domingo, 17 de novembro de 2013

Conclusão do Ano da Fé


"Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas" (Jo 12, 46). Com esta citação da Escritura Sagrada, o Papa Francisco iniciou a sua primeira encíclica, Lumen Fidei, que trata do tema da "fé". Nesta passagem de São João percebemos que o próprio Cristo se apresenta como luz, luz que vem para iluminar o caminho dos homens, a fim de que estes não permaneçam nas trevas, mas enxergando o caminho da vida, que também é o próprio Cristo, possam se deixar conduzir por Ele. Há mais de dois anos, em outubro de 2011, o grande predecessor do Papa Francisco, o Papa emérito Bento XVI, com a Carta Apostólica Porta Fidei proclamou a abertura do Ano da Fé para outubro de 2012, declarando que a fé é uma "porta" que "está sempre aberta" para todos aqueles que por ela desejarem entrar (cf. Porta Fidei, 1).

É significativo que o encerramento de um pontificado e o início de outro se tenham dado nesse contexto do Ano da Fé. A continuidade do ministério petrino, sinal de unidade da Santa Igreja na mesma fé, nos mostra como a mesma fé não é algo que se cria, nem se inventa, mas é como um rio de água pura e salutar que nos é transmitido geração a geração. A nossa função na Igreja é beber desse rio, a fim de termos também uma fé pura e salutar; e conservar incólume as águas desse rio, a fim de que as gerações futuras possam também dele beber recebendo a fé verdadeira, não maculada por desejos carnais de manipulação da mesma fé.

Muitas atividades foram realizadas neste Ano da Fé, cumprindo-se o desejo da Igreja de que este fosse um tempo de aprofundamento, de reflexão e de crescimento na ciência sagrada. Todavia, devemos destacar que o encerramento do Ano da Fé não pode ser também o encerramento destas mesmas atividades. O Ano da Fé é uma espécie de "provocação", a fim de que possam crescer na Igreja iniciativas cada vez mais amplas de crescimento no conhecimento do conteúdo da fé. Agora, é justamente o momento de seguir em frente. Temos de ser impulsionados a abrir novas frentes de ação, para que aqueles que não conhecem a fé, e aqueles que dela comungam sem a conhecer em profundidade, possam ter a chance de conhecer a beleza do seu conteúdo e, assim, iluminados por Cristo, seguir por este caminho, que é o único que conduz à verdadeira vida e à bem-aventurança eterna.

Já foi anunciado que para nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como está proposto no Plano de Pastoral, o ano de 2014 será o "Ano Arquidiocesano da Caridade". Este ano da caridade que estamos preparando está em conexão íntima com o Ano da Fé. Não só por que se trata também de uma das três virtudes teologais, mas porque o próprio Papa emérito Bento XVI nos recordou na Porta Fidei n. 14 que: "A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho". A caridade, virtude sumamente elogiada por São Paulo em 1Cor 13 e colocada pelo mesmo apóstolo como sendo a medida dos carismas, deve ser entendida em seu sentido amplo. Ela é como a alma de toda ação verdadeiramente cristã, desde aquelas de assistência social até as de ensino, uma vez que corrigir os ignorantes é também uma ação verdadeiramente "caritativa". Começaremos a viver ainda mais intensamente o Ano da Fé movidos pela reflexão e pelo exercício concreto da virtude da caridade no ano de 2014. Ela nos ajudará a realizar todas as nossas ações unicamente por amor a Cristo e aos irmãos.

O Ano da Fé será encerrado em nossa Arquidiocese no próximo dia 23 de novembro, com a Primeira Festa Arquidiocesana da Unidade, em nossa Catedral de São Sebastião a partir das 13h30min.

Desejamos vivamente que o encerramento do Ano da Fé não seja ocasião para a simples passagem de uma reflexão a outra, ou de um ano temático ao outro. Desejamos que as sementes plantadas no Ano da Fé possam, sim, dar frutos, regadas pela água viva da caridade, a fim de que, de virtude em virtude possamos crescer sempre mais, até atingirmos o estado de "homens perfeitos", homens e mulheres à estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13).

Dom Orani João Tempesta
Colunista do Portal Ecclesia.
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ). Realizou seus estudos em São Paulo (SP), na Faculdade de Filosofia no Mosteiro de São Bento e no Instituto Teológico Pio XI, dos religiosos salesianos.

Da redação do Portal Ecclesia.

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