quarta-feira, 26 de março de 2014

Proibição de vedar "qualquer discriminação em razão da orientação sexual" no Brasil

Reflexão sobre a tentativa de inserção da Ideologia do gênero no Plano Nacional de Educação
Por Paulo Vasconcelos Jacobina

BRASíLIA, 26 de Março de 2014 (Zenit.org) - ​Todo ordenamento jurídico está fundamentado na discriminação. Discrimina-se, por exemplo, quem trabalhou honestamente, e recebeu uma determinada quantia como salário, como sendo um “possuidor legítimo”, cuja propriedade deve ser protegida pelo Estado, daquele que, aproveitando-se da superioridade física ou mesmo da distração do legítimo possuidor, subtrai furtivamente esta mesma quantia – e que é tido como criminoso. Alguém que estudou e submeteu-se a concurso público, ou candidatou-se e foi eleito, é um legítimo servidor público e pode legitimamente exercer poder sobre a comunidade, enquanto aquele que, valendo-se da força das armas e do lucro do tráfico de drogas, domina uma comunidade é considerado um bandido e chefe de quadrilha – e deve ser preso e isolado do convívio social.
Existem, é claro, discrímens justos e injustos. Os justos são aqueles que decorrem das escolhas das pessoas, do uso bom ou mau da sua liberdade, do seu esforço e das suas forças pessoais. Os injustos são aqueles que decorrem de características pessoais inatas, como a cor, o sexo, a altura, a proveniência étnica, dentre outros que não se relacionam, nem direta nem indiretamente, com nenhum âmbito de escolha pessoal. Assim, pode-se dizer que o ordenamento jurídico de um país deve preocupar-se tanto em promover as discriminações justas e adequadas (como aquela que separa os assalariados dos ladrões, ou os pais dos torturadores de criança) quanto em combater as discriminações injustas e insustentáveis, como aquelas que transformam em cidadãos de segunda categoria os provenientes de determinado grupo étnico. Posto isto, é absolutamente adequado dizer que discriminar injustamente é tão pernicioso quanto eliminar uma discriminação justa.
É por isto que tomar por bandeira a “eliminação pura e simples das discriminações” é uma imbecilidade. Um Estado que não saiba promover as discriminações justas é tão maléfico quanto um que promova as injustas. Imaginemos um Estado que não consiga distinguir trabalhadores de ladrões, ou servidores públicos de chefes de quadrilha, ou mesmo esposos de estupradores. Um Estado cego às discriminações justas. Seria revoltante, tão ou mais do que um Estado que não reconhecesse a cidadania plena às mulheres, ou aqueloutro que reconhecesse o direito de escravizar ou eliminar membros de uma minoria étnica. Ambos são execráveis.
A virtude estatal, aqui, está no meio. Naquele meio, como lembra Aristóteles na Ética a Nicômaco, (Livro 2, capítulo 6, linha 1006b), que não é quantitativo, mas qualitativo, e que, portanto, exige a prudência para ser discernido. É por isso que, sob o aspecto da justiça, é tão imprudente o jovem que carrega cartazes de “abaixo a discriminação” (pura e simples) numa manifestação, e equipara implicitamente trabalhadores a bandidos, quanto o que pertence a grupelhos intolerantes de machistas ou “skinheads”, por exemplo. Os primeiros querem eliminar insensatamente as discriminações justas. Os outros promovem violentamente as discriminações injustas.
Isto posto, vale testar se a pretensão de inserir, no nosso ordenamento, a proibição pura e simples de vedar “qualquer discriminação em razão da orientação sexual”, através da inserção de norma neste sentido no Plano Nacional de Educação, se enquadra nesta noção de promover “discriminação justa” ou combater a “injusta”. Este ponto é particularmente grave, porque será inserida numa lei que diz respeito à raiz da reprodução e da construção da nossa própria sociedade futura: a educação dos nossos jovens.
Tomemos como paradigma, para testar a justiça desta norma, a doutrina científica de um pesquisador particularmente conhecido como um combatente antirreligioso, o inglês Richard Dawkins (autor, dentre outras obras, de um livro denominado “Deus, um Delírio”, e portanto insuspeito de religiosidade). Bom, toda a pesquisa científica deste professor está baseada no evolucionismo neodarwinista, que insiste que a explicação básica da existência humana está na transmissão da sua própria carga genética à geração seguinte, por meio da reprodução dos mais aptos. Ele expõe esta doutrina, com seus próprios fundamentos científicos, em livros como “ O gene Egoísta” e “O Relojoeiro Cego”, além de possuir um sítio na internet onde publica seus estudos sobre a irrelevância (e mesmo perniciosidade) das religiões e sobre o poder de explicação científico da sua visão a respeito da sobrevivência do mais apto e da transmissão do patrimônio genético à próxima geração como fins últimos, e portanto explicações fundamentais, da própria vida e comportamento humanos.
A convicção de Richard Dawkins quanto ao poder científico de sua tese é tamanha que ele publicou recentemente um artigo de outro cientista, o dr. William Kremer, chamado “O Quebra-Cabeças Evolucionário da Homossexualidade” (http://www..richarddawkins.net/news_articles/2014/2/18/the-evolutionary-puzzle-of-homosexuality#) no qual este último cientista relaciona qualquer eventual vantagem evolutiva do comportamento homossexual a três fatores: 1) à reprodução e cuidado de uma prole própria, mesmo sem ou contra as próprias inclinações afetivas, 2) Ao cuidado com a prole de um parente muito próximo, multiplicando a capacidade de que seu “pool de genes” passe, por meio da carga genética deste parente, à próxima geração ou 3) à hipótese de que os mesmos alelos que causem a homossexualidade masculina estejam num cromossomo que, quando presente nas mulheres da família, multiplicam sua fecundidade e seu cuidado com a prole, favorecendo a continuidade daquele “pool de genes” na próxima geração.
Está claro, portanto, que, por meios estritamente científicos, e mesmo antirreligiosos, professores seriíssimos chegam à conclusão de que há diferença de valor nas “orientações sexuais”, e que portanto se pode validamente discriminar, por critérios científicos, aquelas condutas que envolvem o cuidado responsável com uma prole própria, gerada mesmo contra eventuais inclinações sexuais pessoais, ou com uma prole de um parente muito próximo, como uma irmã, daquelas orientações sexuais que envolvam a infertilidade deliberada e a promiscuidade não potencialmente fértil, seja entre pessoas do mesmo sexo, seja entre pessoas de sexos diversos, ou a provocação sistemática do aborto em si ou nas parceiras, como condutas indesejáveis do ponto de vista do sucesso evolutivo e sob um prisma exclusivamente científico.
Se, no entanto, a norma educacional brasileira proibir qualquer discriminação quanto à orientação sexual no seu sistema educacional, parece que estará aberta a porta para que qualquer grupinho de minorias sexuais radicais possa validamente pedir a supressão do ensino dessas teorias neodarwinistas (que valoram as condutas sexuais tendentes à reprodução do pool de genes como superiores àquelas que impedem ou mesmo suprimem esta reprodução) como preconceituosas àquelas minorias cuja “orientação sexual” não envolva nem a responsabilidade com uma prole própria, nem com o cuidado da prole de parentes muito próximos. E estarão perfeitamente cobertas por esta norma cuja aprovação está sendo proposta com o aval imprudente de uma grande parte da própria comunidade científica. Esta mesma comunidade que será em seguida censurada por estas minorias a quem hoje imprudentemente se alia, e que imprudentemente desqualifica os adversários desta norma injusta como irracionalistas religiosos.
Bom, os religiosos às vezes podem ser mais racionais que os cientistas: enquanto a liberdade de falar mal, respeitosamente, da religião alheia parece bem razoável às pessoas religiosas (que admitem, portanto, a liceidade das especulações religiosas de Dawkins, embora discordem delas no mérito), alguns cientistas que apoiam a introdução da norma que veda a discriminação de condutas em razão da “ideologia do gênero” na educação estão, em seu ódio a Deus, cegos para o fato de que combater a liberdade religiosa neste particular é também combater a própria liberdade científica.

