amor maior de dizer: "Quem não tem culpa atire a primeira pedra" (Jo 8, 7). O amor vai além do pensar, julgar e agir. É bálsamo que cura, limpa a ferida, enobrece o coração, valoriza os sentimentos, e dá paz à consciência. Garante-nos Guiraut de Borneilh: "Assim, pelos olhos, o amor atinge o coração. Os olhos são os espiões do coração vão investigando o que agradaria a este possuir. Quando entram em pleno acordo se harmonizam. Nesse instante nasce o amor perfeito, daquilo que os olhos tornaram bem-vindo ao coração. O amor não pode nascer nem ter início senão no pendor natural. Essa fonte segue clara dando esperança e conforto aos seus amigos. O amor é fruto das três sementes plantadas, vale dizer: da consciência, dos sentimentos e do coração". O amor é mais do que um conjunto de sistemas e algarismos aplicados à lógica.

Emoldurar-se no amor é, pintar com as mais eloqüentes cores, a arte de dirigir o espírito na investigação da verdade. Este grande tesouro está no céu do nosso interior. Quem nele acumula ódios, rancores, vinganças, empobrece o que ele arrecadou. O amor valoriza a força de vontade quando nos empenhamos de verdade a mudar de vida. Assim aconteceu com a cura dos dois cegos (Mt 9, 27ss) e do possesso mudo (Mt 9, 32ss). O amor precisa ser uma página em branco onde todos os dias escrevo a verdade de minhas ações e o real do meu existir. Louise Hay declara: "O amor vem de onde menos se espera quando não se está procurando por ele. Sair à procura do amor nunca resulta na chegada do certo e só cria melancolia e infelicidade. O amor nunca está fora, mas dentro de nós". Jesus chama-nos para a confiança quando as tempestades da vida parecem nos assolar (Mt 8, 23-27). O amor sempre vence. Pensemos nisso.

Cônego Manuel Quitério de Azevedo
via internet

Fofocas podem matar. Nada de fofocas


Fofoca no trabalho

As palavras do papa Francisco durante o Angelus

CIDADE DO VATICANO, 17 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - No Angelus deste domingo, 16 de fevereiro, Papa Francisco comentou a atitude de Jesus em relação à lei judaica, destacando o significado do pleno cumprimento da Lei e da justiça superior. Eis as palavras do Papa:
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho deste domingo faz parte ainda do chamado “sermão da montanha”, a primeira grande pregação e Jesus. Hoje o tema é a atitude de Jesus com relação à Lei judaica. Ele afirma: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Jesus, então, não quer cancelar os mandamentos que o Senhor deu por meio de Moisés, mas quer levá-los à sua plenitude. E logo depois acrescenta que este “cumprimento” da Lei requer uma justiça superior, uma observância mais autêntica. Diz de fato aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20).
Mas o que significa este “pleno cumprimento” da Lei? E esta justiça superior em que consiste? O próprio Jesus nos responde com alguns exemplos. Jesus era prático, falava sempre com os exemplos para se fazer entender. Começa pelo quinto mandamento do decálogo: “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo” (vv. 21-22). Com isto, Jesus nos recorda que também as palavras podem matar! Quando se diz que uma pessoa tem língua de serpente, o que quer dizer? Que as suas palavras matam! Portanto, não só não se deve atentar contra a vida do próximo, mas também não lançar sobre ele o veneno da ira e atingi-lo com a calúnia. Nem falar mal dele. Chegamos às fofocas: as fofocas podem matar, porque matam a fama das pessoas! É tão bruto fofocar! No começo pode parecer uma coisa agradável, até divertida, como chupar uma bala. Mas no fim enche o coração de amargura e envenena também nós. Digo-vos a verdade, estou convencido de que se cada um de nós fizesse o propósito de evitar as fofocas, no fim se tornaria santo! É um belo caminho! Queremos nos tornar santos? Sim ou não? [Praça: Sim!] Queremos viver atrelados às fofocas como hábitos? Sim ou não? [Praça: Não!] Então estamos de acordo: nada de fofocas! Jesus propõe a quem O segue a perfeição do amor: um amor cuja única medida é não ter medida, ir além de todos os cálculos. O amor ao próximo é uma atitude tão fundamentada que Jesus chega a afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se não queremos fazer as pazes com o próximo. E diz assim: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (vv. 23-24). Por isso, somos chamados a reconciliar-nos com os nossos irmãos antes de manifestar a nossa devoção ao Senhor na oração.
De tudo isso, entende-se que Jesus não dá importância simplesmente à observância disciplinar e à conduta exterior.. Ele vai à raiz da Lei, com foco, sobretudo, na intenção e, portanto, no coração do homem, de onde provêm as nossas ações boas ou más. Para ter comportamentos bons e honestos, não bastam as normas jurídicas, mas são necessárias motivações profundas, expressão de uma sabedoria oculta, a Sabedoria de Deus, que pode ser acolhida graças ao Espírito Santo. E nós, através da fé em Cristo, podemos abrir-nos à ação do Espírito, que nos torna capazes de viver o amor divino.
À luz deste ensinamento, cada preceito revela o seu pleno significado como exigência de amor, e todos se reúnem no maior mandamento: ama Deus com todo o coração e o próximo como a ti mesmo.
(Trad.: Canção Nova)