BELéM DO PARá, 16 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
Encerrou-se há poucos dias a 52ª
Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. Trata-se de uma ocasião privilegiada de
partilha de experiências e busca de caminhos adequados para o serviço do
Evangelho em nosso país. Dez dias de trabalho intenso, muita oração, decisões
tomadas e planos assumidos em conjunto, num magnífico exercício do que a Igreja
chama de colegialidade. É que os bispos, unidos ao Papa, vivem como um corpo, um
“colégio”, a missão que lhes é confiada. Ao lado de muitos outros temas
importantes, três grandes assuntos foram tratados e transformados em preciosos
subsídios para a atuação evangelizadora da Igreja: a questão agrária no início
do Século XXI, com um documento destinado a balizar a presença pastoral da
Igreja Católica no campo; o importante texto sobre a Paróquia como Comunidade de
Comunidades, amadurecido no diálogo pastoral desde o ano passado, cuja prática
indica os passos missionários a serem percorridos pela Igreja no Brasil; enfim,
um estudo sobre a presença dos leigos e leigas na Igreja, entregue agora ao Povo
de Deus de todo o nosso país.
O texto sobre “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade” (Cf.
números 70 e 71) afirma que o Concílio Vaticano II fundamentou toda a Igreja nas
missões de Cristo e do Espírito Santo. É o Espírito Santo que capacita todos os
batizados para participarem na obra de Cristo: todos os cristãos são chamados
(como sacerdotes) à obra sacerdotal, a oferecerem as suas vidas como sacrifício
espiritual; todos são chamados (como profetas) a escutar e proclamar a Palavra;
todos são chamados (como administradores) a trabalhar pela vinda do Reino de
Deus. (Cf. Lumen Gentium, n. 31). Todos os cristãos e, portanto, todos os homens
e mulheres batizados, leigos na Igreja, não apenas pertencem à Igreja, mas
“somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós, membros uns dos outros” (Rm 12,
5).
Não se deve falar em superioridade de dignidade de pertença à Igreja, quando
são comparados os membros da hierarquia e os cristãos leigos – segundo esta
mentalidade, os primeiros seriam “mais” Igreja do que os leigos e, portanto,
mais dignos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade
não advém dos serviços e ministérios no interior da Igreja, mas da própria
iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo batismo. A
dignidade dos membros e a graça da filiação são comuns a todos porque o povo
chamado por Deus se insere em uma realidade que é – “um só Senhor, uma só fé, um
só batismo” (Ef 4, 5). São João Paulo II (Christifideles laici, n. 11) ensinou
que, ao sair das águas do batismo, “todo o cristão ouve de novo aquela voz que
um dia se fez ouvir nas águas do Jordão: ‘Tu és o meu Filho muito amado’” (Lc 3,
22), e compreende ter sido associado ao Filho, tornando-se filho de adoção e
irmão de Cristo.
É com esta grande liberdade que os cristãos das primeiras comunidades
encontraram respostas para se organizarem, como a instituição daqueles sete
homens “de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria” (Cf. At 6, 1-7), aos
quais foi confiada a tarefa da caridade, reservando-se os apóstolos para a
oração e o serviço da Palavra. Também relatam os Atos dos Apóstolos que “na
Igreja de Antioquia havia profetas e mestres. Certo dia, enquanto celebravam a
liturgia em honra do Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: ‘Separai para
mim Barnabé e Saulo, a fim de realizarem a obra para a qual eu os chamei’.
Jejuaram então e oraram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo e os deixaram
partir” (Cf. At 13, 1-3). Nascem os missionários, pouco a pouco se configuram os
diversos ministérios, segundo os dons concedidos pelo Senhor. Mais para frente,
a Igreja verá organizados os serviços dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, dos
Presbíteros e Diáconos. O correr da História da Igreja testemunhou o surgimento
de carismas e ministérios, famílias de pessoas consagradas ao Senhor, envio
missionário sempre renovado, regado pelo sangue dos mártires.
Como exercer as diversas tarefas que são confiadas aos cristãos de todas as
idades e vocações? Haverá algum lugar privilegiado? Porventura alguém deve
buscar os primeiros lugares? É clara a orientação do Senhor, que “não veio para
ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). Quando seus discípulos acolhem seus
discursos de despedida, na última Ceia, as tensões e o medo tomavam conta de
seus corações (Cf. Jo 14, 1-12).. Tomé quer saber o caminho, Felipe almeja a
visão do Pai, todos se sentem inseguros, a saudade mostra seu rosto. E Jesus
lhes mostra um caminho que tem nome, o seu, para chegar à vida plena. E todas
as perguntas são respondidas por quem é a verdade!
A estrada mestra é a do serviço. “Como, num só corpo, temos muitos membros,
cada qual com uma função diferente, assim nós, embora muitos, somos em Cristo um
só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. Temos dons diferentes,
segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção
com a fé recebida. É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de
ensinar? Dediquemos-nos ao ensino. É o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui
donativos, faça-o com simplicidade; quem preside, presida com solicitude; quem
se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. O amor seja sincero.
Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros,
com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12, 4-10).
A proposta vai contra a correnteza de toda a competição devoradora que nos
envolve! Leigos e Leigas, Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosas e Religiosos,
todos encontrarão seu espaço quando estiverem dispostos a dar a vida uns pelos
outros. Afinal, “quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida
por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Este é o lugar de todos
e de cada um. Parece impossível? O Senhor Jesus é o exemplo e, mais ainda, é a
fonte da graça para quem escolher seu caminho.
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