sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Filhos: o futuro






Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Nesta  Semana  Nacional  da  Família,  em  que  a  espiritualidade  se coloca como imperativo para que se possa ser sinal de tempos novos neste mundo, e a  família cristã  seja  uma  proposta  feliz  para a  sociedade é  bom refletir sobre  a  beleza  e  a  importância  dos  filhos  e  a  busca  de  educá-los. 
A  vida  humana tem três  grandes  estágios.  O  primeiro  estágio  é  no útero da mãe, o segundo estágio é a vida humana neste mundo e o terceiro estágio é a vida eterna. Os três estágios estão intrinsecamente ligados entre si.  A  Biologia  esclarece  que  o  embrião  humano já  dispõe  de  um  sistema imunológico  e  patrimônio  genético  próprio.  Este  ser  humano  possui  o direito de ser respeitado na sua integridade e dignidade como a de qualquer pessoa  já  nascida.  O  dia  do  nascituro  nos  lembra  que  os  filhos  são  dons preciosos  de  Deus  e  que  a  geração  de  filhos  é  uma  das  finalidades  do Matrimônio. O filho é reflexo vivo do amor e sinal permanente da unidade conjugal. Na verdade, os filhos são testemunhas vivas do encontro amoroso do casal e profetas de um mundo que se renova na continuidade da vida e As  crianças  são  sinais  de  que  Deus  não  perdeu  a  esperança na  humanidade. 
As  crianças,  além  de  serem  os  artífices  do  futuro, são continuidades da vida dos Pais e de toda a humanidade. Portanto, elas são as grandes motivações das famílias. A Igreja louva e glorifica a Deus, e  se  encanta  com  os  avanços  e  as  maravilhas  das  conquistas  científicas. Entretanto,  o  que  a  Igreja  espera  é  que  todas  as  buscas  do  homem,  no campo  científico,  sejam  feitas  à  luz  da  ética  da  vida,  do  respeito  pela sacralidade  e  inviolabilidade  da  vida  humana. 
A  bioética,  uma  ciência relativamente  nova,  desencadeou  no  mundo,  sobretudo  na  comunidade cientifica,  um  processo  de  reflexão  sobre  os limites e  balizamentos éticos. A  bioética,  de  cunho  personalista,  que  é  a  corrente  adotada  pela Igreja, tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do  homem  sobre  a  vida  humana.  É  uma  nova  disciplina,  que  combina o  conhecimento  biológico  (científico)  com  o  conhecimento  dos  valores humanos.  Podemos  afirmar:  uma  “ponte”  entre  duas  culturas:  a  científica e  a  humanística.  E  o  princípio  fundamental  da  bioética  personalista  é  o princípio da defesa da vida física como valor fundamental, o qual ressalta a sacralidade e a inviolabilidade da vida humana.
O  respeito  pela  vida,  a  sua  defesa  e  a  sua  promoção  representam  o primeiro imperativo  ético  do  homem  diante  de  si mesmo  e  dos  outros. É muito oportuno ouvir as palavras do Apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo” (Rom.12,2). A Igreja não deve concordar com tudo o que hoje se sustenta em nome do cientificismo.  Somos a Igreja do “Sim”. Sim ao direito de nascer e viver com dignidade! Sim ao direito de ser original e irrepetível! Sim à vida de todos, em todas as suas formas e manifestações! Sim  às  pesquisas  levadas  adiante  com  seriedade  e  serenidade,  sem sensacionalismo  e  vãs  promessas!  Sim  à  pesquisa  com  células  adultas (não embriões!) visando à terapia e respeitando as normas éticas! Sim aos empenhos da ciência por minorar os sofrimentos, inclusive de doenças de cunho genético, mas sem esconder o mistério do sofrimento e da cruz como caminhos  de  crescimento  humano!  Sim  às  infinitas  manifestações  dos milagres da vida! Sim para que os pais não se fechem a gerarem filhos para que a humanidade tenha continuidade!