Um sacerdote, um padre, que não está a serviço de sua comunidade não faz bem



Na Audiência Geral, o Papa Francisco refletiu sobre o sacramento da Ordem

CIDADE DO VATICANO, 26 de Março de 2014 (Zenit.org) -
 Na catequese desta quarta-feira, 26, Papa Francisco refletiu sobre o sacramento da Ordem. Eis o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs,
Já tivemos oportunidade de referir que os três sacramentos, do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, constituem juntos o mistério da “iniciação cristã”, um único grande evento de graça que nos regenera em Cristo. É esta a vocação fundamental que une todos na Igreja, como discípulos do Senhor Jesus. Há depois dois sacramentos que correspondem a duas vocações específicas: trata-se da Ordem e do Matrimônio. Esses constituem dois grandes caminhos através dos quais o cristão pode fazer da própria vida um dom de amor, a exemplo e em nome de Cristo, e assim cooperar à edificação da Igreja.
A Ordem, caracterizado nas três grades do episcopado, presbiterato e diaconato, é o Sacramento que habilita ao exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus aos apóstolos, de apascentar o seu rebanho, no poder do seu Espírito e segundo o seu coração. Apascentar o rebanho de Jesus não com o poder da força humana ou com o próprio poder, mas aquela do Espírito e segundo o seu coração, o coração de Jesus que é um coração de amor. O sacerdote, o bispo, o diácono deve apascentar o rebanho do Senhor com amor. Se não o faz com amor não serve. E nesse sentido, os ministros que são escolhidos e consagrados para este serviço prolongam no tempo a presença de Jesus, se o fazem com o poder do Espírito Santo em nome de Deus e com amor.
1. Um primeiro aspecto. Aqueles que são ordenados são colocados como líderes da comunidade. São “a cabeça” sim, porém para Jesus isso significa colocar a própria autoridade a serviço, como Ele mesmo mostrou e ensinou a seus discípulos com estas palavras: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça o vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,25-28 // Mc 10,42-45). Um bispo que não está a serviço da comunidade não faz bem; um sacerdote, um padre que não está a serviço da sua comunidade não faz bem, erra.
2. Uma outra característica que sempre deriva desta união sacramental com Cristo é o amor apaixonado pela Igreja. Pensemos no trecho da Carta aos Efésios, na qual São Paulo diz que Cristo “amou a Igreja e se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a  água, mediante a palavra, para a apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou qualquer outra coisa “(5:25-27). Por força da Ordem, o ministro dedica-se totalmente  à sua comunidade e a ama de todo o coração coração: é a sua família. O bispo, o padre amam a Igreja em sua própria comunidade, fortemente. Como? Assim como Cristo ama a Igreja. O mesmo dirá São Paulo do casamento: o marido ama sua esposa como Cristo ama a Igreja. É um grande mistério de amor: o ministério sacerdotal e o matrimônio, dois sacramentos, que são a maneira pela qual as pessoas costumam ir para o Senhor.
3. Um último aspecto. O apóstolo Paulo aconselha seu discípulo Timóteo a não descuidar, mais do que isso,  a reavivar sempre  o dom que há nele. O dom que lhe foi dado através da imposição das mãos (cf. 1 Tm 4, 14, 2 Tm 1,6). Quando  não se alimenta o ministério, o ministério do bispo, o ministério do sacerdote com a oração, com a escuta da Palavra de Deus, e com a celebração diária da Eucaristia e também com a presença do sacramento da Penitência, é inevitável perder de vista o o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma comunhão profunda com Jesus.
4. O bispo que não reza, o bispo que não escuta da Palavra de Deus, que não celebra todos os dias,  que não se confessa regularmente, e o mesmo para o padre que não faz estas coisas, com o tempo, perdem a sua união com Jesus e vivem uma mediocridade que não é boa para a Igreja. Por  isso, devemos ajudar os bispos e padres a rezarem, a ouvirem a Palavra de Deus que é o alimento diário,  a celebrarem a Eucaristia todos os dias e irem à confissão regularmente. Isto é tão importante porque diz respeito à santificação dos sacerdotes e bispos.
5. Gostaria de terminar com uma coisa que me vem à mente: mas como se deve fazer para se tornar um sacerdote, onde são vendidos os acessos ao sacerdócio? Não. Não se vendem. Esta é uma iniciativa do Senhor. O Senhor chama. Ele chama cada um daqueles que Ele quer que se torne sacerdote. Talvez existam alguns jovens aqui que sentiram este chamado em seu coração, o desejo de se tornar padre, o desejo de servir aos outros nas coisas de Deus, o desejo de estar por toda a  vida a serviço para catequizar, batizar, perdoar, celebrar a Eucaristia, cuidar dos doentes … e toda a vida dessa forma. Se algum de vocês já sentiu isso no coração,  é Jesus quem a colocou ai. Prestem atenção a este convite e rezem para que ele possa crescer e dê fruto em toda a Igreja

