Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A preparação para o matrimônio, para a
vida conjugal e familiar, é de importância relevante para o bem da
Igreja. De fato, o Sacramento do Matrimônio tem um grande valor para
toda a comunidade cristã e, em primeiro lugar, para os esposos, cuja
decisão é tão grande que não poderia ser sujeita à improvisação ou a
escolhas apressadas. Em outras épocas, tal preparação podia contar com o
apoio da sociedade, a qual reconhecia os valores e os benefícios do
matrimônio. A Igreja, sem obstáculos ou dúvidas, tutelava a sua
santidade, sabedora do fato de que o Sacramento do Matrimônio
representava uma garantia eclesial, qual célula vital do Povo de Deus. O
apoio eclesial era, pelo menos nas comunidades realmente evangelizadas,
firme, unitário, compacto.
Hoje,
ao contrário, em não poucos casos assiste-se a um acentuado
deterioramento da família e a certa corrupção dos valores do matrimônio.
Em numerosas nações, sobretudo economicamente desenvolvidas, o índice
de casamentos é reduzido. Costuma-se contrair matrimônio numa idade mais
avançada e aumenta o número das separações, até mesmo nos primeiros
anos de vida conjugal. Tudo isto leva, inevitavelmente, a uma
inquietação pastoral, mil vezes reforçada. Quem contrai matrimônio está
realmente preparado para isso? O problema da preparação para o
Sacramento do Matrimônio, e para a vida que se lhe segue, emerge como
uma grande necessidade pastoral, antes de tudo para o bem dos esposos,
para toda a comunidade cristã e para a sociedade. Por isso, crescem em
toda parte o interesse e as iniciativas para fornecer respostas
adequadas e oportunas à preparação para o Sacramento do Matrimônio. Hoje
se fala muito mais de um percurso para preparar o casal para a vida
cristã do que apenas em um curso de preparação. É necessário um
itinerário de iniciação cristã que leve o casal a assumir a sua bela
vocação matrimonial. A preparação próxima seria apenas um retiro
espiritual que ajudaria a celebrar cristãmente o enlace matrimonial.
A importância da preparação implica um
processo de evangelização, que é maturação e aprofundamento na fé. Se a
fé está debilitada e quase inexistente (Familiaris Consortio = FC 68), é
necessário reavivá-la e não se pode excluir uma exigente e paciente
instrução que suscite e alimente o ardor de uma fé viva. Sobretudo onde o
ambiente se paganizou, será particularmente aconselhável um “itinerário
que recalque dinamismos do catecumenato” (FC 66) e uma apresentação das
verdades cristãs fundamentais que ajudem a adquirir ou a reforçar a
maturidade da fé dos contraentes. “É desejável que o momento
privilegiado da preparação para o matrimónio se transforme, como sinal
de esperança, numa Nova Evangelização para as futuras famílias”.
O Código de Direito Canônico estabelece
que se faça “a preparação pessoal para a celebração do matrimônio, pela
qual os esposos se disponham para a santidade e os deveres do seu novo
estado” (CIC can. 1063, 2, CCEO can. 783, § 1), disposição também
presente no Ordo Celebrandi Matrimonium = OCM 12.
E no discurso de São João Paulo II à
Assembleia Plenária do Conselho para a Família (4 de outubro de 1991)
acrescentava: “Quanto maiores forem as dificuldades ambientais para
conhecer a verdade do sacramento cristão e da própria instituição
matrimonial, tanto maiores devem ser os esforços de preparar
adequadamente os esposos para as suas responsabilidades”. E continuava
ainda com observações mais concretas referentes aos cursos propriamente
ditos: “Tendes podido observar que, dada a necessidade de realizar tais
cursos nas paróquias, considerando os resultados positivos dos vários
métodos usados, parece conveniente que se proceda a uma determinação
exata dos critérios a adotar, sob a forma de Guia ou de Diretório, para
oferecer uma ajuda válida às Igrejas particulares. Tanto mais que no
interior das Igrejas particulares, por parte do povo da vida e pela
vida”, resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma
responsabilidade que brota da própria natureza dela – uma comunidade de
vida e de amor, fundada sobre o matrimônio e da sua missão, que é
“guardar, revelar e comunicar o amor “(EV 92 e FC 17).
Portanto, o matrimônio como comunidade
de vida e de amor, quer como instituição divina natural, quer como
sacramento, não obstante as dificuldades presentes, conserva sempre em
si uma fonte de energias formidáveis (FC 43), que, com o testemunho dos
esposos, se pode tornar uma Boa Notícia, e contribuir fortemente para a
nova evangelização e assegurar o futuro da sociedade. Tais energias
precisam, todavia, ser descobertas, apreciadas e valorizadas pelos
próprios esposos e pela comunidade eclesial na fase que precede a
celebração do matrimônio e que constitui a preparação para ele.
Um dos grandes desafios do Sínodo
Extraordinário sobre a Família, de que estou participando desde o dia 05
e que irá até o dia 19 de outubro, é uma oportunidade de analisarmos a
preparação para o Sacramento do Matrimônio. Como a Igreja responderá aos
desafios hodiernos de muitos jovens que se afastam da vida matrimonial?
Pediria a todos os homens e mulheres de
boa vontade que me acompanhassem com as suas orações nestes dias de
estudos, de partilhas e de busca de caminhos pastorais em favor do
favorecimento do sagrado Sacramento do Matrimônio.
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