Recordo  também  das  palavras  de  Madre  Tereza  de  Calcutá:  “Se aceitamos que uma mãe pode matar sua criança, como podemos dizer para outras pessoas que não matem uns aos outros?”. Pensei muito nisso quando vimos  nos  noticiários  quantas  crianças  mortas  nos  combates  violentos. E,  outro  pensamento  de  Santa  Gianna  Beretta  Molla  (Itália):  “Entre  a minha vida e a do meu filho, salvem a criança”. Por isso, amemos a vida e digamos “Não ao aborto!” A humanidade já está pagando muito caro pela opção de não respeitar a vida! Além do envelhecimento do Ocidente, a falta de respeito à vida em todas as demais circunstâncias, longe e perto de nós. E  para  que a  vida  seja  protegida,  necessitamos  da  família,  que é a  base e protetora  da  vida  humana,  e,  também,  fonte  de  paz,  alegria,  felicidade e serenidade pessoal.
Disse  ainda  o  Papa  São  João  Paulo  II:  “A  tarefa  fundamental  da família  é  o  serviço  à  vida.  É  realizar,  na  história,  a  bênção  originária  do Criador,  transmitindo a imagem divina pela geração de homem a homem. Fecundidade  é  o  fruto  e  o  sinal  do  amor  conjugal,  o testemunho  vivo  da plena doação recíproca dos esposos” (Familiaris Consortio, 28).
Todos  esses  ensinamentos  nos  levam  ao  que  a  Igreja  afirma constantemente: “O amor conjugal deve ser plenamente humano, exclusivo e aberto à nova vida” (GS,50; HV,11; FC,29). A situação social e cultural dos nossos tempos dificulta a compreensão dessa verdade. A comunicação contrária  à  vida  procura  enganar  e  seduzir,  a  cada momento,  o  povo,  que continua  firme  em  valorizar  a  vida. Vale  a  pena  reler  o  que  disse  o  Papa.
“Alguns  se  perguntam  se  viver  é  bom  ou  se  não  teria  sido  melhor nem  sequer  ter  nascido.  Outros  pensam  que  são  os  únicos  destinatários da  técnica  e  excluem  os  demais,  impondo-lhes  meios  contraceptivos  ou técnicas  ainda  piores.  Nasceu,  assim,  uma  mentalidade  contra  a  vida (“anti-life  mentality”),  como  emerge  de  muitas  questões  atuais.  Pense- se,  por  exemplo,  num  certo  pânico  derivado  dos  estudos  dos  ecólogos e  dos  futurólogos  sobre  a  demografia,  que  exageram,  às  vezes,  o  perigo do  incremento  demográfico  para  a  qualidade  da  vida.  Mas  a  Igreja  crê, firmemente,  que  a  vida  humana,  mesmo  se  débil  e  com  sofrimento,  é sempre  um  esplêndido  dom  do  Deus  da  bondade.  Contra  o  pessimismo e  o  egoísmo  que  obscurecem  o  mundo,  a  Igreja  está  do  lado  da  vida”.
Infelizmente,  os  pais  de  hoje  se  recusam  a ter  filhos.  Eu  pergunto: sem  filhos,  como  caminhará  a  humanidade?  Muitos  têm  medo  de  não educar  bem  os  filhos,  pois  eu lhes  digo  que  com  Deus  é  possível  educá-los;  basta  que  o  casal  se  ame,  crie  um lar  saudável  e  viva  para  os  filhos com  todas  as  suas  forças  e  com  toda  dedicação.  Muitas  vezes  eu  me pergunto  como  meus  pais  conseguiram  nos  educar  a  todos,  e  hoje  as coisas  aparentam  tão  difíceis?  Serão  situações  criadas  para  dificultar  ou mentalidade  que  nos  são  impostas?  E,  na  criação  dos  filhos,  a  educação católica  deve  ser  dada  primeiramente  pelo  testemunho  pastoral  dos  pais e avós. O resto, Deus e eles farão. Faça do seu filho um homem de bem e eduque-o na fé para a santidade, depois ele saberá enfrentar o futuro.

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