terça-feira, 25 de março de 2014

Sobre a "ideologia de gênero"



Reflexões do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist., Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.

RIO DE JANEIRO, 25 de Março de 2014 (Zenit.org) - A “revolucionária” ideologia de gênero vem tentando se implantar no Brasil por meio de grandes esforços do poder reinante ou dominante. Diante desta situação, incumbe-nos, enquanto brasileiros e cristãos, saber o que é essa ideologia muito comentada, mas pouco definida, quais são suas raízes, como ela se impõe, que objetivos tem e qual deve ser a nossa posição frente a ela.
É ponto de partida desse sistema ideológico o seguinte postulado: nós nascemos com um sexo biológico definido (homem ou mulher), mas, além dele, existiria o sexo psicológico ou o gênero que poderia ser construído livremente pela sociedade na qual o indivíduo está inserido. Desse modo, em última análise, não existiria uma mulher ou um homem naturais. Ao contrário, o ser humano nasceria sexualmente neutro, do ponto de vista psíquico, e seria constituído socialmente homem ou mulher.
Nada de novo debaixo do sol. Simone de Beauvoir, filósofa existencialista, já dizia exatamente isso. Não se nasce mulher, mas você se torna mulher; não se nasce homem, mas você se torna homem. Em suma, nada dependeria da natureza, mas, sim, de uma construção sociocultural capaz de levar a relações igualitárias entre dois seres humanos, naturalmente, diferentes quanto à sexualidade.
Uma Nota da Conferência Episcopal do Peru, emitida em abril de 1998, com o título La ideologia de género: sus peligros y alcances aponta a raiz marxista e atéia desse sistema ideológico e assegura que segundo a ideologia de gênero, não é a natureza, mas a sociedade quem vai impondo ao homem ou à mulher certos comportamentos típicos. Desse modo, se a menina prefere brincar de casinha ou aconchegar a boneca isso não se deveria ao seu instinto natural à maternidade, mas tão-somente a uma convenção social dominadora. Se as mulheres se casam com homens e não com outras mulheres, isso nada teria de natural, mas dever-se-ia apenas a uma “tradição social” das classes dominantes.
Mais: se o homem brinca de bola e sente necessidade de trabalhar fora de casa a fim de melhor sustentar a família ao passo que as mulheres preferem, via de regra, passar mais tempo em casa junto aos filhos (cf. Sueli C. Uliano. Por um novo feminismo. São Paulo: Quadrante, 1995, p. 51-53), não estariam, de modo algum, atendendo a seus anseios inatos, mas apenas se acomodando ao desejo elitista de uma tradição opressora que deve ser rompida a qualquer momento. Sim, pois segundo os defensores da ideologia de gênero essas construções sociais opressivas só serviram até hoje para minimizar a mulher frente aos homens. Seria necessário conscientizá-las de que a sua vida de casa, cozinha e criança não tem mais sentido, essa conscientização levaria a mulher a entender o quanto é explorada e enganada pelo modelo patriarcal de sociedade em que vivemos.
Uma vez liberta, ela poderia optar por reconstruir-se do modo que bem entender. Faria a sua escolha sexual com todas as consequências dela derivadas, ou seja, poderia também optar por levar adiante uma gravidez ou praticar o aborto que, na doutrina de gênero, não seria crime algum, mas, ao contrário um direito que caberia à mãe. Embora, para não chocar a sociedade com o homicídio, prefira-se um termo manipulado por meio de engenharia verbal como é, por exemplo, “interrupção voluntária da gravidez”..
Isso posto, já devemos – coma Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e na Sociedade, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 31 de maio de 2004 – aproveitar fazer, rapidamente, a refutação de duas correntes contemporâneas que propalam pensamentos absurdos a respeito da mulher: a subordinacionista, que a vê qual escrava, submissa ao homem em nível familiar e social, e a de gênero, desejosa de apagar as diferenças naturais entre homem e mulher. Afinal, a Escritura apresenta a mulher como ezer (auxiliar ou companheira) do homem por analogia com Deus que é ezer do homem (cf. Gn 2,4-25; Êx 18,4; Sl 10,35). Há entre mulher e homem complementaridade, apesar das diferenças fisiológicas e psicológicas (não meramente culturais). Iguais quanto à sua dignidade – um não é mais que o outro – não se identificam em suas características peculiares, pois Deus criou homem e mulher, não um andrógino polimorfo ou capaz de ter várias formas.
Outro ponto a ser refutado é o que defende a liberdade de construção sexual. Com efeito, assimcomo toda ideologia, a de gênero – considerada pelo estudioso argentino Jorge Scala, em sua obra Ideologia de gênero: neototalitarismo e morte da família (São Paulo: Katechesis, 2011), a mais radical já conhecida na história, pois se aplicada destruiria o ser humano em sua integralidade e, por conseguinte, a sociedade, cuja célula-mãe é a família – é também mentirosa. Ela oferece às pessoas a ilusão de que serão plenamente livres em matéria sexual, contudo, uma vez que essas pessoas tenham tomado a mentira por verdade, são aqueles que detêm o poder real que escolherão, a seu beneplácito, o modo como o povo deverá – padronizadamente – exercer a sua sexualidade sob o olhar forte do Estado que tutelaria para que cada um fizesse o que bem entendesse. Dentro da cartilha estatal, é óbvio. Só não se toleraria, por enquanto, as relações sexuais não consentidas, todas as demais seriam válidas e deveriam ser toleradas pelo Governo e pela sociedade em geral como lícitas.
Ora, uma ideologia tão antinatural e artificial dessas não consegue se impor do dia para a noite, nem recebe tão fácil acolhida da população, mas, ao contrário, provoca resistências entre as pessoas sensatas em geral. Daí os arautos da ideologia de gênero usarem, de modo conjunto, importantes estratégias para dominarem o grande número de hesitantes.
Sim, é imprescindível contar com os meios de propaganda de grande alcance tais como o rádio, o jornal, as revistas, a TV, a internet, pois são veículos de comunicação unidirecionais, ou seja, não permitem que o receptor da informação dialogue com o emissor (sabemos como são manipuladas as opiniões que se enviam para os sites) para, no caso de gênero, por exemplo, contestá-lo das inverdades que diz. Apenas se aceita muito passivamente aquilo que lhe é transmitido.
Outro meio formidável é o sistema educacional formal ou a escola. Por meio dela – em um processo educacional inverso ao que sempre se conheceu, no qual o papel primordial da educação ética e religiosa cabe aos pais – se veiculariam os métodos impostos pelo Estado a ditarem as normas de vida social aos alunos e estes deveriam, em casa, ensinar seus pais ou responsáveis doutrinando-os a fim de que também aceitem as novas concepções totalitárias, incluindo como carro-chefe a revolucionária ideologia de gênero, mãe de todas os outros “libertinismos” sexuais.
Tudo isso, porém, depende, para ser imposto, de uma ardilosa máquina de propaganda que age especialmente, a partir de três etapas fundamentais: primeiro, usar, desde logo, uma palavra comum, mas com sentido totalmente diferente. Desse modo, falar-se-ia em sexo e gênero, alternadamente, como se fossem meros sinônimos até que as pessoas, de maneira imperceptível, começassem a usá-las sem se questionar, ao menos em alguns ambientes específicos como as escolas, redações de jornais, rádios, igrejas etc.
Segundo, bombardear a opinião pública pelos meios de educação formais (escola) e informais (rádios, TVs, jornais, revistas, internet) valendo-se da palavra antiga com sentido novo ou transfigurado pela cirurgia ideológica nela realizada. Aqui já se substituiria o vocábulo sexo por gênero e se lhe acrescentaria os sentidos revolucionários de “sexo socialmente construído” em oposição ao sexo biologicamente dado pela natureza, falar-se-ia em “tipos de casamentos” e não mais no matrimônio monogâmico e estável com bases religiosas, etc.
Observa-se, então, que as pessoas aceitariam o termo clássico (sexo) com um conteúdo novo (gênero). Estaria imposta, por uma forte “heterossugestão”, um novo modelo de pensar: simples homens e mulheres, sem qualquer pressuposto filosófico, sociológico ou antropológico, estaria falando, de modo falacioso, que gênero é a “autoconstrução livre da própria sexualidade”. A opinião pública estaria dominada para acatar todo tipo de “vida sexual” contrária à natureza: poligamia, prostituição, orgias, pedofilia, pornografia, zoofilia (relação sexual com animais), necrofilia (encenação de ato sexual com defuntos) etc.
Tudo isso graças ao substrato de uma nova linguagem de características obscuras, próprias para causar confusão na mente de quem com elas toma contato, evitando, assim, que o ouvinte ou o leitor consiga rebater a mensagem implícita naqueles termos que parecendo esdrúxulos têm uma finalidade muito específica na veiculação da ideologia de gênero. Alguns deles são “sexismo”, sexualidade polimórfica, homofobia, “androcentrismo”, tipos de família, “parentalidade”, heterossexualidade obrigatória, etc. e quem toma contato, sem pressupostos, aceita às escuras tais termos e os repete trabalhando, ingenuamente, para a ideologia de gênero e, por consequência, contra a vida, a família e os alicerces da própria sociedade.
Pergunta-se, então, se diante de uma ideologia “revolucionária" e perversa, como se revela ser a ideologia de gênero, cabe aos católicos a coragem ou o medo? – Scala responde com uma citação de Jean Gitton, filósofo francês, que diz o seguinte: “Em todos os séculos, diz-se que a Igreja vai cair, e ela se mantém. É incrível. Em cada século diz-se que não é como os séculos precedentes, que desta vez é definitiva e que a Igreja não se salvará. E sempre se salva.. Veja, ainda no século XX. O comunismo a enterraria. Todo mundo dizia isso. Eu também esperava o pior, na Europa e em todos os lugares. O que aconteceu? A Igreja enterrou o comunismo. E já veremos que a mesma coisa vai acontecer com o liberalismo que se acredita eterno. Aos olhos humanos nenhuma pessoa sensata poria um centavo nas ações do ‘Catolicismo’. Hoje em dia se diz: o consumismo e o sexo varrerão a Igreja. Bom, eu não acredito. Uma vez mais, acontecerá algo, não sei o quê. Repito: é incrível. Toda esta história é inverossímil” (Mi testamento filosófico apud Scala, p. 195).
Certo é que não basta só confiar nessa força sobrenatural da Igreja, é preciso fazer a nossa parte conhecendo e apresentando ao público a verdadeira face da ideologia de gênero escondida atrás de uma fantasia carnavalesca. Olha-nos sorridente para conquistar-nos. Uma vez conseguido seu intento, fecha sua carranca e ataca-nos impiedosamente para destruir a vida, a família e os valores sociais alicerçados na lei natural moral que ensina a fazer o bem e evitar o mal. Todavia, quem se julgar livre para defender os valores naturais e cristãos pode ser duramente perseguido, moral e fisicamente, como já se faz, ainda que um tanto veladamente, em não poucos países. A classificação de “retrógrado” e outros nomes é muito comum na verbalização e condenação daqueles que conseguem refletir sobre esses fatos.
Em tempos como os nossos, ter coragem para defender os princípios cristãos libertadores – é para a liberdade que Cristo nos libertou, Gl 5,1 – é expor-se ao próprio martírio de sangue, mas as palavras do Senhor Jesus nos encorajam: No mundo tereis tribulações, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo (cf. Jo 15,18-27).
Fazemos votos para que todas as forças vivas da nação se unam em defesa da vida e da família e, consequentemente, da sociedade em geral a fim de que possamos, diante de Deus, deixar ao nosso povo em geral, especialmente às nossas crianças, adolescentes e jovens, a certeza de que não fomos omissos e lutamos, dentro da lei e da ordem, para que uma ideologia que pretende ser “revolucionária” como a de gênero não os prejudicasse. Nem hoje, nem amanhã.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Nota sobre o PNE - Plano Nacional de Educação



