quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Realização pessoal


D. Jaime Spengler

Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre
Durante o mês de agosto, refletimos sobre o tema vocação. Vocação é, certamente, distinto de profissão. Profissão tem a ver com habilidade técnica, eficiência produtiva, função social, reconhecimento e recompensa. O que denominamos vocação toca uma dimensão mais profunda do ser humano e nem sempre goza de reconhecimento público. Podemos perceber tal distinção em diferentes áreas do convívio humano e social.
Alguém que age por critérios meramente técnicos se distingue de alguém que, sem transcurar esses, age também por paixão, amor, prazer. Nesse âmbito, o que importa é a própria arte. Há, pois, distinção entre um técnico e alguém que age, digamos, por vocação. Isto se reflete no comportamento diário.
O humano, em uma determinada fase da vida, é conduzido a se confrontar com uma escolha de vida, nem sempre fácil. O desafio de abraçar uma vida a dois, ou não; de se engajar numa forma de vida consagrada; de assumir um ministério ordenado. Ou mesmo o desejo de não se colocar a questão da escolha de vida e permanecer em uma espécie de “indiferença”...
A escolha de vida é também orientada por motivações diversas: contexto familiar, ambiente social, influência de alguém em especial, práticas tradicionais, ideologias etc. As motivações podem ser acidentais, banais ou podem estar “esquecidas” no inconsciente. Podem ainda ser expressão de uma experiência profunda e decisiva ao longo da caminhada pessoal de vida. Enfim, a opção de vida pode estar condicionada por critérios sociológicos, psicológicos, pedagógicos, teológicos, pessoais...
Nossos adolescentes e jovens precisam ser orientados e sustentados em suas escolhas de vida. É um direito deles e um dever da sociedade. É uma missão que toca a todos. Tarefa característica nesse trabalho possui a família, a escola e a Igreja. Qual é o pai ou a mãe que não deseja ver seu filho ou filha feliz, fazendo aquilo de que gosta, que o/a realiza? Também a escola pode, e muito, colaborar. Afinal, ela não tem simplesmente a função de informar, mas de formar para a vida! E formação é algo diferente de informação. Aqui, talvez, poder-se-ia indagar pela função específica das instituições de ensino. Também a Igreja, enquanto comunidade de fé, espaço de encontro de pessoas, pode e deve colaborar nessa tarefa.
Para nós, cristãos, o destino da existência humana é vocação de Deus. Deus inspira, orienta e sustenta. Quem é Deus, como se dá sua escuta, isso nós não podemos saber de antemão. O que é vocação, como se dá a escolha, também não podemos saber de antemão como algo calculável, previsível.
No dia a dia, podemos ir colher indicações de Deus, através dos fatos, da oração, da leitura da palavra sagrada e do diálogo entre irmãos e irmãs. Trata-se de um caminho que vamos realizando às apalpadelas. Não existem certezas absolutas. É preciso que pensemos e reflitamos sobre nossa vida, destino, realização, escolhas. O que verdadeiramente interessa à pessoa é poder corresponder da melhor forma possível ao mistério de Deus e de Seu amor, que se expressa em situações concretas da vida. É mais ou menos como o artista no seu esforço de corresponder à inspiração; não importa o material que tenha à disposição ou as ferramentas, mas que a inspiração, de algum modo, ganhe expressão, contornos, formas.
A escolha da vocação é trabalho árduo e desafiador. E não são poucos os que desistem. É decisivo ser perseverante até o fim. Nesse trabalho, é necessário colaboração, determinação, disciplina pessoal.
Via internet - Jornal do Comercio

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