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Os ritos são linguagem catequética, pois envolvem a pessoa inteira
no mistério celebrado
Por José Barbosa de Miranda
BRASíLIA, 10 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - Continuando a catequese dos artigos anteriores, sobre a Iniciação à Vida Cristã, a
partir de agora caminharemos coma catequese litúrgica para melhor compreender e
contemplar o mistério da Revelação. Se Deus nos fala, “primeiro pelos Profetas
e pelos Pais, agora se revela em seu Filho”[1]. Pela mistagogia litúrgica
percorremos um itinerário celebrativo dos mistérios que Deus, invisível, se faz
visível na Encarnação do Verbo. Podemos, pela Liturgia, estabelecer uma intimidade
com o divino pela linguagem dos sinais e símbolos.
A LITURGIA É FONTE DA CATEQUESE
A liturgia tem uma dimensão catequética. Se na Palavra temos um
Deus que se comunica, revelando os seus designíos, na Liturgia compreendemos,
meditamos e vivemos essa Palavra em toda a sua riqueza:“[...] a Liturgia é fonte inesgotável da
Catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante
da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza de suas palavras
e ações, mensagens e sinais, podem ser considerados como uma ‘Catequese em
ato’. Mas, por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas, as
celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma Catequese de preparação ou de
iniciação”[2].
Os ritos são linguagem catequética, pois envolvem a pessoa inteira
no mistério celebrado. Sinais, gestos, cantos, expressões corporais dão vida à
Palavra, podendo levar à contemplação orante do Deus que fala à comunidade e a
cada pessoa em particular. Daí a necessidade, primeiro de se conhecer o mistério
revelado na Sagrada Escritura e Sagrada Tradição, para depois entender a
linguagem litúrgica. Fica claro que a Catequese Litúrgica não um ato isolado em
si, mas tem sua origem, seu fio condutor na Palavra. Faz-se Catequese Litúrgica
como meio para entender e viver a Catequese Bíblica, que é fonte de toda a
catequese. Assim, na Iniciação
à Vida Cristã, toda ação catequética envolve Bíblia e Liturgia. É
impossível catequese sem essa unidade: Revelação e Celebração.
GERANDO NOVA COMUNIDADE
O Catecismo da Igreja Católica, em seus números 1071-1075, fala da
Sagrada Liturgia como fonte de vida e de sua relação com a catequese. É fonte
de vida porque é “obra de
Cristo”, é também uma “ação
da sua Igreja”, por isso “empenha
os fiéis na vida nova da comunidade” (1071). Entre “obra de Cristo” e “ação da sua Igreja”, o
que é mais importante? Para responder é preciso incluir neste contexto
outra expressão: “vida
nova”, formando o tripé: “obra
de Cristo”, “ação
da sua Igreja” e “vida
nova” que sustenta a catequese litúrgica para gerar nova comunidade
nascida da mistagogia catecumenal. Então, toda a catequese se fundamenta neste
tripé inseparável.
O Concílio Vaticano II nos dá uma resposta conclusiva: “A Liturgia é o cume para o qual
tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua
força” [3]. Entende-se que a Liturgia, enquanto é “fonte de vida”, dela
brota toda a graça. Graça é vida na economia da salvação. Cristo e Igreja são
inseparáveis. Então, “obra
de Cristo”, “ação
da Igreja” e “vida
nova” são entendidas na celebração litúrgica como elementos
essenciais da economia da salvação, e que são objetos da catequese.
O culto litúrgico é o “exercício
do múnus sacerdotal de Jesus Cristo que, mediante sinais sensíveis é
significada e, ao mesmo tempo, peculiar a cada sinal, realizada a santificação
dos homens; é o exercício do culto público integral de Cristo, pelo Corpo
místico, Cabeça e membros”[4]. Toda a Igreja, na dimensão de sua
catolicidade, está inserida nesse “exercício”,
celebra com o Cristo o mesmo culto para formar o Povo de Deus que caminha para
a santificação.
Assim entendemos que Cristo, o Sacerdote perfeito, oferecendo um
sacrifício perfeito, nos torna participantes, não só da sua natureza, mas de
toda a sua vida, pois Ele dá Vida à vida. A graça nos é dada por Cristo na ação
litúrgica da Igreja. A Sagrada Liturgia tem uma ligação estreita com a vida e a
fé, porque, “a Liturgia
não esgota toda a ação da Igreja: ela tem que ser precedida pela evangelização,
pela fé e pela conversão” [5]. Deste modo requer uma participação
consciente e responsável de toda a vida litúrgica, porque somos seus membros do
Corpo Místico cuja cabeça é Cristo, e essa conscientização se alcança com o
amadurecimento da fé na catequese litúrgica.
INTRODUZ NO MISTÉRIO DE CRISTO
Como fonte de oração, a Liturgia participa da vida de Cristo que
se dirige ao Pai no Espírito Santo. A oração de Jesus é uma intimidade com o
Pai, é um colóquio que não tem limites. Rezaremos mais e melhor quanto mais
tivermos uma intimidade com Cristo. Conseguiremos isso pela mistagogia
litúrgica, uma caminhada nos mistérios revelados em Cristo. Jesus passava
noites em colóquio com o Pai. Atendendo ao pedido dos discípulos, ensinou-lhes
a rezar, concedendo-lhes o privilégio de chamar seu Pai de “Pai nosso”, papai, paizinho, paínho,
“Abba-Pai (cf. Mt 6, 9-13). Essa maravilha de Deus, que é vivida e
interiorizada pela oração, faz-nos próximos de Deus.
A oração é o lugar privilegiado da catequese que procede do
visível para estabelecer uma confidência com o invisível. Isso se torna mais
claro quando os textos são comunicados pelos sinais, ritos, gestos,
ornamentações, facilitando a compreensão do Mistério celebrado e explicado pela
catequese. “A liturgia é o
ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde
emana toda a sua força” [6]. Portanto é o lugar privilegiado da
catequese. Está ligada a toda a ação litúrgica. Nos sacramentos, principalmente
na Eucaristia, é Jesus que age, pois eles são presididos por Cristo. Os
ministros agem “in persona Chisti”.
“A catequese
litúrgica tem em vista a introduzir no mistério de Cristo (ela é mistagógica),
procedendo do visível para o invisível, do significante para o significado, dos
sacramentos para os mistérios”[7]. Isso pressupõe que, primeiro, a
fonte revelada, a Bíblia, seja conhecida para que se compreenda, pela
catequese, o significado, o que, como e por que é celebrado.
A catequese litúrgica está na celebração do mistério enquanto ele
é desvelado. Da reflexão deste artigo pode-se preparar um projeto
catequético-litúrgico.
[1] Carta aos Hebreus 1,1-2.
[2] Catequese Renovada, n. 89
[3] Sacrosanctum Concilium, n. 10
[4] Idem n. 7
[5] Catecismo da Igreja Católica, n. 1072
[6] Sacrosanctum Concilium, n.10
[7] Catecismo da Igreja Católica, n. 1075
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