Cardeal Dom Orani Tempesta emite nota sobre a votação que acontecerá amanhã na câmara dos deputados em Brasília
Por Dom Orani Tempesta, O.Cist.
HORIZONTE, 25 de Março de 2014 (Zenit.org) - Depois de adiada várias vezes devido à pressão popular, a votação do Plano Nacional de Educação (PNE), a vigorar nos próximos dez anos como parâmetro ao sistema educacional brasileiro, esta foi marcada para a próxima quarta-feira, dia 26 de março.
O documento a ser votado contem, no entanto, uma afronta às famílias brasileiras responsáveis pelas novas gerações, pois introduz, oficialmente, no ensino nacional a revolucionária, sorrateira e perigosa “ideologia de gênero” desmascarada mais de uma vez por estudiosos de renome.
É importante saber que a palavra gênero substitui – por uma ardilosa e bem planejada manipulação da linguagem – o termo sexo. Tal substituição não se dá, porém, como um sinônimo, mas, sim, como um vocábulo novo capaz de implantar na mente e nos costumes das pessoas conceitos e práticas inimagináveis.
Nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer.
Vê-se, portanto, quão arbitrária, antinatural e anticristã é a ideologia de gênero contida no Plano Nacional de Educação (PNE) e que por essa razão merece a sadia reação dos cristãos e de todas as pessoas de boa vontade a fim de pedir que nossos representantes no Congresso Nacional façam, mais uma vez, jus ao encargo que têm de serem nossos representantes e rejeitem, peremptoriamente, a ideologia de gênero em nosso sistema de ensino.
As formas de participação – simples, mas imprescindíveis – são as seguintes: a) assinatura em uma plataforma específica no  http://www.citizengo.org/pt-pt/5312-ideologia-genero-na-educacao-nao-obrigado e b) ligação gratuita pelo telefone 0800 619 619. Tecla “9” pedindo a rejeição à ideologia de gênero em nosso sistema educacional.
São José, patrono da família, rogai por nós!
Rio de Janeiro, RJ, 22 de março de 2014.
† Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.

A salvação não se compra, apenas nos é pedido um coração humilde. Como aquele de Maria



O Papa, em Santa Marta, recordou que Deus nunca deixou de acompanhar o caminho do homem. Caminho que tinha começado com a desobediência de Eva e termina com a atitude obediente de Maria
Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 25 de Março de 2014 (Zenit.org) -
“A salvação não se compra, não se vende, oferece-se.. É gratuita. Para entrar nesta salvação, apenas nos é pedido um coração humilde, um coração dócil, um coração obediente. Como aquele de Maria.” O Papa partiu daqui, do coração da Virgem Maria Mãe de Deus, para articular sua homilia na missa de hoje em Santa Marta, Solenidade da Anunciação.
Mas, antes de começar a falar sobre o coração "obediente" de Maria, o Papa recordou a história da salvação, como narra as Escrituras. Uma história, ou melhor, um "caminho " que começou  com a “desobediência" de Adão e Eva, que , cedendo às tentações do diabo, se deixaram levar pelo “orgulho” e foram expulsos do Paraíso.
Este caminho, no entanto, termina com uma "obediência" : o sim de Maria no anúncio do Arcanjo Gabriel . Como afirmou  Santo Irineu de Lyon: “O nó que Eva fez com a sua desobediência, foi dissolvido por Maria com a sua obediência”. Tudo isso demonstra que o “Senhor acompanhou a humanidade neste longo caminho.. Fez dela um povo. Estava com eles”, disse o Papa. Um caminho “no qual as maravilhas de Deus se multiplicam”.
Mas por que “caminhava com o seu povo, com tanta ternura?”, questionou o Papa. “Para amaciar o nosso coração”, afirmou. Deus “explicitamente” diz: ‘Eu vou fazer do seu coração de pedra um coração de carne’.
Deus quer “amaciar o nosso coração para receber a promessa que ele havia feito no Paraíso”, e destacou o Santo Padre: “Através de um homem entrou o pecado, e através de outro homem chega a salvação. E este caminho tão longo ajudou todos nós a termos um coração mais humano, mais próximo de Deus, não tão orgulhoso, não tão suficiente”.
Portanto, o caminho previsto por Deus para o homem é um " caminho de restauração", marcado pela "obediência" e “docilidade à Palavra de Deus”, afirmou o Papa. O único objetivo  é a salvação, que “não se compra, não se vende: se doa. É grátis”. “Não se compra com o sangue nem de touros nem de cabras: não se pode comprar”. Para entrar em nós esta salvação somente pede um “coração humilde, um coração dócil, um coração obediente”. Como o de Maria.
E, “o modelo deste caminho de salvação é o mesmo Deus, Seu filho”, evidenciou Bergoglio, que, como afirma São Paulo: não se apegou a um direito inalienável, ser igual a Deus”. A chave é o “caminho de humildade, de humilhação” que  “significa simplesmente reconhecer: “ Eu sou homem, eu sou mulher e Tu és Deus, e ir adiante, à presença de Deus”.  E por isso, exortou o Papa na Solenidade da Anunciação, “vamos fazer festa: a festa deste caminho, de uma mãe para outra mãe, de um pai para outro pai”.
Se “hoje podemos abraçar o Pai”, acrescentou Bergoglio, foi “ graças ao sangue de Seu Filho, que se tornou como um de nós, nos salva”. “Este pai está esperando por nós todos os dias”, concluiu Francisco. “Vamos olhar para o ícone de Eva e Adão, olhar para o ícone de Maria e Jesus, olhar para o caminho da História com Deus que caminhava com o seu povo. E vamos dizer: ‘Obrigado. Obrigado, Senhor, porque hoje Tu dizes a nós que nos doaste a salvação’..”
(Trad.:MEM)

