Caros diocesanos. Em programas anteriores apresentamos breve introdução e síntese dos três primeiros capítulos do documento Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, acentuando que a alegria missionária deve estar presente no anúncio da mensagem cristã. Sentimos necessidade de profunda conversão pastoral e missionária, tornando-nos Igreja ‘em saída’, de portas abertas a todos, sobretudo os pobres. O Papa abordou aspectos da realidade que podem deter ou enfraquecer os dinamismos de renovação missionária da Igreja, como a economia de exclusão e a desigualdade social que mata, assim como alguns desafios culturais e tentações dos agentes de pastoral. A Igreja, instrumento da graça divina, convida todos a fazer parte do Povo de Deus. Ela é transcultural e todos os fiéis são convocados a participar dessa missão evangelizadora. Finalmente, reflete ainda sobre a homilia – como momento de diálogo de Deus com o seu Povo -, o querigma – como primeiro e principal anúncio -, e a mistagogia - como o conduzir permanentemente para dentro do mistério.
Hoje apresentamos o quarto capítulo do documento: A Dimensão Social da Evangelização. O Santo Padre inicia dizendo que Cristo não redimiu somente a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os homens: “O serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência... a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus” (EG 179-180). Preocupam o coração do Papa, sobretudo, duas questões: a inclusão social dos pobres e a questão da paz e do diálogo social (EG 185). A primeira questão envolve tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade (EG 188). Afirma o Papa Francisco: “Não nos preocupemos somente com o não cair em erros doutrinais, mas também com ser fiéis a este caminho luminoso de vida e sabedoria” (EG 194). Esta opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica: “Esta opção está implícita na fé cristológica, naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza. Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar... Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a sermos seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los... Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação” (EG 198-200). A segunda questão é abordada pelo Pontífice, indo diretamente às causas da desigualdade social que afeta a paz e o diálogo social: “Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverá os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais” (EG 202). Quanto à paz entre os povos e diálogo entre grupos sociais, diz o documento: “Uma paz que não surja como fruto do desenvolvimento integral de todos, não terá futuro e será sempre semente de novos conflitos e variadas formas de violência” (EG 219). Para que haja paz, justiça e fraternidade são essenciais alguns princípios: o tempo é superior ao espaço, a unidade prevalece sobre o conflito, a realidade é mais importante do que a idéia e o todo é superior à parte (EG 221-237). No final do quarto capítulo, o Papa apresenta ainda a importância do diálogo para o bem comum e a paz social: diálogo entre fé, razão e ciência; diálogo ecumênico, com o judaísmo, inter-religioso e social.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Uruguaiana
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