terça-feira, 3 de setembro de 2013

LUMEN FIDEI - A LUZ DA FÉ - 1

Caros diocesanos. Após o pontificado de Bento XVI, com fortes marcas teológicas, a Igreja e o mundo foram surpreendidos com um Papa pastor, de nome Francisco, com características fortemente inspiradas no Santo de Assis. O Pontífice emérito deu muita importância às virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), sobretudo através de Cartas Encíclicas, como Deus Caritas Est (Deus é Amor - 2005), Spe Salvi (Salvos na Esperança - 2007), e a Exortação Apostólica Porta Fidei (Porta da Fé - 2011), com a qual foi proclamado o Ano da Fé. Para continuar esta reflexão de unidade sobre as virtudes teologais, o Papa Francisco escreveu sua primeira Carta Encíclica: Lumen Fidei(A Luz da Fé – 2013), já iniciada pelo antecessor, afirmando: “Fé, esperança e caridade constituem, numa interligação admirável, o dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus” (LF 7).
Nesta sua primeira carta, que abordaremos nas quatro semanas de setembro, o Pontífice afirma que a luz da razão autônoma, contentando-se com pequenas luzes ilusórias, a clarear por breves instantes, não consegue iluminar suficientemente o presente e o futuro do ser humano (LF 3). Só a luz da fé, com fonte divina, é capaz de iluminar toda existência: “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (LF 4). A fé, qual rocha segura, pois Deus é fiel à promessa (LF 10 e 12), desvenda-nos o caminho e nos acompanha na história. Com Abraão, Pai na Fé, nós aprendemos que “a fé é a resposta a uma Pessoa que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome” (LF 8). É um sair da própria terra, ou seja, de si mesmo para um futuro inesperado, para uma vida nova, cheia de esperança (LF 9). Neste sentido afirma o Papa Francisco: “Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus” (LF 13). O contrário é optar por ídolos, cujos rostos podem ser fixados por nós. Por isso o documento alerta para as falsas seguranças: “O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Perdida a orientação fundamental que dá unidade à sua existência, o homem dispersa-se na multiplicidade dos seus desejos (LF 13).
Jesus encarnado em nossa história torna-se o sim definitivo das promessas de Deus; sua história, centralizada na morte e ressurreição, é a manifestação plena da fidelidade de Deus e a suprema manifestação do seu amor por nós (LF 15 e 17). Esse amor de Deus suscita em nós a resposta da fé que não só faz olhar para Jesus, mas a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: “é uma participação no seu modo de ver” (LF 18). Assim a pessoa que crê é transformada pelo dom do amor de Deus, ao qual se abriu na fé. Sua existência amplia-se para além de si mesma: “Na fé, o ‘eu’ do crente dilata-se para ser habitado por um Outro, para viver num Outro, e assim a sua vida amplia-se no Amor... o cristão pode ter os olhos de Jesus, os seus sentimentos, a sua predisposição filial, porque é feito participante do seu Amor” (LF 21).
Concluímos o primeiro capítulo da Encíclica Lumen Fidei, com as palavras do próprio Papa Francisco: “A fé torna-se operativa no cristão a partir do dom recebido, a partir do Amor que o atrai para Cristo (cf. Gl 5, 6) e torna participante do caminho da Igreja, peregrina na história rumo à perfeição. Para quem foi assim transformado, abre-se um novo modo de ver, a fé torna-se luz para os seus olhos” (LF 22).
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

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