LITURGIA DA QUARESMA COM INSPIRAÇÃO CATECUMENAL - 2


Caros diocesanos. A Iniciação à Vida Cristã é entendida como um itinerário catequético que inicia as pessoas no mistério de Cristo e ajuda a amadurecer na fé e comunhão da Igreja. Ela percorre um longo caminho que tem como meta a maturidade em Cristo, no estado permanente da vida cristã. Por isso a catequese de iniciação à vida cristã nunca pode ser considerada completa.

As celebrações dominicais e de solenidades do Ano Litúrgico de 2014 seguem a distribuição da Palavra de Deus do Ano A. Os domingos da quaresma, desde os primeiros séculos da era cristã, têm uma nítida orientação catecumenal. Assim, os cinco domingos da quaresma se orientam por leituras que formam unidade e estão ligadas aos sacramentos da iniciação cristã, sobretudo do batismo.

Já percebemos que no 1º domingo as leituras apresentaram paralelo entre Adão (desobediência – pecado – morte) e Cristo (obediência – justificação – vida). Os cristãos, ligados a Cristo, participam dessa nova vida.

No 2º domingo Deus chama Abraão, pai da fé e do Povo de Deus, do qual surgirá o salvador. No evangelho Jesus é transfigurado: Ele vencerá a morte e ressuscitará os seus discípulos. Deus nos salvou e nos chamou gratuitamente para uma vocação santa.

A seguir iniciam os evangelhos de São João, que sustentam a catequese de iniciação cristã com alguns símbolos importantes, desde antiga tradição romana: água – luz - ressurreição. Exprimem o dom do Espírito que Cristo dá ao crente. Vejamos a distribuição das leituras da Palavra de Deus nestes domingos da quaresma:

* 3º Domingo
: Jesus é a água viva. Com este domingo, o evangelho (Jo 4, 5-42) apresenta a conversa de Jesus com a samaritana no poço de Jacó. Jesus é doador da água viva: “Quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna” (Jo 5, 14). A primeira leitura (Ex 17, 3-7) recorda o Povo de Deus, libertado do Egito, mas que passa pela prova do deserto, onde falta água. Deus intervém e manda Moisés bater na rocha, da qual corre água em abundância. A rocha será comparada a Cristo e a água é bebida espiritual. Junto ao maná, ela é símbolo que se refere à iniciação cristã. A segunda leitura (Rm5, 1-2. 5-8) fala que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (batismo) que nos foi dado (Rm 5, 5). Deus concede seu dom pela água e pelo Espírito.

* 4º Domingo
: Jesus é a luz do mundo (Jo 9, 5). No evangelho deste domingo (Jo 9, 1-41) Jesus conduz um cego das trevas à luz. Inicialmente, à luz física; depois, à revelação, à fé. O cego passa por um ritual progressivo, imagem do processo que transforma os catecúmenos, a partir da fé (iluminação), em videntes que exclamam: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9, 38). O texto também revela a cegueira dos fariseus, mesmo não sendo cegos fisicamente, pois não reconhecem Jesus como enviado para ser a luz do mundo. Na segunda leitura (Ef 5, 8-14), São Paulo chama os cristãos de luz do Senhor: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Procedei como filhos da luz” (Ef 5, 8-9). A primeira leitura deste domingo (1Sam 16, 1b.4ª.6-7.10-13) remete ao tema catecumenal da unção. Davi é consagrado rei pela unção. Deus olha o coração (fé) e não as aparências (1Sm 16, 7). Desde aquele momento o Espírito do Senhor apoderou-se dele (1Sm 16, 13). A Palavra de Deus nos revela como os catecúmenos se preparam para receber a água viva e a unção do Espírito.
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Uruguaiana

