segunda-feira, 19 de agosto de 2013

RELAÇÃO ENTRE FÉ E CARIDADE



Caros diocesanos. Vivemos o Ano da Fé, oportunidade excelente de renová-la e aprofundá-la, para, no seu amadurecimento, chegar à caridade sempre mais operosa e plena, que nos aproxima da essência do cristianismo, do seu núcleo central. No início da quaresma de 2013, Bento XVI, pouco antes de apresentar sua renúncia, nos convidava a refletir sobre o tema: Crer na Caridade suscita a Caridade. Na ocasião, o Pontífice convidava a refletir sobre a relação entre fé e caridade, citando o Apóstolo São João, que afirma: “E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco” (1Jo 4, 16). Ele nos amou primeiro (1Jo 4, 10). Assim sendo, no início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo. Assim a nossa fé constitui-se na resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro (DCE 1 e DAp 12). Afirma Bento XVI: “A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o ‘sim’ da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida” (Mensagem para a Quaresma 2013). A fé manifesta-se, portanto, como adesão pessoal ao grande amor revelado por Deus, em Jesus Cristo e não a simples observância de um mandamento. O encontro com o amor gratuito e apaixonado de Deus envolve todo nosso ser: intelecto, vontade e coração num processo que jamais estará concluído, pois Ele quer atrair-nos sempre mais a Si, como expressa São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). À medida que dermos espaço ao amor de Deus, nos tornaremos semelhantes a Ele; isso fará com que Ele viva em nós, tornando nossa fé operosa pela caridade, uma fé que atua pelo amor (Gl 5, 6). Assim, nunca poderemos separar fé e caridade, contemplação e ação, Tabor e planície. Como já afirmamos em outras ocasiões, as mãos, erguidas em oração, terão que ser as mesmas que se estendem aos irmãos necessitados. Como diz Bento XVI: “A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus” (Mensagem para a Quaresma 2013).
Entre as obras de caridade, o atual Papa emérito destaca a evangelização como a promoção mais alta e integral da pessoa humana, pois o amor gratuito de Deus nos é dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho, pelo repartir o pão da Palavra de Deus. Finalmente, lembra que a fé faz lançar os olhos cheios de confiança para o futuro, na esperança da vitória do amor de Cristo na história. Neste sentido, em outra ocasião (Visita à Alemanha: 26/09/2011), Bento XVI dizia: “Onde há Deus, existe futuro”.
O Papa emérito conclui sua reflexão com magistral síntese sobre o tema da relação entre fé e caridade: “A fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé (‘saber-se amado por Deus’), mas deve chegar à verdade da caridade (‘saber amar a Deus e ao próximo’), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13)”.
O Ano da Fé torne-se oportunidade de aumentar nossa fé, qual processo mistagógico que cresce na profundidade do conhecimento do Mistério do amor de Deus e realize o encontro com Aquele que veio ser o sentido último de nosso viver e que nos impulsiona para a o amor a Ele e ao próximo.
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

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