A catequese é um sair de si mesmo, um desalojar-se para dar espaço aos excluídos.
Por José Barbosa de Miranda
BRASíLIA, 07 de Março de 2014 (Zenit.org) -
OS QUE FORAM AFASTADOS
OS QUE FORAM AFASTADOS
No artigo
anterior refletimos sobre a catequese insuficiente, aquela que chamamos de
verniz superficial. A catequese que não ajuda no amadurecimento da fé por falta
de conteúdo.
Hoje, refletiremos sobre a necessidade de uma catequese voltada para os
excluídos, os que foram rejeitados por pessoas da Igreja por falta de humildade
e caridade. Ainda reporto-me a Dom Juventino Kestering, em sua conferência na
Segunda Semana Brasileira de Catequese, que dizia: “Um dos grupos que desperta
hoje nossa atenção é o dos que foram afastados por falta de acolhida:
eles buscaram na Igreja respostas aos seus problemas concretos, não encontraram
acolhida e nem sequer ouvidos atentos para escutar” (Estudos CNBB 84, p.
260).
A CATEQUESE QUE LEMBRA JESUS
Essa catequese visa essencialmente uma reaproximação com “as ovelhas
desgarradas”. Fazem parte do aprisco, mas estão distantes à espera de uma
oportunidade de diálogo, de um reencontro. A catequese com esses adultos deve
ser alimentada pela docilidade do Bom Pastor (cf. Jo 10, 11-15). Nesse momento é
oportuno mostrar que a Igreja é obra divina, mas administrada por homens. O que
deve prevalecer agora não são os erros, as prepotências, o autoritarismo humano,
mas o reencontro com Deus que se manifesta em seu Filho, e seu Filho permanece
na Igreja. É catequisar com São Paulo: “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”
(1Cor 4,23). É uma catequese que busca o reencontro com Cristo. É o momento em
que o catequista se pareça com Cristo, chegando a despertar na ovelha que foi
afastada a admiração: “você me lembra Jesus”! Um dos eixos dessa catequese é a
humildade: reconhecer as fragilidades que podem ser transformadas em
instrumentos confiáveis para o reencontro com o Reino de Deus. As pessoas que
foram afastadas ainda estão com as feridas abertas pela exclusão
injusta, mas aceitam o curativo que pode restabelecer a inclusão. São Paulo dá a
receita para essa catequese: “Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os
fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E isto
tudo eu faço por causa do evangelho, para dele me tornar participante” (1Cor 9,
22).
UMA CATEQUESE DE ESCUTA
Certa ocasião, em um encontro de preparação para o matrimônio, dele
participava um casal jornalista que ainda tinha a feridas abertas de quando
foram afastados da Igreja. Eu conversava com eles e dava-lhes
oportunidade de abertura para promover um possível reencontro com a Igreja.
Nesse momento se aproxima um sacerdote e, ao ouvir os desabafos do casal jovem
contra a Igreja, foi ríspido: “vocês não deveriam estar aqui. Aqui não é lugar
de falar mal da Igreja. Podem se retirar”. Eu tentei argumentar com o sacerdote
sobre um diálogo caridoso, mas ele não aceitou, concluindo; “aqui é lugar para
quem acredita na Igreja e não de quem fala mal dela. Não vale a pena perder
tempo com essa gente”.
A catequese com adultos se prima pela escuta que gera diálogo e sem
prejulgamento. Como catequisar com monólogo e sem aceitar as diferenças? Como
falar farisaicamente de Cristo sem admitir erros que podem ser reparados? A
partir do momento que a pessoa começa a falar de suas frustações já se supõe uma
relação: restabelecer laços. É o início da catequese paulina: “fiz-me fraco para
ganhar os fracos”.
A CATEQUESE DA RECONCILIAÇÃO
Na mesma conferência, Dom Juventino comenta: “Existe também o grupo dos que
se afastaram por desentendimentos com o padre.. Na maioria dos casos, a
experiência de “afastamento” é traumática. Muitos sentem-se amargurados,
cultivam resistência contra a Igreja e seus líderes, e alguns, inclusive,
tornam-se agressivos” (Estudos da CNBB 84, p. 260).
Como encontrar essa ovelha tresmalhada se não for ao seu encontro? É a
catequese do amor e da reconciliação. A catequese da “minha culpa, minha máxima
culpa”. A catequese que coloca a ovelha nos braços do Pai.
Nesse momento aparece a catequese sobre a Igreja, depositária da fé. Cristo
instituiu a Igreja para ser seu Sacramento, uma instituição que contém e realiza
a graça redentora de Cristo. A igreja que provocou o afastamento não
estava revestida do mandato de Cristo: “Fazei todos meus discípulos,
ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei” (cf. Mt 28,19-20), mas agiu como
instrumento de divisão e exclusão. Não se trata de uma catequese de jogar
pedras, mas de recuperar, mostrando a misericórdia de Deus. Cristo não veio para
condenar, mas salvar. A essência dessa catequese está na misericórdia e
gratuidade do amor: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados;
perdoai, e vos será perdoado” (Lc 6, 36-37).
A catequese, toda ela é uma Escola de Jesus, Escola de Igreja. Seu itinerário
é o de Jesus.
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