Buscar a verdade com a mídia: Verdade, bondade, beleza, as três coisas juntas




CIDADE DO VATICANO, 24 de Março de 2014 (Zenit.org) -
O Papa Francisco recebeu no final da manhã deste sábado (22) na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 400 membros da Associação “Corallo”, uma rede de comunicação na Itália. Eis a íntegra do pronunciamento:
“Agradeço tanto por aquilo que o senhor disse e agradeço pelo trabalho que vocês fazem. Esta verdade....buscar a verdade com a mídia. Mas não somente a verdade! Verdade, bondade, beleza, as três coisas juntas. O vosso trabalho deve desenvolver-se nestes três caminhos: o caminho da verdade, o caminho da bondade e o caminho da beleza. Mas verdades, bondades e belezas que sejam consistentes, que venham de dentro, que sejam humanas. E, no caminho da verdade, nos três caminhos, podemos encontrar erros, e mesmo armadilhas. “Eu penso, busco a verdade...”: estejais atentos a não tornarem-se intelectuais sem inteligência. “Eu vou, busco a bondade....”: estejais atentos a não tornarem-se eticistas sem bondade. “Me agrada a beleza...”: estejais atentos a não fazer aquilo que se faz frequentemente, “maquiar” a beleza, buscar os cosméticos para fazer uma beleza artificial que não existe. A verdade, a bondade e a beleza é como vem de Deus e estão no homem. E este é o trabalho da mídia, o vosso trabalho.
O senhor acenou para duas coisas e eu gostaria de retomá-las. Antes de tudo, a unidade harmônica do vosso trabalho. Existem as grandes mídias, as pequenas... Mas se nós lermos no Capítulo 12 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, vemos que na Igreja não existe nem grande nem pequeno: cada um tem a sua função, o seu ajuda o outro, a mão não pode existir sem a cabeça, e assim por diante. Todos somos membros e também as vossas mídias, quer sejam maiores ou menores, são membros, e harmonizados pela vocação do serviço na Igreja. Ninguém deve sentir-se pequeno, muito pequeno em relação ao outro muito grande.....
Eu faria esta pergunta: quem é mais importante na Igreja? O Papa ou aquela velha senhora que todos os dias reza o Rosário pela Igreja? Que o diga Deus, eu não posso dizê-lo. Mas a importância é de cada um nesta harmonia, pois a Igreja é a harmonia da diversidade. O Corpo de Cristo é esta harmonia da diversidade, e quem faz a harmonia é o Espírito Santo: Ele é o mais importante de todos. Isto é o que o senhor disse e eu gostaria de destacar. É importante: buscar a unidade e não seguir a lógica de que o peixe grande engole o peixe pequeno.
O senhor disse também outra coisa, que também eu menciono na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Falou de clericalismo. É um dos males, é um dos males da Igreja. Mas é um mal “cúmplice”, porque aos sacerdotes agrada a tentação de clericalizar os leigos, mas tantos leigos, de joelhos, pedem para ser clericalizados, pois é mais cômodo, é mais cômodo!. E isto é um pecado num duplo sentido! Devemos vencer esta tentação. O leigo deve ser leigo, batizado, tem a força que vem do seu Batismo. Servidor, mas com a sua vocação laical, e isto não se vende, não se negocia, não se é cúmplice com o outro...Não! Eu sou assim! Porque está na identidade!, alí. Tantas vezes escutei isto, na minha terra: “Eu na minha paróquia, sabe? Tenho um leigo bravíssimo, este homem sabe organizar... Eminência, porque não o tornamos diácono?”. É a proposta do padre, imediata: clericalizar. Este leigo façamo-o.... E porque? Porque é mais importante o diácono, o padre, do que o leigo? Não! É este o erro! É um bom leigo? Que continue assim e cresça assim. Porque está na sua identidade de pertença cristã, alí. Para mim, o clericalismo impede o crescimento do leigo. Mas tenham presente aquilo que eu disse: é uma tentação cúmplice a duas mãos. Pois não existiria o clericalismo se não existissem leigos que querem ser clericalizados. Está claro isto?
Por isto agradeço aquilo que vocês fazem. Harmonia: Também esta é uma outra harmonia, pois a função do leigo não pode fazer o sacerdote, e o Espírito Santo é livre: algumas vezes inspira o padre a fazer uma coisa, outras vezes inspira o leigo. Se fala, no Conselho Pastoral. Tão importantes são os Conselhos Pastorais: uma paróquia – e nisto cito o Código de Direito Canônico – uma paróquia que não tem um Conselho Pastoral e Conselho de Assuntos econômicos, não é uma boa paróquia, falta vida.
Depois, são tantas as virtudes. Acenei para isto no início: seguir a estrada da bondade, da verdade e da beleza, e tantas virtudes neste caminho. Mas existem também os pecados da mídia! Permito-me falar um pouco sobre isto. Para mim, os pecados da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’. Mas a desinformação é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a outra metade. E assim, aquilo que vejo na TV ou aquilo que escuto na rádio não posso fazer um juízo perfeito, pois não tenho os elementos e não nos dão estes elementos. Destes três pecados, por favor, fujam! Desinformação, calúnia e difamação.
Vos agradeço por aquilo que fazem. Disse a Dom Sanchirico para entregar a vocês o discurso que havia escrito: mas as suas palavras (do Presidente) inspiraram-me para vos dizer isto espontaneamente e o disse com uma linguagem do coração. Sintam o que disse desta maneira.. Não com a língua italiana, porque eu não falo com o estilo de Dante!. Vos agradeço tanto e agora vos convido a rezar uma Ave maria a Nossa Senhora para vos dar a bênção.”

