terça-feira, 22 de abril de 2014

Os discípulos de Emaús

Irmãos e Irmãs! Tendo celebrado a morte e ressurreição de Jesus Cristo e, conseqüentemente, sua atualização na vida da Igreja, continuamos a viver a alegria deste mistério, no Tempo pascal, tendo a Palavra de Deus como luz no caminho (Sl 119, 105) e forma de presença de um Deus vivo que dialoga conosco e nos estimula para o anúncio do Ressuscitado. Neste sentido, afirma o Papa Francisco: “é indispensável que a Palavra de Deus se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial...” (EG 174). A liturgia é o lugar privilegiado desse encontro com a Palavra de Deus. Diz Bento XVI no documento Verbum Domini: “A Liturgia constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos
 fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde... O próprio Cristo ‘está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura’... A Palavra de Deus permanece viva e eficaz... É acompanhada pela ação íntima do Espírito Santo que a torna operante no coração dos fiéis”. Na liturgia a Palavra de Deus é celebrada como palavra atual e viva. Ela tem caráter performativo (dabar): “Palavra que realiza aquilo que diz” (VD 52-53).
Durante as primeiras semanas de Páscoa a liturgia da Palavra nos apresenta, nas celebrações eucarísticas, os evangelhos que narram o fato da ressurreição e as diversas aparições do Ressuscitado. Uma das passagens pascais mais catequéticas é a dos Discípulos de Emaús (Lc 1-35), texto bíblico inspirador, na nossa diocese, para o tema da Iniciação à Vida Cristã, como processo de inspiração catecumenal, em 2014, que objetiva conduzir os candidatos ao encontro da pessoa de Jesus Cristo e a inserção na comunidade cristã. No Evangelho citado aparecem diversos “lugares de encontro” com Jesus (Cf. DAp 246ss.). Primeiramente, os discípulos voltam de Jerusalém, desiludidos com a paixão e a morte do Senhor, conversando sobre as coisas que aí tinham acontecido: “Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel... Então ele lhes disse: ‘como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória?’” (Lc 24, 21.25-26). Jesus se faz presente nos fatos da vida. Ele caminha junto com os discípulos e os faz refletir. Outro “lugar de encontro” com o Senhor acontece na Sagrada Escritura: “Começando por Moisés e passando por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele”. Depois os discípulos dizem um ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 27 e 32). Um terceiro “lugar de encontro” realiza-se no partir do pão: “Depois que se sentou à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles. Neste momento, seus olhos se abriram, e eles o reconheceram” (Lc 24, 30-31). E, finalmente, Ele se faz presente na comunidade e na missão: “Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros discípulos... Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir do pão. Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: ‘A paz esteja convosco!’” (Lc 24, 33. 35-36).
Este evangelho é realmente maravilhoso para a Iniciação à Vida Cristã, pois nele os catequizandos podem perceber diversas formas, maneiras, lugares, realidades em que o Senhor Ressuscitado continua conosco e pode ser encontrado: nos fatos da vida, na Sagrada Escritura, na eucaristia, na comunidade e na missão. Ele nos acompanha e se deixa encontrar; quer entrar em comunhão conosco para transmitir-nos sua vida divina.

Dom Aloísio A. Dilli –
 Bispo de Uruguaiana
a

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