quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Igreja precisa mudar? Em quê?

Bispo auxiliar de Fortaleza, dom José Vasconcelos, fala sobre o pontificado de Francisco e as mudanças na Igreja
Por Emanuele Sales

FORTALEZA, 16 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - -
 Dom Vasconcelos, recentemente o Papa Francisco pediu aos fieis, durante homilia, que não tivesse medo ?de mudar as coisas segundo a lei do Evangelho?. Que mudanças são essas que a Igreja pede e pelas quais ela tem de passar?
O Concílio Vaticano II foi um novo pentecostes na Igreja. O mundo inteiro ansiava por mudanças, porque a Igreja estava fechada em seu mundo, e o Concílio veio abrir as portas da Igreja para o mundo. Então, havia uma sede de mudanças. Porém, não eram mudanças por mudanças. A Igreja não precisa mudar, porque é reflexo de Deus, e Deus é imutável. Por que a Igreja mudar? Mudar em que? Não é mudar para ser outra coisa além daquilo que ela é: corpo místico de Cristo, povo de Deus.
A mudança significa uma renovação no sentido de retornar às suas fontes, à fidelidade à sua origem, de se despojar de adereços, de capas, de carapaças que se foram adquirindo ao longo dos séculos. Então, a grande mudança que o Papa propõe e tem realizado através do seu testemunho de vida, é aquela mudança que ocorreu com Francisco de Assis, de fato, a de voltar à simplicidade da Igreja, à diaconia, que significa serviço. Jesus disse ?eu não vim para ser servido, eu vim para servir e dar a vida em resgate de muitos?. Essa é a grande mudança que precisa ocorrer. A Igreja precisa ser menos instituição e ser mais comunhão, comunidade, expressão viva do Amor de Deus. Essa é a grande revolução que precisamos fazer acontecer sob a graça e a inspiração do Espírito Santo.. É irmos ao essencial. O que é o essencial? Quantas vezes nós brigamos por picuinhas, por coisinhas pequenas, e esquecemos o principal: o Amor, a fraternidades, é sermos expressão vivas da misericórdia de Deus para com o próximo. Essa é a grande mudança que precisa ocorrer.
Na Evangelii Gaudium, o Papa tem falado para todos, para os sacerdotes, que precisamos ser pastores, sentir o cheiro das ovelhas, ir ao encontro das pessoas. Pela ocasião do Dia Mundial das Comunicações, ele fala que precisamos promover a cultura do encontro. Então, são essas as mudanças que precisamos fazer acontecer.
- E do Sínodo para a Família, o que se pode esperar?
Hoje, particularmente, foi convocado um Sínodo para a Família. Então, há uma expectativa muito grande, em especial, por parte de casais de segunda união, que esperam ser melhor acolhidos na Igreja. Na realidade, nunca deixaram de ser. Porém, precisamos ter uma consciência maior. Como podemos dar maior espaço e tratarmos com mais caridade essas pessoas que contraíram matrimônio que, por alguma razão, não deu certo, mas que vivem a fidelidade conjugal, e que tem o desejo de serem fieis testemunhas de Jesus Cristo. Essas pessoas estão privadas da graça de Deus. E o Sínodo da Família vai, então, falar sobre isso.
A Igreja espera, sobretudo, que tomemos consciência do valor da família, da importância da família. Hoje em dia, a família já quase não existe, está dispersa. Os meios de comunicação, como nos diz o Papa, ao invés de nos unir e nos tornar mais próximos, muitas vezes nos desune. Há também a dimensão do que é a família cristã, que ultrapassa os vínculos do sangue, é uma família maior.

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