Análise do documento A Igreja e a Internet, que ainda não perdeu atualidade
Por Santiago Casanova Miralles
MADRI, 05 de Setembro de 2013 (Zenit.org) - Não faz muito tempo que encontrei o
documento “A Igreja e a Internet”, publicado pelo Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais nada menos que em 2002! Eu o considero um documento
imprescindível para se entender a postura da Igreja diante da realidade da rede
mundial de computadores e das redes sociais. Depois, é verdade, o papa Bento XVI
e agora Francisco deram uma continuidade intensa a este assunto.
Não vou focar em muitos dos pontos do documento. Há muito ali que vale a
pena! Mas quero dedicar hoje algumas linhas à sua parte final, às recomendações
aos dirigentes eclesiais, aos agentes pastorais, aos catequistas e educadores,
aos pais e, finalmente, aos jovens e crianças. É nestes últimos que eu quero
concentrar a minha atenção.
A Igreja é muito clara com os jovens e com os seus formadores quanto à
internet e às redes sociais: “A internet põe ao alcance dos jovens, numa idade
inusualmente precoce, uma imensa capacidade de fazer o bem ou o mal, a si mesmos
e aos outros”.
A Igreja conclama os jovens a usar a internet adequadamente, a se
enriquecerem com ela e a enriquecer a vida de outros, a se prepararem com
responsabilidade para o seu futuro e a usá-la como meio privilegiado para fazer
o bem. Não só isso: a Igreja chama os jovens a irem contra a corrente, a
exercerem a contracultura e a se prepararem para ser perseguidos por defender o
que é verdadeiro e bom também nesse meio de comunicação. A abordagem é
forte.
O que a Igreja pede não é automático. Precisa de discernimento, educação,
formação e também da força do Espírito. Este último requisito só pode ser pedido
incessantemente na oração e na prática de uma vida cristã plena, em comunidade e
participando-se dos sacramentos. Os demais requisitos requerem apenas
determinação e mãos à obra.
Discernimento: nossos jovens devem saber discernir o que é bom e o que é mau,
o que lhes convém e o que não convém. Discernir quais fotos compartilhar, que
mensagens publicar. Discernir o que retuitar e a quem seguir. Discernir que
sites visitar. Discernir quando falar e quando calar. Discernir a sua tarefa
concreta como cristãos na rede, seu chamado particular, sua missão. Discernir o
que Jesus Cristo faria em cada situação que surge. Essa tarefa exige
aprendizagem, escuta e silêncio. Para discernir, é preciso ter aprendido
previamente a fazê-lo. Por isso é necessária a nossa ajuda. Educadores, pais e
catequistas precisam acompanhar os jovens, viver perto deles o ato de “estar” na
internet e nas redes sociais, além de ajudá-los a fazer o mesmo fora da internet
e a transformar o discernimento em uma constante na vida.
Educação: antes, nossos pais nos ensinavam como nos comportar e agir na rua,
no colégio, em casa… Não falar com estranhos, que situações evitar, como
respeitar os mais velhos, a autoridade… Agora, tudo isto continua sendo feito
(quando é feito), mas ainda não encaramos devidamente a questão da rede. Quem
educa para estar na rede? Quem explica aos jovens e às crianças com quem
relacionar-se? Quem fala da amizade nas redes e conhece os amigos dos nossos
jovens nas redes? Quem ensina a eles como agir em caso de ataque, como defender
o mais frágil, como levantar a mão quando necessário? Há uma lacuna a ser
preenchida de forma urgente. E é imprescindível, para isso, que pais, educadores
e catequistas se portem na rede com soltura, entendendo os seus recursos.
Formação: a internet é um “lugar” com uma potencialidade enorme. É preciso
conhecê-lo. Não basta estar: é preciso conhecer o seu funcionamento, suas
regras, as leis que a regulam, as implicações de um deslize, os detalhes da
privacidade, as marcas que são deixadas quando se navega pelos seus labirintos…
Nossos jovens só serão boas testemunhas do evangelho se forem prudentes como
serpentes e simples como as pombas. Não basta apenas a boa vontade, a
ingenuidade. Quando um jovem quer dirigir, ele recorre à autoescola. Quando
queremos trabalhar, passamos pela formação profissional. Não pode ser diferente
aqui. E já que esta formação para a rede, por enquanto, não é abordada nos
programas normais de estudo, é necessário sermos audazes e fazermos propostas
criativas para formar os nossos.
A internet é uma tarefa e uma missão para todos. A Igreja nos pede presença,
e presença como católicos. Não basta compartilhar frases bonitas no Facebook ou
tuitar versículos do salmo do dia. Não basta querer estar. Se não se sabe
discernir e não se está formado, não se é um cristão útil. A rede nos
devorará.
Não podemos abandonar os jovens neste caminho difícil. Abandoná-los seria
claudicar e não seguir as diretrizes da Igreja. Como disse um dia o papa Paulo
VI, cada um deverá responder diante de Deus pelas suas ações também nos meios de
comunicação. Sejamos valentes. Não temos desculpas.
* Santiago Casanova Miralles é leigo esculápio e membro da equipe
iMissão.
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