Papa Francisco exorta os sacerdotes a serem misericordiosos e a terem compaixão para com a humanidade ferida "pelas ilusões do mundo
Por Luca Marcolivio
ROMA, 06 de Março de 2014 (Zenit.org) - Durante o tradicional encontro do início
da Quaresma, com os párocos da diocese de Roma - o primeiro de seu pontificado -
o Papa Francisco voltou ao tema da misericórdia.
Antes de ler seu discurso, o Santo Padre disse que ficou abalado com as
acusações injustas contra alguns padres. "Eu quero dizer publicamente que estou
próximo ao presbiterato, porque os acusados não são 7, 8, 15 .... É todo o
presbiterato, representado nestes 07, 08, 15,", afirmou Francisco, sob
aplausos.
Lembrando que entre os acusadores há uma pessoa do serviço diplomático, o
Bispo de Roma pediu desculpas pelo "grave ato de injustiça", em nome do serviço
diplomático, afirmando que está estudando o assunto, “para que esta pessoa seja
afastada", acrescentou.
Comentando o Evangelho, o Santo Padre destacou como Jesus sente "compaixão"
para com todas as pessoas "cansadas e exaustas, como ovelhas sem pastor",
semelhantes às "que vocês encontram nas ruas de seus bairros", e que se
encontram em todo o mundo.
Falando sobre a Divina Misericórdia, o Papa Francisco evocou a figura de
Santa Faustina Kowalska e a festa litúrgica inspirada e instituída pelo Beato
João Paulo II.
Em 2000, por ocasião da canonização de Irmã Faustina, João Paulo II recordou
que "a luz da misericórdia divina "iluminaria" o caminho das pessoas no terceiro
milênio.
A intuição da divina misericórdia, disse Bergoglio, não deve ser esquecida e
é dever dos pastores da Igreja "manter viva esta mensagem, especialmente nas
pregações e nos gestos, sinais, nas decisões pastorais, por exemplo, a escolha
de restituir prioridade ao sacramento da Reconciliação e, ao mesmo tempo, às
obras de misericórdia.”
Com um tom mais sério, referindo-se a algumas conversas telefônicas e
correspondências da diocese de Roma, o Santo Padre disse: "Disseram que eu ‘sou
duro’ com os sacerdotes!”. Isto faz lembrar que o exercício da misericórdia para
um padre é semelhante ao de Jesus, o Bom Pastor, “cheio de ternura para com o
povo, é repleto de ternura pelas pessoas, especialmente pelos excluídos, pelos
pecadores e pelos doentes que ninguém quer curar.
Esta atitude misericordiosa, o padre a demonstra principalmente ao “ministrar
o sacramento da Reconciliação”, principalmente “no modo de acolher, de ouvir, de
aconselhar e de absolver”.
Recordando o caso de um sacerdote de Buenos Aires, que confidenciou a ele ter
o "escrúpulo” de “perdoar demais", o papa Bergoglio sugeriu enfrentar dúvidas
semelhantes "na capela, diante do sacrário”.
“O coração do sacerdote tem que se comover”, continuou papa Francisco. Não há
espaço para os padres “ascéticos” ou “de laboratório”, estes “não ajudam a
Igreja “. Podemos pensar na Igreja hoje como um ‘hospital de campo’, onde se
cura as pessoas feridas pelos problemas materiais, pelos escândalos, inclusive
na Igreja, pessoas feridas pelas ilusões do mundo.
Onde existem pessoas feridas, um padre deve estar presente com a sua
misericórdia, curando todas as feridas. "Quando alguém está ferido, precisa
imediatamente disto, não de análise, como a dosagem de colesterol, glicemia",
disse o Papa perguntando aos párocos romanos: “Vocês conhecem as feridas de seus
paroquianos? Estão próximos a eles?”.
Lugar privilegiado do exercício da misericórdia é o confessionário, onde o
padre muitas vezes coloca um dilema: ser “laxista” ou “rigorista”? Na verdade, é
um falso problema, na medida em que a diferença de estilos entre os confessores
"não diz respeito à substância, ou seja, a sã doutrina moral e a
misericórdia".
Nem o “laxista” nem o “rigorista" testemunham Jesus, porque não cuidam
daqueles que encontram. O primeiro é somente aparentemente misericordioso, mas
na realidade minimiza o pecado. O segundo se concentra somente na lei,
compreendida de modo frio e rígida.
A verdadeira misericórdia “leva em consideração a pessoa, a ouve atentamente,
se põe com respeito e com verdade à sua situação e a acompanha no caminho da
reconciliação.
O sacerdote “verdadeiramente misericordioso” se comporta como o Bom
Samaritano”. O seu coração é “capaz de compaixão, como o de Cristo”.
Em resumo, o Pontífice disse: Permissivismo e rigorismo não fazem crescer a
santidade, e isto se aplica aos sacerdotes e aos leigos, mas sim o sofrimento
pastoral, que é uma forma de misericórdia. Isso significa sofrer por e com as
pessoas, assim como um pai e uma mãe sofrem pelos filhos.
Por fim, o Papa Francisco dirigiu aos representantes do clero romano, as
seguintes perguntas:
Você chora? Ou perdemos as lágrimas? Chora por seu povo? Quando uma criança
adoece, quando morre…Faz a oração de intercessão diante do Tabernáculo? Luta com
o Senhor pelo seu povo? Como conclui o seu dia? Com o Senhor? Ou com a
televisão? Como é a sua relação com os aqueles que ajudam a ser mais
misericordiosos? Crianças, idosos, doentes. Sabe acariciá-los?
Usando outra expressão cara a ele, o Santo Padre exortou finalmente a “não
ter vergonha da carne do seu irmão", já que "no final dos tempos, será admitido
a contemplar a carne glorificada de Cristo somente que não terá tido vergonha da
carne do seu irmão ferido e excluído”.
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