Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
BELO HORIZONTE, 16 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
A Copa do Mundo deste ano pode se tornar
um dos mais significativos momentos da história sociopolítica do Brasil. O
discurso que se ouviu nas ruas, em junho do ano passado, foi um sinal,
obviamente com a recusa radical dos lamentáveis episódios de vandalismo,
violência e atentados contra o patrimônio público. Historicamente, a sociedade
brasileira sempre viveu o tempo da Copa do Mundo simplesmente como momento de
euforia e divertimento. Essa paixão esportiva nacional, com sua força educativa
e o gosto gostoso que o futebol dá à vida dos torcedores, indica que é preciso
conciliar euforia e divertimento com o viés político e social.
Os fantasmas e ameaças do vandalismo não podem atropelar a oportunidade
cidadã de jogarmos pela vida. O coração apaixonado do torcedor, seu sentimento
de pertença à pátria, tem agora a oportunidade de agregar entendimentos,
discussões, análises e posturas que nos levem não só a vencer no esporte, mas,
sobretudo, contribuam para o crescimento da consciência cidadã. O cenário
político, com a singularidade deste ano eleitoral, precisa ser iluminado pela
atenção especial que uma Copa do Mundo mobiliza. Não permitir qualquer tipo de
violência é de suma importância para que manifestações, debates, discussões e
outras condutas cidadãs promovam mudanças nos abomináveis cenários de corrupção,
exclusão social e desrespeitos à dignidade da pessoa.
Pessimismo, vandalismos e até mesmo torcida para que a Copa não dê certo
enfraquecerão essa oportunidade de crescimento qualificado da consciência
política dos cidadãos brasileiros. É importante tratar adequadamente esse evento
para que as eleições não representem apenas um voto dado, mas uma postura com
força de transformações em vista de novos cenários. É hora de qualificar a
participação política, que não pode se restringir aos atos formais de votar ou
de se reunir em associações comunitárias, sindicatos e partidos políticos, mas
também inclui a participação e presença nos espaços definidos pela democracia
representativa. Esta é a oportunidade para o fortalecimento da competência na
defesa dos valores éticos, da inviolabilidade da vida humana, da promoção e
resgate da unidade e estabilidade da família, do direito dos pais a educar seus
filhos, da justiça e da paz, da democracia e do bem comum.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se posiciona neste momento
político por meio de importante manifesto intitulado “Pensando o Brasil:
desafios diante das eleições 2014”. Nessa mensagem, aprovada durante sua 52ª
Assembleia Geral, afirma que é indispensável combater a corrupção sistêmica e
endêmica, invisível e refinada, presente em práticas políticas e no mundo
daqueles que exercem o poder econômico, causando desigualdades, aumentando
custos e sobrecarregando os destinos da nação. Cada dia se torna mais urgente a
reforma política, lamentavelmente não desejada pelos que podem levá-la adiante.
Este ano eleitoral, portanto, é oportunidade de checar quem tem condições e
vontade política de promover essa indispensável reforma, viabilizando uma série
de outras mudanças em vista da edificação de uma sociedade mais justa.
Na mensagem, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sublinha que
“pesquisas têm indicado uma baixa confiança da população nos poderes instituídos
da República. Duvida-se da honestidade de todos os políticos. Desconfia-se da
existência dos programas partidários. Mesmo havendo tais programas, não se
acredita que os políticos sejam fiéis a eles. Com frequência, esse clima tem
levado o cidadão à sensação de que votar não adianta nada e de que a
participação política é inútil. Tal atitude, porém, gera um círculo vicioso: o
cidadão não participa porque as estruturas do País não correspondem aos
interesses do povo; no entanto, tais estruturas não vão mudar sem sua
participação. É necessário evitar, a todo custo, o desalento e encontrar
oportunidades de agir em favor de mudanças consideradas como necessárias”.
Assim, é importante usufruir bem desta oportunidade da Copa do Mundo para que
sejam promovidas transformações, alcançadas respostas adequadas e se possa
engrossar as fileiras dos que, em todos os campos, efetivamente jogam pela
vida.
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