segunda-feira, 24 de março de 2014

A Quaresma é o tempo oportuno para olharmos dentro de nós



No Angelus, Francisco refletiu sobre o Evangelho que relata o encontro de Jesus com a mulher samaritana
CIDADE DO VATICANO, 24 de Março de 2014 (Zenit.org) - Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas aos fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro neste domingo (23) para rezar o Angelus.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje nos apresenta o encontro de Jesus com a mulher samaritana, acontecido em Sicar, junto a um antigo poço para onde a mulher ia todos os dias para pegar água. Naquele dia, encontrou Jesus, sentado, “fatigado da viagem” (Jo 4, 6). Ele logo lhe disse: “Dá-me de beber” (v.7). Deste modo, supera as barreiras de hostilidade que existiam entre judeus e samaritanos e rompe o esquema de preconceito contra as mulheres.
O simples pedido de Jesus é o início de um diálogo franco, mediante o qual Ele, com grande delicadeza, entra no mundo interior de uma pessoa à quem, segundo os esquemas sociais, não deveria nem dirigir a palavra. Mas Jesus o faz! Jesus não tem medo. Jesus, quando vê uma pessoa segue adiante, porque ama. Ama todos nós. Não para diante de uma pessoa por preconceitos. Jesus coloca-a diante da sua situação, não a julgando, mas fazendo-a sentir-se considerada, reconhecida e suscitando, assim, nela o desejo de ir além da rotina cotidiana.
Aquela sede de Jesus não era tanto de água, mas de encontrar uma alma seca. Jesus precisava encontrar a samaritana para abrir-lhe o coração: pede a ela de beber para colocar em evidência a sede que havia nela mesma. A mulher fica tocada por este encontro: dirige a Jesus aquelas perguntas profundas que todos temos dentro de nós, mas que muitas vezes ignoramos. Também nós temos tantas perguntas a fazer, mas não encontramos a coragem de dirigi-las a Jesus!
A Quaresma, queridos irmãos e irmãs, é o tempo oportuno para olharmos dentro de nós, para fazer emergir as nossas necessidades espirituais mais verdadeiras e pedir a ajuda do Senhor na oração. O exemplo da samaritana convida-nos a nos exprimirmos assim: “Jesus, dá-me aquela água que me saciará para sempre”.
O Evangelho diz que os discípulos ficaram maravilhados com o fato de o seu Mestre estar falando com aquela mulher. Mas o Senhor é maior que os preconceitos, por isto não teve medo de parar com a samaritana: a misericórdia é maior que o preconceito. Devemos aprender bem isso! A misericórdia é maior que o preconceito, e Jesus é tão misericordioso, tanto!
O resultado daquele encontro no poço foi que a mulher foi transformada: “deixou o seu cântaro” (v.28), com o qual tinha ido pegar água, e correu à cidade para contar a sua experiência extraordinária. “Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz. Seria o Messias?”. Estava entusiasmada. Tinha ido pegar água do poço e encontrou outra água, a água viva da misericórdia que jorra para a vida eterna. Encontrou a água que procurava desde sempre! Corre ao vilarejo, aquele vilarejo que a julgava, condenava-a e a rejeitava e anuncia que encontrou o Messias: um que mudou sua vida. Porque cada encontro com Jesus muda a nossa vida, sempre. É um passo adiante, um passo mais próximo a Deus. E assim cada encontro com Jesus muda a nossa vida. Sempre, é sempre assim.
Neste Evangelho, encontramos também nós o estímulo para “deixar o nosso cântaro”, símbolo de tudo aquilo que aparentemente é importante, mas que perde valor diante do “amor de Deus”. Todos temos um, ou mais de um! Eu pergunto a vocês, também a mim: “Qual é o seu cântaro interior, aquele que te pesa, aquele que te afasta de Deus?”. Deixemo-no um pouco à parte e com o coração escutemos a voz de Jesus que nos oferece uma outra água, uma outra água que nos aproxima do Senhor.
Somos chamados a redescobrir a importância e o sentido da nossa vida cristã, iniciada no Batismo e, como a samaritana, testemunhar aos nossos irmãos. O que? A alegria! Testemunhar a alegria do encontro com Jesus, porque eu disse que cada encontro com Jesus muda a nossa vida, e também cada encontro com Jesus nos enche de alegria, aquela alegria que vem de dentro. E assim é o Senhor. E contar quantas coisas maravilhosas o Senhor sabe fazer no nosso coração quando nós temos a coragem de deixar de lado o nosso cântaro.

No sofrimento ninguém está só. Deus abraça inclusive as situações mais desumanas



Papa recebe participantes da Plenária do Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes de Saúde

Primeiro, um profundo agradecimento pelo empenho de tantos “irmãos e irmãs portadores de doenças, deficiências, e idosos”. Em seguida, o incentivo para cuidar com amor e defender a dignidade das pessoas que sofrem, lembrando que não há nenhuma doença capaz de minar o valor sagrado que Deus deu a cada vida humana. É precisamente o sofrimento que torna visível a "carne de Cristo", disse Francisco aos participantes da Plenária do Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes de Saúde, na manhã desta segunda-feira.
O Calvário de Jesus deu um novo sentido ao sofrimento humano, e Sua Paixão “é a maior escola para quem quer dedicar-se ao serviço dos irmãos doentes e que sofrem", disse o Papa. "Até no sofrimento ninguém está nunca só, porque Deus no seu misericordioso pelo homem e pelo mundo abraça mesmo as situações mais desumanas, em que a imagem do Criador presente em cada pessoa aparece ofuscada ou desfigurada.”
“Como aconteceu a Jesus na sua Paixão, reafirma o Santo Padre, Nele toda a dor humana, cada mágoa, cada sofrimento tem sido assumido por amor, pelo simples desejo de estar perto de nós, para estar com a gente. "
Francisco, em seguida, recordou a Salvifici doloris de João Paulo II, em especial o ponto 30, que incentiva o trabalho do Departamento: “fazer bem com o sofrimento e fazer bem a quem sofre” (n30). Essas palavras, disse Francisco, João Paulo II as viveu e as testemunhou de maneira exemplar. “O seu foi um magistério vivente, que o Povo de Deus retribuiu com tanto afeto e tanta veneração, reconhecendo que Deus estava com ele”, destacou Bergoglio.
“A experiência da compartilha fraterna com quem sofre nos abre à verdadeira beleza da vida humana, que compreende a sua fragilidade”, disse o Papa. “Na proteção e na promoção da vida, em qualquer fase e condição se encontre, possamos reconhecer a dignidade e o valor de cada ser humano, da concepção até a morte”, exortou o Santo padre.
E recordou a Solenidade da Anunciação do Senhor que celebra amanhã “quem acolheu a Vida em nome de todos e em benefícios de todos”, disse. “Ofereceu a sua própria existência, colocou -se à disposição da vontade de Deus, tornando-se "lugar" de sua presença, "lugar" no qual habita o Filho de Deus".
A ela, Salus infirmorum, o Papa confiou a serviço daqueles que trabalham na "defesa e promoção da vida" e "na pastoral da saúde”. E invocou a "proteção maternal" sobre todos os doentes e seus familiares, e sobre todos aqueles que cuidam deles. E conclui a audiência cheio de emoção e esperança: "Queridos amigos, no desempenho cotidiano do nosso serviço, tenhamos sempre presente a carne de Cristo nos pobres, nos sofredores, nas crianças, mesmo as indesejadas, nas pessoas com problemas físicos e psíquicos e nos idosos”.
(Trad.:MEM)