quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Na beleza das flores, acolher o dom da vida –

 

Reflexão sobre o Dia do Nascituro

Pe. Guilherme Schmidt de Lima
(Especialista em Bioética e Pastoral da Saúde pelo Centro Universitário São Camilo – São Paulo-SP)
Eis que aos poucos a primavera toma conta dos nossos sentidos com suas cores belas e seus doces aromas. A natureza se renova nos convidando a acolher a grandeza da criação de Deus. Estamos ainda no início do mês de outubro, mês dedicado às missões. Como cristãos, queremos neste tempo também assumir a missão de cuidar, promover e proteger a vida humana, em todas as suas circunstâncias.


Celebramos neste dia 08 de outubro o Dia Nacional do Nascituro, encerrando a Semana Nacional da Vida, ocorrida do dia 01 ao dia 07 de outubro, datas instituídas na Assembleia dos Bispos do Brasil, reunida em Itaici, SP, no ano de 2005. Desde então, tem-se refletido incansavelmente sobre a valorização da vida, sobremaneira daqueles que naturalmente não têm a possibilidade de se defender, porque ainda habitam o ventre de suas mães.

Nascituro, do latim, significa “aquele que há de nascer”. Assim, celebrar este dia soa como um clamor para que a vida possa viver. Queremos hoje olhar para as mães: aquelas que geraram e acolheram suas crianças com amor; aquelas que, por diferentes motivos, negaram a si mesmas a alegria de ver a face inocente dos seus filhos. Olhamos hoje também para essas vidas ceifadas antes do tempo, como flores sem chance de exalar o seu perfume.

Acima de tudo, o Dia Nacional do Nascituro precisa ser celebrado como uma resposta consciente contra a cultura de morte, tão tristemente enraizada no seio de uma sociedade cada vez mais fascinada pela ideia da legalização do aborto. De modo geral, isso se mostra bastante contraditório considerando o fato de muitas pessoas serem contra a pena de morte e contra o extermínio e maus tratos aos animais, e tudo isso em defesa da vida. Afinal, que tipo de vida se quer proteger e com qual finalidade?

A Igreja tem consciência de que sua vocação também é defender a humanidade contra o que a corrompe. Nesse sentido, ao mandamento de Deus “Não matarás” corresponde a compreensão da vida como dom e responsabilidade, como um talento a fazer render.

Percebendo as fragilidades dos novos tempos, a Igreja, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes afirma: “A vida deve ser defendida com extremos cuidados, desde a concepção: o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis” (GS 51).

Hoje é muito forte o movimento da emancipação da mulher. Tudo gira em torno da sua vida, da sua estética, da sua liberdade de fazer o que quer com o seu corpo, inclusive excluir uma vida que não é bem vinda em algum momento. Aqui cabem os mais desmedidos argumentos para enfatizar a cultura da morte, mascarada de direitos, de liberdade, de estado laico. Acontece que vida não é uma questão de fé, de religião, de ser ateu ou crer em Deus. A vida acontece como um fato natural e, pela própria razão, há de se considerar que ela é preciosa, uma vez que é próprio do ser humano gerar e dar continuidade à espécie. Isso é sublime, é o milagre que acontece independente de crenças.

Quando cantamos no Hino Nacional: “Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!”, isso pode causar certa repulsa ao pensar que a qualquer momento a mãe gentil pode se tornar uma nação infanticida. É importante tomarmos consciência do que pode significar uma mudança na legislação em relação ao aborto, pois a Lei deve favorecer condições de vida para que se possa acolher dignamente um novo ser humano, e não condições de vida que levem à exclusão do outro e ao assassinato disfarçado.

Defendemos a vida, porque na perspectiva cristã, não estamos restritos a este mundo temporal. Somos feitos para a eternidade, o que supõe acolher e viver esta vida terrena apesar das suas cruzes. Na Declaração Sobre o Aborto Provocado de 1974, o Papa Paulo VI acentua: “Medir a felicidade pela ausência de sofrimentos e de misérias neste mundo é voltar as costas ao Evangelho” (n. 25).

Não queremos voltar às costas ao Evangelho. Não queremos fechar as portas do nosso coração a esta boa notícia de Jesus. Ele nos convida carinhosamente a acolher o seu mais amoroso desejo para cada um de nós: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Neste dia Nacional do Nascituro, sejamos tocados pela vida que floresce ao nosso redor e nos sintamos motivados a acolher com amor e generosidade as novas vidas humanas que se formam nos ventres maternos. Pedimos a Cristo que nos sensibilize e nos dê um coração capaz de ver nas crianças em gestação as novas flores para o jardim da humanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário