quinta-feira, 24 de abril de 2014

João XXIII e João Paulo II influenciaram profundamente a América Latina



Embaixadores junto à Santa Sé apresentaram as mudanças que esses papas fizeram no Continente da Esperança

Roma,  (Zenit.orgSergio Mora 

Os pontificados de João Paulo II e João XXIII e sua relação com a América Latina, tem sido o tema de um café da manhã – reunião desta terça-feira 15 de abril em Roma. Participaram embaixadores e jornalistas de vários países latino-americanos. Estavam na mesa três embaixadores junto à Santa Sé, o do Brasil,  Fontes Pinto; o do México, M. Palacios; e o de Guatemala, Alfonso Roberto Mata Fahsen. O evento foi organizado pela Fundação de Promoção Social da Cultura (www. Fundacionfpsc.org ), a Agência Mediatrends Prestomedia, um observatório independente que estuda as tendências da informação internacional.
O embaixador do México destacou a mudança nas relações entre a Igreja e o Estado durante o pontificado de João Paulo II e sua viagem ao México, detalhando os precedentes liberais e anti-católicos de governos que desde o início do século XIX produziram uma perseguição à Igreja com a guerra dos cristeros, a proibição da educação religiosa a trabalhadores e camponeses e com um projeto socialista para repartir a terra.
A primeira das cinco viagens de João Paulo II ao México, em janeiro de 1979, causou uma mobilização impressionante, disse. Visitou todas as grandes metrópoles do país e se declarou um fervoroso guadalupano. O embaixador azteca recordou que já em 1992, foram negociadas reformas constitucionais e chegou-se a uma acordo com plenas relações diplomáticas com a Santa Sé e a reforma do status da Igreja particular. Esclareceu, entretanto, que ainda hoje há outras questões em aberto, como o aborto ou uniões de pessoas do mesmo sexo.
Um detalhe interessante que acrescentou é que os 35 milhões de mexicanos que veneraram as relíquias do Papa Polonês, estimularam a visita de Bento XVI. Concluiu afirmando que mantêm João Paulo II fresco na memória, mais do que João XXIII, embora reconhecendo a sua importância. Lembrou também a grande quantidade de processos de canonização de mártires cristeros que foram abertos desde então e que a canonização da madre Maria Guadalupe parece quase uma exceção no santoral do país onde de 8 a cada 10 são homens e mártires.
O embaixador da Guatemala junto à Santa Sé, Alfonso Roberto Mata Fahsen, depois de lembrar que João Paulo II visitou o país em três ocasiões, destacou que a primeira foi em 1983, quando Guatemala estava terminando um conflito armado interno que durou quase 30 anos, com uma ditadura no governo, com uma situação muito difícil. Recordou que o pedido de clemência do Papa evitou a execução de um grupo de guerrilheiros condenados. Sua mensagem era ser portador de paz e de harmonia e não a caso “as negociações começaram poucos anos depois, quase desconhecidas, porque a portas fechadas, às quais participei”, disse.
Em 1996, a segunda visita foi marcada pelo encontro com a juventude, que favoreceu a ideia das jornadas mundiais. E a terceira já com o governo democrático, o Papa realizou a visita ao Santuário de Estipulas, onde depois aconteceram as reuniões de pacificação. E foi embora dizendo: “levo Guatemala no coração”.
O embaixador brasileiro Fontes Pinto, por sua vez, disse que a situação da história da Igreja no Brasil foi o oposto da situação no México, porque em seu país, a Igreja sempre esteve muito próxima do Estado. Percorreu desde o império à independência e posteriormente ao nascimento da república, chegando a João XXIII.
O diplomata lembrou, no início da década de 60, as grandes discussões existentes, com dom Helder Camara, o Vaticano II, a teologia da libertação e as grandes perguntas da população sobre o futuro da Igreja.
Depois com Paulo VI, as discussões sobre a teologia da libertação, mas com João Paulo II também estão as suas viagens: em 1980, 1991 e 1993. A do 80 com mais de 15 dias pelo país. O embaixador concluiu que João Paulo II deixou um sentido de grande unidade e comunhão. E símbolo disso é que uma Igreja composta por homens tão diferentes, hoje tem uma Conferência Episcopal mais unida e que as palavras do Papa polonês aos bispos brasileiros ainda são um ponto de união entre eles.
Vários embaixadores presentes indicaram a relação desses dois papas com os seus respectivos países, o da Argentina, Juan Pablo Cafiero recordou a paz alcançada por João Paulo II quando os militares de ambos os países no poder queriam fazer uma guerra por questões fronteiriças, mudando a história da América do Sul. O do Peru, Juan Carlos Gamarra Skeels, da grande recepção dada ao Santo Padre e do fervor despertado na população.
O embaixador na Venezuela, Germán José Mundarain Hernández, destacou o papel de João XXIII com o tema das encíclicas, e que a visita de João Paulo II foi muito marcada pelo tema musical e uma visita que foi uma contribuição muito grande à calma e reconciliação, disse.
O embaixador do Uruguai junto à Santa Sé, Daniel Ramada Pendibene no entanto, indicou que a figura de João XXIII, em um país marcado pelo laicismo como o seu, ocasionou uma mudança mais profunda do que a de João Paulo II do qual, entretanto, a memória é mais viva porque mais recente, devido às suas encíclicas e aos ensinamentos do Concílio Vaticano II, que tirou a Igreja do centro e a colocou como servidora dando-lhe assim o devido protagonismo.
Os embaixadores de Honduras, Carlos Ávila Molina, e de Costa Rica, Fernando Sánchez Campos, recordaram o papel de João Paulo II no contexto dos anos 80 na América Central. E o embaixador da Costa Rica acrescentou que o Papa convidou-os para sair da sua posição isolada a fim de interessar-se como mediador de paz dos outros países da região.

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