Caros diocesanos. Em programas anteriores apresentamos breve introdução e síntese de dois capítulos do documento Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) do Papa Francisco, acentuando que a alegria missionária deve estar presente no anúncio da mensagem cristã, o que requer profunda conversão pastoral e missionária, tornando-nos Igreja ‘em saída’ e de portas abertas para todos, sobretudo os pobres. O Papa chamou atenção para aspectos da realidade que podem deter ou enfraquecer os dinamismos de renovação missionária da Igreja, como a economia de exclusão e a desigualdade social que mata, assim como alguns desafios culturais e tentações dos agentes de pastoral.
Hoje queremos apresentar o terceiro capítulo do documento: O Anúncio do Evangelho. A Igreja existe para evangelizar, para anunciar que Deus ama e convida a todos para fazer parte de seu povo. Ela colabora como instrumento da graça divina. Segundo o Papa Francisco: “A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados” (EG 114). O Povo de Deus encarna-se entre os povos da terra, respeitando suas culturas, pois a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja, sendo ela transcultural (EG 117). Para a obra evangelizadora todos os cristãos são chamados: “Cada batizado, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é sujeito ativo de evangelização... Ele é missionário à medida que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus” (EG 120). Participar da missão evangelizadora, segundo o Papa: “Significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho” (EG 127). Este primeiro contato inicia com diálogo pessoal, estende-se ao anúncio da Palavra, à oração e o convite para a experiência da vida em comunidade. Neste contexto é importante valorizar a piedade popular, fruto do Evangelho inculturado; nela existe uma força evangelizadora que não podemos subestimar, pois seria ignorar a obra do Espírito. O Papa chega a falar em “lugar teológico a que devemos prestar atenção na nova evangelização” (EG 126). Atenção especial merecem os diversos carismas com os quais o Espírito enriquece a Igreja para renová-la e edificá-la. A autenticidade dos carismas se mede pela sua eclesialidade. Só o Espírito pode suscitar diversidade, pluralidade, multiplicidade e realizar a unidade (EG 130-131).
O Papa Francisco dedica grande atenção no documento para a homilia, pela qual Deus deseja alcançar os outros através do pregador. Ela deve conduzir, mais que a verdades, para um diálogo materno de Deus com seus filhos e filhas: “O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo” (EG 143). Ela exige séria preparação: contato familiar com a Palavra para comunicar, aos outros, o que foi contemplado (EG 150): “Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo” (EG 154).
O Papa Francisco conclui o terceiro capítulo com uma bela reflexão sobre o querigma ou primeiro anúncio. Este deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial: “Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: ‘Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar’... É o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir” (EG 164). Fala ainda sobre a mistagogia (EG 166): conduzir de forma continuada para dentro do mistério. Neste contexto de acompanhamento, “a Palavra de Deus ‘se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial’” (EG 174).
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana
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