sábado, 24 de maio de 2014

Dilúvio, uma história de amor



Catequese para Adultos

Por José Barbosa de Miranda

BRASíLIA, 23 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
 Uma vida nova que ressurge das águas, transbordando o amor de Deus na recriação. No artigo anterior lembramos que a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita, é a doutrina de Deus revelada aos homens, e que está consignada em duas épocas conhecidas como Antigo Testamento, história de Deus na história de Israel, ou Antiga Aliança, e o Novo Testamento, a Nova e Última Aliança em Jesus Cristo.
ANTIGO TESTAMENTO
A catequese caminha na revelação que Deus faz de Si mesmo, entrando na história dos homens, quando mergulha nesses fatos revelados para ressurgir vida nova. E a catequese bíblica tem por objetivo aproximar o homem ao seu Criador pela maturidade da fé, esperança e caridade. O Antigo Testamento como uma promessa de salvação que vai se realizando, pouco a pouco, a partir do primeiro anúncio, no Proto Evangelho: “Porei hostilidade entre ti a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15).É o começo de uma história que prepara a vinda do Filho de Deus. É a história de um povo do Oriente Próximo que vai adquirindo forma até se cristalizar no cristianismo. Por isso, pode-se afirmar que “o AT é uma doutrina religiosa que prepara o Cristianismo. Sabemos que não se trata de uma doutrina expressa duma vez por todas, numa formulação perfeita e definitiva. Todo o conjunto doutrinário, no Antigo Testamento, aparece como uma didática progressiva que leva um povo, das ideias mais elementares, até à conquista das mais elevadas” (P. Teodorico Ballarini, O.F.M. Cap. Introdução à Bíblia, Vol. II/1. Vozes, 1975, pg. 27). Assim, o AT é uma preparação do Novo.
Depois dos ensaios nos artigos anteriores, principalmente nas Formações de Catequistas III, IV, V e VI, que são uma introdução na Sagrada Escritura, vamos entrar nessa história de Deus na história dos homens, de etapa em etapas. Vamos seguir com a pedagogia progressiva dos relatos bíblicos, mostrando alguns capítulos desse encontro, ora pelos Patriarcas, ora pelos Monarcas, ora pelos Profetas, até concluir na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4).
UMA CATEQUESE COM NOÉ
É uma história de amor que está nas origens: criação do mundo, do homem e da mulher, entrada do pecado original no mundo, pela desobediência e suas consequências, gerando a corrupção, a dor e o sofrimento (Gn 1,1-6,4), Deus se volta para os homens e propõe um novo pacto, dando esperança de salvação através do homem justo, Noé. Nem tudo é pecado, nem tudo está perdido, e Deus descobre brechas para reerguer essa humanidade na figura do Patriarca Noé, que aceita a missão dada no convite e “fez tudo o que Deus lhe ordenara” (Gn 6,22).
O dilúvio traz um novo alento (cf. Gn 6, 13-7,24). Deus não abandonara a sua obra prima. O “arrependimento” de Deus (cf. Gn 6,6) está caracterizado no afastamento de sua “cólera”, no perdão, oferecendo nova oportunidade ao homem para abandonar o mal. A ordem de Deus para colocar na arca homem e mulher, casais de toda espécie (Gn 6,20), está relacionada com a salvação, preservação da obra do seu amor. Deus dá novas oportunidades para serem correspondidas ao seu amor, pelo arrependimento.. A “sua imagem com sua semelhança”, homem e mulher, agora é retratada em Noé, sua esposa, filhos e noras. Deus sempre se lembra, não só do homem, mas também de toda a criação (Gn 8,1ss).
UMA CATEQUESE COM O DILÚVIO
O dilúvio passa a ser entendido como uma nova ordem para a humanidade. É uma recriação que surge com a vazão das águas e percebemos que tudo recomeça:
Deus abençoou a Noé e seus filhos e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra (Gn 9, 1, em paralelo a Gn 1, 28).Deus perdoa o homem e não mais vai condená-lo (Gn 8,21).Estabelece uma aliança com Noé e sua descendência, prometendo preservar a humanidade da destruição (Gn 9, 8-17).Deus não está preocupado com o que aconteceu, quando o homem e a mulher preferiram acreditar na mentira (cf. Gn 3,5), mas quer reconduzi-los ao seu convívio.O dilúvio é uma redenção, uma salvação dada a quem está arrependido e disposto a trilhar pelos caminhos de Deus, por isso se salvaram aqueles que acreditaram. Deus “se lembrou de Noé e fez passar um vento” (cf. Gn 8, 1), devolvendo-lhe a terra firme. Também sempre se lembra de seus filhos e lhes dá segurança para retornar ao amor e à verdade.
Nessa recriação, Deus que tem uma grande facilidade para esquecer o mal, não se lembra da infidelidade de Adão e Eva, mas renova a sua bênção (Gn 9,7) e a promessa de não mais destruir o mundo, assumindo o caráter de aliança, restabelecendo a relação Deus-homem. É uma preparação do encontro de Deus com seu povo, Israel, que será selada, de uma vez por todas, entre Cristo e a humanidade, na Última Aliança. O arco-iris é o sinal dessa aliança para lembrar a Deus sua promessa.
A nossa catequese descobre a bondade de Deus apesar dos maus desígnios do coração do homem. Está preservada a segurança e a estabilidade da natureza. A bondade divina surge para transformar o mal em instrumento de salvação. Mesmo com a índole má do coração humano, Deus não esquece o fruto que nascera do seu amor.
O Novo Testamento usa o dilúvio para mostrar a ação redentora que se realiza em Cristo:
A rapidez com que vem o dilúvio é comparada com a vinda inesperada do Filho do Homem (Mt 24, 37-39; Lc 17,26-27).O dilúvio é um exemplo da paciência de Deus e as águas, que salvaram Noé, são comparadas com as do batismo que agora salvam (1Pd 3,20-21).. Noé é um pregador da justiça que conduz todos à salvação (2Pd 2,5).
A catequese encontra, nesse fato bíblico, uma proposta para o homem de hoje: estar atento ao Deus que restabelece a amizade e dá o perdão, aceitar seu convite e fazer da vida uma arca de acolhimento, arrependimento, amor. Precisa ter coragem, sair do seu individualismo, congregar pessoas e renovar a cada dia a esperança de um mundo novo, sendo instrumento de Deus no ambiente onde estiver plantado.

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