sábado, 24 de agosto de 2013

Preparação remota - o exemplo dos pais é ponto de partida



O estilo cristão de vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o próprio fundamento da preparação remota
Por André Parreira

SãO PAULO, 23 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Há quinze dias, em nossa coluna (Edição do Zenit de 09 de Agosto) falávamos da necessidade de se planejar estrategicamente também para a formação de nossa família, pois assistimos (ou vivemos) a um grande desequilíbrio de valores onde vale tudo na incansável busca de sucesso profissional, financeiro e um futuro garantido.
Nesta maratona, posso dizer que a grande maioria dos católicos fazem da preparação para o matrimônio, assim como fazem da catequese, uma ação delegada unicamente à Igreja através das organizações diocesanas e paroquiais.
Sim, a Igreja assume importante fatia desta responsabilidade e para isto deve, além de fazer do matrimônio um tema constante em todos os seus momentos, organizar ocasiões estruturadas para a formação dos casais através da preparação próxima e imediata, que serão oportunamente aqui abordadas.
Mas o início desta construção deve ocorrer no seio da família, ainda distante da data do matrimônio, o que é chamado de preparação remota. É aí que as crianças percebem como seus pais são felizes e se esforçam para fazer viver o compromisso assumido com muita disposição e fé. "O estilo cristão de vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o próprio fundamento da preparação remota", nos afirma o documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio, do Conselho Pontifício para a Família.
Fazendo um paralelo com o planejamento estratégico em uma corporação, o primeiro passo é mostrar aos colaboradores os valores daquela empresa, pois se eles não acreditam na proposta, não serão  motivados a doarem-se por ela. Por outro lado, o colaborador que é conquistado pela empresa, almeja seu futuro ali mesmo e investe seu potencial para se consolidar e crescer neste ambiente. Na família não é diferente, quando os filhos percebem que a vida de seus pais é um caminho de doação e realização para toda a família, com valores especiais e perenes, sentem-se motivados a trilhar o mesmo caminho. Note como é comum que os filhos, em sua primeira infância, sonhem com a carreira de seus pais.
Mas quando o tema é casamento, não é raro escutar brincadeiras infelizes até dentro dos lares católicos. Casamento? Uma prisão de luxo! Vai se enforcar?  Ou ainda expressões circulam de modo tão comum e nem analisamos, como: Ah, já orientei meu filho a primeiro curtir bastante a vida para depois se casar!
Querem dizer, então, que o casamento é o oposto de se curtir a vida?  Há ainda os pais católicos que não acreditam que o casamento é "até que a morte os separe", simplesmente dizendo: Filha, constrói a sua vida antes de casar, pois se não der certo...  Levando-se em conta que o matrimônio é um Sacramento, a mim, isto parece o mesmo que dizer a um seminarista: trabalha e faz seu patrimônio antes de ser ordenado...
Já não são muitos os que buscam o matrimônio e, como já comentou o Papa Francisco, talvez a metade dos que se casam não tenham real conhecimento do passo que dão. E como se não bastasse a clara campanha contra a família coordenada por fortes instituições, muitos cristãos, mesmo sem intenção de fazê-lo, incorporam a mentalidade antimatrimônio aos seus hábitos. Por estas e muitas outras não tenho qualquer receio em dizer que o matrimônio poderia ser objetivo de vida de muito mais pessoas se não houvesse a propaganda negativa feita pelos próprios cristãos.
Mais uma vez, o documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio toca neste ponto ao comentar sobre como deve ser o comportamento dos pais: "Um tal estilo de vida cristã encontra o seu estímulo, apoio e consistência no exemplo dos pais que se torna para os nubentes um verdadeiro testemunho."
Os pais devem ser os primeiros responsáveis pela primeira etapa de preparação para o Matrimônio: a preparação remota. Para isto devem se dedicar para que seus matrimônios cresçam continuamente através da busca de formação e vida de oração, para que isto frutifique em vida de doação. Além do exemplo e ensinamento doméstico, também deve integrar seus filhos na vida da Igreja através de suas próprias participações ativas.Devem se planejar e se comprometer. Muitos são os grupos que ajudam nesta caminhada, como Pastoral Familiar, Encontro de Casais com Cristo, Movimento Familiar Cristão, Ministério das Famílias-RCC e vários outros. Em algum deles há um lugar esperando por sua família.
Se você é casado, lanço a pergunta: Qual foi o último livro que leu, com sólidas bases cristãs, para o crescimento de seu casamento? Se é solteiro, pergunto o que tem estudado para discernir ou consolidar sua vocação? Se é um presbítero ou um(a) consagrado(a), pergunto que ações de formação familiar tem promovido em sua comunidade?
Permita-me testemunhar o sentimento de um de nossos filhos. Ainda muito longe de sermos o que Deus espera de nós, ao menos o esforço por construir um lar e a alegria de viver em família são claramente percebidos por eles. Nosso primeiro filho, João Bosco, com 11 anos, há pouco tempo, perguntou: Mãe, quem ganha mais, um piloto ou um cientista? Minha esposa respondeu que não sabia exatamente, mas que qualquer profissão, seguida com carinho, lhe daria a realização. Ele respondeu: Não mamãe, não é por isso. É que quero saber se dá pra ter uns cinco filhos!
Dias depois, nossa quarta filha, Maria Paula, com 4 anos, sem ter presenciado a pergunta do João, também chegou comentando: Quando eu crescer vou ser mãe e ter cinco filhos!
Paz e bem!
André Parreira (alparreira@gmail.com), da diocese de São João del-Rei-MG, é autor de livros sobre a preparação para o matrimônio e responsável no Brasil pelo DVD "Sim, Aceito!", lançado em parceria com a Pastoral Familiar da CNBB. Empresário, casado e pai de 6 filhos, colabora na formação de jovens e casais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário